Bares e restaurantes das primeiras décadas do século XX

 

A Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores uma seleção de imagens de bares e restaurantes produzidas, em sua maioria, nas primeiras décadas do século XX, no Brasil.  A única exceção é o registro de Samuel Boote (1844-1921), Quiosque para a distribuição grátis do café do Brasil, feito durante a Exposição Continental de 1882, em Buenos Aires. Os autores das outras imagens foram Augusto Malta (1864 – 1957), Chichico Alkmim (1886 – 1978)Guilherme Gaensly (1843 – 1928), e fotógrafos ainda não identificados. Eles fotografaram estabelecimentos do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e de São Paulo.

 

 

Acessando o link para as fotografias de bares e restaurantes disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

A festa do progresso: o Brasil na Exposição Continental, Buenos Aires, 1882

 

Uma das marcas do período compreendido entre meados do século XIX e o início do século XX é a realização de exposições internacionais. Embora mais modesta do que outras mostras internacionais, no que se referia às dimensões e ao número de países participantes, a realização da Exposição Continental de Buenos Aires inseria-se nessa tendência. A historiadora Maria do Carmo Rainho, do Arquivo Nacional, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, é a autora do artigo A festa do progresso: o Brasil na Exposição Continental, Buenos Aires, 1882, que o portal publica hoje para seus leitores.

 

A festa do progresso: o Brasil na Exposição Continental, Buenos Aires, 1882

Maria do Carmo Rainho*

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Uma das marcas do período compreendido entre meados do século XIX e o início do século XX é a realização de exposições internacionais, que podem ser sintetizadas como espaços de fruição e exibição das mudanças nas técnicas, na ciência, na cultura, nos modos de produzir e consumir uma ampla gama de artigos, nas artes, na educação, bem como nas relações internacionais. Estas exposições evidenciam ainda, a tentativa de estabelecer uma espécie de ordem visual, cultural e política para o mundo. Inez Turazzi ressalta, também, para a grandiosidade dos números que cercam estes eventos.

“se incluirmos a primeira Grande Exposição Internacional de Londres de 1851 e a Exposição Universal de Paris de 1900, chegaram a ser realizadas dez grandes exposições internacionais e universais, com um público que atingiu a cifra impressionante de 172 milhões de visitantes, aproximadamente.”[1]

Estruturada em torno de pavilhões de países e regiões, as exposições exibiam, numa disposição particular, objetos que visavam representar economias e culturas. Nestes espaços criava-se uma atmosfera de progresso contínuo das nações, embora estas estivessem ali submetidas a uma hierarquia: cabiam às mais desenvolvidas os espaços centrais. Para Dussel, as nações eram elas próprias, commodities, prontas para serem consumidas.[2] Cada espaço expositivo – com seus arranjos – criava narrativas nacionais reforçadas pela obtenção de medalhas e menções honrosas; a conquista desses prêmios concedidos aos governos, instituições públicas e empresas privadas, era devidamente capitalizada em matérias e anúncios publicados pela imprensa, nos rótulos e marcas dos produtos, nos versos das carte de visite e carte cabinet.

Embora mais modesta do que as mostras internacionais, no que se referia às dimensões e ao número de países participantes, a realização da Exposição Continental de Buenos Aires[3] era uma tentativa do governo argentino de difundir ideias como a superação da Guerra da Tríplice Aliança envolvendo Argentina, Brasil e Uruguai contra o Paraguai e finalizada há pouco mais de um decênio; a aposta na paz interna e externa; o desenvolvimento das suas indústrias, para o qual concorria a presença maciça de imigrantes, com destaque para a produção do açúcar e do trigo. A própria instalação do pavilhão, um prédio em estilo art-déco, no lugar de um antigo mercado de frutas na Praça Onze de Setembro, situado no que era, até então, um subúrbio miserável, se insere no projeto de vender a imagem de uma nação moderna, desenvolvida e com uma capital que, desde o início da administração de Torcuato de Alvear (1868 – 1942), em 1880, primava pela intervenção urbana, com a expropriação de lojas, abertura de largas avenidas, e expulsão dos moradores de cortiços das áreas centrais de Buenos Aires.

Acessando o link para as fotografias da Exposição Continental de Buenos Aires de 1882 que estão disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Inaugurada em 15 de março de 1882, no Palácio da Exposição,[4] o evento contou com a presença do presidente da República Argentina, Julio Roca (1843 – 1914), de ministros, do presidente da municipalidade da capital e de um grande contingente de visitantes,[5] ensejando um feriado, decoração com bandeiras e galhardetes e uma iluminação especial nas ruas do entorno, além da realização de parada militar. Lojas e estabelecimentos públicos e privados não funcionaram e coube à orquestra do Teatro Colón executar o hino nacional. Até 23 de julho daquele ano, cerca de 50 mil pessoas tiveram acesso a cem mil objetos, exibidos por 2 mil expositores estrangeiros e 1.200 argentinos. Do total de 27,370 m2, 18,240m2 eram ocupados por galerias cobertas e 3,680 m2 por quiosques. Quanto à utilização dos espaços pelos expositores, à cidade de Buenos Aires, por exemplo, cabiam 2.800m2, ao Uruguai, 1.500m2, ao Brasil, 500m2, ao Chile 300 m2, ao Paraguai 300m2, à Venezuela 100m2, e ao México 50 m2.

Com relação à afluência do público, dados publicados pela Gazeta de Notícias apontam que entre 2.000 e 4.000 pessoas visitaram a exposição nos dias de semana e de 8 a 9 mil aos domingos; quase 50% eram crianças em passeios promovidos pelas escolas.

A participação brasileira na Exposição ficou a cargo da Associação Industrial, órgão criado em 1880 e que teve como primeiro presidente o médico e empresário do setor têxtil Antônio Felício dos Santos (1843 – 1931). Dentre as primeiras pautas defendidas pela entidade estavam: a defesa de uma política alfandegária protecionista, a atração de mão de obra e capitais estrangeiros, o estímulo à criação de empregos, a necessidade de livrar o Brasil da dependência da economia agrícola e a busca pelo equilíbrio da balança comercial.

Com vistas a escolher os produtos a serem exibidos em Buenos Aires, a Associação organizou uma exposição preparatória[6], no Rio de Janeiro, em dezembro de 1881, no edifício do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Para tanto, concedeu aos interessados das outras províncias o transporte gratuito do material bem como o espaço expositivo. Outra iniciativa do órgão, divulgada continuadamente no jornal O Industrial, era um chamado às “senhoras” para que concorressem com trabalhos que fossem “dignos de ser expostos” tanto na Exposição da Indústria Nacional, quanto na Exposição Continental de Buenos Aires.[7]

O diretor da Academia de Belas Artes, Antonio Nicolau Tolentino (1810 – 1888), e o diretor da Escola Politécnica,  Inácio da Cunha Galvão (1921 – 1906), também foram convocados a colaborar com os eventos, encaminhando a produção de alunos e professores nas áreas de pintura, estatuária e das ciências. No mesmo sentido, correspondências foram encaminhadas aos dirigentes de instituições como o Museu Nacional, a Imperial Academia de Medicina, o Instituto da Ordem dos Advogados, a Imperial Sociedade Tipográfica Fluminense, dentre outras.

Em 1º de abril de 1882, foi inaugurada a seção brasileira na Exposição de Buenos Aires. No discurso de abertura, um dos membros da Comissão Nacional, Manoel Diego dos Santos, ressaltou que, diferente da participação em exposições anteriores, pautada pela exibição de suas riquezas naturais, naquela ocasião, o Brasil visava a exibir a sua indústria.[8]

Nessa direção, os registros do fotógrafo Samuel Boote (1844-1921)[9] sobre a participação brasileira são interessantes porque constituem uma espécie de síntese daquilo que os organizadores brasileiros – industriais – intentavam mostrar na Argentina, os modos como os produtos, máquinas e equipamentos, trabalhos manuais e fotografias foram expostos, mas, sobretudo, a memória que se desejou conformar. Embora não tenham sido localizados documentos acerca da contratação de Boote para a realização do trabalho, entende-se que ele foi comissionado para registrar as seções brasileiras, posto que organizou um álbum com 25 fotografias que foi entregue a autoridades brasileiras e estrangeiras; onze dessas imagens podem ser encontradas no Arquivo Nacional.[10] O primeiro aspecto que chama a atenção é o fato das fotografias terem sido produzidas, em sua maioria, sem os visitantes ou expositores. Do mesmo modo, não são registradas as autoridades brasileiras nem os representantes das empresas e instituições participantes. Uma exceção é a fotografia dos Jardins onde se acha a Coleção de Plantas de Lourenço Hoyer. Nela, homens em grupos ou sozinhos – apenas homens – posam portando a indumentária típica daquela época e dos sujeitos das camadas médias e altas: casaca, cartola, coletes, cores, em sua maioria, escuras, o indefectível relógio de bolso. Barbas e bigodes complementam o parecer masculino tido como elegante.

 

 

Se a exuberante natureza brasileira parece subsumida nas outras seções, face ao destaque dado à indústria, o jardim postado em frente ao quiosque de distribuição gratuita de café[11]  em estilo mourisco é, ao mesmo tempo, moldura, cenário para a entrada nas salas do evento e também prova de uma natureza domesticada. Não à toa, a organização desse espaço coube a Lourenço Hoyer, experiente horticultor, premiado em 1876, com a medalha de ouro, por suas plantas ornamentais em exposição realizada em Petrópolis no local que daria origem ao Palácio de Cristal.

 

 

Alguns outros espaços expositivos receberam vasos de plantas como o Troféu de cerâmica, com suas estatuetas, vasos, telhas, tijolos e um volume com o título de Bom Jardim.

 

 

A expectativa em torno daquilo que as indústrias brasileiras apresentariam, alimentada pela imprensa local, ganhou fôlego com o fato de o Brasil ter demorado a inaugurar sua participação. Com os itens em expostos, o periódico La Patria Argentina, por exemplo, ressaltava aqueles em ferro, madeira, além dos tecidos e produtos de higiene e farmacêuticos. Sabões, vidros com preparações e medicamentos ganharam destaque na imagem intitulada Vista do primeiro compartimento da esquerda. A qualidade das chamadas “elaborações químicas” brasileiras, como a Flora Brasileira, de Eugenio Marques de Holanda, aliás, mereceu a atenção dos jornalistas.[12]

 

 

Sobre a produção industrial, as imagens registram tanto uma miscelânea de produtos como deixa claro o título de Compartimento geral – Várias indústrias, na qual são vistos de ferros de passar roupa a ferraduras, até os espaços integralmente dedicados aos transportes e a uma empresa específica, como a Companhia de Carris Urbanos,[13] na legenda identificada como Companhia de Carros Urbanos.

 

 

 

O espaço concedido ao fumo, ao café e aos tecidos, evidencia alguns dos mais relevantes produtos nacionais. Sobre os tecidos, em especial, é importante lembrar que, naquele ano de 1882, existiam, no Brasil, cerca de 50 fábricas, produzindo 20 milhões de metros anualmente.  Apesar disso, soa quase como uma ironia, que o Brasil dedicasse um lugar especial aos tecidos de lã justamente no país que era o seu principal produtor na América do Sul, embora possuísse apenas uma fábrica de lanifícios, que, aliás, nem integrava o evento.

 

 

Conforme prometido pela direção da Associação Industrial, na Exposição Continental de Buenos Aires, montou-se também uma seção específica para os trabalhos de senhoras, na qual se viam, entre outros, almofadas bordadas, lenços e toalhas com monogramas, arranjos florais expostos em caixas, fotografias emolduradas. Os sentidos do que se entendia por “trabalhos de senhoras” pode ser depreendido no texto publicado no jornal O Industrial sobre a Exposição do Rio de Janeiro: o termo aparece associado a adjetivos como “mimo de delicadeza, perícia e bom gosto, como só os sabem ter as senhoras”; “são a delicadeza dando mão à força, a graça mesclando-se aos artefatos da indústria. Tal o seu direito de presença na nossa Exposição.”[14] O “direito de presença” dos artefatos produzidos e escolhidos pelas senhoras da boa sociedade, ao mesmo tempo em que evidenciava que o trabalho para essas mulheres era sinônimo de lazer, sempre associado às atividades manuais e às habilidades que delas se esperavam, deixava claro o papel desempenhado por esses produtos nas exposições: eram enfeites, uma espécie de respiro face à seriedade dos aparelhos, máquinas, produtos agrícolas e a tudo o que relacionava ao universo masculino. Da mesma forma, deixava invisíveis as mulheres que efetivamente trabalhavam, desde as empregadas nas indústrias de calçados e ateliês de modas até os contingentes maciços nas indústrias têxteis, aquelas que forneciam para as senhoras, os linhos e algodões a serem bordados e expostos.

 

 

A exposição se encerra com a concessão de 268 prêmios ao Brasil: 28 medalhas de ouro; 76 de prata; 94 de bronze; 70 menções honrosas: das fotografias registradas por Marc Ferrez e Guimarães às casacas da Imperial Alfaiataria Águia de Ouro; do Brasil Industrial, por seus tecidos de algodão ao Arsenal de Marinha da Corte pelos trabalhos de serraria; da cama de ferro da Casa de Correção aos fumos em pacotinhos de José Francisco Correa.

Como lembra Andermann, “frente às alegorias monumentais montadas nas exposições universais, nas quais Argentina e Brasil eram celebrados como depósitos exóticos de riqueza em um estado de disponibilidade pura e imaculada, as exposições nacionais inventaram uma linguagem material de revelações profanas que permitiam vislumbrar um modo de inserção diferente na emergente economia mundial capitalista.”[15] Nas palavras de Henrique Hargreaves, referindo-se à Exposição Continental de 1882, aquela era a “festa do progresso”, que colocava o Brasil num lugar de destaque na economia do continente e que, ainda segundo ele, valeu mais do que vinte anos de notas diplomáticas.[16]

 

*Maria do Carmo Rainho é Doutora em História (UFF) | Pesquisadora do Arquivo Nacional e do Museu Histórico Nacional

 

[1] TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo (1839-1889). Rio de Janeiro: Funarte/Rocco, 1995, p. 37.

[2]  DUSSEL, Inés. The spetacle of schooling and the construction of the nation in Argentina´s participation in world exhibitions (1867-1889). In: Modelling the future: exhibitions and the materiality of education, Martin Lawn (ed.). Oxford: Symposium Books, 2009, p. 130.

[3] Esta exposição foi a segunda realizada na Argentina – antes dela, apenas a de Córdoba, em 1871 – e a quarta da América do Sul, após a mencionada de Córdoba, a de Lima (Peru, 1872) e a de Santiago (Chile, 1875).

[4] Demolido imediatamente após o término da Exposição, como era comum aos edifícios construídos para os eventos desta natureza.

[5] Conforme a Gazeta de Notícias, de 15 a 20 mil pessoas teriam participado do evento de abertura da exposição, circundando o Palácio da Exposição para assistir à parada militar. Gazeta de Notícias, 26 de março de 1882. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=103730_02&pasta=ano%20188&pesq=Exposi%C3%A7%C3%A3o%20Continental Acesso em 14 de março de 2018.

[6] Jorge Henrique Leuzinger, filho do fotógrafo e editor George Leuzinger, na qualidade de secretário da Associação e organizador da exposição, chegou a trabalhar com recursos próprios para o sucesso da iniciativa. Uma de suas iniciativas foi a manutenção do jornal O Industrial, bancado pela Casa Leuzinger. TURAZZI, Maria Inez, op. cit., p. 149.

[7] Para a escolha destes itens foi constituída uma Comissão integrada pela condessa da Estrela, a baronesa de Canindé, Maria Amanda Paranaguá Dória, Maria Ambrosina da Mota Resende e Ana Machado Pena O Industrial, órgão da Associação Industrial, ano 1, nº 18, 15 de setembro de 1881. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=308129&PagFis=33&Pesq=Exposi%C3%A7%C3%A3o%20Continental Acesso em 16 de março de 2018.

[8] Gazeta de Notícias, 10 de abril de 1882. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=103730_02&pasta=ano%20188&pesq=Exposi%C3%A7%C3%A3o%20Continental Acesso em 12 de março de 2018.

[9] A escolha de Boote, aliás, merece atenção, pelo que ele viria a significar na história da fotografia na Argentina. Juntamente com seu irmão mais novo, Arturo (1861-1936), Samuel Boote (1844-1921) foi o proprietário do maior estúdio fotográfico de Buenos Aires e fez registros para álbuns e postais no período compreendido entre as últimas décadas do século XIX e o início do século XX. Seu trabalho era especialmente requerido por indústrias inglesas (do ramo das ferrovias) e agências governamentais. Ele foi também um dos maiores editores de álbuns fotográficos daquele país, com registros de paisagens, tipos e costumes, eventos, construção de estradas de ferro e investimentos em infraestrutura. Em 1884 Samuel Boote organizou o álbum fotográfico Vistas de Buenos Aires; entre 1885 e 1888, documentou as linhas férreas nas províncias de Santa Fé e Buenos Aires; posteriormente, em 1888, o Conselho Nacional de Educação contratou-o para registrar as escolas públicas recém-criadas em Buenos Aires com o objetivo de exibir as imagens em Paris, na Exposição Universal de 1889. Além do equipamento fotográfico, o ateliê de Boote possuía uma oficina de impressão onde eram produzidos os álbuns.

[10] Uma análise mais acurada do álbum deve levar em consideração, além dos elementos formais da produção das imagens, a escolha daquelas que o compõem e a hierarquia a que obedecem, em outras palavras, a ordem em que são apresentadas. Um estudo sobre a circulação mesma dessas imagens também se mostra fundamental. Contudo, as fotografias que se encontram no Arquivo Nacional não estão encadernadas, impossibilitando este tipo de abordagem.

[11] O Brasil era, então, o maior produtor mundial de café.  A iniciativa de oferecê-lo aos visitantes gratuitamente em um espaço especial teve início na Exposição de Buenos Aires e continuou nas exposições seguintes.

[12] Na edição de 4 de junho de 1882 a Gazeta de Notícias transcreve matéria de A Patria Argentina sobre  o farmacêutico que aponta quatro aspectos relevantes de sua seção na Exposição: a exibição de matérias primas do Brasil;  sua elaboração como indústria; sua aplicação à medicina e, a importação de um produto novo para aquele país. A empresa acabaria sendo agraciada com a Medalha de Honra pela exibição de seus produtos farmacêuticos no evento. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=103730_02&pasta=ano%20188&pesq=Exposi%C3%A7%C3%A3o%20Continental Acesso em 16 de março de 2018.

[13] A Companhia ligava a área central do Rio de Janeiro aos terminais de barca e ferrovias, ponto de embarque e desembarque de mercadorias. Atuava mais no serviço de cargas do que no de passageiros. WEID, Elizabeth von der. O bonde como elemento de expansão urbana no Rio de Janeiro.  Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa. Disponível em http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/o-z/FCRB_ElisabethvonderWeid_Bonde_elemento_expansao_RiodeJaneiro.pdf  Acesso em 19 de março de 2018.

[14] O Industrial, órgão da Associação Industrial, ano 1, nº 31, 15 de dezembro de 1881. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=308129&pasta=ano%20188&pesq=se%C3%A7%C3%A3o%20de%20trabalhos%20de%20senhoras  Acesso em 14 de março de 2018.

[15] ANDERMANN, Jens. Contienda de valores: Argentina y Brasil em la edad de las exposiciones. Cadernos de Literatura, Bogotá, nº 13, jul-dez., 2008, (190-224) p. 220.

[16] Discurso proferido por Hargreaves, membro da Associação Industrial em homenagem a Nicolau Avellaneda, presidente honorário da Exposição Continental de Buenos Aires, em evento realizado na mencionada Associação, no Rio de Janeiro, em 11 de agosto de 1882. Gazeta de Notícias, 12 de agosto de 1882. Disponível em  http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=103730_02&pasta=ano%20188&pesq=Exposi%C3%A7%C3%A3o%20Continental Acesso em 12 de março de 2018.

 

 Pequena cronologia da Exposição Continental de Buenos Aires

 

 

1881

Setembro – Transcrição de uma carta do naturalista e diretor do Museu Nacional do Brasil, Ladislau Neto (1838 – 1894), sobre a realização da Exposição Continental de Buenos Aires (Gazeta de Notícias, 13 de setembro de 1881, primeira coluna).

Uma comissão de senhoras brasileiras, dentre elas a baronesa de Loreto, Maria Amanda Paranaguá Dória (1849 – 1931), uma das maiores amigas da princesa Isabel (1846 – 1921), envolvem-se na organização da exposição (Gazeta de Notícias, 24 de setembro de 1881, primeira coluna).

Dezembro – Visando a escolher os produtos a serem exibidos em Buenos Aires, a Associação organizou uma exposição preparatória no edifício do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Para tanto, concedeu aos interessados das outras províncias o transporte gratuito do material bem como o espaço expositivo.

1882

Março – Notícia da inauguração da Exposição Continental de Buenos Aires, ocorrida em 15 de março. Na ocasião, discursaram o presidente da República, Julio Roca (1843 – 1914), e o presidente do Club Industrial, o ex-presidente da Argentina Nicolau Avellaneda (1837 – 1885). Foi decretado feriado nacional no país. A seção brasileira ainda não estava concluída (Gazeta de Notícias, 16 de março de 1882, quarta coluna, 26 de março de 1882, segunda coluna, 27 de março de 1882, última coluna, 29 de março de 1882 e 6 de abril de 1882, última coluna).

Abril – A seção brasileira foi inaugurada em 1º de abril. Manoel Diego dos Santos, presidente da comissão brasileira fez o discurso de abertura:

‘Os industriais do Brasil abrem as portas de sua seção que conservaram até hoje fechada por causas estranhas à sua vontade. Não encontrareis entre nossos produtos galas deslumbrantes, mas sim a expressão exata de nossa produção ordinária. Até agora o Brasil apareceu em todas as exposições ostentando suas riquezas naturais, hoje é a indústria brasileira que aparece com seus modestos produtos a submeter-se ao julgamento de seus irmão da América…’ (Gazeta de Notícias, 10 de abril de 1882, sexta coluna). O hino argentino foi tocado e o presidente da Exposição, sr. Urien, proferiu um discurso declarando aberta a seção brasileira e o hino brasileiro foi executado.

Houve um princípio de incêndio na seção brasileira (Gazeta de Notícias, 15 de abril de 1882, primeira coluna).

O presidente da comissão brasileira, Manoel Diego dos Santos, voltou ao Brasil (Gazeta de Notícias, 26 de abril de 1882, quinta coluna).

Foi noticiado que a indústria brasileira havia ficado em primeiro lugar na Exposição Continental de Buenos Aires (Revista Illustrada, abril de 1882).

Junho – Destaque na Casa Hollanda, de Eugênio Marques de Holanda, que exibiu matérias-primas do Brasil, sua elaboração industrial e sua aplicação à medicina (Gazeta de Notícias, 4 de junho d 1882, primeira coluna). Ganhou a medalha de honra (Gazeta de Notícias, 19 de julho de 1882, primeira coluna).

Julho – Notícia sobre os prêmios conquistados por estabelecimentos brasileiros: medalha de prata para a Tipografia Nacional e prêmios de honra para o sr. Braga, pelos seus chapéus; para o Laboratório Pirotécnico, para a Imperial Fábrica de Ipanema, para a Brazil Imperial, por seus tecidos de algodão; para o Arsenal de Marinha no Rio de Janeiro, para Guimarães por suas fotografias esmaltadas; e para a Repartição dos Telégrafos (Gazeta de Notícias, 10 de julho de 1882, segunda coluna). Foram anunciados mais prêmios para estabelecimentos brasileiros (Gazeta de Notícias, 15 de julho de 1882, sexta coluna20 de julho de 1882, sexta coluna23 de julho de 1882, primeira coluna).

Além do fotógrafo português José Ferreira Guimarães (1841 – 1924), foram premiados, segundo informações dada em anúncio, o retratista português Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912)  e Marc Ferrez (1843 – 1923). Este último participou com as fotografias apresentadas na Exposição da Indústria Nacional do ano anterior (1881) e foi agraciado com uma medalha de prata e com um prêmio ao mérito.

A Casa Leuzinger participou do evento.

Em 23 de julho de 1882, a Exposição Continental foi encerrada. Foi vista por cerca de 50 mil visitantes (Gazeta de Notícias, 24 de julho de 1882, segunda coluna). Ao Brasil foram concedidos 268 prêmios: 28 medalhas de ouro; 76 de prata; 94 de bronze; e 70 menções honrosas.

Em sinal de gratidão por seu empenho na realização da Exposição Continental, o cônsul do Brasil na capital argentina, João Adrião Chaves (18? – 1890), recebeu da comissão brasileira do evento, cujo presidente era José Pereira Rego Filho, um álbum com 25 fotografias das seções da mostra (Gazeta de Notícias, 13 de outubro de 1882, terceira coluna).

Henrique Leuzinger (1845 -1908), filho de Georges Leuzinger (1813 – 1892) e secretário da Associação Industrial, enviou à redação da Revista Illustrada, a coleção de fotografias da seção brasileira da exposição continental de Buenos Aires dentro de uma rica pasta (Revista Illustrada, julho de 1882),

 

Obs: Na Biblioteca Nacional, há o livro Exposição Continental de Buenos Aires 1882 – Seção Brasileira, com 24 fotografias de Samuel Boote (1844 – 1921).

 

samuel

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ANDERMANN, Jens. The History Show at the Continental Exhibition of 1882 and the National History Museum at Buenos Aires

El arcon de la historia argentina

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839/1889. Prefácio Pedro Karp Vasquez. Rio de Janeiro: Funarte. Rocco, 1995. 309 p., il. p&b. (Coleção Luz & Reflexão, 4). ISBN 85-85781-08-4.

 

Links para os artigos sobre exposições nacionais ou internacionais publicados na Brasiliana Fotográfica

O pintor Victor Meirelles e a fotografia na II Exposição Nacional de 1866, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 17 de agosto de 2017.

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, Museu da República, publicado em 5 de abril de 2018.

Marc Ferrez, a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de junho de 2018.

Paris, 1889: o álbum da exposição universal, de autoria de Claudia B. Heynemann, Arquivo Nacional,publicado em 27 de julho de 2018.

Café Brasil: o Império na Exposição Internacional de Filadélfiade autoria de Claudia B. Heynemann, Arquivo Nacional, publicada em 4 de dezembro de 2019.

Festa das Artes e da Indústria Segunda Exposição Nacional, 1866, de autoria de Claudia Beatriz Heynemann e Maria Elizabeth Brêa Monteiro, Arquivo Nacional, em 5 de abril de 2020.

A apresentação do Departamento Nacional de Saúde Pública na Exposição Internacional do Centenário da Independência, de Ricardo Augusto dos Santos, Fiocruz, publicado em 13 de abril de 2020.

A Exposição Internacional de Higiene de Dresden, de Cristiane d´Avila, Fiocruz, publicado em 5 de janeiro de 2022.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 7 de setembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Três álbuns fotográficos da Exposição Nacional de 1908 no Museu Histórico Nacional: Boscagli, Malta e Musso, de autoria de Maria Isabel Ribeiro Lenzi, historiadora do Museu Histórico Nacional, publicado em 25 de agosto de 2023, na Brasiliana Fotográfica.