Marco no fotojornalimo brasileiro: a seca no Ceará é documentada com fotografias

 

J.A. Correia. Secca de 1877-78, 1877-1878. Ceará / Acervo FBN

J.A. Correia. Secca de 1877-78, 1877-1878. Ceará / Acervo FBN

Segundo o trabalho “Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira”, dos pesquisadores Joaquim Marçal Ferreira de Andrade e Rosângela Logatto, a publicação de fotos de vítimas da maior seca nordestina do século XIX foi uma das iniciativas pioneiras da imprensa brasileira na utilização de fotografias como documentos comprobatórios de um fato (Anais da Biblioteca Nacional, vol 114, de 1994, p.71-83).

Para denunciar a tragédia, o chargista português Rafael Bordalo Pinheiro (1846 – 1905) publicou, em 20 de julho de 1878, em uma ilustração da revista O Besouro, duas fotos que fazem parte de um conjunto de 14 registros fotográficos de vítimas da seca ocorrida entre 1877 e 1878. Porém, não foi dado crédito para o autor das fotos, Joaquim Antônio Correia, cujo ateliê ficava em Fortaleza, no Ceará.

Link para O Besouro de 20 de julho de 1878, ano I, n.16

Esse conjunto de fotografias pertence, atualmente, ao acervo da Biblioteca Nacional.  São imagens chocantes, em formato de cartes de visite, e retratam crianças, homens e mulheres desnutridos e maltrapilhos, de aparência doentia, e, muitas vezes, as fotos, feitas em estúdio, trazem textos rimados que se referem à miséria.

Acessando o link para as fotografias de Joaquim Antônio Correia sobre a seca nordestina de 1877/1878 disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

A publicação da ilustração litográfica das duas fotos sendo seguradas por um esqueleto vestindo paletó, sob o título “Páginas tristes – Scenas e aspectos do Ceará (para S. Majestade, o Sr. Governo e os Senhores Fornecedores verem)”, tinha o objetivo de reforçar denúncias feitas pelo escritor e jornalista José do Patrocínio (1853 – 1905) em artigos publicados no periódico de texto Gazeta de Notícias. Patrocínio fazia, na época, a cobertura jornalística da seca com o principal objetivo de acompanhar a aplicação dos recursos governamentais em seu combate. Partiu em 10 de maio de 1878 e retornou ao Rio de Janeiro, em 12 de agosto do mesmo ano. As matérias foram publicadas, na coluna Folhetim, na primeira página da Gazeta de Notícias, sob o título “Viagem ao Norte” (1).

Mas só o texto não era suficiente. Então, Patrocínio enviou as fotos para a redação da revista O Besouro, para a qual já havia mandado, antes da viagem, o artigo “Sermão de Lágrimas” (O Besouro, edição de 4 de maio de 1878 ), em que tratava, com preocupação, a seca e a situação dos retirantes.

A publicação da ilustração com as fotos de Joaquim Antônio Correia, na revista O Besouro, foi um verdadeiro “anticartão de visita, veemente panfleto que denuncia uma realidade que muitos membros da corte se negavam a enxergar”(“Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira”).

Abaixo, está reproduzido o texto publicado no O Besouro, na página seguinte à ilustração com as fotografias:

“O Ceará

O nosso amigo José do Patrocínio, em viagem por aquela provincia, enviou-nos as duas photographias por que foram feitos os desenhos da nossa primeira página.

São dois verdadeiros quadros de fome e miséria. E´ n´aquelle estado que os retirantes chegam á capital, aonde quasi sempre morrem, apezar dos apregoados soccorros, que segundo informações exactas são distribuídos de maneira improficua.

A nossa estampa da primeira pagina é uma prova cabal áquelles que accusavam de exageração, a pintura que se fazia do estado da infeliz província.

Repare o governo e repare o povo, na nossa estampa, que é a cópia fiel da desgraça da população cearense.

Continuaremos a reproduzir o que o nosso distincto collega nos enviar a tal respeito.”

Uma curiosidade: também dessa viagem ao norte do país originou-se o romance de José do Patrocinio, Os Retirantes, publicado na Gazeta de Notícias, em estilo de folhetim, entre 29 de junho e 10 de dezembro de 1879.

 

(1) – Links para os artigos escritos por José do Patrocínio sob o título “Viagem ao Norte”.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 1º de junho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 6 de junho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 20 de julho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 23 de julho de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 3 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 15 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 22 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 30 de agosto de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 7 de setembro de 1878.

Coluna Folhetim, “Viagem ao Norte”, Gazeta de Notícias, edição de 12 de setembro de 1878.

 

Breve cronologia de Joaquim Antônio Correia (18? – ?)

 

seca1

 

1874 – Até este ano, o nome de Joaquim Antônio Correia apareceia no cadastro de contribuintes como dono de uma casa comercial especializada em produtos manufaturados fora da província,que ficava na rua da Palma , nº 17.

1877 - Estabeleceu como fotógrafo na rua Formosa, n° 31. Atuou como retratista por não menos de dez anos e foi contemporâneo de Agio Pio, do prussiano Carlos Frederico Johann Reeckell, do dinamarquês Niels Olsen (1843 – 1911) associado ao austríaco Constantino Barza, do francês Baubrier e de Francisco Brandão, dentre outros.

 

 

 

1878 – Defendeu-se da acusação de comercializar indevidamente retratos que produzia de moças de família e ameaçou pendurar de cabeça para baixo os retratos de seus devedores (O Cearense, 12 de maio de 1878).

Em maio, conheceu o escritor José do Patrocínio (1853 – 1905), que havia ido para o Ceará para conhecer mais de perto a tragédia da seca. Voltando para o Rio de Janeiro, publicou duas fotos da seca no Ceará de autoria de Correia, na revista O Besouro, de 20 de julho de 1878, do chargista português Rafael Bordallo Pinheiro (1846 – 1905). Foi uma das iniciativas pioneiras da imprensa brasileira na utilização de fotografias como documentos comprobatórios de um fato. Foi um marco na história do fotojornalismo brasileiro.

A publicação da ilustração litográfica das duas fotos sendo seguradas por um esqueleto vestindo paletó, sob o título “Páginas tristes – Scenas e aspectos do Ceará (para S. Majestade, o Sr. Governo e os Senhores Fornecedores verem)”, tinha o objetivo de reforçar denúncias feitas por do Patrocínio em artigos publicados no periódico de texto Gazeta de Notícias. Patrocínio fazia, na época, a cobertura jornalística da seca com o principal objetivo de acompanhar a aplicação dos recursos governamentais em seu combate. Partiu em 10 de maio de 1878 e retornou ao Rio de Janeiro, em 12 de agosto do mesmo ano. As matérias foram publicadas, na coluna Folhetim, na primeira página da Gazeta de Notícias, sob o título “Viagem ao Norte”. Mas só o texto não era suficiente. Então, Patrocínio enviou as fotos para a redação da revista O Besouro, para a qual já havia mandado, antes da viagem, o artigo “Sermão de Lágrimas” (O Besouro, edição de 4 de maio de 1878 ), em que tratava, com preocupação, a seca e a situação dos retirantes.

1881 – Seu estúdio fotográfico dispunha de um grande sortimento de quadros de gosto…máquinas de 4 objetivas…e tudo por preço tão diminuto que admira.

 

 

1883 / 1884 – Antes da assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, Fortaleza, em 24 de maio de 1883, tornou-se a primeira capital brasileira a libertar todos os escravizados. No ano seguinte, em 25 de março de 1884, o Ceará passou a ser o primeiro estado brasileiro a extinguir a escravidão. Correia documentou os líderes da luta escravagista em fotos chamadas de Retratos Libertadores e, em 1883, as comercializava.

 

O Libertador, de 1887

O Libertador,  9 de maio de 1883 / História da fotografia no Ceará do século XIX

 

1885 – Correia anunciou que havia adquirido, em Paris, uma nova máquina para retratos instantâneos (O Cearense, de 28 de julho de 1885, última coluna).

1886 – Anunciava que em seu estabelecimento fotográfico tirava-se retratos pelos processos mais aperfeiçoados (O Libertador, 8 de junho de 1886, última coluna).

1892 – Provavelmente continuou trabalhando como fotógrafo até este ano.

Em 29 de dezembro, inaugurou a primeira fábrica de louças do Ceará, no Boulevard da Conceição (A República, 28 de dezembro de 1892, quarta coluna).

1893 – Anunciou a venda de seu estúdio fotográfico:

“Joaquim Antonio Correia vende a sua fotografia constando de boas lentes, drogas, punsas, etc. A tratar: Rua Formosa, nº 31″ (A República, 30 de maio de 1893). Residia na rua Floriano Peixoto, nº 95.

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de; LOGATTO, Rosângela. Imagens da Seca de 1877-78 – Uma contribuição para o conhecimento do fotojornalismo na imprensa brasileira.  Anais da Biblioteca Nacional, vol 114, de 1994, p. 71-83.

BEZERRA, Ari Leite. História da fotografia no Ceará do século XIX. Edição do autor, 2019.

Fundação Palmares

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

Link para o artigo 500 mil mortos: a tragédia esquecida que dizimou brasileiros durante 3 anos no século 19, de Camilla Veras Mota, Camila Costa e Cecilia Tombesi publicada no site da BBC, em 18 de junho de 2021, com as fotografias de Joaquim Antonio Corrêa.*

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

*Esse link foi acrescentado no artigo em 19 de junho de 2021.

**Essa breve cronologia foi inserida em 19 de abril de 2022.

 

O alagoano Augusto Malta, fotógrafo oficial do Rio de Janeiro entre 1903 e 1936

Foto do Arquivo recortada

Anônimo. Augusto Malta. Rio de Janeiro. Acervo Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.

Já em 1900, o alagoano Augusto Malta, que viria a ser o mais  importante cronista fotográfico do Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XX, passeava e trabalhava, pedalando pelas ruas da cidade, tendo sido, inclusive, secretário do Grupo de Velocemen, criado para organizar passeios e outros divertimentos ciclistas (Semana Sportiva, 25 de agosto de 1900, na seção “Velocipedia”).

Essa sua relação com a cidade e sua paisagem, construída, inicialmente, por seus deslocamentos com sua bicicleta, se expandiria para a formação de seu significativo legado iconográfico.

Foi, exatamente, a partir da troca de uma bicicleta por uma máquina fotográfica que o Rio de Janeiro ganhou um de seus mais atuantes fotógrafos. Em 1900, Malta comercializava tecidos finos no Centro do Rio e, para fazer entregas de encomendas, usava como transporte a bicicleta. Um de seus fregueses, um aspirante da Marinha, propôs a troca e, a partir desse trato, Augusto Malta começou a se interessar por fotografia.

Em 1903, foi contratado pela Prefeitura do Rio de Janeiro como fotógrafo oficial, cargo criado para ele. Passou a documentar a radical mudança urbanística promovida pelo então prefeito da cidade, Francisco Pereira Passos (1836-1913), período que ficou conhecido como o “bota-abaixo”. Augusto Malta trabalhou na Prefeitura até 1936, quando se aposentou.

Acessando o link para as fotografias de autoria de Augusto Malta e de seus filhos Aristógiton e Uriel disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Sobre o início de sua carreira, Malta, em entrevista para Raymundo Athayde, na Revista da Semana, edição de Natal de 16 de dezembro de 1944, comentou:

“Eu, no entanto, continuei a vender fazendas a pé. Quanto à máquina, tomei gosto pela fotografia e, aos domingos, em companhia de um amigo, também amador da arte, tirava vistas da cidade, grupos de amigos etc. Confesso que sentia grande sensação quando via surgirem no papel as belas e surpreendentes imagens que o sal de prata revelava e o hipossulfito fixava a meus olhos, na câmara escura improvisada em minha casa. E vivia assim nesse ingênuo amadorismo, quando um fornecedor da Prefeitura, meu amigo, levou-me para tirar fotografias das obras que então o grande Pereira Passos realizara em 1903. Na época, o Rio começava a mudar a indumentária e remoçar. Por acaso o insuperável Prefeito viu as fotografias que eu tirava por esporte e gostou. Propôs-me um emprego na Prefeitura e eu, sem relutâncias, aceitei”.

Além de ter documentado as transformações urbanas e os grandes eventos da cidade como a Exposição Nacional de 1908, a construção do Teatro Municipal, em 1909; a Revolta da Chibata, em 1910; e a inauguração do Cristo Redentor, em 1931; fotografou personalidades políticas, intelectuais e artísticas; paisagens, monumentos, lojas, o casario decadente e as ressacas. Registrou também aspectos da vida carioca como, por exemplo, o carnaval de rua, o movimento dos quiosques, os eventos sociais, os moradores de cortiços, os vendedores ambulantes, as prostitutas, os marinheiros e cenas de praia.

Suas fotos foram divulgadas em guias turísticos, cartões-postais, revistas e publicações oficiais, tendo ajudado a formar a identidade visual da Belle Époque no Rio de Janeiro e contribuído, decisivamente, para a preservação da memória da cidade. Foi, sem dúvida, um importante incentivador do fotojornalismo no Brasil, tendo fornecido imagens de acontecimentos, pessoas, aspectos urbanos e paisagens para diversas revistas e jornais.

Segundo o artigo de Regina da Luz Moreira, Augusto Malta, dono da memória fotográfica do Rio, publicado no Portal Augusto Malta do Acervo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, em termos técnicos, Malta manteve-se sempre fiel ao seu equipamento, só admitindo mudanças a partir do momento em que o filho Aristógiton passou a trabalhar com ele. Foram então introduzidas câmaras americanas e alemãs, as mais modernas então existentes. Mesmo assim, até praticamente os 90 anos continuou a fotografar com chapas de vidro, optando, no entanto, pelas de tamanho mais reduzido, como as de 13 cm por 18 cm.

 

Fotógrafo Malta

Charles Julius Dunlop

dunlop

Malta, de óculos, com os irmãos Rodolfo (sentado) e Henrique (em pé) Bernardelli, escultor e pintor, respectivamente

“O Major da Guarda Nacional, Augusto Cesar Malta de Campos, ou melhor, o fotógrafo Malta, como é mais conhecido, é o profissional mais antigo do Rio de Janeiro. Possui ele um arquivo completo dos acontecimentos mais importantes desta cidade, nos últimos 50 anos, com toda a história da sua transformação, todas as realizações da Prefeitura, documentada em mais de 30 mil chapas.
O carinho que tem por essa história e por essas fotografias é quase uma religião para ele. Malta esquece tudo para ir buscar uma fotografia antiga e com ela tirar uma dúvida sobre uma data ou um episódio qualquer da história do Rio de Janeiro.
Funcionário municipal aposentado, contando 93 anos de idade, goza de uma saúde de ferro. “Não acredito em outros mundos, diz ele. Morrer é descuido. Eu pretendo chegar aos 120 anos!”
Augusto Malta reside em Niterói, na praia das Flechas, onde toma diariamente o seu banho de mar, mas vem sempre ao Rio rever os amigos e matar saudades. Traz consigo, invariavelmente, uma volumosa pasta, mais parecendo uma mala portátil, atulhada de fotografias do mais vivo interesse para a história carioca.
Malta não começou a vida como fotógrafo. Em fins de 1888, vindo de Alagoas, onde nasceu na cidade de Paulo Afonso, empregou-se no comércio, como auxiliar de escrita. No ano seguinte, já era guarda-livros da firma Leandro Martins. Nesse ano, presenciou fatos memoráveis: viu quando Deodoro da Fonseca foi ao encontro da tropa, na antiga praça da Aclamação, no dia 15 de novembro, e ouviu quando Sampaio Ferraz deu vivas à República que nascia.
Como republicano ardoroso que era, assinou, no Paço Municipal, a ata da Proclamação, cujo original está guardado no Museu da cidade, e seguiu à frente da massa popular como porta-estandarte do “Centro Republicano Lopes Trovão”, que foi a bandeira dos nossos primeiros dias da República.
Depois, estabeleceu-se por conta própria, com uma casa de molhados, na rua do Ouvidor, canto de Uruguaiana, mas o negócio não foi avante. “Dei com os burros n’água”, diz ele.
Mudando de profissão, passou a vender fazendas por amostras, tornando-se o precursor dos vendedores a prestação. Montado na sua bicicleta, visitava diariamente a freguesia, que era das mais seletas. A Sra. Campos Sales, a Viscondessa de Guai (Sra. Joaquim Elísio Pereira Marinho) e outras damas da alta sociedade, embora não comprando a prestação, davam preferência ao amável vendedor que lhes levava a mercadoria em casa.
Foi nessa época que um amigo despertou em Augusto Malta a idéia de tornar-se fotógrafo profissional, quando lhe propôs a troca de sua bicicleta por uma máquina fotográfica. O negócio foi aceito, e nessa sua nova função tomou contacto com o prefeito Francisco Pereira Passos que, apreciando a sua atividade e gostando dos seus trabalhos, criou para ele, em julho de 1903, o lugar de fotógrafo municipal. Daí o acervo extraordinário de fotografias que possui sobre a evolução da cidade, a qual acompanhou dia a dia, com alma de verdadeiro artista.
Na fotografia, por ele próprio tirada em 1913, vemo-lo de terno escuro com os irmão Bernardelli, Rodolfo (escultor) e Henrique (pintor). “
 Rio Antigo, vol. II, 1956

 

 

Cronologia de Augusto Malta (1864 – 1957)

 

 

1864 – Em 14 de maio, Augusto Cesar Malta de Campos nasceu em Mata Grande, Alagoas, filho do escrivão Claudino Dias de Campos e Blandina Vieira Malta de Campos. Foi batizado em 5 de junho, na matriz de Nossa Senhora de Mata Grande.

1886 – Deixou de morar com o padre Antonio Marques de Castilho, com quem havia ido residir por decisão de seu pai, que queria que ele seguisse a carreira religiosa. Alistou-se no Exército, no Recife. Pretendia seguir a carreira militar, mas, posteriormente, quando cumpriu o prazo de tempo de serviço, foi dispensado.

1887 - Serviu no Exército como cadete sargento. Tornou-se republicano e participou com estudantes de encontros revolucionários.

1888 – Em maio, participou, ainda no Recife, de manifestações a favor da abolição da escravatura.

No fim desse ano, chegou ao Rio de Janeiro. Seu primeiro emprego na cidade foi o de auxiliar de escrita da Casa Leandro Martins, localizada na rua dos Ourives, atual rua Miguel Couto.

1889 - Foi promovido a guarda-livros.

Participou dos acontecimentos de 15 de novembro de 1889, quando foi proclamada a República no Brasil e, no dia seguinte, foi um dos signatários do termo de juramento lido na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, dando posse ao governo provisório republicano.

1890 – Por volta desse ano, Augusto Malta visitou a família, em Alagoas, e trouxe, para o Rio de Janeiro, seus irmãos Alfredo e Joaquim Pópolo. Seus irmãos Fernando e Teófilo vieram para o Rio um pouco depois.

Casou-se com sua prima distante, a alagoana Laura Oliveira Campos. O casal teve cinco filhos: Luthgardes (1896-?), Arethusa (1898-1913), Callisthene (1900-1919), Aristocléa (1903-1934), afilhada do prefeito Pereira Passos; e Aristógiton (1904-1954). Todas as filhas do casal morreram de tuberculose.

Durante a década de 1890, abriu casas comerciais, mas não foi bem sucedido. Fundou uma loja de secos e molhados, a Casa Ouvidor, na rua de mesmo nome, mas teve que fechá-la. Depois, instalou outra loja de secos e molhados, na rua Larga de São Joaquim, atual avenida Marechal Floriano, que também não prosperou. Começou, então, a vender tecidos finos.

1900 – Em agosto, foi criado, entre os sócios do Congresso Commercial, o Grupo de Velocemen com o objetivo de organizar passeios ciclísticos pela cidade. Augusto Malta foi aclamado secretário da agremiação (Semana Sportiva, 25 de agosto de 1900, na seção “Velocipedia”).  Foi noticiado o passeio ciclístico inaugural do grêmio velocipédico (Semana Sportiva, 29 de setembro de 1900, na seção “Velocipedia”).

Um dos clientes de Malta, um aspirante da Marinha, propôs que ele trocasse a bicicleta, que usava para entregar encomendas de tecidos, por uma máquina fotográfica. No início, Malta não aceitou, mas dias depois concordou com a troca. Continuou a vender fazendas, a pé, e começou, então, a se interessar por fotografia. Aos domingos, saía para tirar fotografias com um amigo, também fotógrafo amador.

1903 – Foi apresentado pelo empreiteiro Antônio Alves da Silva Júnior, fornecedor da Prefeitura do Rio de Janeiro, que já havia visto suas fotografias, ao prefeito, Francisco Pereira Passos (1836-1913), que promovia uma grande reforma urbana na cidade, que ficou conhecida como o “bota-abaixo”. Ele precisava de um fotógrafo para registrar as obras e os imóveis a serem desapropriados para posteriores pagamentos de indenizações. Em 27 de junho, pelo Decreto Municipal 445, Augusto Malta foi nomeado fotógrafo da Prefeitura do Distrito Federal. O cargo foi criado para ele e era subordinado à Diretoria Geral de Obras e Viação da Prefeitura. Trabalhou durante 33 anos para a Prefeitura do Rio de Janeiro.

1904 – Fotografou a comemoração do Dia do Trabalho, promovida por Domingo Rodrigues Pacheco e Antônio Alves da Silva Júnior, proprietários das pedreiras situadas à rua Conselheiro Bento Lisboa (Correio da Manhã, 02 de maio de 1904, sob o título “Um almoço”). Este último foi quem apresentou Malta a Pereira Passos.

Malta um dos fundadores da Sociedade Cartophila Emanuel Hermann, uma associação incentivadora da divulgação de cartões-postais.

Foi realizada no escritório do jornal Correio da Manhã uma exposição com as fotos que Malta produziu da Batalha de Flores, e de outras de sua autoria (Correio da Manhã, 29 de setembro de 1904, quarta coluna).

1905 – O então prefeito Pereira Passos, na Mensagem enviada ao Conselho Municipal, chamava atenção para a importância do trabalho realizado no laboratório fotográfico da Diretoria de Obras e Viação pela verificação que permitirá aos vindouros da transformação que operam na cidade com os melhoramentos ora em execução.

No dia 7 de novembro, ocorreu um incêndio de grandes proporções no Centro do Rio de Janeiro, entre as ruas do Lavradio, da Relação, dos Inválidos e do Rezende. O laboratório e a residência de Malta, localizados na rua do Lavradio, nº 96, foram atingidos. Ele e a família conseguiram escapar apenas com a roupa do corpo (O Paiz, 8 de novembro de 1905, sob o título “Pavoroso Incêndio). Na ocasião, foram destruídos cerca de quinhentos clichês da coleção de Malta de pontos demolidos ou desaparecidos da cidade do Rio de Janeiro, devido à reforma urbana promovida pela Prefeitura.

Foi contratado pela The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company Limited – que ficaria popularmente conhecida como Light. Ao longo dos anos, prestando serviços para a empresa, Malta fotografou as atividades modernizadoras da Light no Rio de Janeiro, como a implantação dos bondes elétricos e da iluminação pública.

1906 – Faleceu sua esposa, Laura Oliveira Campos. Augusto Malta passou a viver maritalmente com Celina Augusta Verschueren (1884 – 19?), que trabalhava desde os 15 anos como babá dos filhos de Malta e Laura. Com Celina, Malta teve mais quatro filhos: Dirce (1907 – ?), Eglé (1909 – ?), Uriel (1910 – 1994) e Amaltéa (1912 – 2007).

Fotografou a Conferência Internacional Pan Americana, inaugurada, no Rio de Janeiro, em 23 de julho. Durante o evento, conheceu Joaquim Nabuco, na época representante do Brasil nos Estados Unidos. Tornaram-se amigos.

Em setembro, feriu sua mão esquerda fazendo experimentos com a câmara escura (Correio da Manhã, 12 de setembro de 1906,a primeira coluna, abaixo de “Assistência à Infância”).

Obteve a carta patente de major da Guarda Nacional assinada pelo então presidente da República, Afonso Pena (1847-1909). 

Foi identificado como major, além de fotógrafo da Prefeitura, quando fez uma visita ao ministro da Justiça e Negócios Interiores, Felix Gaspar de Barros e Almeida (1865 – 1907), que foi fotografado por ele (Correio da Manhã, 26 de setembro de 1906, na seção “Do Maranhão”, na sexta coluna).

1907 – Participou com fotografias que documentavam as transformações do Rio de Janeiro da Terceira Exposição do Photo-Club e primeira do Salão Livre de Belas Artes, promovida pelo Photo-Club. A mostra, realizada no Museu Commercial, na avenida Central, contava com 170 fotografias e 142 pinturas (Gazeta de Notícias, 13 de agosto de 1907, sob o título “Nossos Artistas”). Ganhou o terceiro prêmio na categoria de profissionais. O júri não considerou nenhum dos trabalhos merecedores do 1º e 2º lugares (O Paiz, 28 de agosto de 1907, abaixo da propaganda “Retalhos e Saldos”).

