E o ex e futuro presidente do Brasil morreu de gripe…a Gripe Espanhola de 1918

 

 

E o ex e futuro presidente do Brasil, Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848 – 1919), faleceu de Gripe Espanhola! Logo ele que em seu mandato como o quinto presidente da República do Brasil, exercido entre 1902 e 1906 (Gazeta de Notícias, 16 de novembro de 1902, sexta colunaGazeta de Notícias, 16 de novembro de 1906, segunda coluna), designou o médico e sanitarista Oswaldo Cruz (1872 – 1917) para a chefia do Departamento Nacional de Saúde Pública, justamente para melhorar as condições sanitárias do Rio de Janeiro deflagrando a reforma sanitária da capital, combatendo primordialmente a febre amarela, a peste bubônica e a varíola.

Além de Oswaldo Cruz, os engenheiros Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), nomeado por Alves prefeito do Rio de Janeiro, em dezembro de 1902 (Gazeta de Notícias, 31 de dezembro de 1902, na sexta coluna), e Paulo de Frontin  (1860 – 1933) foram fundamentais durante o governo de Rodrigues Alves: Passos foi o prefeito do “bota-abaixo” e Frontin, presidente do Clube de Engenharia, o engenheiro-chefe da construção da Avenida Central.

 

Acessando o link para as fotografias de Rodrigues Alves disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Rodrigues Alves foi eleito presidente do Brasil, pela segunda vez, em 1º de março de 1918. Acometido pela doença, não pode tomar posse no dia 15 de novembro de 1918, tendo seu vice, Delfim Moreira (1868 – 1920), assumido o cargo em seu lugar. Rodrigues Alves faleceu meses depois, em janeiro de 1919, confinado em sua casa na rua Senador Vergueiro, no Flamengo, bairro do Rio de Janeiro (Gazeta de Notícias, 16 de janeiro de 1919Gazeta de Notícias, 17 de janeiro de 1919O Malho , 25 de janeiro de 1919). Foi enterrado em Guaratinguetá, cidade paulista onde nasceu (O Paiz, 18 de janeiro de 1919).

 

“Depois da morte do Barão do Rio Branco, nenhuma outra poderia, sob o ponto de vista nacional, representar prejuízo maior para o Brasil do que a do conselheiro Rodrigues Alves”.

 

 

Ele foi a mais notória vítima brasileira da Gripe Espanhola, que matou cerca de 300 mil pessoas no país. Novas eleições foram convocadas para 13 de abril de 1919 e o paraibano Epitácio Pessoa (1865 – 1942) foi eleito.

 

 

Mas depois da tragédia veio a esbórnia! O que seguiu no Rio de Janeiro, em março, foi um carnaval animadíssimo, como uma vingança contra a terrível doença que havia atingido intensamente a cidade. Foi publicado no Correio da Manhã de 20 de janeiro de 1919:

 

 

 

No 12º capítulo das “Memórias de Nelson Rodrigues” foi publicado, em 10 de março de 1967, no Correio da Manhã: 

“Estou aqui reunindo as minhas lembranças. Aquele Carnaval foi, também, e sobretudo, uma vingança dos mortos mal vestidos, mal chorados e, por fim, mal enterrados. Ora, um defunto que não teve o seu bom terno, a sua boa camisa, a sua boa gravata é mais cruel e mais ressentido do que um Nero ultrajado. E o Zé de S. Januário está me dizendo que enterrou sujeitos em ceroulas, e outros nus como santos. A morte vingou-se, repito, no Carnaval… E tudo explodiu no sábado de Carnaval. Vejam bem: até sexta-feira, isto aqui era o Rio de Machado de Assis; e, na manhã seguinte, virou o Rio de Benjamim Costallat […] Desde as primeiras horas de sábado, houve uma obscenidade súbita, nunca vista, e que contaminou toda a cidade. Eram os mortos da espanhola e tão humilhados e tão ofendidos que cavalgavam os telhados, os muros, as famílias… Nada mais arcaico do que o pudor da véspera. Mocinhas, rapazes, senhoras, velhos cantavam uma modinha tremenda. Eis alguns versos: ‘Na minha casa não se racha lenha,/ Na minha racha, na minha racha./ Na minha casa não há falta d’água,/ Na minha abunda, na minha abunda’”.

 

 

Anos depois, Carlos Heitor Cony (1926 – 2018) escreveu, na Folha de São Paulo de 19 de fevereiro de 1996, um artigo sobre a Gripe Espanhola e o carnaval de 1919:

“No Rio, o sujeito ia atravessar a rua, botava o pé no meio-fio com plena saúde e chegava morto ao meio-fio do outro lado. Era fulminante a gripe, os parentes deixavam os mortos nos bondes, pagavam a passagem deles, como se passageiros fossem. Não havia tempo nem lugar para o enterro. Natural que, depois da fase mortuária, viesse a fase libertária, ou libertina, basta dizer que as delegacias da cidade registraram a queixa de 4.315 defloramentos e outros tantos casos de abandono do lar, adultério e até incesto.”

 

 

Um pouco sobre a Gripe Espanhola, a primeira e mais letal pandemia do século XX 

 

 

A Gripe Espanhola aconteceu, entre 1918 e 1920, em três ondas . Aparentemente, a primeira ocorreu entre março e abril de 1918 ainda durante a Primeira Guerra Mundial. Sua origem é até hoje uma dúvida: teria surgido na Ásia ou em campos militares no interior dos Estados Unidos? O nome Gripe Espanhola é atribuído ao fato de que a Espanha, neutra durante a Primeira Guerra Mundial, ter reconhecido a gripe como problema e ter permitido a divulgação de informações epidemiológicas sobre a doença.

O fato é que a gripe rapidamente se espalhou pela Europa Ocidental e, em julho, já havia chegado à Polônia. Durante o verão do mesmo ano, durante o mês de agosto, em sua segunda onda, uma forma mais letal da doença surgiu – causava pneumonia e, usualmente, dois dias depois do primeiro sintoma, o paciente falecia. A terceira onda ocorreu no inverno de 1919. A pandemia acometeu cerca de 50 % da população mundial e a Organização Mundial de Saúde estima que tenha causando entre 20 e 40 milhões de mortes.

Inicialmente, a repercussão no Brasil da disseminação da doença na Europa foi de despreocupação por parte das autoridades de saúde do país. Imaginaram que a distância entre os continentes, com um oceano os separando, não permitiria a chegada da epidemia em nosso país. Uma nota sem destaque no jornal O Paiz, de 1º de agosto de 1918, referia-se a doença como intensa porém sem gravidade. Em outra nota, também publicada em O País, cinco dias depois, noticiava-se, de novo sem nenhum destaque, a relação entre a gripe infecciosa e o preço do limões.

 

 

Supõe-se que a Gripe Espanhola tenha chegado no Brasil em 9 de setembro de 1918, no navio inglês SS Demerara, que partiu de Liverpool, na Inglaterra e fez escalas em Lisboa, no Recife, em Salvador e no Rio de Janeiro (Jornal do Recife, 10 de setembro de 1918, primeira colunaGazeta de Notícias, 16 de setembro de 1918).

 

 

“A seu bordo, durante a travessia, grassou com caráter epidêmico a tal “hespanhola” ou “dançarina”, influenza há pouco aparecida na Espanha e que tem grassado em uutras cidades da Europa”

Nesse mesmo mês foi noticiado que marinheiros brasileiros que prestavam serviço militar em Dakar, no Senegal, e oficiais da missão médica militar que havia partido no navio Plata tinham contraido a Gripe Espanhola (Jornal do Brasil, 22 de setembro de 1918, A Noite, 23 de setebmro de 1918Jornal do Brasil, 24 de setembro de 1918Revista da Semana, 28 de setembro de 1918Gazeta de Notícias, 5 de outubro de 1918, segunda coluna; e Folha de São Paulo, 1º de abril de 2012).

 

 

Entre os meses de setembro e novembro de 1918, a epidemia assolou o Brasil.  Em outubro, foram diagnosticados casos em Niterói e as primeiras mortes no Estado do Rio foram reportadas em 14 de outubro, quando o número de pacientes chegava já a 20 mil.

 

 

 

O quinino, a canja de galinha, preparados a base de limão, cachaça e outros eram usados contra a doença. A Bayer oferecia a aspirina Fenacetina (O Paiz, 30 de outubro de 1918, quarta coluna) e um laboratório produziu o remédio homeopático Grippina, fórmula do médico Alberto Seabra (A Noite, 10 de outubro de 1918). Balas peitoraes também e gargarejos com Diogexen eram oferecidos como cura para a doença (Careta, 26 de outubro de 1918; e Fon-Fon, 2 de novembro de 1918).

 

 

A essa altura o pânico já tomava conta do Rio de Janeiro, na época capital do Brasil. São Paulo começava também a registrar seus primeiros casos (Correio Paulistano, 17 de outubro de 1918). Outras cidades do Brasil foram atingidas mas nenhuma como o Rio.

 

 

 

O então Diretor Geral de Saúde Pública, Carlos Seidl (1867 – 1929), renunciou.

 

 

Foi substituído por Theóphilo Torres (1863 – 1928) (Gazeta de Notícia, 19 de outubro de 1918, penúltima coluna), que convidou o pesquisador Carlos Chagas (1879 – 1934), que havia assumido a direção do Instituto Oswaldo Cruz em 1917, para atuar no controle da epidemia. Chagas liderou a campanha de combate à doença, implementando cinco hospitais emergenciais e 27 postos de atendimento à população em diferentes pontos do Rio de Janeiro (Gazeta de Notícias, 22 de outubro de 1918). Chagas e sua família adoeceram, mas todos sobreviveram.

 

 

Mas mesmo no auge da tragédia, o humor esteve presente na imprensa carioca.

 

 

Houve um aumento no preço dos alimentos, alguns escassearam e muitos estabelecimentos, dentre eles fábricas, teatros, escolas, restaurantes e bares fecharam suas portas. Atividades básicas foram praticamente suspensas e saques começaram a ocorrer pela cidade. A polícia passou então a garantir que em cada bairro houvesse uma farmácia e uma padaria aberta.

 

 

Em 19 de outubro foi decretado um feriado de três dias e o governo tomou providências como a abertura de novos postos de assistência e de pavilhões com leitos para receber doentes, a divisão da cidade em zonas com médicos autorizados a ordenar tudo quanto o doente precisar. Também determinou a publicação de “conselhos ao povo” e um apelo foi feito para que médicos, farmacêuticos e estudantes colaborassem com a Saúde Pública (Jornal do Brasil, 20 de outubro de 1918 e O Paiz, 20 de outubro de 1918).

 

 

Da cartilha Previna-se contra a gripe, distribuída pelas campanhas do Serviço Nacional de Educação Sanitária:

 

“Perdigotos – Que perigo!
Se estás resfriado amigo,
Não chegues perto de mim.
Sou fraco, digo o que penso.
Quando tossir use o lenço
E, também se der atchim.
Corrimãos, trincos, dinheiro
São de germes um viveiro
E o da gripe mais freqüente.
Não pegá-los, impossível.
Mas há remédio infalível,
Lave as mãos constantemente.
Se da gripe quer livrar-se
Arranje um jeito e disfarce,
Evite o aperto de mão.
Mas se vexado consente,
Lave as mãos freqüentemente.
Com bastante água e sabão.
Da gripe já está curado?
Bem, mas não queira, apressado,
Voltar à vida normal.
Consolide bem a cura,
Senão você, criatura,
Recai e propaga o mal”.

 

“O número de casos declinou drasticamente no final de outubro, retornando a cidade pouco a pouco às suas rotinas diárias, ficando no ar por muitos meses a pergunta se haveria uma volta da epidemia, o que afinal não ocorreu.” (1)

 

 

Estima-se que cerca de 65% da população brasileira tenha sido infectada pela Gripe Espanhola e por volta de 35.240 pessoas tenham morrido em São Paulo e no Rio de Janeiro e 300 mil em todo o Brasil. Esses números variam e diversas fontes os consideram abaixo das estatísticas reais.

 

 

Famílias inteiras foram dizimadas, principalmente as que viviam em condições mais vulneráveis. Os corpos acabavam sendo deixados na rua, onde permaneciam alguns dias até serem recolhidos, ampliando o cenário de devastação. Houve falta de serviço de transporte, alta dos preços e escassez de alimentos. Por volta de 19 de outubro, a doença já havia atingido metade da população do Rio, estimada em 700 mil pessoas, deixando a cidade vazia e silenciosa … este cenário crítico perdurou até o final do mês, quando houve um declínio drástico no número de casos e a cidade começou a retornar às suas rotinas diárias. Estima-se a epidemia tenha causado a morte de cerca de 15 mil pessoas no Rio.(2)

Além de Rodrigues Alves, outros brasileiros famosos foram vítimas da gripe, dentre eles a educadora Anália Franco (1853 – 1919), provavelmente, o poeta de literatura de cordel Leandro Gomes de Barros (1865 – 1918).

O empresário e jornalista tcheco Frederico (Fred) Figner (1866 – 1947), dono da Casa Edison e primeiro produtor fonográfico do Brasil, contraiu e sobreviveu à gripe espanhola e utilizou sua casa, hoje conhecida como Mansão Figner, na rua Marquês de Abrantes, no Flamengo, no Rio de Janeiro, para acolher doentes.

