Série “O Rio de Janeiro desaparecido” III – O Palácio Monroe

 

O Palácio Monroe, que na época de sua construção não tinha esse nome, foi a sede do pavilhão do Brasil na Exposição Universal de Saint Louis, também conhecida como Feira Mundial de Saint Louis, realizada entre 30 de abril e 1º de dezembro de 1904, em conjunto com os III Jogos Olímpicos da Era Moderna. Foi com uma premiação do Monroe que, pela primeira vez, a arquitetura brasileira recebia reconhecimento internacional. O prédio de estilo eclético, cujo projeto foi do político e engenheiro Francisco Marcelino de Souza Aguiar (1855 – 1935), que já havia projetado o Pavilhão do Brasil na Feira de Chicago, em 1893, conquistou o principal prêmio de arquitetura do evento, o Grande Prêmio Medalha de Ouro.

 

Acessando o link para as fotografias do Palácio Monroe disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

A primeira página da edição dominical do jornal The St. Louis Republic de 10 de abril de 1904 foi dedicada à obra brasileira:

“Observando, procura-se em vão uma simples falha, um ponto onde a vista sinta a aspereza de uma linha, onde uma curva, uma janela, qualquer decoração desagrade. Essa construção representa um poema. No The Post Dispatch, de 24 de maio de 1904, lia-se: O edifício do Brasil que vai ser hoje inaugurado é um dos mais belos da Exposição e também do mundo. Bastaria que as mesmas ideias seguidas no projeto e na construção, quanto à ordem, proporções, harmonia e, sobretudo, apropriações fossem tomadas como norma na vida de qualquer país para desenvolvê-lo, torná-lo grandioso em tudo quanto o espírito de seu povo possa conceber e as mãos humanas executar”.

Como sua estrutura era toda metálica, o prédio pode ser desmontado e remontado. Sua pedra fundamental foi lançada, no Rio de Janeiro, em novembro de 1905, com a presença de Rodrigues Alves (1848 – 1919), presidente da República, ministros e outras autoridades (Correio da Manhã, 20 de novembro de 1905, na quinta coluna, sob o título “Pavilhão de S. Luiz”). Em 1906, o Palácio do Itamaraty foi descartado para sediar o III Congresso Pan-americano, no Rio de Janeiro, e decidido que o então Pavilhão de São Luiz, futuro Palácio Monroe, abrigaria o evento (O Paiz, 27 de abril de 1906, na sétima coluna). Foram realizadas obras e ele foi erguido no fim da rua do Passeio, na avenida Central, atual Rio Branco, ponto mais nobre da capital do Brasil (O Paiz, 5 de junho de 1906, na quinta coluna). O congresso foi aberto em 23 de julho de 1906 e prolongou-se até o dia 27 de agosto de 1906 (O Paiz, 24 de julho de 1906).

Originalmente, o prédio ia se chamar Palácio São Luiz porém, durante o evento, o ministro das Relações Exteriores, o barão do Rio Branco (1845 – 1912), batizou o edifício de Palácio Monroe, uma homenagem ao presidente norte- americano James Monroe (1758 – 1831), idealizador do Pan-americanismo.

 

 

O Palácio Monroe tornou-se um ícone do Rio de Janeiro e sua imagem foi estampada em porcelanas, pratos, talheres, caixas de jóias, tinteiros, cartões-postais e em papéis de carta (O Globo) . Também ilustrou a cédula de 200 réis emitida em 1919.

 

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Cédula de 200 reis que circulou entre a década de 20 e 50

 

Nos anos que se seguiram ao III Congresso Pan-americano, o Palácio Monroe sediou recepções, formaturas, congressos e até velórios. Entre 1911 e 1914, foi a sede provisória do Ministério da Viação. De 1914 a 1922 sediou a Câmara dos Deputados. Em 20 de setembro de 1920, o palácio foi palco de uma homenagem ao rei Alberto I da Bélgica (1875 – 1934), em visita oficial ao Brasil (O Paiz, 21 de setembro de 1920). Em junho de 1922,passou a sediar a Comissão Executiva da Exposição do Centenário da Independência do Brasil.

 

 

A partir de 1925, abrigou o Senado Federal, anteriormente sediado no Palácio Conde dos Arcos (Jornal do Brasil, 28 de abril de 1925O Paiz, 4 e 5 de maio de 1920). Entre 1923 e 1925, para adaptar-se às necessidades de seu novo ocupante,  sofreu grandes mudanças arquitetônicas: construção de um piso intermediário e de um ao redor da cúpula e do terraço, além da instalação de elevadores e do envidraçamento de duas loggias laterais – espécie de varandas.

Durante a Revolução de 30, foi o quartel-general das tropas gaúchas. Em 1945, foi provisoriamente sede do Tribunal Superior Eleitoral. Voltou a abrigar o Senado em 1946. Com a transferência da capital federal do Rio para Brasília, em 1960, o Senado seguiu para a nova capital, mas manteve o “Senadinho” no Monroe até 1975 (Jornal do Brasil, 29 de abril de 1975). Em 1961, o Monroe passou a sediar o Estado Maior das Forças Armadas.

Em julho de 1972, o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) propôs ao Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN) o tombamento do conjunto arquitetônico remanescente da antiga avenida Central, atual Rio Branco, composto pelo Obelisco, pelo Tribunal de Justiça, pela Biblioteca Nacional, pela Escola de Belas Artes, pelo Derby Clube, pelo Jockey Club, pelo Clube Naval, pelo Teatro Municipal, pelo Monroe e pela Assembleia. O parecer do relator do processo, o arquiteto Paulo Santos (1904 – 1988), foi favorável à preservação. Cerca de dois meses depois, o arquiteto e urbanista Lúcio Costa (1902 – 1998) apresentou ao IPHAN, de onde era aposentado, o texto “Problema Mal Posto”, rebatendo o parecer de Paulo Santos. Nele justificava a demolição do Monroe por uma questão de “desafogo da área”. Em fevereiro de 1973,  o conselho superior do IPHAN realizou a sessão final sobre o processo de tombamento, quando a proposta de Lúcio Costa de avaliar, em separado, os prédios foi aprovada. Não entraram no livro de tombamento o Jockey, o Derby Clube e o Palácio Monroe.

 

 

Em 1974, foi iniciado o debate em torno da destruição do Monroe que supostamente estaria atrapalhando a obra da estação Cinelândia do metrô carioca. A polêmica tomou conta dos jornais e uma comissão do Instituto Geográfico e Histórico Brasileiro aprovou um parecer que recomendava ao IPHAN a preservação do prédio (Jornal do Brasil, 29 de agosto de 1974, na primeira coluna). O Clube de Engenharia também manifestou-se contra a demolição (Jornal do Brasil, 17 de janeiro, na primeira coluna e 22 de fevereiro de 1975, na terceira coluna). Em 04 de julho de 1974, o arquiteto e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Wladimir Alves de Souza (1908 – 1994), declarou que a demolição do Palácio Monroe possibilitaria à cidade ganhar uma área ajardinada, um complemento do Passeio Público (O Globo, 4 de julho de 1974).

Após uma intensa campanha em prol da destruição do Monroe, que contou com o apoio do jornal O Globo, a demolição do prédio foi autorizada pelo presidente da República, Ernesto Geisel (1907 – 1996), em outubro de 1975 (Jornal do Brasil, 10 de outubro de 1975, no “Informe JB” e O Globo, 11 de outubro de 1975, pág. 2). Foi iniciada logo nos primeiros dias de 1976 (Jornal do Brasil, 3 de janeiro6 de janeiro de 1976). Em junho, foi derrubada sua última parede (Jornal do Brasil, 7 de junho de 1976). Na ocasião, foi comentado que a autorização da demolição teve como um das causas uma suposta questão de rivalidade na carreira militar entre o presidente Geisel e um filho do marechal Souza Aguiar, Rafael de Souza Aguiar, sempre promovido antes de Geisel.

 

 

No lugar do Palácio Monroe, existe hoje o maior chafariz do Rio de Janeiro – com 10 metros de altura -, comprado na Áustria pelo governo imperial brasileiro, em 1878.  Em homenagem ao palácio, é chamado de Chafariz do Monroe. No estilo Napoleão III,  é uma obra de Mathurin Moreau, que foi executada na fundição francesa Societé Anonyme des Hauts-Fourneaux & Fonderies du Val d’Osne.

Link para o filme “Arquivo S conta a história do Palácio Monroe, antiga sede do Senado”

Link para a matéria Vesperal no Palácio Monroe, publicada na revista A Cigarra, de agosto de 1948, de José Leal com fotografias de Marcel Cognac

Link para a matéria A beleza do Palácio Monroe, publicada no O Globo de 12 de julho de 2014, que traz imagens da demolição do prédio.

O título desse artigo foi alterado de O Palácio Monroe para Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, em 16 de setembro de 2021.

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 5 de setembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024

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