Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!

Com a publicação do 13º artigo da Série Feministas, graças a Deus!, a Brasiliana Fotográfica celebra a conquista do voto feminino no Brasil, a partir do Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, que instituiu o Código Eleitoral Provisório, assinado pelo presidente Getulio Vargas (1882 – 1954), reconhecendo o direito de voto das mulheres.

 

“Art. 2º É eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, alistado na forma deste código”.

Decreto nº 21.076, 24 de fevereiro de 1932

 

A Constituição promulgada em 16 de julho de 1934 aprovou a igualdade de direitos políticos entre homens e mulheres, desde que maiores de 18 anos e alfabetizados:

 

Art. 108. São eleitores os brasileiros de um e de outro sexo, maiores de 18 anos, que se alistarem na forma da lei.

Parágrafo único. Não se podem alistar eleitores:

a) os que não saibam ler e escrever;

b) os praças-de-pré, salvo os sargentos, do Exército e da Armada e das forças auxiliares do Exército, bem como os alunos das escolas militares de ensino superior e os aspirantes a oficial;

c) os mendigos;

d) os que estiverem, temporária ou definitivamente, privados dos direitos políticos. 

Art. 109. O alistamento e o voto são obrigatórios para os homens e para as mulheres, quando estas exerçam função pública remunerada, sob as sanções e salvas as exceções que a lei determinar.

 

Era a vitória de décadas de mobilização em favor do sufrágio feminino no Brasil.

 

 

No artigo de hoje, estão destacadas as imagens do acervo fotográfico do portal relativas às feministas e a suas pautas – os registros são do acervo do Arquivo Nacional, uma de nossas instituições parceiras, e seus autores foram J. Bonfioti, a Photo Skarke, a Fotografia Alemã, Louis Piereck (1880 – 1931), o Serviço Photographico de Vida Doméstica, além de fotógrafos ainda não identificados. Também publicamos breves perfis de sufragistas brasileiras importantes na luta pelo voto feminino.

 

Acessando o link para as imagens relativas ao feminismo disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

A trajetória da conquista do voto feminino no Brasil, um marco fundamental na história da democratização do país, começou ainda no século XIX e tornou-se o principal tema do feminismo nas primeiras décadas do século XX, quando a feminista Bertha Lutz (1894 – 1976), fundadora da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, foi uma das mais importantes vozes na luta pela emancipação feminina, que também teve outras defensoras dedicadas e aguerridas.

 

Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810 – 1885), 

 precursora dos ideais de igualdade e independência da mulher brasileira

 

 

“Nísia Floresta surgiu – repita-se–como uma exceção escandalosa. Verdadeira machona entre as sinhazinhas dengosas do meado do século XIX. No meio de homens a dominarem sozinhos todas as atividades extra domésticas, as próprias baronesas e viscondessas mal sabendo escrever, as senhoras mais finas soletrando apenas livros devotos e novelas que eram quase histórias do Trancoso. causa pasmo ver uma figura como a de Nísia”.

Gilberto Freyre, Sobrados e Mocambos (1936)

 

Ainda no Brasil Império, a escritora e educadora potiguar Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810 – 1885), pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, foi a primeira mulher brasileira a defender o direito à educação científica para as meninas. A explicação do pseudônimo que criou para ela é a seguinte: “Nísia”, uma referência ao seu nome de batismo; depois, ao sítio Floresta onde nasceu; em seguida, ao seu país; e, finalmente, a Augusto, o nome do marido de quem ficou viúva. 

Nasceu, em 12 de outubro de 1810, em Papari, no Rio Grande do Norte, onde casou-se com Manuel Alexandre Seabra de Melo. Tinha apenas 13 anos, mas ainda no primeiro ano do casamento voltou para a casa dos pais, o advogado português Dionísio Gonçalves Pinto (17? – 1828) e a brasileira Antônia Clara Freire (17? – 1855). Seus irmãos eram Clara e Joaquim. Mudou-se com a família para  Pernambuco, onde morou em Goiana, Recife e Olinda. 

Em 1828, seu pai foi assassinado (Diário de Pernambuco, 22 de setembro de 1830, segunda coluna). No mesmo ano, Nísia passou a viver com Manoel Augusto de Faria Rocha, estudante de Direito da Faculdade de Olinda, natural de Goiana (Diário de Pernambuco, 16 de abril de 1829, segunda coluna), com quem teve três filhos na década de 1830: Lívia (1930-?), um filho, que viveu poucos meses (1831 – 1831 ou 1832); e Augusto Américo (1933-?). Era acusada de adúltera pelo ex-marido. 

Iniciou sua carreira literária, em 1931, publicando, com o pseudônimo de Brasileira Livre, artigos sobre a condição feminina no jornal pernambucano Espelho das Brasileiras, que pertencia ao francês Adolphe Emile de Bois Garin (Espelho das Brasileiras, 13 de maio de 1931). A defesa dos direitos das mulheres e dos indígenas no Brasil, e a crítica à escravidão foram temas recorrentes em sua produção literária.

 

“Esta foi, com certeza, uma das primeiras mulheres no Brasil a romper os limites do espaço privado e a publicar textos na grande imprensa, pois, desde 1830, seu nome era uma presença constante em periódicos nacionais, comentando questões polêmicas, como o direito das mulheres – e, também, dos índios e dos escravos – a uma vida digna e respeitável. Aliás, nesse gosto pela polêmica e no fato de viver sempre à frente de seu tempo, estariam, a nosso ver, também, traços de modernidade da autora”.

 Constância Lima Duarte sobre Nísia em Feminismo e literatura no Brasil (2003)

 

Em 1832, publicou, no Recife, o livro Direito das Mulheres e a Injustiça dos Homens, primeiro texto de uma brasileira a falar em direitos das mulheres. Existe uma polêmica em torno da autoria deste livro: alguns pesquisadores consideram o livro como uma tradução livre de A Vindication of the Rights of Woman, de Mary Wollstonecraft (1759-1797), e outros como a tradução de Woman not Inferior to Man, de Mary Wortley (1689-1762), que teria sido infuenciada pelo livro De l´egalité des deux sexes, de François Poullain de La Barre, publicado em 1673

 

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Em novembro de 1832, foi para o Rio Grande do Sul, com Lívia, sua filha; sua mãe viúva e com seu companheiro, Manoel Augusto, que, em agosto de 1833, poucos meses após o nascimento de Augusto Américo, em janeiro de 1833, faleceu. Manoel Augusto havia ocupado o cargo de juiz municipal de São Pedro do Rio Grande do Sul (Correio Official, 25 de outubro de 1833, primeira coluna). Ainda em 1833, Nísia publicou a segunda edição de Direito das Mulheres e a Injustiça dos Homens, em Porto Alegre, pela Typographia de V. F. Andrade. Escreveu para alguns jornais de Porto Alegre, dentre eles o Belano, que circulou entre 1832 e 1833. Entre 1834 e 1837, manteve uma escola. Segundo o professor Luis Carlos Freire, professor de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e um dos maiores pesquisadores de Nísia, provavelmente ela ensinava em casa, como era costume na época. 

Em 1837, foi para o Rio de Janeiro. Provavelmente, a tensão causada pela Guerra dos Farrapos contribuiu para essa mudança. Em 1838, fundou o Colégio Augusto, para meninas, que dirigiu com algumas interrupções até 1856. Posteriormente, o colégio, que existiu até 1894, foi dirigido por seu filho (Jornal do Commercio, 31 de janeiro de 1838, segunda coluna). Nísia tinha uma proposta de educação inclusiva para meninos e meninas, tanto na esfera pública, quanto na privada, e era influenciada pelo pensamento positivista do francês Auguste Comte (1798 – 1857), de quem era amiga. Em 1839, foi publicada, já no Rio de Janeiro, a terceira edição de Direito das Mulheres e a Injustiça dos Homens, pela Casa do Livro Azul.

 

 

 

Por ensinar Caligrafia, Dança, Desenho e Costura, Francês, Geografia, História, Inglês, Italiano, Latim, Matemática, Música, Português, Piano e Religião a suas alunas e não a fazer vestidos e camisas foi criticada (O Mercantil (MG), 17 de janeiro de 1947, primeira coluna).

 

 

Publicou, em 1847, três obras de caráter pedagógico: Fany ou o modelo das donzelasDiscurso que às suas educandas dirigiu Nísia Floresta Brasileira Augusta, um breve texto de seis páginas; e Daciz ou a jovem completa. 

Em 2 de novembro de 1849, acompanhada dos dois filhos, Nísia viajou pela primeira vez à Europa. Embarcaram, rumo a Havre, na galera francesa Ville de Paris. Ficou em Paris e em Lisboa, retornando ao Brasil em 1852 (Diário do Rio de Janeiro, 3 de novembro de 1849, última coluna). Nesse período, ela frequentou as conferências de Auguste Comte sobre História Geral da Humanidade no Palais Cardinal, em Paris. 

Em 1853, lançou o Opúsculo Humanitário, que dedicou a seu irmão, Joaquim Pinto Brasil. Nele a autora nos conta a história do papel das mulheres nas sociedades ocidentais, dando exemplos e refletindo sobre a condição feminina. Antes da primeira impressão reunida, parte dos textos foi publicada nos jornais Diário do Rio de Janeiro, sob  pseudônimo B.A.

“Dê-se ao sexo uma educação religiosamente moral, desvie-se dele todos os perniciosos exemplos que tendem a corromper-lhe, desde a infância, o espírito, em vez de formá-lo á virtude, adornem-lhe a inteligência de úteis conhecimentos, e a mulher será não somente o que ela deve ser — o modelo de família — mas ainda saberá conservar dignidade, em qualquer posição que porventura a sorte a colocar.”

Nísia Floresta em O Opúsculo Humanitário, 1853

 

Trabalhou como voluntária no combate a uma epidemia de cólera no Rio de Janeiro, em 1855 (Correio Mercantil, 4 de outubro de 1955, segunda coluna). Também entre este ano e 1856 publicou alguns artigos no Brasil Illustrado: Passeio ao Aqueduto Carioca, Páginas de Uma Vida Obscura, Um Improviso, na manhã de 1º do corrente, ao distinto literato e grande porta Antônio Castilho e O pranto Filial.

O último registro do Almanak Laemmert de Nísia como diretora do Colégio Augusto é de 1855 (Almanak Laemmert, 1855). Em 10 de abril de 1856, Nísia viajou no paquete a vapor Cadix com sua filha para a Europa, onde permaneceu até 1871.  Em 1872, um retrato e um pequeno perfil dela foi publicado no jornal ilustrado brasileiro publicado em Nova York, O Novo Mundo, fundado por José Carlos Rodrigues (Diário do Rio de Janeiro, 10 de abril de 1856, quarta colunaO Novo Mundo, 23 de maio de 1872)

 

 

Entre 1872 e 1875, Nísia esteve no Brasil. Retornou à Europa em 24 de março de 1875, rumo à Inglaterra, onde encontrou sua filha. Passaram um tempo em Londres e em Lisboa (Jornal do Commercio, 24 de março de 1875, terceira coluna). Em 1878, já morando na França, publicou seu último trabalho, Fragments d’un ouvrage inédit: Notes biographiques. Entre idas e vindas, Nísia morou na França e na Itália, visitando a Alemanha, Bélgica, Grécia, Inglaterra e Suíça. Enviava artigos para publicação em jornais cariocas (Correio do Brazil, 7 de janeiro de 1872, quinta coluna; Diário de S. Paulo, 11 de dezembro de 1875, última colunaA Reforma, 31 de dezembro de 1875, última coluna). 

Faleceu em 24 de abril de 1885, em Rouen, na França, de pneumonia. Foi enterrada no cemitério de Bonsecours (Jornal do Commercio, 26 de maio de 1885, quinta colunaNovo e Completo Indice Chronologico da Historia do Brasil (RJ) – 1842 a 1889, 1885; Jornal do Commercio, 31 de maio de 1885, quinta coluna).

 

 

 

Sua cidade natal, Papari, foi rebatizada com a aprovação da Lei n° 146, de 23 de dezembro de 1948, como Nísia Floresta. Em 1954, o Estado do Rio Grande do Norte repatriou seus restos mortais para a cidade (O Poti (RN), 22 de agosto de 1954).

 

 

A quarta edição do livro Direito das Mulheres e a Injustiça dos Homens saiu apenas em 1989, pela Cortez, com introdução posfácio de Constância Lima Duarte. Em 2012, foi inaugurado o Museu Nísia Floresta, em sua cidade natal.

Alguns de seus livros que não foram mencionados ao longo deste artigo são Conselhos a minha filha (1842), Lágrimas de um Caeté (1849) Itinerário de uma viagem à Alemanha (1857), Três anos na Itália, seguidos de uma viagem à Grécia (vol 1, em 1864, e vl 2, em 1872); e Cintilações de uma Alma Brasileira (1859). Publicou, ao todo, 15 livros.

 

 Izabel de Souza Matos ou Izabel de Mattos Dillon (1861 – 1920)

 

 

A sufragista Izabel de Souza Matos ou Izabel de Mattos Dillon (1861 – 1920) nasceu na Bahia, em 20 de janeiro de 1861 e concluiu o  curso de Cirurgia Dentária e Prótese pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em maio de 1883 (Gazeta de Notícias, 1º de maio de 1883, sexta coluna). Exerceu a profissão de cirurgiã dentista na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e participou de atividades abolicionistas no Rio Grande (Diário do Brazil, 21 de fevereiro de 1884, última colunaA Federação, 4 de dezembro de 1884, última coluna). Casou-se, em fevereiro de 1885, com o também cirurgião-dentista Thomas Cantrell Dillon (1861 – 1933), futuro cônsul da Grã-Bretanha no Rio Grande do Sul (Almanak Laemmert, 1926). 

 

 

Em 1886, quando ainda residia no Rio Grande do Sul, exigiu na Justiça o registro de eleitora, garantido pela Lei Saraiva a todos os brasileiros com título científico. Porém, José Vieira da Cunha, juiz municipal de Rio Grande, negou o pedido (Correio Paulistano, 21 de dezembro de 1886, terceira coluna). Segundo ela, posteriormente teve o título concedido e votou no candidato republicano Julio Mendonça Moreira (1853 -?), em São José do Norte, no Rio Grande do Sul. Ele havia sido promotor na comarca de Rio Grande e não foi eleito na ocasião – foi eleito deputado estadual de 1891 a 1895. O fato foi citado por Izabel em um artigo publicado no jornal A Rua, de 20 de janeiro de 1917; e também pelo deputado Mauricio de Lacerda (1888 – 1959), este último na sessão da Câmara de 22 de dezembro de 1916 e algumas outras vezes na imprensa (Diário Carioca, 18 de setembro de 1928, terceira coluna). Terá sido então Izabel Dillon, na verdade, a primeira eleitora do Brasil, ainda no século XIX?

 

 

Em 1888, anunciou que abriria um consultório de dentista no Rio de Janeiro, onde foi colaboradora das revistas O Corymbo e  A Família (A Verdade, 29 de novembro de 1888, segunda coluna).

Em 1890, Izabel solicitou a transferência de seu título de eleitor para o Rio de Janeiro, onde voltara a residir, mas José Cesário de Faria Alvim (1839 – 1903), ministro do Interior, julgou improcedente seu pleito e assim como o de outras mulheres (A Ordem (MG), 2 de abril de 1890, última coluna).

 

 

Ainda em 1890, Izabel concorreu a deputada pela Bahia, mas não se elegeu ( Gazeta de Notícias, 25 de agosto de 1890, terceira colunaPequeno Jornal (BA), 17 de setembro de 1890, segunda colunaA Família, 18 de setembro de 1890, última colunaA Lanterna, 22 de dezembro de 1916, segunda coluna; A Rua, 20 de janeiro de 1917).

 

 

 

Era opositora de Floriano Peixoto (1839 – 1895), participou da Revolta da Armada e foi presa (A Rua, 20 de janeiro de 1917). Foi membro do Centro do Partido Operário, criado em 1890 por José Augusto Vinhais (1858 – 1941); e do Partido Republicano Feminino, fundado em 1910, por Leolinda Daltro (1859 – 1935).

 

 

Em 1913, sua única filha, Niobe Elisabeth Gonçalves (1893 – 1913) morreu, grávida de seu quarto filho com o cirurgião-dentista Basílio Gonçalves, seu marido. Houve uma investigação policial por suspeitas de aborto autoinduzido por medicamentos ingeridos por Niobe e também de imperícia médica. O caso repercutiu na imprensa do Rio de Janeiro e ficou conhecido como o Caso da Rua Paraná (O Século, 11 de fevereiro de 1913, quarta colunaCorreio da Manhã, 12 de fevereiro de 1913, quinta colunaO Paiz, 25 de janeiro de 1913, quinta coluna). 

 

 

Izabel faleceu em 19 de junho de 1920 e foi enterrada como indigente no Cemitério de Inhaúma, no Rio de Janeiro. A educadora Mariana Coelho (1857 – 1854) mencionou tanto Nísia Floresta como Izabel Dillon em seu artigo O feminismo no Brasil, publicado no Correio da Manhã, 3 de janeiro de 1937.

 

Josephina Alvares de Azevedo (1851 – 1913),  fundadora do jornal A Família

 

 

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“O fundamento universal de todos os que opinam contra a nossa emancipação é esse — que a mulher não tem capacidade política. Porque? perguntamos nós, e a essa pergunta não nos dão resposta cabal. Em geral, os casos de incapacidade politica são estes — menoridade, demência, inhabilitações, restriccão de liberdade por pena cominada, etc. etc. A esses addusem os legisladores a «diferença de sexo». Mas em que essa diferença pode constituir razão de incapacidade eleitoral? A mulher educada, instruída, em perfeito uso de suas faculdades mentaes, exercendo com critério as suas funcções na sociedade, é uma personalidade equilibrada, apta para discernir e competente para escolher entre duas idéas aquella que melhor convém. Não pude por conseguinte estar em pé de igualdade com os dementes, com os menores, com os imbecis. Assim sendo, é absurdo o principio de sua incapacidade electiva.” 

Josephina Alvares de Azevedo

A Família, 21 de dezembro de 1889

 

Também no século XIX, destacou-se na luta pela emancipação feminina a jornalista e literata pernambucana Josephina Alvares de Azevedo (1851 – 1913), nascida em 5 de maio de 1851, no Recife. Existem até hoje várias lacunas e dúvidas em relação a sua vida pessoal. O local e a data de seu nascimento – pode ter sido Paraíba, Recife, em Pernambuco, ou Itaboraí, no Rio de Janeiro – assim como seu grau de parentesco com o do poeta Manoel Antônio Alvares de Azevedo (1831-1852), ainda são incertos. De acordo com Augusto Victorino Blake, autor do Dicionário Bibliográfico Brasileiro, ela seria filha de Ignácio Manoel Alvares de Azevedo (?-1873) e, portanto, irmã, pelo lado paterno, do referido poeta. Porém em um artigo em A Família, de 23 de fevereiro de 1889, Josephina se refere ao poeta como primo. Sua mãe era Amália Alvares de Azevedo Cunha (? – 1896) e, sua avó materna, Emília Amália de Azevedo Coutinho (? – 1892) (Gazeta de Notícias, 29 de fevereiro de 1892, penúltima colunaO Paiz, 16 de maio de 1896, quarta coluna).

O dia, mês e ano de seu nascimento aqui publicados baseiam-se em uma noticia referente a seu aniversário e nas notícias de seu falecimento, em 1913, onde está indicado que ela tinha 62 anos na ocasião (Gazeta da Tarde, 5 de maio de 1890, quinta colunaDiário de Notícias, 5 de maio de 1890, primeira coluna; A Família, 9 de maio de 1891, primeira colunaA Época, 3 de setembro de 1913, segunda colunaO Paiz, 5 de setembro de 1913, última coluna). Em relação ao local, acredito que ela tenha nascido no Recife, conforme seu próprio depoimento em A Família, 7 de dezembro de 1889, descrevendo seu retorno à sua terra natal em julho de 1889. Na ocasião foi à Photographia Ducasble, onde foi retratada. Ainda na cidade, publicou um número especial de A Família (Diário de Pernambuco, 23 de julho de 1889, penúltima coluna. De lá, seguiu para o Ceará, onde permaneceu cerca de 10 dias (A Família, 7 de dezembro de 1889, A Constituição (CE), 11 de agosto e 1891, segunda coluna).

Josephina viveu até 1877, no Recife. Foi fundadora do jornal semanal A Família, em 1888 (A Família, 18 de novembro de 1888), cuja atuação na imprensa brasileira foi importante no período de transição entre o regime monárquico e a República no país. 

 

 

Inicialmente editado em São Paulo e impresso pela tipografia União- São Paulo, o periódico mudou-se para o Rio de Janeiro, em maio de 1889, e circulou ininterruptamente até 1897 – ficava na Travessa do Barbosa, nº 12 (A Família, 18 de maio de 1889; O Jacobino, 5 de junho de 1897, primeira coluna; Almanak Laemmert, 1898). Provavelmente, voltou a circular em 1898, mas logo deixou de existir (A Mensageira, 15 de maio de 1898). Entre as colaboradoras do jornal estavam a escritora baiana Ignez Sabino (1853 – 1911) e Izabel Dillon (1861 – 1920), além de estrangeiras como as feministas Guiomar Torrezão (1844-1898), escritora portuguesa; e a francesa Eugénie Potonié Pierre (1844 -1898), fundadora da Federação Francesa das Sociedades Feministas; que enviavam seus textos de seus respectivos países.

 

 

Josephina escreveu para A Família diversos artigos em defesa da emancipação feminina a partir da educação, do trabalho, do voto feminino e pelo direito ao divórcio. Desde o início enfrentou resistência, inclusive de mulheres e de instituições católicas, como fica exemplificado na edição do periódico de 12 de janeiro de 1889; e também na notícia publicada pelo jornal O Apóstolo, 28 de março de 1890, primeira coluna.

 

 

Destacamos os artigos O Direito ao Voto, publicado em 7 de dezembro de 1889, O Divórcio, de 2 de outubro de 1890Emancipação da Mulher, de 18 de julho de 1891 e A Questão das Mulheres, de 30 de janeiro de 1892. Às vezes, os assinava como Zefa.

 

 

Com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, as mulheres vislumbraram a possibilidade de terem mais participação política. A própria Josephina escreveu no editorial de A Família, de 30 de novembro de 1889:

“No fundo escuro e triste do quadro de provações a que votaram a mulher na sociedade, brilhará, com a fulgente aurora da República Brasileira, a luz deslumbradora da nossa emancipação?…Queremos o direito de intervir nas eleições, de eleger e ser eleitas, como os homens, em igualdade de condições. Ou estaremos fora do regime das leis criadas pelos homens, ou teremos também o direito de legislar para todas. Fora disso, a igualdade é uma utopia, senão um sarcasmo atirado a todas nós…”

Porém, em 1891, criticou muito o fato de que na primeira Constituição da República, promulgada em 24 de fevereiro de 1891, as mulheres continuarem sendo espectadoras da vida política do país (A Família, 5 de março de 1891), circunstância retratada no quadro Compromisso Constitucional de 1891 (1896), de Aurélio de Figueiredo (1854 – 1916), onde um grupo de mulheres aparece justamente nesta condição.

 

 

Em 1891, o jornal A Família passou a pertencer à Companhia Imprensa Familiar, mas Josephina permaneceu como sua diretora mental e redatora (A Família, 25 de abril de 1891; O Paiz, 11 de maio de 1891, penúltima coluna; Diário de Notícias, 19 de julho de 1891, última coluna).

Foi homenageada com a publicação de seu retrato na primeira página de A Família, de 9 de maio de 1891.

 

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Foi autora da comédia O Voto Feminino, que estreou no Rio de Janeiro, em 26 de maio de 1890, no Theatro Recreio Dramático, enérgica e vibrante peça de combate em favor dos direitos políticos do bello sexo. Foi encenada pelos atores Antonio Pereira Fontana e Castro, português radicado no Brasil; Germano, Bragança e Pinto; e pelas atrizes Elisa de Castro, Isolina Monclar e Luisa. A peça foi inspirada pelas constantes recusas de alistamento eleitoral feminino, já exemplificado neste artigo pelo caso de Izabel Dillon (A Família, 31 de maio de 1890, primeira coluna).  O Voto Feminino é uma peça emblemática do sufragismo brasileiro em fins do século XIX.

 

 

Também em 1890, foi encenada sua tradução livre da peça Os Companheiros do Sol, de Paul Jay (Gazeta de Notícias, 6 de agosto de 1890, penúltima coluna).

A partir de 1892, o número de colaboradoras de A Família e os artigos escritos por Josephina diminuíram muito. Em 1893, foi noticiado que ela estava doente, vitimada pela terrível influenza (A Família, 17 de maio de 1893). Ela residia na rua da Quitanda (Almanak Laemmert, 1893).

Em 1896, ofertou à biblioteca do Grêmio Dramático Arthur Azevedo, de São Paulo, 20 obras  (A Arte, 12 de outubro de 1896, segunda coluna).

Em 1904, foi citada como uma distintíssima escritora brasileira em uma carta aberta da escritora espanhola Eva Canel (1857 – 1932), Em defesa da mulher brasileira, uma resposta a um artigo da escritora e jornalista argentina Conception Gimeno del Flaquer (1850 – 1919) (Il Bersagliere, 5 de maio de 1904, segunda coluna).

Ao longo de sua vida, Josephina publicou três livros: Retalhos (1890), A Mulher Moderna: trabalhos de propaganda (1891), que dedicou em signal de admiração e respeito à Viscondessa de Leopoldina e à D. Maria José Paranhos Mayrink; Galleria illustre (Mulheres célebres) (1897) (O Paiz, 2 de fevereiro de 1890, sexta coluna; Diário do Commercio, 9 de fevereiro de 1891, penúltima coluna).

 

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Josephina faleceu em 1º de setembro de 1913, viúva, de acordo com as notícias veiculadas na época, no Rio de Janeiro, e foi enterrada no Cemitério de São Francisco Xavier, em 2 de setembro de 1913. Sua irmã, Maria Amelia de Azevedo Costa, e seus filhos, Alfredo e Moacyr Alvares de Azevedo, convidaram para a missa de Sétimo Dia, realizada na Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Dores, em São Cristóvão. Residia na rua Luiz Barbosa, número 102 (A Época, 3 de setembro de 1913, segunda colunaO Paiz, 5 de setembro de 1913, última coluna).

 

 

Comentando sobre a conquista do direito ao voto pelas mulheres inglesas, Antenor Thibau lembrou, em um artigo no Jornal do Brasil, a atuação de Josephina em prol da emancipação feminina no Brasil (Jornal do Brasil, 27 de fevereiro de 1918, segunda coluna).

 

 

Leolinda Daltro (1859 – 1935), Mariana de Noronha Horta (18? – 19?) e Mietta Santiago (1903 – 1995)

 

Outra sufragista importante foi a professora, feminista e indigenista baiana Leolinda Daltro (1859 – 1935), fundadora do Partido Republicano Feminino, em 1910. Ela será tema de um artigo futuro da Brasiliana Fotográfica.

 

 

A professora de Belo Horizonte Mariana de Noronha Horta (18? – 19?) também teve um atuação relevante na luta pelo voto feminino: em agosto de 1916, encaminhou um requerimento pedindo aos deputados que aprovassem o sufrágio feminino. No acervo de documentos da Câmara Federal, esta é a primeira manifestação formal de uma mulher solicitando direitos políticos (Correio Paulistano, 17 de agosto de 1916; Site da Câmara dos Deputados).

 

 

Eleitora pioneira em Minas Gerais, a escritora e advogada Mietta Santiago (1903 – 1995), como ficou conhecida Maria Ernestina Carneiro Santiago Manso Pereira, nasceu em Varginha, em 1903, e, aos 11 anos, foi viver na capital mineira, onde estudou na Escola Normal de Belo Horizonte. Casou-se, em 1923, após passar cerca de seis meses na Europa, com o médico João Manso Pereira.

Com apenas 25 anos, em 1928, impetrou um mandado de segurança alegando que o veto ao voto das mulheres seria contrário ao artigo 70 da Constituição Brasileira de 24 de fevereiro 1891, então em vigor (O Paiz, 16 de setembro de 1928, quarta coluna; (Diário Carioca, 18 de setembro de 1928, terceira colunaO Paiz, 23 de setembro de 1928).

 

 

Tornou-se eleitora e candidatou-se a deputada federal, mas não conseguiu se eleger. O fato, uma verdadeira audácia para a época, mereceu versos do poeta, também mineiro, Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987):

 

mietta

 

Além disso, Mietta fundou a Liga de Eleitoras Mineiras. Era amiga de políticos como Getulio Vargas (1882 – 1954) e Tancredo Neves (1910 – 1985) e de escritores como o memorialista Pedro Nava (1903 – 1984) e o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987). Como escritora, publicou as obras Namorada da Deus (1936), Maria Ausência (1940); e, em 1981, Uma consciência unitária para a humanidade e As 7 poesias. Faleceu, em 1995, no Rio de Janeiro.

Em 2017, foi instituída a Medalha Mietta Santiago, condecoração concedida anualmente pela Secretaria da Mulher e pela Presidência da Câmara de Deputados (Site da Câmara de Deputados).

 

Outras sufragistas brasileiras de destaque

 

Outras feministas destacadas na luta pelo voto feminino foram a urbanista, arquiteta e engenheira mato-grossense Carmen Portinho (1903 – 2001), a sindicalista alagoana Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), a advogada mineira Elvira Komel (1906 – 1932)Maria Prestia (? – 1988), líder de um minoritário grupo de feministas de São Paulo; Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972), uma das pioneiras no jornalismo, na educação e no feminismo no Rio Grande do Norte; e a advogada gaúcha Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993). Todas já foram temas de artigos publicados na Brasiliana Fotográfica.

 

 

 

 

 

Meses após à conquista do voto das mulheres no Brasil, ainda em 1932, Natércia e Bertha foram nomeadas para integrar a comissão para elaborar o anteprojeto da nova Constituição (Correio da Manhã, 14 de julho de 1932, terceira colunaCorreio da Manhã, 19 de julho de 1932, primeira colunaBrasil Feminino, dezembro de 1932). Em 1934, o sufrágio feminino estava contemplado na Constituição Federal.

 

 

Sobre a importância da conquista do sufrágio feminino, em entrevista, Carmen Portinho declarou que ela deveria ser um estímulo para outros avanços: “Obtivemos a nossa emancipação política, mas esse direito assim isolado, de que nos serve?” (A Noite, 17 de agosto de 1933, última coluna).

Cerca de seis meses antes da assinatura do Decreto nº 21.076, o jornal A Batalha, de 13 de setembro de 1931, publicou uma reportagem intitulada A nova legislação eleitoral e o voto feminino, com a história do movimento feminista no Brasil, onde a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, dirigido por Bertha, a União Universitária Feminina, sob a direção de Carmen Portinho (1903 – 2001); e a Aliança Nacional de Mulheres, liderado por Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), foram citadas como importantes iniciativas para a emancipação da mulher no país. Na matéria foi publicada também a lista dos países onde as mulheres já possuíam direito ao voto e comentada a liderança do Rio Grande do Norte na concessão de direitos políticos às mulheres, por intermédio do governador Juvenal Lamartine de Faria (1874 – 1956). Foi transcrito também o discurso proferido por Ruy Barbosa (1849 – 1923) no Teatro Lyrico em apoio à causa feminina (A Batalha, 13 de setembro de 1931).

 

 

Em 1933, houve eleição para a Assembleia Nacional Constituinte, e as mulheres puderam votar e terem seus votos reconhecidos pela primeira vez. A primeira mulher eleita foi Carlota Pereira de Queiróz (1892 – 1992), em São Paulo.

 

 

Outra pioneiras, eleitas um ano depois, em 1934, foram Bertha Lutz (1894 – 1976), no Rio de Janeiro; Lili Lages (1907 – 2003), em Alagoas; Maria Luiza Bittencourt Dória (1910 – 2001), na Bahia; Quintina Diniz de Oliveira (1878 – 1942), em Sergipe; e Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), no Amazonas.

 

 

 

 

 

 

Nas eleições de outubro de 2022 no Brasil, o número de mulheres que tiveram suas candidaturas registradas junto à Justiça Eleitoral foi de 9.415, 33,28% do total de políticos elegíveis – 91 mulheres foram eleitas a deputadas federais e quatro para o Senado. As mulheres representavam 53% do eleitorado do país – 82 milhões de votantes. Há ainda um longo caminho a percorrer.

 

 

 

O Rio Grande do Norte e a vanguarda do voto feminino

 

 

Em 1927, houve uma eleição no Rio Grande do Norte e Juvenal Lamartine de Faria (1874 – 1956), que havia renunciado ao Senado, concorreu ao governo de seu estado e venceu o pleito. Tomou posse em 1º de janeiro de 1928. Foi necessário realizar eleições complementares para a escolha de um novo senador. Juvenal apoiava a causa do voto das mulheres. Em 25 de outubro de 1927, ainda durante o governo de José Augusto Bezerra de Medeiros, passou a vigorar a Lei Estadual nº 660, com a emenda Regular o Serviço Eleitoral do Estado, que estabelecia a não distinção de sexo para o exercício do sufrágio e, tampouco, como condição básica de elegibilidade.

Há uma polêmica em torno da primeira eleitora do Brasil na historiografia do feminismo no Brasil no século XX: a natalense e professora Júlia Alves Barbosa Cavalcanti (1898 – 1943) requereu seu alistamento eleitoral no dia 22 de novembro de 1927, porém, dada à sua condição de solteira, o juiz da 1ª vara da Capital retardou o deferimento de seu pleito, que só foi publicado, no Diário Oficial do Estado, no dia 1º de dezembro do mesmo ano. Em 25 de novembro de 1927, a professora Celina Guimarães Viana (1890 – 1972), de Mossoró, deu entrada em uma petição, requerendo sua inclusão na lista de eleitores, que foi aprovada rapidamente, pelo fato de ser casada com um advogado e professor (O Paiz, 2 de dezembro de 1927, primeira coluna). Reivindicando o voto das mulheres, a escritora cearense Rachel de Queiroz (1910 – 2003), com apenas 17 anos, escreveu o artigo Essa questão do voto feminino, publicado no jornal A Jandaia, em 14 de janeiro de 1928. As eleições municipais foram realizadas no dia 5 de abril de 1928, mas os votos das eleitoras foram anulados porque o Senado não reconheceu o direito de voto das mulheres.

 

Júlia Alves Barbosa Cavalcanti foi eleita para a Câmara Municipal de Natal.

 

 

Apesar de, do ponto de vista eleitoral, o estado do Rio Grande do Norte ter reconhecido esta igualdade, faltava, porém, a concretização do “voto de saias”, o que ocorreu nas eleições municipais realizadas no dia 05 de abril de 1928. Em Natal votaram Antônia Fontoura, Carolina Wanderley, Júlia Barbosa e Lourdes Lamartine. Em Mossoró, além de Celina Guimarães, votaram Beatriz Leite e Eliza da Rocha Gurgel. Em Apodi as primeiras eleitoras foram Maria Salomé Diógenes e Hilda Lopes de Oliveira. Em Pau dos Ferros, Carolina Fernandes Negreiros, Clotilde Ramalho, Francisca Dantas e Joana Cacilda Bessa. Ainda em Caicó e Acari, respectivamente, Júlia Medeiros e Martha Medeiros. Além de votar, algumas mulheres, a exemplo de Júlia Alves Barbosa em Natal e Joana Cacilda de Bessa em Pau dos Ferros,  foram também eleitas para o cargo de intendente municipal, equivalente a vereador atualmente.

