Uma homenagem ao historiador José Murilo de Carvalho (1939 – 2023)

No primeiro parágrafo do artigo Machado de Assis vai à missa, escrito para a Brasiliana Fotográfica por José Murilo de Carvalho, um dos mais importantes historiadores do Brasil, fica evidente sua generosidade e grandeza de espírito na saudação inicial que fez a mim e à minha então recente descoberta da presença de Machado de Assis na fotografia de Antonio Luiz Ferreira da missa de ação de graças pela abolição da escravatura celebrada em 17 de maio de 1888, no Campo de São Cristóvão.

O professor José Murilo de Carvalho havia sido o orientador da tese de doutorado A “Semana Illustrada” e a guerra contra o Paraguai : primórdios da fotorreportagem no Brasil, de Joaquim Marçal Andrade, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, que teve a ideia de convidá-lo para escrever o artigo e que me apresentou a ele. O professor José Murilo se mostrou extremamente solícito e entusiasmado desde o primeiro contato que fiz com ele para colaborar com o portal, naquele momento ainda em seus primeiros meses de atividades.

A Brasiliana Fotográfica se soma às muitas e merecidas homenagens já recebidas e às muitas que ele ainda receberá republicando o referido artigo de 29 de maio de 2015, importante e generosa contribuição de um emérito historiador para a consolidação de um projeto voltado para a pesquisa e reflexão sobre a fotografia como fonte primária e essencial para a escrita da nossa história.

 

 

Brevíssimo perfil de José Murilo de Carvalho (1939 – 2023)

 

Nascido em Andrelândia, Minas Gerais, em 8 de setembro de 1939, José Murilo de Carvalho é bacharel em Sociologia e Política (Universidade Federal de Minas Gerais) e doutor em Ciência Política (Stanford University). Foi professor na UFMG e na Universidade Federal do Rio de Janeiro e  professor visitante nas universidades de Stanford, California-Irvine, Notre Dame (Estados Unidos), Leiden (Holanda), London e Oxford (Inglaterra) e maître de conférence na École des Hautes Études en Sciences Sociales (França). Foi pesquisador visitante do Institute for Advanced Study de Princeton. É professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisador emérito do CNPq, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras. Em 2015, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra. É autor de vários livros, entre os quais A construção da ordem e Teatro de sombras (Civilização Brasileira, 2003); Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi (Cia. das Letras, 1987); A formação das almas: o imaginário da República (Cia. das Letras, 1990); Cidadania no Brasil: o longo caminho (Civilização Brasileira, 2001, 2013) e D. Pedro II, ser ou não ser (Cia. das Letras, 2oo7). Faleceu, no Rio de Janeiro, em 13 de agosto de 2023, após complicações de uma infecção por Covid-19.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Machado de Assis vai à missa

29 de maio de 2015

José Murilo de Carvalho

Bendito o olhar de lince de Andrea Wanderley, que identificou o rosto de Machado de Assis na foto de Antonio Luiz Ferreira da missa celebrada em 17 de maio de 1888, no Campo de São Cristóvão, em ação de graças pela passagem da lei do dia 13 desse mês que abolira a escravidão no Brasil.

A foto está disponível no portal Brasiliana Fotográfica, fantástica iniciativa da Biblioteca Nacional em parceria com o Instituto Moreira Salles. Outras figuras são identificáveis, além, naturalmente, da princesa Isabel e do conde d’Eu. O presidente do Conselho de Ministros do Gabinete conservador que fez passar a lei, João Alfredo Correia de Oliveira, está à direita de Isabel, um pouco abaixo.

Os responsáveis pelo portal veem José do Patrocínio à frente do grupo, segurando a mão do filho. Ampliando o foco, deverão aparecer outros políticos e outros militantes da causa abolicionista. Nabuco não foi à missa, mas André Rebouças, quase íntimo da família imperial, estava lá. Também certamente estavam seus companheiros da Confederação Abolicionista, com quem se fizera fotografar na véspera, acompanhados de Ângelo Agostini, João Clapp, presidente da Confederação, Taunay,  grande amigo de Rebouças, Silveira da Mota, filho, Quintino Bocaiúva… Dezenas de outros certamente também estavam presentes e podem ser, eventualmente, identificados.

A escravidão no Brasil foi bastante fotografada, mas a abolição, sobretudo a semana de 13 a 20 de maio, nem tanto, mesmo na capital onde havia muitos fotógrafos.  A razão disso não sei. É quase total a ausência de fotos fora da Corte (há apenas duas), quando se sabe que as festividades ganharam todo o país. Mas a consequência disso é que os poucos registros até agora descobertos, umas 25 fotos, ganham extraordinária importância. E o destaque vai todo para Antônio Luiz Ferreira, autor das 15 fotos com que presenteou Isabel. Sua foto mais espetacular é, sem dúvida, a da sessão da Câmara do dia 10 de maio, quando foi aprovado o projeto da abolição. A foto mais curiosa é a de Luís Stigaard, tirada na colônia Isabel, no Rio Grande do Sul. Retrata dezenas de colonos, imigrantes europeus, disciplinadamente organizados em filas, comemorando a abolição, em contraste com a exuberância das celebrações na capital do Império.

Mas o registro importante hoje é a descoberta de que Machado foi à missa. Não era pessoa de frequentar igrejas. Também não apreciava manifestações multitudinárias. Mas a essa missa, a esse ajuntamento de milhares de pessoas, ele compareceu e fica claro na foto seu esforço para aparecer, prensado entre duas robustas figuras uniformizadas. Anos depois, em crônica (Gazeta de Notícias, 14/5/1893), ele anotou sobre o 13 de maio,  “Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto”. A missa foi continuação do delírio e é muito bom saber que o tímido, circunspecto e cético Machado estava lá.

[Ver sobre o assunto, Pedro e Bia Corrêa do Lago, Coleção Princesa Isabel. Fotografia do Século XIXRio de Janeiro: Capivara, 2008.]

 

 

Acessando o link para a fotografia Missa campal celebrada em ação de graças pela Abolição da Escravatura no Brasil produzida  Antonio Luiz Ferreira,  disponível na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar a imagem e verificar todos os dados referentes a ela.

 

Acadêmicos lamentam a morte de Jose Murilo de Carvalho

(transcrito do site da Academia Brasileira de Letras)

13/08/2023

Arno Wehling- José Murilo deixa uma obra importante para a compreensão do Brasil. Há temas da história do Império e da República, como o papel das elites, a cultura política e a cidadania para os quais deu contribuições que se incorporaram, definitivamente, à nossa maneira de ver a formação brasileira.

Como pesquisador, além dos trabalhos individuais, soube atuar em equipe e liderar exemplarmente.

Como acadêmico, foi dos mais preocupados com o papel institucional da Academia Brasileira de Letras e com a sua memória, que ele cultivava carinhosa e zelosamente, como diretor do arquivo.

Perdi um amigo que admirava e um convívio intelectual que sempre enriquecia. A Academia perdeu um membro que vivenciava como poucos o seu espírito. E o país perdeu um grande brasileiro. Nos consola o fato de que José Murilo será, cada vez mais, referência para quem quiser entender nossa cultura e nosso modo particular de existir.

Merval Pereira – José Murilo de Carvalho era dos nossos maiores historiadores, que explicou nosso passado desde o Império e, a partir desse conhecimento, analisava a política brasileira recente com requintes históricos que ajudavam a antever o futuro, do qual se desiludiu nos últimos anos. É uma perda não apenas para a ABL, onde tinha sob seus cuidados nossos arquivos, mas para a cultura brasileira.

Cacá Diegues – José Murilo de Carvalho foi um brasileiro inesquecível. Ele nos ensinou o que foi este país e a ficarmos ligados a seu futuro. Ele vai fazer muita falta a ABL.

Arnaldo Niskier – Sou testemunha do quanto o acadêmico José Murilo de Carvalho trabalhou pela cultura do nosso país, como historiador excepcional que foi, mas também no âmbito da Academia Brasileira de Letras, o quanto ele coordenou, com paixão, o nosso arquivo.

Ele deu vida ao arquivo da Academia Brasileira de Letras e, sempre presente, emprestou o brilho da sua inteligência e da sua cultura à casa de Machado de Assis.  Nós estamos sofrendo muito a perda dele, ele na verdade é insubstituível.

Rosiska Darcy de Oliveira – O Acadêmico José Murilo de Carvalho cumpriu com excelência não só sua reconhecida carreira de Historiador . Foi igualmente exemplar na gestão dos Arquivos da ABL, nos anos em que ocupou a Diretoria desse setor responsável pela  preservação da memória da Casa. Nossa gratidão a ele por essa dupla contribuição à Cultura Brasileira

Godofredo de Oliveira Neto - Minha referência nos estudos históricos e meu companheiro de tertúlias pelo nosso bairro do Flamengo se foi. Um grande vazio se abre.Historiador 5 estrelas.Entendi o ambiente machadiano quando li Zé Murilo no início da graduação

Jorge Caldeira – O Brasil perde um de seus maiores historiadores. A ABL, entre outras coisas, uma autoridade em arquivos sem par. Este acadêmico reverencia seu mestre: quando era jovem doutor e José Murilo já titular consagrado, ele aceitou colaborar num projeto que eu dirigia, a coleção Formadores do Brasil. A gigantesca qualidade de seu trabalho em equipe fez toda a diferença. Todos deveram muito a ele – especialmente o jovem diretor. Foi uma honra ser seu par, ainda que por pouco tempo. Com esse pequeno depoimento começo a cumprir a missão acadêmica de preservar a memória

Domício Proença Filho – Foi um privilégio conviver com José Murilo. Deixa um profundo vazio no nosso convívio e na cultura brasileira.