Personalidades internacionais como os pintores austríacos Egon Schiele (1890 – 1918) e Gustav Klimt (1862 – 1918), os escritores franceses Edmond Rostand (1868 – 1918) e Guillaume Appolinaire (1880 – 1918), as crianças portuguesas Francisco (1908 – 1919) e Jacinta (1910 – 1920) do famoso Milagre de Fátima, os irmãos John (1864 – 1920) e Horace Dodge (1868 – 1920), empresários da indústria automobilística; o pianista Henry Hagas (1891 – 1919), da Original  Dixieland Jazz Band, o sociólogo alemão Max Weber (1864 – 1920) e Sophie (1893- 1920),  filha de Sigmund Freud, também foram vitimados pela doença.

Outros que foram infectados mas sobreviveram à gripe foram o pintor Edvard Munch (1863 – 1944), o então futuro presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt (1882 – 1945);  o escritor Franz Kafka (1883 – 1924), a pintora Georgia O’Keeffe (1887 – 1986),  a escritora Katherine Anne Porter (1890 – 1980), as estrelas do cinema mudo Mary Pickford (1892 – 1979) e Lillian Gish (1893 – 1993); o cineasta Walt Disney (1901 – 1966), e além do então presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson (1856 – 1924).

Link para fotografias de aspectos da Gripe Espanhola no site Getty Images

A escritora inglesa Virginia Woolf (1882 – 1941), testemunha do impacto da Gripe Espanhola, registrou em seu diário em outubro de 1918: “Estamos … no meio de uma praga só comparável à Peste Negra“. Em seu ensaio “Doença: uma mina inexplorada“, de 1926, escreveu:

Se considerarmos o quão comum é a doença, quão terrível é a mudança espiritual que ela acarreta, quão medonhos, quando as luzes da saúde se apagam, são os países virgens que se descerram, as ruínas e desertos d’alma que um leve ataque da influenza traz à tona, os precipícios e relvas regadas de resplandecentes flores que um pequeno aumento de temperatura revela, os carvalhos antigos e obdurados que se nos desenraizam no ato da doença, como adentro o abismo da morte descemos e sentimos as águas da aniquilação bem acima de nossas cabeças e despertamos jurando nos encontrar na presença de anjos e querubins quando temos um dente extraído e, voltando à superfície da cadeira do dentista, confundimos o seu “Abra a boca – abra a boca” com as boas-vindas da Divindade a se inclinar do chão do Céu para nos acolher – quando pensamos nisto e numa infinidade mais, como tão frequentemente somos forçados a pensá-lo, parece deveras estranho que a doença não tenha, junto com o amor, a batalha, a inveja, tomado seu posto entre os temas primordiais da literatura. Romances, pensar-se-ia, teriam sido dedicados à Influenza; poemas épicos à Tifóide; odes à Pneumonia, Apendicites e Câncer; cânticos à Dor de Dente. Mas não: com algumas poucas exceções – de Quincey arriscou algo do tipo em Confissões de um comedor de ópio; deve haver um volume ou dois sobre doença espalhados pelas páginas de Proust – a literatura se esforça ao máximo para sustentar que sua preocupação é com o espírito; que o corpo é uma camada de vidro límpido através da qual a alma enxerga clara e distintamente e que, salvo uma ou duas paixões tais como o desejo e a cobiça, ele é nulo, insignificante e inexistente“.

Aqui no Brasil, o futuro escritor e médico Pedro Nava (1903 – 1984), então com 15 anos, testemunha da Gripe Espanhola no Rio de Janeiro, escreveu muitas décadas depois:

“Era apavorante a rapidez com que ela ia da invasão ao apogeu, em poucas horas, levando a vítima às sufocações, às diarréias, às dores lancinantes, ao letargo, ao coma, à uremia, à síncope e à morte em algumas horas ou poucos dias. Aterravam a velocidade do contágio e o número de pessoas que estavam sendo acometidas. Nenhuma de nossas calamidades chegara aos pés da moléstia reinante: o terrível não era o número de casualidades mas não haver quem fabricasse caixões, quem os levasse ao cemitério, quem abrisse covas e enterrasse os mortos. O espantoso já não era a quantidade de doentes, mas o fato de estarem quase todos doentes, a impossibilidade de ajudar, tratar, transportar comida, vender gêneros, aviar receitas, exercer, em suma, os misteres indispensáveis à vida coletiva…”.

