O Rei Momo por Jean Manzon e por outros fotógrafos dos Diários Associados

Neste artigo a Brasiliana Fotográfica vai contar um pouco da história do Rei Momo do carnaval carioca a partir de uma imagem produzida pelo importante fotógrafo francês Jean Manzon (1915 – 1990), responsável pela renovação do fotojornalismo brasileiro na década de 1940. A foto destacada foi publicada no Diário da Noite, de 31 de dezembro de 1948, na ocasião do falecimento do primeiro Rei Momo, Francisco de Moraes Cardoso (1893 – 1948). No registro, de 28 de fevereiro de 1946, ele está na coroação realizada, no Teatro João Caetano, da vedete Mara Rubia (1918 – 1991), eleita dias antes Rainha do Baile do Carnaval das Atrizes de 1946 (Diário da Noite, 21 de fevereiro de 1946, sétima coluna). Vamos também traçar um pequeno perfil de Manzon. Foi em 3 de fevereiro de 1934 que o carnaval carioca foi aberto pela primeira vez por um Rei Momo de carne e osso.

 

 

 

momo

 

 

Os Diários Associados e a importância da preservação de um arquivo fotográfico de imprensa

 

Pela terceira vez uma imagem dos Diários Associados – Rio de Janeiro -, que foi incorporado, em 2016, ao acervo fotográfico de uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica, o Instituto Moreira Salles (IMS), é o destaque de uma publicação do portal. Esse conjunto de fotos dos Diários Associados, que já foram o maior conglomerado de mídia do Brasil, possui cerca de 700 mil fotografias e 300 mil negativos com imagens produzidas para O Jornal, primeiro órgão dos Diários, comprado por Assis Chateaubriand (1892 – 1968), em 1924; para o Diário da Noite, fundado por ele, em 1929; e para o Jornal do Commercio, fundado, em 1827, e adquirido pelo grupo em 1959.

Mais uma vez destacamos a relevância da preservação de um arquivo fotográfico de imprensa mesmo que as imagens estejam disponíveis em plataformas como a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, uma das mais importantes fontes de pesquisa do portal. Com a preservação, as fotografias podem, a partir de recursos tecnológicos, como a digitalização e o zoom, terem outra visibilidade e serem acessadas em sua qualidade plena.

 

Acessando o link para as fotografias do Rei Momo publicados em jornais cariocas dos Diários Associados e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Pequeno perfil de Jean Manzon (1915 – 1990)

 

O fotógrafo e cineasta Jean Manzon nasceu em Paris, em 2 de fevereiro de 1915. Começou sua carreira, aos 16 anos, no jornal L´Intransigeant. Depois trabalhou nas revistas ilustradas Vu e Match e no vespertino Paris Soir. Também trabalhou para o serviço cinematográfico da Marinha Francesa durante a Segunda Guerra Mundial. Veio para o Brasil, em agosto de 1940, e fixou-se no Rio de Janeiro.

Nos primeiros anos da década de 1940, foi o encarregado pela organização do Setor de Fotografia do Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo do presidente Getulio Vargas (1882 – 1954). Manzon tinha a função de produzir material para a divulgação da imagem do Brasil no país e no exterior. Editou pela Força Expedicionária Brasileira a revista Brasil na Guerra.

Atuou em diversas publicações dos Diários Associados, principalmente na revista O Cruzeiro, onde começou a trabalhar em 1943, a convite de Frederico Chateubriand (O Cruzeiro, 10 de julho de 1943), onde permanceu até 1951. Neste período produziu mais de 300 fotorreportagens cujos temas a professora e arquiteta Helouise Costa separou em quatro tópicos: política, personalidades, religião e realidade brasileira. Justamente nas décadas de 40 e 50 as matérias da revista tiveram um forte impacto na formação do imaginário brasileiro abordando, muitas vezes, pela primeira vez, alguns assuntos. Formou com David Nasser (1917 – 1980) uma das duplas mais importantes do jornalismo brasileiro. Juntos percorreram o Brasil de norte a sul e é deles, por exemplo, a matéria Enfrentando os chavantes, reportagem pioneira sobre índios brasileiros (O Cruzeiro, 24 de junho de 1944).

Manzon foi o responsável pela renovação do fotojornalismo no Brasil, implantando em O Cruzeiro, a partir de sua experiência europeia, uma linguagem fotográfica que usava ângulos de baixo para cima e vice-versa, tomadas oblíquas, enfatizando detalhes expressivos e utilizando intencionalmente a cenografia, onde a imagem era meticulosamente arquitetada pelo fotógrafo que, desta forma, construia a imagem. Introduzia assim a fotorreportagem, onde a foto não se limitava a ilustrar o texto, mas transmitia um ponto de vista especificamente visual sobre os fatos e resultava, com o texto, uma narrativa estruturada.

Manzon formou em O Cruzeiro uma equipe de fotógrafos que tornou-se pioneira do fotojornalismo moderno no país. Alguns deles foram Luciano Carneiro (1926 – 1959),  José Medeiros (1921- 1990) e Peter Scheier (1908 – 1979).

Na década de 1950, passou a colaborar com a revista Paris Match. Colaborou também com o jornal Última Hora e com a revista Manchete, em cuja capa do primeiro exemplar, de 26 de agosto de 1952, há uma chamada para Uma grande reportagem de Jean Manzon, intitulada Nem tudo é sombra e água fresca, também se trabalha na Câmara dos Deputados.

Ainda nos anos 50, fundou a empresa cinematográfica Jean Manzon Produções, que realizou mais de 900 documentários. Um deles, L´Amazone, foi premiado com o Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza, Itália, em 1966. Retornou a Paris e, entre 1968 e 1972, assumiu a direção da Paris Match. É de sua autoria os livros Flagrantes do Brasil (1950) e Mergulho na Aventura (1950), este último em parceria com David Nasser; Brasil (1952) e Féerie Brésilienne (1957), entre outros.

Ele se orgulhava de ser o maior propagandista brasileiro no exterior e acusado, muitas vezes, de não mostrar a realidade do Brasil em seus documentários, declarou, em entrevista no artigo de Sérgio Gomes, Profissão otimista, publicado na Folha de São Paulo de 17 de novembro de 1977:

Folha de São Paulo, 17 de novembro de 1977

Folha de São Paulo, 17 de novembro de 1977

Segundo o poeta Manuel Bandeira (1886 – 1968), na apresentação da segunda edição de Flagrantes do Brasil, a obra de Manzon seria como um retrato de “nossa terra, nossos homens e nossos costumes”. Seu acervo é um dos maiores patrimônios cinematográficos de preservação da história e da memória no Brasil e em toda América Latina produzido por um só artista.

Em junho de 1990, em São Paulo, recebeu a Cruz de Oficial da Legião de Honra da França. Jean Manzon faleceu em Reguengos de Monsaraz, em Portugal, em 1º de julho de 1990, devido a um traumatismo craniano ocasionado por uma queda de uma escada (Jornal do Brasil, 5 de junho de 1990; e 3 de julho de 1990).

 

Um pouco da história do Rei Momo I e Único do carnaval carioca

 

 

Na Mitologia Grega, Momo era o deus da festividade, filho do Sono e da Noite. Por sua irreverência e sarcasmo foi expulso do Olimpo. Na Grécia, registros históricos revelam que os primeiros reis Momos até hoje conhecidos desfilavam em festas de orgia por volta dos séculos 5 ou 4 a.C. Já nas bacanais romanas, os participantes selecionavam um Rei Momo entre os soldados mais bonitos do exército e, ao final da festa, ele era sacrificado em honra do deus Saturno.

A primeira representação do Rei Momo de que se tem notícia no Brasil foi feita pelo caricaturista alemão radicado no Brasil, Henrique Fleiuss (1824 – 1882), e publicada na Semana Illustrada, em 2 de março de 1862, primeira publicação humorística ilustrada da imprensa brasileira. Fundada por Fleiuss, existiu entre 1860 e 1876, e teve como colaboradores Joaquim Nabuco (1849 – 1910) e Machado de Assis (1839 – 1908), dentre outros.

 

 

Até hoje, acredita-se que a primeira representação física do Rei Momo no país tenha acontecido em 21 de junho de 1910 durante a encenação da opereta Cupido no Oriente apresentada no Circo Spinelli. O famoso Benjamim de Oliveira (1870 – 1954), um dos autores da peça ao lado de David Carlos (18?-19?) e o primeiro palhaço negro do Brasil, interpretou Momo. O espetáculo contava com 28 músicas de autoria do maestro Paulino do Sacramento (1880 – 1926) e quatro atos.

 

 

 

 

Em 1933, a Federação das Sociedades Carnavalescas do Rio de Janeiro, a Casa dos Artistas e a Empresa Beira-Mar Cassino organizaram a entrada triunfal do Rei Momo no Rio de Janeiro, que seria uma nota interessantíssima do carnaval. A programação foi apresentada por Cerqueira Lima, representante do Touring Club (A Noite, 20 de dezembro de 1932, penúltima colunaA Noite, 28 de janeiro de 1933, quarta coluna; e 14 de fevereiro de 1933, terceira coluna).

 

“Foi uma ideia feliz essa de se dar, assim, como uma apoteose ao deus da folia, abertura oficial aos folguedos de carnaval”.

A Noite, 15 de fevereiro de 1933

 

 

 

E, em 18 de fevereiro de 1933, desembarcou na cidade um Rei Momo, porém de papelão. Foi esculpido pelo cenógrafo Hipólito Colomb que, com o decorador Jayme Silva, o vestiu. Momo chegou à Praça Mauá a bordo do Mocanguê. A alegoria media 13 metros e era iluminada por 800 lâmpadas elétricas. Houve um desfile na avenida Rio Branco e o rei da folia instalou-se no Cassino Beira-Mar. Foi a diretoria do Lloyd Club que promoveu a luxuosa cerimônia de chegada (A Noite, 15 de fevereiro18 de fevereiro, primeira coluna; 18 de fevereiro, quarta coluna; e 19 de fevereiro, de 1933; Diário da Noite, 18 de fevereiro; e 20 de fevereiro de 1933).

 

 

Como provado por fotos publicadas no jornal A Noite, de 21 de fevereiro de 1933, e na mesma data 3ª edição; e de 23 de fevereiro de 1933, já existia um  Rei Momo de carne e osso em 1933, criado por iniciativa dos jornalistas de A Noite Vasco Lima, Raymundo Magalhães Junior, Edgard Pilar Drummond, pseudônimo Palamenta, que integrava o Centro dos Cronistas Carnavalescos; e do caricaturista Fritz, pseudônimo de Anisio Mota. O escolhido para encarnar o soberano do carnaval carioca foi o cronista de turfe, que também trabalhava no jornal, o carioca Francisco Moraes de Cardoso (1893 – 1948), um tipo bonachão, alegre e com cara de glutão.

 

 

Mas foi no ano seguinte, em 3 de fevereiro de 1934, que o Rei Momo de carne e osso abriu o carnaval do Rio de Janeiro. Chegou na Praça Mauá e seguiu pela Avenida Rio Branco até o Palácio das Festas, onde houve um baile em sua homenagem (A Noite, 13 de dezembro de 1933, terceira colunaA Noite, 19 de fevereiro de 1934, primeira coluna; A Noite, 30 de janeiro de 1934, penúltima coluna; A Noite, 3 de fevereiro de 1934; A Noite, 4 de fevererio de 1934).

 

momo10A Noite, 3 de fevereiro de 1934

 A Noite, 3 de fevereiro de 1934

 

Foi vestido, por sugestão do maestro Silvio Piergilli (c.1888 – 1962), que trabalhava no Teatro Municipal e era amigo de Raymundo Magalhães Junior, com a roupa do duque de Mântua, personagem da ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi. Há uma outra versão na qual o caricaturista Fritz teria sido o desenhista da roupa, que teria sido executada por uma costureira do Teatro Municipal. Provavelmente, em 1933, Momo usou a fantasia do duque e, no ano seguinte, 1934, desfilou com a roupa desenhada por Fritz.

 

 

 

O jornal A Noite, de 9 de dezembro de 1948, resumiu assim a história do Rei Momo no carnaval do Rio de Janeiro:

 

momo14momo15

 

O fato é que durante 15 anos, de 1934 até sua morte, em 9 de dezembro de 1948, Moraes de Cardoso reinou no carnaval carioca (A Noite, 9 de dezembro de 1948; O Jornal, 10 de dezembro de 1948, primera coluna). Havia ingressado em A Noite em fins da década de 20, a convite de Adauto de Assis, que chefiava a seção esportiva do jornal. Antes, Moraes Cardoso trabalhava na papelaria Casa Cruz. Quando faleceu, além de repórter esportivo e comentarista de turfe, era Chefe da Seção de Circulação de A Noite.

 

 

 

Retrospectiva do Rei Momo do carnaval carioca desde 1934

 

 

1934 a 1948 – Francisco Moraes Cardoso

1949 – Gustavo Matos

1950 – Jaime de Moraes

1951 a 1957 – Nelson Nobre

1958 a 1971 – Abrahão Reis

1972 – Edson Seraphin de Santana

1973 – Elson Macula

1974 a 1982 – Edson Seraphin de Santana

1983 – Paolo Vicente Paccelli

1984 – Robertão

1985 e 1986 – Elson Macula

1987 a 1995 – Reynaldo Bola

1996 – Paulo Cesar Braga

1997 a 2003 –   Alex de Oliveira

2004 – Wagner Monteiro

2005 – Marcelo Reis

2006 a 2008 – Alex de Oliveira

2009 a 2013 – Milton Junior

2014 a 2016– Wilson Dias da Costa Neto

2017 – Fabio Damião

2018 – Milton Junior

2019 – Wilson Dias da Costa Neto

2020 a 2021– Djeferson Mendes da Silva

2022 – Wilson Dias da Costa Neto

2023 – Djferson Mendes da Silva,

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ABI – Boletim Informativo, 1990

BURGI, Sérgio; COSTA, Helouise (org.). As origens do fotojornalismo no Brasil: um olhar sobre O Cruzeiro. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2012.

CARDENUTO FILHO, Reinaldo. Discursos de intervenção: o cinema de propaganda ideológica para o CPC e o Ipês às vésperas do Golpe de 1964 São Paulo, 2008. Tese (Mestrado) – Universidade de São Paulo. Escola de Comunicação e Artes.

COELHO, M. Beatriz Ramos de Vasconcelos. A Construção da imagem da nação Brasileira pela fotodocumentação: 1940-1999. São Paulo, 2000. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.

COSTA, Haroldo. 100 anos de carnaval no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro : Irmãos Vitale, 2001.

COSTA, Helouise. Palco de uma história desejada: o retrato do Brasil por Jean Manzon em: Revista do Patrimônio, nº 27, 1998. Maria Inez Turazzi (org.). Brasília: IPHAN, 1998.

COSTA, Helouise. Um olho que pensa: estética moderna e fotojornalismo. Tese de doutoramento. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, 1998.

Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira

GOMES, Sérgio. Jean Manzon. Profissão: otimista, artigo publicado na Folha de São Paulo de 17 de novembro de 1977.

Figuras e Coisas do Carnaval Carioca / Jota Efegê: apresentação de Artur da Távola. —2. ed. — Rio de Janeiro: Funarte, 2007.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

MANZON, Jean. Flagrantes do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Bloch, 1950.

MANZON, Jean. Memórias do Brasil. São Paulo: Cepar Consultoria e Participações, 2007.

MANZON, Jean. Retrato vivo da grande aventura. São Paulo: Cepar Consultoria e Participações, 2006/2007.

PEREGRINO, Nadja. O Cruzeiro: a revolução da fotoreportagem. Rio de Janeiro, Dazibao, 1991.

PINHEIRO, Marlene M. Soares (1996), A Travessia do avesso: sob o signo do carnaval. São Paulo : Annablume, 1995.

Memória do carnaval, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1991.

Revista Superinteressante, 14 de fevereio de 2020

Site Enciclopédia Itaú Cultural

Site Fundaj

Site MultiRio

TACCA, Fernando de. O índio na fotografia brasileira: incursões sobre a imagem e o meio. História, ciências, saúde – Manguinhos – Vol. 18, nº 1, p.191-223. Rio de Janeiro., 2011

TeatroBR Blogspot 

 

Artigos publicados na Brasiliana Fotográfica com fotografias do acervo dos Diários Associados

Os Diários Associados na Brasiliana Fotográfica, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 30 de maio de 2018.

A Casa dos Artistas nos Diários Associados, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 26 de agosto de 2019.

 

Links para artigos sobre carnaval já publicados na Brasiliana Fotográfica

 

Imagem relacionada

O carnaval nas primeiras décadas do século XX, publicado em 5 de fevereiro de 2016

 

 

O carnaval do Cordão da Bola Preta, publicado em 9 de fevereiro de 2018

 

 

As Camélias Japonesas no carnaval de Alagoas pelas lentes do fotógrafo amador Luiz Lavenère Wanderley (1868 – 1966, publicado em 21 de fevereiro de 2020

 

Cenas da folia em Manaus em 1913, publicado em 28 de fevereiro de 2020

 

 

Baile de Carnaval em Santa Teresa – Di Cavalcanti, Klixto e Helios Seelinger, na casa de Raul Pederneiras, publicado em 25 de fevereiro de 2022

 

Foliões do Carnaval de Diamantina por Chichico Alkmim, publicado em 17 de fevereiro de 2023

 

 

Crianças no carnaval carioca de 1933 por Guilherme Santos, publicado em 8 de fevereiro de 2024

 

Acessando o link para as fotografias de Carnaval disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XII – O Teatro Lírico (Theatro Lyrico)

O Rio de Janeiro desaparecido. Esta é uma série diferente. Quando foi concebida, inspirada pelo livro Vestígios da paisagem carioca: 50 lugares desaparecidos do Rio de Janeiro (2019), de Isabela Mota e Patricia Pamplona, e por artigos sobre o Rio Antigo, de autoria de Charles Julius Dunlop (1908 – 1997), já haviam sido publicados na Brasiliana Fotográfica 11 artigos que deveriam pertencer à série. Então, o artigo sobre o Theatro Lyrico, com o qual o portal presta uma homenagem à arte e aos artistas é, na verdade, o 12º da série, mas é o que a inaugura com essa denominação.

Com um registro do alagoano Augusto Malta (1864 – 1957), que foi o fotógrafo oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro, entre 1903 e 1936, vamos conhecer um pouco da história desse teatro que, em sua época, foi o centro artístico e cultural do Rio de Janeiro. Pelo palco do Lyrico passaram artistas internacionais como o maestro italiano Arturo Toscanini (1867 – 1957), que lá regeu pela primeira vez uma orquestra, os tenores italianos Enrico Caruso (1873 – 1921) e Francesco Tamagno (1850 – 1905), as atrizes francesa Sarah Bernhardt (1844 – 1923) e Gabrielle Réjane (1856 – 1922); e a italiana Eleonora Duse (1858 – 1924). Vários artistas nacionais também atuaram no Lyrico, dentre eles as cantoras Bidu Sayão (1902 – 1999) e Carmen Miranda (1909 – 1955), a pianista Guiomar Novaes (1895 – 1979) e os atores (1882 – 1932) Procópio Ferreira (1898 – 1979) e Raul Roulien (1904 – 2000).

Sob o assoalho removível da plateia, que tinha 1400 cadeiras, havia um picadeiro! O teatro contava com uma Tribuna Imperial, 86 camarotes de diferentes categorias, 252 galerias e 168 fauteuils de varandas. No total, tinha 2500 lugares. Segundo o historiador Luiz Edmundo (1878 – 1961) era o melhor teatro da cidade. A inauguração do Theatro Municipal, em 14 de julho de 1909, diminuiu a importância do Lyrico, mas devido à qualidade de sua acústica, considerada notável e superior a do Municipal, manteve fiéis os apreciadores do canto lírico. 

“O melhor teatro da cidade é o Lyrico, uma ruína dourada, mostrando uma reles entradinha de ladrilhos, cercada de espelhos, uns espelhos muito velhos, muito sujos, muitos enodoados e uns porteiros de apresentação grotesca e mal ajambrada, sorrindo debaixo de densas gaforinhas postas em caramanchão e usando, nas noites de grandes premières, luvas brancas com punhos de celluloide”.

Luiz Edmundo em O Rio de Janeiro do meu tempo

 

No livro Palco e Picadeiro – o Theatro Lyrico, seu autor, o historiador Francisco Vieira destacou o fato do teatro ser tão integrado à vida da cidade que, em dia de estreia, os bancos dos bondes eram forrados de flanela braanca para que os passageiros a caminho do teatro não sujassem seus trajes. Logo o povo apelidou os veículos de “bonde de ceroulas”. 

O Theatro Lyrico nasceu e morreu sob o signo do carnaval: seu primeiro evento foi um baile de mascarados, em fevereiro 1871, e, seu último, um ensaio de ranchos carnavalescos, em janeiro de 1932. Foi demolido entre 1933 e 1934. No artigo do Jornal do Brasil de 28 de dezembro de 1933 sobre sua demolição foi publicada a fotografia produzida por Malta, em torno de 1928. Destacamos aqui a importância da digitalização de fotografias para a pesquisa e também para a difusão e consequentemente para a própria preservação de acervos fotográficos. Além disso, as imagens, a partir de recursos tecnológicos como o zoom têm uma visibilidade muito melhor e podem ser acessadas com uma qualidade bem maior.

 

 

 

 

Um pouco da história do Lyrico 

 

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O açoriano Bartholomeu Corrêa da Silva (1828 – 1917) / Palco e Picadeiro – o Theatro Lyrico

 

O açoriano Bartholomeu Corrêa da Silva (1828 – 1917), nascido na Ilha Graciosa, em junho de 1928, deixou Portugal aos 14 anos, veio para o Brasil, estabeleceu-se em Campos dos Goytacazes e depois, já com sua mãe e duas irmãs, foi para São Fidélis, onde adquiriu um armazém. O diretor de um circo com cerca de 10 componentes chegou à cidade e alimentava sua trupe com comida e bebida da loja de Bartholomeu. Porém, o diretor fugiu e deixou uma dívida e a trupe para trás. Assim Bartolomeu tornou-se dono de um circo. Começava a história do Theatro Lyrico!

Bartholomeu decidiu então deixar São Fidélis e apresentou sua Companhia Gymnastica Equestre, em Niterói  (Correio Mercantil, 14 de março de 1856, terceira coluna).

 

 

No mesmo ano, já no Rio de Janeiro, a capital do Império, a Companhia Equestre instalou-se, provisoriamente, no Campo da Aclamação (Correio Mercantil, 1º de maio de 1856). No ano seguinte, voltou ao local (Correio Mercantil, 31 de maio de 1857, segunda coluna).

 

 

Em setembro de 1857, o Circo Olympico volante foi armado em São Cristóvão (Correio Mercantil, 12 de setembro de 1857).

 

 

O artista e então administrador do Teatro São Pedro de Alcântara, João Caetano (1808 – 1863), convidou Bartholomeu para realizar um espetáculo. O contrato foi assinado em 15 de dezembro de 1857.

 

 

 

Em 1858, o Circo Olympico passou pela rua Nova do Conde, no Catumbi, e também pela rua São Clemente, em Botafogo (Correio Mercantil, 6 de janeiro e 23 de março de 1858).

 

 

 

Finalmente estabeleceu-se, na rua da Guarda Velha, atual Largo da Carioca, na época, o coração do Rio de Janeiro, uma localização privilegiada (Correio Mercantil21 de agosto e 25 de agosto de 1858).

 

 

 

Em 1863, Bartholomeu cercou o terreno da rua da Guarda Velha com um gradil e inaugurou, ao lado do circo, no ano seguinte, uma cervejaria, a Jardim Concerto, com produção própria, onde seria hoje a rua Senador Dantas esquina com a avenida Chile. O empreendimento foi um sucesso.

 

 

Aos poucos a lona do circo foi substituída por um circo de madeira, tornando-se uma casa de espetáculos circenses e teatrais. Famílias, inclusive a de dom Pedro II (1825 – 1891), frequentavam o circo e foi o imperador que propôs a Bartholomeu que construisse um teatro nos moldes dos melhores que existiam na Europa. Então Bartholomeu encomendou um projeto em que, com a retirada do piso de madeira da plateia, o teatro se transformava em circo equestre. Para isso contou com a ajuda do engenheiro Bittencourt da Silva. Segundo o historiador Francisco Vieira:

“Retirando-se o assoalho do teatro, em cima do qual as cadeiras da plateia eram cuidadosamente dispostas, tinha-se de volta o picadeiro. Logo se percebeu a perfeição da acústica da sala. Provavelmente devido ao fato de que essa tampa de assoalho, de madeira fina e resistente, quando colocada sobre os cavaletes, criava uma caixa de ressonância em associação com o madeirame do teto. Era uma acústica de caixa de violino.”

A excelência dessa acústica ficou mundialmente conhecida.

Os últimos espetáculos do circo, apresentados pela Companhia Chiarini, aconteceram em comemoração à vitória do Brasil na Guerra do Paraguai (Diário do Rio de Janeiro, 25 de março e 26 de abril de 1870).

Em 2 de fevereiro de 1871, o Theatro Dom Pedro II foi aberto com uma apresentação de exercícios equestres e gimnásticos da companhia de Bartholomeu, que se repetiu ao longo de fevereiro (Diário do Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 1871, quinta coluna; 12 de fevereiro, quinta coluna, de 1871). Ainda no mesmo mês, foram realizados no salão da frente, logo antes da plateia, dois bailes de carnaval, em 19 e 21 de fevereiro, que marcaram a inauguração oficial do teatro (Jornal do Commercio, 12 de fevereiro, primeira coluna19 de fevereiro, última coluna, de 1871). O casal imperial não compareceu ao baile de abertura, mas às vésperas de sua realização suas majestades visitaram o teatro e elogiaram o prédio e sua decoração.

No seu livro, Memórias, o escritor português Raul Brandão (1867 – 1930) escreveu uma história contada a ele pelo caricaturista, escultor e ceramista português Rafael Bordalo Pinheiro (1846 – 1905), que morou alguns anos no Rio de Janeiro, durante o século XIX:

“O imperador do Brasil, logo que chegava ao theatro, mettia-se no camarote, descalçava as botas e calçava com regalo, uns chinelos. Uma noite o Raphael, que estava no Rio, foi pé ante pé, meteu a mão pela cortina e robou-lhe as botas. O pobre homem não se desconcertou: sahiu de chinelos, atravessou em chinelos a multidão, saudando para a direita, para esquerda, desceu até ao pateo e meteu-se, em chonelos, na carruagem”.

Terá sido verdade? Ou terá sido uma história inventada por Bordalo Pinheiro?

 

 

 

Com a presença de dom Pedro II e da imperariz Teresa Cristina (1822 – 1889), em 20 de junho de 1871, foi iniciada a primeira temporada lírica do Theatro D. Pedro com a apresentação da ópera Guilherme Tell, de Rossini, com os tenores Ballarini e Lelmi e a mezzo-soprano Amelia Escalante, dentre outros, sob a direção do maestro Ângelo Agostini, homônimo do famoso jornalista e ilustrador ítalo-brasileiro (Jornal do Commercio, 13 de junho de 1871). A programação da temporada da companhia italiana, com óperas de Ângelo Agostini (? -?), Carlos Gomes (1836 – 1896), Charles Gounod (1818 – 1893), Daniel Auber (1782 – 1871), Errico Petrella (1813 – 1877), Friedrich Flotow (1812 – 1883), Fromental Halevy (1799 – 1862), Giacomo Meyerbeer (1791 – 1864), Gioachino Rossini (1792 – 1868), Giovanni Pacini (1796 – 1867), Giuseppe Verdi (1813 – 1901) e Saverio Mercadante (1795-1870), foi publicada no Diário do Rio de Janeiro de 19 de março de 1871. Na mesma edição, em sua coluna “Revista do Domingo”, Luis Guimarães Jr. (1847 – 1898), um dos dez membros eleitos para se completar o quadro de fundadores da Academia Brasileira de Letras, comentou a vinda da Companhia Italiana ao Rio de Janeiro (Diário do Rio de Janeiro, 19 de março de 1871, sexta coluna). O teatro foi desde o início prestigiado pela elite já que o canto lírico representava o ápice da cultura europeia, da civilidade. Porém, Bartholomeu seguiu apresentando espetáculos para o grande público, garantindo a presença da cultura popular em seu teatro. Também cedia gratuitamente o Lyrico para a realização de festas beneficentes como as realizadas para as viúvas dos soldados da Guerra do Paraguai e para a Beneficência Portuguesa.

 

 

 

 

A décima segunda récita da temporada, em 18 de julho de 1871, homenageou o aniversário da sagração de dom Pedro II e contou com a  presença da princesa Isabel (1846 – 1921) e de seu marido, o conde D´Eu (1842 – 1922). Na ocasião, a princesa era a regente porque dom Pedro II estava, pela primeira vez, em viagem à Europa, para onde havia embarcado em 25 de maio de 1871. Em 31 de março de 1872, retornou ao Rio de Janeiro (Diário do Rio de Janeiro, 1º de abril de 1872), trazendo o duque de Saxe, viúvo de de sua filha Leopoldina, e seus dois netos, Pedro Augusto (1866 – 1934) e Augusto Leopoldo (1867 – 1922), que seriam educados no Brasil.

 

 

Em setembro de 1875,  o Theatro D. Pedro II passou a se chamar, por decreto, Imperial Theatro D. Pedro II (A Reforma, 7 de setembro de 1875, primeira colunaJornal do Commercio, 7 de setembro de 1875, primeira coluna).

 

imperial

 

Em 25 de março de 1876, véspera da partida do casal imperial para uma viagem aos Estados Unidos, foi realizado um espetáculo de gala no Imperial Theatro D. Pedro II. Na ocasião, o ator Francisco Xavier da Silva Lisboa recitou uma saudação de despedida aos imperadores (Diário do Rio de Janeiro, 27 de março de 1876, penúltima coluna).

Entre os anos de 1876 e 1886, o teatro foi administrado pelo maestro italiano Ângelo Ferrari (1835 – 1897) e conheceu uma fase áurea, com a apresentação de grandes óperas e dos maiores nomes do bel canto da época. Alguns dos espetáculos foram a Fosca, de Carlos Gomes (1836 – 1896), 1877 (Gazeta de Notícias, 25 de julho de 1877); Eurico, do maestro português Miguel Ãngelo Pereira (1843 – 1901), baseada no livro homônimo do poeta Alexandre Herculano (1810 – 1877), em 1878 (Revista Illustrada, 2 de novembro de 1878, terceira coluna); e Aída, de Giuseppe Verdi (1813 – 1901), em 1879 (Gazeta de Notícias, 15 de novembro de 1879, primeira coluna). Tenores famosos como o espanhol Julien Gayarre (1844 – 1890) (Gazeta de Notícias, 22 de outubro de 1876) e o italiano Francesco Tamagno (1850 – 1905) (Revista Musical, 15 de novembro de 1879, primeira coluna) apresentaram-se no teatro assim como as cantoras líricas Maria Durand (1846 – ?) (Gazeta de Notícias, 15 de novembro de 1879, primeira coluna) e Marianni (Diário do Rio de Janeiro, 27 de outubro de 1878, terceira coluna). Em 1888, o ator francês da Comedie Française, Benoit Constant Coquelin (1841 – 1909), e a atriz francesa Jane Hading (1859 – 1941) foram os grandes sucessos (Diário de Notícias, 30 de maio de 1888, última coluna).

Foi por ocasião das comemorações do tricentenário do poeta Luis de Camões (1524-1580), organizadas pelo Real Gabinete de Leitura, que a peça de Machado de Assis (1839 – 1908), Tu, só tu, puro amor, estreou no Imperial Theatro D. Pedro II, em 10 de junho de 1880 (Gazeta de Notícias, 11 e 12 de junho de 1880, terceira coluna). Machado fez citações sobre o teatro em algumas de suas obras, como no livro Esaú e Jacó (1904) e em contos como  D. Jucunda (1889). Outros autores também o mencionaram: Lima Barreto (1881 – 1922) no conto Uma noite no Lírico, publicado em seu livro Histórias e Sonhos (1920); e Rubem Fonseca (1925 – 2020), em Agosto (1990), quando o personagem Emilio, o velho e doente professor de música do comissário Mattos, diz: “Nem Gigli nem Scotti põem mais os pés aqui…Não, não, minha cabeça não anda boa, o Scotti morreu há muito tempo, você não chegou a vê-lo, mas eu o vi, com esses olhos que a terra há de comer, cantando o Falstaff no Teatro Lírico, que eles demoliram, um teatro lindo com uma acústica melhor do que o Scala de Milão”. Antonio Scotti (1866 – 1936) foi um barítono italiano.

No dia 30 de junho de 1886, o maestro italiano Arturo Toscanini (1867 – 1957) regeu pela primeira vez uma orquestra, apresentando Aída, de Giuseppe Verdi (1813 – 1901), no Theatro Lyrico. Toscanini regeu a ópera de cor, sem partitura, e recebeu os maiores elogios do severo crítico Oscar Guanabarino (1851 – 1937).

 

Oscar Guanabarino / O Rio de Janeiro do meu tempo, de Luiz Edmundo

Oscar Guanabarino / O Rio de Janeiro do meu tempo, de Luiz Edmundo

 

 

Substituiu na última hora o maestro brasileiro Leopoldo Miguez (1850 – 1902), futuro autor do Hino da Proclamação da República, porque os artistas italianos não aceitaram a ideia de serem dirigidos por um estrangeiro. Miguez estava no lugar do regente italiano Claudio Rossi, que havia ficado doente (L´Italia, 1º de julho de 1886, última coluna; O Paiz, 1º de julho, quarta coluna 4 de julho, quarta coluna, 1886).

 

 

A cantora que fazia o papel de Aída, a russa Nadina Bulicioff (1858 – 1921), comprou a liberdade de sete escravizados com os presentes que recebeu de seus admiradores. Entregou as cartas de alforrias em pleno palco, em 10 de agosto, em um ato da campanha abolicionista organizado por José do Patrocínio (1854 – 1905) (O Paiz, 11 de agosto de 1886, sexta coluna).

 

 

A ópera Lo Schiavo, de Carlos Gomes (1836 – 1896), dedicada à princesa Isabel (1846 – 1921), estreou em 27 de setembro de 1889, sem a presença da família imperial, de luto devido à morte de dom Augusto de Portugal (1847 – 1889). Mas na récita do dia 2 de outubro, no intervalo da ópera, o compositor recebeu das mãos do imperador Pedro II a Ordem do Rosa (Diário de Notícias, 28 de setembro, quinta coluna3 de outubro de 1889, penúltima coluna).

Devido à proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, o camarote real foi demontado, os símbolos do império foram eliminados e o Theatro Imperial Dom Pedro II passou a chamar-se Theatro Lyrico (O Paiz, 3 de dezembro de 1889, terceira coluna). Em janeiro do ano seguinte, uma reunião para a escolha do Hino da Proclamação da República aconteceu no teatro com a presença do presidente Deodoro da Fonseca (1827 – 1892). A música de Leopoldo Miguez, que concorreu com Alberto Nepomuceno (1864 – 1920), Francisco Braga (1868 – 1945), futuro compositor do Hino da Bandeira (1905); e Jerônimo Queiroz, foi a escolhida. O Hino Nacional permaneceria sendo o composto por Francisco Manoel da Silva (1795 – 1865) (O Paiz, 21 de janeiro de 1890, penúltima coluna; Jornal do Brasil, 31 de dezembro de 1933). Entre fevereiro e março, foram realizados no teatro dois bailes mascarados e uma reunião operária (O Paiz, 13 de fevereiro de 1890O Paiz, 17 de fevereiro de 1890O Paiz, 2 de março de 1890, primeira coluna).

Passou por uma reforma e foi reinaugurado em abril de 1890 com a apresentação da Grande e Luxuosa Companhia Equestre, acrobatica, gymnastica e comica do Polytheama Argentino de Buenos Aires, do empresário Luiz Gucci, representado por Alfredo Cattaneo (O Paiz, 23 de abril de 1890, primeira coluna).

 

 

Em 28 de março de 1895, Bartholomeu tomou posse definitiva do terreno do teatro.

 

Planta do Teatro Lírico

Planta geral do Teatro Lírico

 

O tango Tupã, uma homenagem da maestrina Chiquinha Gonzaga (1847 – 1935) ao jornalista e médico Lopes Trovão (1848-1925), autor da frase que se referia a ela: “Aquela Chiquinha é o diabo!”, foi executada pela Banda dos Meninos Desvalidos, regida por Luiz Moreira, em uma récita em benefício à compositora no Lyrico, em 20 de abril de 1891 (Gazeta de Notícias, 20 de abril de 1891, primeira coluna).

Vamos destacar na primeira década do século XX , a estreia no Rio de Janeiro, do Cinematographo Lumière Aperfeiçoado realizado pela empresa Evert, em 26 de novembro de 1904; a apresentação das atrizes de renome internacional Gabrielle Réjane (1856 – 1922), Sarah Bernhardt (1844 – 1923) e a italiana Eleonora Duse (1858 – 1924); e do tenor italiano Enrico Caruso (1873 – 1921). São nomes que se confundem com as artes nas quais atuaram.

 

 

Gabrielle Réjane esteve no Brasil três vezes. A primeira, em 1895. Em 1902, estreou no Lyrico na peça Zaza, escrita especialmente para ela por Pierre Berton (1842 – 1912) (Gazeta de Notícias, 1º de julho de 1903, última coluna). Fundou sua própria companhia teatral, em Paris, em 1906, e o escritor Marcel Proust (1871 – 1922) era seu grande amigo e admirador. Notabilizou-se por suas performances nas peças Madame Sans-Gêne, de Victorien Sardou (1831 – 1908); M Cousine, de Henri Meilhac (1830 – 1897), além da já citada Zaza. Apresentou-se no Theatro Municipal do Rio de Janeiro um dia depois de sua inauguração (O Paiz, 14 de julho, última coluna16 de julho, primeira coluna de 1909).

 

 

Identificado como célebre tenor, o italiano Enrico Caruso estreou no Lyrico, em 9 de setembro de 1903, na ópera Rigoletto (1851), de Giuseppe Verdi (1813 – 1901), que foi reapresentada em 18 de setembro. Também atuou em Manon Lescaut (1893) e na Tosca (1900), ambas de Giacomo Puccini (1858 – 1924); e em Iris (1898), de Pietro Mascagni (1863 – 1945) (Correio da Manhã,  8 de setembro, 18 de setembro, 19 de setembro e 25 de setembro de 1903; Jornal do Brasil, 26 de setembro de 1926, terceira coluna). Esteve de novo no Brasil, em 1917, quando se apresentou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

 

 

Sarah Bernhardt fez em julho de 1905 sua última turnê ao Rio de Janeiro. Já havia estado na cidade em 1886, quando se apresentou no Teatro São Pedro de Alcântara e sua atuação em Fedra, de Jean Racine (1639 – 1699) arrebatou a plateia; e, em 1893, quando suas performances aconteceram no Theatro Lyrico (Gazeta de Notícias, 10 de junho de 1893, última coluna). Foi também no Lyrico que se apresentou entre 13 e 17 de outubro de 1905, nas peças La Sorcière (1904), de Victorien Sardou (1831 – 1908); Adrienne Lecouvrier (1849), de Ernest Legouvé (1807 – 1903) e Eugène Scribe (1791 – 1861); A Dama das Camélias (1852), de Alexandre Dumas Filho (1824 – 1895); Angelo (1835)de Victor Hugo (1802 – 1885), e Hamlet (c. 1600)de William Shakespeare (1564 – 1616). Partiu do Rio de Janeiro em 18 de outubro de 1905 (Gazeta de Notícias, 19 de outubro de 1905, quinta coluna).

 

 

Reza a lenda que ela teria se acidentado durante essa última turnê quando representava a peça A Tosca, de Sardou, cuja estreia foi estrelada por ela, em 27 de novembro de 1887, em Paris, tendo sido, em 1900, adaptada para a ópera homônima, por Giacomo Puccini (1858 – 1924). A queda teria ocasionado, posteriomente, a amputação da perna da atriz. Porém não há registro na imprensa de sua atuação na referida peça nessa sua última temporada carioca. Havia encenado A Tosca em sua turnê, no Rio de Janeiro, em 1893 (Gazeta de Notícias, 10 de junho , terceira coluna; 16 de junho, última coluna, de 1893).

 

 

Eleonora Duse ou La Duse, como era conhecida, foi uma verdadeira diva do teatro e destacou-se na interpretação de papéis escritos, muitas vezes, especialmente para ela pelo dramaturgo italiano Gabrielle D´Annunzio (1863 – 1938), com quem teve um romance; e de peças do norueguês Henrik Ibsen (1828 – 1906). Esteve no Rio de Janeiro, em 1885, quando se apresentou no Theatro São Pedro de Alcântara (Jornal do Commercio, 29 de junho de 1885, última coluna; A Semana, 17 de julho de 1885Diario do Brazil, 7 de agosto de 1885, primeira coluna), e entre junho e julho de 1907, em uma temporada no Lyrico. Após sua última performance, realizada em 16 de julho na peça Rosmersholm (1886), de Ibsen, foi homenageada e um escudo de mármore com a seguinte inscrição foi inaugurado:

 

 

Um fato curioso: foi no Lyrico, numa homenagem ao aviador Santos Dumont (1873 – 1932), que o jornalista e abolicionista José do Patrocínio (1854 – 1905), quando saudava o inventor, sofreu uma hemoptise durante seu discurso, tendo falecido pouco tempo depois, em 29 de janeiro de 1905 (Site Academia Brasileira de Letras).

Em 15 de setembro de 1911, houve um incêndio no edifício da Imprensa Nacional, vizinho ao teatro, o que suscitou boatos em torno da possível demolição do Lyrico. Um dos mais respeitados críticos de artes da época, o implacável Oscar Guanabarino (1851 – 1937), escreveu um artigo no qual se opunha veementemente a essa hipótese e chamava o Lyrico de melhor teatro dessa cidade (O Paiz, 16 de setembro, penúltima coluna; 7 de novembro, última coluna, de 1911).

 

 

O comendador Bartholomeu, título que recebeu  do rei dom Carlos de Portugal, faleceu em 27 de dezembro de 1917, e o Lyrico, após uma ruidosa disputa entre sua neta Margarida Chaves Lopes, pra quem deixouo teatro em testamento, e seus sobrinhos, foi herdado por ela, que era filha de Emilia (1859 – 1881), filha adotiva de Bartholomeu, e do jornalista Henrique Chaves (1849 – 1910), português e um dos fundadores da Gazeta de Notícias. Emilia havia morrido tragicamente, atingida por um coice de um cavalo, em novembro de 1881, no pátio que ficava na saída lateral do teatro. Margarida era casada com César Lopes Ferreira, com quem tinha dois filhos: João Henrique e Maria Emilia. Moravam no teatro assim como Batholomeu até sua morte (A Noite, 27 de dezembro de 1917, terceira coluna;  Gazeta de Notícias, 23 de maio de 1918, penúltima coluna).

Em 16 de fevereiro de 1919, foi realizado no Lyrico o primeiro concurso de músicas de carnaval. Os números foram executados pela Banda do Batalhão Naval e a vencedora foi o maxixe Prove e beba Vermutim, de Abdon Lyra (1887 – 1962) (Gazeta de Notícias, 17 de fevereiro de 1919, penúltima coluna).

 

 

O Lyrico também foi palco de eventos políticos. Destacamos aqui a convenção da campanha civilista, em agosto de 1909 (O Paiz23 de agosto, quinta coluna). 24 de agosto, segunda coluna, de 1909).

 

 

E também, em 20 de março de 1919, o evento no qual Ruy Barbosa (1879 – 1923), durante sua campanha presidencial, vencida, em 13 de abril, por seu concorrente, Epitácio Pessoa (1865 – 1942), leu a conferência A Questão Social e Política no Brasil, que se tornou famosa (O Imparcial, 21 de março de 1919, quarta coluna).

 

 

Trecho da conferência A Questão Social e Política no Brasil 

 O Brasil não é isso

“Mas, senhores, se é isso o que eles vêem, será isto, realmente, o que nós somos? Não seria o povo brasileiro mais do que esse espécimen do caboclo mal desasnado, que não se sabe ter de pé, nem mesmo se senta, conjunto de todos os estigmas de calaçaria e da estupidez, cujo voto se compre com um rolete de fumo, uma andaina de sarjão e uma vez d’aguardente? Não valerá realmente mais o povo brasileiro do que os conventilhos de advogados administrativos, as quadrilhas de corretores políticos e vendilhões parlamentares, por cujas mãos corre, barateada, a representação da sua soberania?

Deverão, com efeito, as outras nações, a cujo grande conselho comparecemos, medir o nosso valor pelo dessa troça de escaladores do poder, que o julgam ter conquistado, com a submissão de todos, porque, em um lance de roleta viciada, empalmaram a sorte e varreram a mesa?

Não. Não se engane o estrangeiro. Não nos enganemos nós mesmos. Não! O Brasil não é isso. Não! O Brasil não é o sócio de clube, de jogo e de pândega dos vivedores, que se apoderaram da sua fortuna, e o querem tratar como a libertinagem trata as companheiras momentâneas da sua luxúria.

Não! O Brasil não é esse ajuntamento coletício de criaturas taradas, sobre que possa correr, sem a menor impressão, o sopro das aspirações, que nesta hora agitam a humanidade toda.

Não! O Brasil não é essa nacionalidade fria, deliqüescente, cadaverizada, que receba na testa, sem estremecer, o carimbo de uma camarilha, como a messalina recebe no braço a tatuagem do amante, ou o calceta, no dorso, a flor-de-lis do verdugo.

Não! O Brasil não aceita a cova, que lhe estão cavando os cavadores do Tesouro, a cova onde o acabariam de roer até aos ossos os tatus-canastras da politicalha. Nada, nada disso é o Brasil”.

Seguiram-se apresentações de Guiomar Novaes (1895 – 1979) (O Paiz, 11 de setembro de 1920, terceira coluna) e de vários concertos de Arthur Rubinstein (1887 – 1982) (Correio da Manhã, 20 de maio de 1920, quinta coluna), em 1920; e, no ano do Centenário da Indenpendência do Brasil, em 1922, o grande sucesso foi a companhia francesa Ba-Ta-Clan, de Madame Rasimi (1874 – 1954) (O Paiz, 6 de agosto de 1922, penúltima coluna). Os Oitos Batutas, a seu convite, haviam apresentado no Theatro Lyrico o repertório dos shows que haviam realizado em Paris. “Não há dúvida nenhuma: mais uma vez os versos do trovador popular se justificam… ”A Europa continua a curvar-se ante o Brasil” (O Paiz, 23 de agosto de 1922, quinta coluna; e 27 de agosto, penúltima coluna, de 1922).

No ano seguinte, apresentaram-se no teatro o pianista russo Alexander Borovsky (1889 – 1968) (Correio da Manhã, 18 de maio de 1923, segunda coluna) e a cantora e atriz francesa Mistinguett (1873 – 1956) (Fon-Fon, 18 de agosto de 1923).

 

 

Em 1926, houve a apresentação da pianista Magdalena Tagliaferro (1893 – 1986) (Revista da Semana, 3 de julho de 1926, terceira coluna).

 

 

Filippo Tomazzo Marinetti (1876 – 1944), principal teórico e fundador do futurismo italiano, fez duas conferência do Lyrico, em 15 e 18 de maio de 1926, apresentado por Graça Aranha (1868 – 1931). Foi vaiado pelo público e diversas caricaturas dele foram publicadas pela imprensa carioca (Gazeta de Notícias, 16 de maio19 de maio de 1926; Fon-Fon, 12 de junho de 1926).

Em 15 de novembro, ainda em 1926, sob a direção do maestro e compositor Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959),  realização do espetáculo de gala Musica Typica Brasileira, com um coro de 200 vozes, em homenagem ao Governo da República (O Paiz, 14 de novembro de 1926).

 

 

Foi promovido no Lyrico, em janeiro de 1930, o concurso carnavalesco da Casa Edison, primeira empresa fonográfica do Brasil, fundada pelo tcheco Frederico (Fred) Figner (1866 – 1947), primeiro produtor fonográfico do Brasil. A música vencedora foi Dá nela, de Ary Barroso (1903 – 1964), seu primeiro grande sucesso e também o hit do carnaval de 1930. O cantor oficial do evento foi o popular Francisco Alves (1898 – 1952) e a orquestra era a Pan-Americana (O Malho, 25 de janeiro; 1º de fevereiro de 1930). No mesmo ano, a temporada lírica foi inaugurada pelo famoso pianista Alexandre Brailowsky (O Malho, 17 de maio de 1930).

 

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Ainda em 1930, a cantora Carmen Miranda (1909 – 1955) lotou o teatro. Na mesma noite, apresentaram-se os atores Procópio Ferreira (1898 – 1979), Raul Roulien (1904 – 2000) e o jornalista e poeta Álvaro Moreyra (1888 – 1964), dentre outros (A Noite, 20 de junho de 1930, terceira coluna).

 

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Fon-Fon, 14 de junho de 1930

 

Mas a crise financeira atingiu o Brasil, as instalações do Lyrico estavam velhas e muito dinheiro seria necessário para restaurá-lo. A última companhia que manteve um contrato com o teatro foi a A. Sonschein, de Cinematorgaphia, Theatros e Diversões. Em 23 de janeiro de 1932, a declamadora, atriz e cantora argentina, nascida na Bielorússia, Berta Singerman (1901 -1998), realizou seu 50º recital no Theatro Lyrico.

 

 

Em 29 de janeiro de 1932, houve no teatro o ensaio dos ranchos carnavalescos Flor do Abacate, Arrepiados e Deixa Falar (O Jornal, 31 de janeiro de 1932, quarta colunaDiário de Notícias, 3 de fevereiro de 1932, quarta coluna). Foi o último evento realizado no velho casarão da rua da Guarda. Estava marcado para o dia 31 de janeiro, um festival para a escolha do melhor samba e da melhor marchinha do carnaval de 1932, porém foi adiado devido a um problema de saúde da cantora Zaira Cavalcanti (1913-1981). Não há registro de que tenha sido realizado, pelo menos não no Lyrico (O Jornal, 30 de janeiro de 1932, segunda colunaCorreio da Manhã, 31 de janeiro de 1932, segunda colunaDiário de Notícias, 2 de fevereiro de 1932, segunda coluna).

O teatro, em 1932, foi a leilão público e adquirido pelo diretor presidente da Caixa Econômica Federal, Solano Carneiro da Cunha (O Jornal, 14 de setembro, quinta coluna;  29 de setembro, última coluna 29 de outubro, primeira coluna, de 1932). Na ocasião, segundo o livro Palco e Picadeiro – o Theatro Lyrico, o diretor do Instituto Nacional de Música, o professor Guilherme Fontainha (1887 – 1970), pediu a cessão das placas comemorativas que estavam no interior do Lyrico, que  foram então alocadas no Teatro João Caetano e na Escola Nacional de Música.

 

 

O prédio do teatro estava condenado por engenheiros e foi demolido entre 27 de dezembro de 1933 e 1934. Houve um desabamento durante sua demolição (Jornal do Brasil, 28 de dezembro de 193329 de dezembro de 1933, penúltima coluna6 de maio, quarta coluna20 de maio, quinta coluna19 de dezembro, quinta coluna, de 1934; O Paiz, 3 de janeiro, penúltima coluna3 de abril, penúltima coluna de 1934; O Jornal, 28 de janeiro de 1934).

 

 

Suas colunas de madeira foram vendidas aos irmãos e luthiers Benvenuto Pascole (1892 – 1956) e Guido Pascole (1905 – 1987), cuja fábrica de violinos ficava em São Paulo, e ao maestro Livolsi Bartholomeu. Foram utilizadas na fabricação desses instrumentos. O jornal A Noite promoveu um concurso para a entrega do violino fabricado com madeiras do Lyrico (A Noite, 2 de abril, 23 de abril10 de setembro17 de setembro, 22 de outubro e 15 de dezembro de 1934). Já no século XXI, o bombeiro e luthier Davi Lopes construiu instrumentos musicais com restos de madeira remanescentes do incêndio do Museu Nacional, ocorrido em 2 de setembro de 2018. Até agosto de 2021, Davi havia confeccionado com os destroços do museu dois violões, um bandolim, um cavaquinho e um violino, que seriam entregues ao Museu Nacional/UFRJ (Rota Cult, 27 de agosto de 2021).

 

 

Algumas das peças do  Lyrico foram a leilão e outras como, por exemplo, duas poltronas e um medalhão comemorativo da vista do presidente argentino, Julio Argentino Roca (1843 – 1914), ao Brasil, foram doadas ao Museu Histórico Nacional por Cesar Lopes, como já mencionado, marido de Margarida, a neta de Bartholomeu. No local do antigo teatro foi instalado um estacionamento (A Noite, 13 de novembro, quarta coluna).

 

tradição1tradição2tradição3                                                                  Revista da Semana, 7 de abril de 1934

 

O Theatro Lyrico em artigos e crônicas

 

O Theatro Lyrico está presente em artigos e crônicas de dramaturgos, escritores, historiadores e políticos, dentre eles Coelho Neto (1864 – 1934), João do Rio (1881 – 1921), Oscar Lopes (1882 – 1938), cunhado da antiga proprietária, Margarida; e Ruy Barbosa (1849 – 1923).

 

 

“Foi condenado à morte o Lyrico. No dia em que os pedreiros entrarem com seus ferros a atacar o casarão que foi tudo nesta cidade, desde circo até praça de manifestações políticas, os que vêm do passado, se o coração se lhes não esterilizaram, sofrerão produndamente com a perda da antigualha, que foi o centro da elegância e a “ágora” em dias que se perderam na grande noite dos tempos…Abate-se o Lyrico, mas que não o substituam por alguma joça ridícula que em vez de tornar o sítio mais formoso, o enfeia e faça mais forte a saudade do velho theatro, indubitavelmente o melhor que possuímos, não só para os espetáculos lyricos, como para as representações dramáticas”.

Trecho do artigo O Lyrico, de Coelho Neto,

publicado no Jornal do Brasil, 18 de setembro de 1932

 

 

 

“Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem. Flanar é ir por aí, de manhã, de dia, à noite, meter-se nas rodas da populaça, admirar o menino da gaitinha ali à esquina, seguir com os garotos o lutador do Cassino vestido de turco, gozar nas praças os ajuntamentos defronte das lanternas mágicas, conversar com os cantores de modinha das alfurjas da Saúde, depois de ter ouvido dilettanti, de casaca, aplaudirem o maior tenor do Lírico numa ópera velha e má; é ver os bonecos pintados a giz nos muros das casas, após ter acompanhado um pintor afamado até a sua grande tela paga pelo Estado; é estar sem fazer nada e achar absolutamente necessário ir até um sítio lôbrego, para deixar de lá ir, levado pela primeira impressão, por um dito que faz sorrir, um perfil que interessa, um par jovem cujo riso de amor causa inveja…”

                                                                                            A alma encantadora das ruas (1908), de João do Rio

 

 

 

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Relíquia Perdida, de Oscar Lopes, publicado no Jornal do Brasil, em 6 de agosto de 1933

 

 

 

“…Mas aqui estamos num recinto consagrado à flor do espírito e da graça. Como uma corbelha imensa, em camadas superpostas de flores, sorri toda uma sociedade inumerável de rosas, de violetas, de carbúnculos, à luz quase meridiana da eletricidade…a música vai entronar sua magia naquela atmosfera de templo de beleza. Desse feitiço dizem que já se moveu as pedras, mas que, hoje mesmo, na decadência de seu poder, amansa feras, e ensinar a bailar as serpentes…Mas no santuário de Mozart, de Mayerbeer e de Wagner não estruja a vozeria, não chocalhe a pilhéria deslavada…”

 Trecho do artigo de Ruy Barbosa, O Direito da Vaia, publicado no jornal A Imprensa, do qual era diretor, em 17 de agosto de 1900, em torno da polêmica sobre a vaia iniciada devido às manifestações dos frequentadores do Lyrico

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

EDMUNDO, Luiz. O Rio de Janeiro do meu tempo. Rio de Janeiro:Editora: Imprensa Nacional, 1938.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

PERNY, Mônica Menezes. As máscaras de carnaval no cenário carioca: uma contribuição à Memória Social. 2015. 92f. Dissertação (Mestrado em Memória Social) – Centro de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.

SATIN, Ionara. Machado de Assis e I cantanti d’opera italiani: transferências culturais. Olho d’água, São José do Rio Preto, 10(2): p. 1–285, Jun.–Dez./2018.

Site Academia Brasileira de Letras

Site Acervo Digital Chiquinha Gonzaga

Site Panis & Circus – o site do circo

Site Teatros do Centro Histórico do Rio de Janeiro

VENCELAU, Maria da Gloria Leitão; SANDO, Rafael. The Pascoli Brothers: Violin Making and Immigration in 20th – Century Brazil, 2019.

VIEIRA, Francisco. Palco e Picadeiro – o Theatro Lyrico. Rio de Janeiro : 19 Design e Editora Ltda, 2015.

SAMPAIO, Daniel. Um circo lírico: conheça a história do Theatro Imperial Dom Pedro II. Veja Rio.

 

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 18 de março de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 5 de setembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica sobre teatros e cinemas

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXpublicado em 26 de fevereiro de 2016.

Os teatros do Brasil, publicado em 21 de março de 2016

A inauguração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, publicado em 14 de julho de 2017

Cinema no Brasil – a primeira sessão e um pouco da história do Cinema Odeon, publicado em 8 de julho de 2021

O Theatro de Santa Isabel, publicado em 28 de outubro de 2021

O Teatro Amazonas (Theatro Amazonas), em Manaus, a “Paris dos Trópicos”, publicado em 28 de dezembro de 2021

O Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, no Dia Mundial do Teatro, publicado em 27 de março de 2023

Dia do Cinema Brasileiro, publicado em 19 de junho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado em 5 de setembro de 2023

O Theatro da Paz, em Belém do Pará, inaugurado em 15 de fevereiro de 1878, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado em 15 de fevereiro de 2024

Bambus, por Marc Ferrez

Para celebrar o Dia Mundial do Meio Ambiente, a Brasiliana Fotográfica selecionou uma fotografia de Marc Ferrez (1843 – 1923) produzida em torno de 1890. Nela estão retratados os bambus do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Convidamos os leitores a clicar em cima da imagem e, a partir da ferramenta de zoom, explorar o registro mais de perto. A utilização desse recurso tecnológico nos leva, a partir da magnificação e consequente detalhamento da imagem, a , por exemplo, um passeio entre os bambus e a uma proximidade com o homem que descansa solitário observando a natureza. Além do prazer que essa aproximação proporciona, destacamos também a importância da digitalização dos acervos fotográficos para a pesquisa, difusão e preservação dos mesmos.

 

 

Em dezembro de 1972, a Assembleia Geral da ONU designou o dia 5 de junho como Dia Mundial do Meio Ambiente, que foi  comemorado pela primeira vez em 1973, com o mote “Uma Só Terra”. A data foi escolhida em razão da primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, na Suécia, entre 5 e 16 de junho de 1972. Seu secretário-geral foi o canadense Maurice Strong (1929 – 2015). Considerada a iniciativa mais importante tomada até então no campo da conservação do meio ambiente e da luta contra a poluição, reuniu 1.200 delegados de 114 países e cerca de três mil observadores. Entre os acordos mais importantes selados durante a reunião estão a condenação das experiências nucleares, a proibição da pesca da baleia por dez anos e a redução da produção de materiais sintéticos aumentando paralelamente a manufatura de substitutivos degradáveis não poluentes (Site World Environment Day).

 

Acessando o link para as fotografias de bambus produzidas por Marc Ferrez disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Publicações da Brasiliana Fotográfica em torno da obra do fotógrafo Marc Ferrez 

 

O Rio de Janeiro de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 30 de junho de 2015

Obras para o abastecimento no Rio de Janeiro por Marc Ferrez , de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 25 de janeiro de 2016

O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2016

Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de autoria de Sérgio Burgi, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de dezembro de 2016

No primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 22 de setembro de 2017

Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica,  publicada em 29 de junho de 2018

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlop, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 20 de julho de 2018

Uma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2018 

Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de abril de 2019

Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de agosto de 2019

Celebrando o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 4 de dezembro de 2019

Uma homenagem da Casa Granado ao imperial sob as lentes de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de fevereiro de 2020

Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado 6 de março de 2020

Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 16 de março de 2020

O Baile da Ilha Fiscal: registro raro realizado por Marc Ferrez e retrato de Aurélio de Figueiredo diante de sua obra, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 9 de novembro de 2020

O Palácio de Cristal fotografado por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 2 de fevereiro de 2021

A Estrada de Ferro do Paraná, de Paranaguá a Curitiba, pelos fotógrafos Arthur Wischral (1894 – 1982) e Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 22 de março de 2021

Dia dos Pais – Julio e Luciano, os filhos do fotógrafo Marc Ferrez, e outras famílias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 6 de agosto de 2021

No Dia da Árvore, mangueiras fotografadas por Ferrez e Leuzinger, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 21 de setembro de 2021

Retratos de Pauline Caroline Lefebvre, sogra do fotógrafo Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 28 de abril de 2022

A Serra dos Órgãos: uma foto aérea e imagens realizadas pelos mestres Ferrez, Leuzinger e Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2022

O centenário da morte do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de janeiro de 2023

O Observatório Nacional pelas lentes de Marc Ferrez, amigo de vários cientistas, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de maio de 2023

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a potente imagem da Cachoeira de Paulo Afonso, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2023

A Fonte Adriano Ramos Pinto por Guilherme Santos e Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 18 de julho de 2023

Os 180 anos de nascimento do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 7 de dezembro de 2023

 

 

 

Artigos publicados na Brasiliana Fotográfica no Dia Mundial do Meio Ambiente

 

A Floresta da Tijuca no Dia Mundial do Meio Ambiente, publicado em 5 de junho de 2019

No Dia Mundial do Meio Ambiente, velas abertas na Baía da Guanabara, publicado em 5 de junho de 2022

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a potente imagem da Cachoeira de Paulo Afonso, por Marc Ferrez, publicado em 5 de junho de 2023

A importância da digitalização para a pesquisa de acervos fotográficos

Inicialmente a fotografia Vagão ferroviário tombado chamou atenção por seu tema pouco usual em registros do século XIX e do início do século XX no Brasil: um acidente ferroviário. Mas uma observação mais atenta tornou a imagem uma excelente evidência da importância da digitalização para a pesquisa e também para a difusão e consequentemente para a própria preservação de acervos fotográficos. Na fotografia destacada, que integra a Coleção Pereira Passos, do Museu da República, uma das instituições parceiras do portal, seu autor foi identificado a partir da utilização da ferramenta de zoom, que deu à cena fotografada outra visibilidade, abrindo as possibilidades de situá-la historicamente. O leitor ou o pesquisador pode com esse recurso tecnológico magnificar a imagem e verificar “de perto” seus detalhes. Um desses detalhes, nesse caso, foi uma assinatura: A. Bastos. Há, embaixo dela, alguns números legíveis, 3 – 19, e outros ilegíveis. Possivelmente os números legíveis indicam a data de março de algum ano começando por 19.

 

 

O autor seria Antônio José Teixeira Bastos (18? – 1917)? Tudo indica que sim porque ele é o único fotógrafo – conhecido até hoje – com a inicial A e o sobrenome Bastos, de fins do século XIX. Caso seja ele mesmo o autor, a fotografia se situa no período entre 1900 e 1915,  já que Bastos atuou no Rio de Janeiro entre os anos 1880 e 1915 e os números legíveis indicam algum ano começando com 19. Infelizmente esses dados não foram suficientes para a localização do acidente.

Bastos começou sua carreira trabalhando para o ateliê de Carneiro & Tavares – que existiu entre 1883 e 1888 – e, em 1889, transferiu-se para o estabelecimento de Moreira & Roltgen (Jornal do Commercio, 6 de janeiro de 1889).

 

 

Cerca de dois anos depois, Bastos comprou de Manoel Garcia o ateliê fotográfico Casa Garcia, que passou a dirigir com o nome de a Photographia do Commercio, na rua Sete de Setembro, 74 (O Brazil, 5 de setembro de 1891).

 

 

Entre 1891 e 1893, foi associado a José Gonçalves Vasquez que, em 1893, foi trabalhar em Curitiba, onde inaugurou a Photographia Moderna (Jornal do Commercio, 6 de junho de 1893, sexta coluna). Em 1900, Vasquez foi para Santos e abriu a Fotografia Modelo, na rua Amador Bueno, 91.

 

 

Em 1916, quando foi anunciada pela última vez, a Photographia do Commercio, funcionava na rua da Assembleia, 98 (Correio da Manhã, 25 de dezembro de 2013, quarta coluna; Gazeta de Notícias, 8 de outubro de 1915, terceira coluna; Almanak Laemmert, 1916).

 

 

O conhecido fotógrafo Antônio José Teixeira Bastos, que morava na rua do Senado, 14, faleceu em 28 de julho de 1917 e foi enterrado no Cemitério da Ordem Terceira do Carmo. A missa de sétimo dia foi celebrada na Igreja de São Francisco de Paula (O Paiz, 29 de julho de 1917, quinta colunaJornal do Brasil, 29 de julho de 1917, primeira coluna; e Jornal do Brasil, 3 de agosto, segunda coluna). Eram seus filhos Júlio e João Durão Teixeira Bastos (Jornal do Commercio, 23 de novembro de 1917, quarta coluna).

 

cartão

Photographia do Commercio / Acervo IMS

 

 

Coleção Família Pereira Passos

A Coleção Família Pereira Passos, à qual pertence a fotografia destacada nesse artigo, é uma das mais importantes sob guarda do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República e é formada por cerca de 5.592 documentos textuais e 1.147 fotografias, produzidos entre 1806 e 1960. A coleção faz parte do acervo do Museu da República desde 1965, quando a primeira e maior leva de documentos foi doada pela família de Pereira Passos. Posteriormente foi acrescida: em 1966, através de novas doações de sua neta, Maria Passos de Castro (1888 – 1971), e, em 1980, pela transferência de fotos até então pertencentes ao Museu Histórico Nacional.

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

Jornal Eletrônico Novo Milênio

Site do Museu da República

Os Diários Associados na Brasiliana Fotográfica

Pela primeira vez o portal publica uma imagem do acervo fotográfico dos Diários Associados – Rio de Janeiro. O conjunto de fotos foi incorporado, em 2016, por um dos fundadores da Brasiliana Fotográfica, o Instituto Moreira Salles (IMS). Nessa estreia, foi destacada uma fotografia do hangar para abrigar os zepelins, em construção no Campo de Santa Cruz, e uma do Graf Zeppelin, publicadas em O Jornal, do dia 7 de abril de 1935. O conjunto adquirido pelo IMS dos Diários Associados, que já foram o maior conglomerado de mídia do Brasil, possui cerca de 700 mil fotografias e 300 mil negativos com imagens produzidas para O Jornal, primeiro órgão dos Diários, adquirido por Assis Chateaubriand (1892 – 1968) em 1924; para o Diário da Noite, fundado por ele em 1929; e para o Jornal do Commercio, fundado em 1827 e adquirido pelo grupo em 1959. Os registros cobrem um período representativo do século XX – de 1915 a 2005. Esse texto da Brasiliana complementa o recém publicado, em 25 de maio de 2018,  A primeira passagem do Graf Zeppelin pelo Rio de Janeiro, em 1930, e registros de outras viagens.

A Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, a maior coleção de periódicos do Brasil, é uma das mais potentes plataformas de informações para diversos tipos de pesquisa e a Brasiliana Fotográfica faz, desde seu início, uma extensa e profícua utilização desse precioso arquivo. Lembramos que a Fundação Biblioteca Nacional é também uma das fundadoras do portal. No caso específico de estabelecer-se uma relação entre uma imagem de um acervo fotográfico de imprensa com a forma e o contexto com que essa imagem foi originalmente publicada – como realizado nessa publicação do portal – faz com que a Hemeroteca Digital da BN ganhe especial protagonismo. E, como lembra Sérgio Burgi, coordenador de Fotografia do IMS, a preservação de um arquivo fotográfico de imprensa, mesmo que seus conteúdos estejam conservados em plataformas como a Hemeroteca Digital, é muito importante: as imagens podem, a partir de recursos tecnológicos como a digitalização e o zoom, terem outra visibilidade e serem acessadas em sua qualidade plena.

Abaixo, a imagem do Hangar dos Zeppelins, no Campo de Santa Cruz, e do Graf Zeppelin, do acervo fotográfico dos Diários Associados Rio de Janeiro, incorporado ao IMS. Acessando o link para a fotografia, disponível na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar a imagem e verificar todos os dados referentes a ela.

 

 

Abaixo, a fotografia e o texto publicados em O Jornal de 7 de abril de 1935:

 

 

‘Sob o “controle da Comissão fiscal de Obras de Aeroportos, do Ministério da Viação, ativam-se os trabalhos de construção do aeroporto de Santa Cruz, construído numa área de milhão de metros quadrados, na fazenda S. José, de propriedade do governo da União.

A construção do ramal da Central do Brasil para aquele campo permitiu o rápido transporte do material e o desenvolvimento consequente dos trabalhos.

Esse aeroporto se constrói de acordo com o contrato do governo com a Luftschiffbau Zeppelin para o estabelecimento de uma linha regular de dirigíveis entre a Europa e o Brasil, serviço que estará em perfeito funcionamento dentre em pouco, logo se concluam as obras do aeroporto.

Ainda neste início de mês o “Zeppelin” reiniciará suas viagens para o Brasil, transportando passageiros, correspondência e encomendas, quinzenalmente, partindo de Friedrichshafen aos sábados, à noite, e chegando a Recife às terças-feiras imediatas.’

O “Zeppelin” atracará no aeroporto de Santa Cruz e regressará imediatamente à Europa. Há uma modificação de rota: a aeronave fará escalas por Sevilha na ida e na volta.’

 

Um pouco da história do Hangar dos Zepelins

Para a construção de um aeroporto para abrigar os zepelins, o governo brasileiro liberou um crédito milionário para o financiamento da obra em troca de um programa mínimo de 20 viagens anuais pelo período de 30 anos, contratado com a Luftschiffbau Zeppelin, fabricante e operador da linha aérea (Correio da Manhã, 10 de maio de 1934, quarta coluna). Sua estrutura de aço foi trazida da Alemanha e o hangar dos dirigíveis zepelins começou a ser construído em 1934, no Aeroporto de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, mais tarde rebatizado Aeroporto Bartolomeu de Gusmão, e inaugurado em 26 de dezembro de 1936 pelo presidente da República, Getulio Vargas (1882 – 1954), com a presença de várias outras autoridades, dentre elas o embaixador da Alemanha e o prefeito do Rio de Janeiro, Olímpio de Melo (1886 – 1977) (O Jornal, 27 de dezembro de 1936, quarta coluna). Foi então ativada uma linha regular de transportes aéreos entre a Alemanha e o Brasil. Mais de 5 mil homens participaram da construção do hangar. Na época, existia um trem que saía da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, cujo ponto final era o aeroporto.

O hangar foi pouco utilizado pelos zepelins porque a partir da explosão de um deles, o Hindenburg, em 6 de maio de 1937 (O Jornal, 7 de maio de 1937), os voos dos grandes dirigíveis para passageiros foram interrompidos. Segundo reportagem do Jornal do Brasil de 5 de abril de 1981 e outras fontes o Hindenburg pousou no hangar quatro vezes e o Graf Zeppelin, cinco. Em 1943, o aeroporto tornou-se a Base Aérea de Santa Cruz. O hangar serviu como base para o 1º Grupo de Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira, que atuou na Segunda Guerra Mundial (Diário de Notícias, 17 de janeiro de 1943, sexta coluna).

Tombado em março de 1998 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o prédio do hangar tem 274 metros de comprimento, 58 metros tanto de altura como de largura. Seu portão principal, o sul, possui duas folhas, cada uma pesando 80 toneladas – a abertura pode ser feita manualmente ou com motores. O portão norte, com 28 metros de largura e 26 metros de altura, era utilizado para ventilação e saída da torre de atracação. No topo do hangar, a 61 metros de altura, fica a torre de comando. É o último hangar gigante para dirigíveis no mundo (Jornal do Brasil, 28 de março de 1993).

 

Contribuíram para essa publicação a socióloga Roberta Zanatta (IMS), o historiador Rodrigo Bozzetti (IMS), o bibliotecário Alexandre Delarue (IMS), além de Franco Salvoni e Guilherme Gomes, do Núcleo de Digitalização do IMS.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Artigos publicados na Brasiliana Fotográfica com fotografias do acervo dos Diários Associados

 

A Casa dos Artistas nos Diários Associados, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 26 de agosto de 2019. 

 

Fontes:

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

“Por dentro dos acervos” – Associados ao IMS, por Mànya Millen, 20 de outubro de 1916.

RODRIGUES, Helio Suevo. A formação das estradas de ferro no Rio de Janeiro – o resgate de sua memória. Rio de Janeiro: Sociedade de Pesquisa para Memória do Trem, 2004.

Site Defesa.net

Site Iphan

Site Ministério da Defesa – Força Aérea Brasileira