Ricardo Cavaliere – Lamento muito, perdemos um de nossos mais prestigiados historiadores. RIP

Edmar Lisboa Bacha -Com seu enorme cabedal em ciência política e sociologia, José Murilo foi um dos maiores historiadores que o país jamais teve. Revelou as entranhas do Império, fez o elogio a Dom Pedro II, estabeleceu as limitações da República, esclareceu o papel central dos militares na história política do país, entre outros temas. Preocupava-o enormemente a enorme desigualdade social do país que, entranhada, o fazia descrer do futuro do Brasil. Esperemos que não seja assim. Perdem seus amigos, perde a Academia, perde o Brasil. Só nos resta pranteá-lo e homenageá-lo

Ruy Castro – Não apenas nós, seus confrades, perdemos. O Brasil perdeu.

Marco Lucchesi – Jose Murilo, um dos grandes intérpretes do Brasil. Renovou a historiografia a partir da segunda metade do século XX, com livros fundamentais que ocupam espaços assegurados, que nasceram clássicos como “A Formação das Almas”, “Os bestializados”, “A construção da ordem”, e outros livros diversos como “Forças Armadas e Política”, tão atual, como a biografia de D. Pedro II. Realmente aprofundando a históriapolítica do século XIX, compreendeu a formação do século XX, a proclamação da República e todos os defeitos do que ainda resta e dos mecanismo para republicanizar a República para lhe emprestar um conteúdo mais cidadão. Foi das pessoas mais probas, corretas e honestas que jamais conheci na minha vida. Tinha um compromisso ético de que não abria mão. Severo, atento, responsabilíssimo, homem de grande coração. Um homem de grande coração, com grandes saudades me despeço de você, com um abraço muito fraterno e amoroso.

Antonio Torres – Foi muito enriquecedor conviver com José Murilo nestes meus anos de ABL. Para além de seus vastos conhecimentos, adorava o seu bom humor. Sua falta será imensa.

Heloisa Teixeira – Eu não cheguei a conviver muito com ele na ABL mas era uma fidelíssima admiradora de sua obra . Perda enorme essa.

Jose Paulo Cavalcanti – O Brasil perde com essa ausência. Viva José Murilo!

Ana Maria Machado – É uma perda imensa – para o país, para a ABL, para os amigos. Um modelo de historiador e intelectual rigoroso, preparadíssimo, atento a tudo, original, leitor sensível.  Um sábio. Um homem íntegro em que se podia confiar sempre, capaz de somar o senso de humor apurado a uma exigente consciência cidadã, republicana, democrática.  E pessoalmente, fiquei muito abalada. Vou sentir muita falta do amigo, de quem eu gostava muito.

Antônio Carlos Secchin: Uma lástima! Além de grande historiador, um homem leal, ético e corajoso.

Leslie Bethell: Uma grande perda para a ABL, para a historiografia brasileira e para mim pessoalmente. Murilo e eu fomos amigos, colegas e co-autores durante mais de 50 anos.

Geraldo Carneiro: Além de intelectual de primeira linha, José Murilo era uma pessoa encantadora, dono de uma ironia sempre pronta para desmontar qualquer ameaça de solenidade. O Brasil vai sentir falta de sua inteligência e de seu senso de humor.

Após encantar-se com Molière e Giulietta Dionesi, o imperador Pedro II sofre um atentado

Dom Pedro II (1825 – 1891) foi alvo de um atentado quando saía do Theatro Sant´Anna, no Rio de Janeiro, com alguns membros de sua família, em 15 de julho de 1889. Foi o primeiro governante do Brasil a sofrer um atentado!

 

 

Pela primeira vez, após um reinado de mais de meio século, fora quebrado o respeito que sempre cercou a pessoa do imperador”. 

                                                                                                                                            O Paiz, 17 de julho de 1889

 

Na verdade, Pedro II, um Habsburgo perdido nos trópicos, cuja figura de 1,90m, louro e de olhos azuis contrastava com a aparência da maioria da população do Brasil, governou por quase 50 anos e não por mais de meio século – foram 49 anos, três meses e 22 dias. Só foi superado por duas inglesas e rainhas do Reino Unido: Vitória (1817 – 1901), que reinou de 1837 até sua morte, em 1901; e Elizabeth II (1926 -), que ocupa o trono desde 1952. Pedro II governou o Brasil, país pelo qual era apaixonado, de 23 de julho de 1840 a 15 de novembro de 1889 e, segundo José Murilo de Carvalho, o fez “com os valores de um republicano, com a minúcia de um burocrata e com a paixão de um patriota. Foi respeitado por quase todos, não foi amado por quase ninguém”. Lembramos aqui o fato de dom Pedro II ter sido um grande entusiasta da fotografia, tendo sido o primeiro brasileiro a possuir um daguerreótipo,e  provavelmente, o primeiro fotógrafo do Brasil. Devido ao seu interesse no assunto, implantou e ajudou decisivamente o desenvolvimento da fotografia no país.

 

 

Na noite de 15 de julho de 1889, houve a apresentação de uma jovem violinista italiana e a encenação de uma peça,  no Theatro Sant´Anna. O imperador Pedro II (1825 – 1891), acompanhado da imperatriz Teresa Cristina (1822 – 1889), de sua filha, a princesa Isabel (1846 – 1921), e do príncipe Pedro Augusto (1866 – 1934), seu neto mais velho, estiveram presentes.

 

 

Acessando o link para as fotografias de dom Pedro II disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

O Theatro Sant´Anna localizava-se onde anteriormente ficava o Theatro Casino Franco-Brésilien. Foi reinaugurado em 29 de outubro de 1880, com a opereta do alemão Jacques Offenbach (1819 – 1880), La fille du tambour major, executada pela Companhia Lírica Francesa. Era, desde então, um dos palcos mais importantes do Rio de Janeiro. Ficava na Praça da Constituição, atual Praça Tiradentes (Revista Musical e de Bellas Artes, 30 de outubro de 1880, segunda coluna). Em 26 de janeiro de 1905, já propriedade do empresário Paschoal Segreto (1868 – 1920), foi reinaugurado com o nome de Theatro Carlos Gomes com a encenação da peça Papa Lebonnard, de Jean Aicard (1848 – 1921), com a Companhia Christiano de Souza e Lucinda Simões (O Malho, 21 de janeiro de 1905).

Voltando à noite de 15 de julho de 1889. O Sant’Anna achava-se repleto: platéia e camarotes ocupados por pessoas da melhor sociedade; as galerias cheias da gente que de ordinário a freqüenta (Novidades, 16 de julho de 1889, quinta coluna). Foi apresentada a comédia Escola de Maridos (1661), do célebre dramaturgo francês Molière (1622 – 1673), traduzida pelo jornalista e dramaturgo maranhense Arthur de Azevedo (1855 – 1908), que em um dos intervalos foi chamado ao camarote do imperador, que felicitou seu trabalho e manifestou o desejo de possuir uma cópia de sua excelente tradução (Gazeta de Notícias, 16 de julho de 1889, quarta coluna). Arthur de Azevedo foi, anos depois, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e algumas de suas peças de maior sucesso foram A Capital Federal e O Mambembe.

 

 

Nos intervalos da peça, a violinista Giulietta Dionesi (c. 1877 – 1911), com a apenas 11 anos e já considerada uma virtuose do instrumento, executou a Grande Marcha Militar, do belga Hubert Leonard (1819 – 1890); e o Andante e Polonesa de Concerto, do francês Charles Dancla (1817 – 1907). Foi acompanhada por seu irmão, 10 anos mais velho do que ela, o maestro e pianista Romeu Dionesi (c. 1867 – ?). A apresentação foi um sucesso (Gazeta de Notícias14 de julho de 1889, quarta coluna; e 17 de julho de 1889, penúltima coluna).

 

GIULIETA1

A violinista italiana Giulietta Dionesi, aos 11 anos, em gravura da revista Pantheon

 

Os Dionesi haviam chegado em junho no Rio de Janeiro, após uma bem sucedida excursão pela Itália, Espanha e Portugal. No dia 6 de julho, Giulieta foi cumprimentar o imperador que, segundo noticiado, a recebeu com benéfico acolhimento e pediu que ela deixasse com ele o álbum com os artigos que a imprensa havia publicado sobre ela. Os irmãos ficaram órfãos de mãe e fugiram da Itália devido à exploração que o pai fazia do talento dos dois (Gazeta de Notícias, 29 de junho de 1889, quinta coluna; e 7 de julho de 1889, quinta coluna).