Última curiosidade envolvendo literatura e doença: o escritor e poeta florentino Giovanni Boccaccio (1313 – 1375) foi pessoalmente afetado pela pandemia que ficou conhecida como peste negra, que atingiu Florença em 1348. Seu pai e madrasta morreram e ele fugiu da cidade indo para a zona rural da Toscana. Foi durante esse período que escreveu  O Decamerão, 100 contos narrados por personagens que fugiam justamente da peste negra. Já no início do século XVII, em Londres, surtos de peste bubônica ocasionavam muitas mortes e quarentenas eram ordenadas pelas autoridades. O grande poeta e dramaturgo William Shakespeare (1564 – 1616) escreveu nesse período, entre 1605 e 1606, Rei Lear, Macbeth e Antônio e Cleópatra. Segundo James Shapiro, professor da Universidade Columbia e autor de O ano de Lear: Shakespeare em 1606, depois de 1603, Shakespeare não produziu mais comédias românticas e, sim, peças mais sombrias, que expressavam o desespero que tomava a população naqueles dias.

Voltando ao século XX: o mundo ainda sofreu com mais duas pandemias, a Gripe Asiática, em 1957; e a Gripe de Hong Kong, em 1968. No século XXI, foi identificado um novo vírus da influenza do tipo A pandêmico que desencadeou a Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, decretada pela Organização Mundial da Saúde(OMS), em 2009. Cerca de 11 anos depois, em 11 de abril de 2020, a OMS declarou uma pandemia do novo coronavírus, chamado de Sars-Cov-2, causador da Covid-19, surgido na cidade de Wuhan, na China, em fins de 2019.

 

(1) A virologia no Estado do Rio de Janeiro: uma visão global.

(2) Pandemias de influenza e a estrutura sanitária brasileira: breve histórico e caracterização dos cenários. 

 

 

brasiliana fotográfica rodrigues alves

Foto oficial de Rodrigues Alves, presidente do Brasil entre 1902 e 1906.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Atlas Histórico do Brasil

BRITO, Nara Azevedo de. La dansarina: a gripe espanhola e o cotidiano na cidade do Rio de Janeiro. Hist. cienc. saude-Manguinhos [online]. 1997, vol.4, n.1, pp.11-30.

CABRAL, Maulori C.; SCHATZMAYR, Hermann G. A virologia no Estado do Rio de Janeiro: uma visão globalRio de Janeiro : Fiocruz, 2012

CASTRO, Ruy. Metrópole à beira-mar: o Rio moderno dos anos 20. São Paulo : Companhia das Letras, 2019.

CONY, Carlos Heitor. O Canaval da peste. Folha de São Paulo, 19 de fevereiro de 1996.

COSTA, Ligia Maria Cantarino da;MERCHAN-HAMANN, Edgar. Pandemias de influenza e a estrutura sanitária brasileira: breve histórico e caracterização dos cenários. Rev Pan-Amaz Saude v.7 n.1 Ananindeua, mar. 2016.

Folha de São Paulo

GOULART, Adriana da Costa. Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de JaneiroHist. cienc. saude-Manguinhos v.12 n.1 Rio de Janeiro jan./abr. 2005

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Incrível História

KOLATA, Gina. Gripea história da pandemia de 1918. Rio de Janeiro : Record, 2002.

NAVA, Pedro. Chão de ferro. Memórias/3. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976.

O Estado de São Paulo

O Globo

OUTKA, Elizabeth. Viral Modernism: The Influenza Pandemic and Interwar Literature. New York : Columbia University Press, 2020.

Rádio Senado

RODRIGUES, Nelson. A menina sem estrela. São Paulo : Companhia das Letras, 1993.

SANTANA, Rosemeire Siqueira de. Tecendo os fios da memória: um breve ensaio biográfico sobre as educadoras Anália Franco, Neide Mesquita e Laura Amazonas.

SANTOS, Ricardo Augusto dos. O Carnaval, a peste e a espanhola. Hist. cienc. saude-Manguinhos vol.13 no.1 Rio de Janeiro Jan./Mar. 2006

SECCHIN, Antonio Carlos. Melancólico em livro de Bandeira, Carnaval em 1919 foi pura libertinagem. Folha de São Paulo, 22 de junho de 2019.

Site Casa de Rui Barbosa

Site CPDOC

Site Enciclopédia Britânica

Site Fiocruz

Site Gripenet

Site Hipercultura

Site Pixinguinha

Site Standford University

Site WelcomeCollection

Smithsonion Magazine

Suplemento Ofical do Diário Oficial do Estado de Pernambuco

WOOLF, Virginia. Illness: an unexploited mine. In: Forum, abril de 1926, pp.582-590.

Registros raros da participação militar brasileira na I Guerra Mundial

 

Registros raros da participação militar brasileira na I Guerra Mundial

 

“Na Coleção Cristóvão Barcellos, do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República, é possível encontrar alguns raros registros fotográficos da participação militar brasileira na I Guerra Mundial. Cristóvão de Castro Barcellos (1883-1946) foi um militar do Exército brasileiro nascido em Campos, norte do estado do Rio de Janeiro. Quando 1º tenente, ele foi chamado a integrar a Comissão Brasileira de Estudos, Operação de Guerra e Compra de Material, criada em dezembro de 1917 e enviada à França em janeiro de 1918″. O cientista político Paulo Celso Corrêa, do Museu da República, uma das instituições parceiras do portal, é o autor do artigo que hoje a Brasiliana Fotográfica publica sobre “A participação militar brasileira na I Guerra Mundial – Comissão Brasileira de Estudos, Operação de Guerra e Compra de Material (1918)”.

 

A participação militar brasileira na I Guerra Mundial – Comissão Brasileira de Estudos, Operação de Guerra e Compra de Material (1918)

Paulo Celso Corrêa*

 

No dia 11 de novembro de 2018 se comemora o centenário da assinatura do armistício que deu fim à Primeira Guerra Mundial (1914-1918), com a rendição da Alemanha. Esse foi o primeiro conflito militar em escala global da história da humanidade, envolvendo países de todos os continentes.  Representou o desfecho dramático de um longo período de disputas por territórios, mercados e áreas de influência geopolítica, que dividia as principais potências capitalistas da época (Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos) desde meados do século XIX. Os avanços tecnológicos da ciência e da indústria dos últimos séculos, que muitos acreditavam levar a humanidade ao progresso e à paz, foram aplicados em armamentos que elevaram a destruição material e as taxas de mortalidade civil e militar a níveis inéditos. Ao todo, estima-se que a guerra matou cerca de 20 milhões de pessoas, entre militares e civis.

Na Coleção Cristóvão Barcellos, do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República, é possível encontrar alguns raros registros fotográficos da participação militar brasileira na I Guerra Mundial. Cristóvão de Castro Barcellos (1883-1946) foi um militar do Exército brasileiro nascido em Campos, norte do estado do Rio de Janeiro. Quando 1º tenente, ele foi chamado a integrar a Comissão Brasileira de Estudos, Operação de Guerra e Compra de Material, criada em dezembro de 1917 e enviada à França em janeiro de 1918.

 

 

O compromisso de criá-la surgiu na reunião da Comissão Interaliada acontecida em Paris, entre 30 de novembro e 3 de dezembro de 1917, na qual o Brasil foi representado pelo seu ministro plenipotenciário (embaixador) na França, Olinto Magalhães. Desde 26 de outubro daquele ano, o Brasil estava em guerra contra a Alemanha, integrando assim o bloco dos países Aliados liderado pela França, Inglaterra e Estados Unidos. Além da Comissão de Estudos e Compras, na mesma reunião interaliada se decidiu que o Brasil enviaria uma missão médica militar para a França, um grupo de aviadores navais para treinamento na Europa e nos EUA  e uma divisão naval para o patrulhamento da costa atlântica da África.

 

Acessando o link para as fotografias relativas à participação do Brasil na I Guerra Mundial disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

A comissão de estudos e compras, conhecida como “Missão Aché” por causa de seu comandante, o general Napoleão Felipe Aché, tinha o objetivo de estudar a doutrina militar francesa e conhecer armamentos franceses que pudessem ser comprados para uso pelo exército brasileiro. Além de visitarem instalações militares, os 24 oficiais brasileiros que a compunham foram arregimentados na primeira linha do Exército francês, que lutava na frente ocidental da guerra (França e Bélgica). Cristóvão Barcellos, por exemplo, comandou um pelotão do 17º regimento de Dragões (infantaria a cavalo) do exército francês, participando da perseguição a tropas alemãs que se retiravam da Bélgica. Ele continuou na França após o fim da guerra, onde cursou a Escola Militar de Saint-Cyr até 1919, ano em que retornou ao Brasil.

 

 

A Missão Aché continuou suas atividades na França após o armistício. Outra função por ela desempenhada foi a de familiarizar os oficiais brasileiros com o exército francês, de modo que eles pudessem trabalhar com a Missão Francesa de treinamento contratada pelo governo brasileiro em 1919. Ficou definido pelo contrato que os franceses comandariam por quatro anos as escolas brasileiras de Estado-Maior, Aperfeiçoamento de Oficiais, Intendência e Veterinária e, em troca, o Brasil daria preferência à compra de armas e equipamentos bélicos franceses. Chefiados pelo marechal Maurice Gamelin, os primeiros oficiais instrutores franceses chegaram ao Brasil em 1919. O contrato da missão foi renovado sucessivas vezes até a extinção da missão militar em 1940, após a capitulação da França na Segunda Guerra Mundial.

