Cronologia de Antoine Hercule Romuald Florence (1804 – 1879)
1804 - Antoine Hercule Romuald Florence nasceu, em Nice, na França, em 29 de fevereiro, quinto filho de um médico militar nascido em Toulouse, Arnaud Florence (1749 – 1807), e de Augustine de Vegnalys (1768 – 1857), de Mônaco. Eles se casaram em 2 de março de 1793 e tiveram seis filhos: Claudine-Herculine (1794 – 1796), Jean-Baptiste (1796 – 1799), Antoine Fortuné (1799 – 1865), Emmanuel (1802 – ?), Antoine Hercule (1804 – 1879) e Célestine (1805 – ?). Com exceção de Claudine-Herculine, que nasceu em Mônaco, todos os filhos do casal nasceram em Nice.
1807 - Mudou-se com a família para Mônaco.
c. 1818 - Trabalhou como desenhista e calígrafo, recebendo encomendas das autoridades de Mônaco.
1820 – Dedicou-se ao estudo de Matemática e Física
1821 – Idealizou uma bomba para puxar água que denominou de nória hidrostática.
1822 - Foi para Nice, onde apresentou-se ao cônsul francês com o intuito de alistar-se na Marinha Real Francesa. Embarcou na galeota francesa La Torche que seguiu para a cidade de Toulon.
1823 - A bordo do navio Marie Thérèze, trabalhou a bordo como copista de plantas das fortificações espanholas.
A fragata permaneceu ancorada por aproximadamente quatro meses em Toulon. Durante este período, Florence realizou exercícios de desenho e alguns retratos.
Em 31 de julho, foi expedido seu passaporte pelo Principado de Mônaco.
1824 - Chegou ao Rio de Janeiro, em abril, a bordo do Marie Thérèze sob o comando do capitão Claude du Camp de Rosamel. O navio partiu do Rio de Janeiro em 1º de maio de 1824 (Império do Brasil – Diário do Governo, 5 de maio de 1824, segunda coluna).
Começou a trabalhar como caixeiro numa casa comercial especializada em roupas, do francês Pierre Dillon, antigo secretário da Missão Artística de Joachim Le Breton (1760 – 1819).
1825 - Trabalhou por cerca de quatro meses na livraria e tipografia do francês Pierre Plancher (1764 – 1844) sendo responsável pela execução de diversas litografias. A tipografia ficava na rua do Cano, nº 113 (Spectador Brasileiro, 4 de julho de 1825).
Como segundo desenhista, Florence integrou-se à expedição científica de Georg Heinrich von Langsdorff (1774 – 1852). O primeiro desenhista era Adrien Taunay (1803 – 1828) que, durante a expedição, morreu afogado quando tentava atravessar a cavalo o rio Guaporé, em Mato Grosso – ele havia substituído Johan Moritz Rugendas (1802 – 1858), que havia participado da expedição entre 1821 e 1824.
Em 3 de setembro, partiu a bordo da sumaca Aurora, juntamente com Langsdorff, Adrien Taunay , o astrônomo e oficial da marinha russa Nester Rubtsov (1799 – 1874), o zoólogo Christian Hasse (1771 – 1831) e o botânico Lüdwig Riedel (1791 – 1861), tendo como destino a Vila de Santos. Depois de permanecer por aproximadamente 20 dias na cidade separou-se dos demais membros da expedição e seguiu numa piroga para Cubatão. Durante a viagem executou desenhos do litoral paulista (Império do Brasil: Diário Fluminense, 1825).
Em Itu, conheceu as obras do frei Jesuíno do Monte Carmelo (1764 – 1819) e também as decorações feitas por José Patrício da Silva Manso (c. 1753 – 1801).
1826 – Passou cinco meses na casa do médico e político Francisco Álvares Machado e Vasconcellos (1791 – 1846), em Porto Feliz, quando conheceu sua filha, Maria Angélica (1815 – 1850), com quem viria a se casar, em 1830.
Em 22 de junho, partida da Expedição Langsdorff do porto no Rio Tietê, em Porto Feliz, para o norte do Brasil. Um dos organizadores da viagem foi Francisco Álvares Machado e Vasconcellos. Percorreu os rios Tietê, Paraná, Pardo, Coxim, Taquari, Paraguai, São Lourenço, Cuiabá, Preto, Arinos, Juruena, Tapajós e Amazonas. Retornou de Belém, pela costa brasileira, até chegar ao Rio de Janeiro, em 10 de março de 1829. O diário de bordo feito por Florence, Esboço da Viagem feita pelo Sr. Langsdorff ao interior do Brasil, desde setembro de 1825 até março de 1829, foi traduzido pelo visconde de Taunay (1843 – 1899) e publicado em 1875, pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, sendo que, posteriormente, com o título Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas – 1825- 1829, teve várias edições comerciais.
1829 - De volta ao Rio de Janeiro, Florence, como parte de suas Memórias, escreveu os manuscritos de seu tratado intitulado Zoophonia.
Deu à família de Adrien Taunay (1803 – 1828), o diário que escreveu durante a expedição Langsdorff.
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Convidado por seu amigo, o médico e político Francisco Álvares Machado e Vasconcellos (1791 – 1846), fixou residência na Vila de São Carlos, atual Campinas.
1830 - Passou a dedicar-se aos estudos de impressão com o intuito de publicar seu tratado sobre Zoophonia e cerca de 200 desenhos executados durante a expedição. Nesse processo, descobriu uma nova maneira de obter a impressão, que recebeu o título de Polygraphie – Poligrafia.
No dia 04 de janeiro de 1830, na Igreja da Sé em São Paulo, casou-se com Maria Angélica Vasconcellos, natural de Itu, filha de Francisco Alvares Machado e Vasconcellos. O casal teve 13 filhos, todos nascidos em Campinas: Amador Bueno (1831 – ?), Celestina (1832-?), Adelaide (1834 – 1834), Francisco (1835 – 1836), Francisco, que faleceu em 25 de novembro de 1836; Francisco (1837 – 1904), Cândida (1839- 1901), Antônio Hércules (1841 – 1916), Arnaldo (1843 – 1845), Angélica (1844 – ?), Arnaldo (1846 – 1872), Paulo (1847 – ?) e Ataliba (1849 – 1849).
Florence, identificado como pintor retratista, residia na rua das Flores, 53. Anunciou aulas de pintura em sua casa ou nas casas das alunas. Também anunciou a venda de retratos de alguns deputados e de vistas de Itu e do Salto de Itu por preços cômodos (O Farol Paulistano, 8 de junho de 1830, na segunda coluna).
Redigiu entre os meses de julho e outubro o manuscrito Etudes de Ciels, À L’usage des jeunes paysagistes.
1831 – A tipografia R. Orgier, no Rio de Janeiro, publicou o manuscrito do tratado de Zoophonia, Recherche sur la voix des animaux, ou essai d’un nouveau suject d’ètudes, offert aux amis de la nature.
‘Mineralogia é estudo da natureza passiva.
Zoologia é estudo da natureza ativa.
Zoofonia é estudo da natureza falante’.
1870 – Escreveu um texto sobre seus trabalhos artísticos e científicos, a pedido do advogado de Campinas, Manuel Ferraz de Campos Sales (1841 – 1913), futuro presidente do estado de São Paulo, de 1896 a 1897, e quarto presidente da República, entre 1898 e 1902.
1871 - Florence garantia a superior qualidade do café vendido na loja do srs. Monteiro & Filho. Para isso, cada bote de libra era revestido por uma marca inimitável (Gazeta de Campinas, 2 de março de 1871, primeira coluna).
No relatório realizado por João Pedro Carvalho de Moraes para o Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, foi feita uma descrição da Fazenda Soledade, de Florence. Foi destacada a lealdade de Florence a seus colonos (Jornal do Pará, 13 de maio de 1871, segunda coluna).
Foi anunciado que Florence havia achado o meio de de tornar o óleo de rícino secativo a ponto de se poder empregar na pintura a óleo, em quadros históricos, retratos e paisagens (Correio Paulistano, 15 de dezembro de 1871, primeira coluna).
1872 – Matéria sobre os Typos-syllabas, afirmando a autoria do invento por Florence, em 1848 (Correio do Brazil, 14 de maio de 1872, segunda coluna).
Florence foi listado como lavrador de 1ª classe e deveria contribuir com 30$000 para a construção da matriz nova de Campinas (Gazeta de Campinas, 31 de outubro de 1872, primeira coluna).
1873 – Em reunião do Conselho Administrativo da Sociedade Auxiliadora da Indústria, um de seus membros, o sr. Pinto Junior, apresentou algumas mostras do papel inimitável produzido por Hercule Florence, a quem se referiu como um homem muito distinto pelo seu reconhecido e provado talento e gênio investigador... (O Auxiliador da Indústria Nacional, 1873).
Estava na lista de lavradores do estado de São Paulo (Almanak da Província de São Paulo, 1873).
O sítio de Florence & Filhos estava contratando colhedores de café. Também foi anunciado que no sítio ensinava-se a juntar as folhas com a ajuda de um ancinho (Gazeta de Campinas, 10 de julho de 1873, e Gazeta de Campinas, 31 de julho de 1873, primeira coluna).
Florence pedia dispensa do pagamento de uma multa por não ter varrido a frente de sua casa do largo da Matriz de Santa Cruz. Alegava que ignorava essa obrigação por residir em um sítio e não na casa (Gazeta de Campinas, 19 de outubro de 1873, primeira coluna).
1875 – Florence foi listado como lavrador de 2ª classe e deveria contribuir com 80$000 para a construção da matriz nova de Campinas (Constitucional, 13 de fevereiro de 1875, última coluna).
Alfredo d’Escragnolle Taunay (1843 – 1899) traduziu o diário de Florence, Esboço da Viagem feita pelo Sr. Langsdorff ao interior do Brasil, desde setembro de 1825 até março de 1829, originariamente escrito em francês, publicando-o na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro. Taunay encontrou o diário por acaso, entre papeis de sua família. Na verdade, Florence, em 1829, havia dado de presente à família Taunay suas anotações. Adrien Taunay (1803 – 1828), tio de Alfredo Taunay, havia feito parte da expedição Langsdorff como primeiro desenhista e morrido afogado, em 1828 (Diário de São Paulo, 10 de outubro de 1875, quinta coluna).
Florence deveria pagar imposto predial referente a um imóvel na rua Direita, em Campinas (Constitucional, 15 de dezembro de 1875, segunda coluna).
1876 – Florence foi visitado, em Campinas, por d. Pedro II (1825 – 1891).
O aparecimento de notas falsas motivou Florence a reapresentar seu invento de papéis inimitáveis (Diário do Rio de Janeiro, 23 de junho de 1876, primeira coluna).
1877 - Foi admitido como sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, no Rio de Janeiro, tendo apresentado o trabalho intitulado Esboço da viagem feita pelo Sr. De Langsdorff no interior do Brasil, desde setembro de 1825 até março de 1829.
1879 – Morreu, às 3 horas da tarde, acometido por uma cruel enfermidade, em 27 de março, em Campinas. Hercule Florence era o tipo completo do homem probo e devotado à religião do trabalho. O féretro saiu da casa em que residia ao largo de Matriz Velha – Praça Bento Quirino, n. 20 – às 5 horas da tarde do dia seguinte. Foi sepultado no Cemitério Municipal de Campinas, Cemitério da Saudade, sepultura 247 da primeira divisão, quadra n. 10. , e seu enterro foi extraordinariamente concorrido (Correio Paulistano, 29 de março de 1879, terceira coluna, e Gazeta de Notícias, 30 de março de 1879, última coluna).
1900 - Publicação de Hércules Florence: Ensaio Histórico Literário, de autoria do jornalista Estevão Leão Bourroul (1859 – 1914), pela Tipografia Andrade Mello, de São Paulo.
1908 – No artigo A litografia no Brasil, publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, vol. XIII, de 1908, seu autor, o jornalista Estevão Leão Bourroul (1859 – 1914), atribuiu a Florence a fundação do primeiro estabelecimento litográfico no Brasil, em 1825 (Revista Brasileira, dezembro de 1943).
1963 - Inauguração, em Campinas, de um busto de Hercule Florence, executado pelo escultor Larroca.
1972 / 1976 – O método fotográfico de Florence foi comprovado cientificamente pelo pesquisador brasileiro e emérito historiador da fotografia brasileira Boris Kossoy (1941 – ), entre 1972 e 1976. Em meados de 1976, foi testado, com sucesso, nos laboratórios do Rochester Institute of Technology, nos Estados Unidos, sob a chefia do professor Thomas Hill. Em outubro do mesmo ano, a pesquisa de Kossoy foi apresentada no III Simpósio da História da Fotografia, na George Eastman House, em Rochester. Foi a partir da pesquisa e do teste realizados por Kossoy, aos quais se seguiu a publicação, pelo pesquisador brasileiro, do livro “1833: a Descoberta Isolada da Fotografia no Brasil” (1980), que Hercule Florence tornou-se internacionalmente conhecido.
2019 – Publicado nos Anais do Museu Paulista de dezembro de 2019 o artigo Revelando Hercule Florence, o Amigo das Artes: análises por fluorescência de raios X. A física Márcia de Almeida Rizzutto, coordenadora do NAP-Faepah, atestou, com a ajuda do método conhecido como fluorescência de raios X por dispersão de energia (ED-XRF) para detectar a presença de elementos químicos que os manuscritos de Florence descrevem fielmente os processos de produção fotográfica por ele testados em 1833. Segundo Boris Kossoy, “é a comprovação física daquilo que já se sabia do ponto de vista químico”.*
Andrea C. T. Wanderley
Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica