Cronologia de Guilherme Santos (1871 – 1966)

Cronologia de Guilherme Antônio dos Santos (1871 – 1966)

 

 

1871 – No Rio de Janeiro, em 12 de fevereiro, nasceu Guilherme Antonio dos Santos, cuja família residia na Rua do Rezende. Seu pai era o joalheiro José Antonio dos Santos (? – 1905).

1883 - No encerramento das aulas do Colégio Aquino, onde fez seus estudos, Guilherme Santos e Escragnolle Doria (1869 – 1948) receberam do imperador Pedro II medalhas por terem respondido “com prontidão e segurança a todas as suas perguntas sobre História do Brasil” (Correio da Manhã, 31 de maio de 1952).

1896 – Guilherme casou-se com Maria Mendonça dos Santos, conhecida como dona Mariquinhas. Tiveram quatro filhos: Guilherme dos Santos Júnior (? – 1980), médico que foi diretor do Souza Aguiar e do Hospital Paulino Werneck; Amália Santos Pinto da Silva (? – 1986), Manoel Antônio dos Santos , que sempre trabalhou com o pai na representação dos cofres belgas Fichet; e Francisca Mendonça dos Santos (1901 – ?) . Os filhos estudaram no Colégio São Vicente de Paulo e as filhas no Colégio Santa Isabel, em Petrópolis.

dezembro de 1898 – A joalheria e galeria de arte Luiz de Rezende & Cia, cujo um dos sócios era o pai de Guilherme Santos, José Antonio dos Santos, foi roubada. Ficava na rua do Ouvidor 88 e 89 e na rua Ourives 69 ( Gazeta de Notícias, 6 de dezembro de 1898, na última coluna e  Jornal do Brasil, 19 de dezembro de 1903, na sétima coluna, sob o título “O buraco do Rezende”). Anteriormente, a joalheria chamava-se Santos Moutinho e Cia. Na época do roubo, que teve grande repercussão, Guilherme Santos morava no último andar da loja.

1901 – Guilherme Santos foi empossado no conselho da Sociedade Animadora da Corporação dos Ourives (Jornal do Brasil, 31 de julho de 1901, na última coluna). Nasceu sua filha caçula, Francisca, (Jornal do Brasil, de 16 de dezembro de 1901, na quarta coluna). Nos Almanak Laemert de 1901190219031904, 19051906 e 1907, Guilherme e seu irmão, Francisco Antonio, aparecem como dois dos sócios da joalheria Luiz de Rezende & Cia. Luiz de Rezende ( – 1927) era português e foi com o pai de Guilherme Santos, José Antônio, que ele aprendeu a ourivesaria.

1905 / 1906 – No Almanak Laemert de 1905, Guilherme Santos aparece como o 2º secretário da Sociedade Animadora da Corporação dos Ourives. Viajou para Paris com a família para, a conselho de seu pai, se tratar de um estado de nervosismo permanente ocasionado pelo roubo à joalheira em 1898. Cuidou-se com um tratamento de auto-sugestão cujo lema era “Hoje sob todos os pontos de vista vou cada vez melhor”. Interessou-se pela técnica da estereoscopia e adquiriu um equipamento Verascope, da Maison Richard, após visitar uma exposição de fotografias estereocópicas no Grand Palais. Lá constatou que havia pouquíssimos registros do Brasil, todos de mulheres negras vendendo abacaxis. Santos começou a praticar a fotografia amadora e foi em Portugal que produziu seu primeiro registro, no pinhal de Caldas da Rainha. Seu pai, José Antonio dos Santos, faleceu (Correio da Manhã, 20 de maio de 1952).

1907 – Provavelmente, foi um dos proprietários do Cinema Pavilhão Progresso, na rua Hadock Lobo, 16. O cinema foi inaugurado em 31 de outubro de 1907 (Jornal do do Brasil, 30 de outubro de 1907, na primeira coluna).

1920 – Guilherme Santos morava na rua Conde de Bonfim, 86, na Tijuca.

1922 – Santos cedeu ao então ministro do Exterior, José Manuel de Azevedo Marques (1865 – 1943), milhares de reproduções estereográficas de quadros da natureza brasileira que foram distribuídas aos estrangeiros que vieram representar seus países nas comemorações do centenário da independência do Brasil. Deixou de trabalhar na Casa Luiz de Rezende ( Correio da Manhã, 20 de maio de 1952).

1923 – Foi criado o Photo Club Brasileiro, uma associação de fotógrafos, no Rio de Janeiro, pelos associados do Photo Club do Rio de Janeiro, fundado em 1910, que se juntaram a fotógrafos de arte para debater as relações entre fotografia e arte. O Photo Club Brasileiro promovia cursos, concursos, exposições e excursões. Publicou as revistas Photo Revista do Brasil (1925 – 1926) e Photogramma (1926 – 1931). Também organizava salões anuais, o primeiro deles inaugurado em 4 de julho de 1924, no Liceu de Artes e Ofícios (artigo de Fernando Guerra Duval, na Gazeta de Notícias, 9 de julho de 1924), além de divulgar novas técnicas e estéticas, mantendo correspondência com sociedades internacionais de fotografia. Até o fim da década de 1940, foi uma instituição fundamental na difusão da ideia da fotografia como arte. Uma matéria da revista Para Todos, de 17 de setembro de 1927, sobre a quarta exposição anual do Photo Club ilustrava essa função primordial da associação. Alguns de seus membros de destaque foram Alberto Friedmann, Barroso Neto, Fernando Guerra Duval, Herminia Borges, João Nogueira Borges, Oscar de Teffé e Silvio Bevilacqua.

 

 

maio de 1925 –  Guilherme Santos tornou-se membro do Photo Club Brasileiro. Publicou na edição de lançamento da Photo Revista do Brasil, órgão oficial da associação, o artigo “Photographia Estereoscópica”. No expediente da revista, aparece como um de seus principais colaboradores. E, nas páginas dedicadas às notícias do Photo Club, que acabava de se instalar em uma nova sede, na rua 13 de maio, 35, aparece como um dos membros recentes da associação. O presidente e o vice-presidente do Photo Club Brasileiro eram Alberto Friedmann e Fernando Guerra Duval, respectivamente.

 

“Photographia Estereoscópica”

Por Guilherme A Santos

Confeccionar uma photographia é quasi sempre reconstruir uma recordação!

Nenhuma outra photographia trabalhada pelos processos conhecidos, pôde dar-nos tamanha satisfação, produzir-nos impressão tão viva  e tão nitida daquilo que quizermos recordar como a photographia estereoscopica! Seja o retracto de um ente querido, seja uma paysagem, ou ainda uma reunião de família, cujo objecto exprima um momento feliz da nossa existencia!

A sensação do relevo e da perspectiva que nos dá um positivo sobre vidro, copia de um cliche estereoscopico, introduzido no instrumento apropriado, é inegualavel! inconfundivel! incomparavel!

Ao olhar, apresentam-se as imagens das creaturas, da Natureza ou dos objectos, com a expressão a mais perfeita e verdadeira , mostrando-nos em destaque todos os planos que as objectivas colheram na extensão do angulo focal!

Como passa tempo, o que é possível de encontrar que seja mais agradável, mais divertido do que os positivos sobre vidro da photoestereoscopia!?

Reunidos em família e acompanhados de bons amigos sentados em redor de uma mesa, passa-se de mão em mão o apparelho estereoscópicos exibindo as differentes séries de positivos! Algumas, despertando recordações aos que, num afogar de saudades revêem os bons momentos que passaram, contemplando imagens de creaturas que talvez nunca mais encontrem no caminho da vida e que fizeram a delícia daqueles momentos, em uma estação de águas, em uma excursão, em cidades de verão, a bordo de um transatlântico, na convivência íntima de uma longa viagem, etc.

Outras séries apresentando o esplendor da Natureza em grandes quadros compostos com senso esthético, com observação artística que estasiam, que empolgam e que nunca cançaríamos de contemplar são photografias que provam como é impossível negar o extraordinário poder que tem a natureza, de impressionar e fazer vibrar a alma das creaturas com suas majestosas creações!

Nesse particular a nossa terra recebeu do CREADOR um dote precioso, o qual infelizmente em vez de ser transportado para as chapas da photographia por meio das objectivas dos differentes apparelhos, tem o homem esbanjado e destruido quasi inconscientemente sem considerar o grande mal que causa ao bem commum e sem reflectir no crime que pratica!

Disse PAULO MANTEGAZZA, capitulo IV no “O LIVRO DAS MELANCHOLIAS” de uma forma encantadora e com a alma amargurada: que se conhecesse DEUS, dir-khe-hia que na sua infinita misericordia, perdoasse todos os peccados dos homens e reservasse toda a sua ira, toda as suas vinganças, tododos seus raios, para o homem que destróe uma “FLORESTA”!!…

Faço minhas as palavras do primoroso escriptor, mas accrescento que o homem que dedicar-se á photographia, de preferenciaa estereoscopica, no contacto intimo e constante que ele tiver com a NATUREZA, quando a tiver estudado bem, irá lentamente habituando-se a apreciar devidamente a sua obra grandiosa, sentirá despertar em sua alma, sentimentos delicadosque até então desconhecia e difficilmente será capaz de derrubar uma arvore ou consentir que alguem o faça em sua presença!

A falta de amor e o abandono ás nossa bellezas naturaes é patente! Cito um exemplo mui recente:

Por uma destas lindas manhãs de ABRIL (era dia feriado) percorremos uma parte da estrada que liga o ALTO DA BOA VISTA ao SUMARÉ.

É uma das maravilhas da TIJUCA! A vegetação é abundante e variada e conta-se ás dezenas, arvores gigantescas cujas ramadas projectam sombras extensas sobre o caminho!

O sol imprimia uma luz de oiro sobre o verde esmeralda do arvoredo e fazia pensar que foi a NATUREZA quem inspirou os nossos antepassados sobre a escolha das cores para a nossa bandeira!

Caminhamos cerca de 6 kilometros ida e volta e gastamos cerca de 5 horas. Pois bem, nesse demorado percurso, cruzamos com 3 outros grupos de excursionistas, todos elles, compunham-se de estrangeiros!

Nem um brasileiro! nem um amador da photographia! Digo, encontramos um brasileiro, que empunhando uma vara que tinha um sacco de gaze preso a uma das extremidades, caçava as lindas borboletas azues de grandes azas que faziam o encanto daquellas paragens! aquelle rapaz de 20 annos presumives, de bella estaturaphysica, fazia-o como meio de vida! Contamos estendidas sobre um jornal, 20 daquellas borboletas, apanhadas em menos de uma hora! Pobrezinhas! a  NATUREZA limitou-lhes curtíssima existência, nem mesmo a essas deixam viver!

Creio ser o momento de ser transformada essa situação. A Photo-Revista vem preencher uma lacuna e acreditamos que uma campanha sustentada com perseverança por todos os seus collaboradores, daria bom resultado, no sentido de desenvolver o gosto dos brasileiros pela arte photographica: talvez conseguíssemos convence-los de trocar uma ou outra vez (às horas de ócio) os encantos do lar doméstico, pelos encantos naturaes, lembrando-lhes que em companhia de nossa família e em contacto com a floresta, também construímos lares provisorios sob a benção da mãe de tudo e de todos que é a NATUREZA!

(Photo Revista do Brasil, vol 1, maio de 1925, pg 14)

Além disso, a fotografia da capa era de sua autoria (O Brasil, 31 de maio de 1925, na sexta coluna, sob o título “Publicações”). E, na mesma edição da revista, foi publicada uma propaganda das fotografias estereoscópicas de Guilherme. O endereço, rua Buenos Aires, 93, é o mesmo do escritório dos cofres belgas Fichet, empresa que ele representava no Brasil. Posteriormente, o escritório foi transferido para a rua do Rosário, 146.

1937 – Resumo do assalto ocorrido na Casa Luiz de Rezende, em 1898, com retratos dos sócios Luiz de Rezende e José Antonio dos Santos, pai de Guilherme (Noite Illustrada, 25 de maio de 1937).

1942 – Publicação da matéria “Rio desaparecido”, de Escragnolle Doria, sobre a importância dos arquivos fotográficos de Augusto Malta e Guilherme Santos (Revista da Semana, 30 de maio de 1942).

1945 – Publicação no Boletim de Belas Artes de outubro de um artigo sobre o desmonte do Morro do Castelo com entrevista de Guilherme Santos (Correio da Manhã, 8 de maio de 1952).

1950 – Publicação de matéria elogiando a coleção de fotografias de Guilherme Santos (Jornal do Brasil, 24 de março de 1950, na última coluna sob o título “Belas Artes). Publicação de uma reportagem de Walter Sampaio sobre o “Arquivo Guilherme dos Santos”. Na matéria, Santos revelou ter vontade de “expor em um museu o seu valioso arquivo histórico e estereoscópico nacional”. (A Noite Ilustrada, 1º de agosto de 1950).

 

 

1951 – O Departamento de História e Documentação do Rio de Janeiro examinou a coleção fotográfica de Guilherme Santos (O Malho, setembro de 1951).

1952 – Faleceu sua esposa, Maria Mendonça dos Santos, em 26 de maio ( Correio da Manhã, 30 de maio de 1952, na primeira coluna). Na coluna “Pequenas Reportagens”, é lembrado um artigo do Boletim de Belas Artes de outubro de 1945, onde Guilherme Santos comentava seus registros fotográficos do desmonte do Morro do Castelo (Correio da Manhã, 8 de maio de 1952). Na mesma coluna, foi publicada uma matéria sobre Guilherme Santos ( Correio da Manhã, 20 de maio de 1952). Finalmente na coluna de 31 de maio de 1952, o assunto foi a coleção de fotografias de Santos.

 

 

1954 –  Às vésperas do Natal, a sede da G.A. Santos & CIA, localizada na Rua do Rosário, 146, sofreu um incêndio. A única coisa resgatada foi o acervo de fotografias de Guilherme que estava dentro de um cofre à prova de fogo. Foi devido a esse fato que Santos decidiu vender sua coleção de fotografias (Correio da Manhã, 24 de dezembro de 1954).

1956 – Na primeira página do Jornal do Brasil, foi publicada a matéria “O Rio de Janeiro através da estereoscopia”, assinada por Augusto Maurício, sobre a coleção de fotografias de Guilherme Santos ( Jornal do Brasil, 27 de maio de 1956).

1964 – A Coleção Guilherme Santos foi adquirida pelo Banco do Estado da Guanabara, em 28 de abril de 1964, para iniciar, juntamente com a coleção de fotografias de Augusto Malta (1864 – 1957), o acervo do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. O contrato de compra e venda foi assinado pelo filho e procurador de Guilherme, Manoel Antônio dos Santos.

1965 – Inauguração do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em 3 de setembro de 1965 (Diário de Notícias, 2 de setembro de 1965). A maior parte da obra de Santos, que inclui 17.812 mil negativos e 9.310 mil positivos (em vidro), além de 1.302 ampliações em papel feitas a partir dos negativos, está sob a guarda da instituição.

janeiro de 1966 – Guilherme Santos faleceu em 26 de janeiro, na casa de sua filha Francisca, na Ilha do Governador. Na época, ele morava na rua Cesário Alvim, 39. Anúncio da missa de sétimo dia de Guilherme Santos (Diário de Notícias, 30 de janeiro de 1966).

1984 – Fotografias do Rio Antigo de autoria de Guilherme Santos fizeram parte da exposição “19 anos do Museu da Imagem e do Som” (Última Hora, 27 de dezembro de 1984, na última coluna).

2013 – Um conjunto de cerca de 3000 imagens produzidas pelo fotógrafo foi adquirida pelo Instituto Moreira Salles, em 2013.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

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