 

 

 

*Paulo Celso Corrêa é cientista político do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República

 

Fontes:

ARAUJO, Rodrigo Nabuco de. Missão militar francesa; FAGUNDES, Luciana. Participação brasileira na Primeira Guerra Mundial; LEMOS, Renato. Cristóvão Barcellos. In: ABREU, Alzira Alves de (org.). Dicionário histórico-biográfico da Primeira República (1889-1930). Rio de Janeiro, Editora FGV, 2015.

DARÓZ, Carlos. O Brasil na Primeira Guerra Mundial: a longa travessia. São Paulo, Editora Contexto, 2017.

 

Notícias sobre a Missão Aché na década de 1910

Andrea C. T. Wanderley**

 

Anúncio da criação de uma missão militar brasileira na Europa chefiada pelo general Napoleão Felipe Aché com o objetivo de colher “in loco” as lições novas que a presente guerra proporciona (O Jornal (MA), 23 de novembro de 1917, quarta coluna).

No anfiteatro da Sorbonne, realização de grande manifestação em honra do Brasil com a presença do general Aché e de membros da missão militar brasileira (O Paiz, 16 de março de 1918, terceira coluna).

O ministro do Brasil em Paris, Olinto de Magalhães (1866 – 1948), apresentou o general Aché a Stephen Pichon (1857 – 1933), ministro das Relações Exteriores da França (O Paiz, 9 de abril de 1918, quarta coluna).

Visita da Missão Aché a Verdun e encontro de Olinto Magalhães e do general Aché com Georges Clemenceau (1841 – 1929), presidente do Conselho da França (A Rua, 1º de maio de 1918, última coluna e O Paiz, 2 de maio de 1918, primeira coluna).

Olinto Magalhães apresentou o general Aché e o chefe da missão naval brasileira, o almirante Francisco de Mattos, ao presidente da França, Raymond Poincaré (1860 – 1934)(O Paiz, 21 de junho de 1918, segunda coluna).

Em 28 de julho, a missão brasileira foi recebida no front de guerra belga pelo general Gillain, chefe do Estado Maior (Fon Fon, 5 de outubro de 1918).

O ministro da Guerra do Brasil, o marechal Caetano de Faria (1855 – 1936) fez um elogio ao general Aché (A Noite, 26 de agosto de 1918, última coluna),

Incorporação de oficiais da Missão Aché a regimentos franceses e condecoração do general Aché com a medalha militar francesa (Correio da Manhã, 3 de setembro de 1918, primeira coluna; O Paiz, 3 de setembro, quarta coluna;  Jornal do Brasil, 5 de setembro de 1918, última coluna; e O Malho, 7 de setembro de 1918, última coluna).

Matéria sobre a participação do Brasil na guerra (O Paiz, 3 de setembro de 1918, última coluna).

Inserção na ata da Câmara de Deputados de uma nota de contentamento relativa à incorporação de oficiais da Missão Aché a regimentos franceses (Gazeta de Notícias, 5 de setembro de 1918, primeira coluna).

Falecimento de um membro da Missão Aché, o tenente Andrade Neves, vítima da gripe espanhola (Gazeta de Notícias, 11 de outubro de 1918, penúltima coluna,  A República, 21 de outubro de 1918, quarta coluna; e O Malho, 9 de novembro de 1918).

Em entrevista, o ministro da Guerra do Brasil, o marechal Caetano de Faria (1855 – 1936), mencionou as missões militares do Brasil na Europa (O Paiz, 11 de outubro de 1918, penúltima coluna).

Pronunciamento do deputado do Pará, Abel Chermont, na Câmara de Deputados, quando afirmou que oficiais brasileiros da Missão Aché estavam chefiando soldados e até mesmo oficias franceses (O Paiz, 13 de outubro de 1918, quarta coluna).

Participação da Missão Aché no front da guerra (A Noite, 15 de outubro de 1918, segunda coluna).

Entrevista com o general Aché (A Época, 30 de outubro de 1918).

Condecoração do 1º tenente José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, integrante da Missão Aché (Gazeta de Notícias, 5 de novembro de 1918, quarta coluna e O Paiz, 13 de novembro de 1918, penúltima coluna).

Citação de dois oficiais da Missão Aché, dentre eles Castro Barcellos, na ordem do dia (Gazeta de Notícias, 25 de novembro de 1918, quarta coluna).

Volta do aviador brasileiro Bento Ribeiro do front da guerra. Ele revelou que os oficias brasileiros da Missão Aché gozam de muitas simpatias na França (Jornal do Commercio (AM), 20 de dezembro de 1918, sexta coluna).

O general Aché visitou o hospital brasileiro em Paris (O Paiz, 27 de dezembro de 1918, segunda coluna).

Condecoração pelo governo francês do coronel Leite de Castro , membro da Missão Aché (A Época, 5 de janeiro de 1919, sétima coluna).

Nomeação do 1º tenente Ildebrando Escobar como membro da Missão Aché (Gazeta de Notícias, 14 de fevereiro de 1919, terceira coluna).

Sobre a participação do tenente Onofre Moniz Gomes de Almeida, professor da Escola de Aperfeiçoamento do Exército, na Missão Aché (O Imparcial, 22 de fevereiro de 1919, primeira coluna).

O ministro da Fazenda, João Ribeiro de Oliveira Souza (1863 – 1933), confirmou a isenção da cobrança de impostos sobre os vencimento dos membros da missão militar na Europa sob o comando do general Aché (O Paiz, 5 e 6 de março de 1919, última coluna).

O capitão Regueira, ex-membro da Missão Aché, foi destacado para acompanhar a visita do general francês Maurice Gamelin (1872 – 1958) ao Brasil (A Razão, 27 de março de 1919, segunda coluna).

Volta de Castro Barcellos ao Brasil, a bordo do paquete Gelria, do Lloyd Royal Hollandez (Pequeno Jornal, 2 de abril de 1919, última coluna).

Notícia do nascimento de um filho do 1° tenente Ildebrando Escobar, membro da Missão Aché (O Paiz, 25 de abril de 1919, quinta coluna).

Sobre a autorização para a participação do major João Clomenes de Siqueira, da Missão Aché, no Congresso da Cruz Vermelha,em Berna, na Suíça (A Noite, 28 de abril de 1919, última coluna).

Polêmica em torno de uma suposta compra de material de artilharia francesa envolvendo membros da Missão Aché( A Noite, 5 de maio de 1919, quarta colunaA Época, 6 de maio de 1919, sexta colunaGazeta de Notícias, 6 de maio de 1919, terceira colunaCorreio da Manhã, 6 de maio de 1919, quarta colunaCorreio Paulistano, 6 de maio de 1919, quarta colunaA Época, 6 de maio de 1919, penúltima coluna; e Jornal do Commercio, 6 de maio de 1919, segunda coluna)

O presidente do Tiro da Imprensa, Miguel Calmon, estava na Missão Aché, assim como seu instrutor, o Segundo Tenente Ildefonso Escobar (O Imparcial, 13 de maio de 1919, última coluna).

Apresentação dos membros da Missão Aché ao novo ministro do Brasil junto ao governo da França (Jornal do Commercio, 11 de junho de 1919, quarta coluna).

O general Aché foi condecorado comendador da Legião de Honra da França (O Paiz, 15 de junho de 1919, penúltima coluna).

Artigo sobre a Missão Aché (Jornal do Commercio, 5 de julho de 1919, terceira coluna).

Sobre o raid entre Rio e Lisboa projetado pelo tenente Alziro Lima, que havia sido membro da Missão Aché (A República, 9 de julho de 1919, primeira coluna; A Noite, 8 de julho de 1919, última colunaA Razão, 9 de julho de 1919, segunda coluna).

Sobre a Missão Médica e a Missão Aché (Correio Paulistano, 7 de setembro de 1919, última coluna).

O general Aché comunicou ao ministro da Guerra do Brasil, Alfredo Pinto Vieira de Melo (1863 – 1923), que o governo francês havia autorizado o envio de uma missão militar para a instrução do Exército brasileiro sob a chefia do general Gamelin (A Época, 11 de setembro de 1919, penúltima coluna).

Sobre a comissão que substituiria a Missão Aché na Europa (Gazeta de Notícias, 3 de outubro de 1919, primeira coluna).

Sobre o fornecimento de material bélico do governo francês ao Exército brasileiro (A Época, 11 de outubro de 1919, quarta coluna).

“O general Gamelin conferencia, em Paris, com o general Napoleão Aché” (O Paiz, 8 de novembro de 1919).

Dissolução da Missão Aché (O Pharol, 23 de novembro de 1919, última coluna).

Regresso ao Brasil e ida para outros países dos oficiais da Missão Aché (A Noite, 19 de dezembro de 1919, primeira coluna; e A Razão, 19 de janeiro de 1920, terceira coluna).

 

**Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

 

Fonte:

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional