Cenas de rua: da paisagem arquitetônica à paisagem social e humana

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Marc Ferrez. Centro do Rio de Janeiro. c. 1890 / Acervo IMS

No século XIX, fotógrafos como Marc Ferrez registram a paisagem urbana em grandes panoramas. Ferrez documentou sistematicamente o Rio de Janeiro, cidade onde viveu e produziu a maior parte de seu trabalho fotográfico, fortemente influenciado em seu processo criativo pela deslumbrante paisagem da cidade e de seu entorno. Suas imagens da arquitetura da cidade e das grandes vistas urbanas, feitas em negativos de vidro de grande formato, permitem hoje o exame de detalhes das imagens que incluem os elementos registrados no nível das ruas, nas calçadas, revelando importantes informações de um tempo onde ainda a fotografia de caráter mais jornalístico não era comumente praticada, em função de restrições técnicas do processo fotográfico.

Com o aumento da sensibilidade à luz dos materiais fotográficos, tanto o fotojornalismo, como a fotografia amadora, expandem-se significativamente na virada do século XIX para o XX. A imagem fotográfica passa a frequentar o cotidiano das pessoas através das revistas ilustradas e das fotografias realizadas no âmbito das próprias famílias, aumentando o repertório imagético e a intensidade da comunicação visual na sociedade.

A fotografia instantânea, capturando cenas em frações de segundo, como mostra o trabalho de Eadweard Muybridge sobre o movimento de homens e animais, foi precursora do registro cinematográfico. O cinema, tal como o conhecemos hoje, é resultado destes desenvolvimentos tecnológicos no campo da fotografia, ocorridos nas três últimas décadas do século XIX. A introdução das emulsões de gelatina e brometo de prata, com alta sensibilidade à luz, e a introdução de bases flexíveis que permitiram a produção de filmes em rolo para filmagem e projeção, revolucionaram também o campo da própria fotografia.

No Rio de Janeiro, fotógrafos como Augusto Malta, Lopes, Thiele Kholien, Bippus e outros produziram uma intensa e variada documentação fotográfica da cidade. Incluem-se aqui as primeiras fotografias aéreas, registrando suas transformações e seus grandes eventos, com a as exposições de 1908 e 1922, a remoção do Morro do Castelo, as obras da Avenida Beira-mar e da área portuária, entre outras. Guilherme Santos (1871-1966) produziu uma vasta documentação em estereoscopia da cidade e do país, que disponibilizou na forma de coleções temáticas com forte viés documental e jornalístico. Fotógrafo amador dedicado à fotografia de efeito tridimensional, registrou os hábitos e cotidiano dos cariocas, os eventos sociais e políticos e a paisagem da cidade. A empresa Rodrigues & Co. produziu igualmente coleções significativas sobre o Rio de Janeiro e Marc Ferrez, juntamente com seus filhos Júlio e Luciano, deixou também um legado muito rico em imagens estereoscópicas preto e branco e coloridas.

Em outras regiões do país, fotógrafos como Militão Augusto de Azevedo em São Paulo, Francisco du Bocage em Recife, e também registros anônimos em Belém, compõem um amplo registro da vida nas cidades, que evolui dos primeiros registros em longos tempos de exposição, onde as pessoas aparecem muitas vezes sem definição por estarem se deslocando durante a realização da fotografia, até os registros instantâneos, em frações de segundo, realizados já a partir dos anos 1910 e 1920.

É, portanto, muito significativa para os estudos da paisagem humana e social do Brasil do século XIX e início do século XX a possibilidade hoje de exame destas imagens em uma plataforma como esta Brasiliana Fotográfica, que dispõe de recursos de magnificação que permitem uma navegação sobre detalhes das imagens que revelam conteúdos e informações relevantes para a pesquisa da vida do país. As imagens aqui selecionadas e reunidas na galeria de vistas urbanas de diversas cidades brasileiras permitem um olhar sobre a vida nas ruas e nas calçadas, que informam sobre muitos aspectos da dinâmica social daquele período.

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Curadoria de Sergio Burgi/IMS

 

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27 pensamentos sobre “Cenas de rua: da paisagem arquitetônica à paisagem social e humana

  • 16 de abril de 2015 em 23:58
    Permalink

    Foto magnifica,,, mostrando uma Ouro Preto marcada pela decadência e ao mesmo tempo ativa como parada para os tropeiros! Obrigado por esse trabalho!

    Responder
  • 17 de abril de 2015 em 00:18
    Permalink

    Muito bom, muito bem organizado !

    Responder
  • 17 de abril de 2015 em 14:40
    Permalink

    Muito bom. Disponibilizem para favoritos no Facebook, que é onde posso/gosto de ver/compartilhar fotos antigas do Rio…

    Responder
  • 17 de abril de 2015 em 16:11
    Permalink

    Muito interessante o trabalho, parabéns. Porém há fotos sem legendas. Seria interessante incluí-las para facilitar a identificação dos leitores.

    Responder
    • 17 de abril de 2015 em 18:30
      Permalink

      Obrigado pelo contato. Estamos providenciando as legendas para as fotos que faltaram.

      Responder
  • 17 de abril de 2015 em 21:30
    Permalink

    Estou simplismente encantada! Parabéns pela iniciativa.
    Algumas considerações:
    Fonte do Largo do Paço tomada pelas lavadeiras (Infelizmente hoje abandonada e perigosa, falta cuidado e incentivo ao turismo histórico no Rio de Janeiro).
    Caminho do Brás, 1962 – é incrível o que aconteceu com a cidade de São Paulo em tão pouco tempo!
    Ressaca na Av. Beira Mar, impactante!
    E muito mais…

    Responder
  • 19 de abril de 2015 em 08:02
    Permalink

    Trabalho sensacional! Parabéns a todos os envolvidos! Só gostaria de sinalizar que as fotografias da sessão “Cenas de Rua” estão sem legendas (não sei se pelo fato de eu estar acessando o site pelo meu celular). Seria interessante termos dados como nome das cidades, ano e local mostrado na imagem! No mais, tudo perfeito! Muito obrigada por disponibilizarem este arquivo preciosíssimo!!

    Responder
    • 20 de abril de 2015 em 14:10
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      Prezada Marilia,
      já disponibilizamos todas as legendas. obrigado

      Responder
  • 19 de abril de 2015 em 08:52
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    Magnífico trabalho!.. Qualidade excelente… Iniciativa brilhante ao disponibilizar este acervo na web.
    Apenas no sentido de auxiliá-los, creio que haja uma pequena falha de digitação na legenda do registro “Militão Augusto de Azevedo. Caminho do Brás, 1962. São Paulo” (item 6 de 38) visto que o ano provavelmente correto seja 1862.
    Acredito que o registro tenha sido feito a partir de onde atualmente se situa a Av. Rangel Pestana já entrando praticamente no bairro do Brás em São Paulo. Pode-se ver com clareza a torre da Igreja do Carmo no alto da colina.
    Em 1962, então nos meus 14 anos de idade, eu transitava diariamente neste mesmo espaço em direção ao Colégio Nsa. Senhora do Carmo (Marista) que ficava adjunto aos fundos da igreja (infelizmente o colégio de construção muito antiga foi demolido nos anos 1970 durante as obras da linha 2 do metrô).Por isso acredito existir este pequeno engano de datas, insignificante diante da grandeza deste trabalho pelo qual reiteradamente os parabenizo.

    Responder
    • 19 de abril de 2015 em 23:25
      Permalink

      Retificando: … a demolição do Colégio Nsa. Sra. do Carmo ocorreu no final dos anos 1970 em função das obras da linha 3 do metrô em direção à zona leste da cidade, e não linha 2 como erradamente mencionei.

      Responder
    • 20 de abril de 2015 em 14:11
      Permalink

      Prezado Luiz Carlos.
      Informação corrigida. obrigado pelo contato.

      Responder
  • 19 de abril de 2015 em 12:29
    Permalink

    A foto 35 é o espaço da atual cinelandia?
    Encantada. Presentão. Parabéns pela pesquisa.

    Responder
  • 19 de abril de 2015 em 18:44
    Permalink

    O local do Hotel Palm está marcado como Rio de Janeiro. Creio que é em São Paulo. A data da foto do Caminho do Brás não pode ser 1962, como está indicado, poderia ser 1862.

    Responder
  • 19 de abril de 2015 em 22:12
    Permalink

    Para quem gosta de visitar o passado, estas imagens resgatam um período do Brasil magnífico! Parabéns pelo site!!!!!

    Responder
  • 19 de abril de 2015 em 22:13
    Permalink

    Fotos muito boas mas a exceção de uma poucas a grande maioria não tem o lugar de onde foram tiradas o que importante para se ter ideia de como aquele local foi naquele seculo.

    Responder
  • 20 de abril de 2015 em 15:09
    Permalink

    Excelente iniciativa. Gostaria que houvesse mais elementos de identificação nas fotos.

    E, por favor, façam uma correção: a grafia do nome do grande fotógrafo do movimento é Eadweard Muybridge.

    Parabéns!

    Responder
  • 21 de abril de 2015 em 06:39
    Permalink

    Magnífico trabalho. Permitam-me, porém, apontar um erro. Na seção de “Cenas de Rua” há uma foto com os seguintes dizeres:

    “Vincenzo Pastore. Ferroviário lê jornal, cercado por carregadores de malas, em frente à Estação da Luz. 1910 circa. Rio de Janeiro”.

    Trata-se, porém, da Estação da Luz de São Paulo, cuja fachada é ainda hoje praticamente idêntica à da foto.

    Responder
  • 29 de abril de 2015 em 02:51
    Permalink

    Simplesmente demais esse trabalho fotográfico…. To passada… Parabéns.. Quero compartilhar cada dia uma foto!!!!! Namaste… Gratidão

    Responder
  • 29 de abril de 2015 em 03:03
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    Maravilha esse resgate da memória fotográfica de nosssas cidades e pessos. Parabéns pelo projeto!

    Responder
  • 19 de maio de 2015 em 12:38
    Permalink

    Esse site foi sem dúvida, em muito tempo, umas das melhores descobertas que fiz. Amo imagens do Brasil antigo, rostos, lugares, o cotidiano capturado que revela, mais que uma imagem, um espírito da época, um país novo e cheio de possibilidades. Tudo isso me faz sentir, para além da nostalgia e do encanto um sentimento de tristeza e aperto quando observo o país de hoje. Anyway…., maravilhosa iniciativa.

    Responder
  • 19 de maio de 2015 em 13:58
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    Agradeço e parabenizo o IMS e a Fundação da Biblioteca Nacional pela oportunidade de ter acesso a essas preciosidades fotográficas. De hoje em diante estarei sempre por aqui estudando, pesquisando, aprendendo ou só relaxando diante dessas maravilhas.
    Destaco a minha foto preferida: das crianças em torno do homem do realejo, de Vincenzo Pastore, em 1910; muito lírica.

    Responder
  • 20 de maio de 2015 em 01:45
    Permalink

    Parabéns pelo excelente trabalho!!
    Só queria notificar que o site tá muito lento! Tudo demora pra carregar uma eternidade.

    Responder
    • 20 de maio de 2015 em 02:12
      Permalink

      Prezado Glauber, agradecemos o elogio. Tivemos um aumento significativo de acessos nas últimas horas e isso está causando a lentidão ou indisponibilidade. Estamos trabalhando para resolver essa questão. Obrigado mais uma vez.

      Responder
    • 20 de maio de 2015 em 02:18
      Permalink

      As providências para acelerar o site serão tomadas.A Brasiliana Fotográfica agradece seu contato.

      Responder
    • 20 de maio de 2015 em 02:19
      Permalink

      Prezado Glauber, as providências para corrigir a lentidão serão tomadas. A Brasiliana Fotográfica agradece seu contato.

      Responder
  • 20 de maio de 2015 em 12:29
    Permalink

    Muito obrigado pela oportunidade de ver tudo isso.

    Responder

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