Enfim, a noite no Teatro Sant´Anna havia sido um sucesso absoluto! O espetáculo correu na melhor ordem. A atitude do povo era de todo o ponto pacífica e cortês. Porém, quando dom Pedro II e seus familiares, ao fim do espetáculo, chegaram ao saguão do teatro, houve uma manifestação contra a família imperial. Alguém gritou “Viva o Partido Republicano!”, abafado imediatamente esses gritos sediciosos aos aplausos de Viva o imperador! Viva a família imperial! Viva a monarquia! ((Novidades, 16 de julho de 1889, quinta coluna; e Novidades, 17 de julho de 1889, quinta coluna).

Causou a mais viva impressão a notícia da deplorável ocorrência de ontem à noite, às portas do teatro Sant’Anna e suas circunvizinhanças. Um grupo, quando o Imperador saía do teatro em companhia de sua augusta família, levantou vivas à república, o que produziu a maior confusão no povo, que em desafronta de Sua Magestade levantou vivas ao imperador. Sua Magestade embarcou em seguida no seu coche, que partiu a trote largo, e afirmam várias pessoas que, no momento de passar aquele por defronte da Maison Moderne, ou Stat-Coblentz, ouviu-se a detonação de um tiro” (Cidade do Rio, 16 de julho de 1889).

 

 

Foi na frente do restaurante Maison Moderne, localizado na própria Praça da Constituição, entre a rua Espírito Santo e a Travessa da Barreira, que foram disparados tiros na direção da carruagem imperial, que seguiu pela rua da Carioca em direção ao Paço Imperial.

 

 

Ainda na madrugada do dia 16 de julho, o 1º delegado de polícia, Bernardino Ferreira da Silva, começou as investigações. O primeiro detido, logo liberado, foi Germano Hasslocher. Depois compareceu à delegacia Eduardo José de Freitas informando que um funcionário da Maison Moderne, Antônio José Nogueira, conhecia o autor dos disparos, Adriano Augusto do Valle. Assim, o delegado Bernardino prendeu o acusado em um bonde da Companhia de Botafogo, na rua de Gonçalves Dias. Ele tinha 20 ou 21 anos, era natural de Coimbra, filho de Adriano Francisco Augusto do Valle e trabalhava desde maio como primeiro caixeiro do estabelecimento de pedras açorianas e máquinas para lavoura dos Srs. Ferreira & C., na rua Teófilo Otoni, nº 119, mesma rua onde residia, no nº 128. Na edição de O Paiz de 17 de julho de 1889, foram publicados alguns antecedentes do acusado que, segundo o periódico, há algum tempo discutia assuntos políticos , mostrando-se extremado em suas opiniões. Noticiou também o boato de que Adriano já havia dado um tiro em um retrato do conde d´Eu (1842 – 1922), marido da princesa Isabel, dizendo que sentia não poder fazer o mesmo, por enquanto, na pessoa desse príncipe (O Paiz, de 17 de julho de 1889; e Diário do Commércio, 17 de julho de 1889, terceira coluna).

 

 

Segundo alguns relatos, pouco antes do atentado, junto com outros rapazes, em bebedeira, Adriano do Valle teria afirmado ter coragem de dar “Vivas a República” diante do imperador. Foi incentivado pelos colegas, atirou e fugiu. Tentou se esconder em diversos hotéis, mas todos estavam cheios. No Hotel Provenceaux, pediu que o caixeiro Antônio Gonçalves guardasse os dois revólveres que possuía. Durante o interrogatório, confessou seu crime e declarou:

 

 

Houve um clima de consternação geral. O atentado causou polêmica em torno da imigração estrangeira, em crescimento durante a década de 1880, já que o criminoso era português, pertencendo à maior colônia de imigrantes da Corte e também à comunidade mais rica da cidade do Rio de Janeiro; e do movimento republicano.

Os republicanos imediatamente declararam-se contra o atentado, dissociando-se da ação criminosa. Quintino Bocaiuva (1836 – 1912 ), chefe do Partido Republicano e redator-chefe do jornal O Paiz, publicou o editorial “Os dois fatos“(O Paiz, 17 de julho de 1889, terceira coluna).

 

 

Outros jornais também se pronunciaram nesse sentido:

Infelizmente, houve ontem um atentado que não podemos atribuir senão à inconsciência de quem o praticou: ou loucura ou embriaguez, pois, por honra do partido republicano, não acreditamos que tal ato dele partisse. Esse triste acontecimento é ainda uma das consequências da profunda anarquia que lavra nos espíritos do Brasil, onde todas as noções de direito, dever e liberdade acham-se completamente obliteradas”. Tal ato contrariaria a “brandura do coração brasileiro e dos nossos costumes” (Gazeta da Tarde, 16 de julho de 1889, segunda coluna). 

“Revolucionários, sim, assassinos, nunca!”

“O Partido Republicano não tem a menor responsabilidade pelo desacato cometido contra S.S.M.M… O desacato que sofreu o chefe do estado, alquebrado pelos anos e pela moléstia, junto à santa senhora que o acompanhava só pode ser levado à conta da loucura daqueles que a todo transe procuram indispor e vilipendiar o nosso partido. Apelamos para o próprio imperador, e ele, que com cosciência nos diga, se julga que haja nesta terra um “verdadeiro republicano” que seja capaz de atentar contra a sua vida! Revolucionários, sim, assassinos, nunca!” (República Brazileira, 17 de julho de 1889, primeira coluna).

O próprio dom Pedro II, que no dia seguinte ao atentado foi com a imperatriz para o Palacete Itamaraty, no Alto da Boa Vista, procurou minimizar publicamente a importância do ocorrido, descartando a possibilidade de Adriano fazer parte de uma trama para sua deposição: “Não foi nada, foi um tiro de louco!” teria exclamado, na tentativa de encerrar o caso. Na ocasião, recebeu diversas visitas em desagravo ao ocorrido (O Paiz, 17 de julho de 1889, última coluna).

 

 

Devido à nacionalidade do acusado, o conselheiro Nogueira Soares, ministro de Portugal no Brasil, convocou seus compatriotas a uma reunião para a discussão sobre o atentado contra o imperador (Gazeta de Notícias, 21 de julho de 1889, sexta coluna). Associados das caixas beneficentes e associações portuguesas lançaram uma nota de repúdio ao crime e a diretoria do Liceu Literário Português anunciou seu total desacordo com o ato cometido contra o imperador: “Este ato manou de um louco, e os loucos não têm pátria” (Gazeta de Notícias, 18 de julho de 1889, terceira coluna).

Na reunião do ministério de Portugal, realizada no Gabinete Português de Leitura, no dia 24 de julho, o ministro Nogueira Soares leu um retrospecto dos acontecimentos acerca do atentado e fundamentou a seguinte proposta:

 

 

A Gazeta de Notícias publicou um editorial contra a posição aprovada por parte da colônia portuguesa durante a reunião (Gazeta de Notícias, 26 de julho de 1889, primeira coluna). O jornal O Paiz, cujo dono era o português João José dos Reis Junior, também se pronunciou afirmando que “A nacionalidade portuguesa não pode de modo algum ser lastimada pelo acidente da origem do jovem presumido criminoso” e desaprovando o ato de Nogueira Soares classificando- o de”azáfama de zumbaias à monarquia” e de “ostenstação de desprezo e de abandono para com o desventurado moço português (O Paiz, 28 de julho de 1889, quarta coluna).

Enquanto isso, o imperador seguiu recebendo, entre os meses de julho e agosto, vários telegramas o felicitando por ter sobrevivido ao atentado. Pelo mesmo motivo, também foram oferecidas diversas missas em Ação de Graças. Mas o fato é que a monarquia estava mesmo em seus estertores no Brasil. Em 9 de novembro, foi realizado o baile da Ilha Fiscal (Gazeta de Notícias, de 11 de novembro de 1889), que passou à história como o último baile do regime monárquico no país. Dias depois, em 15 de novembro, foi proclamada a República (Gazeta de Notícias, 16 de novembro de 1889).  Em 17 de novembro, a família real partiu para o exílio, na Europa, a bordo do Alagoas (Gazeta de Notícias, edição de 18 de novembro de 1889, sob o título “O Embarque do Imperador”, na segunda coluna).

Cerca de uma semana depois, no dia 23 de novembro de 1889, aconteceu o julgamento de Adriano do Valle perante o júri. Foi presidida pelo juiz Hollanda Cavalcanti. O reú compareceu acompanhado por seu curador, Julio Ottoni, e por seu defensor Ferreira Lima. O promotor do caso foi Lima Drummond. A defesa alegou que o grito de “Viva o Partido Republicano” tornara-se irrelevante devido à mudança de regime de governo ocorrido no Brasil; que Adriano não havia atirado contra a carruagem imperial já que nem os cocheiros nem os membros do piquete haviam ouvido disparos; e que não havia marca de tiros na carruagem. Argumentaram também que Adriano do Valle havia ingerido absinto, um dos motivos de ter tomado uma atitude irracional. O juiz Hollanda Cavalcanti fez 10 perguntas para os jurados, sendo a primeira “O acusado atirou no carro do imperador?” As demais estavam associadas a ela. Por 10 votos a 0, os jurados responderam “não” à primeira questão. As seguintes perderam o sentido e Adriano do Valle foi então, poucos dias após a proclamação da República, absolvido e posto em liberdade (Gazeta de Notícias, 24 de novembro, penúltima coluna).

Pedro II faleceu, no exílio, em Paris, em 5 de dezembro de 1891, no Hotel Bedford, na rua Arcade, no oitavo arrondissement da cidade. Foi retratado pelo renomado fotógrafo Nadar e seu atestado de óbito foi assinado por Jean Marie Charcot (1825 – 1893), Charles Jacques Bouchard (1837 – 1915) e por seu médico e amigo pessoal, Cláudio Velho da Motta Maia (1843 – 1897). A causa da morte foi pneumonia aguda no pulmão esquerdo.

 

Registro de morte de dom Pedro II

Registro de morte de dom Pedro II

Tradução do registro de morte do imperador:

Nós, abaixo assinados, Professores da Faculdade de Medicina e doutores em medicina, certificamos que Dom Pedro II d’Alcantara morreu em 5 de Dezembro de 1891 à meia noite e 35 (da manhã) no hotel Bedford, 17 rue de l’Arcade, em Paris, em conseqüência de uma pneumonia aguda do pulmão esquerdo.

Paris, 5 de dezembro de 1891

J.M Charcot

C. de Motta Maia

Bouchard”

Link para o registro da morte de Pedro II.

 

 

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Academia Brasileira de Letras

CPDOC

BESOUCHET, Lídia. Exílio e morte do Imperador. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1975

CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados, o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.

CARVALHO, José Murilo. Pedro II: ser ou não ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

Enciclopédia Britannica

HARING, Bertita. O Trono do Amazonas – a história dos Braganças no Brasil – José Olympio, RJ, 1944.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Jornal da Manhã de Uberaba, 20 de setembro de 1918

MEDEIROS, Karla Armani. Giulietta Dionesi, a jovem violinista. O Diário de Barretos, 8 de janeiro de 2019.

OLIVEIRA, Olga Maria Frange de. O atentado e o resgate de um gênioJornal da Manhã (Uberaba), 20 de setembro de 2018.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

Site Naxos

Site Theatros do Centro Histórico do Rio de Janeiro

Site ViolinMan.com

VIDIPÓ, George. Um processo criminal nos jornais do século XIX: o atentado contra dom Pedro II. Anais do Encontro Internacional XVII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias, 2018.

 

A Brasiliana Fotográfica, o Dia da Abolição da Escravatura e Machado de Assis na Missa Campal

Para lembrar os 130 anos da Abolição da Escravatura com a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888 – acontecimento histórico mais importante do Brasil após a Proclamação da Independência, em 1822 – , a Brasiliana Fotográfica sugere a leitura de todos os textos já publicados no portal que de alguma forma contemplaram o evento. Um deles trouxe a descoberta, realizada pela pesquisadora Andrea Wanderley, editora-assistente do portal, da presença do escritor Machado de Assis (1839 – 1908) na missa campal realizada no Rio de Janeiro em 17 de maio de 1888. Sobre o dia da abolição, Machado escreveu, anos depois, em 14 de maio de 1893, na coluna “A Semana”, no jornal carioca Gazeta de NotíciasVerdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto.

 

 

A escravidão no Brasil foi documentada pelos fotógrafos do século XIX. Contribuíram para isto o fato de ter a fotografia chegado cedo ao país, em 1840, sendo o imperador Pedro II um grande entusiasta, além do país ter sido o último das Américas a abolir a escravatura. Por cerca de 350 anos, o Brasil – destino de cerca de 4,5 milhões de escravos africanos – foi o maior território escravagista do Ocidente, mantendo este sistema tanto no campo como na cidade – o lugar de trabalho era o lugar do escravo.

 

 

Os escravizados foram retratados por diversos fotógrafos que atuaram no Brasil dos oitocentos que estão representados no acervo da Brasiliana Fotográfica, dentre eles Arsênio da Silva (1833 – 1883), Alberto Henschel (1827 – 1882), Antonio Lopes Cardoso (18? – ?),  Augusto Riedel (1836 – ?), Augusto Stahl (1828 – 1877), Jean Victor Frond (1821 – 1881), José Christiano Junior (1832 – 1902), George Leuzinger (1813 – 1892), João Goston (18? – ?), Marc Ferrez (1843 – 1923)Revert Henrique Klumb (c. 1826 – c. 1886) e por fotógrafos ainda não identificados.

 

Seguem os links dos artigos:

Dia da Abolição da Escravatura

Missa Campal de 17 de maio de 1888

Machado de Assis vai à missa, de autoria de José Murilo de Carvalho

Missa Campal de 17 de maio de 1888 – Novas identificações

Princesa Isabel (RJ, 29 de julho de 1846 – Eu, 14 de novembro de 1921)

Missa Campal de 17 de maio de 1888 – Mais identificações

 

 

 

Acessando o link para as fotografias de escravizados disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar a imagem e verificar todos os dados referentes a ela.

 

 

 

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Machado de Assis vai à missa

José Murilo de Carvalho*

Bendito o olhar de lince de Andrea Wanderley, que identificou o rosto de Machado de Assis na foto de Antonio Luiz Ferreira da missa celebrada em 17 de maio de 1888, no Campo de São Cristóvão, em ação de graças pela passagem da lei do dia 13 desse mês que abolira a escravidão no Brasil.

A foto está disponível no portal Brasiliana Fotográfica, fantástica iniciativa da Biblioteca Nacional em parceria com o Instituto Moreira Salles. Outras figuras são identificáveis, além, naturalmente, da princesa Isabel e do conde d’Eu. O presidente do Conselho de Ministros do Gabinete conservador que fez passar a lei, João Alfredo Correia de Oliveira, está à direita de Isabel, um pouco abaixo.

Os responsáveis pelo portal veem José do Patrocínio à frente do grupo, segurando a mão do filho. Ampliando o foco, deverão aparecer outros políticos e outros militantes da causa abolicionista. Nabuco não foi à missa, mas André Rebouças, quase íntimo da família imperial, estava lá. Também certamente estavam seus companheiros da Confederação Abolicionista, com quem se fizera fotografar na véspera, acompanhados de Ângelo Agostini, João Clapp, presidente da Confederação, Taunay,  grande amigo de Rebouças, Silveira da Mota, filho, Quintino Bocaiúva… Dezenas de outros certamente também estavam presentes e podem ser, eventualmente, identificados.

A escravidão no Brasil foi bastante fotografada, mas a abolição, sobretudo a semana de 13 a 20 de maio, nem tanto, mesmo na capital onde havia muitos fotógrafos.  A razão disso não sei. É quase total a ausência de fotos fora da Corte (há apenas duas), quando se sabe que as festividades ganharam todo o país. Mas a consequência disso é que os poucos registros até agora descobertos, umas 25 fotos, ganham extraordinária importância. E o destaque vai todo para Antônio Luiz Ferreira, autor das 15 fotos com que presenteou Isabel. Sua foto mais espetacular é, sem dúvida, a da sessão da Câmara do dia 10 de maio, quando foi aprovado o projeto da abolição. A foto mais curiosa é a de Luís Stigaard, tirada na colônia Isabel, no Rio Grande do Sul. Retrata dezenas de colonos, imigrantes europeus, disciplinadamente organizados em filas, comemorando a abolição, em contraste com a exuberância das celebrações na capital do Império.

Mas o registro importante hoje é a descoberta de que Machado foi à missa. Não era pessoa de frequentar igrejas. Também não apreciava manifestações multitudinárias. Mas a essa missa, a esse ajuntamento de milhares de pessoas, ele compareceu e fica claro na foto seu esforço para aparecer, prensado entre duas robustas figuras uniformizadas. Anos depois, em crônica (Gazeta de Notícias, 14/5/1893), ele anotou sobre o 13 de maio,  “Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto”. A missa foi continuação do delírio e é muito bom saber que o tímido, circunspecto e cético Machado estava lá.

[Ver sobre o assunto, Pedro e Bia Corrêa do Lago, Coleção Princesa Isabel. Fotografia do Século XIXRio de Janeiro: Capivara, 2008.]

 

 

Acessando o link para a fotografia Missa campal celebrada em ação de graças pela Abolição da Escravatura no Brasil produzida  Antonio Luiz Ferreira,  disponível na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar a imagem e verificar todos os dados referentes a ela.

 

*Natural de Minas Gerais, José Murilo de Carvalho é bacharel em Sociologia e Política (Universidade Federal de Minas Gerais) e doutor em Ciência Política (Stanford University). Foi professor na UFMG e na Universidade Federal do Rio de Janeiro e  professor visitante nas universidades de Stanford, California-Irvine, Notre Dame (Estados Unidos), Leiden (Holanda), London e Oxford (Inglaterra) e maître de conférence  na École des Hautes Études en Sciences Sociales (França). Foi pesquisador visitante do Institute for Advanced Study de Princeton. É professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisador emérito do CNPq, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras. Em 2015, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra. É autor de vários livros, entre os quais A construção da ordem e Teatro de sombras (Civilização Brasileira, 2003); Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi (Cia. das Letras, 1987); A formação das almas: o imaginário da República (Cia. das Letras, 1990); Cidadania no Brasil: o longo caminho (Civilização Brasileira, 2001, 2013) e D. Pedro II, ser ou não ser (Cia. das Letras, 2oo7).