O Theatro da Paz, em Belém do Pará, inaugurado em 15 de fevereiro de 1878

Com uma fotografia produzida pelo português Felipe Augusto Fidanza (1844 – 1903), um dos mais importantes fotógrafos que atuaram no norte do Brasil no século XIX e no início do século XX, e com uma de autoria de um fotógrafo ainda não identificado, o portal conta um pouco da história do Theatro da Paz, primeira casa de espetáculos construída na Amazônia e um dos mais representativos exemplares da arquitetura neoclássica no Brasil. É um dos teatros-monumentos do país. Não deixem de usar a ferramenta zoom para apreciar os detalhes da edificação e espiar uma pessoa que passava na frente do prédio.

 

No romance Chove nos Campos de Cachoeira (1941), do escritor paraense Dalcídio Jurandir, o menino Alfredo sonha em partir da pequena Cachoeira do Arari, na ilha do Marajó, para ir estudar na capital do Pará. Alfredo cria uma Belém particular, na medida do seu desejo, e, para isso, muito contribuem as histórias contadas pela vizinha Rosália, que todos os meses ia à capital receber seu montepio. Ela havia trabalhado no Teatro da Paz, seu orgulho: “Eu, eu vesti muita artista. Cada roupagem! Era ver uma princesa. fui camareira do Teatro da Paz!”, dizia, para a desconfiança de todos. “Camareira do Teatro da Paz! pasmava Cachoeira. Os conterrâneos de Rosália achavam demasiado, até mesmo irritante, que ela chegasse a ser camareira do maior teatro do norte do Brasil!”

A ficção dimensiona o real significado do Teatro da Paz para os nortistas”.

Roseane Silveira de Souza

 

A construção e fundação do Theatro da Paz, em 15 de fevereiro de 1878, foi uma das consequências do enorme crescimento econômico que Belém, capital do Pará, experimentou na segunda metade do século XIX devido ao ciclo da borracha. Surgia então uma nova elite econômica, a dos seringalistas, que começou a transformar a cidade em um centro de divertimento, consumo e luxo. Belém, a Capital da Borracha, foi modernizada e quase toda a produção da Amazônia era escoada por seu porto.

 

 

Até hoje pouco se sabe da vida de Fidanza, autor da foto acima do Theatro da Paz, antes de sua chegada ao Brasil, em fins da década de 1860. Em 1º de janeiro de 1867, o Diario do Gram-Pará publicou o anúncio : “PHOTOGRAPHIA, ao largo das Mercez , nº. 5, Fidanza & Com”, o que prova que nessa época ele já estava estabelecido no Pará. A modernização de Belém e do Pará foram registradas nas coleções Álbum do Pará (1899) e Álbum de Belém (Correio da Manhã, de 22 de outubro de 1903, na quarta coluna sob o título “Intendência Municipal de Belém”). Fidanza não teve um final feliz.

 

Reprodução do retrato de Fidanza, Álbum do Pará em 1899

 

Jornal do Brasil de 31 de janeiro de 1903 noticiou seu suicídio: “Atirou-se ao mar, de bordo do vapor Christiannia, em viagem de Lisboa para esta capital (Belém), o conhecido photographo Felippe Fidanza” ( Jornal do Brasil, 31 de janeiro de 1903, na primeira coluna ). Ele havia se jogado ao mar na altura da ilha da Madeira quando retornava de Portugal com a mulher e os filhos. Havia viajado para cuidar de uma encomenda dos governos do Pará e do Amazonas de 10 mil álbuns de vistas destes estados. Parece que foi mal sucedido e já havia, inclusive, tentado se matar em Lisboa ( O Pharol, 6 de março de 1903, na quinta coluna).

