O “Dr. Photographo” Oswaldo Cruz

Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço, pesquisadores da Fiocruz, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, são os autores do artigo O “Dr. Photographo” Oswaldo Cruz, que traz para os leitores do portal uma faceta pouquíssimo conhecida do cientista: ele era um entusiasta da fotografia e este interesse ocupou um lugar importante tanto em sua vida privada como na profissional. Atuou muitas vezes como fotógrafo e foi personagem central de inúmeras fotografias ao longo de sua vida. Com a publicação de registros realizados por ele próprio, por fotógrafos ainda não identificados, pelo fotógrafo português José Ferreira Guimarães (1841 – 1924) e por J. Pinto (1884 – 1951), fotógrafo baiano que atuou muitos anos na Fundação Oswaldo Cruz, vamos conhecer um pouco desta história.

 

 

Acessando o link para as fotografias relativas a este artigo disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

O “Dr. Photographo” Oswaldo Cruz

 

Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço*

 

Oswaldo Gonçalves Cruz (1872 – 1917) era um apaixonado pela fotografia. O interesse na criação de imagens em suporte sensível ocupou um lugar de destaque em sua vida privada e no mundo do trabalho. Ele próprio atuou como fotógrafo e foi personagem central de inúmeras fotografias de conteúdos distintos ao longo de sua gloriosa existência.

 

 

 

É importante registrar que nem sempre foi possível a identificação dos profissionais que contribuíram para eternizar a imagem de Oswaldo Cruz com suas lentes, já que a maioria de seus nomes se perdeu no tempo. Nessa perspectiva, até mesmo as fotografias atribuídas a Oswaldo Cruz apresentam um quantitativo subestimado em virtude da carência de elementos descritivos, como datas, nomes e locais, que comprovem a sua autoria.

As raras fontes existentes indicam que Oswaldo Cruz demonstrou interesse pela fotografia quando morou em Paris, na França, com a família, entre 1897 e 1899, a fim de aprimorar seus conhecimentos médico-científicos. Em carta a Emília da Fonseca Cruz, a Miloca (1873 – 1952), sua esposa, retornando da Exposição Internacional de Higiene de Dresden, na Alemanha, em 1911, fez menção a um passeio turístico para Fontainebleau, em 1897. Nessa ocasião, retratou a esposa, filhos e monumentos históricos.

 

 

De acordo com Ezequiel Dias (1880 – 1922), cientista e cunhado de Oswaldo, este se dedicava tanto à fotografia que se tornou um perito na arte, passando os domingos envolvido com a prática. Essa narrativa também foi compartilhada nas memórias afetivas do professor Eduardo Oswaldo Cruz (1933 – 2015), que herdou verdadeiras “preciosidades documentais” deixadas por seu ilustre avô. O material encontra-se sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz.

“O interesse de Oswaldo pela fotografia é evidente pela presença em sua casa da Praia de Botafogo, número 406, de uma câmara escura, localizada ao lado de sua sala de estudo (que ele denominava ‘meu Palácio de Cristal’), o que assegurava condições ideais para seu entretenimento. Sabemos que o próprio executava todas as manipulações necessárias, incluindo a sensibilização das placas, sua revelação e preparo dos positivos”.

Eduardo Oswaldo Cruz. Anaglyphos, s.d.

 

 

 

Porém, segundo a inscrição contida na imagem a seguir, Oswaldo Cruz possuía também em sua anterior residência, na rua Voluntários da Pátria, número 128, em Botafogo, um espaço para exercitar seu passatempo predileto, a fotografia. Em ambos os endereços registrou cenas do cotidiano familiar.

 

 

oswaldo4

Taxiphote, aparelho similar ao pertencente a Oswaldo Cruz / stereoscopyhistory.net

 

Para embasar da melhor forma possível a execução de seu hobby, Oswaldo Cruz cercou-se de publicações sobre teoria e técnica fotográficas. Entre os títulos em alemão, francês e italiano da antiga biblioteca do cientista, hoje preservados no acervo da Casa de Oswaldo Cruz, destacam-se La fotografia industriale. Fotocalchi economici per le riproduzioni di disegni, piani, carte, musica, negative fotografiche, ecc. e Les nouveautés photographiques, années 1904 et 1905. Complément annuel à la théorie, la pratique et l’art en photographie.

 

Coleção Bibliográfica Oswaldo Cruz / Acervo Casa de Oswaldo Cruz

Coleção Bibliográfica Oswaldo Cruz / Acervo Casa de Oswaldo Cruz

 

As câmeras utilizadas por Oswaldo Cruz, que teriam sido adquiridas em Paris, foram a Kodak Folding Pocket, que empregava Roll Film tamanho 118, e a Vérascope Richard, a sua favorita, que produzia fotografias estereoscópicas.

 

“Ainda que em alguns sentidos guarde semelhanças à prática amadora da fotografia plana, o amadorismo estereoscópico tem também suas especificidades, sobretudo no que diz respeito à sua capilarização. Estendendo-se pouco, ou quase nada, para além das elites, podemos perceber um perfil padrão dos fotógrafos amadores: profissionais liberais herdeiros de abastadas famílias brasileiras, homens de posses e/ou ocupantes de altos cargos da administração pública e sediado nos grandes centros urbanos”.

Maria Isabela Mendonça dos Santos.

A estereoscopia e o olhar da modernidade, 2019.

 

 

 

Entre as clássicas denominações atribuídas a Oswaldo Cruz – “mito na ciência brasileira”, “saneador do Rio de Janeiro” e “fundador da medicina experimental no Brasil” – houve uma de procedência totalmente informal, e que serviu de fio condutor para a concepção deste artigo. Sua origem se deu a partir de um episódio pitoresco envolvendo a figura de Oswaldo Cruz, que na ocasião foi chamado de “Dr. Photographo” por estudantes da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

 

Ezequiel Caetano Dias. Traços biográficos de Oswaldo Cruz, 1922

Ezequiel Caetano Dias. Traços biográficos de Oswaldo Cruz, 1922

 

As imagens que apresentamos no presente artigo pertencem à Coleção Família Oswaldo Cruz. Nela encontram-se, entre outras “preciosidades documentais”, fotografias, cartas e álbuns, de natureza e suportes diversos, que revelam aspectos até então desconhecidos da vida privada e da trajetória de Oswaldo Cruz como médico, cientista, sanitarista e administrador de instituições de ciência e saúde pública. Dito isso, vamos conhecer um pouco mais a respeito do nosso “Dr. Photographo”.

 

 Oswaldo Cruz, a Saga de Um Herói Brasileiro

Samba-enredo da Escola de Samba Em Cima da Hora, no carnaval de 2000.

 

“De São Luiz do Paraitinga

A saga de um herói vamos contar

Grande gênio da ciência

Trouxe a experiência da Cidade-Luz

No Brasil está vivo na memória

Um carnaval de epidemias combateu

Saneando a cidade, o meu Rio tropical

Foi espelho de Paris

Botaram abaixo o antigo

Construindo um ideal e assim remodelaram a capital

 

Com seus feitos, muitas vidas preservou

Foram ideias geniais e amor

Diretor pela saúde se tornou

Nos anais da nossa história o seu nome consagrou

 

Mas nem tudo eram flores

E houve dissabores com a vacinação

E aí a imprensa com humor, malhou, malhou

Em meio a tanta dor

 

Lá no Pará,

Terra de Tapajós e Apiacás

Com muita força e fé, livrou do mal

Operários da Madeira-Mamoré

Pesquisador, tornou-se imortal

Prefeito da Cidade Imperial

 

Oswaldo Cruz, a Fundação é você

Batam palmas, eu quero ver

Parabéns ao centenário

Muito fez por merecer”

 

Natural de São Luiz do Paraitinga, cidade histórica do interior paulista, Oswaldo Cruz nasceu no dia 5 de agosto de 1872, filho do médico Bento Gonçalves Cruz (1845 – 1892) e Amália Taborda de Bulhões Cruz (1851 – 1921). Em 1877, quando Oswaldo tinha cinco anos de idade, sua família se transferiu para a capital do Império, a cidade do Rio de Janeiro.

 

 

Em 1889, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde se formou em 1892, aos vinte anos. Em relação ao período que Oswaldo Cruz realizou sua graduação, é necessária uma correção. A partir da consulta aos documentos sobre a vida estudantil do cientista na Faculdade de Medicina, verificamos ser 1889 o ano correto para a sua entrada no curso médico – e não 1887, como foi difundido por seus primeiros biógrafos.

 

Certificado de provas da primeira série do curso médico, 9 de abril de 1889 / Acervo do Centro de Ciências da Saúde/UFRJ.

Certificado de provas da primeira série do curso médico, 9 de abril de 1889 / Acervo do Centro de Ciências da Saúde/UFRJ.

 

Em 1893, casou-se com Emília, com que teve seis filhos: Elisa (1894 – 1965), Bento (1895 – 1941), Hercília (1898 – 1968), Oswaldo (1903 – 1977), Zahra (1907 – 1908) e Walter (1910 – 1967). Ainda nesse ano, Oswaldo Cruz montou um laboratório de análises clínicas em sua casa e deu início a uma diversificada atuação como médico no consultório que herdara de seu pai, na Fábrica de Tecidos Corcovado e na Policlínica Geral do Rio de Janeiro. Além disso, auxiliou o Instituto Sanitário Federal no diagnóstico da epidemia de cólera que grassava no Vale do Paraíba.

 

 

Entre 1897 e 1899, conforme citado anteriormente, Oswaldo Cruz esteve em Paris estudando microbiologia, soroterapia e imunologia no Instituto Pasteur e medicina legal no Instituto de Toxicologia. Sua estadia com a família na “cidade-luz” foi financiada pelo sogro, o abastado comerciante português Manuel José da Fonseca (1842 – 1912).

 

 

 

De volta ao Rio de Janeiro, Oswaldo Cruz retomou suas funções como médico e fez parte da comissão que averiguou a crise de peste bubônica na cidade de Santos. Em seguida, recebeu o convite para exercer a direção técnica do Instituto Soroterápico Federal, que estava sendo criado na Fazenda de Manguinhos, localizada à beira mar, no subúrbio carioca. Seu funcionamento teve início em 1900, sob o comando do barão de Pedro Affonso (1845 – 1920). Dois anos depois, o barão foi destituído do cargo. Oswaldo Cruz, então, passou a dirigir sozinho os destinos do instituto – “célula mater” do que é, hoje, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

“Embora as verbas permanecessem escassas, o Instituto, sob a direção exclusiva de Oswaldo, foi tendo maiores facilidades para a realização de pesquisas. Trabalhava-se o mais que se podia, despreocupadamente, com satisfação, com muito interesse pelas pesquisas científicas e com liberdade para investigar sobre os mais variados assuntos com aprovação ampla de Oswaldo, cujo maior objetivo era alargar o âmbito das atividades praticadas no Instituto”.

Henrique de Beaurepaire Aragão.

Notícia histórica sobre a fundação do Instituto Oswaldo Cruz (Instituto de Manguinhos), 1950.

 

Sobre os primeiros tempos do Instituto Soroterápico Federal existem relatos de que o próprio Oswaldo Cruz documentou fotograficamente as atividades desenvolvidas nos improvisados ambientes de pesquisa e de preparo de soros e vacinas.

 

 

Em 1903, a partir da contratação do exímio e criativo fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, o J. Pinto (1884 – 1951), foram ampliados os registros referentes aos funcionários, estudantes, eventos, expedições científicas, campanhas sanitárias e instalações físicas do que viria a ser, dentro de poucos anos, um dos principais centros de ciências biomédicas e saúde do país. As fotografias produzidas por J. Pinto e outros fotógrafos que serviram na instituição ao longo de sua história, também estão reunidas no acervo da Casa de Oswaldo Cruz. Muitas delas, inclusive, foram apresentadas como tema de artigos na própria Brasiliana Fotográfica.

 

 

 

 

 

Mesmo após a chegada de um fotógrafo profissional, Oswaldo Cruz continuou produzindo fotografias sobre o dia a dia de Manguinhos, bem como de suas viagens a trabalho dentro e fora do país. No edifício símbolo da instituição, o Pavilhão Mourisco, mandou instalar um moderno Gabinete Fotográfico. Essa iniciativa, inovadora para os padrões da época, vem comprovar o grande apreço que o cientista tinha pela elaboração de imagens, não somente fixas, mas também em movimento.

“Entre o 3° e o 4° andar estão os gabinetes de macro e microfotografia, cinematografia etc., onde são executados por profissional de real competência – o Snr. Pinto – todos os trabalhos desse gênero. Ao lado, se acha uma copiosa coleção catalogada de fotografias e microfotografias, todas elas referentes a estudos realizados pelo pessoal do Instituto”. 

Ezequiel Caetano Dias. O Instituto Oswaldo Cruz: resumo histórico (1899-1918), 1918.

 

 

 

A partir de 1903, Oswaldo Cruz também comandou a Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP), tendo como desafio empreender uma campanha sanitária para debelar as principais doenças que assolavam o Rio de Janeiro: febre amarela, peste bubônica e varíola. Essa árdua tarefa se desenvolveu no contexto da reforma urbana orquestrada pelo prefeito Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), que recebeu plenos poderes do presidente Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848 – 1919) para transformar a capital da República em uma metrópole tropical com ares parisienses.

Cabe ressaltar aqui o papel desempenhado pela fotografia no período da Primeira República ou República Velha. Graças a difusão da técnica, um farto material iconográfico foi publicado na imprensa brasileira. Consultando revistas ilustradas e jornais diários, encontramos fotografias – além de charges e caricaturas – que foram utilizadas para enaltecer ou criticar as campanhas sanitárias e atividades científicas sob a responsabilidade de Oswaldo Cruz.

 

 

Os métodos empregados pelo diretor da DGSP para combater as epidemias de febre amarela e peste bubônica abordaram o isolamento dos doentes, a eliminação de mosquitos e ratos, a notificação compulsória dos casos positivos e a desinfecção de imóveis e ruas. Esses métodos, embora eficazes, não foram bem recebidos por vários segmentos da população, que desconfiavam da sua validade.

 

 

 

 

O combate à varíola, por sua vez, não saiu conforme o planejado por Oswaldo Cruz. Em 1904, depois da aprovação da polêmica lei que tornou obrigatória a vacinação contra a varíola em todo o Brasil, eclodiu uma revolta popular, seguida da tentativa de golpe militar: a Revolta da Vacina. Ela durou sete dias e foi reprimida severamente pelo governo de Rodrigues Alves, que acabou suspendendo a obrigatoriedade da vacinação.

 

 

De 1905 a 1906, ainda como parte das atribuições da DGSP, Oswaldo Cruz realizou uma viagem a diversos portos marítimos e fluviais de norte a sul do Brasil em companhia de seu secretário, o médico João Pedroso Barreto de Albuquerque (1869 – 1936). O objetivo da viagem era estabelecer um código sanitário para o país de acordo com as normas internacionais. Por esse novo empreendimento, Oswaldo Cruz foi mais uma vez incompreendido e atacado pela imprensa.

 

 

 

 

Em 1907, durante o XIV Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim (Alemanha), Oswaldo Cruz recebeu da imperatriz Augusta Vitória (1858 – 1921) a medalha de ouro em nome da seção brasileira presente na Exposição Internacional de Higiene. No evento foram exibidos os produtos e documentos referentes às ações do Instituto Soroterápico Federal e da DGSP, como, por exemplo, vacinas e soros, peças anatomopatológicas, coleções zoológicas, gráficos e fotografias de campanhas sanitárias e maquetes dos edifícios construídos para o instituto e a saúde pública no Rio de Janeiro. Quando ainda se encontrava no exterior, o governo brasileiro transformou o Instituto Soroterápico Federal em Instituto de Patologia Experimental de Manguinhos, um antigo anseio do cientista. Ao regressar ao Rio de Janeiro, em 1908, Oswaldo Cruz foi festivamente recebido como herói nacional após o retumbante sucesso alcançado pelo Brasil no evento de Berlim, que consagrou os trabalhos realizados sob seu comando em Manguinhos e contra as epidemias na capital federal, sobretudo a de febre amarela. A partir desse episódio, o comportamento da impressa em relação às atividades de Oswaldo Cruz se modificou, e as homenagens ao homem público, antes tão criticado, se tornaram rotineiras.

 

oswaldo23

Charge alusiva à conquista da medalha de ouro em Berlim / Edgard de Cerqueira Falcão. Oswaldo Cruz monumenta histórica, 1971

 

Com o desenvolvimento e transformação do “Instituto de Manguinhos” no arrojado Instituto Oswaldo Cruz (IOC), assim batizado em 1908 para homenagear os feitos do cientista, fotografia e desenho passaram a ser serviços complementares indispensáveis às atividades de ensino e pesquisa. Os sucessores de Oswaldo na gestão do instituto continuaram a dedicar atenção a essas práticas.

 

 

Oswaldo Cruz pediu exoneração da DGSP em 1909 e voltou a se dedicar exclusivamente ao seu instituto. Entre outras ações, promoveu o inventário das condições sanitárias do interior do Brasil através de expedições formadas por cientistas do IOC e médicos da DGSP. De 1910 a 1911, liderou importantes missões de combate à malária durante a construção da Ferrovia Madeira-Mamoré, a “ferrovia do diabo”, em Porto Velho, Rondônia, e à febre amarela em Belém, a convite do governador paraense João Coelho (1852 – 1926).

 

 

Nas duas ocasiões em que regressou ao Rio de Janeiro proveniente da região Norte do país, Oswaldo Cruz foi calorosamente recepcionado no Cais Pharoux, atual Praça XV, por autoridades, amigos e admiradores, que se deslocaram até o local para parabenizá-lo pela excelente condução dos trabalhos de saúde pública realizados no Pará e Rondônia.

 

 

 

Retornou à Alemanha em 1911 para participar da Exposição Internacional de Higiene de Dresden. O destaque da presença brasileira no evento foi, sem dúvida, a apresentação de peças anatomopatológicas, fotografias, moldes e bustos em gesso de doentes, entre outros itens, sobre a descoberta de Carlos Chagas (1879 – 1940), cientista do IOC, em 1909, da doença transmitida pelo barbeiro, a tripanossomíase americana ou doença de Chagas. A exibição dos filmes que documentam essa descoberta e as ações de combate à febre amarela no Rio de Janeiro também tiveram excelente aceitação entre os participantes da exposição. Muito provavelmente, o fotógrafo J. Pinto foi o responsável pelo filme Chagas em Lassance, o primeiro de caráter científico realizado no Brasil.

 

 

Em carta ao fiel escudeiro João Pedroso, que ficou em seu lugar chefiando os trabalhos de combate à febre amarela em Belém, Oswaldo Cruz resumiu com alegria mais um triunfo da ciência brasileira em solo alemão:

 

Berlim, 28 de julho de 1911.

Caro Pedroso.

De passagem por aqui, de volta de Dresden e a caminho de Paris não quis deixar de te mandar algumas linhas, informando-te dos resultados de nossa Exposição. Quando o Vasconcelos me escrevia cheio de entusiasmo, julgava eu que era vibração exagerada de patriotismo hipertrofiado pelos ares estrangeiros; mas, felizmente, tive ocasião de verificar a realidade do fato: É um sucesso completo, no ponto de vista, que eu o encaro, i. é. como meio de tornar conhecido o Brasil científico. Com efeito, a Exposição tem tido uma verdadeira romaria de sábios de toda a Alemanha. Quando aqui se reuniu o Congresso de Microbiologia foram todos os membros à nossa Exposição, espontaneamente e sem prévio convite; examinaram cuidadosamente tudo e ficaram todos encantados pelos estudos do Chagas. Quando no cinematógrafo viram a fita dos doentes do Chagas, não se puderam conter e irromperam em palmas e vivas! […] Os resultados da campanha do Pará têm pasmado a todos e com um interesse admirável estudam cuidadosamente os gráficos e mapas. Não havia, pois, exagero, e nossa reputação, já adquirida, de país civilizado que caminha na vanguarda do progresso científico, teve mais uma eloquente sanção, e vocês todos contribuíram para isso com enorme contingente, pelo que vivamente os felicito.

E Sales Guerra. Osvaldo Cruz, 1940.

Em 1912, o cientista foi eleito “imortal” da Academia Brasileira de Letras na vaga do poeta Raimundo Correia (1859 – 1911). Em 1914, recebeu a condecoração de oficial da Ordem Nacional da Legião de Honra da França.

 

 

 

 

Ainda em 1914, Oswaldo Cruz presidiu a Conferência Sanitária realizada em Montevidéu (Uruguai), que contou com a participação de representantes da Argentina, Brasil, Paraguai e do país anfitrião. O objetivo da conferência foi a elaboração de uma nova Convenção Sanitária para a região. Antes de voltar ao Rio de Janeiro, esteve na capital argentina visitando estabelecimentos científicos e de ensino superior. Na ocasião, recebeu o diploma de membro honorário da Academia de Medicina da Universidade Nacional de Buenos Aires.

 

 

 

 

Em 1916, por motivos de saúde, deixou a direção do IOC e foi morar em Petrópolis, região serrana fluminense. Lá, durante poucos meses, ocupou o cargo de primeiro prefeito da cidade, por nomeação de Nilo Peçanha (1867 – 1924), presidente do estado do Rio de Janeiro. No dia 11 de fevereiro de 1917, durante os festejos de Momo, Oswaldo Cruz morreu em sua casa, na rua Montecaseros, aos 44 anos, cercado por familiares e amigos. Seu enterro, realizado no dia seguinte, no Cemitério de São João Batista, Rio de Janeiro, reuniu representantes de todas as camadas sociais, que formaram um cortejo solene para dar o último adeus ao grande cientista brasileiro – o “Dr. Photographo” Oswaldo Cruz –, que se tornou símbolo da ciência nacional e da saúde pública.

 

 

* Ricardo Augusto dos Santos é Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz. Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço são pesquisadores do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz.

 

Fontes:

ARAGÃO, Henrique de Beaurepaire. Notícia histórica sobre a fundação do Instituto Oswaldo Cruz (Instituto de Manguinhos). Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 48, p. 1-75, 1950.

BENCHIMOL, Jaime Larry (coord.). Manguinhos do sonho à vida: a ciência na belle époque. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz, 1990.

BRITTO, Nara. Oswaldo Cruz: a construção de um mito na ciência brasileira. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006.

D’AVILA, Cristiane. A Exposição Internacional de Higiene de Dresden, na Alemanha, em 1911. Brasiliana Fotográfica, Rio de Janeiro, 5 jan. 2022.

DIAS, Ezequiel Caetano. O Instituto Oswaldo Cruz: resumo histórico (1899-1918). Rio de Janeiro: Instituto Oswaldo Cruz, 1918.

DIAS, Ezequiel Caetano. Traços biográficos de Oswaldo Cruz. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p. 1-79, 1922.

FALCÃO, Edgard de Cerqueira (org.). Oswaldo Cruz monumenta histórica. A incompreensão de uma época. Oswaldo Cruz e a caricatura. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1971. tomo 1.

FONSECA FILHO, Olympio da. A escola de Manguinhos: contribuição para o estudo do desenvolvimento da medicina experimental no Brasil. São Paulo: EGTR, 1974.

FRAIHA NETO, Habib. Oswaldo Cruz e a febre amarela no Pará. 2 ed., rev. e ampl. Ananindeua: Instituto Evandro Chagas, 2012.

FRAGA, Clementina. Vida e obra de Oswaldo Cruz. 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2005.

GUERRA, E. Sales. Osvaldo Cruz. Rio de Janeiro: Vecchi, 1940.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

LIMA, Ana Luce Girão Soares de. A bordo do República: diário pessoal da expedição de Oswaldo Cruz aos portos marítimos a fluviais do Brasil. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, p. 158-167, 1997.

LIMA, Nísia Trindade; MARCHAND, Marie-Hélène (org.). Louis Pasteur & Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz; Banco BNP Paribas Brasil S.A., 2005.

LOPES, Myriam Bahia. Corpos ultrajados: quando a medicina e a caricatura se encontram. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, p. 257-275, 1999.

LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, Ricardo; LOURENÇO, Francisco dos Santos. Antonio Gonçalves Peryassú e o estudo dos mosquitos para sanear o Brasil: uma resenha biográfica. Revista Pan-Amazônica de Saúde, Ananindeua, v. 13, p. 1-13, 2022.

Oswaldo Cruz: o médico do Brasil. São Paulo: Fundação Odebrecht; Brasília: Fundação Banco do Brasil, 2003.

OSWALDO CRUZ, Eduardo. Anaglyphos: Oswaldo Cruz como fotógrafo. Inglaterra, s.d.

ROCHA LIMA, Henrique da. Com Oswaldo Cruz em Manguinhos. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 4, n. 1/2, p. 15-38, 1952.

SANTOS, Maria Isabela Mendonça dos. A estereoscopia e o olhar da modernidade. Brasiliana Fotográfica, Rio de Janeiro, 29 maio 2019.

SANTOS, Ricardo Augusto dos. O fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, o J. Pinto (1884 1951) e a Fundação Oswaldo Cruz. Brasiliana Fotográfica, Rio de Janeiro, 16 nov. 2017.

SANTOS, Ricardo Augusto dos; LOURENÇO, Francisco dos Santos. João Pedro ou João Pedroso?. Brasiliana Fotográfica, Rio de Janeiro, 11 jan. 2019.

SERPA, Phocion. A vida gloriosa de Osvaldo Cruz. Rio de Janeiro, 1937.

THIELEN, Eduardo Vilela et al. A ciência a caminho da roça: imagens das expedições científicas do Instituto Oswaldo Cruz em 1911 e 1912. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz, 1991.

THIELEN, Eduardo Vilela. Imagens da saúde do Brasil: a fotografia na institucionalização da saúde pública. Dissertação (Mestrado em História) – Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 1992.

WANDERLEY, Andrea C. T. Breve perfil e cronologia do fotógrafo português José Ferreira Guimarães (1841 – 30/01/1924). Brasiliana Fotográfica, Rio de Janeiro, 30 nov. 2017.

 

Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência

Com fotografias em formato cabinet*  de autoria de João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes (18? – 19?), pertencentes ao acervo da Fundação Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica; e com um pequeno histórico do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, o portal celebra esta data.

 

 

 

Pequeno histórico do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência

 

O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, que coincide com o início da primavera, dia 21 de setembro, e simboliza o nascimento e a renovação do movimento das pessoas com deficiência, foi instituído pela Lei nº 11.133/2005, de 14 de julho de 2015. Seu objetivo é a conscientização da população brasileira de que pessoas com deficiência devem ter seus direitos respeitados e devem ser integradas à sociedade sem preconceitos, de forma igualitária. De acordo com o IBGE, no Brasil, 17,3 milhões de pessoas com dois anos ou mais de idade – o que representa 8,4% da população – possuem algum tipo de deficiência.

 

 

Segundo a Lei Brasileira de Inclusão de Pessoa com Deficiência, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, de 2015, a pessoa com deficiência é aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. 

Existe, há relativamente pouco tempo, o conceito de capacitismo, sobre a discriminação em relação a pessoas com deficiência, a partir da subestimação da capacidade e aptidão dessas pessoas devido a suas deficiências, o que se traduz como um obstáculo à inclusão desses indivíduos à sociedade. Além disso, cada vez mais pessoas com deficiência trazem à sociedade um questionamento: seriam elas deficientes ou seria deficiente a sociedade que não satisfaz às necessidades de todas as pessoas que a formam?

O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência foi oficializado, como já mencionado, em 2005, porém a data já era celebrada desde 1982 por iniciativa do Movimento pelos Direitos das Pessoas com Deficiência. O grupo começou a se organizar em fins de 1979 para reivindicar direitos e melhorias para a vida das pessoas com deficiência.

 

 

Legislação brasileira em relação a pessoas com deficiência:

Lei n° 7.713/1998: garante a dedução do Imposto de Renda para pessoas com deficiência.

Lei nº 7.853/1989: dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiência e sua efetiva integração social.

Lei nº 8.213/1991: ordena que, a partir de 100 empregados, a empresa deve reservar de 2% a 5% de vagas para pessoas com deficiência.

Lei nº 8.899/1994: a Lei do Passe Livre prevê que toda pessoa com deficiência tenha direito ao transporte coletivo interestadual gratuito, e que cabe a cada estado ou município implantar programas similares ao Passe Livre para os transportes municipais e estaduais.

Lei nº 8.989/1995promove a isenção do imposto sobre produtos industrializados – IPI, na aquisição de automóveis para utilização no transporte autônomo de passageiros, bem como conduzidos pelas próprias pessoas com deficiência física, e dá outras providências. (Redação dada pela Lei Nº 10.754, de 31.10.2003).

Lei nº 9.394/1996: Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Determina que “haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial e que o atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular”. A legislação brasileira também prevê o acesso a livros em Braille, de uso exclusivo das pessoas com deficiência visual.

Lei nº 10.098/2000: normatiza as condições de acessibilidade.

Lei nº 10.436/2002: reconhece a Língua Brasileira da Sinais (LIBRAS) para os surdos.

Lei nº 10.754/2003: altera a Lei Nº 8.989, de 24 de fevereiro de 1995 que “dispõe sobre a isenção do Imposto Sobre Produtos Industrializados – IPI, na aquisição de automóveis para utilização no transporte autônomo de passageiros, bem como por pessoas com deficiência física e aos destinados ao transporte escolar.

Lei nº 11.126/2005: garante o direito da pessoa com deficiência visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado de cão-guia.

Lei nº 12.319/2010: regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.

Lei 13.146/2015: a Lei Brasileira de Inclusão de Pessoa com Deficiência, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, incorporou os princípios da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, realizada em 2006, pela Organização das Nações Unidas (ONU) e ratificada pelo país em 2008.

 

Pequeno perfil de João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes (18? – 19?)

 

Apesar de não sabermos onde e quando João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes, nasceu e faleceu, há registros de sua atuação como fotógrafo a partir de 1875, no Rio de Janeiro, na rua da Quitanda, nº 39. Era filho do comendador Thomaz Xavier Ferreira de Menezes e seus irmãos eram Francisco, Eurydice, Thomaz e Carlos Xavier de Oliveira Menezes; e Rita Augusta de Menezes Pinho (Jornal do Commercio, 2 de novembro de 1891, sexta colunaO Paiz, 13 de setembro de 1896, sexta coluna).

 

deficiente5

Acervo IMS

 

Em 1876, foram realizadas obras em seu estúdio fotográfico e anunciado que já estava a disposição de nosso amigos e fregueses (Gazeta de Notícias, 27 de agosto de 1876).

 

 

Até 1882, foi associado, na firma Pacheco, Menezes & Irmão, a seu irmão, Carlos e a Bernardo José Pacheco (18? -?), que havia sido, entre 1866 e 1874, associado ao fotógrafo açoriano Christiano Junior (1802 – 1902). Apresentavam-se como sucessores de Christiano Junior & Pacheco e ofereciam retratos em todos os systemas (Jornal do Commercio, 3 de dezembro de 1866Gazeta de Notícias, 8 de agosto de 1875Diário do Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1875, sexta colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1875 1876187718781879188018811882). Lembramos que Christiano Jr. foi o autor da série Elephansiasis, realizada na década de 1860. Como já indagado no artigo, Para uma história da fotografia médica, no Brasil, de autoria de Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, teria sido J. Menezes o sucessor de Christiano Junior no atendimento à classe médica da corte?

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de J. Menezes disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

O estabelecimento passou a chamar-se Menezes & Irmão (Gazeta de Notícias, 13 de junho de 1882, última coluna; Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1884).

 

 

Ainda em 1882, anunciavam Photographia e Pintura e, em 1883, anunciavam uma Grande Novidade:

 

 

 

Em 1883,  foram lidas proclamas de seu casamento com Virgilia Adelaide Mendes Calaza (Gazeta de Notícias, 29 de dezembro de 1893, terceira coluna). Em 1884, com o falecimento de seu irmão e sócio Carlos, foi extinta a firma Menezes & Irmão e J. Menezes passou a atuar por conta própria, ainda na Rua da Quitanda, nº 39 (Jornal do Commercio, 26 de agosto de 1884, sétima coluna; Jornal do Commercio, 3 de outubro de 1884, última coluna). Residia na Rua do Souto, 16.

Foi na década de 1880, que J. Menezes produziu as fotos de pessoas com deficiência exibidas neste artigo.

Nos primeiros anos da década de 1890, seu estabelecimento fotográfico ficava na rua Marquês de Paraná, 1. O último registro de sua atividade como fotógrafo encontrada pela minha pesquisa data de 1902 (Gazeta de Notícias, 13 de junho de 1884, terceira colunaJornal do Commercio, 3 de outubro de 1884, última colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 188518911892, 1898190019011902).

Em 1902, seu filho Augusto (1901 – 1902) faleceu (Jornal do Commercio, 10 de julho de 1902, sexta coluna).

 

 

*Formato de apresentação de fotografias sobre papel que surgiu na Inglaterra em 1866 como uma evolução do formato cartão de visita, tendo portanto o mesmo tipo de apresentação, mas num tamanho maior, razão pela qual era dito de cabinet, de gabinete. Outra denominação empregada para esse formato, inclusive aqui no Brasil, era carte boudoir, em referência àquelas salas íntimas de uso feminino características das residências oitocentistas. Muito utilizado até fins do século passado, esse formato apresentava fotografias de cerca de 9,5 x 14cm montadas sobre cartões rígidos de cerca de 11 x 16,5 cm (Enciclopédia Itaú Cultural).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. Para uma história da Fotografia Médica, no Brasil. Brasiliana Fotográfica, 23 de outubro de 2016

Câmara Paulista para Inclusão da Pessoa Deficiente

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOUTSOUKOS, Sandra Sophia Machado.  O retratado era “diferente”. Rio de Janeiro, c. 1865. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011.

Ministério da Saúde – Biblioteca Virtual em Saúde

Portal UOL

Site Câmara dos Deputados

Cronologia de João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes (18? – 19?)

 Cronologia de João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes (18? – 19?)

 

1875 – Apesar de não sabermos, até o momento, onde e quando João Xavier de Oliveira Menezes, o J. Menezes, nasceu e faleceu, há registros de sua atuação como fotógrafo a partir de 1875, no Rio de Janeiro, na rua da Quitanda, nº 39. Era filho do comendador Thomaz Xavier Ferreira de Menezes e seus irmãos eram Francisco, Eurydice, Thomaz e Carlos Xavier de Oliveira Menezes; e Rita Augusta de Menezes Pinho (Jornal do Commercio, 2 de novembro de 1891, sexta colunaO Paiz, 13 de setembro de 1896, sexta coluna).

 

deficiente5

Acervo IMS

 

1876 – Realização de obras em seu estúdio fotográfico e anunciado que já estava a disposição de nosso amigos e fregueses (Gazeta de Notícias, 27 de agosto de 1876).

 

 

Década de 1880 – Foi nesta década que J. Menezes produziu fotos de pessoas com deficiência.

1882 - Fim de sua associação, na firma Pacheco, Menezes & Irmão, a seu irmão, Carlos e a Bernardo José Pacheco (18? -?), que havia sido, entre 1866 e 1874, associado ao fotógrafo açoriano Christiano Junior (1802 – 1902). Apresentavam-se como sucessores de Christiano Junior & Pacheco e ofereciam retratos em todos os systemas (Jornal do Commercio, 3 de dezembro de 1866Gazeta de Notícias, 8 de agosto de 1875Diário do Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1875, sexta colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1875 1876187718781879188018811882). Lembramos que Christiano Jr. foi o autor da série Elephansiasis, realizada na década de 1860. Como já indagado no artigo, Para uma história da fotografia médica, no Brasil, de autoria de Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, teria sido J. Menezes o sucessor de Christiano Junior no atendimento à classe médica da corte?

O estabelecimento passou a chamar-se Menezes & Irmão (Gazeta de Notícias, 13 de junho de 1882, última coluna; Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1884).

 

 

Anunciavam Photographia e Pintura.

 

 

1883 -  Anunciavam uma Grande Novidade:

 

 

Foram lidas proclamas de seu casamento com Virgilia Adelaide Mendes Calaza (Gazeta de Notícias, 29 de dezembro de 1893, terceira coluna).

1884 - Com o falecimento de seu irmão e sócio Carlos, foi extinta a firma Menezes & Irmão e J. Menezes passou a atuar por conta própria, ainda na Rua da Quitanda, nº 39 (Jornal do Commercio, 26 de agosto de 1884, sétima colunaJornal do Commercio, 3 de outubro de 1884, última coluna). Residia na Rua do Souto, 16.

Década de 1890 – Nos primeiros anos desta década, seu estabelecimento fotográfico ficava na rua Marquês de Paraná, 1. O último registro de sua atividade como fotógrafo encontrada pela minha pesquisa data de 1902 (Gazeta de Notícias, 13 de junho de 1884, terceira colunaJornal do Commercio, 3 de outubro de 1884, última colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 188518911892, 1898190019011902).

1902 –  Seu filho Augusto (1901 – 1902) faleceu (Jornal do Commercio, 10 de julho de 1902, sexta coluna).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

No Dia do Repórter Fotográfico, destaque para o “Marco no fotojornalimo brasileiro: a seca no Ceará é documentada com fotografias”

No Dia do Repórter Fotográfico, a Brasiliana Fotográfica republica o Marco no fotojornalimo brasileiro: a seca no Ceará é documentada com fotografias. O assunto do artigo, originalmente publicado no portal em 12 de julho de 2015, é a veiculação de duas fotos de vítimas da maior seca nordestina do século XIX, na revista O Besouro, uma das iniciativas pioneiras da imprensa brasileira na utilização de fotografias como documentos comprobatórios de um fato, estabelecendo uma relação entre a narrativa escrita e o registro fotográfico. O autor das imagens, pertencentes ao acervo da Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras do portal, foi Joaquim Antônio Correia, cujo ateliê ficava em Fortaleza, no Ceará.

Para os leitores interessados em fotojornalismo, destacamos o portal Testemunha Ocular, uma iniciativa do Instituto Moreira Salles, instituição fundadora da Brasiliana Fotográfica, para preservar e difundir o passado e o presente do Fotojornalismo brasileiro; e também a exposição Evandro Teixeira. Chile 1973, em cartaz até 13 de novembro de 2023, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.

 

Marco no fotojornalimo brasileiro: a seca no Ceará é documentada com fotografias

 

J.A. Correia. Secca de 1877-78, 1877-1878. Ceará / Acervo FBN

J.A. Correia. Secca de 1877-78, 1877-1878. Ceará / Acervo FBN

 

Segundo o trabalho “Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira”, dos pesquisadores Joaquim Marçal Ferreira de Andrade e Rosângela Logatto, a publicação de fotos de vítimas da maior seca nordestina do século XIX foi uma das iniciativas pioneiras da imprensa brasileira na utilização de fotografias como documentos comprobatórios de um fato (Anais da Biblioteca Nacional, vol 114, de 1994, p.71-83).

Para denunciar a tragédia, o chargista português Rafael Bordalo Pinheiro (1846 – 1905) publicou, em 20 de julho de 1878, em uma ilustração da revista O Besouro, duas fotos que fazem parte de um conjunto de 14 registros fotográficos de vítimas da seca ocorrida entre 1877 e 1878. Porém, não foi dado crédito para o autor das fotos, Joaquim Antônio Correia, cujo ateliê ficava em Fortaleza, no Ceará.

Link para O Besouro de 20 de julho de 1878, ano I, n.16

Esse conjunto de fotografias pertence, atualmente, ao acervo da Biblioteca Nacional.  São imagens chocantes, em formato de cartes de visite, e retratam crianças, homens e mulheres desnutridos e maltrapilhos, de aparência doentia, e, muitas vezes, as fotos, feitas em estúdio, trazem textos rimados que se referem à miséria.

 

Acessando o link para as fotografias de Joaquim Antônio Correia sobre a seca nordestina de 1877/1878 disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

A publicação da ilustração litográfica das duas fotos sendo seguradas por um esqueleto vestindo paletó, sob o título “Páginas tristes – Scenas e aspectos do Ceará (para S. Majestade, o Sr. Governo e os Senhores Fornecedores verem)”, tinha o objetivo de reforçar denúncias feitas pelo escritor e jornalista José do Patrocínio (1853 – 1905) em artigos publicados no periódico de texto Gazeta de Notícias. Patrocínio fazia, na época, a cobertura jornalística da seca com o principal objetivo de acompanhar a aplicação dos recursos governamentais em seu combate. Partiu em 10 de maio de 1878 e retornou ao Rio de Janeiro, em 12 de agosto do mesmo ano. As matérias foram publicadas, na coluna Folhetim, na primeira página da Gazeta de Notícias, sob o título “Viagem ao Norte” (1).

Mas só o texto não era suficiente. Então, Patrocínio enviou as fotos para a redação da revista O Besouro, para a qual já havia mandado, antes da viagem, o artigo “Sermão de Lágrimas” (O Besouro, edição de 4 de maio de 1878 ), em que tratava, com preocupação, a seca e a situação dos retirantes.

A publicação da ilustração com as fotos de Joaquim Antônio Correia, na revista O Besouro, foi um verdadeiro “anticartão de visita, veemente panfleto que denuncia uma realidade que muitos membros da corte se negavam a enxergar”(“Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira”).

Abaixo, está reproduzido o texto publicado no O Besouro, na página seguinte à ilustração com as fotografias:

“O Ceará

O nosso amigo José do Patrocínio, em viagem por aquela provincia, enviou-nos as duas photographias por que foram feitos os desenhos da nossa primeira página.

São dois verdadeiros quadros de fome e miséria. E´ n´aquelle estado que os retirantes chegam á capital, aonde quasi sempre morrem, apezar dos apregoados soccorros, que segundo informações exactas são distribuídos de maneira improficua.

A nossa estampa da primeira pagina é uma prova cabal áquelles que accusavam de exageração, a pintura que se fazia do estado da infeliz província.

Repare o governo e repare o povo, na nossa estampa, que é a cópia fiel da desgraça da população cearense.

Continuaremos a reproduzir o que o nosso distincto collega nos enviar a tal respeito.”

Uma curiosidade: também dessa viagem ao norte do país originou-se o romance de José do Patrocinio, Os Retirantes, publicado na Gazeta de Notícias, em estilo de folhetim, entre 29 de junho e 10 de dezembro de 1879.

 

(1) – Links para os artigos escritos por José do Patrocínio sob o título “Viagem ao Norte”.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 1º de junho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 6 de junho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 20 de julho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 23 de julho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 3 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 15 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 22 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 30 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 7 de setembro de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 12 de setembro de 1878.

 

Breve cronologia de Joaquim Antônio Correia (18? – ?)

 

seca1

 

1874 – Até este ano, o nome de Joaquim Antônio Correia apareceia no cadastro de contribuintes como dono de uma casa comercial especializada em produtos manufaturados fora da província,que ficava na rua da Palma , nº 17.

1877 - Estabeleceu como fotógrafo na rua Formosa, n° 31. Atuou como retratista por não menos de dez anos e foi contemporâneo de Agio Pio, do prussiano Carlos Frederico Johann Reeckell, do dinamarquês Niels Olsen (1843 – 1911) associado ao austríaco Constantino Barza, do francês Baubrier e de Francisco Brandão, dentre outros.

 

 

1878 – Defendeu-se da acusação de comercializar indevidamente retratos que produzia de moças de família e ameaçou pendurar de cabeça para baixo os retratos de seus devedores (O Cearense, 12 de maio de 1878).

Em maio, conheceu o escritor José do Patrocínio (1853 – 1905), que havia ido para o Ceará para conhecer mais de perto a tragédia da seca. Voltando para o Rio de Janeiro, publicou duas fotos da seca no Ceará de autoria de Correia, na revista O Besouro, de 20 de julho de 1878, do chargista português Rafael Bordallo Pinheiro (1846 – 1905). Foi uma das iniciativas pioneiras da imprensa brasileira na utilização de fotografias como documentos comprobatórios de um fato. Foi um marco na história do fotojornalismo brasileiro.

A publicação da ilustração litográfica das duas fotos sendo seguradas por um esqueleto vestindo paletó, sob o título “Páginas tristes – Scenas e aspectos do Ceará (para S. Majestade, o Sr. Governo e os Senhores Fornecedores verem)”, tinha o objetivo de reforçar denúncias feitas por do Patrocínio em artigos publicados no periódico de texto Gazeta de Notícias. Patrocínio fazia, na época, a cobertura jornalística da seca com o principal objetivo de acompanhar a aplicação dos recursos governamentais em seu combate. Partiu em 10 de maio de 1878 e retornou ao Rio de Janeiro, em 12 de agosto do mesmo ano. As matérias foram publicadas, na coluna Folhetim, na primeira página da Gazeta de Notícias, sob o título “Viagem ao Norte”. Mas só o texto não era suficiente. Então, Patrocínio enviou as fotos para a redação da revista O Besouro, para a qual já havia mandado, antes da viagem, o artigo “Sermão de Lágrimas” (O Besouro, edição de 4 de maio de 1878 ), em que tratava, com preocupação, a seca e a situação dos retirantes.

1881 – Seu estúdio fotográfico dispunha de um grande sortimento de quadros de gosto…máquinas de 4 objetivas…e tudo por preço tão diminuto que admira.

 

 

1883 / 1884 – Antes da assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, Fortaleza, em 24 de maio de 1883, tornou-se a primeira capital brasileira a libertar todos os escravizados. No ano seguinte, em 25 de março de 1884, o Ceará passou a ser o primeiro estado brasileiro a extinguir a escravidão. Correia documentou os líderes da luta escravagista em fotos chamadas de Retratos Libertadores e, em 1883, as comercializava.

 

O Libertador, de 1887

O Libertador,  9 de maio de 1883 / História da fotografia no Ceará do século XIX

 

1885 – Correia anunciou que havia adquirido, em Paris, uma nova máquina para retratos instantâneos (O Cearense, de 28 de julho de 1885, última coluna).

1886 – Anunciava que em seu estabelecimento fotográfico tirava-se retratos pelos processos mais aperfeiçoados (O Libertador, 8 de junho de 1886, última coluna).

1892 – Provavelmente continuou trabalhando como fotógrafo até este ano.

Em 29 de dezembro, inaugurou a primeira fábrica de louças do Ceará, no Boulevard da Conceição (A República, 28 de dezembro de 1892, quarta coluna).

1893 – Anunciou a venda de seu estúdio fotográfico:

“Joaquim Antonio Correia vende a sua fotografia constando de boas lentes, drogas, punsas, etc. A tratar: Rua Formosa, nº 31″ (A República, 30 de maio de 1893). Residia na rua Floriano Peixoto, nº 95.

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de; LOGATTO, Rosângela. Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira Anais da Biblioteca Nacional, vol 114, de 1994, p. 71-83.

BEZERRA, Ari Leite. História da fotografia no Ceará do século XIX. Edição do autor, 2019.

Fundação Palmares

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

Link para o artigo 500 mil mortos: a tragédia esquecida que dizimou brasileiros durante 3 anos no século 19, de Camilla Veras Mota, Camila Costa e Cecilia Tombesi publicada no site da BBC, em 18 de junho de 2021, com as fotografias de Joaquim Antonio Corrêa.*

 

*Esse link foi acrescentado no artigo em 19 de junho de 2021.

**Essa breve cronologia foi inserida em 19 de abril de 2022.

Série “Os arquitetos do Rio de Janeiro” III – O centenário do Copacabana Palace, quintessência do “glamour” carioca, e seu criador, o arquiteto francês Joseph Gire

A Brasiliana Fotográfica publica o terceiro artigo da série Os arquitetos do Rio de Janeiro com um texto sobre o centenário do Copacabana Palace e também sobre seu arquiteto, o francês Joseph Gire (1872 – 1933).

 

 

O Copacabana Palace, símbolo do glamour carioca e um ícone da arquitetura do Rio de Janeiro, completa hoje 100 anos e volta a ser tema da Brasiliana Fotográfica. Era, na época de sua inauguração, o maior hotel da América Latina e representava a modernidade da cidade, ocupando um lugar importante em sua memória. O Copa, apelido pelo qual ficou conhecido, foi criado pelo arquiteto francês Joseph Gire (1872 – 1933) e teve seu batismo oficial realizado, em 13 de agosto de 1923, com a visita do então presidente da República, Artur Bernardes (1875 – 1955), em companhia de outras autoridades, dentre elas o prefeito do Rio de Janeiro, Alaor Prata (1882 – 1964). Foram recebidos por Octávio Guinle (1886 – 1968). No dia seguinte, o hotel começou a receber hóspedes, distintos turistas e brasileiros da melhor sociedade (Gazeta de Notícias, 8 de agosto de 1923O Paiz, 14 de agosto de 1923, segunda coluna; e Beira-Mar, 19 de agosto de 1923).

 

Destacamos registros do hotel produzidos por Augusto Malta (1864 – 1957) que, entre 1903 e 1936, foi o fotógrafo oficial da Prefeitura do então Distrito Federal, por Thiele (? – 19?) e imagens realizadas por um fotógrafo ainda não identificado.

 

Acessando o link para as fotografias do Hotel Copacabana Palace disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Um pouco da história do Copacabana Palace

 

“Contar a história do hotel é contar a história da cidade e do país”

O jornalista Ricardo Boechat (1952 – 2019)

sobre o Copacabana Palace

Inspirado nos hotéis Negresco, em Nice, e no Carlton, em Cannes – ambos na França – e situado na Avenida Atlântica 1.702, o Copacabana Palace é um marco na ocupação e na paisagem de Copacabana e contribuiu para a projeção internacional do Rio de Janeiro. Seu arquiteto foi, como já mencionado, o francês Joseph Gire (1872 – 1933). O engenheiro responsável pela obra do Copa foi Cesar de Mello e Cunha (1898 – 1991). O hotel  foi construído com cimento alemão, mármore de Carrara, e adornado com vidros e lustres da Tchecoslováquia, móveis franceses, tapetes ingleses e cristais da Boêmia. Suas porcelanas eram Limoges. Surgia então um monumento à elegância.

 

Edifício Gire, no Rio

COPACABANA PALACE – FACHADA PRINCIPAL No HOTEL sobre a AVENIDA ATLÂNTICA / Joseph Gire architeto – Escala 100

 

A construção de um hotel de luxo na avenida Atlântica, recém duplicada e iluminada pelo prefeito Paulo de Frontin (1860 – 1933), em Copacabana, bairro que concentrava a aristocracia moderna do Rio de Janeiro, fazia parte dos preparativos  para a celebração do centenário da independência do Brasil, em 1922. Determinado a propagar as belezas do Brasil no exterior, o presidente Epitácio Pessoa (1865 – 1942) submeteu o projeto ao empresário Octávio Guinle (1886 – 1968), membro de uma das mais ricas e tradicionais famílias do Brasil e dono do Palace Hotel, no Rio de Janeiro, e do Hotel Esplanada, em São Paulo. Ele aceitou o desafio. Porém o Copacabana Palace só ficou pronto, em 1923, quando a Exposição Internacional do Centenário da Independência, aberta em 7 de setembro de 1922, já havia sido encerrada, em 24 de julho de 1923.

 

 

Sobre a localização do novo hotel, Epitácio fazia questão que fosse construído na Praia de Copacabana, uma descoberta recente dos cariocas. Segundo o jornalista Maneco Müller (1923 – 2005), cujo pseudônimo era Jacinto de Thormes, A cidade dava as costas para o mar, a paisagem. A maneira de ser do carioca só nasceu quando fizeram o túnel em direção ao areal. 

Ao longo de sua existência o hotel foi visitado ou hospedou artistas, atletas, cientistas, intelectuais, nobres e políticos como Albert Einstein(1879 – 1955), Ava Gardner (1922 – 1990), Emerson Fittipaldi (1946 -), Janis Joplin (1943 – 1970), Hebe Camargo (1929 – 2012), Lady Di (1961 – 1997) e Príncipe Charles (1948 – )Mick Jagger (1943 – ), Nelson Mandela (1918 – 2013), Orson Welles (1915 – 1985), Paul McCartney (1942 – ), Pelé (1940 – 2022),  Roberto Carlos (1941 -), Santos Dumont (1873 – 1932), Tom Jobim (1927 – 1994), Walt Disney (1901 – 1966), Washington Luís (1869 – 1957) e os futuros reis Edward VIII (1894 – 1972) e George VI (1895 – 1952). Uma curiosidade: na ocasião de sua visita ao Brasil, Edward, então Príncipe de Gales, teve um tórrido romance com a uruguaia Negra Bernardez, cujo um dos filhos era o já mencionado Maneco Muller. Segundo Ricardo Boechat, autor do livro Copacabana Palace – Um Hotel e Sua História, foi a história mais bonita do Copa. Tem renúncia, tristeza, amor e glamour.

 

 

 

 

O Copa, apelido pelo qual ficou conhecido, teve seu batismo oficial realizado em 13 de agosto de 1923 com a visita do presidente da República, Artur Bernardes (1875 – 1955), em companhia de outras autoridades, dentre elas o prefeito do Rio de Janeiro, Alaor Prata (1882 – 1964). Foram recebidos por Octávio Guinle. No dia seguinte o hotel começou a receber hóspedes, distintos turistas e brasileiros da melhor sociedade (Gazeta de Notícias, 8 de agosto de 1923O Paiz, 14 de agosto de 1923, segunda coluna; e Beira-Mar, 19 de agosto de 1923).

Em sua abertura, só seis apartamentos estavam ocupados, mas sua equipe já contava com cerca de mil funcionários. As diárias custavam menos de 10 dólares e davam direito a pensão completa e transporte para o Centro da cidade. Desde o início sua marca era o requinte, a sofisticação e em um artigo publicado no mês seguinte a sua inauguração, a iniciativa foi muito elogiada (O Paiz, 9 de agosto de 1923).

 

 

Para o comando gastronômico do Copacabana Palace, foi contratado por Octávio o chef Auguste Escoffier, trazido do Hotel Savoy, de Londres. Em 1930, com a contratação do chef tcheco Fery Wunsch como maitre sênior a cozinha do hotel se consagrou.

Rigoroso em relação a protocolos e etiquetas, Octávio criou o Código de Empregados da Companhia Copacabana Palace onde detalhava, em 18 itens, a conduta de seus funcionários. Para supervisionar o hotel, possuía, em seu quarto, a suíte B, um sistema de escuta que possibilitava que ele soubesse de tudo o que se passava no Copa.

 

 

A principal atração de seu baile de inauguração, que contou com figuras importantes da República, era a dançarina francesa Mistinguett (1875 – 1956), mas o show foi cancelado na véspera por seus empresários. Mesmo assim o evento foi um sucesso (Gazeta de Notícias, 1º de setembro de 1923, quarta coluna; e O Paiz, 31 de agosto de 1923, primeira coluna; O Paiz, 1º de setembro de 1923, primeira coluna).

 

 

 

Foi ambientado no Copa o filme Voando para o Rio (1933), estrelado por Fred Astaire (1899 – 1987) e Ginger Rogers (1911 – 1995) – no qual pela primeira vez apareceram dançando juntos -, Dolores del Rio (1904 – 1983) e Gene Raymond (1908 – 1998).

 

CARTAZ

Cartaz do filme Voando para o Rio

 

De 1924 a 1946, o Copa abrigou o Cassino Copacabana – nesse período ficou um tempo fechado e foi reaberto em maio de 1933 (Fon-Fon, 26 de janeiro de 1924Beira-Mar, 13 de maio de 1933, primeira coluna).

 

 

Abaixo, uma imagem aérea de autoria do fotógrafo e aviador britânico S.H. Holland (1883 – 1936) da chegada das misses ao Copacabana Palace para a eleição de Miss Universo feita exclusivamente para a revista O Cruzeiro. O concurso foi conquistado pela gaúcha Yolanda Maria Sabage Pereira (1910 – 2001).

 

 

Diversos artistas nacionais e internacionais apresentaram-se em seu lendário Golden Room, inaugurado em 26 de dezembro de 1940 (Diário Carioca, 28 de dezembro de 1940), dentre eles Carmen Miranda (1909 – 1955), Charles Aznavour (1924 – 2018), Edith Piaf(1915 – 1963), Ella Fitzgerald (1917 – 1996), Josephine Baker (1906 – 1975), Marlene Dietrich (1901 – 1992), Maurice Chevalier (1888 – 1972), Nat King Cole (1919 – 1965), Ray Charles (1930 – 2004) e Yves Montand (1921 – 1991). No Golden Room também eram realizados bailes (Careta21 de julho de 1951).

 

 

O antigo restaurante do hotel, o Bife de Ouro, e sua piscina eram muito frequentados pelos granfinos e foram pontos de encontro da sociedade carioca e de políticos de todo o Brasil (Beira-Mar, 20 de fevereiro de 1943O Cruzeiro, 10 de dezembro de 1949Careta, 26 de maio de 1951) ). Foi no Bife de Ouro  que, em março de 1954, ocorreu uma briga entre o jornalista Carlos Lacerda (1914 – 1977) e Euclides Aranha, filho do então ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha (1894 – 1960), noticiada no jornal O Globo, de 24 de março de 1954:

Lacerda e filho de Aranha trocam socos

Principiando por uma altercação seguida de luta corporal entre o Sr. Euclides Aranha e o jornalista Carlos Lacerda, um incidente que se prolongaria até a meia-noite, resultando, inclusive, em congestionamento do tráfego da Avenida Atlântica e interdição do local por autoridades policiais, perturbou na noite de ontem o jantar no Bife de Ouro, o restaurante do Copacabana palace Hotel. Achavam-se reunidos na mesma mesa o ministro João Cleophas, o deputado Edilberto Ribeiro, o Sr. Manuel Ferreira e Carlos Lacerda, diretor da “Tribuna da Imprensa”, num jantar promovido pelo deputado. De outra mesa, o Sr. Euclides Aranha, filho do ministro Oswaldo Aranha, jantava com a esposa, levantou-se, fisionomia transtornada, dirigiu-se à mesa onde se encontrava o referido grupo, deteve-se junto à cadeira do jornalista e interpelou-o sobre ataques dirigidos a seu pai na “Tribuna da Imprensa”. À interpelação seguiu-se áspera troca de palavras, tendo o jornalista se levantado, entrando em luta com o filho do ministro da Fazenda. Segundo as testemunhas, os dois trocaram socos por algum tempo, até que amigos comuns se interpuseram e os separaram. Às 23h, o próprio ministro Oswaldo Aranha compareceu ao restaurante para ver o que ocorrera. Pouco depois, simultâneamente, por portas diferentes, os Srs. Euclides Aranha e Carlos Lacerda abandonaram o Bife de Ouro.

Existe no Copacabana Palace o Teatro Copacabana, remodelado e reinaugurado em 9 de setembro de 1949, com a peça A Mulher do Próximo, de Abilio Pereira de Almeida, apresentada pelo Grupo de Teatro Experimental de São Paulo. Foi fechado em 1994 e reaberto em 2021, com a encenação de Copacabana Palace – O Musical, com texto de Ana Velloso e Vera Novello e direção de Gustavo Wabner e Sergio Módena (O Jornal, 9 de setembro de 1949; A Scena Muda, 20 de setembro de 1949A Cigarra (SP), novembro de 1949Diário do Rio, 21 de dezembro de 2021). Foi lá que a atriz Fernanda Montenegro fez sua estreia profissional nos palcos, na peça Alegres Canções na Montanha, em 1950.

 

 

Os salões do hotel eram palcos de chás elegantes e de desfiles, bailes, concursos de beleza, exposições de arte e homenagens (Careta5 de agosto de 1950, 9 de junho de 195128 de julho de 1951;27 de outubro de 195118 de outubro de 19521º de agosto de 195329 de maio de 1954). Também eram muito concorridos seus bailes de carnaval (O Cruzeiro, 11 de março de 195016 de março de 1957).

Houve um incêndio no hotel, em 10 de agosto de 1953, que atingiu o teatro, o Golden Room e parte da Boate Meia Noite (Correio da Manhã, 11 de agosto de 1953).

Em 1989, a família Guinle vendeu o Copacabana Palace para o grupo Orient-Express, posteriormente, Belmond, que foi vendido para o grupo francês LVMH, em dezembro de 2018. O hotel, patrimônio histórico, é tombado em nível federal, estadual e municipal.

 

gire5

 

Devido à pandemia do coronavírus, pela primeira vez desde sua inauguração o hotel foi fechado, em 10 de abril de 2020. Andrea Natal, na época diretora geral do Grupo Belmond do Brasil, que administra o estabelecimento, e o cantor e compositor Jorge Ben Jor (1945 -), que vive lá desde 2018, foram os únicos que continuaram no hotel. Foi reaberto em 20 de agosto de 2020.

 

 

Pequeno perfil do arquiteto francês Joseph Gire

 

Joseph Gire no lobby do Palace Hotel, 1922 / Acervo familiar

Joseph Gire no lobby do Palace Hotel, 1922 / Acervo da família, publicada no livro Joseph Gire: a construção do Rio de Janeiro moderno

 

Gire nasceu, em 12 de janeiro de 1872, em Yssingeaux, na região do Velay, na França.  Estudou no liceu de Puy e acompanhava as aulas de desenho ministradas por seu pai, Jules Gire (1850 -?) na escola municipal chamada de “Belas-Artes e da Indústria”. Em 1896, ganhou um concurso para um monumento em homenagem à Charles Crozatier, escultor da cidade de Puy-en-Velay. Estudou na École des Beaux Arts de Paris, à qual teve sua candidatura de admissão apresentada pelo arquiteto Georges Debrie (1856 – 1910).

Em 1900, casou-se com Pauline Duparchy (18? -19?), com quem teve as filhas Renée e Antoinette; foi nomeado arquiteto-inspetor da Exposição Universal de Paris e passou a trabalhar no prestigioso escritório dos arquitetos Lucien e Henri Grandpierre, quando projetou o palácio Singer-Polignac. Quando os Grandpierre se aposentaram, em 1906, Gire e seu colega, Jamin, assumiram a direção da firma. Entre 1908 e 1909, estabeleceu-se em Buenos Aires, capital da Argentina, na rua Paraná, 1261.

 

gire7

 

Na ocasião, associou-se ao engenheiro Juan Molina Civit. Também possuiu um escritorio em Montevidéu, no Uruguai, na rua Zabala, 1441.

 

Joseph Gire e sua mulher, a produtora cultural Pauline Deparchy, no Palace Hotel, em 1924

Joseph Gire e sua mulher, Pauline Deparchy, no Palace Hotel, em 1924 / Acervo da família publicada em O Globo de 25 de abril de 2010

 

Em 1916, desembarcou no Rio de Janeiro, no auge da Belle Époque carioca, a convite da abastada e influente família Guinle, cuja origem da riqueza foi a sociedade que o patriarca Eduardo Eduardo Palassin Guinle (1846 – 1912) manteve por toda a vida com Cândido Gaffrée (1856 – 1919), com quem fundou a Companhia Docas de Santos e a Companhia Brasileira de Energia Elétrica. Em 1918, Gire voltou à cidade, desta vez a convite da companhia dos hotéis Carlton Ritz (O Paiz, 1º de outubro de 1918, primeira coluna).

Já havia, entre 1909 e 1914, realizado com Armando Silva Telles a residência de Eduardo Guinle (1878 – 1941) que, em 1946, foi comprada pelo governo federal durante a presidência do General Eurico Gaspar Dutra (1883 – 1974) – o Palácio das Laranjeiras, desde 1975 o endereço oficial dos governadores do estado do Rio de Janeiro; e o Palacete Guinle (1913), que foi residência de Carlos Guinle (1883 – 1969) e, posteriormente, sediou a Embaixada da Argentina. Eduardo e Carlos eram filhos do casal Eduardo Palassin Guinle e Guilhermina Coutinho Guinle (1854-1925).

Gire fundou um escritório na cidade e teve forte influência na transformação de sua paisagem arquitetônica e urbana, na verticalização da Praia de Copacabana, da Praia do Flamengo e da Glória. Morou com sua família, no Palace Hotel, localizado na avenida Rio Branco, 185; na Rua Voluntários da Pátria, 104; e na Rua das Laranjeiras, 452 (Correio da Manhã, 17 de abril de 1920, quarta coluna; O Paiz, 2 de abril de 1924, segunda colunaJornal do Brasil, 25 de janeiro de 1925, quarta coluna).

Também realizou, durante a década de 1920, dentre vários outros projetos, o do Hotel Glória, inaugurado em 15 de agosto de 1922, com uma bênção realizada pelo arcebispo D. Sebastião Leme (O Paiz, 16 de agosto de 1922). Foi o primeiro cinco estrelas do Brasil e também o primeiro prédio em concreto armado da América do Sul. Sua construção, motivada pelas festas do primeiro centenário da Independência do Brasil, foi uma iniciativa da firma Rocha Miranda & Filhos.

 

 

Também projetou o Esplanada Hotel, em São Paulo (O Paiz, 28 de junho de 1921, penúltima coluna), que ficava próximo ao Teatro Municipal de São Paulo e foi inaugurado em março de 1923. Um de seus frequentadores foi o escritor Oswald de Andrade (1890 – 1954), um dos maiores representantes do Modernismo no Brasil que, em seu poema, Balada do Esplanada, publicado, em 1927, no Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade, homenageou o hotel. Em 1987, musicada pelo cantor Cazuza (1958 – 1990), o poema foi uma das faixas do LP Só se for a dois.

 

Balada do Esplanada

Ontem de noite eu resolvi
Ver se aprendia como é que se fazia
Uma balada, antes de ir pro meu hotel
É que esse coração
Já se cansou de viver só
E quer então
Morar contigo no Esplanada
Contigo no Esplanada
Pra respirar
Abro a janela
Como um jornal
Eu vou fazer a balada
Fazer a balada
Do Esplanada e ficar sendo o menestral
E fico sendo
O menestrel do meu hotel
Do meu hotel
Mas não há poesia num hotel
Nem mesmo sendo
O Esplanada um grande hotel
Há poesia na dor, na flor, no beija-flor
Na dor, na flor, no beija-flor
Na dor, na flor, no beija-flor, no elevador
No elevador

 

Outros projetos de sua autoria foram o do Edifício Praia do Flamengo (1925) (Diário do  Rio, 22 de agosto de 2021), conhecido como Palacete de Areia, primeiro prédio de apartamentos no Flamengo; a da antiga sede da Sul América, no Centro, em parceria com o arquiteto escocês Robert Russell Prentice (1883 – 1960); o Edifício Touring, na Praça Mauá; e a do Edifício Joseph Gire (1929), em estilo art déco, primeiro arranha-céu do Rio de Janeiro, que ficou conhecido como Edifício A Noite, na época o mais alto da América do Sul (Jornal das Moças, 12 de setembro de 1929). Gire era um entusiasta dos arranha-céus (O Paiz, 24 de junho de 1928). É do início da década de 1930, seu projeto do palácio da Ilha de Brocoió, para outro filho de Eduardo Guinle, Octávio (1886 – 1968). É atualmente o palácio de férias do governador do Estado do Rio de Janeiro. Ainda na mesma década, projetou os edifícios Paraopeba e São João Marcos.

 

 

Foi o responsável pela reforma do prédio do Automóvel Club (Automóvel Club – RJ, dezembro de 1925) e do Palácio do Itamaraty (Relatório do Ministério das Relações Exteriores, 1929), além de ter contribuido como consultor em inúmeras obras como a da construção do Hipódromo da Gávea. Foi também membro do conselho de embelezamento da cidade de São Paulo e da Comissão Executiva do Centenário da Independência, em 1922.

Ficou fora do Brasil entre 1930 e 1932 (Correio da Manhã, 21 de agosto de 1932, sétima coluna). Faleceu em 5 de outubro de 1933, em Arberáts, no País Basco francês (Correio da Manhã, 7 de novembro de 1933, sexta coluna; 10 de novembro de 1933, última coluna).

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Em 29 de outubro de 2023, o título deste artigo foi alterado para Série “Os arquitetos do Rio de Janeiro” III – O centenário do Copacabana Palace, quintessência do “glamour” carioca, e seu criador, o arquiteto francês Joseph Gire.

 

Fontes:

A Casa Senhorial

BOECHAT, Ricardo. Copacabana Palace: um hotel e sua história. São Paulo: DBA, 1998.

CABOT, Roberto. Joseph Gire: a construção do Rio de Janeiro moderno/RobertoCabot, – 1. ed – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014.

CABRAL, Maria Cristina. Arquitetos franceses no Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX. III Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo arquitetura, cidade e projeto: uma construção coletiva São Paulo, 2014

Casa Cor

G1

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

IstoÉ, 17 de dezembro de 2018

O’DONNELL, Julia. A invenção de Copacabana: culturas urbanas e estilos de vida no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

O Globo, 13 de agosto de 2008

O Globo, 25 de abril de 2010

Portal Iphan

Revista Época, 13 de dezembro de 2010

Site Arquivo Arq

Site  Bafafá

Site I-Patrimônio – Edifício Praia do Flamengo 

Site I-Patrimônio – Tombamento

Site Rio Memórias

UOL Notícias, 30 de outubro de 2008

Uol Notícias, 2 de julho de 2020

 

Outros artigos da série Os arquitetos do Rio de Janeiro

Série “Os arquitetos do Rio de Janeiro” I – Porto D´Ave e a moderna arquitetura hospitalar, de autoria de Cristiane d´Avila – Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, publicado em 14 de janeiro de 2021.

Série “Os arquitetos do Rio” II – No Dia Nacional da Saúde, o Desinfetório de Botafogo e um breve perfil do arquiteto português Luiz de Moraes Junior, responsável pelo projeto, de autoria de Cristiane d´Avila, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, publicado em 5 de agosto de 2023

Série “Os arquitetos do Rio de Janeiro” IV – Archimedes Memória (1893 – 1960), o último dos ecléticos, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 1º de dezembro de 2023

Série “O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e “Os arquitetos do Rio” V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de janeiro de 2024

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica sobre hotéis

Hotéis do século XIX e do início do século XX no Brasil, publicado em 5 de novembro de 2015 , de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

O Hotel Glória – antes e depois, publicado em 21 de dezembro de 2017, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

Copacabana Palace, símbolo do glamour carioca, publicado em 13 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

O Hotel Pharoux por Revert Henrique Klumb, publicado em 15 de junho de 2022, publicado em 13 de agosto de 2023, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023.

O Dia do Cinema Brasileiro

Para celebrar o Dia do Cinema Brasileiro, a Brasiliana Fotográfica destaca artigos já publicados no portal sobre Benjamin Abrahão Calil Botto (1901 – 1938)Jorge Kfuri (1893 – 1965)João Stamato (1886 – 1951), Nicola Parente (1847 – 1911)Marc Ferrez (1843 – 1923) e seus filhos; e Walter Garbe (18? – 19?), fotógrafos que fizeram parte da história do cinema no Brasil. Além disso, há ainda uma seleção de fotografias de salas de cinema disponíveis no acervo fotográfico do portal e um pequeno histórico da escolha do dia 19 de junho como Dia do Cinema Brasileiro.

 

Acessando o link para as fotografias de salas de cinema disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Artigos sobre os fotógrafos que fizeram parte da história do cinema no Brasil:

O brilhante cronista visual Marc Ferrez (RJ, 07/12/1843 – RJ, 12/01/1923), 7 de dezembro de 2016,  de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

Os índios sob as lentes de Walter Garbe, em 1909, publicado em 23 de maio de 2017, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

Lampião e outros cangaceiros sob as lentes de Benjamin Abrahão, publicado em 28 de julho de 2017, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

João Stamato, um fotógrafo nos sertões, publicado em 9 de fevereiro de 2021, de autoria de Ricardo Augusto dos Santos

O fotógrafo italiano Nicola Maria Parente (1847 – 1911) e sua trajetória no Brasil, publicado em 21 de fevereiro dde 2023, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

 

Uma brevíssima história do início do cinema e da escolha do Dia do Cinema Brasileiro

 

 

Os irmãos Lumière, Louis (1864 – 1948) e Auguste (1862 – 1954), mostraram, em 28 de dezembro de 1895,  pela primeira vez ao público sua invenção, o cinematógrafo, síntese de pesquisas realizadas por muitos cientistas durante o século XIX sobre imagens em movimento. A apresentação foi realizada no salão do Grand Café, no Boulevard des Capucines, em Paris, para um público de 33 pessoas. O sucesso foi tão grande que, em pouco tempo, os Lumière passaram a apresentar 20 sessões diárias de meia hora cada uma, com os filmes O Regador Regado e A Saída dos Operários da Fábrica Lumière. Começava assim o cinema.

 

trabalhadores_lumiere

 

Alguns meses depois desta projeção inaugural, realizou-se a primeira sessão pública de cinema no Brasil, na Rua do Ouvidor, 57, em 8 de julho de 1896, às 14h, no Rio de Janeiro, em uma sala especialmente preparada para as projeções do omniógrafo. O invento foi descrito pelo Jornal do Commércio como um “aparelho que projeta sobre uma tela colocada ao fundo da sala diversos espetáculos e cenas animadas, por meio de uma série enorme de fotografias”.

 

 

Em 31 de julho de 1897,  o pernambucano José Roberto Cunha Sales (1840- 1903) e Paschoal Segreto (1868 – 1920) inauguraram a primeira sala cinematográfica do Brasil, o Pariz no Rio Salão de Novidades, na Rua do Ouvidor, 141, que passou a ser um ponto de encontro da sociedade carioca (Gazeta de Notícias, 1º de agosto de 1897). Sales e Segreto romperam a sociedade ainda em 1897. 

 

 

O estabelecimento pegou fogo em 8 de julho de 1898, mas foi reinaugurado em janeiro do ano seguinte (Gazeta de Notícias10 de agosto de 1898, sexta colunaA Notícia, 5 e 6 de janeiro de 1899, primeira coluna) .

 

 

O Dia do Cinema Brasileiro é comemorado em 19 de junho, quando, em 1898, chegou ao Rio de Janeiro, vindo da Europa, o navio Paquebot Brésil. A bordo, encontrava-se o cinegrafista brasileiro de origem italiana Affonso Segreto (1875 – 19?), que retornava de uma viagem para comprar equipamentos de filmagens e conhecer novas técnicas cinematográficas em Nova York e em Paris, onde fez um curso na Pathé Films.

Antes de desembarcar no Rio de Janeiro, Affonso filmou com uma câmara Lumière a entrada da enseada da Baía de Guanabara, as fortalezas e os navios ancorados (Gazeta de Notícias, 20 de junho de 1898, segunda coluna). Teria sido a primeira fita de cinema realizada no Brasil*. O acontecimento deu origem ao Dia do Cinema Brasileiro. Affonso Segreto filmou, posteriormente, aspectos do Rio de Janeiro, além de seus arredores, e também cerimônias e comícios.

 

 

Segundo relato de Domingos Segreto, fiho de Gaetano Segreto, em depoimento publicado no livro Palácios e poeiras, de Alice Gonzaga, ainda inexperiente, Affonso, na sessão marcada para a exibição das vistas, no já mencionado Salão Pariz no Rio, no dia 20 de junho de 1898, na Rua do Ouvidor, abriu erradamente a câmara e o filme foi danificado. Ele então exibiu vistas estrangeiras para o público. Foram convidados para o evento diversas autoridades, dentre elas o presidente da República, Prudente de Morais (1841 – 1902), e o jurista Rui Barbosa (1849 – 1923).

 

“A data de 19 de junho é simbólica da dificuldade que se tem de fazer cinema no Brasil, porque marca um filme que não existiu. Mas também retrata a perseverança”.

Hernani Heffner, Gerente da Cinemateca do MAM-RJ

 

Affonso era irmão de Paschoal (1868 – 1920) e Gaetano Segreto (1866 – 1908), empresários italianos que haviam vindo para o Brasil, em 1883. Trouxeram Affonso para o Brasil na década de 1890. Paschoal tornou-se o ministro das diversões do Rio e Gaetano foi o distribuidor exclusivo do jornal A Notícia e fundou o jornal da comunidade italiana Il Bersagliere. Os irmãos Segreto foram pioneiros da indústria do entretenimento no Brasil, figuras destacadas na cena cultural da Belle Époque do Rio de Janeiro.

 

*Existe uma polêmica em torno do assunto: alguns estudiosos consideram o primeiro filme brasileiro Chegada em Petrópolis devido a uma notícia divulgada pela Gazeta de Petrópolis convidando para uma sessão do filme no dia 1º de maio de 1897, no Theatro Cassino de Petrópolis, organizada pelo napolitano Vittorio di Maio (1852 – 1926). Posteriormente, di Maio vendeu seu projetor e acervo para Paschoal Segreto. Também é de 1897 a vista Ancoradouro de pescadores na Baía de Guanabara, do pernambucano José Roberto Cunha Sales (1840- 1903), porém sua nacionalidade brasileira é contestada por historiadores que acreditam que o cinegrafista recortou o filme de uma vista estrangeira. Ancoradouro de pescadores na Baía de Guanabara está acervado no Arquivo Nacional.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Agência Brasil

GONZAGA, Alice. Palácios e Poeiras. Rio de Janeiro : Record, 1996.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

MARTINS, William de Souza Nunes. Paschoal Segreto: “Ministro das Diversões” do Rio de Janeiro (1883 – 1920). Rio de Janeiro, 2004. Dissertação (Mestrado em História Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2004.

Site do Ministério das Relações Exteriores – Departamento Cultural

MOURA, Roberto. Verbete Afonso Segreto. In: MIRANDA, Luiz Felipe e RAMOS, Fernão Pessoa (org). Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Senac, 2000.

O GLOBO, 18 de junho de 2023

Salas de cinema de São Paulo

Site Filmow

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica sobre teatros e cinemas

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXpublicado em 26 de fevereiro de 2016.

Os teatros do Brasil, publicado em 21 de março de 2016

A inauguração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, publicado em 14 de julho de 2017

Cinema no Brasil – a primeira sessão e um pouco da história do Cinema Odeon, publicado em 8 de julho de 2021

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XII – O Teatro Lírico (Theatro Lyrico), publicado em 16 de setembro de 2021

O Theatro de Santa Isabel, publicado em 28 de outubro de 2021

O Teatro Amazonas (Theatro Amazonas), em Manaus, a “Paris dos Trópicos”, publicado em 28 de dezembro de 2021

O Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, no Dia Mundial do Teatro, publicado em 27 de março de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado em 5 de setembro de 2023

O Theatro da Paz, em Belém do Pará, inaugurado em 15 de fevereiro de 1878, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado em 15 de fevereiro de 2024

No Dia dos Namorados, o álbum “Vistas de Petrópolis” e o fotógrafo alemão Pedro Hees (1841-1880)

No Dia dos Namorados, a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores imagens da bela e romântica Petrópolis, a cidade imperial. Nos últimos anos da década de 1860, o alemão Phillip Peter Hees, que ficou conhecido como Pedro Hees (1841 – 1880), produziu o álbum Vistas de Petrópolis, que pertence à Coleção Thereza Christina, da Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras do portal. O álbum possui 15 fotografias em papel albuminado que mostram aspectos da cidade, sua ocupação e registros de suas construções e natureza. São fotos do Palácio Imperial, da Igreja da Matriz, do cemitério, da Cascata do Itamaraty, da Cascatinha do Retiro e de diversas ruas, dentre elas a rua do Imperador, que foi o tema do segundo artigo da série Avenidas e ruas do Brasil, publicada pelo portal.

 

 

Acessando o link para as fotografias do álbum Vistas de Petrópolis, de autoria de Pedro Hees disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

É de sua autoria um retrato do imperador Pedro II (1825 – 1891), destacado abaixo, que não faz parte do álbum.

 

 

Mas as belezas de Petrópolis também foram retratadas por outros importantes fotógrafos do sécculo XIX.

Entre 1864 e 1865 foi residir na cidade o francês Revert Henrique Klumb ( c.1826 – c.1886), na rua dos Artistas. Ele havia sido agraciado com o título de Fotógrafo da Casa Imperial, em 1861. Fotografou ruas como a do Imperador, a Tereza e a Joinville; o interior e o exterior do Palácio Imperial, os hotéis Beresford, Brangança e Inglês, o Retiro da Cascatinha, o rio Quitandinha, palacetes e casas, a princesa Isabel (1846 – 1921) e o conde D´Eu (1842 – 1922), além de vistas gerais.  Também fotografou a paisagem urbana de Petrópolis, acrescentando efeitos noturnos, uma importante inovação. Essa série é considerada extremamente significativa do ponto de vista estético, formal e dos limites da linguagem na época. Foi o autor do livro Doze horas em diligência. Guia do viajante de Petrópolis a Juiz de Fora, publicado em 1872, única obra do Brasil do século XIX a ser idealizada, fotografada, escrita e publicada por uma só pessoa. Foi o primeiro livro de fotografia inteiramente litografado e produzido no país. Pedro Hees era considerado seu maior concorrente.

 

 

Ainda em Petrópolis, foram contemporâneos de Klumb e de Hees, na década de 1860, João Meyer Filho e João Nogueira de Sousa (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1865, segunda coluna).

O fotógrafo e editor suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892) também retratou Petrópolis. Em 1865, foi aberto o ateliê de fotografia da Casa Leuzinger, no Rio de Janeiro, especializado em “vistas da cidade, Tijuca, Petrópolis, Teresópolis e rio Amazonas”, como se lê no verso de uma de suas cartes de visite.

Em 1865 montou então Georges Leuzinger um completo ateliê fotográfico, com todos os aparelhos necessários para viagens para o interior do Brasil, tendo para esse fim contratado um habilíssimo artista fotógrafo para dirigi-lo, que em companhia de vários auxiliares fizeram excursões por essa capital, Petrópolis, Teresópolis, etc., tirando fotografias de tudo o que de mais interessante se encontra na pujante natureza daquelas belíssimas regiões“.

Ernesto Senna em O Velho Comércio do Rio de Janeiro

 

 

Outro importante fotógrafo que realizou registros de Petrópolis foi Augusto Stahl (1828 – 1877), também agraciado com o título de Fotógrafo da Casa Imperial, em 21 de abril de 1862. Entre 1863 e 1870, seu estabelecimento fotográfico ficava no Rio de Janeiro.

 

 

Lembramos que, em torno de 1885, o brasileiro e filho de franceses Marc Ferrez (1843 – 1923) realizou o Álbum Vistas de Petrópolis e Rio de Janeiro, com 30 imagens de Petrópolis seus canais, casarões, escolas, estação de trem, fábricas, jardins, paisagens, palacetes e ruas, além de imagens do Palácio de Cristal, do Palácio do Grão-Pará, da avenida Koeller e da construção de uma ferrovia.

 

 

 Breve perfil de Pedro Hees (1841 – 1880)

 

Nascido na região de Hunsruek, na Alemanha, em 1841, Pedro Hees chegou em Petrópolis com 4 anos de idade, em 1845, com sua mãe, Anne Catharine Michel, e com seu pai, o colono alemão Christian Sebastian Hees, marceneiro e entalhador, que trabalhou na construção do Palácio Imperial da cidade, iniciada em 1845 e concluída em 1862. Eles integraram a primeira leva de colonos alemães que chegaram a Petrópolis.

 

 

Pedro casou-se com a alemã Maria Glasow Hees (1843 – 1928), em 22 de janeiro de 1861, e tiveram 11 filhos: Ana Catarina Hees (1861-1944), Edmundo Frederico Nicolau Hees (1862-1944), Fernando Jacob Hees (1865-1866), Fernando Mauricio Hees (1867-1893), João Batista Hees (1868-1876), Otto Hees (1870-1941), Elisa Matilde Hees (1872-1932), Maria Olga Hees (1872-1958), Joana Teresa Hees (1874-1900), Numa Augusto Hees (1877-1961) e Isabel Emma Hees (1878-1943). No site Sou Petrópolis há uma foto de Maria, realizada em 12 de setembro de 1915, com 27 netos (A Noite, 23 de junho de 1922, quarta colunaSou Petrópolis e Geneanet).

 

 

Antes de se interessar por fotografia, o que aconteceu em meados da década de 1860, Pedro trabalhou no comércio como sapateiro, na rua do Bourbon e na rua dom Affonso. Ambas foram fotografadas por ele e fazem parte do álbum Vistas de Petrópolis (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1962, primeira coluna; Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1964, segunda coluna; Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1965, segunda coluna). Na mesma rua dom Afonso, passou a ter uma ferraria, em 1866 (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1866, segunda coluna).

 

 

 

 

Em 1868,  já possuía um estúdio fotográfico, a Photographia Popular, na Praça Dom Afonso, atual Praça da Liberdade, que tornou-se bastante conhecido e era frequentado pela nobreza, por políticos, diplomatas e também por comerciantes e artesãos imigrantes. Petrópolis era, na época, muito frequentada pela família imperial (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1868, segunda coluna).

 

 

Em 1870, Pedro Hees era o secretário da Sociedade Alemã de Beneficência Bruderbund (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1868, segunda coluna).

Em março de 1876, faleceu seu filho João Baptista Numa Hees, aos 7 anos, de pleuro-pneumonia (O Mercantil, 29 de março de 1876, terceira coluna). Em 16 de agosto do mesmo ano, tornou-se Fotógrafo da Casa Imperial. Segundo Boris Kossoy, recebeu do conde e da condessa d´Eu “a graça de usar o título de Photographo de sua Imperial Caza e de collocar na porta do seu estabelecimemnto as respectivas armas”. O documento foi assinado por Benedicto Torres, mordomo do conde d’Eu e da princesa Isabel.

Faleceu jovem, aos 39 anos, de entero-mezenterite (O Mercantil, 14 de agosto de 1880, última coluna). Seu estabelecimento fotográfico foi arrendado ao fotógrafo Antonio Henrique da Silva Heitor (18?-?), que, posteriormente, recebeu o título de Fotógrafo da Casa Imperial em 2 de março de 1885, outorgado por dom Pedro II. Sob o nome de Hees & Irmãos, o estúdio foi assumido pelos filhos de Pedro Hees – Numa Augusto  e Otto -, em torno de 1890. Existiu até 1915. Otto foi o autor de uma importante fotografia que tudo indica ter sido o último registro da família imperial antes da proclamação da República, em 15 de novembro de 1889. Também fotografou a assinatura do Tratado de Petrópolis, na residência do Barão do Rio Branco, em 1903; e os netos de Pedro II.

 

 

 Acesse aqui a Cronologia de Pedro Hees (1841 – 1880).

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

CARMONA, João Sêco. Iconografia do Brasil Imperial. Génese do Museu Imperial de Petrópolis e os registos fotográficos. Anais do 5º Seminário Internacional Museografia e Arquitetura de Museus Fotografia e Memória, 2016.

Enciclopédia Itaú Cultural

FERREZ, Gilberto. A fotografia no Brasil: 1840- 1900. Prefácio Pedro Karp Vasquez. 2. ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1985.

FERREZ, Gilberto. Um passeio a Petrópolis em companhia do fotógrafo Marc Ferrez. Separata do Anuário do Museu Imperial – 1948.

Google Arts & Culture

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

LAGO, Bia Corrêa do. Os fotógrafos do Império: a fotografia brasileira no Século XIX. Rio de Janeiro: Capivara, 2005.

Site Geneanet

Site Library of Congress

Site Museu Imperial de Petrópolis

Tribuna de Petrópolis, 1º de julho de 2016

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

Wikipedia

 

Outras publicações da Brasiliana Fotográfica no Dia dos Namorados:

Fotografia e namoro, de autoria de Elvia Bezerra, publicado, em 12 de junho de 2018 .

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de junho de 2020.

 

Cronologia de Pedro Hees (1841 – 1880)

 

Cronologia de Pedro Hees (1841 – 1880)

 

1841 – Nascimento de Phillip Peter Hees, que ficou conhecido como Pedro Hees, na região de Hunsruek, na Alemanha, filho de Anne Catharine Michel e Christian Sebastian Hees, marceneiro e entalhador.

1845 – Chega a Petrópolis com sua família. Seu pai trabalhou na construção do Palácio Imperial, iniciada justamente em 1845 e concluída em 1862 . Foi o palácio de verão de d. Pedro II (1825 – 1891), hoje Museu Imperial, e a residência predileta do imperador. Foi construído por determinação do monarca e às expensas de sua dotação pessoal. Para dar início à construção, d. Pedro II havia assinado, dois anos antes, um decreto em 16 de março de 1843, criando Petrópolis. Uma grande leva de imigrantes europeus, principalmente alemães, sob o comando do engenheiro e superintendente da Fazenda Imperial, major Julius Friedrich Koeler (1804 – 1847), foi incumbida de levantar a cidade, construir o palácio e colonizar a região. A família Hees integrava a primeira leva de colonos alemães que chegaram à cidade.

 

 

Década de 1860 – Pedro trabalhou no comércio como sapateiro, na rua do Bourbon e na rua dom Affonso. Ambas foram fotografadas por ele e fazem parte do álbum Vistas de Petrópolis (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1962, primeira colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1964, segunda colunaAlmanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1965, segunda coluna). Na mesma rua dom Afonso, passou a ter uma ferraria, em 1866 (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1866, segunda coluna).

1861 –  Pedro casou-se com a alemã Maria Glasow Hees (1843 – 1928), em 22 de janeiro de 1861, e tiveram 11 filhos: Ana Catarina Hees (1861-1944), Edmundo Frederico Nicolau Hees (1862-1944), Fernando Jacob Hees (1865-1866), Fernando Mauricio Hees (1867-1893), João Batista Hees (1868-1876), Otto Hees (1870-1941), Elisa Matilde Hees (1872-1932), Maria Olga Hees (1872-1958), Joana Teresa Hees (1874-1900), Numa Augusto Hees (1877-1961) e Isabel Emma Hees (1878-1943). No site Sou Petrópolis há uma foto de Maria, realizada em 12 de setembro de 1915, com 27 netos (A Noite, 23 de junho de 1922, quarta colunaSou Petrópolis e Geneanet).

 

 

Meados da década – Passou a se interessar por fotografia.

1868 - Possuía um estúdio fotográfico, a Photographia Popular, na Praça Dom Afonso, atual Praça da Liberdade, que tornou-se bastante conhecido e era frequentado pela nobreza, por políticos, diplomatas e também por comerciantes e artesãos imigrantes. Petrópolis era, na época, muito frequentada pela família imperial (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1868, segunda coluna).

 

 

Últimos anos da década – Produziu o álbum Vistas de Petrópolis, que pertence à Coleção Thereza Christina, da Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica. O álbum possui 15 fotografias em papel albuminado que mostram aspectos da cidade, sua ocupação e registros de suas construções e natureza.

1870 – Pedro Hees era o secretário da Sociedade Alemã de Beneficência Bruderbund (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1868, segunda coluna).

1876 - Em março, falecimento de seu filho João Baptista Numa Hees, aos 7 anos, de pleuro-pneumonia (O Mercantil, 29 de março de 1876, terceira coluna).

Em 16 de agosto, tornou-se Fotógrafo da Casa Imperial. Segundo Boris Kossoy, recebeu do conde e da condessa d´Eu “a graça de usar o título de Photographo de sua Imperial Caza e de collocar na porta do seu estabelecimemnto as respectivas armas”. O documento foi assinado por Benedicto Torres, mordomo do conde d’Eu e da princesa Isabel.

1880 – Faleceu jovem, aos 39 anos, de entero-mezenterite (O Mercantil, 14 de agosto de 1880, última coluna). Seu estabelecimento fotográfico foi arrendado ao fotógrafo Antonio Henrique da Silva Heitor (18?-?), que, posteriormente, recebeu o título de Fotógrafo da Casa Imperial em 2 de março de 1885, outorgado por dom Pedro II.

c. 1890 – Sob o nome de Hees & Irmãos, o estúdio foi assumido pelos filhos de Pedro Hees – Numa Augusto  e Otto. Existiu até 1915. Otto foi o autor de uma importante fotografia que tudo indica ter sido o último registro da família imperial antes da proclamação da República, em 15 de novembro de 1889. Também fotografou a assinatura do Tratado de Petrópolis, na residência do Barão do Rio Branco, em 1903; e os netos de Pedro II.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

O fotógrafo amador Archanjo Sobrinho (18? – 1941)

Pesquisando para escrever sobre a Praia do Russel, tema do 23º artigo da série O Rio de Janeiro desaparecido, publicado em 15 de maio de 2023, aqui na Brasiliana Fotográfica, me deparei com três imagens produzidas, no Rio de Janeiro, durante a década de 1890, por Archanjo Sobrinho. São estereoscopias da já mencionada Praia do Russel, da Enseada da Lapa a partir de adro na Igreja de Nossa Senhora da Glória; e da aléia de palmeiras da Rua Paissandu, no bairro do Flamengo. Muito pouco se sabe até hoje sobre este fotógrafo amador, qualificação que consta em suas imagens.

 

 

A estereoscopia chegou ao Brasil, ainda no século XIX, e foi uma técnica utilizada por fotógrafos renomados como  Revert Henrique Klumb (c.1826 – c. 1886) e Georges Leuzinger (1813 – 1892), ambos europeus e radicados no país. No século XX, destacou-se o estereoscopista amador carioca Guilherme Antônio dos Santos (1871-1966).

 

Acessando o link para as fotografias de Archanjo Sobrinho disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá visualizar e magnificar as imagens.

 

A partir de uma busca na Hemereoteca Digital da Biblioteca Nacional, uma das mais importantes fontes de pesquisa do portal, “descobri” alguns fatos sobre a vida de Archanjo, que partilho com vocês na esperança de que algum ou alguns leitores possam contribuir para adensar o perfil deste fotógrafo tão pouco conhecido até o momento. Infelizmente, ao longo da pesquisa na Hemeroteca, da década de 1880 até a de 1940, já que ele faleceu em 1941, só há duas referências a sua atividade de fotógrafo amador. Mas surgiram diversas informações acerca de sua vida.

 

Cronologia de Archanjo Sobrinho (18? – 1941)

 

 

18? - Archanjo Correia de Mello Sobrinho nasceu em 24 de junho, no século XIX, em ano ainda desconhecido (Gazeta de Notícias, 24 de junho de 1898, última colunaO Paiz, 24 de junho de 1900, sexta coluna; O Cruzeiro, 22 de junho de 1929).

1890 - Ofereceu uma bolsa de malha de prata com 10 libras esterlinas para o artista Peixoto (? – 1910) que havia se apresentado na peça Mimi Bilonira, encenada no Theatro Variedades. Esteve na missa pela morte do ator, em 1910  (Gazeta de Notícias, 15 de setembro de 1890, penúltima colunaA Imprensa, 4 de março de 1910, penúltima coluna).

 

 

 

1894 a 1901 – Estava na lista de guarda-livros – contador – do Almanak Laemmert e morava na Rua da Misericóridia, nº 80 (Almanak Laemmert1894189518961897189818991900 e 1901). Em 1900, foi noticiado que era proprietário da Papelaria União.

 

1901 – O jornal A Imprensa publicou uma trova na coluna”Ineditoriais”, de Felizardo Ventura, na qual ele era um dos personagens (A Imprensa, 5 de janeiro de 1901).

 

 

1902 / 1903 – Era sócio da firma Fernando Freire e Cia (Correio da Manhã, 24 de junho de 1902, penúltima coluna). A notícia abaixo, de 1903, confirma tratar-se do Anchanjo Sobrinho fotógrafo amador e não um possível homônimo. Também se refere jocosamente a suas dificuldades no início de suas atividades de fotógrafo e informa que ele já havia sido barbeiro e dentista. Parece que gostava de beber e era um ótimo amigo, muito relacionado no Rio de Janeiro. De acordo com o texto, na época, já possuia uma papelaria.

 

archanjo

archanjo1

 

Nasceu, em 1903, Ari, seu filho com Jovina Muniz Barreto Correia de Mello (Jornal do Brasil, 3 de março de 1903, quinta coluna). Em 1906, já tinha também uma filha (Jornal do Brasil, 9 de fevereiro de 1906, penúltima coluna). Suas filhas chamavam-se Semiramis, futura professora municipal; Oswaldina (1892 -?) e Inah (A Tribuna, 21 de setembro de 1911, segunda colunaO Paiz19 de abril de 1917, última coluna13 de maio de 1917, quinta coluna; A Razão, 16 de agosto de 1919, sexta coluna).

1904 – Fez parte da primeira diretoria do Retiro Dramático Fluminense, uma agremiação de atores amadores. A festa inaugural aconteceu no Teatro Lucinda com a encenação da peça O Médico das Crianças, protagonizada por Eugênio de Magalhães. Archanjo estava presente (Jornal do Commercio, 1º de setembro de 1904, sexta coluna; Jornal do Brasil, 16 de setembro de 1904, terceira coluna; Jornal do Brasil, 20 de setembro de 1904, segunda coluna).

1910 – Ficou ferido em um descarrilamento do bonde onde estava. Morava na rua Visconde de Sapucai (Correio da Manhã, 8 de maio de 1910, penúltima coluna). Foi um dos jurados do julgameno de Nathalino Paes de Barros, que havia assasinado sua mulher. Georgina Reid Paes de Barros (O Paiz, 3 de agosto de 1910, última coluna).

 

 

 

1911 - Esteve presente à encenação da comédia O Diretor, no Teatro Fluminense, no Campo de São Cristóvão (Gazeta de Notícias, 24 de maio de 1911, quarta coluna).

1912 - Constituiu a firma Archanjo e Sobrinho & Cia para explorar a Papelaria Moderna (O Paiz, 13 de janeiro de 1912, quinta coluna).

 

 

Em dezembro, a Papelaria Moderna, que ficava na Rua Marechal Floriano, nº 21, vizinha do Cinema Brasileiro, que sofreu um incêndio, teve alguns prejuízos devido ao acidente (A Imprensa, 9 de dezembro dde 1912, penúltima coluna).

1913 – No ano seguinte, no Almanak Laemmert, a empresa Archanjo Sobrinho & Cia foi noticiada pela primeira vez, listada na seção de “Litografias e Estamparias”, na de “Papelarias”- a dele seria a Papelaria Moderna; e na de “Tipografias”. Ficava na Marechal Floriano, nº 21. Seus sócios eram Manoel Joaquim P. da Fonseca e José Ferreira da Silva. Seguiu, em 1914, na lista de “Litografias e Estamparias” e de “Tipografias”. Residia na Rua Conde de Leopoldina, 85, e a Papelaria Moderna seguiu na Marechal Floriano, 21, até 1918. Em 1922, 1924, 1925 e 1926 foi listada a tipografia Archanjo Sobrinho & Lobosco, na rua Jorge Rudge, nº 38. Em 1922, a Papelaria Moderna existia ainda na rua Marechal Floriano, mas no número 168. Em 1927, estava listada a tipografia Archanjo Sobrinho & Cia, na Rua da Misericórdia, 59. Neste mesmo endereço, em 1929, estava listada uma papelaria e uma tipografia em seu nome. Também em 1929, estava listada a tipografia Archanjo Sobrinho & Maciel Artes Gráficas, na Rua São Pedro, 21. No ano seguinte e em 1934, estava na mesma Rua São Pedro, mas no número 281 e 269, respectivamente (Almanak Laemmert191319131913191319131914191419141915, 1916191819221922192419241925192619271929192919291930 e 1934).

 

 

1914 – Era também gerente do jornal A Época e sua Papelaria Moderna contribuiu com brindes, cartões de visita com impecável impressão, no concurso promovido pelo jornal. Deixou o cargo em 1915 (A Época24 de junho de 191428 de julho de 1914, terceira coluna18 de agosto de 1915, quarta coluna).

1917 e 1919 - Houve greves dos gráficos e os funcionários da oficina de Archanjo aderiram ao movimento. Na mesma época da greve de 1919, a gráfica de Archanjo foi roubada (O Paiz, 4 de setembro de 1917, última colunaGazeta de Notícias, 3 de setembro de 1919, terceira colunaCorreio da Manhã, 9 de setembro de 1919, quarta coluna). Participou das comemorações do jubileu da vida intelectual do então senador Rui Barbosa (1849 – 1923) (O Paiz, 10 de agosto fe 1918, última coluna).

1919 – Doou uma fotografia da Rua 1º de março, produzida em 1893, para ajudar os flagelados da seca nordestina. Será de sua autoria? É da mesma década de 1890 das fotografias que estão exibidas neste artigo e que pertence ao acervo do Instituto Moreira Salles, uma das instuições fundadoras da Brasiliana Fotográfica.

 

 

1920 – Retirou-se da sociedade da firma Archanjo Sobrinho & Cia.

 

 

1922 a 1926 – Contribuiu para a Obra de Assistência aos Portugueses Desamparados (A Noite, 25 de junho de 1922, terceira coluna). Em 1925, residia na rua Barata Ribeiro, nº 417; e depois na Rua Teófilo Otoni, 118 (A Noite, 16 de abril de 1925, terceira colunaO Paiz, 4 de setembro de 1925, última coluna). No primeiro dia de 1926 foi publicada uma propaganda da Artes Gráficas – Archanjo Sobrinho & Gumarães, na Rua da Misericórdia, nº 59.

 

 

1929 – Retirou-se da sociedade Archanjo Sobrinho & Maciel Artes Gráficas (A Manhã, 25 de julho de 1929, quarta coluna).

1941 – Faleceu, em agosto, no Hospital a Ordem Terceira da Penitência e foi enterrado no cemitério da referida ordem (A Noite, 2 de agosto de 1941).

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Cronologia de Archanjo Sobrinho (18? – 1941)

 

Cronologia de Archanjo Sobrinho (18? – 1941)

A partir de uma busca na Hemereoteca Digital da Biblioteca Nacional, uma das mais importantes fontes de pesquisa do portal, “descobri” alguns fatos sobre a vida de Archanjo, que partilho com vocês na esperança de que algum ou alguns leitores possam contribuir para adensar o perfil deste fotógrafo tão pouco conhecido até o momento. Infelizmente, ao longo da pesquisa na Hemeroteca, da década de 1880 até a de 1940, já que ele faleceu em 1941, só há duas referências a sua atividade de fotógrafo amador. Mas surgiram diversas informações acerca de sua vida.

 

 

18? - Archanjo Correia de Mello Sobrinho nasceu em 24 de junho, no século XIX, em ano ainda desconhecido (Gazeta de Notícias, 24 de junho de 1898, última colunaO Paiz, 24 de junho de 1900, sexta coluna; O Cruzeiro, 22 de junho de 1929).

1890 - Ofereceu uma bolsa de malha de prata com 10 libras esterlinas para o artista Peixoto (? – 1910) que havia se apresentado na peça Mimi Bilonira, encenada no Theatro Variedades. Esteve na missa pela morte do ator, em 1910  (Gazeta de Notícias, 15 de setembro de 1890, penúltima colunaA Imprensa, 4 de março de 1910, penúltima coluna).

 

 

 

1894 a 1901 – Estava na lista de guarda-livros – contador – do Almanak Laemmert e morava na Rua da Misericóridia, nº 80 (Almanak Laemmert1894189518961897189818991900 e 1901). Em 1900, foi noticiado que era proprietário da Papelaria União.

 

 

1901 – O jornal A Imprensa publicou uma trova na coluna”Ineditoriais”, de Felizardo Ventura, na qual ele era um dos personagens (A Imprensa, 5 de janeiro de 1901).

 

 

1902 / 1903 – Era sócio da firma Fernando Freire e Cia (Correio da Manhã, 24 de junho de 1902, penúltima coluna). A notícia abaixo, de 1903, confirma tratar-se do Anchanjo Sobrinho fotógrafo amador e não um possível homônimo. Também se refere jocosamente a suas dificuldades no início de suas atividades de fotógrafo e informa que ele já havia sido barbeiro e dentista. Parece que gostava de beber e era um ótimo amigo, muito relacionado no Rio de Janeiro. De acordo com o texto, na época, já possuia uma papelaria.

 

archanjo

archanjo1

 

 

Nasceu, em 1903, Ari, seu filho com Jovina Muniz Barreto Correia de Mello (Jornal do Brasil, 3 de março de 1903, quinta coluna). Em 1906, já tinha também uma filha (Jornal do Brasil, 9 de fevereiro de 1906, penúltima coluna). Suas filhas chamavam-se Semiramis, futura professora municipal; Oswaldina (1892 -?) e Inah (A Tribuna, 21 de setembro de 1911, segunda colunaO Paiz19 de abril de 1917, última coluna13 de maio de 1917, quinta coluna; A Razão, 16 de agosto de 1919, sexta coluna).

1904 – Fez parte da primeira diretoria do Retiro Dramático Fluminense, uma agremiação de atores amadores. A festa inaugural aconteceu no Teatro Lucinda com a encenação da peça O Médico das Crianças, protagonizada por Eugênio de Magalhães. Archanjo estava presente (Jornal do Commercio, 1º de setembro de 1904, sexta coluna; Jornal do Brasil, 16 de setembro de 1904, terceira coluna; Jornal do Brasil, 20 de setembro de 1904, segunda coluna).

1910 – Ficou ferido em um descarrilamento do bonde onde estava. Morava na rua Visconde de Sapucai (Correio da Manhã, 8 de maio de 1910, penúltima coluna). Foi um dos jurados do julgameno de Nathalino Paes de Barros, que havia assasinado sua mulher. Georgina Reid Paes de Barros (O Paiz, 3 de agosto de 1910, última coluna).

 

 

 

1911 - Esteve presente à encenação da comédia O Diretor, no Teatro Fluminense, no Campo de São Cristóvão (Gazeta de Notícias, 24 de maio de 1911, quarta coluna).

1912 - Constituiu a firma Archanjo e Sobrinho & Cia para explorar a Papelaria Moderna (O Paiz, 13 de janeiro de 1912, quinta coluna).

 

 

Em dezembro, a Papelaria Moderna, que ficava na Rua Marechal Floriano, nº 21, vizinha do Cinema Brasileiro, que sofreu um incêndio, teve alguns prejuízos devido ao acidente (A Imprensa, 9 de dezembro dde 1912, penúltima coluna).

1913 – No ano seguinte, no Almanak Laemmert, a empresa Archanjo Sobrinho & Cia foi noticiada pela primeira vez, listada na seção de “Litografias e Estamparias”, na de “Papelarias”- a dele seria a Papelaria Moderna; e na de “Tipografias”. Ficava na Marechal Floriano, nº 21. Seus sócios eram Manoel Joaquim P. da Fonseca e José Ferreira da Silva. Seguiu, em 1914, na lista de “Litografias e Estamparias” e de “Tipografias”. Residia na Rua Conde de Leopoldina, 85, e a Papelaria Moderna seguiu na Marechal Floriano, 21, até 1918. Em 1922, 1924, 1925 e 1926 foi listada a tipografia Archanjo Sobrinho & Lobosco, na rua Jorge Rudge, nº 38. Em 1922, a Papelaria Moderna existia ainda na rua Marechal Floriano, mas no número 168. Em 1927, estava listada a tipografia Archanjo Sobrinho & Cia, na Rua da Misericórdia, 59. Neste mesmo endereço, em 1929, estava listada uma papelaria e uma tipografia em seu nome. Também em 1929, estava listada a tipografia Archanjo Sobrinho & Maciel Artes Gráficas, na Rua São Pedro, 21. No ano seguinte e em 1934, estava na mesma Rua São Pedro, mas no número 281 e 269, respectivamente (Almanak Laemmert191319131913191319131914191419141915, 1916191819221922192419241925192619271929192919291930 e 1934).

 

 

1914 – Era também gerente do jornal A Época e sua Papelaria Moderna contribuiu com brindes, cartões de visita com impecável impressão, no concurso promovido pelo jornal. Deixou o cargo em 1915 (A Época24 de junho de 191428 de julho de 1914, terceira coluna18 de agosto de 1915, quarta coluna).

1917 e 1919 - Houve greves dos gráficos e os funcionários da oficina de Archanjo aderiram ao movimento. Na mesma época da greve de 1919, a gráfica de Archanjo foi roubada (O Paiz, 4 de setembro de 1917, última colunaGazeta de Notícias, 3 de setembro de 1919, terceira colunaCorreio da Manhã, 9 de setembro de 1919, quarta coluna). Participou das comemorações do jubileu da vida intelectual do então senador Rui Barbosa (1849 – 1923) (O Paiz, 10 de agosto fe 1918, última coluna).

1919 – Doou uma fotografia da Rua 1º de março, produzida em 1893, para ajudar os flagelados da seca nordestina. Será de sua autoria? É da mesma década de 1890 das fotografias que estão exibidas neste artigo e que pertence ao acervo do Instituto Moreira Salles, uma das instuições fundadoras da Brasiliana Fotográfica.

 

 

1920 – Retirou-se da sociedade da firma Archanjo Sobrinho & Cia.

 

 

1922 a 1926 – Contribuiu para a Obra de Assistência aos Portugueses Desamparados (A Noite, 25 de junho de 1922, terceira coluna). Em 1925, residia na rua Barata Ribeiro, nº 417; e depois na Rua Teófilo Otoni, 118 (A Noite, 16 de abril de 1925, terceira colunaO Paiz, 4 de setembro de 1925, última coluna). No primeiro dia de 1926 foi publicada uma propaganda da Artes Gráficas – Archanjo Sobrinho & Gumarães, na Rua da Misericórdia, nº 59.

 

 

1929 – Retirou-se da sociedade Archanjo Sobrinho & Maciel Artes Gráficas (A Manhã, 25 de julho de 1929, quarta coluna).

1941 – Faleceu, em agosto, no Hospital a Ordem Terceira da Penitência e foi enterrado no cemitério da referida ordem (A Noite, 2 de agosto de 1941).

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica