As ruínas de Brás de Pina

Brás de Pina, bairro carioca na Zona da Leopoldina, fazia parte do império econômico do visconde de Brás de Pina, um dos grandes empreendedores da capitania do Rio de Janeiro do século XVIII. Importante negociante, produzia açúcar e cachaça e também possuía uma permissão para manufaturar os produtos oriundos da pesca da baleia. Foi também proprietário do Cais de Brás de Pina, posteriormente chamado de Cais dos Mineiros. O historiador Ricardo Augusto dos Santos, da Fundação Oswaldo Cruz, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, conta um pouco desta história e disponibiliza fotografias das antigas edificações do engenho do visconde. No negativo de vidro, está escrito que seriam escombros de um Convento dos Jesuítas, porém, segundo Brasil Gérson, no livro Ruas do Rio, inexistem fontes que corroborem a versão sobre a existência de um convento na área. Talvez esta confusão se deva ao fato de que havia sim, entre os prédios construídos pelo visconde em sua fazenda, uma capela.

 

As Ruínas de Brás de Pina

Ricardo Augusto dos Santos*

Após as obras que remodelaram a região portuária do Rio de Janeiro, um pequeno muro da época colonial ganhou destaque. Trata-se de um vestígio do antigo Cais dos Mineiros. Em certa época, também foi chamado de Cais de Brás de Pina. Terá alguma relação com o bairro? Sim.

Brás de Pina fica na Zona da Leopoldina e suas fronteiras estão situadas entre a Penha, Cordovil e Irajá. Antes dos sucessivos aterros, suas terras alcançavam a Baía de Guanabara. Curiosamente, a história deste bairro carioca possui um ponto de contato com a cidade de Armação dos Búzios, no litoral fluminense. Os locais foram partes do império econômico do visconde de Brás de Pina, um importante negociante no século XVIII. Entre seus negócios, além da produção de açúcar e cachaça, ele possuía uma permissão para manufaturar os produtos oriundos da pesca da baleia.

 

Acessando o link para as fotografias das ruínas em Brás de Pina do acervo da Fiocruz e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Este lucrativo empreendimento era monopólio da Coroa Portuguesa que arrendava o serviço a contratadores que ficavam com o direito exclusivo sobre a atividade desde a construção das estruturas necessárias, um conjunto que recebia o nome de Armação. Assim, Brás de Pina controlava a pesca, a produção e o armazenamento dos produtos. Das baleias, se aproveitava a carne, o óleo que acendia os candeeiros e as barbatanas para roupas femininas. Também era matéria-prima para a manufatura de velas. A indústria teve declínio nos inícios do século XIX, mas antes disso, gerou grandes fortunas. Por exemplo, Brás de Pina foi proprietário de duas armações, no Cais dos Mineiros (Rio de Janeiro) e na Armação dos Búzios.

Próspero comerciante, o visconde foi um dos primeiros a obter concessão para manufaturar os produtos utilizados na iluminação das ruas, construções das residências e fabricação de velas. Todos estes artigos eram processados nas armações que o visconde mantinha em Búzios e Rio de Janeiro, onde construiu um porto para embarcar as mercadorias. Este Cais de Brás de Pina era feito de pedra e importante para o transporte de açúcar, aguardente e derivados das baleias. Provavelmente, devido a sua estrutura, foi se transformando num ponto crucial do comércio com os produtos de Minas Gerais, talvez sendo o motivo pelo qual passou a ser chamado de Cais dos Mineiros.

 

 

Acessando o link para as fotografias do Cais dos Mineiros disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Entretanto, nosso comerciante também possuía um engenho. As terras hoje ocupadas pelo bairro carioca eram de propriedade do Brás de Pina, onde eram produzidos açúcar e aguardente. A atual região da Leopoldina começou a tomar forma com a inauguração, em final do século XIX, da estrada de ferro ligando a área central da cidade do Rio de Janeiro aos distantes sertões. Entretanto, a sua urbanização data de meados do século passado. A Companhia Imobiliária Kosmos – propriedade de Guilherme Guinle – adquiriu terras e promoveu o loteamento da região. O novo bairro receberia o nome de Brás de Pina, uma homenagem ao antigo dono.

São fotos das antigas edificações deste engenho que encontramos no acervo fotográfico da Casa de Oswaldo Cruz. As informações disponíveis afirmam que as ruínas estavam visíveis no final da década de 1950. Uma das lendas em torno destas fotos diz respeito da origem dos prédios destroçados pelo tempo. No negativo de vidro, está escrito que seriam escombros de um Convento dos Jesuítas. Talvez esta confusão se deva ao fato de que havia sim, entre os prédios construídos pelo visconde em sua fazenda, uma capela. Segundo Brasil Gérson, no livro Ruas do Rio, inexistem fontes que corroborem a versão sobre o suposto convento. Segundo Gérson, existiriam, além das casas, uma capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição, citada em fontes como sendo uma das mais belas da área. A fazenda ficava próxima onde hoje, provavelmente, seja a rua Guaporé. Tudo indica que as ruínas foram postas totalmente abaixo pelas obras de um conjunto residencial inaugurado por Carlos Lacerda, governador da Guanabara.

 

 

Encontramos um registro jornalístico comentando sobre as filmagens de uma produção cinematográfica em 1917. As ruínas de Brás de Pina foram locações de filme policial produzido por uma pequena empresa de propriedade de Irineu Marinho. Nome do filme? A Quadrilha do Esqueleto, segundo o jornal A Noite, de 17 de fevereiro de 1940. Uma das lendas sobre as estruturas destruídas narra que embaixo das paredes das construções coloniais estariam túneis subterrâneos com tesouros ocultos pelos jesuítas. Contudo, Brasil Gérson afirma a ausência de qualquer menção sobre a existência do convento e que, possivelmente, as cavernas foram construídas para a conservação das bebidas e dos alimentos dos moradores do engenho.

 

 

 

*Ricardo Augusto dos Santos é Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz

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