A fotografia do Theatro da Paz produzida por um fotógrafo ainda não identificado pertence ao acervo do Museu da República, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica. A imagem é de Nilo Peçanha (1867 – 1924), então candidato à presidência da República, discursando, em 1921, durante a  Reação Republicana, uma campanha política em torno da sucessão presidencial que mobilizou o Brasil, entre 1921 e 1922, cuja chapa oposicionista se opunha ao domínio de São Paulo e Minas Gerais na política nacional. Reuniu estados importantes – Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul, mais o Distrito Federal – que queriam construir um eixo alternativo de poder.  Os candidatos à presidência e à vice-presidência da Reação eram justamente o fluminense Nilo Peçanha e o baiano J.J. Seabra (1855 – 1942). Nas eleições de 1º de março de 1922, foram derrotados pelo mineiro Artur Bernardes (1875 – 1955) e pelo maranhense Urbano Santos (1859 – 1922), que morreu antes de tomar posse.

 

 

Voltando à história do Theatro da Paz. Em 1863, após a aprovação da Assembleia Provincial, o então presidente da província do Pará, Francisco de Araújo Brusque (1822 – 1886), sancionou a lei que autorizava a construção do teatro. Só cinco anos depois, em 1868, já na gestão de José Bento da Cunha Figueiredo (1818 – 1891), foi liberada a despesa para a obra. Inicialmente, por sugestão de dom Antônio de Macedo Costa (1830 – 1891), que lançou sua pedra fundamental, em 3 de março de 1869, se chamava Theatro Nossa Senhora da Paz, em referência à expectativa de término da Guerra do Paraguai, mas teve seu nome modificado, pois abrigaria apresentações mundanas (Diário de Belém, 4 de março de 1869, última coluna; Diário do Rio de Janeiro, 16 de março de 1869, segunda coluna; Diário de Pernambuco, 16 de março de 1869, quarta coluna).

O governo da província contratou o engenheiro militar pernambucano José Tibúrcio Pereira de Magalhães (1831 – 1886) para projetá-lo – foi inspirado no Teatro Scala de Milão – e para começar a construi-lo (Diário de Pernambuco, 16 de março de 1869, quarta coluna). Posteriormente, o engenheiro Antônio Augusto Calandrini de Chermont (1847 – 1907) fez alterações na planta e assumiu a obra. Foi construído, na Praça Pedro II, atual Praça da República, e devido a diversas brigas entre o governo e o arrematante das obras, o empresário português João Francisco Fernandes, só foi aberto em 1878, quando foi entregue apenas dois dias antes de sua inauguração, em 13 de fevereiro de 1878.

No período áureo do Ciclo da Borracha, o Theatro da Paz foi, finalmente, inaugurado, em 15 de fevereiro de 1878. A classe alta de Belém, referida pela imprensa da cidade como a gente escolhida, compareceu em peso ao evento. O povo ficou ao redor do teatro vendo a chegada dos convidados e o presidente da província, João Capistrano Bandeira de Melo Filho (1836 – 1905), foi saudado por uma banda de música e com foguetes. Dentro do teatro, a abertura aconteceu com a execução do Hino Nacional e da marcha Gram-Pará, de autoria do maestro maranhense Francisco Libânio Colás (c. 1831 – 1885). Foi apresentada a peça ópera As duas órfãs, do dramaturgo francês Adolphe d´Ennery (1811 – 1899), encenada pela companhia do pernambucano Vicente Pontes de Oliveira que teve até 1880 o monopólio da programação do Theatro da Paz. No palco: Manuela Lucci, Emília Câmara, Maria Bahia, Vicente Pontes de Oliveira, Joaquim Infante da Câmara, Xisto Bahia e Júlio Xavier de Oliveira, também ensaiador.

 

 

 

Possuía 1.100 lugares (hoje com 900), acústica perfeita, lustres de cristal, piso em mosaico de madeiras nobres, afrescos nas paredes e teto, dezenas de obras de arte, gradis e outros elementos decorativos revestidos com folhas de ouro (Site do Theatro da Paz).

O jornalista e escritor José Veríssimo (1857 – 1916), um dos mais importantes idealizadores da Academia Brasileira de Letras, dedicou sua coluna do dia 17 de fevereiro no jornal O Liberal do Pará à inauguração do teatro (O Liberal do Pará15 de fevereiro, última colunacoluna “Folhetim”, de José Veríssimo, 17 de fevereiro de 1878; Publicador Maranhense, 22 de fevereiro de 1878, terceira coluna).

 

 

 

Em 7 de agosto de 1880, estreia da primeira temporada de ópera do Theatro da Paz, com a Companhia Lírica Italiana, dirigida pelo empresário Tomas Passini, com a apresentação de Ernani, de Giuseppe Verdi (1813 – 1901), trazendo a soprano Filomena Savio (18? – ?), estrela da companhia (O Liberal do Pará, 6 de agosto, segunda colunacoluna “Folhetim”, 7 de agosto de 1880).

 

 

Outras temporadas de ópera se seguiram, alternando-se com apresentações dramáticas, estações carnavalescas, números circenses e eventos políticos. Em 1882, a temporada lírica teve como convidado de honra o compositor e maestro Carlos Gomes, no auge da fama (Roseane Silveira de Souza, 2011). Carlos Gomes (1836 – 1996) foi o maior nome da música brasileira do Segundo Reinado. Chegou a Belém, em 24 de julho de 1882 (O Liberal do Pará, 25 de julho de 1882, penúltima coluna; 27 de julho de 1882, quarta coluna). Estreou no Theatro da Paz  regendo a abertura da ópera O Guarani, de sua autoria (O Liberal do Pará, 3 de agosto de 1882, primeira coluna). Alguns dias depois, apresentação da ópera O Salvador Rosa, também de sua autoria e ensaiada por ele (O Liberal do Pará, 10 de agosto de 1882, quinta coluna). A Companhia Lírica Italiana de Tomás Passini havia sido contratada pelo maestro paraense José Cândido da Gama Malcher (1853 – 1921). A presença de Carlos Gomes na cidade foi um acontecimento marcado por diversas homenagens e eventos sociais (O Liberal do Pará, 6 de agosto, quarta coluna).

O Theatro da Paz era considerado feio e foi assim descrito pelo jornalista José Veríssimo em sua noite de inauguração: No meio d’aquelle luxo, d’aquelle explendor, só uma cousa era feia, o theatro. Se exteriormente o theatro da Paz é desgeitoso e em contrario a todas as regras da architectura, interiormente é nú, sem arte, sem gosto, sem riquezas, sem luxo”. Uma reforma realizada no teatro entre 1887 e 1890, trouxe arte e beleza a seu interior. O versátil artista pernambucano Crispim do Amaral (1858 – 1911) e o pintor italiano Domenico De Angelis (c. 1852 – 1900) foram responsáveis pela decoração interna do edifício.

O pano de boca de cena, intitulado Alegoria da República, é de autoria de Crispim. Sua autoria é muitas vezes atribuída, erroneamente, ao cenógrafo francês Eugène Carpezat (1833 – 1912), que Crispim havia conhecido na França e em cujo ateliê parisiense o trabalho foi realizado.

 

“A alegoria do pano de boca reúne a figura de Marianne, uma síntese das representações de 1789 e 1848, ladeada por personagens da mitologia greco-romana, de elementos indígenas e caboclos, em meio a oficiais participantes do movimento republicano. Estudioso das representações republicanas, o historiador José Murilo de Carvalho ressalta que o baiano Manuel Lopes Rodrigues, autor de uma Alegoria da República, de 1896, só poderia tê-la concebido com os atributos da Segunda República porque vivia na Europa, onde esses elementos já haviam sido apropriados. Para ele, talvez não haja outra pintura de igualvalor. É lícito incluir Amaral nessa lista, pois sua pintura, além da qualidade estética, é a primeira representação republicana concebida no Pará e, provavelmente, no Brasil, além de integrar-se a um teatro-monumento”.

 

Nascido em Olinda, Crispim do Amaral (1858 – 1911), era pintor, caricaturista, decorador, ilustrador e cenógrafo e havia estudado no Recife com o pintor e cenógrafo francês Leon Chapelin, que possuia um estúdio fotográfico na cidade (Diário de Pernambuco, 23 de abril de 1867).  Em 1876, Crispim havia se fixado em Belém. Tudo indica que foi discípulo do também pernambucano Vicente Pontes de Oliveira que, além de ator, era decorador e cenógrafo. Crispim foi agraciado, por intermédio de De Angelis, em 1888, com uma bolsa de estudos do governo paraense para aperfeiçoar-se em pintura na Academia de San Luca, e provavelmente, entre alguns anos da década de 1880 e 1893, viveu entre a França e a Itália. Na Itália, teria se formado pela Academia San Lucca. Na França, colaborou em vários periódicos, dentre eles o Le Rire, e trabalhou como cenógrafo da Comedie Française. Trabalhou também no Teatro Amazonas, inaugurado, em Manaus, na virada do ano de 1896 para 1897. Foi morar no Rio de Janeiro em fins do século XIX. Ao longo de sua vida, editou e ilustrou o jornal O Estafeta (1879), sob o pseudônimo Puck, trabalhou na revista A Semana Illustrada (1887), foi o primeiro diretor artístico da revista O Malho (1902), e o fundador das revistas A Avenida (1903) e O Pau (1905). Trabalhava como caricaturista na revista O Século quando faleceu, em 1911.

 

 

O plafond (teto) e as pinturas decorativas das dependências da plateia são de autoria de Angelis.

“A obra de De Angelis no plafond é uma reunião de personagens mitológicos, a começar pelo deus Apolo, em uma versão multifacetada, com atributos greco-romanos e celtas. Ele abre caminho para as musas, representadas em três nichos da pintura elíptica. Essas figuras são entremeadas por representações indígenas e tapuias, sinalizando a natureza e a cultura da região amazônica, embora claramente o conjunto pictórico reitere a supremacia europeia sobre aquele mundo novo, desconhecido e exótico”.

Roseane Silveira de Souza, 2010

 

A pintura do teto do foyer do Theatro da Paz foi realizada no período desta reforma, mas foi perdida em um desabamento do teto na década de 30. Em uma das outras reformas realizadas no teatro, na década de 1960, uma nova pintura do teto do foyer, com temática amazônica, foi feita pelo artista Armando Ballon.

De Angelis havia chegado em Belém com seu sócio, o também italiano Giovanni Capranesi (1852 – 1921) e com o também pintor Sperindio Aliverti, em 1881, para trabalhar nas pinturas decorativas da Catedral de Belém.

 

 

Os artistas Adalberto de Andreis, Francesco Alegiani, Silvio Centofanti e José Gomes Corrêa de Faria colaboraram nesta reforma do teatro. Esses três primeiros trabalharam na decoração interna do Theatro Amazonas, de novo com Crispim e de Angelis, inaugurado na virada de 1896 para 1897.

O Theatro da Paz foi reinaugurado em 2 de julho de 1890 com a apresentação da ópera A Sonâmbula, de Vicenzo Bellini, encenada pela Companhia Lírica Italiana, empresariada pelo maestro Gama Malcher (Diário do Notícias (PA), 2 de julho de 1890, quarta coluna).

Durante a gestão do governador Augusto Montenegro (1867 – 1915), foi realizada uma nova reforma no teatro, entre 1904 e 1905. Foi reaberto em 3 de maio de 1905, com a estreia da Companhia Lírica Italiana, de Donato Rotolli, com a ópera Tosca, pela primeira vez executada no Pará.  Em 1918, na segunda quinzena de março, foi apresentada no Theatro da Paz espetáculos da companhia de balé da grande bailarina russa Anna Pavlova (1881 – 1931) (Estado do Pará, 16 de março de 1918, segunda coluna).

 

Programa do espetáculo de Ana Pavlowa, 1918 / Acervo “Em março de 1918 Ana Pavlowa deslumbrou Belém com sua arte. O casal Hydéa e Luiz Maximino de Miranda Corrêa (…), que haviam recepcionado Ana Pavlowa em Belém, realizou uma viagem à América do...

 

Em 21 de junho de 1963, o Theatro da Paz foi tombado pelo serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que o considera um dos teatros-monumentos do Brasil.

Na década de 1970, passou por uma nova reforma, tendo sido reaberto, em 15 de fevereiro de 1975, com a comemoração dos 70 anos do maestro paraense Waldemar Henrique (1905 – 1995), que dirigiu o teatro por mais de 10 anos entre as décadas 60 e 70. Em 1977, foi de novo fechado para restauro e sua reabertura aconteceu em 15 de fevereiro de 1978, data de seu centenário, com a apresentação do coral Ettore Bosio (Correio Braziliense, 5 de fevereiro de 1978).

 

 

Durante as décadas de 80 e 90, foram realizados vários melhoramentos. Em 1996, foi formada a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz.

Passou, durante dois anos, por uma meticulosa restauração, tendo sido reaberto em abril de 2002 com a realização do 1º Festival de Ópera do Theatro da Paz. Ganhou dois pianos novos – um Yamaha Grand Konzert e um Steinway – e seu palco tornou-se desmontável para atender a diferentes tipos de espetáculo (Folha de São Paulo, de 19 de agosto de 2002).

Ao longo de seus mais de 100 anos de existência, já passaram por seu palco, dentre várias outras atrações, Arnaldo Cohen, Arthur Moreira Lima, Bibi Ferreira, Bidu Sayão, Cacilda Becker, Fernanda Montenegro, Francisco Mignoni, Glauce Rocha, Guiomar Novaes, Henritte Morineau, Margarida Lopes de Almeida, Maria Della Costa, Maria Lucia Godoy, Miguel Proença, Natalia Thimberg, Nelson Freire, Paulo Autran, Procópio Ferreira, Renato Vianna, Tamara Taumonova, Tito Schipa, Tonia Carrero, Waldemar Henrique, além do corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, do Ballet Kirov, dos Les Etoilles de l’Opera de Paris e do Ballet Stagium.

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Fontes:

Arquivo Público do Estado do Maranhão

BRITO, Maria. Arte no Theatro da Paz.

CABRAL, Luisa. Theatro da Paz e Waldemar Henrique. Portal LIV – Arte e Cultural, 15 de fevereiro de 2011.

Biblioteca do IBGE

Guia das Artes de Belém do Pará

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

SALLES, Vicente. A música e o tempo no Grão Pará. Belém: Cons. Est. de Cultura, 1980

SALLES, Vicente. Theatro da Paz – tempo e gente.

SILVA, Aline Costa da. José Veríssimo: seus anos de formação (1877 – 1891). Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras do Instituto de Letras e Comunicação da Universidade Federal do Pará, para obtenção do grau de Doutorado em Letras (Área de Concentração: Estudos Literários), 2021.

SOUZA, Roseane Silveira de. Teatro da Paz: histórias invisíveis em Belém do grão-Pará. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, dezembro de 2010.

Site Fragmentos de Belém

Site IPatrimônio

Site Theatro da Paz

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica sobre teatros e cinemas 

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXpublicado em 26 de fevereiro de 2016.

Os teatros do Brasil, publicado em 21 de março de 2016

A inauguração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, publicado em 14 de julho de 2017

Cinema no Brasil – a primeira sessão e um pouco da história do Cinema Odeon, publicado em 8 de julho de 1921

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XII – O Teatro Lírico (Theatro Lyrico), publicado em 16 de setembro de 2021

O Theatro de Santa Isabel, publicado em 28 de outubro de 2021

O Teatro Amazonas (Theatro Amazonas), em Manaus, a “Paris dos Trópicos”, publicado em 28 de dezembro de 2021

O Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, no Dia Mundial do Teatro, publicado em 27 de março de 2023

Dia do Cinema Brasileiro, publicado em 19 de junho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado em 5 de setembro de 2023

O suicídio do fotógrafo Felipe Augusto Fidanza (1844 – 1903)

Reprodução do retrto de Fidanza, Álbum do Pará, em 1899

Reprodução do retrato de Fidanza, Álbum do Pará em 1899

O Jornal do Brasil de 31 de janeiro de 1903 noticiou o suicídio do português Felipe Augusto Fidanza (1844 – 1903), um dos mais importantes fotógrafos que atuaram no norte do Brasil no século XIX e no início do século XX: “Atirou-se ao mar, de bordo do vapor Christiannia, em viagem de Lisboa para esta capital (Belém), o conhecido photographo Felippe Fidanza” ( Jornal do Brasil, 31 de janeiro de 1903, na primeira coluna ). Ele havia se jogado ao mar na altura da ilha da Madeira quando retornava de Portugal com a mulher e os filhos. Havia viajado para cuidar de uma encomenda dos governos do Pará e do Amazonas de 10 mil álbuns de vistas destes estados. Parece que foi mal sucedido e já havia, inclusive, tentado se matar em Lisboa ( O Pharol, 6 de março de 1903, na quinta coluna).

Filho de Fernando Gabriel Fidanza e Maria de Jesus Fidanza, nasceu em 4 de setembro de 1844, em Lisboa. Foi batizado em 5 de outubro de 1844, na paróquia/freguesia de São José, em Lisboa. Era bisneto e neto dos atores italianos Raimondo e Giulio Fidanza, respectivamente, que participaram da cena teatral de Portugal. Raimondo, que também era bailarino, foi empresário teatral na Ilha da Madeira.

 

Até hoje pouco se sabe de sua vida antes de sua chegada ao Brasil, em fins da década de 1860. Em 1º de janeiro de 1867, o Diario do Gram-Pará publicou o anúncio : “PHOTOGRAPHIA, ao largo das Mercez , nº. 5, Fidanza & Com”, o que prova que nessa época ele já estava estabelecido no Pará. Ainda em 1867, Fidanza realizou seu primeiro trabalho de importância nacional: o registro dos preparativos para a recepção da comitiva de dom Pedro II. O imperador foi ao Pará para participar das solenidades da abertura dos portos da Amazônia ao comércio exterior. Segundo Pedro Vasquez,  com esse trabalho, Fidanza “documentou de forma inovadora e antecipatória o espírito jornalístico”. No Diário de Belém, de 29 de agosto de 1868, há uma propaganda do ateliê Photographia Fidanza.

Destacou-se por sua produção de retratos e também pelo registro das paisagens e documentações do início do desenvolvimento urbano de Belém e de Manaus, ocasionado pela riqueza do ciclo da borracha.  Essas imagens de paisagens urbanas foram divulgadas por álbuns fotográficos encomendados pelos governos do Pará e do Amazonas. A modernização de Belém e do Pará foram registradas nas coleções Álbum do Pará (1899) e Álbum de Belém (Correio da Manhã, de 22 de outubro de 1903, na quarta coluna sob o título “Intendência Municipal de Belém”).

Álbum do Amazonas (1902), cujo contrato havia sido assinado por Fidanza para o fornecimento de 6 mil álbuns ilustrados destinados à propaganda para o desenvolvimento daquele estado (Diário Oficial, de 16 de março de 1900, na segunda coluna sob o título “Indústria”), foi impresso em Paris sem a supervisão do fotógrafo e continha várias imperfeições, o que gerou uma série de comentários negativos sobre seu caráter. Aparentemente este fato pode ter sido uma das causas de seu suicídio, em janeiro de 1903.

 

 

Em seu estúdio, Fidanza fotografou tipos sociais diversos. Retratou no formato carte de visite negros, mulatos e índios. Para tornar essas fotografias, que vendia, exóticas, utilizava adereços e construía cenários. Representou na capital paraense a firma Huebner & Amaral, sediada em Manaus, e foi um dos pioneiros do cartão-postal fotográfico no Brasil.  Seu estúdio era também palco de exposições de pintores que passavam por Belém para mostrar seus trabalhos.

 

 

Enquanto morou no Brasil, viajou várias vezes para a Europa, tendo sempre se mantido ligado às tendências internacionais da fotografia. Viveu a febre dos cartes de visite e dos cartes cabinet. Participou da IV Exposição Nacional de 1875, com fotografias de orquídeas da região amazônica, e das Exposições Universais de Paris, em 1889, quando foi premiado com uma medalha de bronze, e de Chicago, em 1893.

Em sua produção fotográfica, Fidanza usou vários processos e sistemas de apresentação disponíveis em sua época, demonstrando conhecimento técnico e estético na escolha dos temas e dos enquadramentos, ângulos e composição do cenário, segundo as historiadoras Rosa Pereira e Maria de Nazaré Sarges. O trabalho de Fidanza reúne um acervo documental significativo para a história de Belém e de seus tipos sociais na segunda metade do século XIX e início do XX.

 

 

 

Cinco meses após sua morte, seu estúdio foi leiloado por sua viúva. Teve diversos proprietários, dentre eles os sócios Georges Huebner (1862 – 1935) e Libânio do Amaral (?-1920).  Segundo o jornalista Cláudio de La Rocque Leal, o estabelecimento fotográfico sob o nome “Fidanza” fez parte da história até 1969. Fidanza tornou-se uma marca da fotografia visto que, mesmo após a morte, seu nome permaneceu no cenário da produção fotográfica e na memória paraense, tanto que outros profissionais, ao adquirirem o seu ateliê, mantiveram o mesmo nome.

 

Acessando o link para as fotografias de Felipe Augusto Fidanza disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Cronologia de Felipe Augusto Fidanza (1844 – 1903)

 

1844 - Nascimento, em Lisboa, em 4 de setembro, de Felipe Augusto Fidanza, filho de Fernando Gabriel Fidanza e Maria de Jesus Fidanza. Foi batizado em 5 de outubro de 1844, na paróquia/freguesia de São José em Lisboa. Era bisneto e neto dos atores italianos Raimondo e Giulio Fidanza, respectivamente, que participaram da cena teatral de Portugal. Raimondo, que também era bailarino, foi empresário teatral na Ilha da Madeira.

 

 

Fins da década de 1860 – Chegada ao Brasil.

1867 – Em 1º de janeiro de 1867, o Diario do Gram-Pará publicou o anúncio : “PHOTOGRAPHIA, ao largo das Mercez , nº. 5, Fidanza & Com”, o que prova que nessa época ele já estava estabelecido no Pará.

Fidanza realizou seu primeiro trabalho de importância nacional: o registro dos preparativos para a recepção da comitiva de dom Pedro II. O imperador foi ao Pará para participar das solenidades da abertura dos portos da Amazônia ao comércio exterior.

1868 - Publicação de uma propaganda do ateliê de Fidanza (Diário de Belém, de 29 de agosto de 1868).

1875 – Participou da IV Exposição Nacional de 1875, com fotografias de orquídeas da região amazônica.

1889 – Participou da Exposição Universal de Paris de 1889, quando foi premiado com uma medalha de bronze.

1893 – Participou da Exposição Universal Chicago de 1893.

1897 – Em Belém, o fotógrafo, botânico e naturalista alemão George Huebner (1862 – 1935) colaborou com Fidanza.

1900-  Foi assinado um contrato por Fidanza para o fornecimento de 6 mil álbuns ilustrados destinados à propaganda para o desenvolvimento do  Amazonas, o O Álbum do Amazonas (1902) (Diário Oficial, de 16 de março de 1900, na segunda coluna sob o título “Indústria”). foi impresso em Paris sem a supervisão do fotógrafo e continha várias imperfeições, o que gerou uma série de comentários negativos sobre seu caráter. Aparentemente este fato pode ter sido uma das causas de seu suicídio, em janeiro de 1903.

1902 - O Álbum do Amazonas (1902) foi impresso em Paris sem a supervisão do fotógrafo e continha várias imperfeições.

1903 – O Jornal do Brasil de 31 de janeiro de 1903 noticiou o suicídio do português Felipe Augusto Fidanza: “Atirou-se ao mar, de bordo do vapor Christiannia, em viagem de Lisboa para esta capital (Belém), o conhecido photographo Felippe Fidanza” ( Jornal do Brasil, 31 de janeiro de 1903, na primeira coluna ). Ele havia se jogado ao mar na altura da ilha da Madeira quando retornava de Portugal com a mulher e os filhos. Havia viajado para cuidar de uma encomenda dos governos do Pará e do Amazonas de 10 mil álbuns de vistas destes estados. Parece que foi mal sucedido e já havia, inclusive, tentado se matar em Lisboa ( O Pharol, 6 de março de 1903, na quinta coluna).

Cinco meses após sua morte, seu estúdio foi leiloado por sua viúva. Teve diversos proprietários, dentre eles os sócios Georges Huebner (1862 – 1935) e Libânio do Amaral (?-1920).  Segundo o jornalista Cláudio de La Rocque Leal, o estabelecimento fotográfico sob o nome “Fidanza” fez parte da história até 1969. Fidanza tornou-se uma marca da fotografia visto que, mesmo após a morte, seu nome permaneceu no cenário da produção fotográfica e na memória paraense, tanto que outros profissionais, ao adquirirem o seu ateliê, mantiveram o mesmo nome.

1985 – Suas fotografias integraram a mostra Dom Pedro II e a Fotografia no Brasil, realizada na Casa do Bispo, no Rio de Janeiro.

1986 – Foi um dos fotógrafos integrantes da exposição Photographie Bresilienne au Dix-Neuvieme Siecle, realizada em Paris.

1995 – No Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, fotografias de sua autoria foram expostas na mostra Mestres da Fotografia no Brasil: Coleção Gilberto Ferrez.

1997 – Em janeiro, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, fotografias de sua autoria foram expostas na mostra A Coleção do Imperador: fotografia brasileira e estrangeira no século XIX. Em abril, a exposição seguiu para a Pinacoteca do Estado de São Paulo e, em julho, foi inaugurada no Museu Nacional de Belas Artes, de Buenos Aires, na Argentina.

2000 - Em junho, a exposição A Coleção do Imperador: fotografia brasileira e estrangeira no século XIX foi aberta no Centro Português de Fotografia, na cidade do Porto, em Portugal.

2012 – Em maio, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, abertura da exposição Amazônia, Ciclos de Modernidade, com imagens de diversos fotógrafos, dentre eles, Fidanza.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Arquivo Nacional – Torre do Tombo – imagem: PT-ADLSB-PRQ-PLSB45-001-B18_m0390.TIF

BRAGA, Teófilo. Historia do theatro portuguez: seculo XVIII. A Baixa comedia e a opera. Volume 3 in: Historia da Litteratura Portugueza, 1870/1871.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Coleção Princesa Isabel: fotografia do século XIX. Rio de Janeiro: Capivara, 2008.432p.:il., retrs.

LEAL, Cláudio de La Rocque. Retrato Paraense. Belém: Fundação Rômulo Maiorana, 1998.

MAUAD, Ana Maria. Imagens de um outro Brasil: o patrimônio fotográfico da Amazônia oitocentista. Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro. 2010.

PEREIRA, Rosa Cláudia Cerqueira. Paisagens urbanas: fotografias e modernidades na cidade de Belém (1846-1908). Tese de Mestrado em História. Pará: Universidade Federal do Pará, 2006

PEREIRA, Rosa Cláudia Cerqueira; SARGES, Maria de Nazaré. Photografia Fidanza: um foco sobre Belém (XIX/XX). Revista Estudos Amazônicos. Belém: PPGHSA, UFPA, v. VI, no. 2., p. 01-31, 2011

RODRIGUES, Maria da Paz Ferreira. As Artes Performativas no Funchal Oitocentista (1820-1913), 2011.

Site da Enciclopédia Itaú Cultural

Site O Índio na Fotografia Brasileira

TURAZZI, Maria Inez. Poses e Trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839-1889. Rio de Janeiro: Funarte: Rocco, 1995 . (Coleção Luz e Reflexão, 4)

VASQUEZ, Pedro. O Brasil na Fotografia Oitocentista. São Paulo: Metalivros, 2003

 

Nota da editora: a data de nascimento e de batismo de Fidanza passaram a constar deste artigo em 17 de outubro de 2022. As informações foram fornecidas pelo leitor, sociólogo e genealogista Daniel Taddone, a quem a Brasiliana Fotográfica agradece.