No Dia do Repórter Fotográfico, destaque para o “Marco no fotojornalimo brasileiro: a seca no Ceará é documentada com fotografias”

No Dia do Repórter Fotográfico, a Brasiliana Fotográfica republica o Marco no fotojornalimo brasileiro: a seca no Ceará é documentada com fotografias. O assunto do artigo, originalmente publicado no portal em 12 de julho de 2015, é a veiculação de duas fotos de vítimas da maior seca nordestina do século XIX, na revista O Besouro, uma das iniciativas pioneiras da imprensa brasileira na utilização de fotografias como documentos comprobatórios de um fato, estabelecendo uma relação entre a narrativa escrita e o registro fotográfico. O autor das imagens, pertencentes ao acervo da Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras do portal, foi Joaquim Antônio Correia, cujo ateliê ficava em Fortaleza, no Ceará.

Para os leitores interessados em fotojornalismo, destacamos o portal Testemunha Ocular, uma iniciativa do Instituto Moreira Salles, instituição fundadora da Brasiliana Fotográfica, para preservar e difundir o passado e o presente do Fotojornalismo brasileiro; e também a exposição Evandro Teixeira. Chile 1973, em cartaz até 13 de novembro de 2023, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.

 

Marco no fotojornalimo brasileiro: a seca no Ceará é documentada com fotografias

 

J.A. Correia. Secca de 1877-78, 1877-1878. Ceará / Acervo FBN

J.A. Correia. Secca de 1877-78, 1877-1878. Ceará / Acervo FBN

 

Segundo o trabalho “Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira”, dos pesquisadores Joaquim Marçal Ferreira de Andrade e Rosângela Logatto, a publicação de fotos de vítimas da maior seca nordestina do século XIX foi uma das iniciativas pioneiras da imprensa brasileira na utilização de fotografias como documentos comprobatórios de um fato (Anais da Biblioteca Nacional, vol 114, de 1994, p.71-83).

Para denunciar a tragédia, o chargista português Rafael Bordalo Pinheiro (1846 – 1905) publicou, em 20 de julho de 1878, em uma ilustração da revista O Besouro, duas fotos que fazem parte de um conjunto de 14 registros fotográficos de vítimas da seca ocorrida entre 1877 e 1878. Porém, não foi dado crédito para o autor das fotos, Joaquim Antônio Correia, cujo ateliê ficava em Fortaleza, no Ceará.

Link para O Besouro de 20 de julho de 1878, ano I, n.16

Esse conjunto de fotografias pertence, atualmente, ao acervo da Biblioteca Nacional.  São imagens chocantes, em formato de cartes de visite, e retratam crianças, homens e mulheres desnutridos e maltrapilhos, de aparência doentia, e, muitas vezes, as fotos, feitas em estúdio, trazem textos rimados que se referem à miséria.

 

Acessando o link para as fotografias de Joaquim Antônio Correia sobre a seca nordestina de 1877/1878 disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

A publicação da ilustração litográfica das duas fotos sendo seguradas por um esqueleto vestindo paletó, sob o título “Páginas tristes – Scenas e aspectos do Ceará (para S. Majestade, o Sr. Governo e os Senhores Fornecedores verem)”, tinha o objetivo de reforçar denúncias feitas pelo escritor e jornalista José do Patrocínio (1853 – 1905) em artigos publicados no periódico de texto Gazeta de Notícias. Patrocínio fazia, na época, a cobertura jornalística da seca com o principal objetivo de acompanhar a aplicação dos recursos governamentais em seu combate. Partiu em 10 de maio de 1878 e retornou ao Rio de Janeiro, em 12 de agosto do mesmo ano. As matérias foram publicadas, na coluna Folhetim, na primeira página da Gazeta de Notícias, sob o título “Viagem ao Norte” (1).

Mas só o texto não era suficiente. Então, Patrocínio enviou as fotos para a redação da revista O Besouro, para a qual já havia mandado, antes da viagem, o artigo “Sermão de Lágrimas” (O Besouro, edição de 4 de maio de 1878 ), em que tratava, com preocupação, a seca e a situação dos retirantes.

A publicação da ilustração com as fotos de Joaquim Antônio Correia, na revista O Besouro, foi um verdadeiro “anticartão de visita, veemente panfleto que denuncia uma realidade que muitos membros da corte se negavam a enxergar”(“Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira”).

Abaixo, está reproduzido o texto publicado no O Besouro, na página seguinte à ilustração com as fotografias:

“O Ceará

O nosso amigo José do Patrocínio, em viagem por aquela provincia, enviou-nos as duas photographias por que foram feitos os desenhos da nossa primeira página.

São dois verdadeiros quadros de fome e miséria. E´ n´aquelle estado que os retirantes chegam á capital, aonde quasi sempre morrem, apezar dos apregoados soccorros, que segundo informações exactas são distribuídos de maneira improficua.

A nossa estampa da primeira pagina é uma prova cabal áquelles que accusavam de exageração, a pintura que se fazia do estado da infeliz província.

Repare o governo e repare o povo, na nossa estampa, que é a cópia fiel da desgraça da população cearense.

Continuaremos a reproduzir o que o nosso distincto collega nos enviar a tal respeito.”

Uma curiosidade: também dessa viagem ao norte do país originou-se o romance de José do Patrocinio, Os Retirantes, publicado na Gazeta de Notícias, em estilo de folhetim, entre 29 de junho e 10 de dezembro de 1879.

 

(1) – Links para os artigos escritos por José do Patrocínio sob o título “Viagem ao Norte”.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 1º de junho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 6 de junho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 20 de julho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 23 de julho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 3 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 15 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 22 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 30 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 7 de setembro de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 12 de setembro de 1878.

 

Breve cronologia de Joaquim Antônio Correia (18? – ?)

 

seca1

 

1874 – Até este ano, o nome de Joaquim Antônio Correia apareceia no cadastro de contribuintes como dono de uma casa comercial especializada em produtos manufaturados fora da província,que ficava na rua da Palma , nº 17.

1877 - Estabeleceu como fotógrafo na rua Formosa, n° 31. Atuou como retratista por não menos de dez anos e foi contemporâneo de Agio Pio, do prussiano Carlos Frederico Johann Reeckell, do dinamarquês Niels Olsen (1843 – 1911) associado ao austríaco Constantino Barza, do francês Baubrier e de Francisco Brandão, dentre outros.

 

 

1878 – Defendeu-se da acusação de comercializar indevidamente retratos que produzia de moças de família e ameaçou pendurar de cabeça para baixo os retratos de seus devedores (O Cearense, 12 de maio de 1878).

Em maio, conheceu o escritor José do Patrocínio (1853 – 1905), que havia ido para o Ceará para conhecer mais de perto a tragédia da seca. Voltando para o Rio de Janeiro, publicou duas fotos da seca no Ceará de autoria de Correia, na revista O Besouro, de 20 de julho de 1878, do chargista português Rafael Bordallo Pinheiro (1846 – 1905). Foi uma das iniciativas pioneiras da imprensa brasileira na utilização de fotografias como documentos comprobatórios de um fato. Foi um marco na história do fotojornalismo brasileiro.

A publicação da ilustração litográfica das duas fotos sendo seguradas por um esqueleto vestindo paletó, sob o título “Páginas tristes – Scenas e aspectos do Ceará (para S. Majestade, o Sr. Governo e os Senhores Fornecedores verem)”, tinha o objetivo de reforçar denúncias feitas por do Patrocínio em artigos publicados no periódico de texto Gazeta de Notícias. Patrocínio fazia, na época, a cobertura jornalística da seca com o principal objetivo de acompanhar a aplicação dos recursos governamentais em seu combate. Partiu em 10 de maio de 1878 e retornou ao Rio de Janeiro, em 12 de agosto do mesmo ano. As matérias foram publicadas, na coluna Folhetim, na primeira página da Gazeta de Notícias, sob o título “Viagem ao Norte”. Mas só o texto não era suficiente. Então, Patrocínio enviou as fotos para a redação da revista O Besouro, para a qual já havia mandado, antes da viagem, o artigo “Sermão de Lágrimas” (O Besouro, edição de 4 de maio de 1878 ), em que tratava, com preocupação, a seca e a situação dos retirantes.

1881 – Seu estúdio fotográfico dispunha de um grande sortimento de quadros de gosto…máquinas de 4 objetivas…e tudo por preço tão diminuto que admira.

 

 

1883 / 1884 – Antes da assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, Fortaleza, em 24 de maio de 1883, tornou-se a primeira capital brasileira a libertar todos os escravizados. No ano seguinte, em 25 de março de 1884, o Ceará passou a ser o primeiro estado brasileiro a extinguir a escravidão. Correia documentou os líderes da luta escravagista em fotos chamadas de Retratos Libertadores e, em 1883, as comercializava.

 

O Libertador, de 1887

O Libertador,  9 de maio de 1883 / História da fotografia no Ceará do século XIX

 

1885 – Correia anunciou que havia adquirido, em Paris, uma nova máquina para retratos instantâneos (O Cearense, de 28 de julho de 1885, última coluna).

1886 – Anunciava que em seu estabelecimento fotográfico tirava-se retratos pelos processos mais aperfeiçoados (O Libertador, 8 de junho de 1886, última coluna).

1892 – Provavelmente continuou trabalhando como fotógrafo até este ano.

Em 29 de dezembro, inaugurou a primeira fábrica de louças do Ceará, no Boulevard da Conceição (A República, 28 de dezembro de 1892, quarta coluna).

1893 – Anunciou a venda de seu estúdio fotográfico:

“Joaquim Antonio Correia vende a sua fotografia constando de boas lentes, drogas, punsas, etc. A tratar: Rua Formosa, nº 31″ (A República, 30 de maio de 1893). Residia na rua Floriano Peixoto, nº 95.

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de; LOGATTO, Rosângela. Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira Anais da Biblioteca Nacional, vol 114, de 1994, p. 71-83.

BEZERRA, Ari Leite. História da fotografia no Ceará do século XIX. Edição do autor, 2019.

Fundação Palmares

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

Link para o artigo 500 mil mortos: a tragédia esquecida que dizimou brasileiros durante 3 anos no século 19, de Camilla Veras Mota, Camila Costa e Cecilia Tombesi publicada no site da BBC, em 18 de junho de 2021, com as fotografias de Joaquim Antonio Corrêa.*

 

*Esse link foi acrescentado no artigo em 19 de junho de 2021.

**Essa breve cronologia foi inserida em 19 de abril de 2022.

Marco no fotojornalimo brasileiro: a seca no Ceará é documentada com fotografias

 

J.A. Correia. Secca de 1877-78, 1877-1878. Ceará / Acervo FBN

J.A. Correia. Secca de 1877-78, 1877-1878. Ceará / Acervo FBN

Segundo o trabalho “Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira”, dos pesquisadores Joaquim Marçal Ferreira de Andrade e Rosângela Logatto, a publicação de fotos de vítimas da maior seca nordestina do século XIX foi uma das iniciativas pioneiras da imprensa brasileira na utilização de fotografias como documentos comprobatórios de um fato (Anais da Biblioteca Nacional, vol 114, de 1994, p.71-83).

Para denunciar a tragédia, o chargista português Rafael Bordalo Pinheiro (1846 – 1905) publicou, em 20 de julho de 1878, em uma ilustração da revista O Besouro, duas fotos que fazem parte de um conjunto de 14 registros fotográficos de vítimas da seca ocorrida entre 1877 e 1878. Porém, não foi dado crédito para o autor das fotos, Joaquim Antônio Correia, cujo ateliê ficava em Fortaleza, no Ceará.

Link para O Besouro de 20 de julho de 1878, ano I, n.16

Esse conjunto de fotografias pertence, atualmente, ao acervo da Biblioteca Nacional.  São imagens chocantes, em formato de cartes de visite, e retratam crianças, homens e mulheres desnutridos e maltrapilhos, de aparência doentia, e, muitas vezes, as fotos, feitas em estúdio, trazem textos rimados que se referem à miséria.

Acessando o link para as fotografias de Joaquim Antônio Correia sobre a seca nordestina de 1877/1878 disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

A publicação da ilustração litográfica das duas fotos sendo seguradas por um esqueleto vestindo paletó, sob o título “Páginas tristes – Scenas e aspectos do Ceará (para S. Majestade, o Sr. Governo e os Senhores Fornecedores verem)”, tinha o objetivo de reforçar denúncias feitas pelo escritor e jornalista José do Patrocínio (1853 – 1905) em artigos publicados no periódico de texto Gazeta de Notícias. Patrocínio fazia, na época, a cobertura jornalística da seca com o principal objetivo de acompanhar a aplicação dos recursos governamentais em seu combate. Partiu em 10 de maio de 1878 e retornou ao Rio de Janeiro, em 12 de agosto do mesmo ano. As matérias foram publicadas, na coluna Folhetim, na primeira página da Gazeta de Notícias, sob o título “Viagem ao Norte” (1).

Mas só o texto não era suficiente. Então, Patrocínio enviou as fotos para a redação da revista O Besouro, para a qual já havia mandado, antes da viagem, o artigo “Sermão de Lágrimas” (O Besouro, edição de 4 de maio de 1878 ), em que tratava, com preocupação, a seca e a situação dos retirantes.

A publicação da ilustração com as fotos de Joaquim Antônio Correia, na revista O Besouro, foi um verdadeiro “anticartão de visita, veemente panfleto que denuncia uma realidade que muitos membros da corte se negavam a enxergar”(“Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira”).

Abaixo, está reproduzido o texto publicado no O Besouro, na página seguinte à ilustração com as fotografias:

“O Ceará

O nosso amigo José do Patrocínio, em viagem por aquela provincia, enviou-nos as duas photographias por que foram feitos os desenhos da nossa primeira página.

São dois verdadeiros quadros de fome e miséria. E´ n´aquelle estado que os retirantes chegam á capital, aonde quasi sempre morrem, apezar dos apregoados soccorros, que segundo informações exactas são distribuídos de maneira improficua.

A nossa estampa da primeira pagina é uma prova cabal áquelles que accusavam de exageração, a pintura que se fazia do estado da infeliz província.

Repare o governo e repare o povo, na nossa estampa, que é a cópia fiel da desgraça da população cearense.

Continuaremos a reproduzir o que o nosso distincto collega nos enviar a tal respeito.”

Uma curiosidade: também dessa viagem ao norte do país originou-se o romance de José do Patrocinio, Os Retirantes, publicado na Gazeta de Notícias, em estilo de folhetim, entre 29 de junho e 10 de dezembro de 1879.

 

(1) – Links para os artigos escritos por José do Patrocínio sob o título “Viagem ao Norte”.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 1º de junho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 6 de junho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 20 de julho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 23 de julho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 3 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 15 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 22 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 30 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 7 de setembro de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 12 de setembro de 1878.

 

Breve cronologia de Joaquim Antônio Correia (18? – ?)

 

seca1

 

1874 – Até este ano, o nome de Joaquim Antônio Correia apareceia no cadastro de contribuintes como dono de uma casa comercial especializada em produtos manufaturados fora da província,que ficava na rua da Palma , nº 17.

1877 - Estabeleceu como fotógrafo na rua Formosa, n° 31. Atuou como retratista por não menos de dez anos e foi contemporâneo de Agio Pio, do prussiano Carlos Frederico Johann Reeckell, do dinamarquês Niels Olsen (1843 – 1911) associado ao austríaco Constantino Barza, do francês Baubrier e de Francisco Brandão, dentre outros.

 

 

 

1878 – Defendeu-se da acusação de comercializar indevidamente retratos que produzia de moças de família e ameaçou pendurar de cabeça para baixo os retratos de seus devedores (O Cearense, 12 de maio de 1878).

Em maio, conheceu o escritor José do Patrocínio (1853 – 1905), que havia ido para o Ceará para conhecer mais de perto a tragédia da seca. Voltando para o Rio de Janeiro, publicou duas fotos da seca no Ceará de autoria de Correia, na revista O Besouro, de 20 de julho de 1878, do chargista português Rafael Bordallo Pinheiro (1846 – 1905). Foi uma das iniciativas pioneiras da imprensa brasileira na utilização de fotografias como documentos comprobatórios de um fato. Foi um marco na história do fotojornalismo brasileiro.

A publicação da ilustração litográfica das duas fotos sendo seguradas por um esqueleto vestindo paletó, sob o título “Páginas tristes – Scenas e aspectos do Ceará (para S. Majestade, o Sr. Governo e os Senhores Fornecedores verem)”, tinha o objetivo de reforçar denúncias feitas por do Patrocínio em artigos publicados no periódico de texto Gazeta de Notícias. Patrocínio fazia, na época, a cobertura jornalística da seca com o principal objetivo de acompanhar a aplicação dos recursos governamentais em seu combate. Partiu em 10 de maio de 1878 e retornou ao Rio de Janeiro, em 12 de agosto do mesmo ano. As matérias foram publicadas, na coluna Folhetim, na primeira página da Gazeta de Notícias, sob o título “Viagem ao Norte”. Mas só o texto não era suficiente. Então, Patrocínio enviou as fotos para a redação da revista O Besouro, para a qual já havia mandado, antes da viagem, o artigo “Sermão de Lágrimas” (O Besouro, edição de 4 de maio de 1878 ), em que tratava, com preocupação, a seca e a situação dos retirantes.

1881 – Seu estúdio fotográfico dispunha de um grande sortimento de quadros de gosto…máquinas de 4 objetivas…e tudo por preço tão diminuto que admira.

 

 

1883 / 1884 – Antes da assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, Fortaleza, em 24 de maio de 1883, tornou-se a primeira capital brasileira a libertar todos os escravizados. No ano seguinte, em 25 de março de 1884, o Ceará passou a ser o primeiro estado brasileiro a extinguir a escravidão. Correia documentou os líderes da luta escravagista em fotos chamadas de Retratos Libertadores e, em 1883, as comercializava.

 

O Libertador, de 1887

O Libertador,  9 de maio de 1883 / História da fotografia no Ceará do século XIX

 

1885 – Correia anunciou que havia adquirido, em Paris, uma nova máquina para retratos instantâneos (O Cearense, de 28 de julho de 1885, última coluna).

1886 – Anunciava que em seu estabelecimento fotográfico tirava-se retratos pelos processos mais aperfeiçoados (O Libertador, 8 de junho de 1886, última coluna).

1892 – Provavelmente continuou trabalhando como fotógrafo até este ano.

Em 29 de dezembro, inaugurou a primeira fábrica de louças do Ceará, no Boulevard da Conceição (A República, 28 de dezembro de 1892, quarta coluna).

1893 – Anunciou a venda de seu estúdio fotográfico:

“Joaquim Antonio Correia vende a sua fotografia constando de boas lentes, drogas, punsas, etc. A tratar: Rua Formosa, nº 31″ (A República, 30 de maio de 1893). Residia na rua Floriano Peixoto, nº 95.

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de; LOGATTO, Rosângela. Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira.  Anais da Biblioteca Nacional, vol 114, de 1994, p. 71-83.

BEZERRA, Ari Leite. História da fotografia no Ceará do século XIX. Edição do autor, 2019.

Fundação Palmares

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

Link para o artigo 500 mil mortos: a tragédia esquecida que dizimou brasileiros durante 3 anos no século 19, de Camilla Veras Mota, Camila Costa e Cecilia Tombesi publicada no site da BBC, em 18 de junho de 2021, com as fotografias de Joaquim Antonio Corrêa.*

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

*Esse link foi acrescentado no artigo em 19 de junho de 2021.

**Essa breve cronologia foi inserida em 19 de abril de 2022.