Centro de Memória do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte

 

 

 

Acesse aqui a linha do tempo da conquista do voto feminino publicada no portal da Câmara dos Deputados

 

 

Alguns países e o ano da aprovação do voto feminino

 

1893 – Nova Zelândia

1902 – Austrália

1906 – Finlândia

1907 –  Noruega

1915 - Dinamarca e Islândia

1917 - Rússia

1918 – Áustria, Alemanha, Polônia, Lituânia, Reino Unido e Irlanda

1920 - Estados Unidos

1929 – Equador

1931 – Espanha e Portugal (com limitações). Na Espanha, o direito foi suspenso em 1936 e só voltou a vigorar em 1977.

1932 – Brasil e Uruguai

1934 - Turquia

1944 - França

1945 – Itália e Japão

1947 - Argentina e Índia

1952 – Grécia

1953 - China e México

1955 – Honduras

1956 - Egito

1962 - Bahamas e Mônaco

1970 – Andorra

1971 – Suíça

1980 – Iraque

1994 – Omã

2015 – Arábia Saudita

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BARBOSA, Lia Pinheiro; MAIA, Vinicius Madureira. Nísia Floresta e ainda a controvérsia da tradução de Direitos das mulheres e injustiça dos homens. Revista Estudos Feministas, 28 (2), 2020.

BARP, Guilherme. A luta de Josefina Álvares de Azevedo pelos direitos das mulheres em A mulher moderna (1891). Nau Literária, Vol. 18, n. 01 (2022) – Dossiê: Racismo, sexismo e Direitos Humanos. Organizado pela Profa. Dra. Regina Zilberman (UFRGS), 5 de setembro de 2022.

CAMPOI, Isabela Candeloro. O livro “Direitos das mulheres e injustiça dos homens” de Nísia Floresta: literatura, mulheres e o Brasil do século XIX. História (São Paulo) v.30, n.2, p. 196-213, ago/dez 2011.

Centro de Referências em Educação Integral

COELHO, Catarina Alves. Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens: a tradução utópico-feminista de Nísia Floresta. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de filosifia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2019.

CORREA E SILVA, Laila. O direito ao voto feminino no século XIX brasileiro: a atuação política de Josephina Álvares de Azevedo (1851-1913). Aedos, Porto Alegre, v. 10, n. 23, p. 114-131, Dez. 2018

DUARTE, Constância Lima. As viagens e o discurso autobiográfico de Nísia Floresta. Matraga, Rio de Janeiro, v.16, n.25, jul./dez. 2009.

DUARTE, Constância Lima. Imprensa feminina e feminista no Brasil: século XIX . Belo Horizonte: Autêntica, 2016.

DUARTE, Constância Lima. Narrativas de viagem de Nísia Floresta. Via Atlântica, n. 2 jul. 1999.

DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta: Incompreensão em relação à sua genialidade. Ciência & Trópico, Recife, v. 26, n. 2, p. 253-260,julho /dez, 1998. 

DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta: a primeira feminista do Brasil. Florianópolis: Editora Mulheres, 2005.

DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta: vida e obra. Natal: Editora Universitária/UFRN, 1995.  

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HALLEWELL, Laurence. (2005). O livro no Brasil: sua historia. São Paulo : Edusp, 2055.

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Wikipedia

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

Série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI e série “Feministas, graças a Deus!” XI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino

O assunto do sexto artigo da Série 1922 – Hoje há 100 anos e do décimo primeiro artigo da série Feministas, graças a Deus, é a fundação, em 9 de agosto de 1922, da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), iniciativa vinculada ao movimento sufragista internacional, principal objetivo do feminismo no início do século XX. As outras reivindicações feministas eram, em resumo, a igualdade entre os sexos e a independência da mulher. A existência da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino foi fundamental para o processo de emancipação das mulheres no Brasil.

 

 

Ainda em 1922, em dezembro, a FBPF promoveu o I Congresso Internacional Feminista no Rio de Janeiro e recebeu a medalha de ouro na Exposição Internacional do Centenário da Independência (Revista da Semana, 2 de julho de 1932). Bertha Lutz  (1894 – 1976)Carmen Portinho (1903 – 2001), Jeronyma Mesquita (1880 – 1972) e Stella de Carvalho Guerra Duval (1879 – 1971) foram algumas das fundadoras da entidade, que sucedeu a Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher e a Liga pelo Progresso Feminino. Eram mulheres com excelente escolaridade e conheciam as direções dos movimentos feministas tanto na Europa como nos Estados Unidos.

 

Acessando o link para as fotografias  relacionadas ao feminismo no Brasil disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Bertha Lutz, cuja biografia confunde-se com a história da FBPF, e Stella de Carvalho Guerra Duval foram designadas presidente e vice-presidente, respectivamente; a secretaria geral coube a Valentina Biosca (? -?) e a segunda secretaria a Esther Salgado Monteiro (?-?). A tesouraria ficou a cargo de Corina Barreiros (? -?) e a escritora Júlia Lopes de Almeida (1862 – 1934) foi eleita presidente de honra da federação.

 

fbpf

 

Em seu início, as reuniões da FBPF ocorriam nas residências das sócias, já que a entidade não tinha sede própria. Sua primeira sede ficava na avenida Rio Branco, 117 (Revista da Semana, 2 de julho de 1932).

 

 

No fim dos anos 20, a FBPF reunia várias associações profissionais de mulheres e possuía núcleos em vários estados, com destaque para os de Alagoas, sob a direção de Lili Lages (1907 – 2003), primeira mulher eleita deputada da Assembleia Legislativa de Alagoas, em 1934; da Bahia, dirigido por Maria Luísa Dória Bittencourt (1910 – 2001), primeira deputada estadual da Bahia, em 1935; de Minas Gerais, pela advogada Elvira Kommel (1906 – 1932); e de Pernambuco, por Nícia Sá Pereira.

Houve, durante os cerca de 15 anos da entidade, uma cisão, em 1930, devido a divergências entre Bertha Lutz e a advogada gaúcha Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993) em relação a questões de engajamento partidário. Natércia saiu da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e fundou a Aliança Nacional de Mulheres, no Rio de Janeiro, em 30 de janeiro de 1931. A entidade era mobilizada pelo tema do trabalho e foi registrada em 7 de março do mesmo ano.

 

 

A FBPF liderou conquistas como a criação da União Universitária Feminina, em 13 de janeiro de 1929, sob a presidência de Carmen Portinho (1903 – 2001); as leis de proteção à mulher e à criança; o ingresso de meninas no Colégio Pedro II, a equiparação da Escola Normal aos cursos secundários oficiais e o voto feminino.

 

A Noite, 14 de janeiro de 1929A Noite, 14 de janeiro de 1929

 

Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932 instituiu o Código Eleitoral Provisório e reconheceu o direito de voto às mulheres.

 

 

Com a instauração do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937, Bertha Lutz foi se afastando da FBPF e a entidade perdeu sua força. Em 1940, a escritora e declamadora Maria Sabina de Albuquerque (1898 – 1991) passou a presidi-la.

 

 

 

Pequeno perfil de algumas das fundadoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino

 

Bertha Lutz (1894 – 1976) foi um dos principais nomes do feminismo no Brasil. Em 1932,  foi uma das duas mulheres nomeadas para integrar a comissão para elaborar o ante-projeto da nova Constituição – a outra foi a advogada Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993).

 

 

Em 1936, Bertha, bióloga por formação, assumiu o mandato de deputada na Câmara Federal. Sempre ocupou importantes cargos públicos, dentre eles a chefia do setor de Botânica do Museu Nacional, cargo no qual se aposentou em 1964. Em agosto de 1965, recebeu o título de professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sua vida sempre esteve ligada à ciência e à luta pela emancipação da mulher. Nasceu em São Paulo, em 2 de agosto de 1894, filha da enfermeira inglesa Amy Marie Gertrude Fowler (1869 – 1922 ) e do cientista e pioneiro da Medicina Tropical, Adolpho Lutz (1855 – 1940). Faleceu no Rio de Janeiro, em 16 de setembro de 1976.

 

Carmen Velasco Portinho (1903 – 2001) nasceu em Corumbá, no Mato Grosso, em 26 de janeiro de 1903, e foi uma militante das causas feministas como o sufrágio feminino, além de ativista pela educação das mulheres e pela valorização do trabalho feminino fora da esfera doméstica, tendo sido uma das primeiras mullheres a se formar em Engenheira Civil (1925) e a primeira a obter o título de urbanista (1939) no Brasil.

 

 

Sempre na vanguarda, foi uma mulher graciosa, cheia de energia, culta, inteligente, dinâmica, tenaz, considerada simpática e afável. E, segundo a própria, apesar de ter tido uma vida de muito trabalho, sempre se divertiu. Viveu quase todo o século XX, tendo falecido em 25 de julho de 2001.

 

A enfermeira Jerônima Mesquita (1880 – 1972) e Stella de Carvalho Guerra Duval (1879 – 1971) eram muito amigas e participaram juntas de diversos projetos além da FBPF.

Jerônima era mineira de Leopoldina. Trabalhou como voluntária da Cruz Vermelha na França e na Suíça durante a Primeira Guerra Mundial. Durante a Gripe Espanhola, já de volta ao Brasil, como associada da entidade Damas da Cruz Verde, ao lado de sua mãe, a baronesa do Bonfim, e de sua amiga Stella de Carvalho Guerra Duval, coordenou a assistência às vítimas da pandemia, no Rio de Janeiro, improvisando enfermarias de emergências dentro dos hospitais cariocas. Cerca de 14 senhoras da sociedade carioca faziam parte do grupo Damas da Cruz Verde.

Foi a partir dessa experiência que surgiu o projeto de criação da Pró-Matre, cuja fundação aconteceu na casa da família Duval, em 1º de abril de 1918, com a presença de Jerônima, da promotora cultural e feminista Laurinda Santos Lobo (1878 – 1946) e da escritora e também feminista Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963), dentre outras mulheres, além do ginecologista e obstetra Fernando Magalhães (1871-1944) e do marido de Stella, o fotógrafo amador, barítono e poeta Fernando Guerra Duval (18? – 1959), com que havia se casado em 1º de dezembro de 1908. Formavam um casal muito popular e frequentavam os salões mais requintados e intelectualizados do Rio de Janeiro, além de terem sido festejados anfitriões de muitas festas e reuniões em seu palacete na rua Barão de Itambi, em Botafogo (O Imparcial, 31 de julho de 1935, terceira colunaIllustração Brasileira, janeiro de 1939).

 

 

Voltando à Pró-Matre. A primeira maternidade foi inaugurada em 9 de fevereiro de 1919, em um casarão na avenida Venezuela, cedido por Venceslau Brás (1868 – 1966), presidente da República. Stella foi tesoureira da entidade por quase vinte anos e sua presidente perpétua (O Paiz, 4 de dezembro de 1908, segunda colunaO Jornal, 5 de dezembro de 1951, segunda colunaO Cruzeiro, 12 de novembro de 1955).

 

 

Em 1919, Jerônima e Stella com Bertha Lutz, a escritora Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963), a educadora Maria Lacerda de Moura (1887 – 1945), Isabel Imbassahy Chermont, a escritora Júlia Lopes de Almeida (1862 – 1934), Valentina Biosca, Esther Salgado Monteiro e Corina Barreiros criaram a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher. Em 1922, foi substituída pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino.

 

 

Jerônima fundou, em 1920, a Federação das Bandeirantes do Brasil e foi sua primeira presidente, tendo, devido à sua dedicação, sido homenageada com o título de Chefe Fundadora do Movimento Bandeirante brasileiro. Participou também da fundação da Associação Brasileira de Educação (1924) e da criação do Conselho Nacional das Mulheres (1947). Foi uma das pioneiras na luta pelo direito ao voto feminino, participando ativamente do movimento sufragista de 1932.

Em 1926, quando Madame Curie e sua filha, Irène Joliot-Curie (1897 – 1956) visitaram o Brasil, tanto Jerônima como Stella as receberam. Na ocasião, Jerônima presidia o Conselho Nacional de Mulheres (O Paiz, 31 de janeiro de 1926, quarta coluna). A cientista compareceu a uma reunião das senhoras da comissão de recepção organizada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, na casa da tesoureira da instituição, Stella de Carvalho Guerra Duval (1879 – 1971)(O Paiz, 11 de agosto de 1926, quarta coluna). Houve também uma recepção oferecida pela baronesa de Bonfim (1862-1953) e por Jerônima. Entre os presentes, os ministros Félix Pacheco (1879 – 1935), Miguel Calmon (1879 – 1935) e Edmundo da Veiga (1869 – 1946), o prefeito do Rio de Janeiro, Alaor Prata (1882 – 1964), além de embaixadores, diplomatas, acadêmicos, enfim personalidades importantes de diversos setores da sociedade ( O Paiz, 7 de agosto de 1926, quarta coluna e Revista da Semana, 7 de agosto de 1927). Lembramos que Carmen Portinho e Bertha Lutz eram integrantes da comissão de senhoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino responsável pela programação da cientista e de sua filha, no Rio de Janeiro.

Em homenagem a Jerônima, o dia 30 de abril, data de seu nascimento, em 1880, é o Dia Nacional da Mulher, instituído pela Lei nº 6.791, de 9 de junho de 1980. Faleceu, em 10 de dezembro de 1972, no Rio de Janeiro (Jornal do Brasil, 11 de dezembro de 1971).

Stella de Carvalho Guerra Duval nasceu em 1º de dezembro de 1879 e faleceu em 2 de fevereiro de 1971, no Rio de Janeiro (Jornal do Brasil, 3 de fevereiro de 1971, última coluna).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BARRETO, Maria Renilda Nery. Pro Matre: arquivo e fontes para a história da maternidade no Rio de Janeiro, 2011.

DEL PRIORE, Mary (Org.). História das mulheres no Brasil. Coordenação de textos de Carla Bassanesi. São Paulo: Contexto, 1997

DEL PRIORI, Mary. História e conversas de mulher. São Paulo: Planeta Brasil, 2014

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

HEYNEMANN, Claudia; RAINHO, Maria do Carmo. Memória das lutas feministas in Brasiliana Fotográfica, 8 de agosto de 2017.

PINTO, Celi Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo (coleção história do povo brasileiro) 2003.

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital (organizadores). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2000.

Site Mulher 500 anos atrás dos panos

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

Links para os artigos já publicados da Série 1922 – Hoje, há 100 anos

Série 1922 – Hoje, há 100 anos I – Os Batutas embarcam para Paris, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 29 de janeiro de 2022

Série 1922 – Hoje, há 100 anos II- A Semana de Arte Moderna, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 13 de fevereiro de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos III – A eleição de Artur Bernardes e a derrota de Nilo Peçanha, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 1º de março de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IV – A primeira travessia aérea do Atlântico Sul, realizada pelos aeronautas portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicada em 17 de junho de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos V – A Revolta do Forte de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicada em 5 de julho de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VII – A morte de Gastão de Orleáns, o conde d´Eu (Neuilly-sur-Seine, 28/04/1842 – Oceano Atlântico 28/08/1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 28 de agosto de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 7 de setembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IX – O centenário do Museu Histórico Nacional, de autoria de Maria Isabel Lenzi, historiadora do Musseu Histórico Nacional, publicado em 12 de outubro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos X –  A morte do escritor Lima Barreto (1881 – 1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 1º denovembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos XI – 1ª Conferência pelo Progresso Feminino e o “bom” feminismo, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, antropóloga do Arquivo Nacional, publicado em 19 de dezembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série “Feministas, graças a Deus”! VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001)

 

“Acho que nasci feminista. Por isso não me lembro quando nem por que – estava na Escola Politécnica, isso eu sei – resolvi assumir esse meu lado contestatório e reivindicatório”.

 

 

A fotografia acima foi produzida pelo Serviço Fotográfico de Vida Doméstica e é muito semelhante a um registro publicado na edição de agosto de 1931 da revista. A dedicatória na foto é de novembro de 1931 e refere-se ao II Congresso Internacional Feminista, realizado no Rio de Janeiro, em junho de 1931, do qual Carmen foi a secretária-geral.

 

 

Nascida em Corumbá, no Mato Grosso, em 26 de janeiro de 1903, Carmen Velasco Portinho foi uma militante das causas feministas como o sufrágio feminino, além de ativista pela educação das mulheres e pela valorização do trabalho feminino fora da esfera doméstica, tendo sido a terceira mulher a se formar em Engenheira Civil (1925) e a primeira a obter o título de urbanista (1939) no Brasil. Sempre na vanguarda, foi uma mulher graciosa, cheia de energia, culta, inteligente, dinâmica, tenaz, considerada simpática e afável. E, segundo a própria, apesar de ter tido uma vida de muito trabalho, sempre se divertiu.

Viveu quase todo o século XX, tendo falecido em 2001. Conheceu pessoas influentes do Brasil e do mundo como o empresário norte-americano Nelson Rockfeller (1908 – 1979), o escritor francês André Malraux (1901 – 1976), os arquitetos Le Corbusier (1887 – 1965), Lúcio Costa (1902 – 1998), Mies Van Der Hohe (1886 – 1969), Oscar Niemeyer (1907 – 2012), e Walter Gropius (1883 – 1969), além de artistas como André Lhote (1885 – 1962), Candido Portinari (1903 – 1962), Cícero Dias (1907 – 2003), Edith Behring (1916 – 1996), José Pancetti (1902 – 1958), Maria Martins (1894 – 1973) e Roberto Burle Marx (1909 – 1994).

Foi amiga e trabalhou com diversas feministas, dentre elas a advogada Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), a também engenheira civil Amélia Sapienza, a bióloga Bertha Lutz  (1894 – 1976), Déa Torres Paranhos (1915 – 2001), uma das primeiras mulheres registradas como arquiteta no CREA, em 1935; a advogada Elvira Komel (1906 – 1932), a naturalista e ornitóloga alemã Emilia Snethlage (1868-1929), a professora Heloisa Marinho (1903 – 1994), as médicas Herminia de Assis e Juana Lopes; a enfermeira Jerônima Mesquita (1880 – 1972), a mecenas Laurinda Santos Lobo (1878 – 1946), as advogadas Maria Alexandrina Ferreira Chaves, Maria Ester Correia Ramalho e Myrthes de Campos ( 1875 – 1965); a escritora Maria Eugênia Celso (1886 – 1963), a advogada Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), formada em Ciências Jurídicas; e Stella de Carvalho Guerra Duval (1879 – 1971).

 

 

Viajou muito, participou de congressos, seminários, programas de rádio, criou e escreveu para revistas e jornais, foi curadora e suas principais atividades sempre estiveram ligadas à engenharia, ao urbanismo, ao desenho industrial e às artes. Declarou em uma entrevista, em 1951, que suas paixões eram a matemática e a jardinagem. Vamos tentar nesse artigo traçar um perfil dessa mulher notável que deixou, a partir de suas ações, uma marca indelével na história do Brasil e na história da emancipação da mulher brasileira.

 

Acessando o link para as fotografias de Carmen Portinho disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Filha da boliviana Maria Velasco Blanco (1877 – 1958), conhecida como Mamita, com o gaúcho Francisco Sertório Portinho (1871 – 1925), conhecido como coronel Portinho, ainda criança, em 1911, mudou-se com os pais para o Rio de Janeiro. Era a primogênita de nove irmãos: as advogadas Branca (? – 1966) e Rosita (? – 1996) – que como ela nasceram em Corumbá – e os já nascidos no Rio de Janeiro, o engenheiro e jornalista José Velasco Portinho  (? – 1986), que foi diretor de O Jornal; os advogados Teresa (? – 1950), Carlos (? – 1991) e Luzia (? – c. 2005),  Maria de Lourdes (c. 1918 – 1962), que chegou a cursar os primeiros anos de Engenharia; e o também advogado Paulo (? – 2007). Luzia e Branca, se tornaram, por concurso, funcionárias da Câmara dos Deputados.

 

Maria Blanco Portinho e Francisco Sertório Portinho, os pais de Carmen

Maria Blanco Portinho e Francisco Sertório Portinho, os pais de Carmen / Correio da Manhã, 17 de julho de 1958Carmen Portinho – Por toda a minha vida

 

Começou a cursar, em 1920, Engenharia na Escola Politécnica da Universidade do Brasil. Ingressou também na Escola Nacional de Belas Artes, que cursou durante dois anos. Estudou escultura e desenho a mão livre com professores como o escultor Celso Antônio de Menezes (1896 – 1984) e o pintor Lucílio de Albuquerque (1877 – 1939). Foi na Escola de Belas Artes que Carmen conheceu e tornou-se amiga do arquiteto Lúcio Costa (1902 – 1998) e do pintor Candido Portinari (1903 – 1962) (O Jornal, 17 de maio de 1962, primeira coluna).

Em 9 de agosto de 1922, ela, Bertha Lutz  (1894 – 1976), Jerônima Mesquita (1880 – 1972) e Stella Guerra Duval (1879 – 1971) fundaram a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, que no mesmo ano recebeu a medalha de ouro na Exposição Internacional do Centenário da Independência. A iniciativa estava vinculada ao movimento sufragista internacional, principal tendência do feminismo no início do século XX. As outras reivindicações eram de igualdade entre os sexos e de independência da mulher.  Carmen foi tesoureira e vice-presidente da entidade. Inicialmente, a sede da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino ficava na avenida Rio Branco, 117 (Revista da Semana, 2 de julho de 1932).

Em 1924, formou-se como engenheira geógrafa e, ainda cursando Engenharia Civil na Escola Politécnica da Universidade do Brasil, para aumentar o rendimento familiar, dava aulas de matemática no Colégio Pedro II, um internato masculino, o que foi considerado um escândalo. O então ministro da Justiça, Augusto Viana do Castelo (1874 – 1953), tentou, sem sucesso, impedi-la. Conversaram, ela apresentou suas justificativas e o rendimento de seus alunos, tendo seguido lecionando por mais três a quatro anos no colégio, quando decidiu pedir demissão.

Seu pai, Francisco Sertório Portinho (1871 – 1925), que havia sido superintendente da Limpeza Pública do Distrito Federal, faleceu, em 1925 (O Paiz, 21 de outubro de 1925, última colunaJornal do Brasil, 29 de outubro, de 1925, sétima coluna). Nessa época, Carmen montou uma loja para suas irmãs trabalharem como datilógrafas.

 

A emancipação econômica da mulher é a base de sua emancipação social e política.

 

Formou-se, em 1925, como a terceira mulher engenheira civil do Brasil. Foi antecedida por Edwiges Becker e por Maria Ester Correia Ramalho e, em 1926, na cerimônia de colação de grau de engenheiros civis e de engenheiros geógrafos formados no anterior na Escola Politécnica, foi a responsável pela leitura do compromisso solene. Ao final de seu discurso, o orador da turma de engenheiros civis, Gentil Ferreira de Souza, prestou uma homenagem a ela oferecendo uma corbeille de flores. O paraninfo foi o engenheiro e político Mauricio Joppert (1890 – 1985), que foi, posteriormente presidente do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro e ministro dos Transportes do governo do presidente José Linhares (1886 – 1957). O paraninfo da turma dos engenheiros geógrafos foi o engenheiro e astrônomo Henrique Morize (1860 – 1930), com quem o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923) havia realizado experiências cinematográficas em 1897. Morize foi diretor do Observatório Nacional entre 1908 e 1929 e o primeiro presidente da Academia Brasileira de Ciências, de 1916 a 1926. Os ministro da Justiça e da Agricultura, Afonso Pena Junior (1879 – 1968) e Miguel Calmon (1912 – 1967), respectivamente, e o prefeito do Distrito Federal, Alaor Prata (1882 – 1964), estavam presentes à solenidade (O Paiz, 30 de abril de 1926Jornal do Brasil, 4 de maio de 1926, primeira colunaA União, 9 de maio de 1926, última coluna). Além dos já citados professores, ao longo do curso, Carmen foi aluna de Manuel Amoroso Costa (1885 – 1928) e José Matoso de Sampaio Correia (1875 – 1942), dentre outros.

 

 

Seu professor de Hidráulica, Mauricio Joppert (1890 – 1985), a convidou, com mais dois alunos, para trabalhar com ele em uma obra federal na Ilha das Cobras, prevista para durar dois anos. Declinou do convite devido à sua nomeação pelo então prefeito, Alaor Prata (1882 – 1964), ao quadro técnico da Diretoria de Obras e Viação da prefeitura do Distrito Federal do Brasil. Seu diretor, um engenheiro que não confiava na competência feminina, deu a ela como primeira tarefa a vistoria de um para-raios instalado no alto de um edifício da prefeitura. Seria um teste. Sua passagem pelo Centro Excursionista Brasileiro, quando escalava diversos morros cariocas, na companhia de amigas como Clotilde Cavalcanti (1904 – 1984), a ajudou a passar no teste. Segundo a própria: “Peguei uma escada, subi ao teto, vi o que o para-raios tinha e resolvi o problema. Foi uma maneira de enfrentar o preconceito“…”difícil mesmo foi aprender como se consertava um para-raios… (Jornal do Brasil, 20 de dezembro de 1999, última coluna). A partir desse dia, adotou calças compridas para o trabalho.

Em 1928, foi promovida a auxiliar técnico da Diretoria de Obras da Prefeitura do Distrito Federal (Correio Paulistano, 15 de abril de 1928, primeira coluna). Ainda nesse ano, ela, Bertha Lutz  (1894 – 1976) e Maria Amélia de Faria, tesoureira, presidente e secretária da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, respectivamente, sobrevoaram o Rio de Janeiro fazendo propaganda pelo voto feminino, lançando folhetos e cartões em cima dos edifícios da Câmara, do Senado e em diversas ruas do centro da cidade (Correio da Manhã, 12 de maio de 1928, sexta colunaCorreio Paulistano, 12 de maio de 1928, primeira coluna).

 

 

Foi uma das signatárias da Declaração dos Direitos da Mulher distribuído pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Outras que também assinaram o manifesto foram Bertha Lutz  (1894 – 1976), a mecenas da Belle Époque carioca, Laurinda Santos Lobo (1878 – 1946); a escritora Maria Eugênia Celso (1886 – 1963) e Maria de Lourdes Lamartine de Faria (1906 – 1992) (Correio da Manhã, 15 de junho de 1928).

 

 

 

 

 

Participou do banquete oferecido pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino à Julia Alves Barbosa (1898 – 1943), identificada como a primeira eleitora brasileira e uma das fundadoras da Associação de Eleitoras Norte-Rio-Grandenses. Na verdade, a primeira eleitora brasileira foi Celina Guimarães Viana (1890 – 1972) (O Paiz, 23 de junho de 1928, última colunaO Paiz, 24 de junho de 1928, Fundaj).

 

 

Abaixo a mesma foto, que faz parte do acervo do Arquivo Nacional:

 

 

Era, com Bertha Lutz  (1894 – 1976) e Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), responsável pela coluna “Feminismo”, de O Paiz (O Paiz, 4 de novembro de 1928).

Estava presente e foi fotografada na recepção a Lou Henry Hoover (1874 – 1944), mulher do então presidente eleito dos Estados Unidos, Herbert Hoover (1874 – 1964), ofereceu, no Palácio Guanabara, a associações feministas (O Paiz, 23 de dezembro de 1928).

 

 

Abaixo, a mesma foto, que pertence ao acervo do Arquivo Nacional. Carmen Portinho é a terceira, da direita para a esquerda.

 

 

Sob sua direção foi criada a União Universitária Feminina, no Rio de Janeiro, em 13 de janeiro de 1929, que congregava mulheres com ensino superior em prol da defesa dos direitos femininos. As outras criadoras da entidade foram a também engenheira civil Amélia Sapienza, a bióloga Bertha Lutz  (1894 – 1976),  a advogada Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), a naturalista e ornitóloga alemã Emilia Snethlage (1868-1929), a professora Heloisa Marinho (1903 – 1994), as médicas Herminia de Assis e Juana Lopes, as advogadas Maria Alexandrina Ferreira Chaves, Maria Ester Correia Ramalho e Myrthes de Campos ( 1875 – 1965); e Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), formada em Ciências Jurídicas (O Paiz, 14 de janeiro de 1929, terceira colunaO Imparcial, 15 de janeiro de 1929, primeira colunaGazeta de Notícias, 15 de janeiro de 1929, quarta colunaA Noite, 5 de abril de 1930, primeira colunaManchete, 30 de janeiro de 1971).

 

 

 

 

Também em 1929, foi promovida a engenheira de segunda classe no quadro técnico da Diretoria de Obras da Prefeitura do Distrito Federal. Como era sempre preterida nas promoções, foi falar diretamente com o presidente da República, Washington Luís (1869 – 1957), que interferiu por ela. Ele teria dito ao comandante Braz Veloso, que o acompanhava nas audiências públicas: “Tome nota e providencie o pedido da moça“.

Desde seu ingresso na diretoria já havia fiscalizado as obras da Escola Modelo Soares Pereira, remodelado o Asilo Francisco de Assis, e estava incumbida da instalação elétrica de todos os próprios municipais, incluindo instalação em quase de todas as escolas públicas, fator este que favoreceu a inauguração de cursos noturnos que deixavam de funcionar por falta de iluminação. Havia sido também responsável por melhoramentos em escolas profissionais (A Noite, 9 de março de 1929, segunda colunaO Paiz, 9 de março de 1929, primeira colunaO Paiz, 10 de março de 1929, primeira coluna; Movimento Brasileiro, abril de 1920, coluna do meio).

Suas primeiras construções foram realizadas ao longo da década de 30: uma escola em Ricardo de Albuquerque, subúrbio carioca, e a sede da Polícia Municipal, na rua do Rezende, no centro do Rio de Janeiro; ambos projetos de Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), de quem, anos depois, tornou-se companheira. Segundo Lúcio Costa (1902 – 1998), como arquiteto Reidy foi o mais elegante e civilizado de sua geração.

 

 

 

Para Carmen, Reidy projetou duas casas: a Casa Carmen Portinho, em Jacarepaguá, e a Casa Reidy-Portinho (1959), no Vale do Cuiabá, em Itaipava.

A Casa Carmen Portinho foi construída entre 1949 e 1952, concebida para que ele e Carmen vivessem lá. Ela foi a engenheira responsável (Diário Carioca, 11 de março de 1953, última coluna).

 

 

Ficou conhecida como Residência Carmen Portinho e foi tombada a nível municipal pelo Decreto nº 35.874 de 05 de julho de 2012, devido à sutileza plástica de sua arquitetura, na qual foram utilizadas técnicas inovadoras para sua época, tem sua presença destacada na cultura arquitetônica carioca.

 

 

 

Foi uma das idealizadoras da criação da Casa do Estudante do Brasil, inaugurada em 13 de agosto de 1929, durante uma assembleia promovida peo Centro Acadêmico Cândido de Oliveira, da Faculdade Nacional de Direito, reunindo estudantes universitários das escolas superiores do Rio de Janeiro e de representantes das escolas Naval e Militar. A poetisa e Rainha dos Estudantes, Ana Amélia Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), foi aclamada presidente da entidade e o escritor Pascoal Carlos Magno (1906 – 1980), secretário (O Jornal, 13 de agosto de 1952, quinta colunaTribuna da Imprensa, 9 de março de 1956).

Na Escola Nacional de Música, Carmen esteve presente nas conferências realizadas pelo arquiteto francês Le Corbusier (1887 – 1965), em dezembro de 1929, a convite do arquiteto espanhol Morales de los Rios Filho (1887 – 1973). Foi a primeira visita de Le Corbusier ao Rio de Janeiro. Em pauta, urbanismo e revolução arquitetônica. Le Corbusier, considerado um dos mais importantes arquitetos do século XX, exerceu grande influência sobre a arquitetura moderna brasileira (O Jornal, 3 de dezembro de 1929, última colunaO Jornal, 4 de dezembro de 1929, quarta colunaO Jornal, 6 de dezembro de 1929, segunda colunaO Jornal, 8 de dezembro de 1929, quarta coluna). Foi com a construção do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, a partir de 1937, encomendado pelo ministro Gustavo Capanema (1900 – 1985), que no Brasil puseram-se em prática as teorias do arquiteto como brise soleil (proteção contra raios solares), pan de verre (fachada envidraçada) e pilotis (estacarias). O prédio é um ícone da arquitetura moderna brasileira.

No início da década de 30, foi uma das engenheiras responsáveis, sem cobrar por isso, pela adaptação de um sobrado na rua do Passeio, que havia sido sede do Clube dos Diários e da sociedade carnavalesca Democráticos, para abrigar a Associação Brasileira de Imprensa (Boletim da Associação Brasileira de Imprensa, agosto de 1956 e julho de 1961).

Representou o governo do Rio Grande do Norte no IV Congresso Pan-americano de Arquitetos, realizado no Rio de Janeiro entre 19 e 30 de junho de 1930. O estado ganhou na exposição promovida pelo congresso a medalha de prata por seu plano de remodelação de Natal. A tese da qual Carmen foi uma das vogais era Parques escolares, universitário, hospitalares, esportivos e de diversões (Jornal do Brasil, 28 de junho de 1930Mensagens do Governo do Rio Grande do Norte, 1930Correio da Manhã, 24 de junho de 1930, última coluna).

 

 

A bordo no navio Southern Prince, partiu para os Estados Unidos, onde participaria do Congresso Internacional de Estradas de Rodagem, em Washington, como delegada do Automóvel Clube do Brasil. Conheceu o Canadá e ficou hospedada com umas primas, em Nova York (Correio da Manhã, 15 de outubro de 1930, terceira colunaA Gazeta (SP), 14 de outubro de 1930, segunda coluna).

A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino organizou o II Congresso Internacional Feminista, no Rio de Janeiro, inaugurado, em junho, no Automóvel Club. Carmen foi uma das encarregadas pela organização e pela programação do evento, cujos temas foram educação feminina, proteção às mães e à infância, trabalho feminino, direitos das mulheres e estreitamento das relações pan-americanas e internacionais (Correio da Manhã, 5 de março de 1931, primeira colunaJornal do Brasil, 19 de junho de 1931O Jornal, 19 de junho de 1931, primeira colunaCorreio da Manhã, 26 de junho de 1931O Malho, 27 de junho de 1931;  Revista da Semana, 27 de junho de 1931 Correio da Manhã, 1º de julho de 1931O Malho, 11 de julho de 1931Vida Doméstica, agosto de 1931).

 

 

 

Finalmente, o Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932 instituiu o Código Eleitoral Provisório e reconheceu o direito de voto às mulheres. Sobre essa conquista, em entrevista, declarou que deveria ser um estímulo para outros avanços: “Obtivemos a nossa emancipação política, mas esse direito assim isolado, de que nos serve?” (A Noite, 17 de agosto de 1933, última coluna).

Casou-se, em 11 de março de 1932, com o irmão da feminista Bertha Lutz, Gualter Adolpho Lutz (1903 – 1969), que viria a ser especialista em medicina legal, tornando-se catedrático da Escola Nacional de Medicina. Separaram-se poucos anos depois (Revista da Semana, 5 de março de 1932, primeira coluna).

 

 

Foi uma das fundadoras da Revista da Diretoria de Engenharia – posteriormente Revista Municipal de Engenharia -, cuja primeira edição foi publicada em julho de 1932. Foi criada por sugestão dada por ela ao então secretário de Obras do Rio de Janeiro, Delso Mendes da Fonseca (1899 – 1984). Seu diretor-geral era Everardo Backheuser e seu editor Armando de Godoy. A revista, técnica, divulgava as realizações da prefeitura, de engenheiros e de arquitetos. Carmen foi inicialmente secretária e posteriormente foi também redatora e diretora da publicação. Foi na Revista da Diretoria de Engenharia da Prefeitura do Distrito Federal que surgiram os primeiros ensaios sobre a arquitetura moderna no Brasil. No primeiro número foram publicados artigos sobre o primeiro projeto de Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), sobre o projeto de Lúcio Costa e Warchavshick para apartamentos na Gamboa e dois artigos de Carmen, A arquitetura moderna na Holanda e Influência do nosso clima na arquitetura das prisões. Nas páginas da revista foram, portanto, publicados os primeiros ensaios sobre a arquitetura moderna no Brasil, que seria, anos depois, uma das mais importantes expressões da criatividade do país.

 

 

Foi a capa da revista Brasil Feminino de novembro de 1932.

 

 

Acompanhou a comissão do Ministério da Viação de obras contra a seca no Nordeste, a convite do ministro José Américo de Almeida (1887 – 1980). A comissão era presidida por Sampaio Correia (1875 – 1942) e contava com alguns de seus antigos professores como Mauricio Joppert (1890 – 1985) e Hildebrando de Góes (1899 – 1980). Durante a viagem, visitou as filiais da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino na Bahia, em Pernambuco, no Ceará e no Rio Grande do Norte (Jornal do Brasil, 30 de novembro de 1932, sexta coluna; Jornal do Recife, 7 de dezembro de 1932, penúltima colunaCorreio da Manhã, 10 de dezembro de 1932, terceira colunaJornal do Brasil, 14 de dezembro de 1932, terceira colunaJornal do Brasil, 15 de dezembro, segunda colunaJornal do Brasil, 23 de dezembro de 1932, terceira coluna).

Ela e Bertha Lutz  (1894 – 1976) participaram da Conferência Pan-americana, em Montevidéu, no Uruguai. Seguiram para o evento em companhia do diplomata Arno Konder (1882 – 1942), futuro cônsul do Brasil em Washington e na Alemanha (Correio da Manhã, 30 de novembro de 1933, quinta colunaJornal do Brasil, 2 de dezembro de 1933, sexta colunaCorreio da Manhã, 9 de dezembro de 1933, terceira coluna).

Em 1934, era a segunda secretária do Sindicato Central de Engenheiros, do qual, em 1938, tornou-se vice-presidente  (Jornal do Brasil, 7 de janeiro de 1934, primeira colunaRevista Municipal de Engenharia, setembro de 1938Correio da Manhã, 8 de outubro de 1938, primeira coluna). Também em 1934, foi nomeada engenheira-chefe da prefeitura (Jornal do Brasil, 16 de agosto de 1934, primeira coluna).

Ingressou, em 1936, no curso de pós-graduação do Curso de Urbanismo e Arquitetura da Universidade do Distrito Federal. Em 22 de dezembro de 1938, Carmen defendeu sua tese, Plano da futura capital do Brasil (Jornal do Brasil, 14 de dezembro de 1938, quinta colunaCorreio da Manhã, 18 de dezembro de 1938, segunda coluna).

 

 

Tornou-se, em 1939, a primeira mulher a obter o título de urbanista no Brasil (Correio da Manhã, 17 de janeiro de 1939, primeira coluna e sua tese foi publicada nas edições de março e maio da Revista Municipal de Engenharia. A primeira turma do curso era composta por oito alunos: Carmen Portinho, Déa Torres de Paranhos  (1915 – 2001), Albino dos Santos, Dante Jorge Albuquerque, Ricardo José Antunes Júnior, Paulo de Camargo e Almeida, João Lourenço da Silva e Adhemar Marinho da Cunha (O Imparcial, 7 de agosto de 1938, última coluna). Todos, menos ela, eram arquitetos. Teve como professores Mário de Andrade (1893 – 1945), de História da Arte; Candido Portinari (1903 – 1962), de Pintura; e Celso Antônio de Menezes (1896 – 1984), de Escultura, dentre outros. Foi nessa ocasião que conheceu Edith Behring (1916 – 1996), que se tornaria uma das mais importantes gravadoras brasileiras e futura responsável pelo Ateliê de Gravura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Por iniciativa de Carmen e de outras engenheiras, foi fundada, em 19 de julho de 1937, a Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas (ABEA), para incentivar mulheres formadas a ingressar no mercado de trabalho. Ela foi sua primeira presidente (Correio da Manhã, 27 de julho de 1937, terceira coluna).

 

 

Lista de Presença da Fundação da ABEA / Fonte: Revista da ABEA Nacional – Ano 1 no. 1, 2011.

Lista de Presença da Fundação da ABEA /
Fonte: Revista da ABEA Nacional – Ano 1 no. 1, 2011.

 

Foi eleita, em 1940, membro do Conselho Diretor do Club de Engenharia, presidido por José Matoso de Sampaio Corrêa (1875 – 1942) (Jornal do Commercio, 16 de junho de 1940, segunda coluna).

Em 1945, foi uma das organizadoras, com Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), Maria Luisa Dória de Bittencourt (1910 – 2001), primeira deputada da Bahia; Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998) e outras mulheres, de uma coligação democrática para apoiar a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes (1896 – 1981) à presidência da República (Diário de Notícias, 24 de fevereiro de 1945, quinta coluna).

Viajou para a Inglaterra, em agosto de 1945, por ter recebido uma bolsa do Conselho Britânico para estagiar junto às comissões de reurbanização das cidades inglesas destruídas pela guerra. A viagem durou 24 dias de navio. Em setembro, já em Londres, ela ofereceu uma recepção na sede do British Council. Em outubro, foi homenageada com um almoço na residência do embaixador do Brasil em Londres, José Joaquim de Lima e Silva Muniz de Aragão (1887 – 1974). Em 21 de dezembro, foi oferecido em homenagem a seu regresso ao Brasil um cocktail na sede da Sociedade de Engenheiros da Prefeitura do Distrito Federal. Segundo ela, foi nesse período que aprendeu o conceito de unidade de habitação. Esteve também na Escócia e em Paris, quando encontrou-se com Beata Vettori (1909 – 1994), diplomata e sua antiga companheira na Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Também, em Paris, encontrou-se com Le Corbusier (1887 – 1965) e lhe mostrou as transparências e as plantas da sede do Ministério da Educação (A Noite, 6 de setembro de 1945, terceira colunaO Jornal, 6 de outubro de 1945, primeira colunaJornal do Commercio, 7 de outubro de 1945, quinta colunaCorreio da Manhã, 15 de dezembro de 1945, sexta colunaRevista da Semana, 10 de abril de 1948Jornal do Commercio, 21 de dezembro de 1945, sexta coluna). 

Foi criado, em 1946, o Departamento de Habitação Popular da Secretaria de Viação e Obras Públicas da Prefeitura do Distrito Federal e Carmen foi nomeada sua chefe (Diário de Notícias, 5 de abril de 1946Correio da Manhã, 5 de abril de 1946, quarta colunaDiário de Notícias, 16 de abril de 1946, quarta colunaCorreio da Manhã, 17 de fevereiro de 1948, sétima colunaDiário Carioca, 3 de março de 1948, quinta coluna). Em 1951 foi destituída do cargo, para o qual foi e reconduzida em 1952. Em 1961, foi substituída pelo engenheiro Stelio Emmanuel de Alencar Roxo (1925 – ?), nomeado por Carlos Lacerda (1914 – 1977), que havia sido empossado no governo da Guanabara, em 5 de dezembro de 1960. Carmen tinha divergências políticas irreconciliáveis com Lacerda. Aposentou-se do serviço público (Diário Carioca, 4 de janeiro de 1961, quinta coluna).

No período que atuou à frente do departamento, lutou pela implementação de um programa de habitação popular na cidade do Rio de Janeiro. Liderou uma equipe de assistentes sociais, arquitetos e engenheiros que idealizaram e construíram quatro conjuntos residenciais, importantes e seminais na trajetória do urbanismo e da arquitetura no Brasil.

1 – O Conjunto Residencial do Pedregulho, cujos primeiros 54 apartamentos foram inaugurados com a presença do prefeito Ângelo Mendes de Moraes (1894 – 1990) e de diversas autoridades. Na ocasião, Carmen proferiu uma palestra sobre a construção (A Noite, 20 de junho de 1950, primeira coluna; Correio da Manhã, 21 de junho de 1950). O projeto de Reidy conquistou o  prêmio de Organização de Grandes Áreas ou de Urbanismo na Bienal Internacional de São Paulo de 1951 (Última Hora, 24 de agosto de 1951, quarta colunaCorreio da Manhã, 6 de dezembro de 1951, primeira coluna).

 

 

 

2 – O Conjunto Residencial da Gávea, outro projeto de Reidy. O prefeito Dulcidio Espírito Santo Cardoso (1896 – 1978) extinguiu a comissão de Planejamento e Direção das Obras do Parque Proletário na rua Marquês de São Vicente, na Gávea, que ficou a cargo de Carmen Portinho. Publicação de uma entrevista com ela (Jornal do Commercio, 16 de janeiro de 1953, primeira colunaA Noite, 17 de janeiro de 1953). Devido à sua aposentadoria, em 1961, não concluiu a obra.

 

 

 

3 – O Conjunto Habitacional Paquetá,  projeto de Francisco Bolonha (1923 – 2006), inaugurado em 1952 (Correio da Manhã, 30 de março de 1952, segunda coluna).

 

 

4 – O Conjunto Residencial de Vila Isabel , cuja concorrência foi aberta em 1954. Foi também um projeto do arquiteto Francisco Bolonha voltado para funcionários municipais (Diário de Notícias, 16 de janeiro de 1954, quinta colunaA Noite, 1º de outubro de 1956Jornal do Commercio, 18 de outubro de 2003, última coluna).

 

 

Entre 27 de setembro e 1º de outubro de 1947, participou, como delegada do Brasil, do Congresso Internacional de Mulheres, organizado pela Entente Mondiale pour la Paix, na sede da Unesco, onde ficava anteriormente o Hotel Majestic. Retornou em 24 de outubro e, em 5 de novembro, proferiu uma palestra sobre o evento, na Casa do Estudante do Brasil (Correio da Manhã, 18 de julho de 1947, terceira colunaCorreio da Manhã, 27 de agosto de 1947, quinta coluna; Correio da Manhã, 28 de setembro de 1947, última coluna; O Jornal, 28 de setembro de 1947, sexta colunaCorreio da Manhã, 25 de outubro de 1947, última colunaJornal do Commercio, 5 de novembro de 1947, primeira colunaRevista da Semana, 6 de dezembro de 1947).

Em 21 de março de 1951, foi eleita e tomou posse a nova diretoria do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, fundado em 1948: Raymundo de Castro Maya (1894 – 1968) – presidente -, Francisco de San Thiago Dantas  (1911 – 1964) – vice-presidente -, Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1916 – 2003) – diretora executiva , Carmen Portinho – diretora executiva adjunta -, Maria Barreto (diretora secretária) e Walther Moreira Salles (1912 – 2001) (tesoureiro). Permaneceu no cargo até 1966. Nesses 15 anos, participou ativamente das atividades do museu, tendo apoiado, curado ou organizado importantes exposições de artistas como Portinari, Cícero Dias e Pancetti.

 

 

Foi a engenheira de sua sede definitiva, projeto de Reidy, no Aterro do Flamengo. O início das obras se deu em 9 de dezembro de 1954, quando o bate-estaca da obra foi acionado pelo então presidente Café Filho (1899 – 1970). Uma cápsula do tempo foi enterrada junto às fundações, contendo marcas do período, como moedas, notas e recortes de jornal. A pedido de Carmen, a artista plástica Lygia Clark decorou a barraca do museu com amostras do material que seria usado nas obras, com um painel de exposição na entrada, entre a sala de trabalho e de reuniões (Correio da Manhã, 9 de dezembro de 1954Tribuna da Imprensa, 10 de dezembro de 1954, penúltima colunaCorreio da Manhã, 16 de dezembro de 1954, terceira colunaVida Doméstica, janeiro de 1955).

 

 

Filme Reidy, a construção da utopia

 

Foi inaugurada em 27 de janeiro de 1958, com uma exposição permanente de seu acervo, uma mostra do inglês Ben Nicholson (1894 – 1982) e uma de escultores ingleses.  (Última Hora, 4 de janeiro de 1958, primeira colunaCorreio da Manhã, 5 de janeiro de 1958Correio da Manhã, 28 de janeiro de 1958Última Hora, 28 de janeiro de 1958, quarta colunaO Jornal, 30 de janeiro de 1958, última coluna).

 

 

O projeto do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964) é reconhecido internacionalmente como um marco da arquitetura moderna mundial. Seus jardins são de autoria de Roberto Burle Marx (1909 – 1994), que também integrou a equipe que realizou, alguns anos depois, o paisagismo do Parque Flamengo, contíguo ao museu.

 

 

 

Em 8 e 9 de setembro de 1966, respectivamente o presidente e o vice-presidente do Museu de Arte Moderna, Gustavo Capanema (1900 – 1985) e João Carlos Vital (1900 – 1984) pediram demissão. A crise no museu foi ocasionada pelo convite feito ao então ministro das Relações Exteriores, Juracy Magalhães (1905 – 2001), para visitar o museu na ocasião da exposição do artista português Bernardo Marques (1898 – 1962). Juracy era um desafeto de Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1916 – 2003), então presidente de honra do museu. Em 27 de setembro foi realizada uma reunião do Conselho Deliberativo e por aclamação foi eleita uma nova diretoria. Assim, após 15 anos, Carmen Portinho deixou o cargo de diretora executiva adjunta do MAM-RJ, que exerceu desde 1951. Por não concordarem com esta resolução, os conselheiros Raymundo de Castro Maya (1894 – 1968), Rodrigo de Mello Franco (1898 – 1969) e Leonídio Ribeiro pediram demissão  (Correio da Manhã, 9 de setembro de 1966, primeira colunaCorreio da Manhã, 29 de setembro de 1966Jornal do Brasil, 14 de setembro de 1978, quinta colunaJornal do Brasil, 8 de julho de 1979).

Foi convidada, em 1967, pelo então governador da Guanabara, Francisco Negrão de Lima (1901 – 1981), para ser diretora da Escola Superior de Desenho Industrial – Esdi –, cargo que exerceu por 20 anos. A Esdi havia sido criada pelo Decreto 1.443, de 25 de dezembro de 1962, e publicado no Diário Oficial do Estado da Guanabara de 4 de janeiro de 1963, durante a gestão do governador Carlos Lacerda (1914 – 1977). Foi instalada à Rua Evaristo da Veiga 95, estendendo-se o terreno até a Rua do Passeio, onde tem o nº 80. Iniciou suas atividades de ensino em 1963, como instituição isolada, pertencente à estrutura da Secretaria de Educação e Cultura da Guanabara. Dada à fusão dos estados do Rio de Janeiro e Guanabara, foi integrada pelo decreto n°67, de 11 de abril de 1975, à nascente UERJ, antiga UEG (O Jornal, 1º de abril de 1967, quinta coluna; O Jornal, 11 de abril de 1967, primeira coluna; Leitura, agosto de 1967; Jornal do Brasil, 26 de setembro de 1977, primeira coluna). 

 

 

 

Foi sob sua direção que, em 1970, a Esdi foi oficializada pelo Conselho Nacional de Educação (Jornal dos Sports, 20 de maio de 1970, primeira coluna). Em 1986, Carmen conseguiu unanimidade na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro na contestação do veto do prefeito Saturnino Braga (1931 – ) ao projeto de preservação da área ocupada pela Esdi, impedindo o despejo da escola (Jornal do Commercio, 6 de julho de 1986, sexta coluna).

Em 1987, foi convidada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CDNM) a entregar ao presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães (1916 – 1992), ao lado de outras mulheres, a Carta das Mulheres aos constituintes, com propostas para a Constituição que estava sendo escrita (Correio Braziliense, 27 de março de 1987, segunda coluna).

Foi convidada, em 1988, para trabalhar como assessora do Centro de Tecnologia e Ciências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Recebeu o Prêmio Gonzaga Duque, da Associação Brasileira de Críticos de Arte, destinado a crítico associado, pela sua atuação ou publicação de livro. O troféu é uma escultura de Haroldo Barroso (1935 – 1989). Foi eleita presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte, cargo que ocupou até 1990, quando foi substituída por Esther Emilio Carlos. Uma curiosidade: foi por sugestão de Mario Pedrosa (1900 – 1981) que passou a fazer parte da Associação Brasileira de Críticos de Arte, em torno de 1967 (Jornal do Commercio, 3 de outubro de 1988, quinta colunaJornal do Commercio, 3 de outubro de 1990, quarta coluna).

Em 1991, passou a fazer parte da Comissão Técnica de Arte da Bienal Internacional de São Paulo (Jornal do Commercio, 22 de fevereiro de 1991, quinta coluna). Carmen Portinho, em 1993, era então a mais antiga engenheira do Brasil e coordenava as unidades do Centro de Tecnologia e Ciências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (O Globo, 27 de abril de 1993).

Em 1999, trabalhava como consultora do Centro de Tecnologia e Ciências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Foram lançados os livros Carmen Portinho, de autoria de Ana Luiza Nobre; e de Carmen Portinho – por toda a minha vida, um depoimento dela a Geraldo Edson de Andrade (Jornal do Brasil, 24 de novembro de 1999, terceira colunaJornal do Brasil, 18 de dezembro de 1999, última coluna).

Carmen faleceu no dia 25 de julho de 2001, aos 98 anos (Jornal do Brasil, 26 de julho de 2001). Não teve filhos, mas adotou informalmente uma menina de 6 anos, filha de sua irmã Maria de Lourdes (c. 1918 – 1962), morta precocemente – por coincidência, também chamada Carmen, irmã da atriz e cineasta Ana Maria Magalhães.

Em 2019, foi homenageada com a declaração do Ano Institucional Carmen Portinho da UERJ.

 

 

 

Cronologia de Carmen Velasco Portinho (1903 – 2001) 

 

 

1903 – Carmen Velasco Portinho nasceu em Corumbá, no Mato Grosso, em 26 de janeiro de 1903, filha do casal formado pela boliviana Maria Velasco Blanco (1877 – 1958) e pelo gaúcho Francisco Sertório Portinho (1876 – 1925). Maria Velasco, nascida em Cochabamba, em 4 de junho de 1877, e conhecida como Mamita era filha do poeta Leon Velasco e da professora Abigail Blanco. Casou-se em Corumbá com Francisco Sertório Portinho (1871 – 1925), conhecido  como coronel Portinho, nascido em Cachoeira do Sul. Ele havia sido obrigado a deixar o Rio Grande do Sul por ter participado da Revolução Federalista, ocorrida no estado entre 1893 e 1895, quando a paz foi assinada e os castilhistas foram vitoriosos. Portinho era maragato.

Carmen era a primogênita de nove irmãos: as advogadas Branca (? – 1966) e Rosita (? – 1996), que como ela nasceram em Corumbá. Os demais nasceram no Rio de Janeiro: o engenheiro e jornalista José Velasco Portinho  (? – 1986), que foi diretor de O Jornal; os advogados Teresa (? – 1950), Carlos (? – 1991) e Luzia (? – c. 2005),  Maria de Lourdes (c. 1918 – 1962), que chegou a cursar os primeiros anos de Engenharia; e o também advogado Paulo (? – 2007). Luzia e Branca, se tornaram, por concurso, funcionárias da Câmara dos Deputados.

1911 - Mudou-se com a família para o Rio de Janeiro.

1912 - Passou a estudar no Colégio Sacre-Coeur de Jésus, na Glória, onde aprendeu francês.

1914 - Estava inscrita e foi aprovada nos exames finais de instrução primária da Escola Afonso Pena (O Paiz, 29 de novembro de 1914, segunda colunaO Paiz, 22 de dezembro de 1914, penúltima coluna).

1918 – Enviou ao Tico-Tico: Jornal das Crianças, os textos A Tempestade e O Regato (Tico-Tico, 20 de março de 1918, última coluna).

Foi uma das organizadoras das manifestações dos alunos do externato Maurell da Silva em homenagem a Amalia Maurell da Silva, diretora do estabelecimento (O Paiz, 5 de setembro de 1918, segunda colunaJornal do Commercio, 6 de setembro de 1918, quarta coluna).

1919 – Em dezembro era candidata à turma suplementar de inglês do Colégio Pedro II (Correio da Manhã, 1º de dezembro de 1919, segunda coluna).

1920 Começou a cursar Engenharia na Escola Politécnica da Universidade do Brasil. Ingressou também na Escola Nacional de Belas Artes, que cursou durante dois anos. Estudou escultura e desenho a mão livre com professores como o escultor Celso Antônio de Menezes (1896 – 1984) e o pintor Lucílio de Albuquerque (1877 – 1939). Foi na Escola de Belas Artes que Carmen conheceu e tornou-se amiga do arquiteto Lúcio Costa (1902 – 1998) e do pintor Candido Portinari (1903 – 1962) (O Jornal, 17 de maio de 1962, primeira coluna).

1922 – No concurso Qual é a mulher mais bela do Brasil?, realizado no Rio de Janeiro, em uma apuração parcial, havia recebido dois votos na eleição do bairro de São Cristóvão (A Noite, 14 de junho de 1922, terceira coluna).

Em 9 de agosto, ela, Bertha Lutz  (1894 – 1976), Jeronyma Mesquita (1880 – 1972) e Stella Guerra Duval (1879 – 1971) fundaram a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, que no mesmo ano recebeu a medalha de ouro na Exposição Internacional do Centenário da Independência. A iniciativa estava vinculada ao movimento sufragista internacional, principal tendência do feminismo no início do século XX. As outras reivindicações eram de igualdade entre os sexos e de independência da mulher.  Carmen foi tesoureira e vice-presidente da entidade. Inicialmente, a sede da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino ficava na avenida Rio Branco, 117 (Revista da Semana, 2 de julho de 1932).

1924 – Formou-se engenheira-geógrafa.

1925 – Ainda cursando Engenharia Civil na Escola Politécnica da Universidade do Brasil, para aumentar o rendimento familiar, dava aulas de matemática no Colégio Pedro II, um internato masculino, o que foi considerado um escândalo. Sem sucesso, o então ministro da Justiça, Augusto Viana do Castelo (1874 – 1953), tentou, sem sucesso, impedi-la. Conversaram, ela apresentou suas justificativas e o rendimento de seus alunos, tendo seguido lecionando por mais três a quatro anos no colégio, quando decidiu pedir demissão.

Seu pai, Francisco Sertório Portinho (1871 – 1925), que havia sido superintendente da Limpeza Pública do Distrito Federal, faleceu (O Paiz, 21 de outubro de 1925, última colunaJornal do Brasil, 29 de outubro, de 1925, sétima coluna).

Nessa época, Carmen montou uma loja para suas irmãs trabalharem como datílografas.

Integrava uma das juntas examinadoras dos estabelecimentos de ensino secundário de Petrópolis (Correio da Manhã, 15 de novembro de 1925, sétima coluna).

Formou-se como a terceira mulher engenheira civil do Brasil. Foi antecedida por Edwiges Becker e por Maria Ester Correia Ramalho.

1926 – Na cerimônia de colação de grau de engenheiros civis e de engenheiros geógrafos formados no anterior na Escola Politécnica, Carmen foi a responsável pela leitura do compromisso solene. Ao final de seu discurso, o orador da turma de engenheiros civis, Gentil Ferreira de Souza, prestou uma homenagem a ela, que se tornou uma das primeiras engenheiras do Brasil, a quem foi entregue uma corbeille de flores. O paraninfo foi o engenheiro e político Mauricio Joppert (1890 – 1985), que foi, posteriormente presidente do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro e ministro dos Transportes do governo do presidente José Linhares (1886 – 1957). O paraninfo da turma dos engenheiros geógrafos foi o engenheiro e astrônomo Henrique Morize (1860 – 1930), com quem o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923) havia realizado experiências cinematográficas em 1897. Morize foi diretor do Observatório Nacional entre 1908 e 1929 e o primeiro presidente da Academia Brasileira de Ciências, de 1916 a 1926. Os ministro da Justiça e da Agricultura, Afonso Pena Junior (1879 – 1968) e Miguel Calmon (1912 – 1967), respectivamente, e o prefeito do Distrito Federal, Alaor Prata (1882 – 1964), estavam presentes à solenidade (O Paiz, 30 de abril de 1926Jornal do Brasil, 4 de maio de 1926, primeira colunaA União, 9 de maio de 1926, última coluna). Além dos já citados professores, ao longo do curso, Carmen foi aluna de Manuel Amoroso Costa (1885 – 1928) e José Matoso de Sampaio Correia (1875 – 1942), dentre outros.

 

 

Seu professor de Hidraúlica, Mauricio Joppert (1890 – 1985), a convidou, com mais dois alunos, para trabalhar com ele em uma obra federal na Ilha das Cobras, prevista para durar dois anos. Declinou do convite devido à sua nomeação pelo então prefeito, Alaor Prata (1882 – 1964), ao quadro técnico da Diretoria de Obras e Viação da prefeitura do Distrito Federal do Brasil. Seu diretor, um engenheiro que não confiava na competência feminina, deu a ela como primeira tarefa a vistoria de um para-raios instalado no alto de um edifício da prefeitura. Seria um teste. Sua passagem pelo Centro Excursionista Brasileiro, quando escalava diversos morros cariocas, na companhia de amigas como Clotilde Cavalcanti (1904 – 1984), a ajudou a passar no teste. Segundo a própria: “Peguei uma escada, subi ao teto, vi o que o para-raios tinha e resolvi o problema. Foi uma maneira de enfrentar o preconceito“…”difícil mesmo foi aprender como se consertava um para-raios… (Jornal do Brasil, 20 de dezembro de 1999, última coluna). A partir desse dia, adotou calças compridas para o trabalho.

Participou do lançamento da pedra fundamental da Maternidade do Méier (O Paiz, 22 de maio de 1926, última colunaO Jornal, 22 de maio de 1926).

1926 – Ela e Carlos Penna e fiscalizavam as obras da Escola Municipal Soares Pereira (O Jornal, 14 de novembro de 1926,  quinta coluna).

Em 15 de julho, foi uma das mulheres que recepccionam a cientista francesa Marie Curie (1867 – 1934), anunciada como uma das mais ilustres individualidades do mundo científico internacional, e sua filha Irène Joliot-Curie (1897 – 1956), que haviam chegado ao Rio de Janeiro a bordo do navio Pincio (O Paiz, 16 de julho de 1926, sexta coluna).  Participou da conferência inaugural do curso de Madame Curie sobre o elemento rádio na Escola Politécnica (Correio da Manhã, 21 de julho de 1926, quinta colunaCorreio da Manhã, 22 de julho de 1926, segunda coluna; O Paiz, 21 de julho de 1926, primeira coluna). Era uma das integrantes da comissão de senhoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, presidido por Bertha Lutz  (1894 – 1976), responsáveis pela programação da cientista e de sua filha no Rio de Janeiro (O Paiz, 26 e 27 de julho de 1926, última coluna).

1927 - Fazia parte da quarta junta examinadora para os exames de 2ª época dos colégios particulares do Distrito Federal. As juntas eram designadas pelo diretor-geral do Departamento Nacional de ensino, na época, Aloysio de Castro (1881 – 1959) (Jornal do Commercio, 12 de março de 1927, última coluna).

Participou, assim como Bertha Lutz  (1894 – 1976) e outras feministas, de uma reunião da Comissão de Legislação e Justiça do Senado, presidida por Adolfo Gordo (1858 – 1929). Em pauta: o voto feminino. A sessão foi aberta pelo senador Aristides Rocha (1882 – 1950), relator da comissão. Na época, Carmen era uma das secretárias da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (O Paiz, 13 de novembro de 1927, primeira coluna).

 

 

Parabenizou o governador Juvenal Lamartine de Faria (1874 – 1956) pela instituição do voto feminino no Rio Grande do Norte (O Jornal, 25 de novembro de 1927, primeira coluna).

1928 - Era a tesoureira da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (O Paiz, 4 de abril de 1928, terceira coluna).

Foi promovida a auxiliar técnico da Diretoria de Obras da Prefeitura do Distrito Federal (Correio Paulistano, 15 de abril de 1928, primeira coluna)

Ela, Bertha Lutz  (1894 – 1976) e Maria Amélia de Faria, tesoureira, presidente e secretária da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, respectivamente, sobrevoaram o Rio de Janeiro fazendo propaganda pelo voto feminino, lançando folhetos e cartões pelo sufrágio feminino em cima dos edifícios da Câmara, do Senado e em diversas ruas do centro da cidade (Correio da Manhã, 12 de maio de 1928, sexta colunaCorreio Paulistano, 12 de maio de 1928, primeira coluna).

 

 

Estava presente ao desembarque, no Rio de Janeiro, do governador de São Paulo, Júlio Prestes (1882 – 1946), que ficou hospedado no Copacabana Palace. Ele veio à cidade para ser padrinho do casamento de Maria Pereira de Souza, filha do presidente Washington Luís (1869 – 1957), com o advogado Firmino Pires de Mello (O Paiz, 13 de maio de 1928, terceira coluna).

Foi receber Juvenal Lamartine de Faria (1874 – 1956), governador do Rio Grande do Norte, e patrono do voto feminino, que chegava ao Rio de Janeiro, a bordo do navio Almanzora, em 5 de maio de 1928. Na ocasião, estavam no cais, aguardando pelo governador, autoridades políticas, além de outras associadas da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino como a advogada Natércia da Cunha Silveira (1905 -1993) e a engenheira civil Carmen Portinho (1903 – 2001). A advogada Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), também da FBPF,  saudou o governador como representante do Norte do país e Natércia como a representante do Sul (O Paiz, 6 de maio de 1928O Paiz, 7 de maio de 1928, última coluna).

Em nome da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), Carmen fez a saudação a Juvenal, poucos dias antes do regresso do governador ao Rio Grande do Norte, durante uma chá oferecido a ele no Hotel Glória (O Jornal, 1º de junho de 1928O Paiz, 6 de junho de 1928).

 

 

Foi uma das signatárias da Declaração dos Direitos da Mulher distribuído pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Outras que também assinaram o manifesto foram Bertha Lutz  (1894 – 1976), a mecenas da Belle Époque carioca, Laurinda Santos Lobo (1878 – 1946); a escritora Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963) e Maria de Lourdes Lamartine de Faria (1906 – 1992) (Correio da Manhã, 15 de junho de 1928).

 

 

 

 

 

Participou do banquete oferecido pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino à Julia Alves Barbosa (1898 – 1943), identificada como a primeira eleitora brasileira e uma das fundadoras da Associação de Eleitoras Norte-Rio-Grandenses. Na verdade a primeira eleitora brasileira foi Celina Guimarães Viana (1890 – 1972) (O Paiz, 23 de junho de 1928, última colunaO Paiz, 24 de junho de 1928).

“É importante lembrar que Celina Guimarães Viana, natural de Mossoró, não foi a primeira mulher a requerer inclusão no alistamento eleitoral. Em verdade, tal pioneirismo coube à professora Júlia Alves Barbosa, nascida em Natal, em 24 de novembro de 1927. Entretanto, na época, dada à sua condição de solteira, o juiz da 1ª vara da Capital retardou o deferimento do pleito de Júlia, e este só saiu publicado, no Diário Oficial do Estado, no dia 1º de dezembro do mesmo ano. Por outro lado, o despacho de Celina foi rapidamente aprovado, pelo fato de ser casada com um advogado e professor. Logo, por ser esposa de alguém importante, Celina se tornou a primeira eleitora não apenas do Rio Grande do Norte e do Brasil, porém, de toda a América Latina. E Júlia Alves Barbosa ficou sendo a segunda eleitora. Seja como for, pode-se observar como o movimento sufragista potiguar era atuante, na época” (Fundaj).

 

 

Abaixo a mesma foto, que faz parte do acervo do Arquivo Nacional:

 

 

Era, com Bertha Lutz  (1894 – 1976) e Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), responsável pela coluna “Feminismo”, de O Paiz (O Paiz, 4 de novembro de 1928).

Estava presente e foi fotografada na recepção a Lou Henry Hoover (1874 – 1944), mulher do então presidente eleito dos Estados Unidos, Herbert Hoover (1874 – 1964), ofereceu, no Palácio Guanabara, a associações feministas (O Paiz, 23 de dezembro de 1928).

 

 

Abaixo, a mesma foto, que pertence ao acervo do Arquivo Nacional. Carmen Portinho é a terceira, da direita para a esquerda.

 

 

1929 - Sob sua direção foi criada a União Universitária Feminina, no Rio de Janeiro, em 13 de janeiro de 1929, que congregava mulheres com ensino superior em prol da defesa dos direitos femininos. As outras criadoras da entidade foram a também engenheira civil Amélia Sapienza, a bióloga Bertha Lutz  (1894 – 1976),  a advogada Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), a naturalista e ornitóloga alemã Emilia Snethlage (1868-1929), a professora Heloisa Marinho (1903 – 1994), as médicas Herminia de Assis e Juana Lopes, as advogadas Maria Alexandrina Ferreira Chaves, Maria Ester Correia Ramalho e Myrthes de Campos ( 1875 – 1965); e Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), formada em Ciências Jurídicas (O Paiz, 14 de janeiro de 1929, terceira colunaO Imparcial, 15 de janeiro de 1929, primeira colunaGazeta de Notícias, 15 de janeiro de 1929, quarta colunaA Noite, 5 de abril de 1930, primeira colunaManchete, 30 de janeiro de 1971).

 

 

 

 

Aderiu a um almoço organizado por professores em homenagem ao delegado do Departamento Nacional do Ensino, Raul Leitão da Cunha (1881 – 1947), no Bar e Restaurante Lido-Antártica, na avenida Atlântica (Correio da Manhã, 17 de janeiro de 1929, segunda coluna).

Foi publicado o artigo de sua autoria A mulher na atuação universitária (O Paiz, 27 de janeiro de 1929).

Na coluna “Notas sociais”, publicação de um comentário desairoso sobre o feminismo e o estilo das roupas das feministas. Bertha Lutz  (1894 – 1976) e Carmen Portinho foram citadas (Jornal do Brasil, 27 de fevereiro de 1929, primeira coluna).

Foi promovida a engenheira de segunda classe no quadro técnico da Diretoria de Obras da Prefeitura do Distrito Federal. Como era sempre preterida nas promoções, foi falar diretamente com o presidente da República, Washington Luís (1869 – 1957), que interferiu por ela. Ele teria dito ao comandante Braz Veloso, que o acompanhava nas audiências públicas: “Tome nota e providencie o pedido da moça“.

Desde seu ingresso na diretoria já havia fiscalizado as obras da Escola Modelo Soares Pereira, remodelado o Asilo Francisco de Assis, e estava incumbida da instalação elétrica de todos os próprios municipais, incluindo instalação em quase de todas as escolas públicas, fator este que favoreceu a inauguração de cursos noturnos que deixavam de funcionar por falta de iluminação. Havia sido também responsável por melhoramentos em escolas profissionais e até para a colocação de um para-raio já havia sido incumbida (A Noite, 9 de março de 1929, segunda colunaO Paiz, 9 de março de 1929, primeira colunaO Paiz, 10 de março de 1929, primeira coluna). Suas primeiras construções foram realizadas ao longo da década de 30: uma escola em Ricardo de Albuquerque, subúrbio carioca, e a sede da Polícia Municipal, na rua do Rezende, no centro do Rio de Janeiro; ambos projetos de Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), de quem, na década de 40, tornou-se companheira.

 

 

 

No Palace Hotel, Carmen participou de uma sessão presidida pela enfermeira e líder feminista Jeronyma Mesquita (1880 – 1972) em que se deliberou que as associações femininas colaborariam com a campanha de educação sanitária, de acordo com a Comissão de Cooperação de Exitinção da Febre Amarela (O Paiz, 14 de abril de 1929, terceira colunaDiário Nacional, 24 de abril de 1929, segunda coluna).

Integrava a comissão organizadora do II Congresso Pan-americano de Estradas de Rodagem, inaugurado em 18 de agosto de 1929, no Rio de Janeiro. Foi com o deputado Rafael Fernandes e com o engenheiro Clóvis Nóbrega, representante do Rio Grande do Norte (Correio da Manhã, 3 de agosto de 1929, terceira coluna; Jornal do Commercio, 3 de agosto de 1929, quinta coluna).

Foi uma das idealizadoras da criação da Casa do Estudante do Brasil, inaugurada em 13 de agosto de 1929, durante uma assembleia promovida pelo Centro Acadêmico Candido de Oliveira, da Faculdade Nacional de Direito, reunindo estudantes universitários das escolas superiores do Rio de Janeiro e de representantes das escolas Naval e Militar. A poetisa e Rainha dos Estudantes, Ana Amélia Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), foi aclamada presidente da entidade e o escritor Pascoal Carlos Magno (1906 – 1980), secretário (O Jornal, 13 de agosto de 1952, quinta colunaTribuna da Imprensa, 9 de março de 1956).

Acompanhou os delegados estrangeiros que participaram do  II Congresso Pan-americano de Estradas de Rodagem a uma visita a São Paulo (Correio Paulistano, 31 de agosto de 1929, terceira coluna).

 

 

 

Estava presente ao chá de despedida oferecido pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, no Pão de Açúcar, à comissão de estudantes norte-americanos vencedores no concurso nacional de oratória promovido nos Estados Unidos. As três mulheres vencedoras de conscursos regionais e também Maria Luisa Dória de Bittencourt (1910 – 2001), vencedora do concurso promovido na Faculdade de Direito, no Rio de Janeiro, foram homenageadas. Maria Luisa tornou-se, em 1935, a primeira deputada estadual da Bahia (Jornal do Commercio, 14 de setembro de 1929, primeira colunaJornal do Brasil, 14 de setembro de 1929, quarta coluna).

 

 

 

Em reunião da União Universitária Feminina, foi aprovado o apoio da entidade a um grupo de líderes feministas europeias o sentido de obtenção da nomeação de mulheres delegadas entre os representantes oficiais dos governos na próxima Conferência de Codificação do Direito Internacional Privado, que ocorreria em Haia, em 1930. Outra solicitação aprovada foi a de colaboração para que esses mesmos governos apoiassem os direitos de nacionalidade idênticos para homens e mulheres. Também foi criada uma comissão, que Carmen passou a integrar, para auxiliar a propaganda junto à imprensa e a venda de entradas para a peça Orfeu, que seria encenada no estádio do Fluminene em benefício da Casa do Estudante. A feminista e poetisa Ana Amélia Carneiro de Mendonça (1896 – 1971) participou do encontro (O Jornal, 3 de outubro de 1929, quinta colunaJornal do Commercio, 5 de outubro de 1929, segunda coluna).

Integrava a comissão nomeada pela Associação Comercial para estudar a reforma do Calendário (Gazeta de Notícias, 18 de outubro de 1929, última colunaCorreio Paulistano, 29 de outubro de 1929).

Em reunião da União Universitária Feminina, presidida por ela, foi comunicado que a feminista mineira Elvira Komel (1906 – 1932) estava fundando com a colaboração de Alzira Reis Vieira Ferreira (1886 – 1970), de Teófilo Otoni, o Diretório Mineiro da entidade. O evento foi realizado na sede da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, na avenida Rio Branco, nº 111 (Jornal do Commercio, 2 de novembro de 1929, quarta coluna).

Publicação de uma entrevista de Carmen Portinho a respeito de suas impressões sobre as atividades políticas e sociais das mulheres argentinas durante a temporada de cerca de um mês que passou naquele país, enviada por O Jornal. Visitou os jornais La PrensaLa Razon e Caras y Caretas, além de instituições de caridade dirigidas por mulheres. Regressou  no dia 21 de novembro a bordo do transatlântico Astúrias (Correio da Manhã, 22 de novembro de 1929, quarta colunaO Jornal, 23 de novembro de 1929).

 

 

Na Escola Nacional de Música, Carmen esteve presente nas conferências realizadas pelo arquiteto francês Le Corbusier (1887 – 1965), a convite do arquiteto espanhol Morales de los Rios Filho (1887 – 1973). Foi a primeira visita de Le Corbusier ao Rio de Janeiro. Em pauta, urbanismo e revolução arquitetônica. Le Corbusier, considerado um dos mais importantes arquitetos do século XX, exerceu grande infuência sobre a arquitetura moderna brasileira (O Jornal, 3 de dezembro de 1929, última colunaO Jornal, 4 de dezembro de 1929, quarta colunaO Jornal, 6 de dezembro de 1929, segunda colunaO Jornal, 8 de dezembro de 1929, quarta coluna). Foi com a construção do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, a partir de 1937, encomendado pelo ministro Gustavo Capanema (1900 – 1985), que no Brasil puseram-se em prática as teorias do arquiteto como brise soleil (proteção contra raios solares), pan de verre (fachada envidraçada) e pilotis (estacarias). O prédio é um ícone da arquitetura moderna brasileira.

O discurso que proferiu, na sede da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, sobre as associações femininas argentinas na ocasião da palestra do ministro plenipotenciário do Uruguai, Ramos Monteiro, foi muito aplaudido. Ramos Monteiro falou sobre o movimento feminista em seu país (Jornal do Commercio, 14 de dezembro de 1929, última coluna).

1930 – Apesar de nunca ter estado em Natal, no Rio Grande do Norte, colaborou com o arquiteto italiano Giacomo Palumbo (1891 – 19?) no projeto de remodelação da cidade.

No início dessa década foi uma das engenheiras responsáveis, sem cobrar por isso, pela adaptação de um sobrado na rua do Passeio, que havia sido sede do Clube dos Diários e da sociedade carnavalesca Democráticos, para abrigar a Associação Brasileira de Imprensa (Boletim da Associação Brasileira de Imprensa, agosto de 1956 e julho de 1961).

No Hotel Glória, foi comemorado com um almoço o primeiro ano da fundação da União Universitária Feminina com a presença de Carmen Portinho, Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), Amélia Sapienza, Mary Corbett, “Master of Arts”; Srta Gutrie, além das estudantes de engenharia Elza Pinho Osborne (? – 1995), Renée Rocques e Sylvia Vacanni (Jornal do Brasil, 14 de janeiro de 1930, primeira colunaO Paiz, 13 e 14 de janeiro de 1930, segunda coluna).

 

 

Em entrevista para o Jornal do Brasil, Carmen Portinho chamava atenção para a importância da construção de praças de jogos para crianças (Jornal do Brasil, 25 de janeiro de 1930, quinta coluna).

No Liceu de Artes e Ofícios, visitou a exposição póstuma de desenhos do jornalista Roberto Rodrigues (1906 – 1929), assassinado na redação do jornal a Crítica, em 26 de dezembro de 1929, pela escritora Sylvia Serafim Thibau (1902 – 1936). O estopim do crime foi a publicação na primeira página do jornal da notícia do pedido de seu desquite do médico João Thibau Júnior, com quem Silvia tinha dois filhos, acompanhado de um desenho. O jornal a acusava de estar tendo um caso com o médico Manuel Dias de Abreu (1894 – 1962), futuro inventor da abreugrafia (Crítica, 28 de fevereiro de 1930, quinta coluna).

Ela e Bertha Lutz (1894 – 1976) falaram sobre o feminismo em uma reunião do Rotary Club (Revista da Semana, 24 de maio de 1930).

O advogado, escritor e jornalista Sebastião Paraná (1864 – 1938), na coluna “Crônica” comenta o fato de Bertha Lutz  (1894 – 1976), Carmen Portinho e Amélia Carolina de Freitas Bevilacqua (1860 – 1946) terem tentado, sem sucesso, ingressar na Academia Brasileira de Letras (Diário da Tarde (PR), 16 de junho de 1930, segunda coluna).

Representou o governo do Rio Grande do Norte no IV Congresso Pan-americano de Arquitetos, realizado no Rio de Janeiro entre 19 e 30 de junho de 1930. O estado ganhou na exposição promovida pelo congresso a medalha de prata por seu plano de remodelação de Natal. A tese da qual Carmen foi uma das vogais era Parques escolares, universitário, hospitalares, esportivos e de diversões (Jornal do Brasil, 28 de junho de 1930Mensagens do Governo do Rio Grande do Norte, 1930Correio da Manhã, 24 de junho de 1930, última coluna).

 

 

Participou do almoço de despedida da advogada e feminista sergipana Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998), que se tornaria, em 1967, a primeira juíza do Brasil (Jornal do Brasil, 28 de junho de 1930, segunda coluna).

Participou da homenagem prestada pela embaixada italiana à escritora italiana Margarida Sarfati e ao professor Francisco Severi, ambos da Real Academia Italiana (Correio da Manhã, 22 de agosto de 1930, sexta coluna).

Publicação de um artigo com um resumo dos principais objetivos da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e também com um resumo das conquistas femininas no Brasil (Correio da Manhã, 29 de junho de 1930).

A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino ofereceu um chá para Maria Amélia Teixeira, diretora da revista Portugal Feminino (Excelsior, outubro de 1930).

 

 

A bordo no navio Southern Prince, estava a caminho dos Estados Unidos, onde participaria do Congresso Internacional de Estradas de Rodagem, em Washington, como delegada do Automóvel Clube do Brasil. Conheceu o Canadá e ficou hospedada com umas primas, em Nova York (Correio da Manhã, 15 de outubro de 1930, terceira colunaA Gazeta (SP), 14 de outubro de 1930, segunda coluna).

1931 – Em comemoração ao segundo ano de fundação da União Universitária Feminina, foi inaugurado na sede da entidade uma exposição com obras de arte de autoria feminina: Georgina de Albuquerque, Maria Francelina, Sarah Figueiredo, Cândida Cerqueira, Celita Vaccani, Odelli Castelo Branco e Wanda Turatti (Fon-Fon, 31 de janeiro de 1931).

Uma curiosidade, em setembro do mesmo ano, foi realizado o Salão de Arte Moderna de 1931, o Salão Revolucionário como ficou conhecida a 38ª Exposição Geral de Belas Artes, em razão de ter abrigado, pela primeira vez, artistas de perfil moderno e modernista. Realizado no curto período de Lúcio Costa (1902 – 1998) na direção da Escola Nacional de Belas Artes – Enba, de 1930 a 1931, o Salão Revolucionário sinalizou o esforço do arquiteto de modernizar o ensino de arte no país e de abrir as mostras oficiais, até então dominadas pelos artistas acadêmicos, à arte moderna (Manchete, 3 de dezembro de 1977Enciclopédia Itaú Cultural).

Era a vice-presidente da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (Jornal do Brasil, 11 de março de 1931, última coluna).

A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino  organizou o II Congresso Internacional Feminista, no Rio de Janeiro, inaugurado, em junho, no Automóvel Club. Carmen foi uma das encarregadas pela organização e pela programação do evento cujos temas foram educação feminina, proteção às mães e à infância, trabalho feminino, direitos das mulheres e estreitamento das relações pan-americanas e internacionais (Correio da Manhã, 5 de março de 1931, primeira colunaJornal do Brasil, 19 de junho de 1931O Jornal, 19 de junho de 1931, primeira colunaCorreio da Manhã, 26 de junho de 1931O Malho, 27 de junho de 1931; Correio da Manhã, 1º de julho de 1931O Malho, 11 de julho de 1931Vida Doméstica, agosto de 1931).

 

 

 

Na Associação Cristã dos Moços, realização de um chá em homenagem a Carmen Portinho (Jornal do Brasil, 2 de agosto de 1931).

 

 

Por proposta de Carmen Coutinho foram admitidos homens no quadro social da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (Correio da Manhã, 14 de agosto de 1931, sétima coluna).

Integrava com a comissão da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino que foi ao Ministério da Viação e Obras solicitar ao ministro José Américo de Almeida (1887 – 1990) a readmissão das mulheres nas repartições dos Correios (Diário Nacional, 15 de agosto de 1931, primeira coluna).

Durante a última reunião do ano da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, Carmen assumiu a presidência porque Bertha Lutz  (1894 – 1976) estava fora do Brasil (Correio da Manhã, 10 de dezembro de 1931, quinta coluna).

1932 - No terceiro aniversário da União Universitária Feminina, Carmen Portinho fez uma palestra de cinco minutos na Rádio Sociedade, inaugurando o programa idealizado por ela em colaboração com a Rádio Sociedade do Brasil (Correio da Manhã, 13 de janeiro de 1932, terceira coluna).

Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932 instituiu o Código Eleitoral Provisório e reconheceu o direito de voto às mulheres.

Foi uma das signatárias de uma carta enviada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino ao presidente da República, Getulio Vargas (1882 – 1954), em agradecimento pelo reconhecimento do direito do voto feminino  (Diário Nacional, 2 de março de 1932, última coluna).

Em 11 de março, casou-se com o irmão da feminista Bertha Lutz, Gualter Adolpho Lutz (1903 – 1969), que viria a ser especialista em medicina legal, tornando-se catedrático da Escola Nacional de Medicina, de quem se separou poucos anos depois (Revista da Semana, 5 de março de 1932, primeira coluna).

 

 

Escreveu uma carta para a revista Brasil Feminino (Brasil Feminino, maio de 1932).

 

 

Com uma programação especial para celebração do primeiro Dia das Mães, estabelecido a partir de uma iniciativa do Congresso Feminino de 1931, e criado pelo Decreto nº 21.366, de 5 de maio de 1932, assinado pelo presidente Getulio Vargas (1884 – 1954) consagrando o segundo domingo de maio para a celebração anual da data no Brasil, a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, inaugurou a nova sede da entidade, no edifício Caetano Segreto, na Praça Tiradentes, sob a presidência de Carmen Portinho, já que Bertha Lutz  (1894 – 1976) estava fora do Brasil (Correio da Manhã, 10 de maio de 1932, sétima coluna).

Publicação de uma artigo sobre a União Universitária Feminina (Revista da Semana, 9 de julho de 1932).

Natércia da Cunha Silveira (1903 – 1993), da Aliança Nacional de Mulheres; Bertha Lutz (1894 – 1976), da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino; e Carmen Portinho (1903 – 2001), pela União Universitária Feminina, foram indicadas para integrar a comissão para elaborar o anteprojeto da nova Constituição. Finalmente, Natércia e Bertha foram nomeadas (Correio da Manhã, 14 de julho de 1932, terceira colunaCorreio da Manhã, 19 de julho de 1932, primeira colunaBrasil Feminino, dezembro de 1932).

Foi uma das fundadoras da Revista da Diretoria de Engenharia – posteriormente Revista Municipal de Engenharia -, cuja primeira edição foi publicada em julho de 1932. Foi criada por sugestão dada por ela ao então secretário de Obras do Rio de Janeiro, Delso Mendes da Fonseca. Seu diretor-geral era Everardo Backheuser e seu editor Armando de Godoy. A revista, técnica, divulgava as realizações da prefeitura, de engenheiros e de arquitetos. Carmen foi inicialmente secretária e posteriormente foi também redatora e diretora da publicação. Foi na Revista da Diretoria de Engenharia da Prefeitura do Distrito Federal que surgiram os primeiros ensaios sobre a arquitetura moderna no Brasil. No primeiro número foram publicados artigos sobre o primeiro projeto de Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), sobre o projeto de Lúcio Costa e Warchavshick para apartamentos na Gamboa e dois artigos de Carmen, A arquitetura moderna na Holanda e Influência do nosso clima na arquitetura das prisões.

Participou da Quinzena da Constituição, uma série de estudos práticos sobre o futura Constituição, organizada em comemoração dos 10 anos de fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (Correio da Manhã, 18 de outubro de 1932).

Foi a capa da revista Brasil Feminino de novembro de 1932.

 

 

Acompanhou a comissão do Ministério da Viação de obras contra a seca no Nordeste, a convite do ministro José Américo de Almeida (1887 – 1980). A comissão era presidida por Sampaio Correia (1875 – 1942) e contava com alguns de seus antigos professores como Mauricio Joppert (1890 – 1985) e Hildebrando de Góes (1899 – 1980). Durante a viagem visitou as filiais da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino na Bahia, em Pernambuco, no Ceará e no Rio Grande do Norte (Jornal do Brasil, 30 de novembro de 1932, sexta coluna; Jornal do Recife, 7 de dezembro de 1932, penúltima colunaCorreio da Manhã, 10 de dezembro de 1932, terceira colunaJornal do Brasil, 14 de dezembro de 1932, terceira colunaJornal do Brasil, 15 de dezembro, segunda colunaJornal do Brasil, 23 de dezembro de 1932, terceira coluna).

Era uma das colaboradoras da Lux-Jornal (República (SC), 18 de dezembro de 1932, quarta coluna).

Era uma das mulheres integrantes de uma comissão da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino pelo incentivo ao alistamento eleitoral feminino. No ano seguinte, a comissão passou a oferecer seus préstimos também a homens que precisassem de ajuda para o alistamento (Jornal do Brasil, 30 de dezembro de 1932, quarta colunaJornal do Brasil, 31 de janeiro de 1933).

1933 - Publicação do artigo Concurso para a urbanização das avenidas compreendidas entre “La Place de L´Etoile”, em Paris, e a praça circular de La Défense, em Courbevoie, de sua autoria, na edição de janeiro da Revista da Diretoria de Engenharia.

Em uma reunião da sub-comissão constitucional,  Afrânio de Melo Franco (1870 – 1943), ministro das Relações Exteriores, mencionou um telegrama assinado por Bertha Lutz  (1894 – 1976) e Carmen Portinho, dentre outras, representando a mulher brasileira e solicitando que ao votar-se a questão na nacionalidade se resolvesse pelo jus soli, quando a nacionalidade originária é obtida em virtude do território onde o indivíduo tenha nascido – regra do solo. Oswaldo Aranha (1894 – 1960), minisro da Fazenda, então comentou Tivemos o cuidado de ficar com as mulheres…antes do pedido (Correio da Manhã, 17 de janeiro de 1933, sétima coluna).

Ela e Clotilde Cavalcanti (1904 – 1984), chefe do Departamento de Cultura da União Universitária Feminina, que ficou conhecida como Tilde Canti, visitaram, em companhia da jornalista Zenaide Andrea, a redação do Correio de São Paulo, onde falaram sobre a inauguração da filial paulista da União Universitária Feminina, presidida por Adolpha Rodrigues, da Universidade Mackenzie (Correio de São Paulo, 28 de março de 1933, primeira coluna).

 

 

Era uma das dirigentes da Liga Eleitoral Feminina (Correio da Manhã, 22 de março de 1933, quarta coluna).

Compareceu à reunião da Convenção Nacional das Eleitoras, quando discutiu-se a melhor forma de fazer a propagadana eleitoral da candidatura de Bertha Lutz  (1894 – 1976) à Assembleia Nacional Constituinte nas eleições de 3 de maio. Foi lançado um manifesto escrito pela jornalista, feminista e declamadora Maria Sabina de Albuquerque (1898 – 1991). Bertha não foi eleita, tendo obtido 15.756 votos. Foi eleita a primeira mulher constituinte nesse pleito, a médica paulista Carlota Pereira de Queiroz (1892 – 1982) Em 9 de novembro de 1933, Bertha foi diplomada como primeira suplente do Partido Autonomista do Distrito Federal.

Identificada como Carmen Portinho Lutz, era a representante da Engenharia na comissão da homenagem à poetisa Gilka Machado (1893 – 1980), que se realizaria no Instituto Nacional de Música (Jornal do Brasil, 17 de maio de 1933, sexta coluna).

Na recentemente inagurada nova sede da Associação Cristã Feminina, Carmen proferiu a palestra sobre os Problemas do Nordeste (Correio da Manhã, 24 de maio de 1933, terceira coluna).

Na Universidade Livre da Capital Federal, realização da aula magna do curso de Altos Estudos Femininos, dirigido pela poetisa e escritora Francisca de Bastos Cordeiro. Carmen e Bertha eram algumas das professoras (Correio da Manhã, 26 de maio de 1933, quarta coluna).

Foi reconhecida  pelo ministro do Trabalho, Joaquim Pedro Salgado Filho (1888 – 1950) como delegada eleitora pela União Universitária Feminina. Nessa condição, em 30 de julho, concorreu nas eleições dos constituintes representantes das associações profissionais. Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963) concorreu pela União Profissional Feminina. Não foram eleitas (Correio da Manhã, 25 de julho de 1933, sétima coluna; Correio da Manhã, 1º de agosto de 1933, primeira coluna).

Em entrevista, declarou que a conquista do direito ao voto feminino deveria ser um estímulo para outros avanços: “Obtivemos a nossa emancipação política, mas esse direito assim isolado, de que nos serve?” (A Noite, 17 de agosto de 1933, última coluna).

O artigo Futura Cidade Universitária Argentina, de autoria de Carmen, foi publicado na Revista da Diretoria de Engenharia (Correio da Manhã, 10 de setembro de 1933, última coluna).

Um manifesto de autoria de Bertha Lutz  (1894 – 1976) e assinado por Carmen Coutinho, pela tradutora Lina Hirsh, por Almerinda Farias Gama (1899 – c. 1992), sindicalista e uma das primeiras mulheres negras a atuar na política brasileira; e a advogada Maria Luisa Dória de Bittencourt (1910 – 2001), que em 1935 tornou-se a primeira deputada estadual da Bahia; foi apresentado à seção de Legislação da Conferência Nacional de Proteção à Infância (Jornal do Brasil, 23 de setembro de 1933, penúltima colunaCorreio da Manhã, 23 de setembro de 1933, quinta coluna).

 

 

Fazia parte da embaixada de universitários cariocas que seguiram para uma visita a São Paulo patrocinada pela Associação Universitária (Correio da Manhã, 1 de outubro de 1933, primeira coluna).

Nas eleições da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, ela e Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963) continuaram a ocupar os cargos de vice-presidentes ex-officio (Jornal do Brasil, 17 de outubro de 1933, penúltima coluna).

Fazia parte da comissão de bolsas de estudos oferecidas pelas associações universitárias americanas e outras associações como o Instituto Internacional de Educação. Na ocasião, a sede do ficava no Edifício Odeon, sala 417, na praça Marechal Floriano (Correio da Manhã, 1º de novembro de 1933, penúltima coluna).

Ela e Bertha Lutz  (1894 – 1976) participaram da Conferência Pan-americana, em Montevidéu, no Uruguai. Seguiram para o evento em companhia do diplomata Arno Konder (1882 – 1942), futuro cônsul do Brasil em Washington e na Alemanha (Correio da Manhã, 30 de novembro de 1933, quinta colunaJornal do Brasil, 2 de dezembro de 1933, sexta colunaCorreio da Manhã, 9 de dezembro de 1933, terceira coluna).

 

 

1934 – Na edição de janeiro da Revista da Diretoria de Engenharia, publicação do artigo de O critério científico no urbanismo, de sua autoria (Jornal do Brasil, 24 de janeiro de 1934, sexta coluna).

Era a segunda secretária do Sindicato Central de Engenheiros (Jornal do Brasil, 7 de janeiro de 1934, primeira coluna).

Foi sorteada para fazer parte do Tribunal do Juri (Correio da Manhã, 19 de janeiro de 1934, última coluna).

Visitou a Associação Brasileira de Imprensa, da qual foi representante junto à imprensa uruguaia durante a realização da Conferência Pan-americana, em dezembro de 1933 (Correio da Manhã, 24 de janeiro de 1934, primeira coluna).

Foi uma das feministas que enviou à Assembleia Nacional o pedido de voto para artigos da futura Constituição que contemplavam os direitos da mulher (Correio da Manhã, 23 de março de 1934, quinta coluna).

Era uma das organizadoras da celebração do Dia das Américas realizado pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Foi identificada no artigo como Carmen Portinho Lutz (Jornal do Brasil, 13 de abril de 1934, penúltima coluna).

Estava presente ao chá oferecido na Casa do Estudante, presidida por Anna Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), para as calouras universitárias. Na ocasião, a arqueóloga sueca , da Universidade de Estocolmo, fez uma palestra Hanna Rydh (A Noite Illustrada, 18 de abril de 1934).

 

 

No salão nobre do Hotel dos Estrangeiros, cArmen proferiu a palestra Uma viagem ao Nordeste, dentro da programação de abril do Centro Excursionista Brasileiro (Vida Doméstica, maio de 1934).

 

 

 

Na edição de julho da Revista da Diretoria de Engenharia, publicou o artigo O ensino do urbanismo.

Foi a tradutora do livro A ditadura dos incas, do escritor mexicano Gabriel A. Gomes (Diário da Manhã (SC), 31 de julho de 1934, terceira coluna).

Foi homenageada por sua recente nomeação a engenheira-chefe da prefeitura (Jornal do Brasil, 16 de agosto de 1934, primeira coluna).

Foi citada no artigo As Vitórias Femininas, de Costa Rego, sobre as conquistas das mulheres da Constituição promulgada em 16 de julho de 1934 (Correio da Manhã, 17 de agosto de 1934, segunda coluna).

Como delegada do Distrito Federal, ela e Maria dos Reis Campos participaram da Convenção Nacional Feminina, na Bahia. Bertha Lutz  (1894 – 1976) era a delegada federal assim como a líder do encontro (Jornal do Brasil, 24 de agosto de 1934, última colunaCorreio da Manhã, 26 de agosto de 1934, quinta colunaCorreio da Manhã, 1º de setembro de 1934, sexta coluna).

Recebeu a incumbência de ser a engenheira responsável pela construção do novo prédio da sede do Montepio dos Empregados Municipais. Pediu exoneração da função em 1936 (Jornal do Brasil, 31 de agosto de 1934, segunda colunaJornal do Brasil, 4 de março de 1936, primeira coluna).

Era a redatora-chefe da Revista da Diretoria de Engenharia (Revista da Diretoria de Engenharia, setembro de 1934).

Ela, que na época era engenheira ajudante da Diretoria Geral de Engenharia, foi designada para assumir interinamente o cargo de engenheiro-chefe de divisão da entidade (Correio da Manhã, 13 de setembro de 1934, segunda coluna).

Integrava o conselho de redação da recém lançada revista Tribuna Feminina, sob a direção de Alzira Reis Vieira Pereira, tendo como principal redatora Eunice Weaver (O Fluminense, 27 de dezembro de 1934, última coluna).

1935 - Publicou o artigo A arte dos jardins (Revista da Diretoria de Engenharia, janeiro de 1935).

No Palace Hotel, comemoração dos seis anos da União Universitária Feminina (Walkyrias, fevereiro de 1935).

 

 

A poetisa baiana Seleneh Carneiro de Souza foi homenageada pela União Universitária Feminina com um chá na Sorveteria Americana (A Noite Illustrada, 12 de março de 1935).

 

 

Ela e Edith Fraenkel (1889 – 1968), futura primeira presidente eleita da Associação Brasileira de Enfermagem e uma de suas fundadoras, foram indicadas para suplentes da delegação brasileira no Congresso de Istambul. A representante do Brasil seria a poetisa e feminista Anna Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça (1896 – 1971) (Relatórios do Ministério das Relações Exteriores, 1935Jornal do Brasil, 11 de abril de 1935, primeira coluna).

 

 

 

Inauguração da primeira oficina da Divisão de Edificações Municipais, onde Carmen era engenheira-chefe (Revista da Semana, 6 de julho de 1935).

 

 

Estava presente à homenagem prestada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino ao ministro das Relações Exteriores, José Carlos Macedo Soares (1883 – 1968), e a sua esposa, no salão nobre do Automóvel Clube (O Imparcial, 6 de julho de 1935, primeira coluna).

Foi homenageada na celebração dos 13 anos da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (O Imparcial, 10 de agosto de 1935).

A Diretoria de Engenharia da Secretaria Geral de Viação, Trabalho e Obras Públicas do Distrito Federal convocou ela, Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964) e outros engenheiros para resolver um assunto relativo às obras no Paço Municipal (Jornal do Brasil, 12 de outubro de 1935, primeira coluna).

1936 – Ingressou no curso de pós-graduação do Curso de Urbanismo e Arquitetura da Universidade do Distrito Federal. A primeira turma do curso era composta por oito alunos: Carmen Portinho, Déa Torres de Paranhos  (1915 – 2001), Albino dos Santos, Dante Jorge Albuquerque, Ricardo José Antunes Júnior, Paulo de Camargo e Almeida, João Lourenço da Silva e Adhemar Marinho da Cunha (O Imparcial, 7 de agosto de 1938, última coluna). Todos, menos ela, eram arquitetos. Teve como professores Mário de Andrade (1893 – 1945), de História da Arte; Candido Portinari (1903 – 1962), de Pintura; e Celso Antônio de Menezes (1896 – 1984), de Escultura, dentre outros. Foi nessa ocasião que conheceu Edith Behring, que se tornaria uma das mais importantes gravadoras brasileiras e futura responsável pelo Ateliê de Gravura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Devido a irregularidades cometidas pela Companhia Territorial Construtora, pediu exoneração do cargo de engenheira responsável pela construção do novo prédio da sede do Montepio dos Empregados Municipais (Correio da Manhã, 9 de janeiro de 1936, terceira coluna).

Dentre outros, como o professor e artista plástico Benevenuto Berna (1865 – 1940) e o fotógrafo Augusto Malta (1864 – 1957), que entre 1903 e agosto de 1936 foi o fotógrafo oficial da prefeitura do Rio de Janeiro, fazia parte da caravana do Centro Carioca que visitou as obras da estrada para o Cristo Redentor (Correio da Manhã, 12 de janeiro de 1936, penúltima colunaBeira-Mar, 18 de janeiro de 1936).

 

 

Participou da organização e da programação da celebração do Dia Pan-americano ou Dia das Américas. Em castelhano, Carmen proferiu uma palestra pleitando a inclusão de mulheres delegadas plenipotenciárias em todas as delegações das conferências de paz. Bertha Lutz  (1894 – 1976) falou em inglês e Anna Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça (1896 – 1971) em português também discursaram (Correio da Manhã, 15 de abril de 1936, terceira coluna).

Ela e a artista plástica Clotilde Cavancanti – Tilde Canti – (1906 – 1984), representando a União Universitária Feminina, e Anna Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), presidente da Casa do Estudante, reuniram-se com o presidente da República, Getulio Vargas (1822 – 1954), para tratar de assuntos relativos ao intercâmbio universitário (Correio da Manhã, 9 de julho de 1936, terceira colunaA Offensiva, 9 de julho de 1936, segunda coluna).

No Salão Nobre da Escola Nacional de Belas Artes, como aluna do Curso de Urbanismo e Arquitetura da Universidade do Distrito Federal, durante a celebração em torno do ex-prefeito Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), proferiu o discurso Passos, o grande prefeito. O arquiteto espanhol Morales de los Rios Filho (1887 – 1973), professor do mesmo curso, proferiu o discurso o Passos, o Haussmann brasileiro (Jornal do Brasil, 5 de setembro de 1936, terceira coluna).

Ela e sua amiga e colega no curso de Urbanismo, Déa Torres Paranhos (1915 – 2001), uma das primeiras mulheres registradas como arquiteta no CREA, em 1935, publicaram o artigo Aerophotogrametria (Revista da Diretoria de Engenharia, novembro de 1936). Déa havia ingressado, com 15 anos, em 1930, na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Rio de Janeiro, no curso especial de Arquitetura, mesma turma de Oscar Niemeyer (1907 – 2012), uma turma com um total de 137 alunos, onde apenas 15 eram mulheres.

 

Fotografia do álbum de formatura de Deá Torres de Paranhos

Fotografia do álbum de formatura de Deá Torres de Paranhos / Biblioteca da FAU/UFRJ

 

1937 - Após presidir a União Universitária Brasileira desde sua fundação, Carmen Portinho foi sucedida pela também engenheira Elza Pinho Osborne (? – 1995) (Jornal do Brasil, 22 de janeiro de 1937, segunda coluna).

Participou e foi uma das signatárias do manifesto lançado pelo Congresso Nacional dos Estudantes (Correio da Manhã, 2 de abril de 1937, quarta coluna).

Por iniciativa de Carmen e de outras engenheiras foi fundada, em 19 de julho de 1937, a Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas (ABEA), para incentivar mulheres formadas a ingressar no mercado de trabalho. Ela foi sua primeira presidente (Correio da Manhã, 27 de julho de 1937, terceira coluna).

 

 

Lista de Presença da Fundação da ABEA / Fonte: Revista da ABEA Nacional – Ano 1 no. 1, 2011.

Lista de Presença da Fundação da ABEA /
Fonte: Revista da ABEA Nacional – Ano 1 no. 1, 2011.

 

Integrava o Departamento de Urbanismo do Centro Carioca, cuja sede ficava na Praça tiradente, nº 60, no quarto Andar. Era presidido pelo professor e artista plástico Benevenuto Berna (1865 – 1940) (Correio da Manhã, 24 de agosto de 1937, penúltima coluna).

Publicou o artigo O Homem e o seu Abrigo no primeiro número da Revista de Cultura Técnica (Jornal do Brasil, 27 de agosto de 1937, última coluna).

Ela, Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), Iberê Ebert e outros engenheiros foram designados redatores da Revista Municipal de Engenharia, sob a gerência do engenheiro Alim Pedro  (Jornal do Brasil, 16 de outubro de 1937, última coluna).

O redator-chefe da Revista da Diretoria de Engenharia passou a ser Carvalho NettoEla, Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), Raposo de Almeida e Castro Faria passaram a ser os redatores (Revista Municipal de Engenharia, novembro de 1937).

Foi indicada para integrar a subcomissão de Elaboração do Plano da Cidade.

1938 - Publicação de uma notícia sobre o curso de Urbanismo e sobre a defesa da tese de seus alunos, dentre eles, Carmen Portinho (Jornal do Brasil, 7 de agosto de 1938, última coluna).

Foi eleita vice-presidente do Sindicato Nacional dos Engenheiros (Revista Municipal de Engenharia, setembro de 1938Correio da Manhã, 8 de outubro de 1938, primeira coluna).

Em 22 de dezembro, Carmen defendeu sua tese, Plano da futura capital do Brasil (Jornal do Brasil, 14 de dezembro de 1938, quinta colunaCorreio da Manhã, 18 de dezembro de 1938, segunda coluna).

 

 

1939 - Tornou-se a primeira mulher a obter o título de urbanista no Brasil (Correio da Manhã, 17 de janeiro de 1939, primeira coluna)*.

Publicação de sua tese Plano da futura capital do Brasil nas edições de março e maio da Revista Municipal de Engenharia.

Estava presente na inauguração da Seção Brasileira da Confederação dos Trabalhadores Intelectuais, com sede em Genebra. A iniciativa foi da advogada Marie Therese Nizot (Jornal do Brasil, 16 de agosto de 1939, sexta coluna).

1940 – Foi uma das juradas no juglamento de um assassinato (Gazeta de Notícias, 14 de março de 1940, primeira coluna).

Foi eleita membro do Conselho Diretor do Club de Engenharia, presidido por José Matoso de Sampaio Corrêa (1875 – 1942) (Jornal do Commercio, 16 de junho de 1940, segunda coluna).

1941 – Integrava a comissão organizadora e a delegação do Club de Engenharia no I Congresso Brasileiro de Urbanismo, realizado entre 20 e 27 de janeiro, no Rio de Janeiro, com a participação de profissionais de renome como o francês Alfred Agache (1875 – 1959). O evento foi idealizado pelo engenheiro Francisco Baptista de Oliveira, diretor do Departamento de Urbanismo do Centro Carioca. Houve um concurso de cartazes para o evento (Gazeta de Notícias, 22 de novembro de 1940, quinta colunaJornal do Commercio, 11 de de dezembro de 1940, primeira colunaRevista de Arquitetura, dezembro de 1940). A edição especial de maio da Revista da Semana foi dedicado ao tema do urbanismo.

 

 

Na Rádio Difusora da Municipalidade, proferiu uma palestra, que integrou a Jornada de Habitação Econômica, presidida pelo então prefeito do Rio de Janeiro, Henrique Dodsworth (1895 – 1975) (Jornal do Commercio, 17 de setembro de 1941, segunda coluna).

Fazia parte da diretoria do Sindicato de Engenheiros, presidida por Furtado Simas (1913 – 1978) (O Radical, 22 de novembro de 1941, terceira colunaJornal do Commercio, 22 de novembro de 1941, quinta coluna;  O Malho, janeiro de 1942).

Era uma das colaboradoras da revista Urbanismo e Viação (O Jornal, 11 de dezembro de 1941).

1942 – Publicação de seu artigo A habitação – o Homem (Revista Municipal de Engenharia, janeiro de 1942).

Fazia parte da comissão que entregou à delegação dos Estados Unidos uma moção de solidariedade da União Universitária Feminina aos princípios que regem a solidariedade continental de defesa da democarcia e da liberdade, durante a III Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas, no Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 20 de janeiro de 1942, terceira coluna).

Em uma reunião extraordinária da Obra de Fraternidade da Mulher Brasileira, presidida pela advogada Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998), Carmen foi uma das mulheres que falaram sobre a importância da participação da mulher universitária no esforço de defesa do Brasil após o torpedeamento de cinco navios mercantes brasileiros pelos países do Eixo – Alemanha e Itália (Jornal do Brasil, 28 de agosto de 1942, segunda coluna).

Ela, Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998) e, como suplentes, as médicas Maria Lourdes Pedroso e Iraci Dolle Ferreira, foram as representantes da União Universitária Feminina na IV Convenção Nacional Feminina, realizada na sala de leitura do Palácio Itamaraty, entre 26 e 28 de outubro, presidida por Maria Sabina de Albuquerque (1898 – 1991) e que contou com a participaçao de diversas feministas, dentre elas Bertha Lutz  (1894 – 1976) e Anna Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça (1896 – 1971). Em pauta, a participação da mulher brasileira na guerra. Na época, Carmen era a presidente da Associação das Engenheiras e Arquitetas Brasileiras (A Manhã, 22 de outubro de 1942, última colunaA Manhã, 27 de outubro de 1942, quinta colunaA Manhã, 29 de outubro de 1942, primeira coluna).

 

 

1943 – Era uma das cinco mulheres integrantes do Club de Engenharia. As outras eram Anita Dubrugas (1892 – 1951), Elza Pinho Osborne (? – 1995), Edwiges Maria Becker Hom’meil  (18? – 19?) e Maria Helena Souza Coelho. Edwiges e Anita foram a primeira e a segunda mulheres, respectivamente, a se formarem em Engenharia Civil no Brasil. Carmen fazia parte do Conselho Diretor da chapa Eugênio Gudin – Marques Porto que concorreu, mas não ganhou as eleições do Club de Engenharia (Diário de Notícias, 14 de março de 1943, última colunaO Jornal, 16 de março de 1943, sexta coluna).

Era a segunda secretária da diretoria do Conselho Diretor da Sociedade de Engenheiros da Prefeitura e vice-presidente do Sindicato dos Engenheiros (Correio da Manhã, 30 de julho de 1943, quarta coluna).

 

 

1944 – Como presidente da União Universitária Feminina endereçou uma carta à diretora do Museu Nacional solicitando que mulheres fossem autorizadas a fazer a prova para a contratação de ex-numerário mensalista na instituição (A Manhã, 10 de fevereiro de 1944, terceira coluna).

Sob sua presidência, a União Universitária Feminina promoveu sua I Exposição de Artes Plásticas, patrocinado pelo Ministério de Educação e Saúde (Diário da Noite, 1º de agosto de 1944).

 

 

Como vice-presidente da Associação de Engenheiras e Arquitetas Brasileiras proferiu a palestra A reconstrução de Londres, na sessão inaugural da exposição do plano urbanístico para a reconstrução de Londres, realizada no Instituto dos /arquitetos do Brasil, sob os auspícios do Conselho Britânico (A Manhã, 22 de outubro de 1944, última coluna).

1945 - Foi uma das organizadoras com Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), Maria Luiza Bitencourt (1910 – 2001), primeira deputada da Bahia; Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998) e outras mulheres, de uma coligação democrática para apoiar a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes (1896 – 1981) à presidência da República (Diário de Notícias, 24 de fevereiro de 1945, quinta coluna).

Estava presente à posse do general Isidoro Dias Lopes (1865 – 1949) como presidente da Coligação Democrática do Distrito Federal de combate ao getulismo (Correio da Manhã, 18 de março de 1945, quarta coluna).

Estava presente na chegada ao Rio de Janeiro do general Manoel Rabelo (1878 – 1945), ministro do Superior Tribunal Militar, que apoiava a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da República (O Jornal, 23 de março de 1945, primeira coluna).

Na sede da Associação Brasileira de Imprensa, eleição do Diretório da União Democrática Nacional (UDN). Ela, Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993) e Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998) compunham o Comitê Feminino do Distrito Federal. A UDN foi fundada em 7 de abril de 1945 como uma “associação de partidos estaduais e correntes de opinião” contra a ditadura do Estado Novo e sua principal bandeira foi a oposição constante a Getulio Vargas (1884 – 1954) e ao getulismo (O Jornal, 7 de abril de 1945, sexta colunaCorreio da Manhã, 8 de abril de 1945, sexta coluna; Revista da Semana, de 1950).

Foi uma das signatárias do manifesto de programa de ação da recém fundada União Socialista Popular, de caráter provisório, que serviria de base para a organização de um grande órgão político socialista (Diário Carioca, 18 de abril de 1945, quarta coluna).

Carmen deu uma entrevista ao jornal Correio da Manhã, que havia rompido as amarras da censura dipeana com a publicação, em 22 de fevereiro de 1945, de declarações, que tiveram grande repercussão, de José Américo de Almeida (1887 – 1980) a Carlos Lacerda (1914 – 1977) acerca da situação política estabelecida pelo Estado Novo. José Américo participou da Revolução de 30, havia sido ministro da Viação de Getulio e pré-candidato à presidência da República para as eleições de 1938 que não se realizaram devido ao estabelecimento do Estado Novo. É também o autor do aclamado romance A Bagaceira (1928). Dentre outros assuntos, Carmen Portinho, na entreista, comentou as restrições impostas às mulheres pelo Departamento Administrativo do Serviço Público, o DASP, com referência ao trabalho feminino nas repartições públicas (Correio da Manhã, 26 de abril de 1945, quinta coluna).

 

 

 

 

Participou das demonstrações práticas dos eletrodutos moldados Semerato, invenção do brasileiro Ariosto Semeraro, nas obras do edifício Aquitânia, na avenida Presidente Vargas. Ela comentou o sucesso que o invento teria na reconstrução das cidades inglesas destruídas pela guerra (A Noite, 30 de maio de 1945, primeira coluna).

Viajou para a Inglaterra, em agosto de 1945, por ter recebido uma bolsa do Conselho Britânico para estagiar junto às comissões de reurbanização das cidades inglesas destruídas pela guerra. A viagem durou 24 dias de navio. Em setembro, já em Londres, ela ofereceu uma recepção na sede do British Council. Em outubro, foi homenageada com um almoço na residência do embaixador do Brasil em Londres, José Joaquim de Lima e Silva Muniz de Aragão (1887 – 1974). Em 21 de dezembro, foi oferecido em homenagem a seu regresso ao Brasil um cocktail na sede da Sociedade de Engenheiros da Prefeitura do Distrito Federal. Segundo ela, foi nesse período que aprendeu o conceito de unidade de habitação. Esteve também na Escócia e em Paris, quando encontrou-se com Beata Vettori (1909 – 1994), diplomata e sua antiga companheira na Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Também, em Paris, encontrou-se com Le Corbusier (1887 – 1965) e lhe mostrou as transparências e as plantas da sede do Ministério da Educação (A Noite, 6 de setembro de 1945, terceira colunaO Jornal, 6 de outubro de 1945, primeira coluna; O Jornal, 6 de outubro de 1945, primeira colunaJornal do Commercio, 7 de outubro de 1945, quinta colunaCorreio da Manhã, 15 de dezembro de 1945, sexta colunaRevista da Semana, 10 de abril de 1948Jornal do Commercio, 21 de dezembro de 1945, sexta coluna). 

Neste ano formou-se em Engenharia na Universidade Federal do Paraná, Enedina Alves Marques (1913 – 1981), primeira mulher negra a se tornar engenheira no país.

 

 

1946 – Na Sociedade dos Engenheiros da Prefeitura, Carmen proferiu a palestra Comentários sobre uma viagem à Grã-Bretanha e à Escócia (A Manhã, 9 de janeiro de 1946, primeira coluna).

Publicação dos artigos de Carmen Portinho, Habitação Popular, onde abordou as limitações de cidades-jardins, cidades-dormitórios e cidades-satélites, defendendo a criação de conjuntos residenciais, construídos em áreas previamente determinadas e distribuidos racionalmente por todo o centro urbano. Também abordou a existência das favelas, explicou o conceito de Unidade de Habitação, comentou a construção de habitações para solteiros e idosos e outros aspectos da reconstrução de cidades na Inglaterra e o Decreto-Lei 9128 de 1º de maio de 1946 autorizando a criação da Fundação da Casa Popular (Correio da Manhã, 10 de março de 1946, quarta colunaCorreio da Manhã, 17 de março de 1946, quarta colunaCorreio da Manhã, 24 de março de 1946, quarta colunaCorreio da Manhã, 31 de março de 1946, quarta colunaCorreio da Manhã, 7 de abril de 1946, primeira coluna; Correio da Manhã, 14 de abril de 1946, sétima coluna).

Criação do Departamento de Habitação Popular da Secretaria de Viação e Obras Públicas da Prefeitura do Distrito Federal. Carmen foi nomeada chefe do departamento (Diário de Notícias, 5 de abril de 1946Correio da Manhã, 5 de abril de 1946, quarta colunaDiário de Notícias, 16 de abril de 1946, quarta colunaCorreio da Manhã, 17 de fevereiro de 1948, sétima colunaDiário Carioca, 3 de março de 1948, quinta coluna).

Foi uma das pessoas designadas pelo prefeito Hildebrando de Góis (1899 – 1980) para integrar a Comissão de Revisão do Código de Obras do Distrito Federal (O Jornal, 30 de maio de 1946, primeira coluna).

Publicação do artigo de sua autoria Trabalho Feminino, sobre a participação das mulheres na Segunda Guerra Muncial (Correio da Manhã, 2 de junho de 1946, quarta coluna).

Foi citada com seu nome de casada, Carmen Portinho Lutz (Correio da Manhã, 2 de julho de 1946, quinta coluna).

Publicação de seu artigo Escola Maternal e Jardim de Infância. A respeito do artigo, Gloria A. Vaz lhe enviou uma carta, também publicada na jornal (Correio da Manhã, 14 de julho de 1946, quarta colunaCorreio da Manhã, 28 de julho de 1946, quarta coluna).

Publicação de seu artigo Exposição Fotográfica de Arquitetura Britânica, apresentada na Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa. Ela fez uma conferência sobre o assunto no dia 6 de agosto (Diário de Notícias, 28 de julho de 1946, segunda colunaCorreio da Manhã, 11 de agosto de 1946, quarta coluna).

Publicação de seu artigo Matisse (Correio da Manhã, 13 de outubro de 1946, quarta coluna).

Foi mencionada como uma das professoras queridas em artigo de Paulo A. Figueiredo, No Pedro II do meu tempo (A Manhã, 25 de outubro de 1946, sexta coluna).

Publicação do artigo A Cidade dos Motores, de Le Corbusier (1887 – 1965), traduzido por ela. O artigo é sobre a futura construção da Cidade dos Motores, na Baixada Fluminense, projetada por Paul Lester Weiner e José Luiz Sert (Correio da Manhã, 17 de novembro de 1946, quinta coluna).

1947 - Publicação do artigo de sua autoria Senhor dos Navegantes, sobre a procissão realizada em Salvador no dia 31 de dezembro (Correio da Manhã, 12 de janeiro de 1947).

Foi eleita presidente da Sociedade de Engenheiros da Prefeitura (Revista Municipal de Engenharia, julho de 1947).

Entre 27 de setembro e 1º de outubro, participou, como delegada do Brasil, do Congresso Internacional de Mulheres, organizado pela Entente Mondiale pour la Paix, na sede da Unesco, onde ficava anteriormente o Hotel Majestic. Retornou em 24 de outubro e, em 5 de novembro, proferiu uma palestra sobre o evento, na Casa do Estudante do Brasil (Correio da Manhã, 18 de julho de 1947, terceira colunaCorreio da Manhã, 27 de agosto de 1947, quinta coluna; Correio da Manhã, 28 de setembro de 1947, última coluna; O Jornal, 28 de setembro de 1947, sexta colunaCorreio da Manhã, 25 de outubro de 1947, última colunaJornal do Commercio, 5 de novembro de 1947, primeira colunaRevista da Semana, 6 de dezembro de 1947).

 

 

Foi uma das signatárias de um protesto enviado ao Congresso Nacional contra o projeto do senador Ivo d´Aquino (1895 – 1974), que pretendia cassar mandatos de parlamentares. O projeto se aplicava aos comunistas quando incluía entre os casos de extinção a cassação do registro do respectivo partido por ser considerado “extremista” (artigo 141 da Constituição de 1946). Aprovado em primeira e segunda votações no Senado em outubro de 1947, por 35 votos a 19, e 34 a 18, respectivamente, o projeto foi votado pela Câmara dos Deputados em 7 de janeiro de 1948 (162 votos favoráveis e 74 contrários) e levado à sanção de Dutra na mesma data (Tribuna Popular, 4 de dezembro de 1947, primeira colunaCPDOC).

1948 – Foi a personagem da coluna “Personalidade da Semana”. Um dos assuntos que abordou foi a construção do Conjunto Habitacional do Pedregulho, no bairro de São Cristóvão, para abrigar funcionários públicos do então Distrito Federal. O projeto, de Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), já havia sido aprovado pelo prefeito Ângelo Mendes de Moraes (1894 – 1990) (Revista da Semana, 10 de abril de 1948).

Participou com Oscar Niemeyer (1907 – 2012), Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), Henrique Mindlin (1911 – 1971) e Rodrigo de Mello Franco de Andrade (1898 – 1969), dentre outros, de um almoço que o Conselho Britânico realizou no Hotel Palace para engenheiros e arquitetos que recepcionaram o arquiteto inglês Percy Marshall (1915 – 1993) no Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 20 de junho de 1948, última coluna).

Estava envolvida no projeto da prefeitura do Rio de Janeiro, cujo prefeito era Ângelo Mendes de Moraes (1894 – 1990), de construção de 500 casas no Parque Proletário da Gávea para moradores que seriam transferidos da Favela do Pinto (Correio da Manhã, 20 de julho de 1948, sexta coluna).

Mostrou fotografias do projeto de urbanização da região do desmonte do Morro de Santo Antônio, realizado por Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), diretor do Departamento de Urbanismo da Prefeitura (Correio da Manhã, 7 de novembro de 1948, segunda coluna).

Ela e o arquiteto Mauro Viegas (1919 – ), adjunto do secretário de Viação, foram os representantes da prefeitura do Rio de Janeiro no Segundo Congresso Brasileiro de Arquitetos, em Porto Alegre, de 20 a 27 de novembro. Apresentaram o projeto do Conjunto Residencial do Pedregulho, da urbanização da região do desmonte do Morro de Santo Antônio e do Estádio Municipal (Correio da Manhã, 12 de novembro de 1948, primeria colunaCorreio da Manhã, 14 de novembro de 1948, quinta coluna; Revista de Arquitetura,  novembro/dezembro de 1948).

 

segundo

 

1949 - Ela, formavam a comissão para realizar os estudos e os projetos para a urbanização das áreas situadas nas encostas da Tijuca, no vale do rio Cachoeira e das terras compreendidas entre o Itanhangá, a lagoa e a Barra da Tijuca (Correio da Manhã, 12 de janeiro de 1949, sétima coluna).

Artigo sobre a construção do Conjunto Residencial do Pedregulho, cuja executora era Carmen Portinho (Correio da Manhã, 23 de janeiro de 1949, quinta coluna).

Fazia parte da chapa encabeçada por Alcides Lins (1891 – 1969) para o Club de Engenharia. A eleição foi vencida pela chapa encabeçada por Edson Passos *1893-1954) (A Noite, 31 de março de 1949, penúltima coluna).

Foi um dos engenheiros designados para representar a prefeitura do Rio de Janeiro no I Congreso Pan-americano de Engenharia que se realizou na cidade entre 15 e 24 de julho (Correio da Manhã, 14 de julho de 1949, primeira coluna).

1950 – A princesa Margaret da Inglaterra (1930 – 2002) fumou em público o que causou certa polêmica. Algumas mulheres brasileiras foram convidadas a comentar o fato, dentre elas, Carmen que declarou não achar condenável a atitude da princesa (Diário da Noite, 11 de abril de 1950).

Foi uma das representantes do Brasil no III Seminário Regional de Assuntos Sociais da União Panamericana, que se realizou em Porto Alegre entre 14 e 26 de maio (A Manhã, 10 de maio de 1951, última coluna).

Inauguração dos primeiros 54 apartamentos do Conjunto Residencial do Pedregulho com a presença do prefeito Ângelo Mendes de Moraes (1894 – 1990) e de diversas autoridades. Na ocasião, Carmen proferiu uma palestra sobre a construção (A Noite, 20 de junho de 1950, primeira coluna; Correio da Manhã, 21 de junho de 1950).

Deu uma entrevista falando de suas ideias em relação à questão da habitação (Diário Carioca, 2 de julho de 1950).

1951 – Em 21 de março, foi eleita e tomou posse a nova diretoria do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, fundado em 1948: Raymundo de Castro Maya (1894 – 1968) – presidente -, Francisco de San Thiago Dantas  (1911 – 1964) – vice-presidente -, Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1916 – 2003) – diretora executiva , Carmen Portinho – diretora executiva adjunta -, Maria Barreto (diretora secretária) e Walther Moreira Salles (1912 – 2001) (tesoureiro).

Foi uma das personalidades de destaque no Brasil que se manifestou entusiasmadamente sobre a realização da I Bienal Internacional de São Paulo, promovida pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo, então presidido por Ciccillo Matarazzo (1898 – 1977).  Sua mulher, de Yolanda Penteado (1903 – 1983), foi uma peça fundamental para a realização do evento, que aconteceu em um pavilhão provisório localizado na Esplanada do Trianon, na região da Avenida Paulista. Foi realizada entre outubro e dezembro com 729 artistas de 25 países e 1854 obras. O projeto do Conjunto Residencial do Pedregulho, do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964), do qual Carmen era a engenheira, conquistou o prêmio de Organização de Grandes Áreas ou de Urbanismo (Última Hora, 24 de agosto de 1951, quarta colunaCorreio da Manhã, 6 de dezembro de 1951, primeira coluna).

 

bienal

Foi afastada do cargo de diretora do Departamento de Habitação Popular pelo novo secretário de Viação da Prefeitura, Paulo Sá, nomeado pelo novo prefeito do Rio de Janeiro, João Carlos Vital (1900 – 1984) (Correio da Manhã, 28 de abril de 1951, segunda coluna).

Foi uma das integrantes da delegação de Habitação e Urbanismo designada pelo presidente da República para participar do III Seminário Regional de Assuntos Sociais da União Pan-americana, realizada entre 14 e 26 de maio, em Porto Alegre (Correio da Manhã, 10 de maio de 1951, última coluna).

No artigo Muita construção, alguma arquitetura e um milagre, sobre os últimos 50 anos de arquitetura no Brasil, o arquiteto Lúcio Costa (1902 – 1998) citou a participação de Carmen Portinho na Faculdade como decisiva para a formação do arquiteto no Brasil e a definiu como um “traço vivo de união, desde menina, entre as Belas Artes e a Politécnica” (Correio da Manhã, 15 de junho de 1951, segunda coluna).

Em entrevista, declarou que suas paixões era a matemática e a jardinagem (A Noite, 5 de outubro de 1951)

1952 - O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, fundado, em 1948, sob a presidência de Raymundo de Castro Maya (1894 – 1968) e inaugurado, em  20 de janeiro de 1949, com a exposição Pintura Europeia Contemporânea, em sua sede provisória localizada no 11º andar do Banco Boavista, passou a funcionar, em 15 de janeiro de 1952, no pavimento térreo do Edifício Gustavo Capanema, o prédio do Ministério da Educação. A área foi cedida, no ano anterior, pelo então ministro da Educação e da Saúde e também fundador do jornal A Tarde, da Bahia, Ernesto Simões Filho (1886 – 1957). O recinto do museu foi projetado por Oscar Niemeyer (1907 – 2012) e Carmen foi responsável pelas obras. A cerimônia de inauguração, à qual compareceram diversas personalidades do mundo político e cultural brasileiro, como a primeira-dama Darci Vargas (1895 – 1968) e o casal Ciccillo Matarazzo (1898 – 1977) e Yolanda Penteado (1903 – 1983), foi presidida por Simões Filho.

Carmen era, como já mencionado, diretora executiva adjunta do MAM-RJ, cargo que ocupou até 1967. Sua diretora executiva era Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1916 – 2003), seu vice-presidente, Francisco Clementino San Tiago Dantas (1911 – 1964), e seu tesoureiro, Walther Moreira Salles (1912 – 2001). A exposição inaugural mostrou quadros pertencentes ao museu e obras premiadas na I Bienal de São Paulo, realizada entre outubro e dezembro de 1951 (Correio da Manhã, 21 de janeiro de 1949, terceira colunaCorreio da Manhã, 7 de março de 1951, quinta colunaCorreio da Manhã, 6 de janeiro de 1952, quarta coluna; Correio da Manhã, 16 de janeiro de 1952A Noite, 5 de outubro de 1951, primeira colunaÚltima Hora, 9 de janeiro de 1952, penúltima colunaA Noite, 16 de janeiro de 1952Vida Doméstica, fevereiro de 1952; Revista da Semana, 26 de julho de 1952).

 

 

 

 

Carmen Portinho hasteou a bandeira do Brasil na inauguração da escola do Conjunto Residencial do Pedregulho (A Noite, 31 de janeiro de 1952, penúltima coluna).

 

 

Inauguração do Conjunto Habitacional Paquetá,  projeto de Francisco Bolonha (1923 – 2006), do qual Carmen era a diretora das obras (Correio da Manhã, 30 de março de 1952, segunda coluna).

Fazia parte do Conselho Central da Fundação da Casa Popular, nomeado pelo ministro do Trabalho, Segadas Viana (1906 – 1991) (Diário Carioca, 9 de abril de 1952, segunda colunaTribuna da Imprensa, 9 de abril de 1952, primeira coluna).

Foi uma das engenheiras citadas em um artigo sobre mulheres engenheiras no Rio de Janeiro. Foi publicada uma foto dela fiscalizando as obras do Conjunto Residencial do Pedregulho (Manchete, 24 de maio de 1952).

 

 

Em entrevista, Carmen afirmou que a construção de conjuntos residenciais seria a solução ideal para o problema de habitação no Rio de Janeiro (Tribuna da Imprensa, 2 de julho de 1952).

Foi uma das diretoras do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro que recepcionou o artista André Lhote (1885 – 1962) em visita ao museu (Correio da Manhã, 23 de julho de 1952, terceira coluna).

Participou de um ciclo de conferências realizado no Centro de Medicina Social como uma das relatoras do tema dos problemas das favelas (A Noite, 4 de agosto de 1952, penúltima coluna).

Inauguração, no MAM-RJ, na Exposição de Arquitetura Contemporânea Brasileira. Segundo Carmen, organizadora do evento: “esse trabalho serve para demonstrar que nossa arquitetura moderna não está divorciada da tradição, da boa qualidade. O que é bom é bom em qualquer época“. O trabalho a que se referia era uma igreja antiga de Gregory Warchavsky (1896 – 1972), arquiteto ucraniano radicado no Brasil (Tribuna da Imprensa, 6 de agosto de 1952, primeira colunaCorreio da Manhã, 6 de agosto de 1952).

 

 

 

Em artigo, o jornalista Carlos Lacerda (1914 – 1977), futuro governador da Guanabara, elogia Reidy e Carmen, dois dos melhores servidores da cidade e o projeto do Conjunto Residencial do Pedregulho, em São Cristóvão (Tribuna da Imprensa, 14 de agosto de 1952, primeira coluna).

 

 

 

Fez em sua casa, na rua Timboassu, 671, em Jacarepaguá, uma reunião para apresentar um óleo do artista Ivan Serpa (1923 – 1973), que ela classificava como a mais bela obra do jovem artista que tinha, na época, 29 anos (Correio da Manhã, 10 de outubro de 1952, quinta coluna).

A casa foi construída entre 1949 e 1952, concebida por Reidy para que ele e Carmen vivessem lá. Ela foi a engenheira responsável. (Diário Carioca, 11 de março de 1953, última coluna).

 

 

Ficou conhecida como Residência Carmen Portinho e foi tombada a nível municipal pelo Decreto nº 35.874 de 05 de julho de 2012 devido à sutileza plástica de sua arquitetura, na qual foram utilizadas técnicas inovadoras para sua época, tem sua presença destacada na cultura arquitetônica carioca.

 

 

Foi uma das diretoras do museu que participou da cerimônia que aconteceu pouco antes da inauguração da exposição retrospectiva de Cícero Dias (1907 – 2003), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, quando empresário norte-americano Nelson Rockefeller (1908 – 1979) recebeu o título de sócio remido da instituição (Correio da Manhã, 21 de novembro de 1952, quinta coluna).

Carmen foi uma das convidadas da primeira-dama do Brasil, Darci Vargas (1895 – 1968), para assistir, no Palácio do Catete, à exibição de filmes sobre os artistas plásticos franceses Georges Braque, Paul Gauguin e Toulouse-Lautrec (Última Hora, 28 de novembro de 1952, primeira coluna).

Foi reconduzida ao cargo de diretora do Departamento de Habitação Popular da administração do novo prefeito do Rio de Janeiro, Dulcidio Espírito Santo Cardoso (1896 – 1978) (Tribuna da Imprensa, 17 de dezembro de 1952, sexta coluna).

Estava presente na inauguração de uma exposição de arte infantil, com trabalhos de crianças de 2 a 12 anos, fruto do curso do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro ministrado sob a orientação de Ivan Serpa (1923 – 1973). Dois outros cursos eram ministrados no museu: com os artistas plásticos norte-americanos Margaret Spence (1914 – ?) e Milton Goldring (1918 – ?) (Tribuna da Imprensa, 17 de dezembro de 1952, primeira colunaTribuna da Imprensa, 26 de dezembro de 1952, quarta coluna).

1953 – Estava presente à reunião do Conselho Deliberativo do museu quando o embaixador Maurício Nabuco (1891 – 1979) foi eleito por aclamação presidente da instituição, devido ao pedido de demissão de Raymundo de Castro Maya (1894 – 1968). Na ocasião foi extinto o cargo de conservador e criado o de segundo vice-presidente, ocupado por Aloysio de Salles (1918 – 2007)(Correio da Manhã, 9 de janeiro de 1953, terceira coluna).

O prefeito Dulcidio Espírito Santo Cardoso (1896 – 1978) extinguiu a comissão de Planejamento e Direção das Obras do Parque Proletário na rua Marquês de São Vicente, na Gávea. O conjunto residencial em construção ficaria a cargo de Carmen Portinho, diretora do Departamento de Habitação Popular da Secretaria de Viação e Obras da Prefeitura. Publicação de um entrevista com ela (Jornal do Commercio, 16 de janeiro de 1953, primeira colunaA Noite, 17 de janeiro de 1953).

 

 

 

Instalação da Comissão das Favelas, criada pelo prefeito Dulcidio Espírito Santo Cardoso (1896 – 1978). Carmen era um das intergrantes (Correio da Manhã, 14 de fevereiro de 1953, terceira coluna).

Integrava a comissão artística do Congresso Eucarístico que realizaria no Rio de Janeiro, em 1955 (Tribuna da Imprensa, 10 de março de 1953, primeira coluna).

Carmen, como diretora do Serviço de Habitação Popular da Prefeitura falou sobre soluções para o problema de transporte no Rio de Janeiro (Flan, 12 a 18 de abril de 1953).

Ela e o arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964) foram elogiados pelo arquiteto e artista plástico suíço Max Bill (1908 – 1994), que visitou o Brasil a convite do Itamaraty (Sombra, abril/maio de 1953Correio da Manhã, 28 de maio de 1953, quinta coluna).

Estava presente na inauguração de uma exposição de Candido Portinari (1903 – 1962), no MAM-RJ (Correio da Manhã, 30 de abril de 1953Sombra, junho de 1953).

 

 

 

Ela, Rui de Souza Leão, Stelio Alencar e Olga Costa Leite – esses três últimos funcionários da Secretaria de Assistência Social, sob o comando de Guilherme Romano – formavam a comissão especial para estudar a transferência dos favelados do “Esqueleto”, que estavam sob a custódia da prefeitura no Albergue da Boa Vontade e no Asilo de São Francisco, para os parques proletários (Última Hora, 8 de junho de 1953, terceira coluna).

Fez uma exposição do Conjunto Residencial do Pedregulho em uma visita-conferência promovida pela Difusão Cultural da Prefeitura (Correio da Manhã, 14 de junho de 1953, terceira colunaA Noite, 25 de junho de 1953, quarta coluna).

Esteve presente ao cocktail oferecido por Valentim Bouças (1891 – 1964) na ocasião em que o empresário doou um desenho do artista francês Henri Matisse (1869 – 1954) ao Museu de ARte do Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 12 de julho de 1953, terceira coluna).

Recepcionou o então diretor-geral da Unesco, Luther Harris Evans (1902 – 1981), na visita que ele fez ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, durante uma viagem a países da América Latina (Correio da Manhã, 23 de agosto de 1953, quarta coluna).

Esteve presente na cerimônia que marcou o início das obras preliminares do desmonte do Morro de Santo Antônio (Correio da Manhã, 7 de novembro de 1953, terceira coluna).

 

 

Esteve presente à vernissage da II Bienal Internacional de São Paulo (Correio da Manhã, 10 de dezembro de 1953, terceira coluna).

1954 – Carmen, diretora do Departamento de Habitação Popular, falou sobre os conjuntos residenciais do Pedregulho e da Gávea, que pretendia concluir ainda em 1954, e informou que já havia sido aberta a concorrência pública para a construção de um conjunto residencial em Vila Isabel (Diário de Notícias, 16 de janeiro de 1954, quinta colunaJornal do Commercio, 18 de outubro de 2003, última coluna).

Participou da comemoração dos dois anos da sede do MAM-RJ, no Palácio Capanema, com a inauguração de uma exposição do projeto e da maquete da futura sede do museu, no Aterro do Flamengo, de autoria de Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964); e de uma exposição com obras de seu acervo (Tribuna da Imprensa, 16 de janeiro de 1954, segunda coluna).

Publicação de uma foto do Conjunto de Habitação Paquetá, projeto de Francisco Bolonha (1923 – 2006) (Revista da Municipal de Engenharia, janeiro/março de 1954).

 

 

Ela e outras feministas brasileira pioneiras como Bertha Lutz  (1894 – 1976), Jeronyma Mesquita (1880 – 1972), Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998) e Maria Sabina de Albuquerque (1898 – 1991), dentre outras, estiveram presentes à solenidade, realizada no Senado, da promulgação da lei reingresso das mulheres na carreira diplomática (Correio da Manhã, 19 de janeiro de 1954, quarta coluna).

Em visita ao Rio de Janeiro, o arquiteto alemão Walter Gropius (1883 – 1969), fundador da Bauhaus, esteve com Carmen, com o paisagista Roberto Burle Marx (1909 – 1994) e os arquitetos Lúcio Costa (1902 – 1998), Oscar Niemeyer (1907 – 2012), Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964) e Sergio Bernardes  (1919 – 2002) (Tribuna da Imprensa, 27 de janeiro de 1954, terceira coluna).

Deu uma entrevista a respeito da nova sede do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro que seria construído, próximo ao Aeroporto Santos Dumont, em um aterro que seria realizado com o material resultante do desmonte do Morro de Santo Antônio. O projeto era do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964) (A Noite, 12 de fevereiro de 1954).

Membros do Instituto Norte-Americano de Arquitetos visitaram o MAM-RJ e Carmen Portinho expôs a eles a maquete da futura sede da instituição, projeto de Reidy (Correio da Manhã, 18 de fevereiro de 1954, terceira coluna).

Estava presente na abertura da Exposição de Cubismo no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Tribuna da Imprensa, 18 de março de 1954, penúltima coluna).

Publicação do artigo A arte deste século, sobre a construção da futura sede do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Revista Shell, abril, maio, junho de 1954).

 

 

Foi, com os arquitetos MMM Roberto, colaboladora do artigo A arquitetura industrial brasileira, publicado na Revista Shell, nº 66, de 1954.

Ela e Reidy receberam o italiano Aldo Calvo (1906 – 1991), autoridade na construção de teatros que estava no Rio para colaborar com Reidy na construção do Auditório do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Calvo estava morando em São Paulo há cerca de seis anos e desenvolvia um Curso de Cenografia da Comissão do IV Centenário (Correio da Manhã, 15 de junho de 1954, quinta coluna).

 

 

Foi uma das signatárias de uma nota que a diretoria do MAM-RJ divulgou acerca da realização do Congresso Eucarístico no Rio de Janeiro, em 1955, em resposta a declarações feitas por dom Helder Câmara (1909 – 1999) no Correio da Manhã de 27 de junho de 1954 sobre uma polêmica em torno da localização do evento: o Aterro de Santa Luzia onde se construiria a futura sede do MAM) ou o Aero Clube de Manguinhos (Correio da Manhã, 29 de junho de 1954, última coluna).

Assinou um manifesto em apoio à criação do Núcleo de Estudos e Divulgação da Arquitetura no Brasil – NEDAB (Correio da Manhã, 8 de julho de 1954, quarta coluna).

Ela e Reidy receberam o italiano Paolo Grassi (1919 – 1981), diretor do Piccollo Teatro de Milano, que visitou a exposição Modernos de Israel, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 18 de julho de 1954, terceira coluna).

Esteve presente à conferência de M. Georges Henri Rivier, diretor do Museu de Artes e Tradições da França e e presidente do Conselho de Museus Internacional, que visitava o Brasil. O evento se realizou na casa da adida cultural da França no Rio de Janeiro (Jornal do Brasil, 15 e 16 de agosto de 1954, primeira coluna).

Foi à inauguração da exposição retrospectiva de 30 anos de carreira do pintor Emiliano Di Cavalcanti (1897 – 1976), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, ainda instalado no Palácio Gustavo Capanema. Ela era diretora executiva adjunta do MAM-RJ (Tribuna da Imprensa, 11/12 de setembro de 1954, terceira colunaA Noite Ilustrada, 21 de setembro de 1954).

 

 

Carmen estava presente ao chá oferecido pelas sócias da União Universitária Feminina, fundada por ela em 1929, a Minnie Miller, professora de línguas do Teacher`s College, no Kansas, e membro da Associação de Mulheres Universitárias dos Estados Unidos (Correio da Manhã, 5 de dezembro de 1954, quarta coluna).

Chefiou as obras de engenharia civil da construção da nova sede do MAM, no Aterro do Flamengo. O início das obras se deu em 9 de dezembro de 1954, quando o bate-estaca da obra foi acionado pelo então presidente Café Filho (1899 – 1970). Uma cápsula do tempo foi enterrada junto às fundações, contendo marcas do período, como moedas, notas e recortes de jornal. A pedido de Carmen, a artista plástica Lygia Clark decorou a barraca do museu com amostras do material que seria usado nas obras, com um painel de exposição na entrada, entre a sala de trabalho e de reuniões (Correio da Manhã, 9 de dezembro de 1954Tribuna da Imprensa, 10 de dezembro de 1954, penúltima colunaCorreio da Manhã, 16 de dezembro de 1954, terceira coluna;Vida Doméstica, janeiro de 1955).

 

 

 

 

 

1955 - O MAM-RJ abriu a temporada de 1955 com uma exposição de obras de seu acervo. No artigo, foi apintada como um dos diretores da instituição que nos últimos três anos trabalharam sem cessar (Tribuna da Imprensa, 7 de janeiro de 1955, primeira coluna).

Ela, Reidy e Niomar Muniz Sodré Bittencourt, dentre outros, estavam presentes à inauguração da Exposição de Flores e Frutos, realizada no Hotel Quitandinha, em Petrópolis. Foi averta pelo presidente Café Filho (1899 – 1970) com a presença do governador da Guanabara, Miguel Couto Filho (1900 – 1967). O paisagista Roberto Burle Marx (1909 – 1994) era o resonsável pela decoração e pela distribuição dos stands do evento (Correio da Manhã, 6 de março de 1955, sexta coluna).

Não passam de charlatães!” Assim reagiu Carmen em relação a arquitetos desonestos, referidos como assinadores de plantas, após desmoronamentos de edifícios no Rio de Janeiro. Ela e outros engenheiros se pronunciaram no sentido da cassação das carteiras desses profissionais (Última Hora, 13 de abril de 1955, última coluna).

Em entrevista, Carmen defendeu que a criação de conjuntos residenciais resolveriam “integralmente os problemas da donas de casa. Eles são feitos visando a atender às necessidades daquelas que sentem mais de perto os problemas da família”. Ainda segunda a engenheira, o planejamento desses conjuntos deveriam ser realizados com espírito social (Tribuna da Imprensa, 11 de maio de 1955).

Durante a exposição retrospectiva do pintor José Pancetti (1902 – 1958), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Carmen recebeu os irmãos José Medeiros (1921 – 1990) – fotógrafo e jornalista – e Anisio Medeiros (1922 – 2003) – artista plástico -, entre outros (Correio da Manhã, 19 de maio de 1955).

 

 

Participou do almoço que o ministro da Marinha, o almirante Amorim do Valle (1893 – 1971), ofereceu ao pintor José Pancetti (1902 – 1958) (Jornal do Brasil, 26 de maio de 1955, terceira coluna).

Publicação de uma entrevista com Carmen falando sobre o andamento das obras do museu. Já haviam sido cravadas 300 das 370 estacas projetadas. Cerca de um mês depois a última estaca foi cravada (Correio da Manhã, 26 de maio de 1955, terceira colunaCorreio da Manhã, 27 de junho de 1955).

Devido à realização do 36º Congresso Eucarístico Internacional no Rio de Janeiro, em julho, no Aterro do Flamengo, as obras da nova sede do MAM foram suspensas e retomadas em meados de agosto (Correio da Manhã, 1º de janeiro de 1956, quinta coluna).

Era uma das diretoras do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro que convidavam para a abertura da Exposição de Litografias de Artistas Ingleses (Tribuna da Imprensa, 16 de setembro de 1955, sexta coluna).

Viajou para a Europa. Participou do Congresso de Arquitetos, em Haia, na Holanda. Visitou a Itália e encontrou, em Milão, Pascoal Carlos Magno (1906 – 1980). Esteve também na Alemanha e ficou impressionada com a reconstrução de cidades inteiras (Correio da Manhã, 16 de julho de 1955, quarta colunaCorreio da Manhã, 5 de agosto de 1955, terceira colunaO Jornal, 27 de setembro de 1955, penúltima coluna).

Em outubro, foi realizada uma visita às obras da nova sede do MAM-RJ com a presença do prefeito do Rio de Janeiro, Alim Pedro (1907 – 1975), da diretoria do museu e de vários de seus conselheiros. Na ocasião, Carmen expôs detalhes da construção do novo prédio (Almanak do Correio da Manhã, 1956).

Foi uma das colaboradoras do álbum de propaganda do país, Le Brésil Actuel 1955 (Diário de Notícias, 27 de novembro de 1955, quarta coluna).

Publicação de uma entrevista com Carmen Portinho com fotografias dos conjuntos residenciais do Pedregulho e da Marquês de São Vicente – projetos de Reidy – ; e de Paquetá – projeto de Francisco Bolonha (1923 – 2006) (Tribuna da Imprensa, 17 de dezembro de 1955).

 

 

1956 - Compareceu à vernissage de Roberto Burle Marx (1909 – 1994) no MAM-RJ (Última Hora, 16 de março de 1956, última coluna).

Sobre o trabalho de pesquisa sobre a integração da pintura à arquitetura que a artista Lygia Clark (1920 – 1988) estava realizando, Carmen declarou: “A contribuição de Lygia Clark à arquitetura contemporânea será, sem dúvida, muito valiosa. Talento, coragem e honestidade para levar a sua tarefa até o fim não lhe faltam” (Correio da Manhã, 7 de abril de 1956, última coluna).

Era uma das diretoras do MAM-RJ que convidava para a abertura da Exposição de Arte Alemã Contemporânea (Tribuna da Imprensa, 9 de abril de 1956, última coluna).

Ela e outros diretores do Museu de Arte Moderna recepcionaram o empresário norte-americano Nelson Rockefeller (1908 – 1979) que visitou as obras da instituição. Rockefeller elogiou muito a precisão, a clareza e o conhecimento da engenheira Correio da Manhã, 14 de abril de 1956Correio da Manhã, 15 de abril de 1956).

Também visitaram as obras do museu as arquitetas italianas Adele Racheli Domenighetti (c. 1894 – 19?) e Maria Luisa Rastelli Baj. Várias personalidades do mundo político, cultural e econômico visitaram as obras, dentre eles o prefeito do Rio de Janeiro, Negrão de Lima (1901 – 1991)  (Correio da Manhã, 4 de maio de de 1956, sexta colunaCorreio da Manhã, 14 de setembro de 1956).

No MAM-RJ, Participou da inauguração, realizada pelo presidente da República, Juscelino Kubitschek (1902 – 1976), da exposição da escultora Maria Martins (1894 – 1973), mulher do embaixador Carlos Martins Pereira e Souza (1884 – 1965) (O Jornal, 18 de maio de 1956, quarta coluna).

O projeto do edifício do Teatro Rural Estudantil, em Campo Grande, foi de Carmen e de Reidy. Foi a engenheira Elza Pinho Osborne (? – 1995) que conseguiu a doação do terreno para sua construção (Diário Carioca, 13 de julho de 1956, primeira coluna).

 

 

Eleição da nova diretoria do museu para o período de 1956 a 1961. Carmen seguiu como diretora executiva adjunta (Correio da Manhã, 9 de agosto de 1956).

 

 

Integrava a diretoria do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Módulo, setembro de 1956).

 

 

 

Em entrevista, Carmen declarou que os conjuntos residenciais da Gávea, projeto de Reidy, e de Vila Isabel, projeto de Francisco Bolonha  (1923 – 2006), para funcionários municipais, seriam entregues em 1957 (A Noite, 1º de outubro de 1956).

Carmen ciceroneou visitas públicas e explicadas à maquete e às obras da nova sede do Museu de ARte Moderna do Rio de Janeiro dentro da programação da Campanha Internacional de Museus em comemoração aos 10 anos da Unesco (Correio da Manhã, 6 de outubro de 1956).

Passou de sócia efetiva a remida do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 6 de novembro de 1956, última coluna).

Compareceu ao almoço de confraternização da Escolinha de Arte do Brasil, dirigida por Augusto Rodrigues (1913 – 1993), pioneiro na criação desse tipo de escola no Brasil (Diário Carioca, 18 de dezembro de 1956).

1957 –  Na coluna de Jayme Maurício (1926 – 1997), publicação de uma entrevista com Carmen Portinho sobre a construção da nova sede do museu (Correio da Manhã, 6 de janeiro de 1957).

Era uma das diretoras que convidavam para a reabertura da exposição permanente do MAM-RJ, acrescida de algumas doações (Tribuna da Imprensa, 10 de janeiro de 1957, quarta coluna).

Segundo Carmen Portinho: “O Brasil está à frente de todos os países do mundo quanto à aplicação da arquitetura moderna às obras públicas“. Foi mencionado que ela havia há pouco tempo viajado para a Europa e para os Estados Unidos (Tribuna da Imprensa, 25 de janeiro de 1957, primeira coluna).

Fez uma viagem à Europa, tendo visitado a Itália e a Grécia (A Noite, 2 de abril de 1957, primeira colunaCorreio da Manhã, 10 de abril de 1957, última colunaÚltima Hora, 9 de maio de 1957, segunda coluna).

Na União Universitária Feminina proferiu a palestra Impressões da Europa, ilustrada com projeções (Jornal do Brasil, 30 de junho de 1957, quinta coluna).

Participou como presidente da Associação de Engenheiras e Arquitetas do Brasil de uma homenagem à ministra Francisca Fernãndez Hall, na ocasião embaixadora da Guatemala no Brasil. (Correio da Manhã, 21 de julho de 1957, quarta coluna).

Durante todo o ano, ciceroneou diversos visitantes às obras da nova sede do museu (Correio da Manhã, 4 de setembro de 1957).

Deu uma entrevista sobre a nova sede do MAM-RJ, que seria inaugurado em janeiro de 1958 (Jornal do Brasil, 24 de outubro de 1957).

 

 

Ela – tesoureira-, Elza Pinho Osborne – 1ª vice-presidente -, e Isabel do Prado – secretária de Relações Internacionais -, da União Universitária Feminina, assinavam uma carta de agradecimento endereçada à Condessa Pereira Carneiro pela publicação doa artigo Nada de privilégios, de Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998), no Jornal do Brasil de 9 de outubro de 1957. A presidente da União Universitária Feminina era, na ocasião, Zeia Pinho de Rezende Silva (Jornal do Brasil, 27 de outubro de 1957, quarta coluna).

Convidou para a exibição do filme Estruturas metálicas do prédio da UNESCO, no Departamento de Habitação Popular, do qual era diretora (Correio da Manhã, 30 de outubro de 1957, primeira coluna).

Ela, Reidy e outros arquitetos ofereceram um almoço ao arquiteto alemão naturalizado norte-americano Mies Van Der Hohe (1886 – 1969), pioneiro da arquitetura moderna e ex-professor da Bauhaus, em visita ao Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 7 de dezembro de 1957).

 

 

Era uma das diretoras do MAM-RJ que convidavam para a abertura da exposição Coelção Fleischmann, de arte norte-americana (Tribuna da Imprensa, 17 de dezembro de 1957, segunda coluna).

1958 - Inauguração, em 27 de janeiro, do Bloco Escola do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, no Aterro do Flamengo, com uma exposição permanente de seu acervo, uma mostra do inglês Ben Nicholson (1894 – 1982) e uma de escultores ingleses. O projeto do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909 – 1964) é reconhecido internacionalmente como um marco da arquitetura moderna mundial. Seus jardins são de autoria de Roberto Burle Marx (1909 – 1994), que também integrou a equipe que realizou alguns anos depois o paisagismo do Parque Flamengo, contíguo ao museu  (Última Hora, 4 de janeiro de 1958, primeira colunaCorreio da Manhã, 5 de janeiro de 1958Correio da Manhã, 28 de janeiro de 1958Última Hora, 28 de janeiro de 1958, quarta colunaO Jornal, 30 de janeiro de 1958, última coluna).

 

 

Na edição de 26 de janeiro do Correio da Manhã, publicação de diversos artigos sobre o assunto, dentre eles, Características da construção do museu, de autoria de Carmen. O arquiteto Reidy, opaisagista Burle Marx, o professor Carlos Flexa Ribeiro (1914 – 1991) e o crítico de cinema Antônio Augusto Moniz Vianna (1924 – 2009) assinaram outros artigos.

 

 

 

Por nomeação do então prefeito do Rio de Janeiro, Francisco Negrão de Lima (1901 – 1991), ela, o professor José Maria Arantes (1915 – 1997) e Reinaldo Reis, Chefe do Gabinete do Prefeito, passaram a integrar o Conselho Fiscal da Fundação Leão XIII (Última Hora, 31 de janeiro de 1958, quarta coluna).

Foi homenageada por seus 10 anos à frente do Departamento de Habitação Popular da Prefeitura do Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 11 de fevereiro de 1958, terceira colunaJornal do Brasil, 12 de fevereiro de 1958).

 

 

Participou da inauguração da exposição de Candido Portinari (1903 – 1962) na nova sede do MAM-RJ (Correio da Manhã, 24 de abril de 1958).

Manifestou-se a favor da política educacional implementada pelo professor Anisio Teixeira, diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos – INEP – e criador e primeiro dirigente da Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, atual CAPES (Última Hora, 2 de maio de 1958, quinta coluna).

Inauguração da Escola Pública Francisco Sertório Portinho, em homenagem ao pai de Carmen, que havia sido funcionário da prefeitura do Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 10 de maio de 1958, primeira coluna).

Falecimento da mãe de Carmen, Maria Velasco Portinho (1877 – 1958), conhecida como Mamita (Correio da Manhã, 17 de julho de 1958, penúltima coluna).

 

 

Participou em Haia, na Holanda, do Seminário de Habitação e Urbanismo, a convite da Associação Internacional de Habitação e Urbanismo. Depois seguiu para o Congresso de Habitação de Urbanismo, em Liège, e para a Feira Internacional em Bruxelas (Jornal do Brasil, 17 de agosto de 1958, quinta coluna).

1959 – Reidy projetou a casa de campo dos dois, no Vale do Cuiabá, em Itaipava.

 

Era a tesoureira da União Universitária Feminina quando a associação comemorou 30 anos de existência. Foi sua fundadora e primeira presidente (Jornal do Brasil, 11 de janeiro de 1959, segunda coluna).

Foi usada como exemplo na matéria Alforria para a mulher casada (Manchete, 25 de abril de 1959).

 

 

Em maio, inauguração do Ateliê Livre de Gravura no MAM com um curso ministrado pelo gravador franco-alemão Johnny Friedlaender (1912-1992). Carmen foi uma das maiores incentivadoras da criação deste departamento, dirigido por Edith Behring por cerca de 10 anos. Teve como assistentes Rossini Perez e Anna Letycia, dentre outros. Reuniu nomes como Fayga Ostrower, Maria Bonomi e Thereza Miranda.

Presidiu, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, a comissão julgadora do melhor cartaz do Dia do Papai, promovido pelo sindicato de Lojistas do Comércio do Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 10 de junho de 1959, quarta colunaCorreio da Manhã, 28 de junho de 1959, primeira coluna).

Estava presente ao almoço  – que inaugurou a cantina do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – oferecido ao escritor e ministro da Cultura da França, André Malraux (1901 – 1976) (Correio da Manhã, 29 de agosto de 1959, primeira coluna).

1960 – Apoiou a candidatura de Sérgio Magalhães (1916 – 1991), do PTB, ao governo da Guanabara. Ele foi derrotado por Carlos Lacerda (1914 – 1977), da UDN, nas eleições realizadas em 3 de outubro. Ele era casado com uma das irmãs de Carmen, Maria de Lourdes (c. 1918 – 1962) (Última Hora, 29 de setembro de 1960, penúltima coluna).

1961 – Carmen foi substituida no Departamento de Habitação Popular pelo engenheiro Stelio Emmanuel de Alencar Roxo (1925 – ?), nomeado por Carlos Lacerda (1914 – 1977), que havia sido empossado no governo da Guanabara, em 5 de dezembro de 1960. Carmen tinha divergências políticas irreconciliáveis com Lacerda. Aposentou-se do serviço público (Diário Carioca, 4 de janeiro de 1961, quinta coluna).

Ela e Reidy se encontraram com o casal Paulo Bittencourt (1895 – 1963), dono do jornal Correio da Manhã, e Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1916 – 2003), em Paris. Niomar havia deixado há pouco tempo o cargo de diretora executiva do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Última Hora, 20 de junho de 1961, quinta colunaDiário de Notícias, 30 de junho de 1961, última coluna).

Tomou posse como Conselheira da Fundação Casa Popular (Correio da Manhã, 2 de julho de 1961, sexta coluna).

Gustavo Capanema (1900 – 1985) passou a ser o presidente do MAM-RJ, substituindo o embaixador Maurício Nabuco (1891 – 1979). Carmen continuou como diretora executivva adjunta (Correio da Manhã, 16 de julho de 1961, sexta coluna).

Ela, Aldo Calvo (1906 – 1991), Giselda Leiner (1928 – ) e José Geraldo Vieira (1897 – 1977) formavam o júri do Concurso Nacional de Desenho para Jóias, promovido pela H. Stern (Correio Paulistano, 7 de novembro de 1961, segunda coluna).

Integrava a comissão julgadora das obras apresentadas na I Exposição de Arte Decorativa, realizada no Clube de Engenharia (Tribuna da Imprensa, 13 de dezembro de 1961, segunda coluna).

1962 – Em missão cultural embarcou para a Europa, onde visitaria a Grécia, a Suíça, a Itália, a Alemanha e a França (A Noite, 18 de outubro de 1962, quinta coluna).

1963 – Carmen falou em entrevista sobre os 12 dias que passou no Egito (Correio da Manhã, 18 de janeiro de 1963, quarta coluna).

Fazia parte do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Museologistas (Diário de Notícias, 13 de novembro de 1963, terceira coluna).

Integrava o júri da Primeira Bienal Americana de Gravura, realizada em santiago, no Chile. Na ocasião, Edith Behring (1916 – 1996), professora de gravura do MAM-RJ e do Museu de Belas Artes, foi a grande premiada do evento (Correio da Manhã, 24 de novembro de 1963, primeira colunaDiário de Notícias, 27 de novembro de 1963, segunda colunaO Jornal, 13 de dezembro de 1963, sexta coluna).

1964 – Falecimento de seu marido, Affonso Eduardo Reidy, em 10 de agosto de 1964, de câncer (Correio da Manhã, 11 de agosto de 1964, última coluna; A Tribuna (SP), 16 de agosto de 1964).

 

 

Fazia parte da delegação brasileira, chefiada por Flávio Lacerda (1903 – 1983), ministro da Educação, que participou em Assunção, no Paraguai, da inauguração do Colégio Experimental Paraguai Brasil, projeto de Reidy (Diário de Notícias, 4 de setembro de 1964, quarta colunaCorreio da Manhã, 5 de setembro de 1964, primeira colunaCorreio da Manhã, 20 de setembro de 1964, primeira coluna).

 

 

1965 - Carmen empenhou-se para a realização, entre 12 de agosto e 12 de setembro, no MAM-RJ, da exposição Opinião 65, proposta pelos marchands Ceres Franco (1926 -) e Jean Boghici (1928 – 2015). A mostra, que chamou a atenção para uma nova geração de artistas, que incluía Hélio Oiticica (1937 – 1980), que mostrou seus parangolés;  Rubens Gershman (1942 – 2008), Antônio Dias (1944 – ), Carlos Vergara (1941 – ) e Ivan Serpa (1923 – 1973), integrou as comemorações do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro.

No Peru, Carmen realizou várias palestras em torno da obra de Reidy, em exposição em Lima, sob o patrocínio da Faculdade de Arquitetura e do Colégio de Arquitetos do Peru (Jornal do Brasil, 17 de agosto de 1965, penúltima coluna).

Estava presente na inauguração da Exposição Arquitetura Atual da América, em Madri, na Espanha. Também visitou Barcelona (Correio da Manhã, 9 de dezembro de 1965, segunda coluna).

As obras brasileiras apresentadas na II Bienal de Gravura em Santiago, no Chile, foram selecionadas por Carmen e ganharam três prêmios – Roberto De Lamonica (1933 – 1995) e Luiz Arthur Piza (1928 – ) conquistaram os prêmios Eduardo Frei e Instituto Extensão em Artes Plásticas, respectivamente; e o conjunto brasileiro recebeu o prêmio Sociedade amigos do Museu de ARte Contemporânea (O Jornal, 17 de de dezembro de 1965, primeira coluna).

Deu uma entrevista para a coluna “Itinerário das Artes Plásticas”, de Jayme Maurício (1926 – 1997), acerca das obras no Aterro do Flamengo (Correio da Manhã, 25 de dezembro de 1965).

1966 - Foram iniciadas, em 15 de fevereiro de 1966, sob a supervisão de Carmen, as obras do Bloco de Exposições do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que foi inaugurado em 29 de outubro de 1967, com uma exposição retrospectiva de Lasar Segal (1889 – 1957) (Diário de Notícias, 4 de março de 1966, primeira colunaCorreio da Manhã, 13 de março de 1966, penúltima colunaCorreio da Manhã, 31 de outubro de 1967).

Esteve na Argentina como comissária da Exposição de Artistas Brasileiros Contemporâneos, realizada no Museu de Arte Moderna de Buenos Aires. Quando regressou, foi homenageada pela diretoria do MAM-RJ com um almoço (O Jornal, 28 de abril de 1966, primeira coluna).

Em 27 de abril viajou para os Estados Unidos como convidada do programa de intercâmbio educativo e cultural do Departamento de Estado norte-americano. Foi homenageada com um jantar oferecido pela escultora Irene Amar, em Nova YorkRegressou ao Brasil, em 26 de junho (Correio da Manhã, 1º de maio de 1966, . terceira colunaCorreio da Manhã, 24 de junho de 1966, primeira colunaO Jornal, 26 de junho de 1966, terceira colunaTribuna da Imprensa, 1º de julho de 1966, primeira colunaO Cruzeiro, 9 de agosto de 1966, segunda coluna).

Apresentou-se um programa da TV Continental, produzido por Wilma Luchesi (O Jornal, 17 de julho de 1966, quinta coluna).

Realizou uma exposição sobre a obra de Le Corbusier (1887 – 1965), no MAM-RJ, com a colaboração de Charlotte Perriand (1903 – 1999), designer e ex-colaboradora do arquiteto. Na época, morava no Rio de Janeiro porque seu marido, Jacques Martin, era o representante da Air France no Brasil(Jornal do Brasil, 1º de agosto de 1966).

Foi reeleita para o cargo de diretora executiva adjunta do MAM-RJ, para um período de cinco anos (Correio da Manhã, 3 de agosto de 1966, primeira coluna).

O deputado Carvalho Neto propôs que ela recebesse o título de Cidadã do Estado da Guanabara (O Jornal, 18 de setembro de 1966, primeira coluna).

Em 8 e 9 de setembro, respectivamente o presidente e o vice-presidente do Museu de Arte Moderna, Gustavo Capanema (1900 – 1985) e João Carlos Vital (1900 – 1984) pediram demissão. A crise no museu foi ocasionada pelo convite feito ao então ministro das Relações Exteriores, Juracy Magalhães (1905 – 2001), para visitar o museu na ocasião da exposição do artista português Bernardo Marques (1898 – 1962). Juracy era um desafeto de Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1916 – 2003), então presidente de honra do museu. Em 27 de setembro foi realizada uma reunião do Conselho Deliberativo e por aclamação foi eleita uma nova diretoria. Assim, após 15 anos, Carmen Portinho deixou o cargo de diretora executiva adjunta do MAM-RJ, que exerceu desde 1951. Por não concordarem com esta resolução, os conselheiros Raymundo de Castro Maya (1894 – 1968), Rodrigo de Mello Franco (1898 – 1969) e Leonídio Ribeiro pediram demissão  (Correio da Manhã, 9 de setembro de 1966, primeira colunaCorreio da Manhã, 29 de setembro de 1966Jornal do Brasil, 14 de setembro de 1978, quinta colunaJornal do Brasil, 8 de julho de 1979).

 

 

Por seus 15 anos como diretora executiva adjunta do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, foi homenageada por seus amigos, no restaurante Casa Grande, e recebeu outra homenagem no MAM-RJ (O Jornal, 5 de outubro de 1966, primeira colunaO Cruzeiro, 9 de outubro de 1966).

 

 

Ela e o crítico de arte Clarival do Prado Valladares (1918 – 1983) foram os responsáveis pela escolha da representação brasileira da III Bienal de Córdoba, na Espanha, quando os artistas Abrahan Palatnik (1928 – 2020) e João Câmara (1944 – ) foram premiados. Em matéria publicada no Jornal do Brasil de 26 de outubro de 1966, Clarival revelou que o transporte das obras brasileiras foi pago por Carmen com dinheiro doado por amigos, que exigiram sigilo. A pedido do jornalista Alberto Dines (1932 – 2018), Carmen atuou também, durante o evento, como correspondente do Jornal do Brasil. Paralelamente à Bienal, foi realizada o II Salão Universitário de Gravura, em Buenos Aires, do qual Carmen fazia parte do júri (O Cruzeiro, 3 de dezembro de 1966).

1967 - Foi a orientadora artística da matéria Em Belo Horizonte, inauguração do XXI Salão Municipal de Belas-Artes, de José Franco com fotografias de Luis Alfredo (O Cruzeiro, 11 de fevereiro de 1967).

Foi convidada pelo então governador da Guanabara, Francisco Negrão de Lima (1901 – 1981), para ser diretora da Escola Superior de Desenho Industrial – Esdi –, cargo que exerceu por 20 anos. A Esdi havia sido criada pelo Decreto 1.443, de 25 de dezembro de 1962, e publicado no Diário Oficial do Estado da Guanabara de 4 de janeiro de 1963, durante a gestão do governador Carlos Lacerda (1914 – 1977). Foi instalada à Rua Evaristo da Veiga 95, estendendo-se o terreno até a Rua do Passeio, onde tem o nº 80. Iniciou suas atividades de ensino em 1963, como instituição isolada, pertencente à estrutura da Secretaria de Educação e Cultura da Guanabara. Dada à fusão dos estados do Rio de Janeiro e Guanabara, foi integrada pelo decreto n°67, de 11 de abril de 1975, à nascente UERJ, antiga UEG (O Jornal, 1º de abril de 1967, quinta coluna; O Jornal, 11 de abril de 1967, primeira coluna; Leitura, agosto de 1967; Jornal do Brasil, 26 de setembro de 1977, primeira coluna).

 

 

Como diretora da Escola Superior de Desenho Industrial, a Esdi, comentou o entusiasmo dos alunos (A Cigarra, maio de 1967).

 

 

Fez parte do júri que escolheu a decoração para o baile de carnaval do Teatro Municipal de 1968 (Correio da Manhã, 30 de dezembro de 1967, sexta coluna).

Por sugestão de Mario Pedrosa (1900 – 1981), passou a fazer parte da Associação Brasileira de Críticos de Arte.

1968 – Publicação da matéria Carmen Portinho e seus sete instrumentos, de Carlos Calcalcanti com fotos de Sérgio Rocha (O Cruzeiro, 10 de fevereiro de 1968).

 

 

Na Esdi, inauguração da exposição O artista brasileiro e a iconografia de massa, organizada pelo Diretório Acadêmico da escola com a colaboração do professor e crítico de arte Frederico Moraes (1936 – ) (O Jornal, 18 de abril de 1968, segunda coluna).

1969 – Matéria publicada sobre a Esdi questionava o motivo da escola não ser reconhecida oficialmente pelo Ministério da Educação. Em outubro de 1969, o Conselho Federal de Educação aprovou o currículo mínimo da escola (Jornal dos Sports, 27 de abril de 1969Jornal dos Sports, 24 de outubro de 1969).

Fazia parte do Conselho de Cultura da Revista GAM – Galeria de Arte Moderna – , lançada em dezembro de 1966 e editada por Claudir Chaves, jornalista e crítico de arte (Jornal do Brasil, 26 de janeiro de 1969Manchete, 21 de junho de 1969).

Viajou à Brasília (Correio Braziliense, 12 de julho de 1969, última colunaCorreio Braziliense, 24 de julho de 1969, primeira coluna).

Publicação de um artigo de sua autoria O carioca Mavignier , sobre o artista plástico Almir Mavignier (1925 – 2018) que participaria da 10ª Bienal de São Paulo (Jornal do Brasil, 27 de setembro de 1969).

1970 – Integrou o júri que votou do Resumo da Arte, promovido pelo Jornal do Brasil . Os críticos votavam nas exposições que consideraram as mais importantes do ano anterior (Jornal do Brasil, 20 de fevereiro de 1970).

Fazia parte do júrio do Prêmio Simonsen da Feira Nacional de Utilidades Domésticas (Correio da Manhã, 1º de abril de 1970, terceira coluna).

Sob sua direção a Esdi foi oficializada pelo Conselho Nacional de Educação (Jornal dos Sports, 20 de maio de 1970, primeira coluna).

Foi homenageada como uma das Dez Mulheres do Ano pelo Conselho Nacional de Mulheres do Brasil (Diário de Notícias, 13 de dezembro de 1970, primeira coluna).

1971 – Ela, Walmir Ayala (1933 – 1991) e  Clarival do Prado Valadares (1918 – 1983) compunham o júri do Salão de Veraõ do JB (Jornal do Brasil, 13 de fevereiro de 1971).

1972 – Jayme Maurício (1926 – 1997) escreveu sobre os 10 anos de existência da Esdi, dirigida desde 1967 por Carmen (Correio da Manhã, 30 de abril de 1972).

Fazia parte da Comissão Organizadora da Copa Independência, mostra de arte promovida pela Comissão Nacional das Comemorações do Sesquicentenário (Jornal do Brasil, 8 de abril de 1972, terceira colunaCorreio da Manhã, 23 de junho de 1972).

Esteve em Moscou (Diário de Notícias, 29 de julho de 1972, última coluna).

1974 – A Comissão de Críticos de Arte da Bienal de São Paulo era composta por ela, Liseta Levy, Rhada Abramo (1934 – 2013), Wolfgang Pfeifer (1912 – 2003) e Walmir Ayala (1933 – 1991) (Jornal do Brasil, 27 de maio de 1974, última coluna).

1976 – Era a vice-presidente da chapa de José Roberto Teixeira Leite (1930-) que concorreu à nova Diretoria da Associação Brasileira de Críticos de Arte. A chapa vencedora era formada por Carlos Flexa Ribeiro (1914 – 1991) e Clarival do Prado Valadares (1918 – 1983), presidente e vice-presidente, respectivamente (Jornal do Brasil, 5 de abril de 1976, segunda colunaJornal do Brasil, 17 de maio de 1976, segunda coluna).

1977 - Foi uma das personagens de uma matéria sobre a Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas (Manchete, 3 de dezembro de 1977).

1978 – Participou do júri que escolheu o projeto da sede da Radiobras, em Brasília (O Cruzeiro, 21 de janeiro de 1978, segunda coluna).

Quando o Museu de Arte Moderna pegou fogo, em julho, estava em Paris com seu irmão José e sua cunhada Norma (Jornal do Brasil, 9 de julho de 1978).

Integrava o juri que escolheu uma escultura em bronze de autoria de Mario Agostinelli (1915 – 2000) como troféu do prêmio Golfinho de Ouro (Tribuna da Imprensa, 27 de novembro de 1978, primeira coluna).

1979 – Protestou contra a colocação de telha de alumínio no pavilhão de exposições do museu, classificando-a de ser ridícula e de também ser um “desrespeito à obra do arquiteto Affonso Eduardo Reidy” (Jornal do Brasil, 6 de março de 1979, penúltima coluna). O embaixador Hugo Gouthier (1909 – 1992) presidia a Comissão de Reconstrução.

1980 – Foi uma das signatárias do documento Por um MAM para a cidade do Rio de Janeiro (Jornal do Brasil, 10 de junho de 1980, quarta coluna).

1982 - Inaugurou o ciclo de palestras realizado pelo Museu Nacional de Belas Artes, Aspectos da Criatividade Humana – Uma introdução à Historia da Arte, falando sobre Desenho e Indústria (Jornal do Brasil, 2 de julho de 1982, segunda coluna).

1985 – Exposição do fotógrafo Ademar Manarini (1920 – 1989) no espaço de exposição criado na Esdi, sob a curadoria de Carmen (Manchete, 14 de dezembro de 1985, segunda coluna).

1986 – Carmen conseguiu unanimidade na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro na contestação do veto do prefeito Saturnino Braga (1931 – ) ao projeto de preservação da área ocupada pela Esdi, impedindo o despejo da escola (Jornal do Commercio, 6 de julho de 1986, sexta coluna).

1987 Foi convidada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CDNM) a entregar ao presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães (1916 – 1992), ao lado de outras mulheres, a Carta das Mulheres aos constituintes, com propostas para a Constituição que estava sendo escrita (Correio Braziliense, 27 de março de 1987, segunda coluna).

1988 - Foi convidada para trabalhar como assessora do Centro de Tecnologia e Ciências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Recebeu o Prêmio Gonzaga Duque, da Associação Brasileira de Críticos de Arte, destinado a crítico associado, pela sua atuação ou publicação de livro. O troféu é uma escultura de Haroldo Barroso (1935 – 1989).

Foi eleita presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte, cargo que ocupou até 1990, quando foi substituída por Esther Emilio Carlos (Jornal do Commercio, 3 de outubro de 1988, quinta colunaJornal do Commercio, 3 de outubro de 1990, quarta coluna).

1991 – Passou a fazer parte da Comissão Técnica de Arte da Bienal Internacional de São Paulo (Jornal do Commercio, 22 de fevereiro de 1991, quinta coluna).

1993 – Carmen Portinho, então a mais antiga engenheira do Brasil, coordenava as unidades do Centro de Tecnologia e Ciências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (O Globo, 27 de abril de 1993).

1999 – Lançamento dos livros Carmen Portinho, de autoria de Ana Luiza Nobre; e de Carmen Portinho – por toda a minha vida, um depoimento dela a Geraldo Edson de Andrade (Jornal do Brasil, 24 de novembro de 1999, terceira colunaJornal do Brasil, 18 de dezembro de 1999, última coluna).

Continuava trabalhando como consultora do Centro de Tecnologia e Ciências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro

2001 – Faleceu no dia 25 de julho de 2001, aos 98 anos (Jornal do Brasil, 26 de julho de 2001).

2009 – Lançamento do documentário Reidy, a construção da utopia, dirigido por Ana Maria Magalhães (1950 – ), filha de Maria de Lourdes (c. 1918 – 1962), irmã de Carmen, com o político Sérgio Magalhães (1916 – 1991). O filme trazia depoimentos de Carmen.

2019 – Foi homenagem com a declaração do Ano Institucional Carmen Portinho da UERJ.
*A pesquisa não encontrou informação sobre o êxito ou não da outra aluna, Déa Torres Paranhos, que defendeu a tese Grande composição apresentando projetos de melhoramentos na Cidade do Rio de Janeiro (Gazeta de Notícias, 14 de dezembro de 1938, terceira coluna). No livro Carmen Portinho, por toda a minha vida, Carmen informou que Déa “acabou não frequentando o curso“. 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ANDRADE, Geraldo Edson; PORTINHO, Carmen. Por toda a minha vida. Rio de Janeiro : UERJ, 1999.

Cavalcanti, Lucas. Conhecendo Tilde Canti. Rio de Janeiro ; UFRJ, 2020

DEL PRIORE, Mary (Org.). História das mulheres no Brasil. Coordenação de textos de Carla Bassanesi. São Paulo: Contexto, 1997

DEL PRIORI, Mary. História e conversas de mulher. São Paulo: Planeta Brasil, 2014

Filme Reidy, a construção da utopia (2009), de Ana Maria Magalhães

Filme Carmen Portinho e a UERJ (2019) / Programa Campus – TV UERJ

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

HEYNEMANN, Claudia; RAINHO, Maria do Carmo. Memória das lutas feministas in Brasiliana Fotográfica, 8 de agosto de 2017.

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro

NASCIMENTO, Flávia de Brito do. Carmen Portinho e o habitar moderno – Teoria e trajetória de uma urbanista. R. B. Estudos Urbanos e regionais v.9, Nn.1 / maio 2007

NOBRE, Ana Luiza. Carmen Portinho. Rio de Janeiro : Relume Dumará, 1999

PINTO, Celi Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo (coleção história do povo brasileiro) 2003.

Portal Câmara dos Deputados

Portal MultiRio

Portal Senado Federal

Revista Brasileira de Enfermagem, volume 55, nº 3. Brasília jan/fev de 2002

Revista Casa Claudia, 22 de agosto de 2017

Revista Projeto, junho de 1988

Revista Vitruvius, janeiro de 2007agosto de 2001

SERRANO, Cinthia Lobato. Arquitetura e Gênero: o resgate de pioneiras no cenário profissional. Dissertação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense, 25 de março de 2013.

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital (organizadores). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2000.

SILVA, Raquel Coutinho M. da. Carmen Portinho: engenheira da prefeitura do Distrito Federal, difusora do urbanismo e uma feminista avant-gardeRevista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.

Site ArqFashion

Site Bienal de São Paulo

Site Casas Brasileiras

Site CPDOC

Site Cronologia do Pensamento Urbanístico

Site Democracia e Mundo do Trabalho

Site Esdi

Site Mulher 500 anos atrás dos panos

Site Unifei

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

Série “Feministas, graças a Deus” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil

A advogada e sindicalista alagoana Almerinda Farias Gama (1899 – 1999) foi uma das primeiras mulheres negras a atuar na política brasileira numa época em que tanto o machismo como o racismo eram ainda mais presentes na sociedade brasileira do que são hoje. Nasceu em Maceió, em 16 de maio de 1899, passou parte da infância no Pará, onde escreveu para o jornal A Província e formou-se em datilografia. Foi para o Rio de Janeiro, em fevereiro de 1929, quando descobriu que o salário de datilógrafas mulheres eram bem menores do que o dos homens.

 

 

“A inteligência não tem sexo”

 

Assim que chegou à cidade, filiou-se à Federação Brasileira pelo Progresso da Mulher (FBPM), presidido por Bertha Lutz (1894 – 1976), e iniciou sua luta pela emancipação da mulher, especialmente pelo voto feminino, que para ela uma arma que nós tínhamos para poder ingressar no recinto onde se discutia esses assuntos. Tornou-se uma das pioneiras na história do feminismo brasileiro. Leitora assídua, inspirou-se em grandes mulheres do passado para sua luta pelos direitos femininos.

 

 

Foi de Bertha a ideia de criar, em 1931, o Sindicato dos Datilógrafas e Taquígrafas, reconhecido em 1933, associação da qual Almerinda tornou-se a primeira presidente. Em junho de 1931, Almerinda participou do II Congresso Internacional Feminista, no Automóvel Club, no Rio de Janeiro, organizado pela FBPM.

 

“Eu sempre, por instinto, me revoltei contra a desigualdade de direitos entre homem e mulher”

 

Em 20 de julho de 1933, indicada pelo Sindicato das Datilógrafas e Taquígrafas, como delegada sindical, votou na escolha da bancada classista para a Assembléia Nacional Constituinte de 1934, tendo sido a única representante feminina presente. Compareceu com uma máquina de escrever com a qual, durante a votação, confecciou numerosas chapas para os colegas que as solicitavam. Ainda em 1933, um manifesto de autoria de Bertha Lutz (1894 – 1976) e assinado por ela, por Carmen Portinho (1903 – 2001), pela tradutora Lina Hirsh e pela advogada Maria Luisa Dória de Bittencourt (1910 – 2001) foi apresentado à seção de Legislação da Conferência Nacional de Proteção à Infância. Estava à frente do movimento de renovação cívica Ala Moça do Brasil, uma associação de cunho social e político, instalado em 28 de novembro de 1933, na sede da Ordem Mystica do Pensamento. Na época era bacharelanda de Direito.

Em 18 de fevereiro de 1934, foi inaugurado o Ginásio Almerinda Gama, educandário dirigido por Laurentino Garrido, na rua Maria Emília, nº 50, em São João do Meriti. Foi batizado em homenagem à Almerinda, responsável por uma infatigável agitação das causas do ensino. Ainda em 1934, foi uma das feministas que enviou à Assembleia Nacional o pedido de voto para artigos da futura Constituição que contemplavam os direitos da mulher.

Foi uma das dirigentes do Partido Socialista Proletário do Brasil, fundado em agosto de 1934. Foi candidata à deputada pela legenda Decreto ao Direito ao Trabalho (Congresso Master) nas eleições para a Câmara de Deputados e para o Senado, realizadas em outubro de 1934, mas não foi eleita.

No panfleto de Almerinda, lia-se:

Advogada consciente dos direitos das classes trabalhadoras, jornalista combativa e feminista de ação. Lutando pela independência econômica da mulher, pela garantia legal do trabalhador e pelo ensino obrigatório e gratuito de todos os brasileiros em todos os graus“.

 

almerinda3

 

Era também poetisa e participava de saraus no Studio Eros Volusia, boite da rua São José, onde tantas figuras do nosso meio artístico têm recebido os aplausos da elite carioca. Também se apresentou como atriz. Foi professora e tradutora de francês, inglês e espanhol. Publicou, em 1942, o livro de poesias Zumbi, no qual também foi a responsável pelas ilustrações. Em 1943, foi contratada como escrevente do 9º Ofício de Notas, onde trabalhou até 1967. Era a tesoureira da diretoria do Curso Popular Chiquinha Gonzaga, em 1947. Em 1956, trabalhava no jornal O Dia e foi uma das dirigentes dos trabalhos realizados na instalação da Comissão de apoio à Conferência de Mulheres Trabalhadoras, na Associação Brasileira de Imprensa. Em 1992, gravou uma pequena entrevista para a organização feminista ComMulher.

Sua data de morte era até pouco tempo desconhecida e foi revelada pela pesquisa realizada por Patrícia Cibele Tenório para a elaboração de sua dissertação de Mestrado em História, no Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade de Brasília, A trajetória de vida de Almerinda Farias Gama (1899-1999) – feminismo, sindicalismo e identidade política (2020): Almerinda faleceu em 31 de março de 1999, em São Paulo.

 

Cronologia de Almerinda Farias Gama (1899 – 1999)

 

 

1899 – Almerinda Farias Gama nasceu em Maceió, em Alagoas, em 16 de maio de 1899, filha de José Antônio Gama, dono de casas proletárias, e de Eulália da Rocha Gama, dona de casa. Tinha um irmão, o jornalista José da Silva Gama (c. 1891 – 1941) e uma irmã, mais velha do que ela, cerca de dois anos.

c. 1907 – Ficou órfã e, aos oito anos, foi morar com uma tia no Pará. Ficou nove anos sem frequentar nenhuma escola, período em que sua tia a ensinou prendas domésticas, como corte e costura, e música.

c. 1920 – Quando pode receber a herança de seu pai, voltou a estudar, mas já no segundo ano do curso de datilografia custeava seus estudos como monitora. Frequentou a Escola Prática de Comércio, em Belém, e tornou-se datilógrafa profissional (Estado do Pará, 11 de junho de 1920, quarta coluna). Escrevia crônicas para o jornal A Província (PA). 

1923 – Casou-se, em março, com um primo, o poeta e escritor Benigno Farias Gama (c. 1897 – 1925), que contribuia para vários periódicos paraenses, autor dos livros Epopeia acreana e Águas e selvas, dentre outros. Com ele teve um filho, que faleceu de doença não identificada, entre esse ano e 1925.

1925 – Benigno morreu, em 1925, de tuberculose (O Paiz, 20 de dezembro de 1925, quinta coluna).

1929 - Quando descobriu que o salário de datilógrafas mulheres era um terço do que o pago aos homens, mudou-se, em fevereiro, para o Rio de Janeiro.

1930 – Iniciou seu ativismo feminista, filiando-se à Federação Brasileira pelo Progresso da Mulher (FBPM), presidido pela bióloga Bertha Lutz (1894 – 1976). Integrou a comissão organizadora de uma homenagem da associação ao governador do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine de Faria (1874 – 1956) (A Gazeta, 2 de julho de 1930, quarta coluna).

Recitou poesias na inauguração do Centro de Sócias da FBPM (O Paiz, 17 de setembro de 1930, penúltima coluna).

Publicação da Carta aberta ao senhor Humberto de Campos, de sua autoria, onde questionava o voto contrário do escritor e político ao ingresso das mulheres na Academia Brasileira de Letras (O Jornal, 6 de março de 1930, primeira coluna).

Inaugurou a sessão Perspectivas, dentro  da coluna “Para a mulher no lar”, dirigida por Sylvia Serafim (1902 – 19936), em O Jornal. Sylvia havia assassinado o jornalista Roberto Rodrigues (1906 – 1929), na redação do jornal a Crítica, em 26 de dezembro de 1929. O estopim do crime foi a publicação na primeira página do jornal da notícia do pedido de seu desquite do médico João Thibau Júnior, com quem Silvia tinha dois filhos, acompanhado de um desenho. O jornal a acusava de estar tendo um caso com o médico Manuel Dias de Abreu (1894 – 1962), futuro inventor da abreugrafia. Foi absolvida em agosto de 1930 pelo advogado Clóvis Dunshee de Abranches, de quem Almerinda seria secretária. Em sua crônica inaugural, Almerinda escreveu sobre o caso de uma esposa que depois de seis meses de casamento, por não aguentar os maus tratos do marido, havia se incendiado (O Jornal, 4 de maio de 1930, terceira coluna).

Publicação de seu poema, A Nossa História (O Jornal, 22 de junho de 1930).

 

 

Em suas crônicas na seção Perspectivas, de O Jornal, comentou um caso de incesto seguido de infanticício, do suicídio de uma mulher, a não candidatura de Maria de Lourdes Lamartine à Câmara, dentre outros assuntos (O Jornal, 13 de julho de 1930, terceira coluna; O Jornal, 20 de julho de 1930, terceira coluna; O Jornal, 3 de agosto de 1930, terceira  coluna; O Jornal, 12 de outubro de 1930, terceira coluna; O Jornal, 19 de outubro de 1930, terceira coluna; O Jornal, 2 de novembro de 1930, terceira coluna; O Jornal, 26 de abril de 1931, terceira coluna).

Publicação de um pequeno perfil de Almerinda (O Jornal, 21 de dezembro de 1930).

Publicação de uma pequena crônica de sua autoria, Films do écran e da plateia (A Esquerda, 6 de dezembro de 1930, segunda coluna). No mesmo jornal, publicou o artigo Cultura Feminina, no qual critica a falta de estímulo, no Brasil, para a publicação de livros escritos por mulheres; e também a posição da Academia Brasileira de Letras que, alegando tradição, não aceitava mulheres (A Esquerda, 13 de dezembro de 1930, penúltima coluna).

Acompanhou a escritora Sylvia Serafim (1902 – 1936) em uma viagem à Belo Horizonte (A Esquerda, 18 de dezembro de 1930, quarta coluna).

Foi publicado na edição de dezembro da Revista A.E.C, da Associação dos Empregados do Comércio, um artigo de sua autoria, A doutrina de Malthus (Correio da Manhã, 27 de dezembro de 1930, segunda coluna).

1931 – Por ideia de Bertha Lutz (1894 – 1976), criação do Sindicato dos Datilógrafas e Taquígrafas, do qual Almerinda foi a primeira presidente.

 

Trabalhava como auxiliar no 9º Cartório, na rua do Rosário (Almanak Laemmert, 1931).

Publicou o artigo Cartas sem endereço (O Jornal, 11 de janeiro de 1931, terceira coluna).

Ela e Sylvia Serafim (1902 – 1936) foram entrevistadas pelo jornal A Batalha. Em pauta, a concessão de direitos políticos da mulher (A Batalha, 13 de março de 1931, primeira coluna).

Suas observações acerca da moda foram citadas no artigo No império da moda (O Jornal, 29 de março de 1931, primeira coluna).

Publicação de seu poema Da tristeza que mora nos meus olhos (O Jornal, 12 de abril  de 1931A Batalha, 19 de abril de 1931).

 

 

Foi uma das filiadas da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino que encantaram com belos números de arte as participantes da celebração do Dia do Trabalho, organizado pela associação (A Noite, 4 de maio de 1931, primeira coluna).

Publicação de seus poemas Moderna afronta e Felicidade (O Jornal, 17 de maio de 1931, penúltima coluna; O Jornal, 31 de maio de 1931, prenúltima coluna).

Em junho, participou do II Congresso Internacional Feminista, no Automóvel Club, no Rio de Janeiro, organizado pela FBPM (O Jornal, 19 de junho de 1931, primeira coluna; Correio da Manhã, 24 de junho de 1931, primeira colunaO Malho, 27 de junho de 1931O Malho, 11 de julho de 1931Vida Doméstica, agosto de 1931). Com um grupo de senhoras que participavam do encontro, foi visitar a Usina de Ribeirão das Lajes, a convite da Rio de Janeiro Light & Power. Depois, visitaram a Maternidade Suburbana, em Cascadura (Jornal do Commercio, 30 de junho de 1931, última coluna).

Publicação do conto Tatuagem, de sua autoria (O Jornal, 6 de setembro, segunda colunaRevista da Semana, 12 de setembro de 1931).

Cartões ilustrados com versos da poetisa  Almerinda Gama e de outros nomes em evidência nos meios literários foram distribuídos como propaganda da Suipa, Sociedade União Infantil Protetora dos Animais. Na reunião organizadora dessa associação, realizada na Federação Brasileira pelo Progresso da Mulher, Almerinda foi eleita secretária da diretoria provisória (A Esquerda, 7 de setembro de 1931, quinta coluna).

Trabalhava como secretária no escritório do advogado Clóvis Dunshee de Abranches (Jornal do Brasil, 16 de setembro de 1931, quarta coluna).

Foi a responsável pela leitura na Rádio Sociedade nos cinco minutos feministas de um texto de autoria de Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886-1963), vice-presidente da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (Diário de Notícias, 23 de setembro de 1931, terceira coluna).

1932 O Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, instituiu o Código Eleitoral Provisório e reconheceu o direito de voto às mulheres.

Por iniciativa do Congresso Feminino de 1931 foi criada uma data para a comemoração do Dia das Mães. O Decreto nº 21.366, de 5 de maio de 1932, assinado pelo presidente Getulio Vargas (1884 – 1954), consagrou o segundo domingo de maio para a celebração anual da data no Brasil. No primeiro ano de sua comemoração, Almerinda escreveu um artigo sobre a importância da efeméride (Diário de Notícias, 24 de abril de 1932, penúltima coluna).

Publicação do poema de sua autoria Meu amor é a incarnação do vento (Diário de Notícias, 21 de agosto de 1932).

 

 

Ela, Alice Coimbra e Sylvia Patrício formavam a comissão nomeada pela Federação Brasileira pelo Progresso da Mulher para atender à solicitação do Centro Cândido de Oliveira no sentido de combater o sensacionalismo na repressão ao crime (Correio da Manhã, 23 de setembro de 1932, última coluna).

Almerinda esteve na redação do jornal A Batalha para falar sobre a conquista do voto da mulher e sobre o alistamento eleitoral feminino (A Batalha, 24 de setembro de 1932, penúltima coluna).

Publicação do artigo Divórcio: um bem ou um mal?, de sua autoria (Diário de Notícias, 30 de novembro de 1932, penúltima coluna).

Foi publicado o artigo Lendas Amazonenses – A Gênese das Frutas, de sua autoria (Diário de Notícias, 4 de dezembro de 1932, penúltima coluna).

Publicação de seu artigo Feminismo e Serviço Militar (Diário de Notícias, 9 de dezembro de 1932, penúltima coluna).

Escreveu um artigo sobre Eros Volúsia (1914 – 2004), filha dos poetas Rodolfo de Melo Machado (1884 – 1923) e Gilka Machado (1893 – 1980), uma dançarina arrojada, que se notabilizou por suas coreografias inspiradas na cultura brasileira (Diário de Notícias, 11 de dezembro de 1932, primeira coluna).

 

 

1933 - Publicação de seu poema Meu Carnaval (Diário de Notícias, 5 de março de 1933, penúltima coluna).

Publicação do poema Ele falou, de sua autoria (Diário de Notícias, 19 de março de 1933, penúltima coluna).

Participou, como secretária, da Convenção Nacional de Eleitoras, realizado na sede da Federação Brasileira pelo Progresso da Mulher, quando foi lançada pela educadora Alba Canizares (1893 – 1944) a candidatura de Bertha Lutz (1894 – 1976) à Constituinte.

 

 

Diversas feministas estavam presente no evento, dentre elas a engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), Orminda Ribeiro Bastos (1899-1971), Maria Luisa Dória Bittencourt (1910 – 2001), Maria Sabina de Albuquerque (1898 – 1991), filha do cientista João Pedro de Albuquerque (1874 – 1934) ; e Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886-1963) (Diário de Notícias, 4 de abril de 1933, primeira colunaO Dia (PR), 4 de abril de 1933, primeira coluna; Jornal do Commercio, 5 de abril de 1933, segunda coluna; Diário de Notícias, 5 de abril de 1933).

 

 

Publicação de uma poesia de Almerinda em homenagem à poetisa Gilka Machado (1893 – 1980) (O Malho, 15 de abril de 1933).

 

 

 

Participou como atriz da peça inédita Rumo à Turquia, de Jorge Murad (1910 – 1998), apresentada no Studio Eros Volusia, boite da rua São José, onde tantas figuras do nosso meio artístico têm recebido os aplausos da elite carioca (A Noite, 20 de abril de 1933, terceira coluna).

 

 

Participou de mais uma tarde de arte do Studio Eros Volúsia e seu melhor número foi a apresentação da lenda amazonense do boto (Diário de Notícias, 30 de abril de 1933, primeira coluna). Meses depois, Almerinda voltou a se apresentar no Studio Eros Volusia, recitando as poesias de sua autoria O inverno chegou e O que eu pediria ao amor (Correio de Manhã, 12 de julho de 1933, primeira coluna).

Publicação de seu poema, Viandante que passas…, ilustrado por Odelli Castello Branco(Diário de Notícias, 21 de maio de 1933).

Reconhecimento pelo Ministério do Trabalho do Sindicato de Datilógrafas e Taquígrafas, do qual Almerinda era presidente (O Radical, 3 de junho de 1933, primeira coluna).

Em 20 de julho de 1933, indicada pelo Sindicato das Datilógrafas e Taquígrafas, como delegada sindical, votou na escolha da bancada classista para a Assembléia Nacional Constituinte de 1934, tendo sido a única representante feminina presente. Compareceu com uma máquina de escrever com a qual, durante a votação, confecciou numerosas chapas para os colegas que as solicitavam (A Nação, 21 de julho de 1933, segunda coluna; O Radical, 21 de julho de 1933, última coluna; Jornal do Commercio, 21 de julho de 1933, primeira coluna; A Batalha, 21 de julho de 1933, primeira coluna).

 

 

Publicação da poesia Fogueira, de sua autoria (O Malho (RJ), 3 de agosto de 1933).

 

 

Pronunciou-se, em reunião presidida por ela na Federação Brasileira pelo Progresso da Mulher, sobre a situação das garçonetes, devido à execução do decreto 24.417, de 17 de maio de 1932, proibindo o trabalho de mulheres em estabelecimentos públicos após as 22h (A Noite, 19 de agosto de 1933, penúltima coluna).

 

 

Um manifesto de autoria de Bertha Lutz (1894 – 1976) e assinado por ela, por Carmen Portinho (1903 – 2001), pela tradutora Lina Hirsh e pela advogada Maria Luisa Dória de Bittencourt (1910 – 2001), que em 1935 tornou-se a primeira deputada estadual da Bahia; foi apresentado à seção de Legislação da Conferência Nacional de Proteção à Infância (Jornal do Brasil, 23 de setembro de 1933, penúltima colunaCorreio da Manhã, 23 de setembro de 1933, quinta coluna).

Publicação de seu poema Cântico de Yara, ilustrado por Odelli (Correio de Manhã, 24 de setembro de 1933, primeira coluna).

Foi uma das oradoras na celebração do primeiro ano de fundação do partido político Centro Cívico 4 de Novembro, no Sindicato dos Proprietários de Padarias. O partido havia sido fundado em 11 de novembro de 1932 (O Radical, 7 de novembro de 1933, penúltima coluna).

Estava à frente do movimento de renovação cívica Ala Moça do Brasil, uma associação de cunho social e político, instalado em 28 de novembro de 1933, na sede da Ordem Mystica do Pensamento, na avenida Suburbana, nº 2.618. Na época era bacharelanda de Direito (Diário da Noite, 24 de novembro de 1933, segunda coluna; Jornal do Brasil, 24 de novembro de 1933, quinta coluna; A Batalha, 30 de novembro de 1933, segunda coluna).

 

 

Era a encarregada, no Brasil, de prestar informações sobre o concurso que a Nero History Society promovia para estudantes matriculados em universidades, escolas secundárias e de ensino superior da América do Sul, América Central, México, Antilhas e ilhas adjacentes ao continente sul-americano (Jornal do Brasil, 29 de dezembro de 1933, última coluna).

1934 – Como presidente da Ala Moças do Brasil participou de uma reunião da sede do jornal O Proletário, em São João do Meritipara a discussão de providências em relação à educação e à saúde da classe de trabalhadores  do referido bairro. Almerinda providenciaria junto ao interventor do Estado do Rio, o comandante Ari Parreiras (1890 – 1945), a abertura de dois postos de socorro para o atendimento de trabalhadores em São João do Meriti, José Bulhões e Xerém. Também pediria que o Ginásio Almerinda Gama fosse aberto no dia 21 de janeiro. Lá funcionaria um educandário para crianças pobres de ambos os sexos, dirigido por Laurentino Garrido. Antônio Hermont havia cedido um barracão na rua Maria Emília, nº 50, em São João do Meriti, para sediá-lo (O Paiz, 3 de janeiro de 1934, última coluna). A inauguração do ginásio aconteceu em 18 de fevereiro, foi batizado em homenagem à Almerinda, responsável por uma infatigável agitação das causas do ensino (A Batalha, 17 de fevereiro de 1934, segunda coluna; Jornal do Brasil, 17 de fevvereiro de 1934, terceira coluna; Correio da Manhã, 17 de fevereiro de 1934, segunda coluna).

Participou da recepção oferecida pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino à jornalista norte-americana Marjorie Schuler (O Paiz, 17 de janeiro de 1934, terceira coluna).

Foi uma das feministas que enviou à Assembleia Nacional o pedido de voto para artigos da futura Constituição que contemplavam os direitos da mulher (Jornal do Brasil, 23 de março de 1934, penúltima coluna).

Publicação do artigo Casamentos para todos os gostos, de sua autoria (A Batalha, 10 de junho de 1934, primeira coluna).

Participou da homenagem prestada pela Federação Brasileira pelo Progresso da Mulher ao poeta paraibano Antônio Joaquim Pereira da Silva (1876 – 1944) admitido na Academia Brasileira de Letras (Jornal do Commercio, 23 de junho de 1934, terceira coluna).

Falando em nome do Sindicato das Datilógrafas e Taquígrafas e de outros sindicatos de trabalhadores do Rio de Janeiro, Almerinda fez um discurso, muito aplaudido, durante a inauguração da sede do Sindicato dos Vendedores Lotéricos, no Beco das Cancelas, nº 8. O interventor do Distrito Federal, Pedro Ernesto (1884 – 1942), estava presente na solenidade (O Paiz, 5 de julho de 1934, quinta coluna).

Dentre outras, ela, Bertha Lutz (1894 – 1976) e Carmen Portinho (1903 – 2001) foram referidas como pioneiras do feminismo no Brasil (Walkyrias, agosto de 1934).

Foi uma das dirigentes do Partido Socialista Proletário do Brasil, fundado em agosto de 1934 até 1937, quando foi instaurado o Estado Novo (Diário da Noite, 4 de agosto de 1934, segunda coluna).

 

 

Já formada em Direito, foi candidata à deputada pela legenda Decreto ao Direito ao Trabalho (Congresso Master) nas eleições para a Câmara de Deputados e para o Senado, realizadas em outubro de 1934. Por esse motivo foi afastada do Partido Socialista Proletariado do Brasil (Diário de Notícias, 22 de setembro de 1934, terceira coluna).

A outra mulher que também concorreu pelo partido foi Guilly (Jornal do Brasil, 27 de setembro de 1934, quinta coluna; Jornal do Brasil, 5 de outubro de 1934, terceira coluna; Jornal do Brasil, 9 de outubro de 1934, quarta coluna). Não foram eleitas.

No panfleto de Almerinda, lia-se:

 

Advogada consciente dos direitos das classes trabalhadoras, jornalista combativa e feminista de ação. Lutando pela independência econômica da mulher, pela garantia legal do trabalhador e pelo ensino obrigatório e gratuito de todos os brasileiros em todos os graus“.

 

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1935Passou a viver com um engenheiro com quem teve um filho, mas ambos faleceram antes dela.

1936 – Publicação de seus poemas Passeio de Automóvel e Aspiração (A Gazeta (SC), 25 de setembro de 1936; A Gazeta (SC), 26 de setembro de 1936).

 

 

 

1937 – Identificada como conhecedora de altos ensinos esotéricos, Almerinda proferiu a palestra Viver para si, na Tattwa Fraternidade Exotérica (A Nação, 21 de fevereiro de 1937, quinta coluna).

Participou e foi uma das oradoras de uma festa em homenagem a Catulo da Paixão Cearense (1863 – 1946), na casa do compositor, em Engenho de Dentro (Gazeta de Notícias, 25 de agosto de 1937, segunda coluna).

Foi identificada como uma das nossas poetisas humoristas mais interessantes. Um de seus textos, Corrida da bicicleta, foi lido pelo poeta Renato Lacerda, no programa radiofônico Hora do Guri, na Rádio Tupi (Gazeta de Notícias, 29 de agosto de 1937, primeira coluna)

1938 – Escreveu as crônicas  Raça, Eu e o meu Brasil e Mamãe (A Notícia (SC), 1º de maio de 1938, penúltima coluna; A Notícia, 3 de maio de 1938, terceira coluna; A Notícia (SC), 22 de junho de 1938, penúltima coluna).

1939 – Era professora em um estabelecimento de ensino particular (Jornal do Brasil, 8 de agosto de 1939, terceira coluna).

1941 – Foi publicado um anúncio em que Almerinda oferecia seus serviços de datilógrafa, de redatora e de tradutora de francês, inglês e espanhol (Jornal do Brasil, 23 de junho de 1940, sétima coluna; Jornal do Brasil, 5 de janeiro de 1941, sexta coluna).

Ela e S. Moura ofereciam cursos de datilografia e caligrafia individual ou coletivo, na Escola Prática de Comércio Avalfred, de dia e à noite (Jornal do Brasil, 12 de janeiro de 1941, sexta coluna).

Almerinda anunciou realizar cópias a máquina em qualquer língua (Jornal do Brasil, 13 de abril de 1941, sétima coluna). No ano seguinte, voltou a anunciar seus serviços (Jornal do Brasil, 7 de junho de 1942, quarta coluna).

Enviou um telegrama felicitando o presidente da República, Getulio Vargas (1884 – 1954), pela promulgação da lei de proteção à família (Jornal do Commercio, 7 de maio de 1941, primeira coluna).

Falecimento de seu irmão, José da Silva Gama (c. 1891 – 1941) (Diário da Noite, 11 de setembro de 1941, última coluna).

1942 – Publicação do artigo de sua autoria, Não quero ser doutor (Jornal das Moças, 6 de agosto de 1942).

Publicou, em 1942, o livro de poesias Zumbi. Foi também a responsável pelas ilustrações (Careta, 30 de janeiro de 1943).

 

 

Ofertou 15 exemplares do livro Zumbi para o leilão promovido pelo Diário da Noite para a compra do  Arará, um avião Catalina PBY-5 da Força Aérea Brasileiraque se tornaria o primeiro avião brasileiro a afundar um submarino do Eixo, o U-199, ao largo da costa do Rio de Janeirom, em 31 de julho de 1943. Foi batizado Arará em homenagem ao navio de carga brasileiro homônimo que havia sido torpedeado no litoral da Bahia, em 17 de agosto de 1943, pelo submarino alemão U-507 (Diário da Noite, 25 de setembro de 1942, sexta coluna).

 

 

1943 - Zumbi foi inscrito para concorrer ao Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras (Jornal do Commercio, 24 de junho de 1943, última coluna).

Foi membro da Associação dos Escreventes da Justiça do Distrito Federal, tendo sido nomeada escrevente juramentada do Tabelião do 9º Ofício de Notas. Desde o ano anterior ocupava o cargo, interinamente (Diário de Pernambuco, 16 de julho de 1943, segunda colunaGazeta de Notícias, 2 de fevereiro de 1944, segunda coluna).

 

 

1944 – Seu poema, Como é triste a prisão, fez parte da programação do festival da bailarina de oito anos, Sally Loretti (c. 1934 -?), no Teatro Carlos Gomes (Jornal do Brasil, 14 de maio de 1944, quinta coluna). No mesmo ano, a canção Quem chora comigo, música de Hilda Matos e letra de Almerinda, foi apresentada na edição do festival de Sally Loretti em benefício do músico Assis Valente (1911 – 1958), que estava doente (A Noite, 19 de novembro de 1944, primeira coluna).

1946- Publicação do poema Figurinha de Quadro Americana, de sua autoria (O Jornal, 12 de maio de 1946).

 

 

1947 - Participou da festa de arte no Esporte Clube Minerva, promovida pela escritora Hecilda Clark (1909 – ?) e Leocádia Silva, presidentes das Uniões Femininas Lapa-Esplanada do Senado e Catumbi-Rio Comprido, respectivamente (Tribuna Popular, 10 de junho de 1947, penúltima coluna).

Era a tesoureira da diretoria do Curso Popular Chiquinha Gonzaga, na rua do Riachuelo, sob a responsabilidade jurídica de Hecilda Clark (1909 – ?). Participou de um show em benefício da criação de um ambulatório popular promovido pela entidade e também de uma festa de artistas na sede da Associação Cristã dos Moços, na rua Araújo Porto Alegre, nº 36 (Diário de Notícias, 7 de junho de 1947, terceira coluna; Diário de Notícias, 12 de junho de 1947, quinta colunaDiário Carioca, 12 de novembro de 1947, sexta coluna; Jornal do Commercio, 26 de novembro de 1947, primeira coluna).

1949 – A entrevista que deu ao Diário de Notícias sobre a oficialização da Justiça foi manchete de primeira página: Justiça para o povo é gênero de primeira necessidade (Diário de Notícias, 22 de maio de 1949).

 

 

1955 - Foi uma das jornalistas que assinou um telegrama enviado ao presidente da República reclamando a inscrição na Ordem do Mérito Aeronáutico do nome de Victorino de Oliveira (1882 – 1964), idealizador e fundador, em 14 de outubro de 1911, do Aeroclube do Brasil. Ele havia sido redator do jornal A Noite (Correio da Manhã, 19 de outubro de 1955, quarta colunaDiário Carioca, 20 de janeiro de 1962, primeira coluna).

1956 - Foi uma das dirigentes dos trabalhos realizados na instalação da Comissão de apoio à Conferência de Mulheres Trabalhadoras, na Associação Brasileira de Imprensa. Trabalhava no jornal O Dia (Imprensa Popular, 28 de janeiro de 1956, penúltima coluna).

1958 – Foi acusada de ter cometido irregularidades como escrevente em uma escritura de compra e venda de imóvel, em Caxias, do qual seria a beneficiada. Teria falsificado a assinatura de Hans Bertold Stochaussen, falecido em 8 de julho de 1947. A Comissão de Investigações levou o inquérito para a Corregedoria. Almerinda sempre afirmou que a transação havia sido legal, o que disse que provaria em juízo (Jornal do Brasil, 15 de outubro de 1958, terceira coluna; A Noite, 7 de março de 1961, quinta colunaCorreio da Manhã, 9 de outubro de 1964, quinta coluna).

1961 – Publicação do artigo Sapato – Artigo de Luxo, de sua autoria, sobre a incidência de verminoses nos trabalhadores (O Dia (PR), 19 de abril de 1961).

1964 – Publicação de O dedo de Luciano, de autoria de Almerinda. A iniciativa foi da Companhia Antárctica Paulista que o distribuiria gratuitamente em todo o país como contribuição à divulgação dos ensinamentos de higiene, em benefício da saúde pública (Jornal do Brasil, 18 de novembro de 1964, última coluna).

1967 - Almerinda foi demitida do cargo de escrevente juramentada do 9º Ofício de Notas (Correio da Manhã, 16 de março de 1967, segunda coluna).

1984 - Em 8 de junho de 1984, foi entrevistada por Angela Maria de Castro Gomes e Eduardo Navarro Stotz no contexto do projeto “Velhos Militantes”, em vigência entre os anos de 1983 e 1986, sendo parte integrante do livro homônimo publicado pela Zahar Editores em 1988. A escolha da entrevistada se justificou por sua atuação como militante de movimento feminista nos anos de 1930 e de movimento sindical pró-Getulio Vargas (FGV – CPDOC).

1989 - Publicação de uma foto de Almerinda votando no segundo turno da eleição presidencial (Jornal do Brasil, 18 de dezembro de 1989).

 

 

1991 – Foi entrevistada por Joel Zito de Araújo (1954 – ) que produziu e dirigiu com Ângela Freitas o média-metragem Almerinda, uma Mulher de Trinta (1991), premiado no Festival Guarnicê de Cinema, realizado no Maranhão.

1992 - Gravou uma pequena entrevista para o documentário Memória de Mulheres, dirigido por Maria Angélica Lemos (1958 – ), para a organização feminista ComMulher. Na época, morava em uma casa em um subúrbio carioca. É a última notícia que se tem de Almerinda.

 

 

1999 - Sua data de morte era até pouco tempo desconhecida e foi revelada pela pesquisa realizada por Patrícia Cibele Tenório para a elaboração de sua dissertação de Mestrado em História, no Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade de Brasília, A trajetória de vida de Almerinda Farias Gama (1899-1999) – feminismo, sindicalismo e identidade política (2020): Almerinda faleceu em 31 de março de 1999, em São Paulo.

2016 – Foi instituído pela prefeitura de São Paulo o Prêmio Almerinda Farias Gama, de incentivo a iniciativas em comunicação social ligadas à defesa da população negra.

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Veja aqui o documentário Almerinda, a luta continua, dirigido por Cibele Tenório e produzido pela FGV CPDOC Núcleo de Audiovisual e Documentário

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Fontes:

 

Almerinda, uma mulher de 30 Produção: Tapiri Vídeos, SOS CORPO/ TV VIVA – A Sua Imagem/CCLF Direção: Angela Freitas e Joel Zito Araújo, 1991.

Blog Mulheres Notáveis

Almerinda, a luta continua. Filme realizado na 2ª Oficina de Produção Audiovisual do Núcleo de Audiovisual e Documentário FGV/CPDOC. Direção: Cibele Tenório

DEL PRIORE, Mary (Org.). História das mulheres no Brasil. Coordenação de textos de Carla Bassanesi. São Paulo: Contexto, 1997

DEL PRIORI, Mary. História e conversas de mulher. São Paulo: Planeta Brasil, 2014

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

HEYNEMANN, Claudia; RAINHO, Maria do Carmo. Memória das lutas feministas in Brasiliana Fotográfica, 8 de agosto de 2017.

Marques, Teresa Cristina de Novaes. “Enfim, eleitoras”. O voto feminino no Brasil 2ª ed. Brasília: Edições Câmara, 2018.

PINTO, Celi Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo (coleção história do povo brasileiro) 2003.

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital (organizadores). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2000.

Site CPDOC

Site Democracia e Mundo do Trabalho

Site Festival Guarnicê de Cinema

Site Mulher 500 anos atrás dos panos

Site Poder Naval

TENÓRIO, Patrícia Cibele da Silva. A vida na ponta dos dedos: A trajetória de vida de Almerinda Farias Gama (1899-1999) – feminismo, sindicalismo e identidade política. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade de Brasília. Brasília, 2020.

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976)

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976)

 

Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), pioneira na participação feminina na política da região Norte do Brasil, eleita pela Liga Católica, em 1934, deputada estadual na Assembleia Constituinte (1935-1937), é o personagem do quinto artigo da série “Feministas, graças a Deus!, escrito pela pesquisadora Maria Elizabeth Brêa Monteiro, do Arquivo Nacional, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica. A feminista Maria de Miranda Leão foi professora, enfermeira e assistente social, tendo vinculado sua vida com talento e cultura ao ensino e à solidariedade. Em dezembro de 1922, foi uma das fundadoras de Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, seção Amazonas, meses após a fundação da FBPF, iniciativa de Bertha Lutz (1894 – 1976), em 9 de agosto do mesmo ano.

Foi descrita em uma matéria do Jornal do Brasil de 1936 como “Uma dessas inteligências femininas que se sente ao contato do seu verbo fluente, emotivo, todo saturado por esse amor imenso esse encanto arrebatado pela natureza mágica e caraterística da Amazônia.” Segundo Maria Elizabeth Brêa Monteiro, na fotografia destacada nesse artigo, produzida pela Photographia Alemã, “é possível perceber um perfil de austeridade que parece caracterizar a vida pública de Maria de Miranda e suas vinculações fortes com a igreja católica e com uma ação assistencial”.

 

Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão

Maria Elizabeth Brêa Monteiro*

 

Conclamando as mulheres à paz e à guerra, Maria de Miranda Leão proferiu seu discurso na sessão inaugural do 3º Congresso Nacional Feminista, realizado na sede do Automóvel Club, no Rio de Janeiro, entre os dias 1°e 8 de outubro de 1936. Delegada da Liga Católica do Amazonas junto ao Congresso Eucarístico Nacional e designada representante da Federação Amazonense pelo Progresso Feminino e de outras agremiações de Manaus pelo governador Álvaro Maia para o Congresso Nacional Feminino [1], o Jornal do Brasil em sua edição de 2 de outubro de 1936 descreve Maria de Miranda como “uma dessas inteligências femininas que se sente ao contato do seu verbo fluente, emotivo, todo saturado por esse amor imenso esse encanto arrebatado pela natureza mágica e caraterística da Amazônia.”[2]

Maria de Miranda Leão nasceu em 1887 em uma família de longa atuação no Amazonas nos vários setores da atividade humana: no magistério, no comércio, nas ciências, na política. O patriarca, coronel José Coelho de Miranda Leão, foi deputado que havia se notabilizado por combater os cabanos em Mundurucânia, em 1839. Era filha do professor e jornalista Manoel de Miranda Leão, deputado provincial da Assembleia Legislativa (1886) e um crítico do cenário da instrução pública no Amazonas, identificando a falta de experiência e de dedicação no magistério como um dos principais problemas a enfrentar. Professora, enfermeira, assistente social e uma pioneira na participação feminina na política da região Norte, Maria de Miranda primou, segundo Agnello Bittencourt, pelo talento e pela cultura, tendo vinculado sua vida ao ensino e à caridade.[3]

Ingressou, em 1922, no Serviço Federal de Profilaxia Rural e nesse mesmo ano criou a Sociedade de Amparo à Maternidade e à Infância, núcleo que deu origem ao Hospital Infantil Casa Dr. Fajardo, onde trabalhou como enfermeira e chefe dos serviços internos.

A partir das primeiras décadas do século XX, Manaus não mais se assemelhava à Paris dos Trópicos dos anos de pujança da exportação da borracha. A derrocada do comércio extrativista impeliu levas de seringueiros a se dirigirem com suas famílias para as cidades que enfrentavam as consequências da depressão econômica, assoladas por doenças como paludismo, verminose, disenteria, enterite, gripe e outras. Nesse contexto as crianças compunham o grupo mais vulnerável, identificado no elevado índice da mortalidade infantil. Todavia, o estado do Amazonas e, em particular, a cidade de Manaus não possuíam uma instituição oficial de atendimento hospitalar exclusivo para crianças. Esse atendimento era realizado pela Casa Dr. Fajardo, instituição particular, fundada em 1922 pelo médico Samuel Uchôa, diretor do Serviço de Profilaxia Rural do Amazonas, com a finalidade de receber crianças órfãs ou desamparadas acometidas por paludismo e verminose. Além do tratamento médico prestado, essa instituição tinha uma preocupação pedagógica, principalmente em relação às questões de higiene das crianças e das famílias, no intuito de resgatá-las de uma condição depauperada e libertá-las, segundo o próprio Dr. Uchoa, “da tirania das doenças destruidoras”, preparando-as para o trabalho.[4]

Vem desse período, durante o qual Maria de Miranda realizou atividades de assistência às crianças e às camadas mais empobrecidas da população amazonense, o apelido pelo qual ficou conhecida: Mãezinha.

Com apoio do Serviço de Profilaxia Rural do Amazonas, durante a administração do governador Ephigênio Salles, criou o primeiro preventório do Brasil, voltado para o cuidado dos filhos dos portadores de hanseníase.

Maria de Miranda teve também relevante atuação para a profissionalização e regularização das atividades de serviço social. Em 1940, com apoio do bispo d. Basílio Manoel Olímpio Pereira, realizou, no Rio de Janeiro, os cursos de “Ação Católica e Serviço Social”, o que favoreceu a criação da Escola de Serviço Social de Manaus, subordinada, inicialmente, ao Juízo Tutelar de Menores, onde foi professora de Assistência Social.

Essa orientação pela assistência e cuidados mobilizou sempre Maria de Miranda ao longo de sua vida. Como secretária-geral e enfermeira chefe da Cruz Vermelha no Amazonas, ficou encarregada da entrega de correspondências aos prisioneiros de guerra (japoneses, italianos e alemães) e foi, de 1946 a 1951, diretora do Instituto Benjamin Constant, criando nele a primeira Escola Normal Rural do Amazonas.

Paralelamente ao trabalho assistencial, Maria de Miranda destacou-se no movimento feminista, sendo membro da Federação Feminista Amazonense e uma das fundadoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Liderou o movimento feminino católico de incentivo à participação das mulheres nas eleições e na política de modo geral, fato que, por certo, contribuiu para seu sucesso nas urnas aos 48 anos, quando foi eleita pela Liga Católica, em 1934, deputada estadual na Assembleia Constituinte (1935-1937), onde também atuou nas comissões de Educação e de Poderes e leis.

Em carta para Bertha Lutz de 20 de junho de 1935, Maria de Miranda informa sobre sua atuação na Constituinte na defesa da atuação da mulher em todos os setores de ação social, moral e político, e não mais apenas dedicada a servir o lar, “coser meias e embalar meninos”. Nessa mesma carta, Maria envia uma fotografia dedicada a Bertha na qual se identifica como sua admiradora e a convida a visitar o estado e ver “como o nosso Amazonas é grandioso, com suas florestas encantadas e seus rios caudalosos. Seria ocasião de sentir as aspirações da mulher amazonense e que a cultura e a mentalidade da cabocla morena do rio Negro não envergonham as irmãs do Sul.”[5] Nessa fotografia é possível perceber um perfil de austeridade que parece caracterizar a vida pública de Maria de Miranda e suas vinculações fortes com a igreja católica e com uma ação assistencial.

Essas linhas de ação de Maria de Miranda se conjugavam com os temas discutidos na Assembleia Nacional Constituinte. A organização da assistência social foi defendida pela representante feminina, Carlota Pereira de Queiroz, médica eleita com apoio da Liga Católica, que considerava a educação e a saúde do povo as duas questões fundamentais de uma nação e tinha a proteção à maternidade e à infância como diretrizes prioritárias de seu mandato.

A Liga Eleitoral Católica, movimento gerado em defesa dos ideais cristãos e em resposta à secularização da cultura e à fundação do Partido Comunista do Brasil, congregava intelectuais como Alceu do Amoroso Lima, o advogado Sobral Pinto, além outros representantes de segmentos da classe média, e teve expressiva participação nas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte. No Amazonas, seus principais dirigentes eram o bispo dom João da Mata e Jatir Pucu de Aguiar, do Partido Liberal. Maria de Miranda exerceu os cargos de secretária-geral da Liga Eleitoral Católica, ao lado de Maria Julia Lima, e, em 1935, foi nomeada para a presidência.

Maria de Miranda acompanhou de perto a mobilização das mulheres pelo sufrágio feminino no Brasil. Foi uma das fundadoras de Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, seção Amazonas, em 18 de dezembro de 1922. Trabalhou para organizar uma série de atividades com o objetivo de sensibilizar as mulheres para o alistamento eleitoral, direito conquistado pelas brasileiras em fevereiro de 1932 com a promulgação do novo código eleitoral que concedeu pela primeira vez o direito de voto às mulheres. Participou de todos os eventos nacionais promovidos pela FBPF na década de 1930.

A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, fundada em 9 de agosto de 1922, por iniciativa da Bertha Lutz e outras mulheres com diferentes abordagens de prioridades na construção de agenda entre elas, tinha como principal bandeira a busca pelo sufrágio universal e a promoção do avanço da mulher no espaço público através da reivindicação de seus direitos políticos, das melhorias de suas condições de trabalho, de saúde e educação. Esses foram temas discutidos nos congressos organizados pela FBPF, sob a presidência de Bertha. Mudar a visão da sociedade brasileira em relação à mulher considerada como a “rainha do lar”, debater sobre a formação do magistério, a nacionalização do ensino público, o acesso da mulher ao mercado de trabalho e igualdade salarial orientavam a atuação da Federação ao lado de postulados sustentados pela Liga Católica no sentido do ensino religioso nas escolas e da indissolubilidade do matrimônio. A questão da cidadania constituía-se no debate em torno de direitos civis, que englobava o acesso ao voto e ao divórcio, maternidade, igualdade salarial e proibição do trabalho noturno às mulheres, e se misturavam com perspectivas de proteção e de conquista de direitos.[6]

As lideranças feministas das maiores organizações constituídas – FBPF, Aliança Nacional de Mulheres, Liga Eleitoral Católica e suas derivadas regionais – argumentavam que era possível assegurar a agregação de mulheres na política, pois isso não ofereceria risco de concorrência para os ocupantes dos cargos públicos eletivos nem ocasionaria instabilidade social ou para as famílias.

Mesmo com ambiguidades presentes no movimento feminista, as mulheres iam introduzindo mudanças nos mecanismos de conquista de direitos. Empunhando, assim, a bandeira do voto feminino, a Federação rumava de maneira cordial para a defesa da emancipação da mulher e à conquista de direitos. Essa postura, identificada por pesquisadores, com um “feminismo bem comportado”, voltado para os anseios das mulheres das classes média e alta, de alguma forma se contrapunha ao feminismo sustentado por Maria Lacerda de Moura, tido como “mal comportado” ao atentar para os direitos das trabalhadoras das classes baixas e para a liberdade sexual.[7]

 

 

 

Nesse contexto realiza-se no Rio de Janeiro o 3º Congresso Nacional Feminista, que contou com a presença de autoridades como o presidente da República, Getulio Vargas, e o governador do Rio de Janeiro, Protogenes Guimarães. Maria de Miranda foi a oradora da sessão inaugural que apresentou um discurso intitulado “A missão da mulher no momento atual”, no qual fazia “a defesa do regime, a manutenção da ordem, a salvação da honra e da tradição, contra o sacrilégio devastador do comunismo”. Ficam evidentes os princípios católicos da família indissolúvel como alicerce da nação e a luta feminista como uma “cruzada santa”. Maria de Miranda deixa claro seu alinhamento à igreja católica condenando “a política sem Deus e contra Deus, ambiciosa e libertina”. Antecedido por um preâmbulo de cunho regionalista, mencionando as belezas e riquezas do Amazonas, em que cita os pacíficos e ordeiros Barés e os combativos Maués, Maria de Miranda enfatiza em seu discurso o caráter pacífico da “guerra” a ser empreendida pela mulher, “poder moderador capaz de trazer o homem à razão, quando levado pelos ímpetos próprios de sua natureza combativa, muitas vezes se afastada de caminho traçado.”. E conclui, em sua visão, o objetivo do congresso:

“Um dos pontos fundamentais é, por certo, a defesa do regime, a manutenção da ordem, a salvação da honra e da tradição contra o sacrilégio devastador do comunismo. (…) Se procura nos seduzir, garantindo à mulher todos os campos de ação social, a igualdade de valores e trabalhos com o homem, não nos deixaremos enganar. Queremos a vitória das nossas reivindicações, a nossa igualdade política e social, salário igual para trabalho igual. Mas a mulher do Brasil coloca acima de tudo Deus, a Fé, a honra, a dignidade, a força moral e a integridade da Pátria. (…) É essa a promessa, a clarinada guerreira, o juramento inflexível que a Mulher Amazonense vos manda por minha voz: Ouviremos a voz do Brasil e na luta estaremos na linha de frente, na brecha por Deus, pela Pátria, pela Raça.”[8]

Nesse congresso foi votado o Estatuto da Mulher, a ser apresentado na forma de projeto de lei em outubro de 1937 à Câmara dos Deputados, por iniciativa das deputadas Bertha Lutz e Carlota Pereira de Queirós. Em seus 150 artigos, o projeto tinha como objetivo regulamentar os dispositivos constitucionais de proteção às mães e às crianças, tratava, em essência, de nacionalidade, direitos políticos, trabalho.[9]

O mandato de Maria de Miranda como deputada estadual foi interrompido em 1937 quando Getulio Vargas fechou o legislativo federal e os estaduais, dando início ao Estado Novo que perdurou até 1945. Com a democratização, tentou a reeleição, pelo Partido Social Democrático (PSD), em 1947, não obtendo êxito.

Sua atuação política e social foi reconhecida pelas autoridades amazonenses que lhe concederam o título de Cidadã Benemérita de Manaus, em 1957, e a Medalha Cidade de Manaus, em 1969. Pelos serviços prestados, foi condecorada pela Cruz Vermelha do Amazonas.

Maria de Miranda Leão faleceu em 1976, no mesmo ano de sua “distinta patrícia” Bertha Lutz, com quem batalhou pela ampliação dos espaços de poder e decisão da mulher na sociedade e pela garantia de direitos conquistados.

 

[1] Telegrama do governo do Estado do Amazonas comunicando que a Federação Amazonense pelo Progresso Feminino designou a deputada Maria de Miranda Leão como representante do Amazonas no 3º Congresso Nacional Feminino. Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Arquivo Nacional. Rio de Janeiro.3 de julho de 1936. BR RJANRIO Q0.ADM, COR.A936.74

[2] Jornal do Brasil. Edição 232, 2 de outubro de 1936. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=030015_05&pasta=ano%20193&pesq=%22miss%C3%A3o%20da%20mulher%20no%20momento%20atual%E2%80%9D&pagfis=69211

[3] Bittencourt, Agnello. Dicionário Amazonense de Biografias: vultos do passado. Rio de Janeiro, Conquista, 1973. p. 359. Disponível em https://issuu.com/bibliovirtualsec/docs/dicionario_amazonense_de_biografias

[4] Schweickardt, Júlio Cesar. Ciência, nação e região: as doenças tropicais e o saneamento no Estado do Amazonas (1890-1930). Manaus: Fiocruz/Casa de Oswaldo Cruz, 2009. p. 345. Disponível em http://ppghcs.coc.fiocruz.br/images/teses/tesejuliochweickardt.pdf.

[5] Cartas de Maria de Miranda Leão. Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Arquivo Nacional. Rio de Janeiro. BR_RJANRIO_Q0_ADM_COR_A935_0066_d0001

[6] Fraccaro, Glaucia Cristina Candian. Uma história social do feminismo – Diálogos de um campo político brasileiro (1917-1937). Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 31, nº 63, p. 7-26, janeiro-abril 2018, p. 18. Disponível em http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/71642

[7] Dultra, Eneida Vinhaes Bello. Direitos das mulheres na Constituinte de 1933-1934: disputas, ambiguidades e omissões. Tese em Direito, Estado e Constituição. UnB, 2018. Disponível em https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/34535/1/2018_EneidaVinhaesBelloDultra.pdf

[8] Jornal do Brasil. Edição 248, 18 de outubro de 1936. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=030015_05&pasta=ano%20193&pesq=%22miss%C3%A3o%20da%20mulher%20no%20momento%20atual%E2%80%9D&pagfis=69211

[9] Potechi, Bruna. As mulheres dos estatutos no Congresso Nacional Brasileiro. Revista Estudos Feministas, v. 27, n. 1, Florianópolis, 2019. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/ref/v27n1/1806-9584-ref-27-01-e50110.pdf

 

Maria Elizabeth Brêa Monteiro é Mestre em História | Pesquisadora do Arquivo Nacional

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

Série “Feministas, graças a Deus!” IV – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988)

Série “Feministas, graças a Deus!” IV – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988)

 

No quarto artigo da Série “Feministas, graças a Deus!”, Claudia Beatriz Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, escreveu sobre a feminista Maria Prestia (? – 1988) e sobre o próprio movimento feminista no Brasil. Além disso, abordou a questão da circulação dos retratos, “um aspecto frequentemente negligenciado na reflexão teórica sobre a fotografia, em detrimento das análises sobre o modo de representação tecnológico que a fotografia introduziu e, portanto, sobre o lugar do referente na fotografia, esse vínculo de indexação que ela mantém com o objeto“.

 

 

Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia

Claudia Beatriz Heynemann*

 

 

No início do século XX o endereço da Santa Ifigênia em São Paulo era conhecido por seu comércio sofisticado, no qual predominavam lojas de chapéus, peles e tecidos, frequentado pelas famílias do bairro Campos Elísios. Nessa área central, onde inicialmente se instalaram os cafeicultores enriquecidos, funcionava o ateliê Photo Skarke, de propriedade de Hugo Skarke (1898 – 197?) [1] cujo fundador, Fernando Skarke (1858 – 1935), foi, possivelmente, o único na província de São Paulo a ser distinguido com o título de fotógrafo da Casa Imperial em 1886, funcionando em Piracicaba [2] e posteriormente em Santos.

Esses fundos e cenários, com opções de mobiliário e outros acessórios, tão comuns no século XIX, continuaram em voga no início do XX. Por trás do busto recortado em oval de Maria Prestia,  [3]  distingue-se uma paisagem que envolve a sua face compenetrada. No retrato de Maria Prestia, o Photo Skarke empregou o recurso da colorização, criada por André Adolphe Eugène Disdéri, também responsável pela invenção das carte de visite, por volta de 1863 e que pode ser encontrado no Brasil pouco tempo depois. Bastante disseminada no país, apesar das críticas recebidas, a fotopintura “fornecia um ar aristocrático à fotografia, aproximando-a dos quadros pintados a óleo”  [4]  O gênero iria se perpetuar por muitas décadas da primeira metade do século XX em retratos de família, chegando ao gosto popular. Contudo, nesse momento da virada da década dos anos 1920, a técnica parece indicar uma escolha refinada, aplicada para realçar as joias e o batom, em uma fotografia que apresentava sua titular ao meio profissional e político em que circulava.

O retrato de Maria Prestia, possivelmente enviado para sua amiga Bertha Lutz pelo correio, produz sua presença no evento em que faltaria, mas não interrompe ali a sua trajetória. Uma legenda em inglês a identifica como líder de um minoritário grupo de feministas de S. Paulo, e aponta para o caráter internacional do movimento sufragista. Atesta da mesma forma a sua passagem a documento público com todos os deslocamentos que o arquivo promove, em uma primeira inflexão, considerando-se que integra o fundo Federação para o Progresso Feminino sob a custódia do Arquivo Nacional. De natureza privada, esse conjunto dialoga com o universo documental da Instituição, predominantemente público, interpelando as esferas de ação política e comportamento daquelas primeiras décadas do século XX.

A circulação do retrato, evidenciada nesse exemplar, é um aspecto frequentemente negligenciado na reflexão teórica sobre a fotografia, em detrimento das análises sobre o modo de representação tecnológico que a fotografia introduziu, e, portanto, sobre o lugar do referente na fotografia, esse vínculo de indexação que ela mantém com o objeto. No entanto, não se deve esquecer outra característica, a separação entre imagem fotográfica e referente, na perspectiva da circulação, quando as fotografias ganham uma mobilidade que seu referente nunca possuiu e circulam em espaço e tempo separados, como sintetiza Tom Gunning. [5] Assim é que a fotografia é um índice da modernidade, compartilhando com a moeda e o capitalismo a possibilidade de transformar objetos em simulacros transportáveis, um equivalente universal. A partir das carte de visite sobretudo, as imagens fotográficas, em formatos cada vez mais intercambiáveis e passíveis de serem colecionados, transitam do estúdio às vitrines, aos álbuns, às famílias, aos arquivos e às redações dos jornais.

O retrato que acompanha a correspondência vinha emoldurado em generoso passe-partout onde caberia a dedicatória “À distinta amiga Bertha Lutz, o meu apoio à grande causa. S. Paulo, 19/6/1931”. A data coincide com a da abertura do II Congresso Internacional Feminista no Rio de Janeiro, que contou com a presença do presidente Getulio Vargas no salão do Automóvel Club do Brasil e ao qual Prestia deveria comparecer. O Diário de Notícias, [6] assim como outros jornais, deu espaço ao encontro que durou mais de dez dias e incluiu uma série de passeios e visitas a pontos turísticos da capital, teatros e instituições tradicionais como o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro. Ela era representante da filial da Federação em S. Paulo, inserção recente como se pode acompanhar pela correspondência oficial da FBPF que cita o cartão enviado por Maria Prestia, no qual havia se pronunciado “em prol dos nossos ideais, nos meios femininos dessa capital”, formulando votos pelo sucesso da causa. Na mesma carta ela é convidada a participar do “Congresso Feminista” [7], embora não fosse ainda filiada aos quadros da Federação conforme correspondência posterior ao congresso, de 27 de agosto de 1931, quando é ressaltada a sua “simpatia” pela causa feminista [8]

A “causa feminista” a que se referem nesses documentos foi, como é característico nos movimentos identitários, um território de disputas atravessado por uma série de outras condições, a principal delas a das classes sociais, dos movimentos de trabalhadores, das tendências políticas. Apesar disso a atuação da FBPF e de Bertha Lutz domina a narrativa consolidada sobre os movimentos das mulheres brasileiras, encobrindo um cenário bastante mais fragmentado, como alerta Mª Margareth Lopes:

“Em suas múltiplas faces, a diversidade dos feminismos brasileiros incluía mulheres que partilhavam concepções conflitantes de feminismos, de conotações ideológicas e prioridades variadas, diferentes credos religiosos ou nenhum; diversas opções políticas, teóricas, regionais, partidárias. Tais mulheres repensaram as relações de gênero no país, inseridas em maior ou menor grau em um contexto internacional de movimentos feministas, sufragistas, modernistas, cientificistas, pacifistas, anarquistas, comunistas, de reivindicações e lutas por diretos das mulheres”. [9]

Não são essas as diferenças assinaladas na correspondência de Maria para Bertha, acerca do Congresso Feminista no Rio de Janeiro. Em carta de 3 de junho ela se desculpa pelo silêncio e conta ter estado muito doente, mas, uma vez recuperada, iria “colaborar para que S. Paulo possa apresentar uma prova real do trabalho operoso de suas mulheres”. Menciona em seguida ter consigo “uma amiga de ideal, a escritora Lila Escobar de Camargo”, uma possível militante. Trata-se aqui de uma referência significativa; autora de Caracteres femininos, de 1920, Camargo era ligada ainda à escritora Albertina Bertha, membro de organizações como a Associação da Mulher Brasileira, uma leitora de Nietzsche, conhecida por seus livros centrados em personagens femininos. Da mesma forma que Albertina, de quem Tristão de Athayde diria tender “a um delírio da individualidade”, Lila Escobar retratava, para o crítico, o “artifício requintado das cidades no interior das quais ganharia cada vez mais espaço a afirmação das individualidades femininas”. [10]

Qualquer que fosse a avaliação de Athayde, podemos entrever por essa descrição da escritora Lila Escobar, algo da identidade feminina de Prestia, suas afinidades, bem como de sua sociabilidade em um ambiente literário, intelectual, indo além dos círculos da assistência social nos quais iria se sobressair. Seu espaço na grande imprensa paulista foi conquistado como presidente da Federação Internacional Feminina, com representação na Praça da Sé, entidade que tinha como objetivo central a “assistência à mulher e à criança”. Prestia recebeu atenção nos jornais, no ano seguinte ao congresso feminista, durante a Revolução constitucionalista de 1932, quando não teria relegado o “soldado que na trincheira luta e morre por São Paulo”. A diretoria da Federação criou o Curso de Enfermagem, a Casa do Trabalho, a Casa da Criança e os “bilhetes para eles”. [11]. Logo no ano seguinte, finda a Revolução, é a Casa da Criança que recebe a atenção do Correio de São Paulo, que ouviu a presidente e a secretaria da Federação sobre o que consideraram “o testemunho inegável do espírito filantrópico da sociedade paulista”. Em suas declarações Maria Prestia assegurou que no amparo à infância, a federação, voltada à família paulista, as educaria “de acordo com os preceitos da pedagogia moderna, tendo paralelamente ao ensino a higiene que não faltará a esta casa. Além do ensino primário ministraremos o ensino religioso, o amor pelo trabalho, fazendo-as aprender desde o trabalho agrícola até o Industrial e tudo, afinal, que as torna capazes de engrandecer com o seu concurso a nossa amada pátria.” [12]

Esses enunciados jogam luz sobre o perfil político do movimento encabeçado pela FBPF, eminentemente sufragista, mas não só, que em análises mais tradicionais representaria, assim, uma primeira onda do feminismo no Brasil. A Federação operaria apartada das lutas sindicais, lutando exclusivamente pelo direito ao voto e pelos direitos civis,  não atendia a muitas trabalhadoras e intelectuais que não se reconheciam em Bertha e suas seguidoras. Não encontrava acolhida por exemplo junto às comunistas que iriam fundar a União Feminina do Brasil. O conflito de classes e as diferentes condições de vida das mulheres trabalhadoras não parecia ecoar nas preocupações e estratégias da Federação. Ainda hoje, diz Glaucia Fraccaro, procura-se “compreender como um movimento desse caráter pretendia lutar pelos direitos das mulheres sem alterar os direitos dos homens, atuando por dentro das instituições governamentais”. A explicação encontrada, não satisfatória para essa autora, varia entre tratá-las como um “feminismo difuso”, ou ainda como um “feminismo tático” [13].

Em 26 de junho, ainda no decorrer do II Congresso Internacional Feminista, Maria Prestia informa a Bertha Lutz que não poderia comparecer, enviando uma representante em seu lugar e recomenda destaque ao relatório que havia produzido. Mesmo que considerando o documento incompleto, ela pondera ter percorrido todas as repartições onde os diretores seriam favoráveis ao feminismo – “a semente que florescerá em breve”, acrescentando que “as moças funcionárias, dizem que são contra o feminismo pois elas pensam erradamente, não tem noção do verdadeiro feminismo”, sem que o defina, refletindo sobre o obstáculo representado por um “certo egoísmo entre as mulheres”. Conclui contando ter recebido “insistentes convites para visitar fábricas e instituições onde há interesses femininos. Por falta de tempo, só visitei algumas e mais tarde atendendo aos inúmeros pedidos irei trabalhando. Farei o que for possível. Aqui em S. Paulo a mulher já venceu naturalmente, ela ocupa lugares importantes, falta-lhes agora saber compreender sua missão de amparar e proteger” [14]

O ativismo de Prestia movia-se entre o apoio resoluto à “grande causa” e o que aparenta ser um distanciamento em relação aos “interesses femininos” que ela poderia encontrar nas fábricas, uma suposição da “vitória” das mulheres paulistas e de seu poder exercido em S. Paulo, “onde os homens são governados suavemente pelas mulheres”. A despeito dessas crenças, que em si já seriam portadoras de um juízo conservador sobre as mulheres, Prestia faz parte da história das lutas feministas, devendo-se lembrar que a Federação acabaria por endossar reivindicações que incluíam as trabalhadoras como a pauta da equiparação dos salários entre homens e mulheres. De seu retrato, alinhado aos cânones da fotografia de estúdio e de seus padrões femininos, a filha do imigrante italiano ressurge nas páginas da memória de Zelia Gattai, e figura, assim, contestadora e militante no que é também a sua experiência urbana:

“Berta Lutz, por essa época, conclamava as mulheres à luta pela emancipação feminina. Mamãe e Wanda haviam recebido uma visita de Maria Préstia, filha mais velha de uma família italiana numerosa, habitante antiga do bairro, convidando-as a tomar parte em manifestação feminista. Maria Préstia era exaltada discípula de Berta Lutz, mas parece que não conseguiu nada lá em casa”. [15]

 

[1] Almanak Laemmert : Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ) – 1891 a 1940. Ano 1931, vol. II, p. 664.
Disponível em

http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=313394&pesq=skarke&pagfis=36563

[2] KOSSOY, Boris. Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: IMS, 2002, p.296

[3] Retrato de Maria Prestia. Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Arquivo Nacional. BR_RJANRIO_Q0_ADM_CPA_VFE_FOT_0024_d0001de0001.

[4] MAUAD, Ana Maria. Imagem e autoimagem do Segundo Reinado. In: ALENCASTRO, Luiz Felipe de (Org). História da vida privada no Brasil: Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 194.

[5] GUNNING, Tom. O retrato do corpo humano: a fotografia, os detetives e os primórdios do cinema. In: CHARNEY, Leo, SCHWARTZ, Vanessa R. (Orgs.). O cinema e a invenção da vida moderna. São Paulo: Cosac & Naify, 2001

[6] Instala-se hoje o segundo congresso internacional Feminista. Diário de Notícias. 20/6/31. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=093718_01&pasta=ano%20193&pesq=%22Congresso%20Internacional%20Feminista%22&pagfis=5890

[7] Correspondência entre a FBPF e Maria Prestia. Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Arquivo Nacional. Rio de Janeiro, 18 de abril de 1931. OOAdm Cor A931.54, p.138.

[8] Correspondência entre a FBPF e Maria Prestia. Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Arquivo Nacional. Rio de Janeiro, 27 de agosto de 1931. OOAdm Cor A931.54, p.186

[9] LOPES, Maria Margaret. Proeminência na mídia, reputação em ciências: a construção de uma feminista paradigmática e cientista normal no Museu Nacional do Rio de Janeiro. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.15, supl., p.73-95, jun. 2008. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/hcsm/v15s0/04.pdf

[10] TOLENTINO, Thiago Lenine Tito. Do ceticismo aos extremos: cultura intelectual brasileira nos escritos de Tristão de Athayde (1916-1928). Tese (doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 2016, p. 221. Disponível em https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/BUOS-AQ8PMU

[11] Na Federação Internacional Feminina foram inscritas as primeiras madrinhas dos órfãos da revolução constitucionalista. Diário Nacional – 17/8/1932. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=213829&pesq=Federa%C3%A7%C3%A3o%20Feminina%20Internacional&pagfis=15759

[12] Uma agradável visita à Casa da Criança. Correio de São Paulo. 8/6/1933. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=720216&Pesq=Federa%c3%a7%c3%a3o%20Feminina%20Internacional&pagfis=1773

[13] FRACCARO, Glaucia Cristina Candian. Uma história social do feminismo – Diálogos de um campo político brasileiro (1917-1937). Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 31, nº 63, p. 7-26, janeiro-abril 2018, p. 10. Disponível em http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/71642

[14] Carta de Maria Prestia a Bertha Lutz. São Paulo, 26 de junho de 1931. Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Arquivo Nacional. BR_RJANRIO_Q0_ADM_COR_A931_0086_d0001de0001, p. 4.

[15] GATTAI, Zelia. Anarquistas, graças a Deus. Ed. Record, 1979, p. 245.

 

*Claudia Beatriz Heynemann é Doutora em História | Pesquisadora do Arquivo Nacional

 

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Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

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Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

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