A história da fotografia aérea e a Escola de Aviação Militar

A partir de uma vista área da antiga Escola de Aviação Militar com algumas instalações do Parque Central de Aviação, realizada em 18 de março de 1937, que faz parte de um conjunto de vinte álbuns produzidos entre os anos de 1928 e 1951, totalizando cerca de 3592 imagens, os historiadores Fabiana Costa Dias e Jefferson Eduardo dos Santos Machado escreveram o artigo “A Escola de Aviação Militar”.  Eles contam um pouco da história da produção e da utilização da fotografia aérea pelos militares. O setor responsável pela atividade de fotografar era a Seção Foto e estava vinculada às escolas de aviação que formavam pilotos e observadores aéreos, além de funcionar como uma “escola técnica de aviação” que formava também militares especializados em fotografia e em toda a técnica envolvida.

 

A Escola de Aviação Militar

Fabiana Costa Dias e Jefferson Eduardo dos Santos Machado*

 

 

A imagem selecionada é uma vista área da antiga Escola de Aviação Militar com algumas instalações do Parque Central de Aviação (PCAv), possui a identificação de número 90, classificação de foto oblíqua, foi fotografada pela Escola de Aviação Militar, às 10 horas, do dia 18 de março de 1937, o foco da câmera marcava 24 e a aeronave encontrava-se a 200 metros do solo no momento da foto. Como sabemos de tudo isso? Se observarmos, essas informações estão localizadas na parte inferior da fotografia. Outra pertinente pergunta seria como descobrimos o significado dessa legenda? Para isso tivemos que pesquisar nas antigas publicações utilizadas nas Escolas de Aviação. Dizemos Escolas de Aviação no plural porque realmente tivemos seis escolas situadas na mesma área registrada na fotografia que estamos apresentando hoje, foram elas: Aeroclube Brasileiro (1911 – 1914), Escola Brasileira de Aviação (1914), Escola de Aviação Militar (1919 – 1938), Escola de Aeronáutica Militar (1938 – 1940), Escola de Aeronáutica do Exército (1940 – 1941) e Escola de Aeronáutica (1941-1973).

As publicações eram oferecidas aos alunos das escolas de aviação na disciplina Fotografia Aérea, segundo a publicação Noções de Fotografia Aérea (1939). O início da utilização da fotografia aérea pelos militares ocorreu em 1858, a bordo de um balão. A dirigibilidade de balões era instável e os aviões permitiram sua estabilidade e avanço. Acompanhado do aperfeiçoamento das primeiras aeronaves, também foram desenvolvidas câmeras especiais para o registro aéreo. Elas surgiram a partir de 1915 e até aquele momento as usadas eram as mesmas utilizadas pela imprensa. A fotografia minimizava um possível erro de impressão sobre o que era fotografado, disponibilizando uma informação fiel e uma ideia atualizada do campo de operações. Dessa maneira, ela servia para tirar possíveis dúvidas das cartas aeronáuticas, cobrir suas deficiências e oferecer conhecimento tanto para a defesa quanto para o ataque.

A fotografia aqui apresentada faz parte de um conjunto de vinte álbuns produzidos entre os anos de 1928 e 1951 pelas escolas de aviação citadas acima, totalizando cerca de 3592 imagens. O setor responsável pela atividade de fotografar era a Seção Foto e estava vinculada às escolas de aviação que formavam pilotos e observadores aéreos, além de funcionar como uma “escola técnica de aviação” que formava também militares especializados em fotografia e em toda a técnica envolvida. De acordo com a publicação Noções de Fotografia Aérea (1939), a “Seção Foto é o órgão incumbido de guardar e conservar o material fotográfico, de sua preparação para o voo, da realização dos trabalhos de laboratório, da identificação, inscrição e arquivo, e, muitas vezes execução das missões”. (1)

A atividade de inscrição compreende a elaboração da legenda, por meio dela, sabemos a identificação de todas as imagens desse conjunto. A legenda é composta pelos seguintes campos: número e classificação da fotografia, unidade a que pertence a Seção Foto, foco do aparelho, região fotografada, altura do voo, hora, data e flecha indicando o Norte”.(2)  As variações da classificação era a informação sobre o tipo de suporte utilizado no momento da foto, negativo rígido, de vidro, ou flexível, de nitrato. As classificações poderiam ser as seguintes: PV, para placa de vidro vertical; PO, para placa de vidro obliqua; FV, para filme vertical e; FO, para filme obliquo. As fotos verticais eram as em que o eixo ótico forma um ângulo de aproximadamente 90° com o terreno e as oblíquas, o eixo está inclinado em relação ao terreno e a linha do horizonte não aparece na fotografia. Além disso o registro fotográfico poderia ser aéreos, terrestres, de acidentes, de reprodução e identificação pessoal. O formato ou era 13 x 18 ou 18 x 24. Todos esses tipos de registros encontram-se nesse conjunto de vinte álbuns, sendo quatorze de imagens aéreas, cinco de acidentes com aeronaves e um de imagens terrestres.

A Missão Militar Francesa de Aviação (MMFAv) foi a responsável pela montagem da primeira Seção Foto da Aviação Militar com seus equipamentos e material necessário para a realização das fotografias, assim como, a revelação e tudo que envolvia a técnica da fotografia militar. A MMFAv fazia parte da Missão Militar Francesa que durou até 1940, quando a França foi ocupada pela Alemanha e os oficiais franceses tiveram que renunciar à missão e partir para a guerra. O objetivo da Missão Militar Francesa era auxiliar na instrução e modernização do Exército. A Escola de Aviação Militar do Exército foi gerida, em sua parte técnica pela Missão Militar Francesa de Aviação (MMFAv) que funcionou de forma efetiva até 1931.

Após essa breve e rápida apresentação de como as imagens eram realizadas pelas escolas de aviação, gostaríamos de contextualizá-la historicamente no Campo dos Afonsos. Usaremos como recorte temporal o uso do terreno para a atividade de aviação, 1911, até a data da realização da fotografia exposta, 1937. A imagem registra parte do que é hoje conhecido como Guarnição dos Afonsos (3), situada no bairro de Sulacap, região oeste do Estado do Rio de Janeiro.

O que está ocupado por tantas organizações militares, um dia pertenceu ao Engenho de Afonsos e posteriormente foi cedido à Polícia do Distrito Federal (1912) pelo Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Este Ministério comprou uma parte do terreno e cedeu ao primeiro aeroclube do Brasil, o Aeroclube Brasileiro, fundado em 14 de outubro de 1911. Nesse mesmo terreno, anos depois, também funcionou a Escola Brasileira de Aviação. Por dificuldades financeiras, no mesmo ano que esta escola foi inaugurada, 1914, ela também fechou as portas. Com a criação da Escola de Aviação Militar do Exército (1918), o Aeroclube Brasileiro mudou de endereço e instalou-se em Manguinhos, onde agora está localizada a Vila do João e parte da Avenida Brasil.

Nos anos da década de 1920 o Campo dos Afonsos foi conhecendo um crescimento progressivo. A quantidade de aviadores oficiais e praças cresceram. Criam-se a Esquadrilha de Aperfeiçoamento e depois o 1° Regimento de Aviação, para onde foram alocados os pilotos já formados para utilizarem as aeronaves após a formação.

Em 1927 foi criada a Arma da Aviação no Exército Brasileiro. Com o crescimento do número de aeronaves e o surgimento de novos Regimentos de Aviação por todo o país, houve a necessidade de se criar uma Unidade para realizar a manutenção do Material Aeronáutico. Em 1933, foi inaugurado o Parque Central de Aviação (PCAv), já depois da saída da Missão Francesa de Aviação.

(1) MINISTÉRIO DA GUERRA, 1939, p.43.

(2) Ibid., p.46.

(3) Trata-se de um complexo de organizações militares que estão sediadas na área do chamado Campo dos Afonsos.

 

* Fabiana Costa Dias é doutoranda pelo PPGCI/UFF e Jefferson Machado é Doutor em História Comparada pelo PPGCH/UFRJ

 

Fontes:

DIAS, F. C. Museu Aeroespacial: um museu de heróis. In: XVIII Simpósio Nacional de História, 2015, Florianópolis. Lugares dos historiadores: velhos e novos desafios. 2015. v.1. (link:

DIAS, F. C.; MACHADO, J. E. S. As transformações arquitetônicas no Campo dos Afonsos no período de 1930-1940: a fotogrametria como fonte para a história e arquitetura. In: 5º Seminário Ibero-americano Arquitetura e Documentação, 2017, Belo Horizonte.

MINISTÉRIO DA GUERRA. Noções de Fotografia Aérea (compilação de dados colhidos em diversas obras). Rio de Janeiro: Imprensa Técnica do S.T.Ae, 1939.

______. Noções de Fotografia Aérea. Rio de Janeiro: Imprensa Técnica do S.T.Ae, 1939.

UNIVERSIDADE DA FORÇA AÉREA. Campo dos Afonsos: 100 anos de história da aviação brasileira. Rio de Janeiro: Universidade da Força Aérea, 2012.