A Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro

A Brasiliana Fotográfica destaca fotografias da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro produzidas por Augusto Malta (1864 – 1957), Juan Gutierrez (c.1860 – 1897), Marc Ferrez (1843 – 1923), Revert Henrique Klumb (c.1826 – c. 1886) e S.H. Holland (1883 – 1936).

 

 

Acessando o link para as fotografias da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Apesar de haver discordâncias em torno do ano de sua fundação, os historiadores concordam que a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro foi criada em meados do século XVI e teve forte influência do padre José de Anchieta (1534 – 1597), que a teria fundado ou  ampliado. Em 1967, a data de fundação foi oficialmente fixada em 24 de março de 1582.

 

 

Permanece no mesmo endereço: rua de Santa Luzia, inicialmente nº 2 e, atualmente, nº 206. Era regida pela Santa Casa de Lisboa, criada, em fins do século XV, pelo frei espanhol Miguel de Contreiras (1431 – 1505) com o apoio da rainha Dona Leonor (1458 – 1525), esposa do rei João II de Portugal (1455 – 1495). Tinha como objetivos acolher os presos, alimentar os pobres, curar os doentes, asilar os órfãos, sustentar as viúvas, enfim, ser a casa a serviço dos mais carentes, desassistidos e abandonados.

 

 

Foi durante a gestão de José Clemente Pereira (1787 – 1854) como provedor da Santa Casa, entre 1838 a 1854, que foi construído o complexo atual – hospital e capela – que está na rua Santa Luzia, 206. Com a presença de dom Pedro II (1825 – 1891), a pedra fundamental foi lançada, em 2 de julho de 1840, e a construção foi iniciada no ano seguinte (Diário do Rio de Janeiro, 2 de julho de 1840, última coluna).

 

 

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O hospital foi inaugurado em  julho de 1852 e sua planta original, de autoria do engenheiro Domingos Monteiro (1765 – 1857), foi alterada por José Maria Jacinto Rebelo (1821 – 1871), discípulo do arquiteto Grandjean de Montigny (1776 – 1850). O frontão da Santa Casa da Misericórdia, talvez o mais grandioso do Rio de Janeiro, foi executado, em 1868, pelo artista Luigi Guidice (1826 – 1892).

 

 

Sobre a data de fundação:

“A Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro foi fundada em meados do século XVI, em data incerta, na praia de Santa Luzia no 2, atual rua de Santa Luzia no 206, onde permanece até hoje. A sua criação costuma ser atribuída por vários estudiosos ao padre José Anchieta, da Companhia de Jesus, que chegara ao Brasil na esquadra do segundo governador-geral, Duarte da Costa, em 1553. Em março de 1582, Anchieta teria acudido a esquadra espanhola comandada pelo almirante Diogo Flores Valdez com destino ao Estreito de Magalhães, que aportara no Rio de Janeiro devido a enfermidades que acometeram sua tripulação. Providenciando agasalhos e remédios, o jesuíta, para abrigar os enfermos, mandara construir um barracão de palma coberto de sapé na orla marítima do morro do Castelo, que teria dado origem à Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro e, possivelmente, ao primeiro hospital da cidade.

Houve outros estudos, contudo, que consideraram a data de fundação da Santa Casa anterior a 1582. Segundo o historiador Félix Ferreira (1899), a instituição teria sido criada em 1545 ou 1547, antes da fundação da cidade do Rio de Janeiro (1565), coincidindo com os primeiros núcleos de povoamento das margens da Baía de Guanabara. No período da União Ibérica (1580-1640), em alvará datado de 6 de outubro de 1605, o rei Dom Felipe II de Espanha e I de Portugal concedia à entidade os mesmos benefícios desfrutados pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, em vista do que alegavam seu provedor e irmãos de que já havia sessenta anos que “existia casa com hospital para enfermos, sacristia, parlatório e é uma das boas da costa, e a algumas faz vantagem notável com sempre ter sua irmandade guardado o Compromisso, fazendo muitas esmolas, casando órfãs e dando ordinárias todos os sábados, conforme a possibilidade da terra”.

Já para Gabriel Soares de Sousa no “Tratado descritivo do Brasil”, em 1587, o hospital junto ao morro do Castelo teria sido iniciativa do terceiro governador-geral, Mem de Sá, com o apoio do padre da Companhia de Jesus, Manuel da Nóbrega. Em 1567, Mem de Sá em curta visita e permanência no Rio de Janeiro, depois da expulsão dos franceses, tratou não só do povoamento da cidade instalada por seu sobrinho, Estácio de Sá, em 1565, como promoveu importantes melhoramentos, entre os quais a construção de algumas igrejas com a sua Santa Casa da Misericórdia e hospital.

Ainda sobre a data de criação da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, José Vieira Fazenda (1902) procurou conciliar as opiniões divergentes, admitindo que os primeiros povoadores tenham sido os fundadores da Misericórdia e que os irmãos desta, animados e auxiliados pelo jesuíta José de Anchieta, tenham edificado o hospital em 1582, com o propósito de nele abrigar os doentes da armada espanhola. De uma forma ou de outra, todos os que discorreram sobre o tema, concordaram que a Santa Casa surgiu ou foi ampliada nesta data, por influência de José de Anchieta.”

Site da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro

 

 

Sobre arquitetura e tombamento:

O Hospital da Santa Casa de Misericórdia foi construído no séc. XVI no Morro do Castelo.

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Nome atribuído: Hospital da Santa Casa de Misericórdia: prédio
Localização: R. Santa Luzia, nº 206, Centro – Rio de Janeiro – RJ
Número do Processo: 10-T-1938
Livro do Tombo Belas Artes: Inscr. nº 174, de 15/07/1938
Descrição: A cidade do Rio de Janeiro foi fundada em 1565 entre os Morros Cara de Cão e Pão de Açúcar e transferida para o antigo Morro do Castelo no ano de 1567. A Santa Casa de Misericórdia foi construída no século XVI na parte baixa, próxima ao mar e junto a uma das ladeiras que subiam para o seu cume, no mesmo local onde hoje ainda se encontra, como último vestígio do morro do Castelo. Não se sabe ao certo a data da sua construção, mas em 1582 os doentes da esquadra do Diogo Valdez foram nela acolhidos. No ano de 1734, um terceiro pavimento foi acrescentado.
Após a transferência do cemitério que existia junto à Santa Casa para o Caju, um novo prédio foi erguido para servir de hospital. A construção foi iniciada em 1840 e no ano de 1852 já estava funcionando. Seu projeto inicial, atribuído ao Tenente Coronel de Engenharia Domingos Monteiro, é, no entanto, discutido em função das alterações realizadas na fachada durante a construção pelo Arquiteto José Maria Jacinto Rabelo.
A fachada é caracterizada por linhas classicizantes. O pórtico central é composto, segundo o Arquiteto Augusto Silva Telles, por “um corpo com dupla colunata de cantaria, encimado por frontão, ornamentado com baixo relevos feitos por Luís Giudice.” No frontão do prédio, destacam-se o símbolo da Misericórdia ao centro, ladeado à esquerda pelos símbolos da Cristandade, e à direita, pelo da Medicina. A construção se divide em três alas paralelas, separadas por pátios e ligados entre si por um corpo transversal. Nas alas paralelas localizam-se as enfermarias.
No hospital, além das extensas barras de azulejos holandeses, encontrados nos corredores de circulação e nas escadas, é notável a imensa galeria de retratos dos benfeitores, na qual se destacam grande número de telas setecentistas das mais antigas do acervo carioca. O seu interior abriga uma capela, cujo projeto é atribuído ao Arquiteto Joaquim Cândido Guilhobel e decorada com trabalhos de talha de Antônio de Pádua e Castro.
Observações: O tombamento compreende as antigas enfermarias. No hospital foi instalado o Museu da Farmácia.
Fonte: Iphan.

INEPAC – Instituto Estadual do Patrimônio Cultural
Nome atribuído: Hospital Geral da Santa Casa da Misericórdia
Localização: R. Santa Luzia, nº 206, Centro – Rio de Janeiro – RJ
Número do Processo: E-18/001/549/2015
Tombamento Provisório: 25/05/2015
Inventário Inepac
Descrição: O Complexo Hospitalar da Santa Casa da Misericórdia situa-se no Centro da Cidade do Rio de Janeiro, nas proximidades de outros bens tombados pelo Estado do Rio de Janeiro: Ladeira da Misericórdia, Museu da Imagem e do Som e Prédio do Tribunal Regional do Trabalho. Originalmente, a Misericórdia se situava ao sopé do antigo Morro do Descanso, depois denominado Morro do Castelo, no local onde hoje se encontram as antigas enfermarias e a Igreja de Nossa Senhora de Bonsucesso, na Ladeira da Misericórdia. O prédio principal do Hospital Geral se destaca na paisagem por sua imponência de gosto neoclássico, com frontão triangular, onde está inserido o brasão da Ordem da Irmandade da Misericórdia. Voltado para a Rua Santa Luzia, este complexo, que ocupa quase a totalidade da quadra, se estende até a Rua Marechal Aguinaldo Caiado de Castro. Ladeando o prédio da Santa Casa, ainda se encontra um casario baixo que preserva sua imponência.
Fonte: Inepac.

 Site I Patrimônio

 

Uma curiosidade: em seu romance, A Viuvinha, de 1857, José de Alencar (1829 – 1877), comenta sobre o grande numero de suicídios ocorridos durante a construção da Santa Casa da Misericórdia:

“O Rio de Janeiro ainda se lembra da triste celebridade que, há dez anos, tinha adquirido o lugar onde está hoje construído o Hospital da Santa Casa. Houve um período em que quase todas as manhãs os operários encontravam em algum barranco, ou entre os cômoros de pedra e de areia, o cadáver de um homem que acabara de pôr termo à sua existência. 

Amantes infelizes, negociantes desgraçados, pais de família carregados de dívidas, homens ricos caídos na miséria, quase todos aí vinham, trazidos por um ímã irresistível, por uma fascinação diabólica. 

As Obras da Misericórdia, como chamavam então esse lugar, tinham a mesma reputação que o Arco das Águas Livres, de Lisboa, e a Ponte Nova, de Paris. 

Era o templo do suicídio, onde a fragilidade humana sacrificava em holocausto a esse ídolo sanguinário tantas vítimas arrancadas às suas famílias e aos seus amigos.

Essa epidemia moral, que se agravava todos os dias, começava já a inquietar alguns espíritos refletidos, alguns homens pensadores, que viam com tristeza os progressos do mal”. 

 

 

Link para o artigo O Hospital Geral da Misericórdia, de Escragnolle Dória, publicado na Revista da Semana, de 26 de novembro de 1938.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

 

CAMPOS, Ernesto de Souza. Santa Casa de Misericórdia de Santos: primeiro hospital fundado no Brasil; sua origem e evolução 1543-1943. São Paulo: Elvino Pocai, 1943

Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832 – 1930) Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

I Patrimônio

Site Alma Carioca

Site Missão das Misericórdias

Site O Rio que o rio não vê

Site Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro

Série “Os arquitetos do Rio de Janeiro” I – Porto d’Ave e a moderna arquitetura hospitalar

Em momentos de crises sanitárias como a que vivemos, nunca foi tão importante pensar nos hospitais. Se hoje assistimos à edificação emergencial desses prédios com normas específicas para atender aos casos de Covid-19, há cem anos já se observava os preceitos da bacteriologia ditando a moderna arquitetura hospitalar. Assim Cristiane d´Avila, jornalista do Departamento de Arquivo e Documentação Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, inicia seu artigo, no qual conta a história da parceria entre o médico Carlos Chagas, o empresário Guilherme Guinle e o engenheiro e arquiteto Adelstano Soares de Mattos Porto d’Ave para a construção de alguns dos mais importantes hospitais do Rio de Janeiro, o Hospital Gaffrée e Guinle, inaugurado em 1929. É o primeiro artigo da série Os arquitetos do Rio de Janeiro.

Porto d’Ave e a moderna arquitetura hospitalar

Cristiane d´Avila*

Em momentos de crises sanitárias como a que vivemos, nunca foi tão importante pensar nos hospitais. Se hoje assistimos à edificação emergencial desses prédios com normas específicas para atender aos casos de Covid-19, há cem anos já se observava os preceitos da bacteriologia ditando a moderna arquitetura hospitalar. No artigo “O Hospital Gaffrée e Guinle: filantropia, saúde e os ecos do pasteurianismo no Brasil da Primeira República”, a historiadora da Casa de Oswaldo Cruz, Gisele Sanglard, analisa o tema a partir do entrelaçamento de três personagens emblemáticos da história do Rio de Janeiro e da arquitetura em saúde: Carlos Chagas (1878-1934), médico sanitarista, Guilherme Guinle (1882-1960), empresário e mecenas; e Adelstano Soares de Mattos Porto d’Ave (1890-1952), engenheiro-arquiteto.

 

 

 

Acessando o link para as fotografias do Gaffrée e Guinle disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

De acordo com a historiadora, a construção do Hospital Gaffrée e Guinle teve triplo valor simbólico: para a medicina, o coroamento da saúde pública; para a filantropia, uma ação que renderia bons frutos à sociedade; para a arquitetura hospitalar, a adoção de uma estética própria associada ao que de mais moderno havia na época. “Guilherme Guinle investiu seu capital social e político, além de seus recursos financeiros, no apoio à ciência produzida em Manguinhos pela escola de Oswaldo Cruz. Ele era daqueles que acreditavam que a medicina pasteuriana tinha o poder de transformar a sociedade”, explica Sanglard na minuciosa e extensa pesquisa sobre o tema.

 

O início da parceria

 

 

 

A parceria entre Chagas, sucessor de Oswaldo Cruz na direção do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) após o falecimento do cientista, em 1917, e a família Guinle datava do início do século. Em 1905, o médico foi indicado por Oswaldo Cruz para debelar os casos de malária no obra de construção da usina hidrelétrica em Itatinga (SP), que os sócios Eduardo Guinle (1846-1912) e Cândido Gaffré (1845-1919) construíam para o porto de Santos. O sucesso de Chagas na missão aproximou-o da família, já proeminente nos negócios de ferrovias, energia elétrica, portos e responsável por obras filantrópicas no Rio, Santos e Porto Alegre.

Anos depois, em 1919, Chagas promoveu uma ampla reforma na saúde, transformando a então Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP) em Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), tornando-se seu diretor. No ano seguinte (1920), Guilherme Guinle assumiu, após a morte do pai, os negócios da família. “A relação que se estabelecerá entre o médico e o jovem empresário mostra que Carlos Chagas continuou gozando do respeito da família – o que será traduzido nas ações de Guilherme Guinle financiando os projetos da Inspetoria de Profilaxia da Lepra e das Doenças Venéreas do DNSP, dirigida pelo médico Eduardo Rabello, e os projetos de saúde pública de Carlos Chagas”, explica Sanglard.

Os Guinle se notabilizaram pelo mecenato e a filantropia. Porém, as ações beneméritas dos sócios e de seus descendentes não se restringiram às artes e à cultura em geral. O amplo apoio deles às instituições científicas e de saúde pode ser classificado como próprio de um período em que investir na pesquisa médica era investir na tentativa de erradicação da miséria, que assolava a população urbana do Rio de Janeiro, então capital do Brasil.

No caso de Guilherme Guinle, ganha destaque a criação da Fundação Gaffrée e Guinle (1923) – para o controle da sífilis e de doenças venéreas, com a construção de um hospital e ambulatórios – e do Instituto de Pesquisa. O projeto do Hospital Gaffrée e Guinle, inaugurado em 1929, foi assinado pelo escritório do arquiteto brasileiro Porto d’Ave (Porto d’Ave & Haering), sob a fiscalização e orientação dos médicos Eduardo Rabello e Gilberto de Moura Costa. Já o Instituto de Pesquisa, cuja inauguração se deu em 1927, aliava pesquisa e assistência médica, seguindo o modelo do IOC e a ciência desenvolvida em Manguinhos.

 

O arquiteto e o projeto

 

 

Segundo informações do Fundo Porto d’Ave, sob a guarda do Departamento de Arquivo e Documentação da COC/Fiocruz, o engenheiro-arquiteto Adelstano Soares de Mattos Porto d’Ave nasceu em 6 de março de 1890 no Rio de Janeiro e faleceu em janeiro de 1952, na mesma cidade (Correio da Manhã, 22 de janeiro de 1952). Teve como sócio, ao menos no início, o alemão Kurt Haering. O escritório de ambos funcionava na rua Buenos Aires, 54, 2o andar, e Porto d’Ave estava registrado como construtor e Kurt Haering como engenheiro.

Por intermédio da família Guinle, elaborou projetos de três hospitais na cidade: o Gaffrée e Guinle, o Hospital e Instituto do Câncer e o Hospital das Clínicas Arthur Bernardes. A partir de então, consolidou seu nome como arquiteto de hospitais, tendo sido responsável pelo traçado de outros, como o Espanhol, o Regional de Niterói e o do Sanatório Santa Clara, em Campos do Jordão (SP).

 

 

Segundo Sanglard e Renato Gama-Rosa Costa, arquiteto e também pesquisador da COC/Fiocruz, o projeto do hospital, originalmente de Hugo Haering, sofreu adaptações propostas por Porto d’Ave, principalmente na linguagem arquitetônica. O hospital, elaborado para internar 320 pessoas, contava com prédio principal de quatro pavimentos. Nele funcionavam os serviços de Pronto-Socorro, Vias Urinárias, Ginecologia, Obstetrícia, Serviços Auxiliares ao Ambulatório do Hospital (laboratório, fisioterapia e raios X), Sífilis Visceral, Otorrinolaringologia e Oftalmologia, salas de cirurgia e Serviço de Mulheres Contagiantes. No campus foram projetados pavilhões especiais para abrigar o Instituto de Pesquisa, o Biotério, a capela consagrada à Nossa Senhora da Conceição do Brasil, a residência do diretor, as oficinas de conservação, o dormitório dos empregados e a lavanderia.

Do ponto de vista arquitetônico, o projeto do Hospital Gaffrée e Guinle foi considerado como moderno por uma série de características: a disposição das enfermarias, sua implantação no centro urbano, o uso dos elevadores, entre outras características. Porto d’Ave imprimiu à estética contornos neocoloniais, em voga na década de 1920 no Rio.

“A opção pelo estilo neocolonial também pode ser incluída neste rol (projeto moderno), uma vez que remete à valorização do elemento genuinamente nacional, bem como à noção de salvação do homem brasileiro, tão necessária para a construção da nação acalentada pelos intelectuais envolvidos no projeto”, completa Sanglard no artigo.

 

 

*Cristiane d’Avila é jornalista do Departamento de Arquivo e Documentação Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

Em 29 de outubro de 2023, o título deste artigo foi alterado para Série “Os arquitetos do Rio de Janeiro” I – Porto d’Ave e a moderna arquitetura hospitalar.

Fontes:

SANGLARD, Gisele. “O Hospital Gaffrée e Guinle: filantropia, saúde e os ecos do pasteurianismo no Brasil da Primeira República”. In: A Modernidade na arquitetura hospitalar: contribuições para a historiografia – Volume 1\Ana M. G. Albano Amora e Renato Gama-Rosa Costa (Organizadores). Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – PROARQ-FAU-UFRJ, 2019.

SANGLARD, G. e COSTA, R. da Gama-Rosa: “Direções e traçados da assistência hospitalar no Rio de Janeiro (1923-31)”. História, Ciências, Saúde. Manguinhos, vol. 11(1): 107-41, jan.-abr. 2004.

 

Outros artigos da série Os arquitetos do Rio de Janeiro

 

Série “Os arquitetos do Rio” II – No Dia Nacional da Saúde, o Desinfetório de Botafogo e um breve perfil do arquiteto português Luiz de Moraes Junior, responsável pelo projeto, de autoria de Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, publicado em 5 de agosto de 2023

Série “Os arquitetos do Rio de Janeiro” III – O centenário do Copacabana Palace, quintessência do “glamour” carioca, e seu criador, o arquiteto francês Joseph Gire, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado em 13 de agosto de 2023

Série “Os arquitetos do Rio de Janeiro” IV – Archimedes Memória (1893 – 1960), o último dos ecléticos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 1º de dezembro de 2023

Série “O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e “Os arquitetos do Rio” V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de janeiro de 2024