Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência

Com fotografias em formato cabinet*  de autoria de João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes (18? – 19?), pertencentes ao acervo da Fundação Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica; e com um pequeno histórico do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, o portal celebra esta data.

 

 

 

Pequeno histórico do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência

 

O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, que coincide com o início da primavera, dia 21 de setembro, e simboliza o nascimento e a renovação do movimento das pessoas com deficiência, foi instituído pela Lei nº 11.133/2005, de 14 de julho de 2015. Seu objetivo é a conscientização da população brasileira de que pessoas com deficiência devem ter seus direitos respeitados e devem ser integradas à sociedade sem preconceitos, de forma igualitária. De acordo com o IBGE, no Brasil, 17,3 milhões de pessoas com dois anos ou mais de idade – o que representa 8,4% da população – possuem algum tipo de deficiência.

 

 

Segundo a Lei Brasileira de Inclusão de Pessoa com Deficiência, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, de 2015, a pessoa com deficiência é aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. 

Existe, há relativamente pouco tempo, o conceito de capacitismo, sobre a discriminação em relação a pessoas com deficiência, a partir da subestimação da capacidade e aptidão dessas pessoas devido a suas deficiências, o que se traduz como um obstáculo à inclusão desses indivíduos à sociedade. Além disso, cada vez mais pessoas com deficiência trazem à sociedade um questionamento: seriam elas deficientes ou seria deficiente a sociedade que não satisfaz às necessidades de todas as pessoas que a formam?

O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência foi oficializado, como já mencionado, em 2005, porém a data já era celebrada desde 1982 por iniciativa do Movimento pelos Direitos das Pessoas com Deficiência. O grupo começou a se organizar em fins de 1979 para reivindicar direitos e melhorias para a vida das pessoas com deficiência.

 

 

Legislação brasileira em relação a pessoas com deficiência:

Lei n° 7.713/1998: garante a dedução do Imposto de Renda para pessoas com deficiência.

Lei nº 7.853/1989: dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiência e sua efetiva integração social.

Lei nº 8.213/1991: ordena que, a partir de 100 empregados, a empresa deve reservar de 2% a 5% de vagas para pessoas com deficiência.

Lei nº 8.899/1994: a Lei do Passe Livre prevê que toda pessoa com deficiência tenha direito ao transporte coletivo interestadual gratuito, e que cabe a cada estado ou município implantar programas similares ao Passe Livre para os transportes municipais e estaduais.

Lei nº 8.989/1995promove a isenção do imposto sobre produtos industrializados – IPI, na aquisição de automóveis para utilização no transporte autônomo de passageiros, bem como conduzidos pelas próprias pessoas com deficiência física, e dá outras providências. (Redação dada pela Lei Nº 10.754, de 31.10.2003).

Lei nº 9.394/1996: Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Determina que “haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial e que o atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular”. A legislação brasileira também prevê o acesso a livros em Braille, de uso exclusivo das pessoas com deficiência visual.

Lei nº 10.098/2000: normatiza as condições de acessibilidade.

Lei nº 10.436/2002: reconhece a Língua Brasileira da Sinais (LIBRAS) para os surdos.

Lei nº 10.754/2003: altera a Lei Nº 8.989, de 24 de fevereiro de 1995 que “dispõe sobre a isenção do Imposto Sobre Produtos Industrializados – IPI, na aquisição de automóveis para utilização no transporte autônomo de passageiros, bem como por pessoas com deficiência física e aos destinados ao transporte escolar.

Lei nº 11.126/2005: garante o direito da pessoa com deficiência visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado de cão-guia.

Lei nº 12.319/2010: regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.

Lei 13.146/2015: a Lei Brasileira de Inclusão de Pessoa com Deficiência, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, incorporou os princípios da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, realizada em 2006, pela Organização das Nações Unidas (ONU) e ratificada pelo país em 2008.

 

Pequeno perfil de João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes (18? – 19?)

 

Apesar de não sabermos onde e quando João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes, nasceu e faleceu, há registros de sua atuação como fotógrafo a partir de 1875, no Rio de Janeiro, na rua da Quitanda, nº 39. Era filho do comendador Thomaz Xavier Ferreira de Menezes e seus irmãos eram Francisco, Eurydice, Thomaz e Carlos Xavier de Oliveira Menezes; e Rita Augusta de Menezes Pinho (Jornal do Commercio, 2 de novembro de 1891, sexta colunaO Paiz, 13 de setembro de 1896, sexta coluna).

 

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Acervo IMS

 

Em 1876, foram realizadas obras em seu estúdio fotográfico e anunciado que já estava a disposição de nosso amigos e fregueses (Gazeta de Notícias, 27 de agosto de 1876).

 

 

Até 1882, foi associado, na firma Pacheco, Menezes & Irmão, a seu irmão, Carlos e a Bernardo José Pacheco (18? -?), que havia sido, entre 1866 e 1874, associado ao fotógrafo açoriano Christiano Junior (1802 – 1902). Apresentavam-se como sucessores de Christiano Junior & Pacheco e ofereciam retratos em todos os systemas (Jornal do Commercio, 3 de dezembro de 1866Gazeta de Notícias, 8 de agosto de 1875Diário do Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1875, sexta colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1875 1876187718781879188018811882). Lembramos que Christiano Jr. foi o autor da série Elephansiasis, realizada na década de 1860. Como já indagado no artigo, Para uma história da fotografia médica, no Brasil, de autoria de Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, teria sido J. Menezes o sucessor de Christiano Junior no atendimento à classe médica da corte?

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de J. Menezes disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

O estabelecimento passou a chamar-se Menezes & Irmão (Gazeta de Notícias, 13 de junho de 1882, última coluna; Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1884).

 

 

Ainda em 1882, anunciavam Photographia e Pintura e, em 1883, anunciavam uma Grande Novidade:

 

 

 

Em 1883,  foram lidas proclamas de seu casamento com Virgilia Adelaide Mendes Calaza (Gazeta de Notícias, 29 de dezembro de 1893, terceira coluna). Em 1884, com o falecimento de seu irmão e sócio Carlos, foi extinta a firma Menezes & Irmão e J. Menezes passou a atuar por conta própria, ainda na Rua da Quitanda, nº 39 (Jornal do Commercio, 26 de agosto de 1884, sétima coluna; Jornal do Commercio, 3 de outubro de 1884, última coluna). Residia na Rua do Souto, 16.

Foi na década de 1880, que J. Menezes produziu as fotos de pessoas com deficiência exibidas neste artigo.

Nos primeiros anos da década de 1890, seu estabelecimento fotográfico ficava na rua Marquês de Paraná, 1. O último registro de sua atividade como fotógrafo encontrada pela minha pesquisa data de 1902 (Gazeta de Notícias, 13 de junho de 1884, terceira colunaJornal do Commercio, 3 de outubro de 1884, última colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 188518911892, 1898190019011902).

Em 1902, seu filho Augusto (1901 – 1902) faleceu (Jornal do Commercio, 10 de julho de 1902, sexta coluna).

 

 

*Formato de apresentação de fotografias sobre papel que surgiu na Inglaterra em 1866 como uma evolução do formato cartão de visita, tendo portanto o mesmo tipo de apresentação, mas num tamanho maior, razão pela qual era dito de cabinet, de gabinete. Outra denominação empregada para esse formato, inclusive aqui no Brasil, era carte boudoir, em referência àquelas salas íntimas de uso feminino características das residências oitocentistas. Muito utilizado até fins do século passado, esse formato apresentava fotografias de cerca de 9,5 x 14cm montadas sobre cartões rígidos de cerca de 11 x 16,5 cm (Enciclopédia Itaú Cultural).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. Para uma história da Fotografia Médica, no Brasil. Brasiliana Fotográfica, 23 de outubro de 2016

Câmara Paulista para Inclusão da Pessoa Deficiente

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOUTSOUKOS, Sandra Sophia Machado.  O retratado era “diferente”. Rio de Janeiro, c. 1865. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011.

Ministério da Saúde – Biblioteca Virtual em Saúde

Portal UOL

Site Câmara dos Deputados

Série “Feministas, graças a Deus!” IV – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988)

Série “Feministas, graças a Deus!” IV – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988)

 

No quarto artigo da Série “Feministas, graças a Deus!”, Claudia Beatriz Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, escreveu sobre a feminista Maria Prestia (? – 1988) e sobre o próprio movimento feminista no Brasil. Além disso, abordou a questão da circulação dos retratos, “um aspecto frequentemente negligenciado na reflexão teórica sobre a fotografia, em detrimento das análises sobre o modo de representação tecnológico que a fotografia introduziu e, portanto, sobre o lugar do referente na fotografia, esse vínculo de indexação que ela mantém com o objeto“.

 

 

Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia

Claudia Beatriz Heynemann*

 

 

No início do século XX o endereço da Santa Ifigênia em São Paulo era conhecido por seu comércio sofisticado, no qual predominavam lojas de chapéus, peles e tecidos, frequentado pelas famílias do bairro Campos Elísios. Nessa área central, onde inicialmente se instalaram os cafeicultores enriquecidos, funcionava o ateliê Photo Skarke, de propriedade de Hugo Skarke (1898 – 197?) [1] cujo fundador, Fernando Skarke (1858 – 1935), foi, possivelmente, o único na província de São Paulo a ser distinguido com o título de fotógrafo da Casa Imperial em 1886, funcionando em Piracicaba [2] e posteriormente em Santos.

Esses fundos e cenários, com opções de mobiliário e outros acessórios, tão comuns no século XIX, continuaram em voga no início do XX. Por trás do busto recortado em oval de Maria Prestia,  [3]  distingue-se uma paisagem que envolve a sua face compenetrada. No retrato de Maria Prestia, o Photo Skarke empregou o recurso da colorização, criada por André Adolphe Eugène Disdéri, também responsável pela invenção das carte de visite, por volta de 1863 e que pode ser encontrado no Brasil pouco tempo depois. Bastante disseminada no país, apesar das críticas recebidas, a fotopintura “fornecia um ar aristocrático à fotografia, aproximando-a dos quadros pintados a óleo”  [4]  O gênero iria se perpetuar por muitas décadas da primeira metade do século XX em retratos de família, chegando ao gosto popular. Contudo, nesse momento da virada da década dos anos 1920, a técnica parece indicar uma escolha refinada, aplicada para realçar as joias e o batom, em uma fotografia que apresentava sua titular ao meio profissional e político em que circulava.

O retrato de Maria Prestia, possivelmente enviado para sua amiga Bertha Lutz pelo correio, produz sua presença no evento em que faltaria, mas não interrompe ali a sua trajetória. Uma legenda em inglês a identifica como líder de um minoritário grupo de feministas de S. Paulo, e aponta para o caráter internacional do movimento sufragista. Atesta da mesma forma a sua passagem a documento público com todos os deslocamentos que o arquivo promove, em uma primeira inflexão, considerando-se que integra o fundo Federação para o Progresso Feminino sob a custódia do Arquivo Nacional. De natureza privada, esse conjunto dialoga com o universo documental da Instituição, predominantemente público, interpelando as esferas de ação política e comportamento daquelas primeiras décadas do século XX.

A circulação do retrato, evidenciada nesse exemplar, é um aspecto frequentemente negligenciado na reflexão teórica sobre a fotografia, em detrimento das análises sobre o modo de representação tecnológico que a fotografia introduziu, e, portanto, sobre o lugar do referente na fotografia, esse vínculo de indexação que ela mantém com o objeto. No entanto, não se deve esquecer outra característica, a separação entre imagem fotográfica e referente, na perspectiva da circulação, quando as fotografias ganham uma mobilidade que seu referente nunca possuiu e circulam em espaço e tempo separados, como sintetiza Tom Gunning. [5] Assim é que a fotografia é um índice da modernidade, compartilhando com a moeda e o capitalismo a possibilidade de transformar objetos em simulacros transportáveis, um equivalente universal. A partir das carte de visite sobretudo, as imagens fotográficas, em formatos cada vez mais intercambiáveis e passíveis de serem colecionados, transitam do estúdio às vitrines, aos álbuns, às famílias, aos arquivos e às redações dos jornais.

O retrato que acompanha a correspondência vinha emoldurado em generoso passe-partout onde caberia a dedicatória “À distinta amiga Bertha Lutz, o meu apoio à grande causa. S. Paulo, 19/6/1931”. A data coincide com a da abertura do II Congresso Internacional Feminista no Rio de Janeiro, que contou com a presença do presidente Getulio Vargas no salão do Automóvel Club do Brasil e ao qual Prestia deveria comparecer. O Diário de Notícias, [6] assim como outros jornais, deu espaço ao encontro que durou mais de dez dias e incluiu uma série de passeios e visitas a pontos turísticos da capital, teatros e instituições tradicionais como o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro. Ela era representante da filial da Federação em S. Paulo, inserção recente como se pode acompanhar pela correspondência oficial da FBPF que cita o cartão enviado por Maria Prestia, no qual havia se pronunciado “em prol dos nossos ideais, nos meios femininos dessa capital”, formulando votos pelo sucesso da causa. Na mesma carta ela é convidada a participar do “Congresso Feminista” [7], embora não fosse ainda filiada aos quadros da Federação conforme correspondência posterior ao congresso, de 27 de agosto de 1931, quando é ressaltada a sua “simpatia” pela causa feminista [8]

A “causa feminista” a que se referem nesses documentos foi, como é característico nos movimentos identitários, um território de disputas atravessado por uma série de outras condições, a principal delas a das classes sociais, dos movimentos de trabalhadores, das tendências políticas. Apesar disso a atuação da FBPF e de Bertha Lutz domina a narrativa consolidada sobre os movimentos das mulheres brasileiras, encobrindo um cenário bastante mais fragmentado, como alerta Mª Margareth Lopes:

“Em suas múltiplas faces, a diversidade dos feminismos brasileiros incluía mulheres que partilhavam concepções conflitantes de feminismos, de conotações ideológicas e prioridades variadas, diferentes credos religiosos ou nenhum; diversas opções políticas, teóricas, regionais, partidárias. Tais mulheres repensaram as relações de gênero no país, inseridas em maior ou menor grau em um contexto internacional de movimentos feministas, sufragistas, modernistas, cientificistas, pacifistas, anarquistas, comunistas, de reivindicações e lutas por diretos das mulheres”. [9]

Não são essas as diferenças assinaladas na correspondência de Maria para Bertha, acerca do Congresso Feminista no Rio de Janeiro. Em carta de 3 de junho ela se desculpa pelo silêncio e conta ter estado muito doente, mas, uma vez recuperada, iria “colaborar para que S. Paulo possa apresentar uma prova real do trabalho operoso de suas mulheres”. Menciona em seguida ter consigo “uma amiga de ideal, a escritora Lila Escobar de Camargo”, uma possível militante. Trata-se aqui de uma referência significativa; autora de Caracteres femininos, de 1920, Camargo era ligada ainda à escritora Albertina Bertha, membro de organizações como a Associação da Mulher Brasileira, uma leitora de Nietzsche, conhecida por seus livros centrados em personagens femininos. Da mesma forma que Albertina, de quem Tristão de Athayde diria tender “a um delírio da individualidade”, Lila Escobar retratava, para o crítico, o “artifício requintado das cidades no interior das quais ganharia cada vez mais espaço a afirmação das individualidades femininas”. [10]

Qualquer que fosse a avaliação de Athayde, podemos entrever por essa descrição da escritora Lila Escobar, algo da identidade feminina de Prestia, suas afinidades, bem como de sua sociabilidade em um ambiente literário, intelectual, indo além dos círculos da assistência social nos quais iria se sobressair. Seu espaço na grande imprensa paulista foi conquistado como presidente da Federação Internacional Feminina, com representação na Praça da Sé, entidade que tinha como objetivo central a “assistência à mulher e à criança”. Prestia recebeu atenção nos jornais, no ano seguinte ao congresso feminista, durante a Revolução constitucionalista de 1932, quando não teria relegado o “soldado que na trincheira luta e morre por São Paulo”. A diretoria da Federação criou o Curso de Enfermagem, a Casa do Trabalho, a Casa da Criança e os “bilhetes para eles”. [11]. Logo no ano seguinte, finda a Revolução, é a Casa da Criança que recebe a atenção do Correio de São Paulo, que ouviu a presidente e a secretaria da Federação sobre o que consideraram “o testemunho inegável do espírito filantrópico da sociedade paulista”. Em suas declarações Maria Prestia assegurou que no amparo à infância, a federação, voltada à família paulista, as educaria “de acordo com os preceitos da pedagogia moderna, tendo paralelamente ao ensino a higiene que não faltará a esta casa. Além do ensino primário ministraremos o ensino religioso, o amor pelo trabalho, fazendo-as aprender desde o trabalho agrícola até o Industrial e tudo, afinal, que as torna capazes de engrandecer com o seu concurso a nossa amada pátria.” [12]

Esses enunciados jogam luz sobre o perfil político do movimento encabeçado pela FBPF, eminentemente sufragista, mas não só, que em análises mais tradicionais representaria, assim, uma primeira onda do feminismo no Brasil. A Federação operaria apartada das lutas sindicais, lutando exclusivamente pelo direito ao voto e pelos direitos civis,  não atendia a muitas trabalhadoras e intelectuais que não se reconheciam em Bertha e suas seguidoras. Não encontrava acolhida por exemplo junto às comunistas que iriam fundar a União Feminina do Brasil. O conflito de classes e as diferentes condições de vida das mulheres trabalhadoras não parecia ecoar nas preocupações e estratégias da Federação. Ainda hoje, diz Glaucia Fraccaro, procura-se “compreender como um movimento desse caráter pretendia lutar pelos direitos das mulheres sem alterar os direitos dos homens, atuando por dentro das instituições governamentais”. A explicação encontrada, não satisfatória para essa autora, varia entre tratá-las como um “feminismo difuso”, ou ainda como um “feminismo tático” [13].

Em 26 de junho, ainda no decorrer do II Congresso Internacional Feminista, Maria Prestia informa a Bertha Lutz que não poderia comparecer, enviando uma representante em seu lugar e recomenda destaque ao relatório que havia produzido. Mesmo que considerando o documento incompleto, ela pondera ter percorrido todas as repartições onde os diretores seriam favoráveis ao feminismo – “a semente que florescerá em breve”, acrescentando que “as moças funcionárias, dizem que são contra o feminismo pois elas pensam erradamente, não tem noção do verdadeiro feminismo”, sem que o defina, refletindo sobre o obstáculo representado por um “certo egoísmo entre as mulheres”. Conclui contando ter recebido “insistentes convites para visitar fábricas e instituições onde há interesses femininos. Por falta de tempo, só visitei algumas e mais tarde atendendo aos inúmeros pedidos irei trabalhando. Farei o que for possível. Aqui em S. Paulo a mulher já venceu naturalmente, ela ocupa lugares importantes, falta-lhes agora saber compreender sua missão de amparar e proteger” [14]

O ativismo de Prestia movia-se entre o apoio resoluto à “grande causa” e o que aparenta ser um distanciamento em relação aos “interesses femininos” que ela poderia encontrar nas fábricas, uma suposição da “vitória” das mulheres paulistas e de seu poder exercido em S. Paulo, “onde os homens são governados suavemente pelas mulheres”. A despeito dessas crenças, que em si já seriam portadoras de um juízo conservador sobre as mulheres, Prestia faz parte da história das lutas feministas, devendo-se lembrar que a Federação acabaria por endossar reivindicações que incluíam as trabalhadoras como a pauta da equiparação dos salários entre homens e mulheres. De seu retrato, alinhado aos cânones da fotografia de estúdio e de seus padrões femininos, a filha do imigrante italiano ressurge nas páginas da memória de Zelia Gattai, e figura, assim, contestadora e militante no que é também a sua experiência urbana:

“Berta Lutz, por essa época, conclamava as mulheres à luta pela emancipação feminina. Mamãe e Wanda haviam recebido uma visita de Maria Préstia, filha mais velha de uma família italiana numerosa, habitante antiga do bairro, convidando-as a tomar parte em manifestação feminista. Maria Préstia era exaltada discípula de Berta Lutz, mas parece que não conseguiu nada lá em casa”. [15]

 

[1] Almanak Laemmert : Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ) – 1891 a 1940. Ano 1931, vol. II, p. 664.
Disponível em

http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=313394&pesq=skarke&pagfis=36563

[2] KOSSOY, Boris. Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: IMS, 2002, p.296

[3] Retrato de Maria Prestia. Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Arquivo Nacional. BR_RJANRIO_Q0_ADM_CPA_VFE_FOT_0024_d0001de0001.

[4] MAUAD, Ana Maria. Imagem e autoimagem do Segundo Reinado. In: ALENCASTRO, Luiz Felipe de (Org). História da vida privada no Brasil: Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 194.

[5] GUNNING, Tom. O retrato do corpo humano: a fotografia, os detetives e os primórdios do cinema. In: CHARNEY, Leo, SCHWARTZ, Vanessa R. (Orgs.). O cinema e a invenção da vida moderna. São Paulo: Cosac & Naify, 2001

[6] Instala-se hoje o segundo congresso internacional Feminista. Diário de Notícias. 20/6/31. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=093718_01&pasta=ano%20193&pesq=%22Congresso%20Internacional%20Feminista%22&pagfis=5890

[7] Correspondência entre a FBPF e Maria Prestia. Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Arquivo Nacional. Rio de Janeiro, 18 de abril de 1931. OOAdm Cor A931.54, p.138.

[8] Correspondência entre a FBPF e Maria Prestia. Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Arquivo Nacional. Rio de Janeiro, 27 de agosto de 1931. OOAdm Cor A931.54, p.186

[9] LOPES, Maria Margaret. Proeminência na mídia, reputação em ciências: a construção de uma feminista paradigmática e cientista normal no Museu Nacional do Rio de Janeiro. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.15, supl., p.73-95, jun. 2008. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/hcsm/v15s0/04.pdf

[10] TOLENTINO, Thiago Lenine Tito. Do ceticismo aos extremos: cultura intelectual brasileira nos escritos de Tristão de Athayde (1916-1928). Tese (doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 2016, p. 221. Disponível em https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/BUOS-AQ8PMU

[11] Na Federação Internacional Feminina foram inscritas as primeiras madrinhas dos órfãos da revolução constitucionalista. Diário Nacional – 17/8/1932. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=213829&pesq=Federa%C3%A7%C3%A3o%20Feminina%20Internacional&pagfis=15759

[12] Uma agradável visita à Casa da Criança. Correio de São Paulo. 8/6/1933. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=720216&Pesq=Federa%c3%a7%c3%a3o%20Feminina%20Internacional&pagfis=1773

[13] FRACCARO, Glaucia Cristina Candian. Uma história social do feminismo – Diálogos de um campo político brasileiro (1917-1937). Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 31, nº 63, p. 7-26, janeiro-abril 2018, p. 10. Disponível em http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/71642

[14] Carta de Maria Prestia a Bertha Lutz. São Paulo, 26 de junho de 1931. Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Arquivo Nacional. BR_RJANRIO_Q0_ADM_COR_A931_0086_d0001de0001, p. 4.

[15] GATTAI, Zelia. Anarquistas, graças a Deus. Ed. Record, 1979, p. 245.

 

*Claudia Beatriz Heynemann é Doutora em História | Pesquisadora do Arquivo Nacional

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

Cartões de visita – cartes de visite

André Adolphe-Eugène Disdéri. Autorretrato, c. 1860. Paris, França. Acervo da Reunion des Musées Nationaux.

A troca de cartes de visite – cartões de visita fotográficos – foi um dos grandes modismos da segunda metade do século XIX e deu origem a outro modismo: os álbuns de fotografia. E foi a febre do retrato fotográfico, por sua vez, que solidificou a fotografia no Brasil e no mundo. Os cartes de visite eram trocados entre amigos,familiares e colecionadores, que com eles se confraternizavam. Conferiam ao fotografado um certo status social e, muitas vezes, continham dedicatórias e eram datados. A fotografia tornava-se, assim, parte da vida do homem moderno.

“Os cartes de visite, como todos sabem, tornaram-se a moeda social, os dólares da civilização”. A frase do escritor norte-americano Oliver Wendell Holmes (1809-1894) foi escrita, em 1863, e evidencia a popularidade desse formato de fotografia em todo o mundo.

André Adolphe-Eugène Disdéri (1819-1889), em 27 de novembro de 1854, patenteou sua invenção com o nome de carte de visite: uma câmara fotográfica com quatro lentes para obter oito retratos em apenas uma chapa de vidro; as primeiras 4 fotos eram expostas, a chapa se deslocava e permitia a exposição das outras 4 fotos.

Os cartes de visite apresentavam uma fotografia de cerca de 9,5 x 6 cm montada sobre um cartão rígido de cerca de 10 x 6,5 cm. A copiagem era feita geralmente com a técnica de impressão em albumina. O invento permitiu a produção em massa de fotografias.

O apogeu da popularidade dos cartes de visite começou, em 1859, quando, no dia em que partia para a Itália, em 10 de maio, Napoleão III parou no estúdio de Disdéri, em Paris, para ser retratado. No dia seguinte, já havia filas na porta do ateliê fotográfico. O entusiasmo em torno desses retratos era enorme e o sucesso do luxuoso ateliê de Disdéri, reputado, na década de 1860, como o fotógrafo mais rico do mundo, foi descrito por um viajante alemão como o verdadeiro templo da fotografia. Ainda, segundo esse relato, Disdéri vendia “todos os dias de 3 a 4.000 francos de retratos e empregava 90 pessoas que realizavam mais de duas mil fotografias por dia”.

Câmara de múltiplas objetivas introduzida por Disdéri para a produção de fotografias no formato carte de visite. Fonte: Imaging Resource

Em Nova York, os cartes de visite começaram a circular, provavelmente, no verão de 1859, introduzidos pelo fotógrafo Charles DeForest Fredricks (1823-1894). A Guerra Civil norte-americana (1861 – 1865) deu grande impulso aos cartes de visite – os soldados e suas família se faziam retratar antes de serem separados pelo conflito. Na Inglaterra, a venda de cartes de visite era muit0 grande e a própria Rainha Vitória (1819 – 1901) formou mais de 100 álbums de retratos de membros da família real e de pessoas socialmente importantes.

O declínio do formato carte de visite aconteceu a partir da década de 1870, quando começou a ser suplantado pelo cartão cabinet (gabinete), que surgiu na Inglaterra, em 1866. Era um pouco maior: apresentava fotografias de cerca de 9,5 x 14cm montadas sobre cartões rígidos de cerca de 11 x 16,5 cm.

No Brasil, um panorama sobre a expansão do retrato de estúdio pode ser obtido através do Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro, de Boris Kossoy, e editado pelo Instituto Moreira Salles, em 2002. Segundo o autor:

“Foram investigados a modesta expansão da atividade no período da daguerreotipia (entre 1840 e 1858,  aproximadamente) e o caráter itinerante dos pioneiros, estrangeiros na sua grande maioria, que para este lado do mundo se aventuravam em razão, inclusive, da forte concorrência em seus países de origem  e que, após reunir algum pecúlio, embarcavam de volta. Foi demonstrado também o progressivo desenvolvimento da atividade a partir da década de 1860 em virtude , por um lado, da introdução de novos processos e de técnicas fotográficas baseadas no princípio do negativo-positivo, que, barateando os custos de produção do retrato fotográfico, o tornaria acessível a um público maior. Por outro lado, assiste-se a um progresso econômico: multiplicam-se as ligações ferroviárias, a imigração européia é incentivada, transformam-se as feições dos mais importantes centros urbanos, há, enfim, um efetivo crescimento de uma classe média nas maiores cidades, particularmente no Rio de Janeiro, sede da Corte e, mais tarde, da República. A clientela, nesta altura, já teria um perfil diferente daquele dos primeiros tempos da daguerreotipia, quando o retratado era, via de regra, um representante da elite agrária ou da nobreza oficial.

Nas últimas décadas do século avolumava-se o número de estabelecimentos fotográficos em virtude da nova clientela constituída de comerciantes urbanos, professores, profissionais liberais, funcionários da administração, entre outros elementos de uma classe que almejava ter sua imagem perpetuada pela fotografia”(pg.11-12).

Importante contribuição para o desenvolvimento da fotografia brasileira no século XIX, o título de Photographo da Casa Imperial, foi agraciado por dom Pedro II a diversos fotógrafos, muitos deles de estúdios fotográficos de renome no período como Buvelot & Prat, Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912), Stahl & Wahnschaffe, José Ferreira Guimarães e  Henschel & Benque.

 

Acessando o link para as fotografias de cartes de visite disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

KOSSOY. Boris. Fotografia & História. 2. ed. rev. – São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.

MAUAD, Ana Maria. Através das Imagens: Fotografia e História InterfacesTempo, Rio de Janeiro, vol. 1, nº 2, 1996.

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

Site da Enciclopédia Itaú Cultural

Site do The American Museum of Photography

 

Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) e sua obra-prima, o “Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887″

Militão Augusto de Azevedo. Álbum Comparativo da Cidade de São Paulo, 1887. São Paulo

Militão Augusto de Azevedo. Álbum Comparativo da Cidade de São Paulo, 1887. São Paulo / Acervo IMS

…como Verdi despedindo-se da música escreveu o seu “Otello”, eu quis despedir-me da photografia fazendo o meu. É um álbum comparativo de São Paulo de 1862 e 1887. Parece-me um trabalho útil e talvez o único que se tem feito em photografia pois ninguém tem tido a pachorra de guardar clichês de 25 anos. Tenho trabalhado muito e creio que nada farei. Conheces o meu gênio: não sirvo para pedir.

Foi assim, com um tom quase poético, que revela sua alma de artista, que o fotógrafo carioca Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905), numa carta a um amigo chamado Portilho, referiu-se, em 1º de junho de 1887, ao seu  Álbum Comparativo.

Um dos mais importantes fotógrafos brasileiros do século XIX, Militão foi um dos precursores da documentação da cidade de São Paulo. O Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887, sua obra-prima, foi o primeiro realizado com o objetivo de mostrar as mudanças ocorridas na capital paulista, devido ao progresso. O álbum evidencia o valor que Militão dava à fotografia como documento de época inserido em projeto artístico que sugere um passeio pela cidade no período de 1862 a 1887. O trabalho do fotógrafo muito contribuiu para a formação da imagem moderna de São Paulo.

A obra é formada por 60 fotografias – tomadas parciais de ruas, largos e prédios públicos e algumas vistas panorâmicas, todas coladas sobre cartão impresso. Dezoito delas são pares comparativos que criam uma atmosfera do antes e do depois. Feitas a partir de tomadas simples, que privilegiam a cidade construída, as fotos foram produzidas utilizando-se o processo negativo do colódio úmido. Sobre a técnica e as características das fotografias de Militão, Sergio Burgi, Coordenador de Fotografia do Instituto Moreira Salles e um dos curadores do portal Brasiliana Fotográfica, escreveu o artigo Composição em preto-e-branco. Os panoramas de 360º de Militão Augusto de Azevedo (in São Paulo 450 Anos. Caderno de Fotografia Brasileira, volume 2, do Instituto Moreira Salles).

Acessando o link para as fotografias de Militão Augusto de Azevedo disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Militão mostrou com suas fotografias uma grande mudança na paisagem paulistana no período em que São Paulo foi palco de grandes transformações ocasionadas por intensa expansão urbana. Capital da província, a cidade abrigava a Faculdade de Direito, que atraia jovens de todo o Brasil, o que criou novas demandas como a realização de eventos culturais e a inauguração de teatros como o São José, em 1864. Bairros, ruas e avenidas surgiam no lugar de chácaras e sítios. A cidade crescia e com isso foram inaugurados os hotéis Itália, Europa e Globo, além de confeitarias e casas comerciais. O primeiro mercado de São Paulo, conhecido como Mercado dos Caipiras, foi criado em 1867 . Houve também a multiplicação de estradas de ferro, a expansão cafeeira e a imigração europeia. Na imprensa, o Correio Paulistano consolidava-se e Ângelo Agostini (1843 – 1910) fundava os jornais humorísticos Diabo Coxo (1864) e O Cabrião (1866). A população da cidade em 1883 era de 35 mil pessoas e, em 1887, chegou a cerca de 47 mil. De cidade provinciana, São Paulo passou a ser a metrópole do café.

Provavelmente, foi em uma viagem à Europa, em 1886, que Militão percebeu a viabilidade comercial da venda, no mercado brasileiro, de fotografias de aspectos da cidade. Como havia preservado os negativos produzidos em 1862, decidiu fazer o Álbum Comparativo. Numa carta de 21 de janeiro de 1887 ao amigo Anatole Louis Garraux (1833 – 1904), na ocasião já residente na França e que havia sido proprietário da popular Livraria Garraux durante anos estabelecida em São Paulo, Militão escreveu: Rogo-lhe o obséquio de me remeter o mais depressa possível a encomenda constante da nota junta; estou fazendo um trabalho, que julgo ser muito importante e talvez pouco rendoso. É um álbum comparativo de São Paulo antigo e moderno. Tenho os clichês de 1862 e estou fazendo os comparativos atuais.

O álbum demorou a ficar pronto e sobre isto um Militão desapontado escreveu ao ator e amigo Jacinto Heller, em 25 de julho de 1887: eu ainda estou com o maldito álbum que, se nesses quinze dias ficar pronto, devo estar aí em setembro. No dia 11 de agosto de 1887, no jornal A Província de São Paulo, primeiro nome do atual O Estado de São Paulo,  o álbum era anunciado acompanhado do artigo A Velha e a Nova Cidade de São Paulo:

Vimos um álbum comparativo da cidade de S. Paulo em 1862 e 1887, trabalho da PHOTOGRAPHIA  AMERICANA, do sr. Militão, nesta capital. Aí figuram bairros, ruas, praças, jardins e edifícios com a sua cor local de 1862 e depois com a de 1887. É o progresso de São Paulo fotografado. O interessante trabalho do sr. Militão, que é por sua vez atestado do progresso de sua arte, traz-nos as recordações de outros tempos, da simplicidade dos costumes, do pouco luxo das edificações, mas também da falta de comodidade e de atividade industrial da velha cidade. O confronto é agradável e útil comparado com as estatísticas, o álbum de vistas fotográficas do sr. Militão tem um grande valor para se verificar o progresso da província, medido pela transformação da capital nos últimos 25 anos. O Álbum que temos entre as mãos não é somente um entretenimento para os que desejam passar alguns minutos e ver as alterações da cidade em suas velhas construções e esburacadas e mal calçadas ruas e praças; é mais que isso: tem o mérito de proporcionar a todos nós, os homens de hoje,um estudo real da cidade de São Paulo. Para nós, o trabalho do sr. Militão vale mais como fonte de estudo para a formação de uma opinião favorável ao engrandecimento da província do que como obra de arte. Não quer isto dizer que o trabalho artístico  não tenha mérito e que, apreciado por essa face, não seja melhor julgado por outros. E, de fato, o tem. Aplaudimos a obra o laborioso e inteligente artista que de tal forma concorre para a verificação do progresso da capital da província. Em nosso escritório acha-se uma lista para aquelas pessoas que desejarem assinar o Álbum‘.

Apesar de sua importância histórica, o álbum foi um fracasso comercial e poucos foram comercializados. Sobre isto Militão escreveu a Garraux, em 7 de dezembro de 1887: Muito pouco se vende e é preciso pedir pelo amor de Deus aos fregueses e ainda para eles pagarem quando quiserem. Isto está futricado, como o amigo sabe tão bem quanto eu.

Como o álbum não era assinado, Militão caiu no esquecimento, mas suas fotos foram ficando famosas ao longo do século XX devido à publicação de álbuns e livros ilustrados por elas, porém sem crédito ao autor. Muitos dos quadros pintados pelo importante artista plástico Benedito Calixto (1853-1927) para a comemoração do Centenário da Independência, em 1922, foram baseados em fotos de Militão. As pinturas foram encomendadas por Afonso d´Escragnolle Taunay (1876 – 1958), na época diretor do Museu Paulista. Na década de 1930, o fotógrafo Benedito Junqueira Duarte (1910 – 1995), na ocasião responsável pela Seção de Iconografia do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, e o historiador Nuto Santana (1889 – 1975) organizaram, catalogaram e identificaram os negativos de vidro de Militão, que haviam sido reproduzidos, em 1914, pelo fotógrafo Aurélio Becherini (1879-1939).

Em 1946, foi publicado na Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o ensaio de Gilberto Ferrez A fotografia no Brasil e um dos seus mais dedicados servidores: Marc Ferrez (1843-1923). No artigo, considerado um marco na história da fotografia no Brasil, o autor destacou a obra de Militão. Na década de 1950, na ocasião da comemoração do IV Centenário da cidade de São Paulo, foi editada uma série de cartões-postais com fotos do Álbum Comparativo sem crédito para  Militão. Também sem indicação de autoria, em 1953, foram publicadas dezenas de fotografias de Militão numa série de três livros São Paulo Antigo – São Paulo Moderno, da editora Melhoramentos.

Foi no início da década de 70, quando a professora Ilka Brunhilde Laurito (1925 – 2012) identificou um álbum com as vistas e outro com cartes de visite levadas por uma tetraneta de Militão para o colégio, que a obra do fotógrafo renasceu. Ilka Brunhilde Laurito escreveu então um artigo para o Suplemento Literário do jornal O Estado de São Paulo, de 31 de dezembro de 1972, intitulado O século XIX na fotografia de Militão, e chamou a atenção de historiadores e pesquisadores.

Em 1973, Pietro Maria Bardi (1900 – 1999) e Boris Kossoy (1941 -) organizaram no Museu de Arte de São Paulo, a 1ª Exposição da Fotografia Brasileira. Foi então mostrada uma série de retratos e imagens do álbum. Dois anos depois, o Museu da Imagem e do Som de São Paulo publicou o catálogo da exposição Memória Paulistana, organizada por Rudá de Andrade (1930 – 2009), destacando a obra de Militão. Em 1976, o trabalho do fotógrafo internacionalizou-se quando imagens de seus retratos e do Álbum Comparativo foram incluídas na exposição e no livro Pioneer Photographers of Brazil, realizados no Inter-American Relations, em Nova York. Em 1978, Boris Kossoy escreveu sua tese de mestrado sobre o fotógrafo, Militão Augusto de Azevedo e a documentação fotográfica de São Paulo (1862-1887); recuperação da cena paulistana através da fotografia. Em 1981, um bisneto de Militão, Ruy Brandão Azevedo, coordenou a mostra Fotografia: Arte e Uso, no Museu de Arte de São Paulo, com cópias do Álbum comparativo restauradas por João Sócrates de Oliveira. No mesmo ano, foi lançado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo o Álbum comparativo da cidade de São Paulo: 1862-1887: Militão Augusto de Azevedo, de Benedito Lima de Toledo, Boris Kossoy e Carlos Lemos.

A obra de Militão, além de fotografias de aspectos urbanos e do interior, inclui também com um grande número de retratos para a produção de cartes de visite tanto de anônimos como de pessoas importantes na história do Brasil, como, por exemplo, Joaquim Nabuco (1849 – 1910), Castro Alves (1847 – 1871) e Ruy Barbosa (1849 – 1923). Foram 12.500 mil pessoas retratadas, entre 1876 e 1886, cerca de um terço da população de São Paulo na época. Esses retratos formam um verdadeiro compêndio visual de documentação de todo o arco da sociedade paulistana e brasileira da época. Militão também realizou os álbuns de vistas de São Paulo(1862), de Santos (1864-65) e da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí (1868).  Além disso, preservou um Livro Copiador de Cartas enviadas por ele entre 1883 e 1902, com mais de 400 páginas de cópias de cartas pessoais e profissionais, recibos, cobranças, balanços e notas sobre a importação de material fotográfico.

O trabalho de Militão Augusto de Azevedo é precioso para o estudo da sociedade e da cidade de São Paulo no século XIX, uma referência para historiadores, fotógrafos e estudiosos.

 

 Cronologia de Militão Augusto de Azevedo

 

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Militão Augusto de Azevedo fotografado por A. Liébert. Photographie Americaine / Acervo IMS

1837 – Em 18 de junho, nascimento de Militão Augusto de Azevedo, no Rio de Janeiro, filho de Antonio Ignácio de Azevedo e Lauriana Augusto de Azevedo.

1858 – 1860 – No Rio de Janeiro, Militão trabalhou como cantor lírico e também como ator na Companhia Teatral Joaquim Heliodoro e na  companhia do Gymnasio, denominada Sociedade Dramática Nacional, sob a direção de Joaquim Augusto Ribeiro de Souza (Entreacto, 15 de setembro de 1860)..

Na Ópera Nacional, realização de um espetáculo em seu benefício (Correio da Tarde, de 3 de setembro de 1858, terceira coluna).

Foram encenadas peças em seu benefício (Correio Mercantil, 10 de outubro de 1859, terceira coluna).

Morava na rua das Mangueiras, 49 (Almanak Administrativo, Mercantil e Comercial do Rio de Janeiro, 1861).

1862 - Em 21 de junho,  nascimento de Luiz Gonzaga de Azevedo, seu filho com a atriz Benedita Maria dos Santos Pedroso, com quem vivia.

Participou da reunião que decidiu criar o Monte-Pio dos Artistas Dramáticos (Diário do Rio de Janeiro, 11 de agosto de 1862, quinta coluna).

Foi com a família para São Paulo como ator da Sociedade Dramática Nacional  para participar da estreia da peça Luxo e vaidade, de Joaquim Manoel de Macedo, que aconteceu em 29 de novembro (Correio Paulistano, 28 de novembro de 1862).

Militão produziu cerca de 90 fotografias de São Paulo. Segundo Afonso d´Escragnolle Taunay (1876 – 1958), no livro Velho São Paulo (1954), até 1860, data que nos aparece a providencial série de fotografias, aliás, ótimas de Militão de Augusto de Azevedo, os arrolamentos de peças de iconografia paulistana mantêm-se insignificantes. Realiza o Álbum de vistas de São Paulo 1862, com trinta dessas fotos. Muitas serão utilizadas no trabalho que publicaria em 1887, o Álbum Comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887.  Inicia seu trabalho como fotógrafo por volta deste ano, ou no ano seguinte, com Joaquim Feliciano Alves Carneiro e Gaspar Antonio da Silva Guimarães, proprietários do estúdio Carneiro & Gaspar, cuja matriz localizava-se no Rio de Janeiro, na rua Gonçalves Dias, 60. Em São Paulo, o estabelecimento ficava na rua do Rosário, 38. Depois o estúdio transferiu-se para a rua da Imperatriz, 58.

1863 – Em 26 de agosto realizou-se o espetáculo Recordações da Mocidade, em benefício de Militão (Correio Paulistano, 26 de agosto de 1863, terceira coluna).

Publicação do anúncio do Álbum de vistas de São Paulo 1862, destinado sobretudo aos estudantes de Direito que terão assim uma recordação agradável da cidade onde passarão talvez a melhor época da vida (Correio Paulistano, 22 de outubro de 1863, última coluna).

1864 a 1885 – Realizou dois álbuns importantes de vistas: o Álbum de Santos e o Álbum da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí.

Militão catalogou cerca de 12.500 retratos.

1868 – Militão, que trabalhava na Photographia Academica de Carneiro & Gaspar, desde 1866 como sócio gerente (Diário de São Paulo, 19 de agosto de 1866, primeira coluna), foi para o Rio de Janeiro estudar novos processos fotográficos, dentre eles o de fotografia sobre porcelana, ainda não conhecido no Brasil senão em duas casas do Rio de (O Ypiranga, de 19 de fevereiro de 1868).

 

 

1870 – Nascimento de seu primeiro filho, Francisco de Paula Azevedo, com sua nova companheira Maria Affonso das Dores.

Participou de uma reunião promovida para instalar-se uma associação dramática particular. Foi escolhido para ser seu ensaiador e também para elaborar seu regulamento interno (Correio Paulistano, 27 de março de 1870, primeira coluna).

1871 - Nascimento de seu segundo filho com Maria Affonso das Dores, Francisco Militão Affonso de Azevedo.

1872 – Militão ficou viúvo e sua mãe, Lauriana Augusta de Azevedo, passou a se encarregar da criação de seus filhos.

1875 – Participou da IV Exposição Nacional com uma coleção de vistas de São Paulo.

Com a morte do português Gaspar Antonio da Silva Guimarães (18? – 1875) e com a venda da parte de Joaquim Feliciano Alves Carneiro (18? – 188?), Militão, que era sócio-gerente da Photographia Academica, tornou-se seu proprietário (Correio Paulistano, 28 de novembro de 1875, segunda coluna).

 

 

Rebatizou o estúdio com o nome de Photographia Americana. Uma curiosidade: no período de transição, nas cartes de visite do estabelecimento, o fotógrafo improvisou, apagando o antigo nome e o endereço no Rio de Janeiro e carimbando a nova denominação.

1878 – Viajou para a Europa no paquete francês Hoogly para estudar os aperfeiçoamentos da arte fotográfica (O Cruzeiro, 1º de maio de 1878, última coluna). A fotografia de Militão que ilustra esta cronologia foi tirada durante essa viagem por Alphonse J. Liébert (1827 – 1913), no estúdio Photographie Americaine, em Paris, e enviada de presente a sua mãe. Retroenou em setembo, no paquete francês Congo (O Cruzeiro, 15 de setembro de 1878, penúltima coluna).

A Photographia Americana ficou sob a responsabilidade do fotógrafo e pintor retratista Caetano Ligi, que trabalhava no estúdio.

1879 – Foi eleito diretor do mês do Club Euterpe Comercial (Jornal da Tarde, 11 de março de 1879, segunda coluna).

1881 Enviou para o Correio Paulistano uma vista fotográfica, cópia da do edifício da exposição brasileira-alemã em Porto Alegre (Correio Paulistano, 18 de setembro de 1881, quarta coluna).

1883 – Ele, Alberto Henschel e Carlos Hoenen estavam na lista de fotógrafos da Província de São Paulo (Almanak Administrativo, Mercantil e Comercial do Rio de Janeiro, 1883).

1885 – Em 7 de agosto, falecimento de sua mãe, Lauriana Augusta de Azevedo (Correio Paulistano, 8 de agosto de 1885, quarta coluna).

Enviou ao Correio Paulistano uma fotografia tirada de um curioso trabalho litográfico representando o retrato do poeta francês Victor Hugo (1802 – 1885) executado pelo belga M.Gaillard (Correio Paulistano, 20 de dezembro de 1885, última coluna).

 

 

 

Em 31 de dezembro, Militão encaminhou um ofício às autoridades municipais informando sobre o fim da Photographia Americana.

1886 – Militão tentou passar adiante a Photographia Americana, mas não conseguiu. Reformou e alugou a casa e vendeu aos poucos o equipamento fotográfico. Sobre isso, escreveu a seu amigo, o ator Jacinto Heller, em 5 de abril: Como deve saber estou hoje vagabundo. Liquidei mal e porcamente a fotografia, fazendo leilão no qual só vendi os trastes (vendi é um modo de dizer porque quase os dei) ficando com tudo de fotografia porque os colegas estão como eu.

1887 –  Teve a a ideia de montar um álbum de vistas de São Paulo de 1862 e 1887. Retornou então aos mesmos lugares das fotos que havia tirado em 1862 e produziu uma nova série de fotografias.

No jornal A Província de São Paulo, do dia 11 de agosto, foi anunciada a obra-prima de Militão: o Álbum Comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887 acompanhado do artigo A Velha e a Nova Cidade de São Paulo. Com sessenta fotografias, 18 pares comparativos e 24 vistas isoladas, foram postos à venda a 50 mil réis por exemplar – até o dia 31 de agosto: depois custariam 70 mil réis.

1888 - Abandonou definitivamente a fotografia.

1889 - Viajou à Europa. Entre este ano e 1905, voltou a viver no Rio de Janeiro, mas em algum momento retornou a São Paulo, possivelmente em 1902, onde viveu com seu filho Luiz Gonzaga, um bem sucedido advogado.

1892 – Viajou aos Estados Unidos.

1900 – Viajou à Europa.

1905 – Falecimento de Militão de Augusto de Azevedo, em São Paulo, no dia 24 de maio (Correio Paulistano, 30 de maio de 1905, penúltima coluna).

 

 

A Brasiliana Fotográfica destaca instituições detentoras de importantes acervos da obra de Militão Augusto de Azevedo: a Biblioteca Mário de Andrade, a Casa da Imagem, o Museu Paulista e o Instituto Moreira Salles.

 

Contribuiu para esta pesquisa Virginia Albertini (IMS).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Leia também A cidade de Santos de Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905), publicada na Brasiliana Fotográfica em 26 de janeiro de 2018.

 

Fontes:

CALDATTTO BARBOSA, Gino; MEDEIROS, de CARVALHO FONTENELLE de, Marjorie; FERRAZ de LIMA, Solange; CARNEIRO de CARVALHO, Vania. Santos e seus arrabaldes: Álbum de Militão Augusto de Azevedo; organização de Gino Caldatto Barbosa, Marjorie de Carvalho Fontenelle de Medeiros, Solange Ferraz de Lima, Vânia Carneiro de Carvalho. São Paulo: Magma Cultural e Editora, 2004. 167 p., il. ISBN 85-98230-02-2.

DEAECTO, Marisa Midori. Anatole Louis Garraux e o comércio de livros franceses em São Paulo (1860-1890). Revista Brasileira de História, vol. 28, núm. 55, janeiro-junho, 2008, pp. 85-106 Associação Nacional de História São Paulo, Brasil.

FERNANDES JUNIOR, Rubens; BARBUY, Heloisa; FREHSE, Fraya. Militão Augusto de Azevedo. São Paulo: Cosac Naify, 2012. 220pp.,ils ISBN 978-85-405-0235-2

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil(1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. ISBN 85-86707-07-4

KOSSOY, Boris. Militão Augusto de Azevedo e a documentação fotográfica de São Paulo (1862-1887): a recuperação da cena paulistana através da fotografia. Direção de Antonio Rubbo Müller. São Paulo: [s.n.], 1978. 121 p., il.

LAGO, Pedro Correa do. Militão Augusto de Azevedo: São Paulo nos anos 1860. Dedicatória de Rubens Fernandes Junior. Rio de Janeiro: Capivara, 2001. v. 2. 263 p., il. (Coleção Visões do Brasil; v. 2). ISBN 8586011479.

LAURITO, Ilka Brunhilde; LEMOS, Carlos A.C.; RODRIGUES, Eduardo de Jesus; MACHADO, Lucio Gomes. São Paulo em Três Tempos – Álbum Comparativo da cidade de São Paulo(1862-1887-1914). Casa Civil / Imprensa Oficial do Estado S.A./ Secretaria da Cultura / Arquivo do Estado. São Paulo, 1982.

MAGOSSI, Eduardo; LUQUET, Mara. São Paulo relembrada: Militão, um novo álbum comparativo: 1862-1887 e 2003. São Paulo: JCN, 2003. 147 p., il. ISBN 8585985143.

TOLEDO, Benedito Lima de; KOSSOY, Boris; LEMOS, Carlos. Álbum comparativo da cidade de São Paulo – 1862-1887: Militão Augusto de Azevedo. São Paulo: Secretaria de Cultura, 1981. 53 p.

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