Malta apareceu em duas fotos da revista O Malho. Na primeira, de 3 de agosto de 1907, foi fotografado durante a queima das listas e cadernetas que serviram para o recenseamento feito pelo ex-prefeito Pereira Passos. Na edição de 10 de agosto, foi fotografado participando da inauguração oficial, pela Light and Power, do serviço de distribuição de energia elétrica, produzida por motor hidraúlico, no Rio de Janeiro.

1908 – Colaborou com fotografias na revista Exposição Nacional, edição especial da Revista da Época, fundada por Carlos Vianna.

1909 –  A Prefeitura, através da Diretoria de Estatística, ilustrou o guia La ville de Rio de Janeiro et ses environs com algumas de suas fotografias.

Foi extinto o cargo de Malta, que ficou adido à Subdiretoria de Serviços da Carta Cadastral, na Diretoria de Obras e Viação. Prestou, então, serviços particulares de fotografia para o ex-prefeito Pereira Passos.

Malta encontrou os equipamentos fotográficos que haviam sido roubados de sua casa (A Notícia, 26 de agosto de 1909, sob o título “Apprehensão de Furto“).

Passou a ser sócio efetivo do Centro Alagoano (O Século, 7 de outubro de 1909, sob o título “Centro Alagoano“).

Com o prefeito do Rio de Janeiro, Serzedelo Correa (1858-1932), visitou a Villa Ipanema e participou da inauguração da área de diversões da Brahma (O Paiz, 29 de novembro de 1909, sob o título “Villa Ipanema”).

1910 - Criou o Centro Fotográfico de Propaganda no Brasil.

Por ordem do prefeito Serzedelo Correa, foi posto à disposição da comissão de inspeção escolar (Gazeta de Notícias, 6 de agosto de 1910, na seção “Prefeitura“).

1911 – Em junho, fotografou o presidente da República, Hermes da Fonseca (1855 – 1923).

Foi autorizado pelo prefeito do Rio de Janeiro, Bento Ribeiro (1856-1921), a organizar a galeria dos ex-prefeitos (Gazeta de Notícias, 10 de julho de 1911, na seção “Prefeitura“).

Em outubro, lançou, em edição de autor, o Álbum geral do Brasil, primeiro fascículo de uma coleção de fotos do Rio de Janeiro e de outras cidades brasileiras.

1913 – O prefeito Bento Ribeiro recriou o cargo de fotógrafo oficial da Prefeitura e Malta foi reconduzido à sua antiga posição.

1914 - No Palácio da Guanabara, retratou o presidente da República, Wenceslau Brás (1868-1966) (Gazeta de Notícias, 14 de dezembro de 1914, última notícia da terceira coluna).

1919 – Foi inaugurada a nova sede do Centro Alagoano, sob a direção de Augusto Malta, na rua São José nº 34 (Gazeta de Notícias, 9 de março de 1919).

Com uma nota ilustrada com foto, foi noticiado o aniversário de Augusto Malta (Gazeta de Notícias 14 de maio de 1919).

1922 - Pela primeira vez, devido ao acúmulo de trabalho ocasionado pela Exposição do Centenário da Independência, Malta contratou um ajudante – seu irmão, Teófilo.

1925 – Quando prestava um serviço para a Sul América, uma explosão ocasionada pelo flash de sua máquina fotográfica dilacerou um de seus dedos. Malta foi operado e ficou internado no Hospital da Ordem Terceira da Penitência. Seu filho, Aristógiton, começou a auxiliá-lo na Prefeitura.

1930 – Ao longo dessa década, suas fotos ilustraram artigos de Ulysses de Aguiar, um dos pseudônimos de Luiz Gastão d’ Escragnolle Dória (1869-1948), na Revista da Semana, e também de outros autores (Revista da Semana, 2 de fevereiro de 1935, 2 de março de 193527 de julho de 193522 de outubro de 1938).

Em 13 de maio, foi inaugurada, na Associação Brasileira de Imprensa, uma exposição individual de fotografias de Augusto Malta, “O Rio de Janeiro Antigo”.

1931 -1932 –  A Diretoria Geral de Obras e Viação foi substituída pela Diretoria Geral de Engenharia e Malta começou a organizar o arquivo histórico e fotográfico dos serviços executados. Começou então a fornecer ao Arquivo Público as fotografias relativas ao desenvolvimento da cidade ou de cerimônias realizadas.

1936 – Malta deu uma entrevista sobre a extinção dos quiosques no Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 10 de janeiro de 1936). Uma semana depois, um leitor contestou a entrevista (Correio da Manhã, 17 de janeiro de 1936, na última coluna, sob o título “Os velhos kiosques do Rio de Janeiro”).

Foi concedida a ele, pela Associação Brasileira de Imprensa, a carteira de jornalista profissional (Diário Carioca, 4 de abril de 1936).

O jornal O Globo de 1° de agosto, publicou uma matéria sobre a elegância de Malta e comentou o fato dele ter lançado a moda dos óculos de aro de tartaruga. Comentou, também, que ele sempre usava um panamá de fita preta. Sempre sem colete, ao pescoço esvoaçava e ainda esvoaça como borboleta uma gravata de laço preto.

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O Globo, 1º de agosto de 1936

O Globo, 1º de agosto de 1936

 

Em 25 de agosto, Augusto Malta aposentou-se da Prefeitura e foi substituído por seu filho, Aristógiton, a partir de 9 de setembro do mesmo ano. Posteriormente, seu outro filho, Uriel, passou a trabalhar com o irmão. Augusto Malta continuou a trabalhar como fotógrafo.

Foi um dos colaboradores da homenagem que o Diário de Notícias publicou na ocasião do centenário do ex-prefeito Pereira Passos (Diário de Notícias, 29 de agosto de 1936). Com a publicação de uma foto de Malta, o suplemento do jornal A Noite agradeceu a Malta por ter facilitado singularmente o trabalho de reminiscência fotográfica da remodelação da cidade em uma matéria publicada pelo periódico na ocasião do centenário de Pereira Passos (A Noite, 1º de setembro de 1936).

Malta foi um dos homenageados por serviços prestados ao Centro Alagoano, na ocasião da comemoração do 119º aniversário da emancipação de Alagoas e do 49º aniversário da associação (A Offensiva, 16 de setembro de 1936, na última coluna, sob o título “Emancipação política do Estado de Alagoas”).

1937 - Participou, como escrutinador, das eleições da Associação Brasileira de Imprensa (Correio da Manhã, 4 de maio de 1937, na terceira coluna).

1938 – Foi publicada uma reportagem sobre Augusto Malta. Nela, Malta comentou ter produzido a foto do Barão de Rio Branco (1845 – 1912) de costas por sugestão do escultor Rodolfo Bernardelli (1852 – 1931) (Diário da Noite, 13 de janeiro de 1938).

O jornal Diário da Noite sugeriu que a Prefeitura adquirisse o arquivo fotográfico de Malta (Diário da Noite, 2 de março de 1938, na última coluna, sob o título “Uma suggestão do Diário de Noite”).

Tornou-se sócio honorário do Centro Carioca (O Imparcial, 29 de junho de 1938, sob o título “A grande Assembléa Geral do Centro Carioca”).

Foi lançado o livro O Rio de Janeiro de meu tempo, de Luiz Edmundo, ilustrado com fotos de diversos fotógrafos, dentre eles, Malta (O Jornal, de 28 de agosto de 1938).

O presidente da República, Getúlio Vargas (1882 – 1954), visitou a “Feira de Amostras”,  uma exposição de diversas secretarias da Prefeitura do Rio de Janeiro. Um dos stands de maior sucesso foi o da Secretaria de Viação, Trabalho e Obras Públicas, que expôs fotos de Augusto Malta e de seu filho, Aristógiton (A Noite, 31 de outubro de 1938, sob o título “A evolução do Rio através da fotografia”).

1939 – O Diário da Noite publicou uma fotografia de autoria de Malta, de 1907, em que o escritor Machado de Assis foi retratado tendo uma síncope e sendo socorrido por populares no Cais Pharoux (Diário da Noite, 21 de junho de 1939).

1940 – Durante essa década, suas fotos ilustram vários artigos de Luiz Gastão d’ Escragnolle Dória (1869-1948) na Revista da Semana.

Foi morar em Niterói e anunciou a venda de alguns de seus quadros (Correio da Manhã, 8 de fevereiro de 1940, na primeira coluna, sob o título “Photographias do Rio Antigo”).

1941 – Vende para a Biblioteca Nacional 280 fotos distribuídas em vários álbuns.

Na coluna assinada por Roberto Macedo, intitulada “Notas Históricas – A Primeira Posse Republicana”,  no Correio da Manhã, Augusto Malta foi citado como um dos signatários do termo de juramento lido na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em 16 de novembro de 1889, dando posse ao governo provisório republicano (Correio da Manhã, 24 de outubro de 1941, sétima coluna).

1942 – Vendeu fotografias para o Museu Paulista.

Foi a uma missa de Ação de Graças pelo restabelecimento da saúde do presidente do Brasil, Getúlio Vargas (1882-1954), realizada na igreja Nossa Senhora da Glória do Outeiro (O Jornal,  27  de agosto de 1942).

Sofreu uma intervenção cirúrgica (O Jornal, 26 de setembro de 1942, na seção “Notas Mundanas”).

1943 – Malta apoiou a iniciativa de presentear-se os condutores de bondes no Natal (Gazeta de Notícias, 24 de novembro de 1943).

Em reportagem sobre o Barão do Rio Branco (1845 – 1912), foram publicadas várias fotos de autoria de Augusto Malta (Illustração Brasileira, outubro de 1943)

1944 – Malta foi roubado por uma ladra na barca entre o Rio de Janeiro e Niterói (Correio da Manhã10 de fevereiro de 1944, na seção “O Dia Policial”).

Na edição de natal da Revista da Semana, de 16 de dezembro de 1944, foi descrito como um nortista tipo perfeito da classificação conhecida: braquicéfalo, altura mediana, maxilares salientes, olhos amendoados como os de um mongol. Na verdade, visto de perfil, parece-se com um soldado de Chiang-Kai-Chek, que tivesse abandonado a farda… Há cinquenta anos usa uma gravata borboleta, dessas preferidas pelos pintores e poetas do século passado.

1945 – Malta foi comparado a Marc Ferrez (Boletim da Sociedade de Geographia do Rio de Janeiro, 1945): A documentação fotográfica e de gravuras era, como se vê, abundante e valiosa, oriunda de desenhos de Rugendas e outros, e de fotografias de Marc Ferrez, que desempenhou no Império a função que mais tarde seria, no Rio, exercida por Augusto Malta, fotógrafo da Prefeitura: de documentador pela imagem dos principais acontecimentos de seu tempo”. 

No Jornal do Brasil, de 11 de fevereiro de 1945, Malta é comparado a José de Alencar, no artigo “A velha e nobre Tijuca”, de Everardo Backheuser: “José de Alencar em Sonhos d´Ouro foi para a Tijuca das cercanias da Guerra do Paraguai o que Augusto Malta representa para o Rio de Janeiro do tempo de Pereira Passos. Cada qual ao seu modo gravou de maneira indelével as recordações do “quadro geográfico” da respectiva era. Graças a Malta, eu e outros temos podido documentar asserções sobre a geografia carioca do princípio do século. José de Alencar vai me servir para ilustrar com exemplos fatos da geografia da Tijuca daqueles afastados tempos. Em artigos posteriores, Backheuser voltou a elogiar o trabalho de Malta.

1946 - Foi noticiado que Augusto Malta teve sua carteira roubada em um bonde no Rio de Janeiro (O Fluminense, 21 de agosto de 1946, sob o título “Cuidado com os batedores de carteiras”).

1947 - Em seu aniversário, foi homenageado pelos jornalistas credenciados junto ao gabinete do prefeito (A Noite, 14 de maio de 1947, na coluna “Sociedade”).

1948 – Publicação da reportagem Centenário de Rodrigues Alves, com texto de Raymundo Athayde e fotos de Augusto Malta (O Cruzeiro, 17 de julho de 1948).

Publicação da reportagem Biografia da cidade – Largo da Carioca, com texto de Raymundo Athayde e fotos de Augusto Malta e Ângelo Regato (O Cruzeiro, 16 de outubro de 1948).

1949 – Publicação da reportagem Centenário de Joaquim Nabuco, com texto de Raymundo Athayde e fotos de Augusto Malta, identificado como o fotógrafo mais antigo do Brasil (O Cruzeiro, 20 de agosto de 1949).

Publicação da reportagem Rui na intimidade, com texto de Raymundo Athayde e fotos de Augusto Malta e Aristogiton Malta (O Cruzeiro, 12 de novembro de 1949).

1950 – Foi internado na Ordem Terceira da Penitência (A Manhã, 19 de janeiro de 1950, na seção “Mundo Social”).

Publicação da reportagem Banho de mar – 1915, com texto de Raymundo Athayde e fotos de Augusto Malta (O Cruzeiro, 22 de abril de 1950).

Por ocasião de seu aniversário, foi saudado como o mais velho repórter fotógrafo do Brasil (A Manhã, 13 de maio de 1950, na seção “Mundo Social“).

Na edição de O Cruzeiro, de 9 de setembro de 1950foi publicada a matéria Biografia da cidade – Do Convento da Ajuda às luzes da Cinelândia , com texto de Raymundo Athayde e fotos de Augusto Malta e Luciano Carneiro. Contava a história da Cinelândia e as  fotos antigas que ilustraram a reportagem foram produzidas por Malta, em 1911. São do Convento da Ajuda, de sua demolição e do terreno que ocupava, após a demolição; e do edifício do antigo Conselho Municipal. As fotografias abaixo estavam entre as que foram publicadas na reportagem.

 

 

 

 

1951 – Publicação da reportagem Biografia da Cidade – O Flamengo e suas ressacas, com texto de Raymundo Athayde e fotos de Augusto Malta (O Cruzeiro, 12 de maio de 1951).

1952 – Ao longo desse ano, a coluna “Transformações da Cidade”, do jornal Correio da Manhã, foi ilustrada com fotos de Malta.

Também a partir desse ano até 1955, a coluna “Rio Antigo”, de Charles Julius Dunlop (1908 – 1997), no mesmo jornal, foi, muitas vezes, ilustrada por fotos de Malta. Charles Dunlop e Malta haviam se conhecido na época em que Malta prestava serviços para a Light, empresa na qual Dunlop começou a trabalhar na década de 20.

1953 – Foi publicada uma fotografia dos arquivos de Augusto Malta sobre os banhos a fantasia do carnaval carioca (Diário da Noite, 14 de fevereiro de 1953).

Para ilustrar uma matéria sobre Ipanema, foi publicada uma foto do bairro, produzida por Malta, em 1907 (Diário de Notícias, 27 de março de 1953).

Foi publicado o artigo O Jubileu do Bota Abaixo, sobre a radical reforma urbana promovida pelo prefeito Pereira Passos no Rio de Janeiro, de autoria do acadêmico Pedro Calmon, com fotos de Augusto Malta (Revista da Semana, 8 de agosto de 1953).

Como parte das comemorações da Quinzena do Jornalismo, foi um dos 35 decanos da imprensa premiados pelo Sindicato dos Jornalistas com o diploma de honra (Diário Carioca, 21 de novembro de 1953, sob o título “Jornalistas Veteranos”).

1955 - Foi publicada uma foto de jornaleiros em torno de um quiosque, de autoria de Augusto Malta,  sob o título de “O Rio da Velha Guarda” (Diário da Noite, 8 de março de 1955).

Na série “Rio de Amanhã”, escrita por Almir de Andrade, foi publicada uma foto de Ipanema de autoria de Malta (Diário de Notícias, 1º de maio de 1955).

No mesmo ano, foram publicadas pelo Diário de Notícias fotos antigas de Copacabana, do Lido e do Leblon, também de autoria de Malta.

Reportagem sobre o lançamento do livro Rio Antigo, do pesquisador Charles Dunlop. Publicado pela Editora Gráfica Laemmert Ltda, conta a história do Rio com fotos de Malta, Marc Ferrez (1843 – 1923)George Leuzinger (1813 – 1892) e E.A. Mortimer (18? – 19?) (Revista da Semana, 5 de novembro de 1955).

1957 – Foi publicada uma reportagem sobre o arquivo de fotografias de Augusto Malta, na coluna “Letras Vivas” (Diário da Noite, 30 de março de 1957).

Foi lançado o segundo fascículo da publicação Rio Antigo, do pesquisador Charles Dunlop, com ilustrações de Ângelo Agostini (1843 – 1910), reproduzidas da Revista Illustrada, e com fotos de Malta, Marc Ferrez (1843 – 1923)George Leuzinger (1813 – 1892)  e E.A. Mortimer (18? – 19?) (Careta, 4 de maio de 1957, sob o título “Documentário Militar no Rio Antigo”).

Em 30 de junho, morte de Augusto Malta, no Hospital da Ordem Terceira da Penitência, devido a uma insuficiência cardíaca. Foi sepultado no dia seguinte, no Cemitério do Caju (Correio da Manhã, 2 de julho de 1957, na seção “Prefeitura”).

 

 

Para a elaboração da presente cronologia de Augusto Malta, além da pesquisa em dezenas de periódicos e revistas, valemo-nos, especialmente, do livro Augusto Malta e o Rio de Janeiro: 1903-1936, de George Ermakoff, e do artigo de Regina da Luz Moreira, “Augusto Malta, dono da memória fotográfica do Rio”, publicado no Portal Augusto Malta.

O lançamento do Portal Augusto Malta, em 2008, foi uma importante iniciativa do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ). No portal, estão reunidos o acervo do fotógrafo na referida instituição e no Museu Histórico da Cidade, além de fotografias de seus filhos, Aristógiton e Uriel Malta. Um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, Joaquim Marçal, foi consultor do projeto.

O Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, o Arquivo Fotográfico da Light, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o Instituto Moreira Salles, a Biblioteca Nacional e o Museu Histórico Nacional são outros importantes acervos da obra do fotógrafo.

Link para publicações sobre a obra de Augusto Malta no site do Instituto Moreira Salles

*Link para a matéria Banho de mar – 1915, escrita por Raymundo Athayde e ilustrada com fotografias de Augusto Malta, publicada na revista O Cruzeiro, 22 de abril de 1950).

Link para a matéria Do Convento da Ajuda às luzes da Cinelândia, escrita por Raymundo Athayde e fotos de Augusto Malta e Luciano Carneiro, publicada na revista O Cruzeiro, 9 de setembro de 1950. 

*O texto desta publicação foi revisto em 13 de junho de 2019.

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Anais do Museu Histórico Nacional: volume XXXII – 2000, pág 131.

BULHÕES, Antonio & REBELO, Marques. O Rio de Janeiro do bota-abaixo. Rio de Janeiro: Salamandra, 1997

CAMPOS, Fernando Ferreira. Um fotógrafo, uma cidade: Augusto Malta, Rio de Janeiro: Maison Graphique, 1987.

Catálogo da Exposição comemorativa da doação do Acervo Brascan ao IMS – Guilherme Gaenly e Augusto Malta: dois mestres da fotografia brasileira no Acervo Brascan. Rio de Janeiro: Instituto Moreira Salles, 2002

Dunlop, Charles Julius. Rio Antigo, volume II. Rio de Janeiro: Editora Rio Antigo, 1956.

ERMAKOFF, George. Augusto Malta e o Rio de Janeiro: 1903-1936 / George Ermakoff; tradução para o inglês Carlos Luís Brown Scavarda. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2009. 288p. : il.; 28cm

KOSSOY, Boris. A fotografia como fonte histórica: introdução à pesquisa e interpretação das imagens do passado. São Paulo: Secretaria da Ind., Com., Ciência e Tecnologia, 1980. (Coleção Museu &Técnicas; 4).

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Coleção Princesa Isabel: fotografia do século XIX. Rio de Janeiro: Capivara, 2008.432p.:il., retrs.

LOUREIRO, Elizabeth Cristina Marques de (coord.). Augusto Malta, Aristógiton Malta: catálogo da série negativo em vidro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1994. (Biblioteca carioca, 29. Instrumentos de pesquisa)

Nosso Século. São Paulo; Abril Cultural, 1980. vol 1 (1900-1910)

Portal Augusto Malta do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro

Site da Enciclopédia Itau Cultural

Site do Centro Cultural da Light

Site do Instituto Moreira Salles

Site do Museu da Imagem e do Som

O Rio de Janeiro de Marc Ferrez

foto de marc ferrez

Marc Ferrez. Marc Ferrez aos 33 anos, c. 1877. Rio de Janeiro. Acervo IMS.

No ano em que o Rio de Janeiro completa 450 anos de fundação, a Brasiliana Fotográfica faz uma homenagem à cidade com uma seleção de fotografias de Marc Ferrez (1843-1923), o brilhante cronista visual das paisagens e dos costumes cariocas da segunda metade do século XIX e do início do século XX. Sua vasta e abrangente obra se equipara a dos maiores nomes da fotografia do mundo.

Estabeleceu-se como fotógrafo, com a firma Marc Ferrez & Cia, em 1867, na rua São José, nº 96, e logo se tornou o mais importante fotógrafo do Rio de Janeiro. Cerca de metade da produção fotográfica de Ferrez foi realizada na cidade e em seus arredores, onde fotografou, além do patrimônio construído, a exuberância das paisagens naturais.

“E é nesse entorno que Ferrez fez muitas das imagens que melhor representam o seu trabalho de um ponto de vista mais pessoal e autoral…”. (1)

Outro segmento de sua obra iconográfica registrou as várias regiões do Brasil – ele foi o único fotógrafo do século XIX que percorreu todas as regiões do país, tendo sido, no referido século, o principal responsável pela divulgação da imagem do país no exterior.

Marc Ferrez nasceu no Rio de Janeiro, em 7 de dezembro de 1843, filho de Zépherin e Alexandrine Ferrez. Seu pai, um escultor e gravador francês, havia chegado no Rio de Janeiro em 1817, passando a integrar a Missão Francesa, que havia se instalado na cidade no ano anterior. Depois do falecimento de seus pais em 1851, ele foi viver em Paris com o gravador de medalhas Joseph Eugène Dubois. De volta ao Brasil, atuou sempre como fotógrafo e faleceu em 12 de janeiro de 1923 ( O Paiz, 14 de janeiro de 1923, sexta coluna e Gazeta de Notícias, 16 de janeiro de 1923,  última coluna), na capital que o acolheu e ele eternizou com sua arte.

(1) – Rio /Marc Ferrez – São Paulo: IMS; Göttingen: Steidl, 2015, pág. 9.

Acessando o link para as fotografias de Marc Ferrez disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

Carimbo de Marc Ferrez, c. 1875, Rio de Janeiro. Acervo IMS.

 

Convidamos os leitores para visitar a exposição Rio: primeiras poses – Visões da cidade a partir da chegada da fotografia (1840-1930), em cartaz no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, até 31 de dezembro de 2015.

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

Publicações da Brasiliana Fotográfica em torno da obra do fotógrafo Marc Ferrez 

 

 

Obras para o abastecimento no Rio de Janeiro por Marc Ferrez , de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 25 de janeiro de 2016

O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2016

Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de autoria de Sérgio Burgi, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de dezembro de 2016

No primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 22 de setembro de 2017

Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica,  publicada em 29 de junho de 2018

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlop, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 20 de julho de 2018

Uma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2018 

Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de abril de 2019

Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de agosto de 2019

Celebrando o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 4 de dezembro de 2019

Uma homenagem da Casa Granado ao imperial sob as lentes de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de fevereiro de 2020

Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado 6 de março de 2020

Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 16 de março de 2020

Bambus, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2020

O Baile da Ilha Fiscal: registro raro realizado por Marc Ferrez e retrato de Aurélio de Figueiredo diante de sua obra, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 9 de novembro de 2020

O Palácio de Cristal fotografado por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 2 de fevereiro de 2021

A Estrada de Ferro do Paraná, de Paranaguá a Curitiba, pelos fotógrafos Arthur Wischral (1894 – 1982) e Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 22 de março de 2021

Dia dos Pais – Julio e Luciano, os filhos do fotógrafo Marc Ferrez, e outras famílias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 6 de agosto de 2021

No Dia da Árvore, mangueiras fotografadas por Ferrez e Leuzinger, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 21 de setembro de 2021

Retratos de Pauline Caroline Lefebvre, sogra do fotógrafo Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 28 de abril de 2022

A Serra dos Órgãos: uma foto aérea e imagens realizadas pelos mestres Ferrez, Leuzinger e Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2022

O centenário da morte do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de janeiro de 2023

O Observatório Nacional pelas lentes de Marc Ferrez, amigo de vários cientistas, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de maio de 2023

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a potente imagem da Cachoeira de Paulo Afonso, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2023

A Fonte Adriano Ramos Pinto por Guilherme Santos e Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 18 de julho de 2023

Os 180 anos de nascimento do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 7 de dezembro de 2023

 

 

Florence, autor do mais antigo registro fotográfico existente nas Américas

 

“Não teria eu iniciado a arte mais do que maravilhosa de desenhar qualquer objeto, sem dar-me ao trabalho de o fazer com a própria mão?”

A indagação é do fotógrafo, desenhista, tipógrafo e naturalista francês Antoine Hercule Romuald Florence (1804-1879) e foi feita, em 24 de junho de 1833, em seu diário Livre d’annotations et de premiers matériaux.  Ele se referia a suas pesquisas e experimentos no campo da fotografia, que o haviam levado a inventar, ele também e no Brasil, um processo de criação fotográfica.

A Brasiliana Fotográfica destaca um dos mais antigos registros fotográficos existentes no continente americano – feito na vila de São Carlos, atual Campinas, no Estado de São Paulo. Trata-se de um conjunto de rótulos para frascos farmacêuticos produzidos por Hercule Florence, a partir das informações recebidas do boticário Joaquim Corrêa de Mello (1816-1877) sobre as propriedades do nitrato de prata.

A imagem foi feita em um papel sensibilizado fotograficamente com cloreto de prata em contato com um desenho produzido com ponta metálica sobre um vidro previamente enegrecido com fuligem, que foi exposto à luz do sol. Na mesma época da descoberta de Florence no Brasil, os franceses Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833), Hipollyte Bayard (1801-1887) e Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851) e o inglês William Henry Fox Talbot (1800-1877) faziam experimentos e investigações no campo da fotografia.

Também em seu Livre d´annotations et les premiers matériaux, em 1834, Florence usa pela primeira vez o verbo photographier –  cinco anos antes da palavra ser utilizada na Europa. Florence deixou uma descrição do procedimento adotado por ele para obter o registro fotográfico, em 1833. O método foi comprovado cientificamente por Boris Kossoy entre 1972 e 1976. Em meados de 1976, foi testado, com sucesso, nos laboratórios do Rochester Institute of Technology, nos Estados Unidos, sob a chefia do professor Thomas Hill. Em outubro do mesmo ano, a pesquisa de Kossoy foi apresentada no III Simpósio da História da Fotografia, na George Eastman House, em Rochester.

Acessando o link para as imagens de Hercule Florence disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Foi a partir da pesquisa e do teste realizados por Kossoy, aos quais se seguiu a publicação, pelo pesquisador brasileiro, do livro “1833: a Descoberta Isolada da Fotografia no Brasil” (1980), que Hercule Florence tornou-se internacionalmente conhecido. Inventor de um dos primeiros métodos de fotografia do mundo, Florence nasceu em Nice, em 28 de fevereiro de 1804**, chegou ao Brasil em 1824 e aqui viveu até sua morte, em 27 de março de 1879, em Campinas. Sua vida será tema desse portal em outra ocasião.

A imagem acima, dos rótulos de farmácia, pertencente ao acervo do Instituto Moreira Salles, integra uma pequena  série de desenhos impressos fotograficamente produzida por Florence, que são os mais antigos registros fotográficos nas Américas. Para saber mais sobre a descoberta de Florence, leia o ensaio de Sergio Burgi, um dos curadores do portal Brasiliana Fotográfica e coordenador de Fotografia do Instituto Moreira Salles. Foi escrito para o catálogo da exposição “Brasil Imperial e seus fotógrafos”, ocorrida entre 14 de junho e 4 de setembro de 2005, no Museu D´Orsay, em Paris.

Foi publicado nos Anais do Museu Paulista de dezembro de 2019 o artigo Revelando Hercule Florence, o Amigo das Artes: análises por fluorescência de raios X.  A física Márcia de Almeida Rizzutto, coordenadora do NAP-Faepah, atestou, com a ajuda do método conhecido como fluorescência de raios X por dispersão de energia (ED-XRF) para detectar a presença de elementos químicos que os manuscritos de Florence descrevem fielmente os processos de produção fotográfica por ele testados em 1833. Segundo Boris Kossoy, “é a comprovação física daquilo que já se sabia do ponto de vista químico”.*

 

Leia também O francês Hercule Florence (1804 – 1877), inventor de um dos primeiros métodos de fotografia do mundo, publicado em 7 de março de 2018, na Brasiliana Fotográfica.

 

O alemão Alberto Henschel (1827 – 1882), o empresário da fotografia

foto da Fundação Joaquim Nabuco

Photographia Allemã. Alberto Henschel (à direita) e Constantino Barza,  c. 1877. Recife, Pernambuco. Coleção de retratos Francisco Rodrigues, do acervo da Fundação Joaquim Nabuco – Ministério da Educação

No mês de junho são celebradas as datas de nascimento e de morte do berlinense Alberto Henschel, um dos mais importantes fotógrafos que atuaram no Brasil na segunda metade do século XIX. Chegou no Recife, em 1866, e, ao longo de 16 anos, teve uma intensa atividade no país. Segundo o historiador Boris Kossoy (1941 – ), Henschel pode ser considerado pioneiro no Brasil como empresário da fotografia, pois chegou a ter quatro estabelecimentos: o primeiro no Recife (1866), o segundo em Salvador (provavelmente em 1868) e os últimos no Rio de Janeiro (1870) e em São Paulo (1882). Dedicou-se com talento aos retratos, às paisagens e às imagens etnográficas, tendo se destacado nos retratos de mulheres africanas e afro-descendentes. Também fotografou vários membros da família real no Brasil.

Henschel fotografou o Rio e seus arredores, chegando até Nova Friburgo e mesmo ao Itatiaia, que naquele tempo atraía poucas pessoas. Fez paisagens, mas antes de tudo era exímio retratista. Não há quase nenhum álbum de família em que não figurem retratos de avós tirados por Alberto Henschel – afirmou Gilberto Ferrez (1908 – 2000), no livro em A Fotografia no Brasil: 1840-1900, destacando a importância de Henschel no panorama da fotografia brasileira oitocentista.

No livro Pioneers Phothographers of Brazil, Gilberto Ferrez chamou atenção especial sobre a série de vistas realizadas por Henschel em Itatiaia, em 1870, e, em Nova Friburgo, em 1875.  Considerava a escolha de Itatiaia misteriosa e, sobre as fotos de Nova Friburgo, comentou a capacidade do fotógrafo, já associado com Francisco Benque (1841 – 1921), em retratar os indivíduos e as construções numa confortável, até íntima, relação com a terra, uma relação particularmente evidente na fotografia do vale e da estação de Rio Grande, ou na da cascata do Pinel…. Essas fotos fazem parte do acervo da Biblioteca Nacional, podem ser acessadas nesse portal e estão na Galeria de Alberto Henschel ao final deste texto.

Acessando o link para as fotografias de autoria de Alberto Henschel disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Cronologia de Alberto Henschel (1827 – 1882)

cartão Albert Henschel

Identificação de Alberto Henschel / Acervo do IMS

1827 - Em 13 de junho, Alberto Henschel nasceu em Berlim, na Alemanha.

1866maio –  Chegou no Recife acompanhado de Karl Heinrich (Carlos Henrique) Gutzlaff no patacho hamburguês Catharine Jane (Diário de Pernambuco, edição de 28 de maio de 1866).

julho – Os dois fotógrafos associaram-se ao maranhense Julio dos Santos Pereira e, com ele, assumiram a direção do estabelecimento Photographia Alberto Henschel & C. , localizado na rua do Imperador, nº 38. No anúncio da abertura do negócio, os proprietários destacaram as photographias coloridas por um novo systema, que reune o brilho da pintura à óleo à pureza da aquarella (Diário de Pernambuco, edição de 7 de julho de 1866). Para atrair clientela, foi realizada no ateliê uma exposição com trabalhos feitos por Henschel na Europa. Foi neste mesmo endereço que entre 1860 e 1865 o fotógrafo A.W. Osborne tinha o estabelecimento fotográfico Galeria Americana (Diário de Pernambuco, de 7 de maio de 1860), comprado por Julio dos Santos Pereira em fevereiro de 1865  (Diário de Pernambuco, 2 de fevereiro de 1865, penúltima coluna), quando Osborne foi para o Rio de Janeiro (Jornal de Recife, 16 de fevereiro de 1865).

outubro – Henschell e Gutzlaff anunciaram o fim da associação com Julio dos Santos Pereira.

novembro – Foi anunciada a reabertura do novo ateliê fotográfico de Henschel, mas agora com o nome de Photographia Allemã e localizado no largo da matriz de Santo Antonio, nº 2 (Diário de Pernambuco, edição de 16 de novembro de 1866, primeira coluna). No anúncio, destacaram-se as qualidades do novo estabelecimento, dentre as quais o fato de possuir uma galeria envidraçada com cristais especiais capazes de atenuar os efeitos da luz forte.

1867 – Em junho, Henschel anunciou uma viagem à Europa, de onde retornou em setembro acompanhado do pintor alemão Karl Ernst (Carlos Ernesto) Papf (1833-1910), no vapor Oneida (Diário de Pernambuco, edições de 2 de junho e de 28 de setembro de 1867 – o sobrenome de Henschel está escrito errado). Já em outubro, foram publicados anúncios participando a volta de Henschel ao Recife e apresentando Papf como membro honorário da Academia Real de Pintura de Dresden (Diário de Pernambuco, edição de 26 de outubro de 1867). Nos anos que se seguiram, Papf trabalhou em todo os ateliês de Henschel, prestando serviços de fotopintura.

1868 – Henschel fez nova viagem à Europa para atualizar seus conhecimentos em fotografia e comprar novos equipamentos. Provavelmente, nesse ano terminou sua associação com Gutzlaff, que fundou em julho a Photographia Internacional, no Recife, na rua do Imperador, nº 38 (Diário de Pernambuco, 6 de junho de 1868, última coluna; e Diário de Pernambuco, 15 de julho de 1868, segunda coluna). . Henschel anunciou a técnica da marfimographia, a contratação de novos profissionais e a iminente abertura de uma filial da Photographia Allemã em Salvador, na Bahia (Jornal de Recife, edição de 21 de julho de 1868, quarta e quinta colunas, no pé da página). O ateliê da capital baiana ficava na rua da Piedade, nº 16. Posteriomente passou a funcionar no largo do Theatro.

1870 - Casou-se com Simy (1851 – 1920), filha do rabino inglês Isaac Amzalak, dono de armazéns e armador bem sucedido. Uma curiosidade: segundo o livro Salões e damas do Segundo Reinado, de Wanderley Pinho, o poeta Castro Alves se inspirou na beleza das três filhas do armador Amzalak para criar o poema Hebreia.

Henschel realizou a série de vistas em Itatiaia.

Foi anunciada a abertura da Photographia Allemã. Alberto Henschel & C., no Rio de Janeiro, sucedendo os fotógrafos Guilherme Mangeon e Van Nyvel. O novo estabelecimento localizava-se na rua dos Ourives, 40, atual rua Miguel Couto. No anúncio, foi informado que Van Nyvel continuaria a trabalhar no ateliê (Jornal do Commercio, edição de 18 de dezembro de 1870).

1871 - Nasceu no Rio de Janeiro o único filho de Henschel e Simy, Maurício, que viria a falecer em 1934.

Anunciada a contratação do  fotógrafo alemão Franz (Francisco) Benque (1841-1921), a quem Henschel foi associado até, provavelmente, 1878 (Diário do Rio de Janeiro de 10 e 11 de abril,  segunda coluna).

1872 – Henschel & Benque participaram da exposição da Academia Imperial de Belas-Artes e expuseram um retrato do poeta Castro Alves (1847 – 1871) ( Correio do Brazil, edição de 24 de junho de 1872, na coluna Folhetim). Em 23 de setembro, receberam uma visita de Suas Magestades e Altezas Imperiaes na Photographia Allemã ( Correio do Brazil, edição de 25 de setembro de 1872, na quinta coluna).

1873 – Henschel & Benque participaram da Exposição Universal de Viena. Enviaram dois retratos: de uma baiana quitandeira e da família real brasileira (Diário de Pernambuco, 10 de abril de 1873, quinta coluna).  Ganharam a medalha de mérito (A Reforma, edição de 10 de setembro de 1873).

1874 – Ao longo do segundo semestre, foram publicados vários anúncios no Jornal da Bahia anunciando a chegada de um pintor no ateliê de Salvador.

Segundo o artigo Dom Pedro II e a fotografia (2), de Ricardo Martim, pseudônimo de Guilherme Auler (1914-1965), publicado na Tribuna de Petrópolis, de 8 de abril de 1856, a dupla Henschel & Benque foi agraciada com o título de Photographos da Caza Imperial, em 7 de dezembro de 1874.

1875 – Chegada do austríaco Constantino Barza, a bordo do vapor inglês News, vindo da Europa. Ele viria a ser o gerente da Photographia Allemã de Henschel (Jornal de Recife, 26 de fevereiro de 1875, primeira coluna).

Ainda associado a Francisco Benque, Henschel fez a série de vistas de Nova Friburgo e do Jardim Botânico e ambos participaram da exposição da Academia Imperial de Belas-Artes ( Epocha, 15 de dezembro de 1875).

Na coluna “Folhetim da Gazeta de Notícias –  Bellas Artes”, o português Julio Huelva (1840 – 1904), pseudônimo do músico e arquiteto Alfredo Camarate, elogiou a fotografia produzida no Brasil e destacou os trabalhos dos ateliês de José Ferreira Guimarães  (1841 –1924), Joaquim  Insley Pacheco (c. 1830 – 1912) e de Albert Henchel (1827 – 1892) e Franz (Francisco) Benque (1841-1921). O autor cobrou também a presença de fotógrafos do Rio de Janeiro na Exposição Universal da Filadélfia, que se realizaria em 1876 (Gazeta de Notícias, 21 de dezembro de 1875).

1876 – O pintor acadêmico austríaco Ferdinand Piereck (1844 – 1925) foi contratado pela Photographia Allemã. Ele viria a ser o pai do fotógrafo Louis Piereck (1880 – 1931) (Jornal do Recife, 14 de janeiro de 1876).

1877 - No estabelecimento A La Glace Elegante, no Rio de Janeiro, exposição de uma tela com os retratos do conde e da condessa d´Eu e do príncipe do Grão Pará, de autoria de  Karl Ernst (Carlos Ernesto) Papf (1833-1910), do estabelecimento de Henschel & Benque. Teria sido uma encomenda da princesa Isabel (Diário do Rio de Janeiro, 6 de novembro de 1877, penúltima coluna).

Em novembro, a Photographia Allemã, no Recife, passou a funcionar na rua do Barão da Victoria, nº52 , devido à construção de prédios na frente da galeria. Os trabalhos do estabelecimento foram interrompidos por 15 dias (Diário de Pernambuco, edição de 26 de novembro de 1877).

1879 – Foi publicado um elogio às fotografias de crianças tiradas por Henschel (Gazeta de Notícias, 11 de março, primeira coluna).

1880 – Constantino Barza, apresentando-se como gerente da Photographia Allemã de Recife, anunciou a chegada do fotógrafo Moritz Lamberg para cuidar da parte técnica e artística do ateliê (Diário de Pernambuco, edição de 30 de janeiro de 1880). Lamberg é apresentado como celebridade europeia e insigne artista, que havia dirigido estabelecimentos em Berlim e Viena e obtido prêmios conquistados em Paris e em Viena nas exposições de 1868 e 1873. Em 1899, Lamberg publicou o livro de fotografias Brazilian.

1881- Participou da Exposição de História do Brasil promovida pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro com vistas urbanas, rurais e retratos.

Foi noticiado um caso envolvendo Henschel e um relojoeiro, de quem, segundo o jornal, ele achava ter sido vítima da esperteza (Gazeta da Tarde, edição de 16 de abril de 1881, terceira coluna)

O fotógrafo Moritz Lamberg fez uma petição à Associação Comercial da Cidade do Recife para que se ordenasse o registro da escritura da compra que fez do estabelecimento denominado Photographia Allemã (Diário de Pernambuco, 19 de setembro de 1881, na quarta coluna).

Vistas do Recife produzidas por Henschel foram elogiadas pela imprensa local como as melhores que conhecemos até hoje dos pontos photographados (Diário de Pernambuco, edição de 18 de outubro de 1881).

Alberto Henschel e Moritz Lamberg convidavam para apreciar os trabalhos de nossa casa, que vão ser exibidos na próxima exposição que terá lugar no Rio de Janeiro (Diário de Pernambuco, 14 de novembro de 1881).

 

 

É possível que neste ano Henschel, ou mesmo antes, Henschel tenha vendido a filial baiana de seu ateliê fotográfico para Waldemar Lange, que se anunciava como seu sucessor  no Almanak da Província da Bahia, 1881, pág. 43.

1882 – Henschel participou da Primeira Exposição Artístico-Industrial promovida pela Imperial Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco e conquistou uma medalha de mérito pelas vistas fotográficas que expôs (Diário de Pernambuco, 17 de janeiro de 1882, segunda coluna).

Foi aberto o ateliê de Henschel em São Paulo, na rua Direita nº 1. A imprensa noticiou que a inauguração desse importante e sumptoso estabelecimento artístico seria mais um signal do crescente desenvolvimento de São Paulo (Correio Paulistano, na edição de 1º de fevereiro de 1882). No anúncio da inauguração, apresentavam-se como fotógrafos da Casa Imperial (Correio Paulistano, edição de 7 de fevereiro de 1882). O gerente da sucursal paulista era o fotógrafo húngaro José Vollsack (1847 – 1927), que, em 1888, tornou-se dono da referida filial. Por já existir na capital paulista uma casa fotográfica com o nome de Photographia Allemã, de propriedade do fotógrafo alemão Carlos Hoenen (18? – ?), a de Henschel ficou conhecida como Photographia Imperial.

Em abril, foi publicada na Revista Illustrada, número 295, na seção Exposição de bellas-artes, uma crítica desfavorável a dois retratos de Henschel.

Morte de Albert Henschel em 30 de junho, no Rio de Janeiro ( Rio News, edição de 5 de julho de 1882 e Gazeta de Notícias, edição de 10 de julho de 1882). Faleceu em sua residência, na rua Barão de Itambi, nº 14, em Botafogo.

1884 – Foi autorizada a venda da filial do Rio de Janeiro por força de alvará judicial (Jornal do Commercio, de 7 de junho de 1884, primeira coluna).

1885 - O austríaco Constantino Barza reassumiu a gerência da  Photographia Allemã (Diário de Pernambuco, 13 de novembro de 1885). Anteriormente, em 1881, havia se associado ao dinarmarquês Niels Olsen (1843 – 1911), em Fortaleza (O Cearense, 26 de janeiro de 1881, quarta coluna) e, depois, no Pará (O Liberal do Pará, 3 de janeiro de 1882, quarta coluna e Almanak Paraense, 1883). Em Belém, o estabelecimento de Olsen e Barza começou a funcionar em 1º de janeiro de 1882 e ficava na rua da Trindade, n° 24, no antigo ateliê do fotógrafo José Thomaz Sabino, que havia falecido.

 

 

1886 - O pintor acadêmico austríaco Ferdinand Piereck (1844 – 1925) voltou a trabalhar na Photographia Allemã, onde já havia trabalhado em 1876 (Jornal do Recife, 3 de março de 1886).

 

 

1887 – Até esse ano Constantino Barza continuava a anunciar as atividades da Photographia Allemã no Recife. Em 1905, Constantino Barza trabalhava como agente de venda dos charutos Poock & C(A Província, 9 de março de 1905).

Além da Biblioteca Nacional e do Instituto Moreira Salles, as outras instituições que possuem importantes acervos de Alberto Henschel são o Arquivo Nacional, a Fundação Joaquim Nabuco e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

 

Para a elaboração da presente cronologia de Alberto Henschel vali-me, especialmente, do Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910), de autoria de Boris Kossoy, e da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ERMAKOFF, George. Rio de Janeiro 1840-1900: uma crônica fotográfica, George Ermakoff [Tradução: Carlos Luís Brown Scavarda]. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2006

FERREZ, Gilberto. A Fotografia no Brasil: 1840-1900 / Gilberto Ferrez; [prefácio por Pedro Vasquez] – 2ª ed. – Rio de Janeiro: FUNARTE: Fundação Nacional Pró-Memória, 1985.

FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J. Pioneer photographers of Brazil: 1840 – 1920. New York: The Center for Inter-American Relations, 1976. 143 p., il. p&b.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Os Fotógrafos do Império. Rio de Janeiro: Capivara, 2005. 240p.:il

LAGO, Pedro Corrêa do; JUNIOR, Rubens Fernandes. O século XIX na fotografia brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Armando Álvares Penteado: Francisco Alves, 2000.

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho : Cis, [1985]. 243 p., fotos p&b.

VASQUEZ, Pedro Karp. Fotógrafos Alemães no Brasil do Século XIX: Deutsche Fotografen des 19. Jahrhunderts in Brasilien. São Paulo: Metalivros, 2000. 203 p., il. p&b.

Site da Enciclopédia Itaú Cultural

 

Missa Campal de 17 de maio de 1888 – Novas identificações

Quinze dias depois da publicação da foto de Antonio Luiz Ferreira, Missa campal celebrada em ação de graças pela Abolição da Escravatura no Brasil, realizada no Rio de Janeiro, em 17 de maio de 1888,  a Brasiliana Fotográfica a republica com novas identificações, além das iniciais, que incluíram Machado de Assis. Muitas identificações foram realizadas a partir de indicações feitas pelos leitores desse portal, que aceitaram o desafio de apontar outras pessoas presentes no evento. Foram identificadas 15, mas ainda há muito trabalho pela frente. Novos reconhecimentos são bem-vindos!

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Acessando o link para a fotografia Missa campal celebrada em ação de graças pela Abolição da Escravatura no Brasil produzida  Antonio Luiz Ferreira,  disponível na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar a imagem e verificar todos os dados referentes a ela.

1 – Princesa Isabel (1846-1921) – princesa imperial do Brasil e três vezes regente do Império do Brasil. Ficou conhecida como a Redentora por ter assinado a Lei Áurea.

2 – Luis Filipe Maria Fernando Gastão de Orléans, o conde d´Eu (1842-1922) – príncipe do Brasil por seu casamento com a princesa Isabel.

3 – Não identificada.

4 – Possivelmente o Marechal Hermes Ernesto da Fonseca (1824-1891) – político e militar brasileiro, irmão do general Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do Brasil,  e pai do futuro presidente do Brasil, Hermes Rodrigues da Fonseca.

5 – Machado de Assis (1839-1908) – um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos.

6 – Possivelmente José de Miranda da Silva Reis, marechal de campo e Barão Miranda Reis (1824-1903) – foi ajudante de campo e camarista do imperador Pedro II e participou da Guerra do Paraguai. Exerceu importantes cargos, dentre eles foi ministro do Superior Tribunal Militar e dirigiu a Escola Superior de Guerra e o Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro.

7 – Possivelmente José do Patrocínio (1854-1905) – escritor e jornalista, uma das maiores figuras do movimento abolicionista. Na foto está segurando a mão de seu filho primogênito, que ao fim da missa foi beijado pela princesa Isabel.

8 – Jornalista (?) não identificado.

9 – Possivelmente José Ferreira de Souza Araujo, conhecido como Ferreira Araujo(1848-1900) – um dos mais importantes jornalistas da época, foi diretor da Gazeta de Notícias e sob o pseudônimo Lulu Sênior escreveu as muito populares colunas Macaquinhos no SótãoBalas de Estalo e Apanhados. Foi o vice-diretor da Comissão Central da Imprensa Fluminense, formada para organizar e programar os festejos em torno da Abolição.

10 – Thomaz José Coelho de Almeida (1838-1895) – ministro da Guerra, integrante do Gabinete de 10 de março de 1888.

11 – Rodrigo Silva (1833-1889) – ministro dos Negócios da Agricultura e interino dos Negócios Estrangeiros, integrante do Gabinete de 10 de março de 1888.

12- José Fernandes da Costa Pereira Junior (1833-1899) – ministro do Império, integrante do Gabinete de 10 de março de 1888.

13- João Alfredo Correia de Oliveira (1835-1919) – presidente do Conselho de Ministros do Gabinete de 10 de março de 1888.

14- Maria José Velho de Avelar, Baronesa de Muritiba (1851-1932) – dama do Paço e amiga íntima da princesa Isabel.

15- Maria Amanda de Paranaguá Dória, Baronesa de Loreto (1849-1931) – dama do Paço e amiga íntima da princesa Isabel.

16- Fernando Mendes de Almeida (1845-1921) – na época, diretor e redator-chefe do Diário de Notícias. Era o segundo secretário da Comissão Central da Imprensa Fluminense, formada para organizar e programar os festejos em torno da Abolição.

17- Jornalista (?) não identificado.

18- Jornalista (?) não identificado.

19- Senador ou deputado (?) não identificado.

20- Possivelmente Ângelo Agostini (1843-1910) – italiano, um dos primeiros e mais importantes cartunistas do Brasil. Fez uma intensa campanha pela abolição da escravatura. Fundou e colaborou com diversos jornais e revistas, dentre eles a “Revista Illustrada”, que circulou entre 1876 e 1898.

À esquerda da fotografia, estão vários padres diante do altar, que ainda não conseguimos identificar. Dentre eles, segundo a imprensa da época, estariam o celebrante da missa, padre Cassiano Coriolano Collona, capelão do Exército e um dos fundadores da Confederação Abolicionista, criada em 19 de fevereiro de 1888; o padre Loreto, o padre-mestre Escobar de Araújo, vigário de São Cristóvão; e os padres Castelo Branco e Telemaco de Souza Velho.

O missal usado na cerimônia, em veludo carmezin, tinha a seguinte inscrição: “13 de maio de 1888 – Esse missal foi o que serviu na missa campal, celebrada em 17 de maio de 1888, no campo de S. Cristóvão, em ação de graças pela promulgação da lei que extinguiu a escravidão no Brasil”. O missal e a campainha utilizados foram, assim como a garrafa de vinho Lacryma Christi, doados. Segundo a imprensa da época, formavam as alas do altar as ordens terceiras de São Francisco de Paula, de São Francisco da Penitência e de Nossa Senhora do Carmo, além das irmandades de São Cristóvão e do Rosário com seus galões e candelabros. Estandartes de associações e de escolas podem ser vistas na foto.

A importância dos jornais do Rio de Janeiro no processo da Abolição da Escravatura fica evidenciada na missa campal por dois fatos: antes do início da cerimônia, o ministro da Guerra, Thomaz José Coelho de Almeida(identificado na foto – número 10), “ergueu um viva à imprensa nacional”; e, representando a imprensa, o jornalista Fernando Mendes de Almeida (identificado na foto – número 16, vestindo uma toga) ajudou na celebração da missa campal.

A missa campal do dia 17 de maio de 1888 foi um dos festejos pela Abolição da Escravatura organizada pela Comissão Central da Imprensa Fluminense. Possivelmente, seus integrantes estão identificados na foto usando uma faixa na qual podemos ler a palavra imprensa.

Um pouco mais da história dos festejos pela Abolição da Escravatura no Brasil promovidos pela imprensa

No dia 12 de de maio de 1888, quatro dias após a apresentação na Câmara pelo ministro Rodrigo Silva(identificado na foto – número 11) do projeto para o fim da escravidão no Brasil, representantes dos periódicos Jornal do Commercio, Cidade do Rio, Diário de Notícias, Revista Illustrada, A Epoca, Gazeta da Tarde,  Novidades, Apóstolo e Gazeta de Notícias decidiram promover festejos populares para celebrar a iminente promulgação da Lei Áurea. Reuniram-se com colegas de outros jornais no Clube de Esgrima e Tiro, localizado na rua São Francisco de Paula, n°22, e formaram a Comissão Central da Imprensa Fluminense(Gazeta de Notícias, edição de 13 de maio de 1888). José do Patrocínio, representando o jornal O Paiz, participou do encontro.

No dia seguinte, 14 de maio, em uma segunda reunião realizada no Clube de Esgrima e Tiro, foi nomeada a diretoria da Comissão Central da Imprensa Fluminense. Foi formada pelos redatores- chefes dos principais jornais: João Carlos de Souza Ferreira, do Jornal do Commercio, na direção; José Ferreira de Souza Araujo, da Gazeta de Notícias, na vice-diretoria; e como primeiro e segundo secretários Demerval da Fonseca, da Gazeta de Notícias; e Fernando Mendes de Almeida, do Diário de Notícias, respectivamente. A tesouraria ficou a cargo de Henrique Villeneuve, do Jornal do Commércio; e de Artur Azevedo, da A EstaçãoAs festas promovidas pela Comissão começaram com a missa campal no dia 17 e terminaram no dia 20 com a queima de fogos de artifício em diversos pontos da cidade(Gazeta de Notícias, edição de 15 de maio de 1888).  Mais um baile foi programado para o dia 19 à noite, na praça da Aclamação, atual Campo de Santana.

A fim de envolver toda a população do Rio de Janeiro nos festejos, a Comissão Central da Imprensa Fluminense publicou pedidos nos jornais para que todos os moradores da cidade se empenhassem na iluminação e na ornamentação das ruas e para que os estabelecimentos comerciais fechassem durante as festas. Convocou também mestres de obras para a construção de coretos e arquibancadas. Comerciantes doaram dinheiro para a realização das festas. O Sport Club pôs à disposição da comissão a arrecadação do páreo 13 de maio de 1888 e artistas se encarregaram dos fogos de artifício. O importante cenógrafo Frederico de Barros ofereceu seus serviços à comissão. Enfim, toda a cidade participou da celebração da Lei Áurea.

Além de organizar os festejos, a Comissão Central da Imprensa Fluminense decidiu publicar um jornal especial, intitulado A Imprensa Fluminense, que foi o único a ser distribuído no dia 21 de maio de 1888.

Essas comemorações promovidas pela imprensa fluminense, e as fotografias de Antonio Luiz Ferreira sobre os vários eventos em torno do mais importante acontecimento histórico no Brasil, após a proclamação da Independência, são fundamentais para a formação da memória da Abolição da Escravatura. A euforia e o entusiasmo dos brasileiros, mostrados tanto nas festas como nas fotos de Ferreira, e também os textos publicados nos jornais da época podem ser interpretados como um contraponto a tão longa duração do regime escravocrata no país.

Leia a primeira publicação sobre a presença de Machado de Assis na foto da Missa Campal de 17 de maio de 1888

Leia o comentário do professor José Murilo de Carvalho sobre a identificação de Machado de Assis na Missa Campal de 17 de maio de 1888

Contribuíram para esta pesquisa o designer Daniel Arruda(IMS) e os historiadores Luciana Muniz(BN) e Rodrigo Bozzetti(IMS).

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Machado de Assis vai à missa

José Murilo de Carvalho*

Bendito o olhar de lince de Andrea Wanderley, que identificou o rosto de Machado de Assis na foto de Antonio Luiz Ferreira da missa celebrada em 17 de maio de 1888, no Campo de São Cristóvão, em ação de graças pela passagem da lei do dia 13 desse mês que abolira a escravidão no Brasil.

A foto está disponível no portal Brasiliana Fotográfica, fantástica iniciativa da Biblioteca Nacional em parceria com o Instituto Moreira Salles. Outras figuras são identificáveis, além, naturalmente, da princesa Isabel e do conde d’Eu. O presidente do Conselho de Ministros do Gabinete conservador que fez passar a lei, João Alfredo Correia de Oliveira, está à direita de Isabel, um pouco abaixo.

Os responsáveis pelo portal veem José do Patrocínio à frente do grupo, segurando a mão do filho. Ampliando o foco, deverão aparecer outros políticos e outros militantes da causa abolicionista. Nabuco não foi à missa, mas André Rebouças, quase íntimo da família imperial, estava lá. Também certamente estavam seus companheiros da Confederação Abolicionista, com quem se fizera fotografar na véspera, acompanhados de Ângelo Agostini, João Clapp, presidente da Confederação, Taunay,  grande amigo de Rebouças, Silveira da Mota, filho, Quintino Bocaiúva… Dezenas de outros certamente também estavam presentes e podem ser, eventualmente, identificados.

A escravidão no Brasil foi bastante fotografada, mas a abolição, sobretudo a semana de 13 a 20 de maio, nem tanto, mesmo na capital onde havia muitos fotógrafos.  A razão disso não sei. É quase total a ausência de fotos fora da Corte (há apenas duas), quando se sabe que as festividades ganharam todo o país. Mas a consequência disso é que os poucos registros até agora descobertos, umas 25 fotos, ganham extraordinária importância. E o destaque vai todo para Antônio Luiz Ferreira, autor das 15 fotos com que presenteou Isabel. Sua foto mais espetacular é, sem dúvida, a da sessão da Câmara do dia 10 de maio, quando foi aprovado o projeto da abolição. A foto mais curiosa é a de Luís Stigaard, tirada na colônia Isabel, no Rio Grande do Sul. Retrata dezenas de colonos, imigrantes europeus, disciplinadamente organizados em filas, comemorando a abolição, em contraste com a exuberância das celebrações na capital do Império.

Mas o registro importante hoje é a descoberta de que Machado foi à missa. Não era pessoa de frequentar igrejas. Também não apreciava manifestações multitudinárias. Mas a essa missa, a esse ajuntamento de milhares de pessoas, ele compareceu e fica claro na foto seu esforço para aparecer, prensado entre duas robustas figuras uniformizadas. Anos depois, em crônica (Gazeta de Notícias, 14/5/1893), ele anotou sobre o 13 de maio,  “Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto”. A missa foi continuação do delírio e é muito bom saber que o tímido, circunspecto e cético Machado estava lá.

[Ver sobre o assunto, Pedro e Bia Corrêa do Lago, Coleção Princesa Isabel. Fotografia do Século XIXRio de Janeiro: Capivara, 2008.]

 

 

Acessando o link para a fotografia Missa campal celebrada em ação de graças pela Abolição da Escravatura no Brasil produzida  Antonio Luiz Ferreira,  disponível na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar a imagem e verificar todos os dados referentes a ela.

 

*Natural de Minas Gerais, José Murilo de Carvalho é bacharel em Sociologia e Política (Universidade Federal de Minas Gerais) e doutor em Ciência Política (Stanford University). Foi professor na UFMG e na Universidade Federal do Rio de Janeiro e  professor visitante nas universidades de Stanford, California-Irvine, Notre Dame (Estados Unidos), Leiden (Holanda), London e Oxford (Inglaterra) e maître de conférence  na École des Hautes Études en Sciences Sociales (França). Foi pesquisador visitante do Institute for Advanced Study de Princeton. É professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisador emérito do CNPq, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras. Em 2015, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra. É autor de vários livros, entre os quais A construção da ordem e Teatro de sombras (Civilização Brasileira, 2003); Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi (Cia. das Letras, 1987); A formação das almas: o imaginário da República (Cia. das Letras, 1990); Cidadania no Brasil: o longo caminho (Civilização Brasileira, 2001, 2013) e D. Pedro II, ser ou não ser (Cia. das Letras, 2oo7).

Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) e sua obra-prima, o “Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887″

Militão Augusto de Azevedo. Álbum Comparativo da Cidade de São Paulo, 1887. São Paulo

Militão Augusto de Azevedo. Álbum Comparativo da Cidade de São Paulo, 1887. São Paulo / Acervo IMS

…como Verdi despedindo-se da música escreveu o seu “Otello”, eu quis despedir-me da photografia fazendo o meu. É um álbum comparativo de São Paulo de 1862 e 1887. Parece-me um trabalho útil e talvez o único que se tem feito em photografia pois ninguém tem tido a pachorra de guardar clichês de 25 anos. Tenho trabalhado muito e creio que nada farei. Conheces o meu gênio: não sirvo para pedir.

Foi assim, com um tom quase poético, que revela sua alma de artista, que o fotógrafo carioca Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905), numa carta a um amigo chamado Portilho, referiu-se, em 1º de junho de 1887, ao seu  Álbum Comparativo.

Um dos mais importantes fotógrafos brasileiros do século XIX, Militão foi um dos precursores da documentação da cidade de São Paulo. O Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887, sua obra-prima, foi o primeiro realizado com o objetivo de mostrar as mudanças ocorridas na capital paulista, devido ao progresso. O álbum evidencia o valor que Militão dava à fotografia como documento de época inserido em projeto artístico que sugere um passeio pela cidade no período de 1862 a 1887. O trabalho do fotógrafo muito contribuiu para a formação da imagem moderna de São Paulo.

A obra é formada por 60 fotografias – tomadas parciais de ruas, largos e prédios públicos e algumas vistas panorâmicas, todas coladas sobre cartão impresso. Dezoito delas são pares comparativos que criam uma atmosfera do antes e do depois. Feitas a partir de tomadas simples, que privilegiam a cidade construída, as fotos foram produzidas utilizando-se o processo negativo do colódio úmido. Sobre a técnica e as características das fotografias de Militão, Sergio Burgi, Coordenador de Fotografia do Instituto Moreira Salles e um dos curadores do portal Brasiliana Fotográfica, escreveu o artigo Composição em preto-e-branco. Os panoramas de 360º de Militão Augusto de Azevedo (in São Paulo 450 Anos. Caderno de Fotografia Brasileira, volume 2, do Instituto Moreira Salles).

Acessando o link para as fotografias de Militão Augusto de Azevedo disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Militão mostrou com suas fotografias uma grande mudança na paisagem paulistana no período em que São Paulo foi palco de grandes transformações ocasionadas por intensa expansão urbana. Capital da província, a cidade abrigava a Faculdade de Direito, que atraia jovens de todo o Brasil, o que criou novas demandas como a realização de eventos culturais e a inauguração de teatros como o São José, em 1864. Bairros, ruas e avenidas surgiam no lugar de chácaras e sítios. A cidade crescia e com isso foram inaugurados os hotéis Itália, Europa e Globo, além de confeitarias e casas comerciais. O primeiro mercado de São Paulo, conhecido como Mercado dos Caipiras, foi criado em 1867 . Houve também a multiplicação de estradas de ferro, a expansão cafeeira e a imigração europeia. Na imprensa, o Correio Paulistano consolidava-se e Ângelo Agostini (1843 – 1910) fundava os jornais humorísticos Diabo Coxo (1864) e O Cabrião (1866). A população da cidade em 1883 era de 35 mil pessoas e, em 1887, chegou a cerca de 47 mil. De cidade provinciana, São Paulo passou a ser a metrópole do café.

Provavelmente, foi em uma viagem à Europa, em 1886, que Militão percebeu a viabilidade comercial da venda, no mercado brasileiro, de fotografias de aspectos da cidade. Como havia preservado os negativos produzidos em 1862, decidiu fazer o Álbum Comparativo. Numa carta de 21 de janeiro de 1887 ao amigo Anatole Louis Garraux (1833 – 1904), na ocasião já residente na França e que havia sido proprietário da popular Livraria Garraux durante anos estabelecida em São Paulo, Militão escreveu: Rogo-lhe o obséquio de me remeter o mais depressa possível a encomenda constante da nota junta; estou fazendo um trabalho, que julgo ser muito importante e talvez pouco rendoso. É um álbum comparativo de São Paulo antigo e moderno. Tenho os clichês de 1862 e estou fazendo os comparativos atuais.

O álbum demorou a ficar pronto e sobre isto um Militão desapontado escreveu ao ator e amigo Jacinto Heller, em 25 de julho de 1887: eu ainda estou com o maldito álbum que, se nesses quinze dias ficar pronto, devo estar aí em setembro. No dia 11 de agosto de 1887, no jornal A Província de São Paulo, primeiro nome do atual O Estado de São Paulo,  o álbum era anunciado acompanhado do artigo A Velha e a Nova Cidade de São Paulo:

Vimos um álbum comparativo da cidade de S. Paulo em 1862 e 1887, trabalho da PHOTOGRAPHIA  AMERICANA, do sr. Militão, nesta capital. Aí figuram bairros, ruas, praças, jardins e edifícios com a sua cor local de 1862 e depois com a de 1887. É o progresso de São Paulo fotografado. O interessante trabalho do sr. Militão, que é por sua vez atestado do progresso de sua arte, traz-nos as recordações de outros tempos, da simplicidade dos costumes, do pouco luxo das edificações, mas também da falta de comodidade e de atividade industrial da velha cidade. O confronto é agradável e útil comparado com as estatísticas, o álbum de vistas fotográficas do sr. Militão tem um grande valor para se verificar o progresso da província, medido pela transformação da capital nos últimos 25 anos. O Álbum que temos entre as mãos não é somente um entretenimento para os que desejam passar alguns minutos e ver as alterações da cidade em suas velhas construções e esburacadas e mal calçadas ruas e praças; é mais que isso: tem o mérito de proporcionar a todos nós, os homens de hoje,um estudo real da cidade de São Paulo. Para nós, o trabalho do sr. Militão vale mais como fonte de estudo para a formação de uma opinião favorável ao engrandecimento da província do que como obra de arte. Não quer isto dizer que o trabalho artístico  não tenha mérito e que, apreciado por essa face, não seja melhor julgado por outros. E, de fato, o tem. Aplaudimos a obra o laborioso e inteligente artista que de tal forma concorre para a verificação do progresso da capital da província. Em nosso escritório acha-se uma lista para aquelas pessoas que desejarem assinar o Álbum‘.

Apesar de sua importância histórica, o álbum foi um fracasso comercial e poucos foram comercializados. Sobre isto Militão escreveu a Garraux, em 7 de dezembro de 1887: Muito pouco se vende e é preciso pedir pelo amor de Deus aos fregueses e ainda para eles pagarem quando quiserem. Isto está futricado, como o amigo sabe tão bem quanto eu.

Como o álbum não era assinado, Militão caiu no esquecimento, mas suas fotos foram ficando famosas ao longo do século XX devido à publicação de álbuns e livros ilustrados por elas, porém sem crédito ao autor. Muitos dos quadros pintados pelo importante artista plástico Benedito Calixto (1853-1927) para a comemoração do Centenário da Independência, em 1922, foram baseados em fotos de Militão. As pinturas foram encomendadas por Afonso d´Escragnolle Taunay (1876 – 1958), na época diretor do Museu Paulista. Na década de 1930, o fotógrafo Benedito Junqueira Duarte (1910 – 1995), na ocasião responsável pela Seção de Iconografia do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, e o historiador Nuto Santana (1889 – 1975) organizaram, catalogaram e identificaram os negativos de vidro de Militão, que haviam sido reproduzidos, em 1914, pelo fotógrafo Aurélio Becherini (1879-1939).

Em 1946, foi publicado na Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o ensaio de Gilberto Ferrez A fotografia no Brasil e um dos seus mais dedicados servidores: Marc Ferrez (1843-1923). No artigo, considerado um marco na história da fotografia no Brasil, o autor destacou a obra de Militão. Na década de 1950, na ocasião da comemoração do IV Centenário da cidade de São Paulo, foi editada uma série de cartões-postais com fotos do Álbum Comparativo sem crédito para  Militão. Também sem indicação de autoria, em 1953, foram publicadas dezenas de fotografias de Militão numa série de três livros São Paulo Antigo – São Paulo Moderno, da editora Melhoramentos.

Foi no início da década de 70, quando a professora Ilka Brunhilde Laurito (1925 – 2012) identificou um álbum com as vistas e outro com cartes de visite levadas por uma tetraneta de Militão para o colégio, que a obra do fotógrafo renasceu. Ilka Brunhilde Laurito escreveu então um artigo para o Suplemento Literário do jornal O Estado de São Paulo, de 31 de dezembro de 1972, intitulado O século XIX na fotografia de Militão, e chamou a atenção de historiadores e pesquisadores.

Em 1973, Pietro Maria Bardi (1900 – 1999) e Boris Kossoy (1941 -) organizaram no Museu de Arte de São Paulo, a 1ª Exposição da Fotografia Brasileira. Foi então mostrada uma série de retratos e imagens do álbum. Dois anos depois, o Museu da Imagem e do Som de São Paulo publicou o catálogo da exposição Memória Paulistana, organizada por Rudá de Andrade (1930 – 2009), destacando a obra de Militão. Em 1976, o trabalho do fotógrafo internacionalizou-se quando imagens de seus retratos e do Álbum Comparativo foram incluídas na exposição e no livro Pioneer Photographers of Brazil, realizados no Inter-American Relations, em Nova York. Em 1978, Boris Kossoy escreveu sua tese de mestrado sobre o fotógrafo, Militão Augusto de Azevedo e a documentação fotográfica de São Paulo (1862-1887); recuperação da cena paulistana através da fotografia. Em 1981, um bisneto de Militão, Ruy Brandão Azevedo, coordenou a mostra Fotografia: Arte e Uso, no Museu de Arte de São Paulo, com cópias do Álbum comparativo restauradas por João Sócrates de Oliveira. No mesmo ano, foi lançado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo o Álbum comparativo da cidade de São Paulo: 1862-1887: Militão Augusto de Azevedo, de Benedito Lima de Toledo, Boris Kossoy e Carlos Lemos.

A obra de Militão, além de fotografias de aspectos urbanos e do interior, inclui também com um grande número de retratos para a produção de cartes de visite tanto de anônimos como de pessoas importantes na história do Brasil, como, por exemplo, Joaquim Nabuco (1849 – 1910), Castro Alves (1847 – 1871) e Ruy Barbosa (1849 – 1923). Foram 12.500 mil pessoas retratadas, entre 1876 e 1886, cerca de um terço da população de São Paulo na época. Esses retratos formam um verdadeiro compêndio visual de documentação de todo o arco da sociedade paulistana e brasileira da época. Militão também realizou os álbuns de vistas de São Paulo(1862), de Santos (1864-65) e da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí (1868).  Além disso, preservou um Livro Copiador de Cartas enviadas por ele entre 1883 e 1902, com mais de 400 páginas de cópias de cartas pessoais e profissionais, recibos, cobranças, balanços e notas sobre a importação de material fotográfico.

O trabalho de Militão Augusto de Azevedo é precioso para o estudo da sociedade e da cidade de São Paulo no século XIX, uma referência para historiadores, fotógrafos e estudiosos.

 

 Cronologia de Militão Augusto de Azevedo

 

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Militão Augusto de Azevedo fotografado por A. Liébert. Photographie Americaine / Acervo IMS

1837 – Em 18 de junho, nascimento de Militão Augusto de Azevedo, no Rio de Janeiro, filho de Antonio Ignácio de Azevedo e Lauriana Augusto de Azevedo.

1858 – 1860 – No Rio de Janeiro, Militão trabalhou como cantor lírico e também como ator na Companhia Teatral Joaquim Heliodoro e na  companhia do Gymnasio, denominada Sociedade Dramática Nacional, sob a direção de Joaquim Augusto Ribeiro de Souza (Entreacto, 15 de setembro de 1860)..

Na Ópera Nacional, realização de um espetáculo em seu benefício (Correio da Tarde, de 3 de setembro de 1858, terceira coluna).

Foram encenadas peças em seu benefício (Correio Mercantil, 10 de outubro de 1859, terceira coluna).

Morava na rua das Mangueiras, 49 (Almanak Administrativo, Mercantil e Comercial do Rio de Janeiro, 1861).

1862 - Em 21 de junho,  nascimento de Luiz Gonzaga de Azevedo, seu filho com a atriz Benedita Maria dos Santos Pedroso, com quem vivia.

Participou da reunião que decidiu criar o Monte-Pio dos Artistas Dramáticos (Diário do Rio de Janeiro, 11 de agosto de 1862, quinta coluna).

Foi com a família para São Paulo como ator da Sociedade Dramática Nacional  para participar da estreia da peça Luxo e vaidade, de Joaquim Manoel de Macedo, que aconteceu em 29 de novembro (Correio Paulistano, 28 de novembro de 1862).

Militão produziu cerca de 90 fotografias de São Paulo. Segundo Afonso d´Escragnolle Taunay (1876 – 1958), no livro Velho São Paulo (1954), até 1860, data que nos aparece a providencial série de fotografias, aliás, ótimas de Militão de Augusto de Azevedo, os arrolamentos de peças de iconografia paulistana mantêm-se insignificantes. Realiza o Álbum de vistas de São Paulo 1862, com trinta dessas fotos. Muitas serão utilizadas no trabalho que publicaria em 1887, o Álbum Comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887.  Inicia seu trabalho como fotógrafo por volta deste ano, ou no ano seguinte, com Joaquim Feliciano Alves Carneiro e Gaspar Antonio da Silva Guimarães, proprietários do estúdio Carneiro & Gaspar, cuja matriz localizava-se no Rio de Janeiro, na rua Gonçalves Dias, 60. Em São Paulo, o estabelecimento ficava na rua do Rosário, 38. Depois o estúdio transferiu-se para a rua da Imperatriz, 58.

1863 – Em 26 de agosto realizou-se o espetáculo Recordações da Mocidade, em benefício de Militão (Correio Paulistano, 26 de agosto de 1863, terceira coluna).

Publicação do anúncio do Álbum de vistas de São Paulo 1862, destinado sobretudo aos estudantes de Direito que terão assim uma recordação agradável da cidade onde passarão talvez a melhor época da vida (Correio Paulistano, 22 de outubro de 1863, última coluna).

1864 a 1885 – Realizou dois álbuns importantes de vistas: o Álbum de Santos e o Álbum da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí.

Militão catalogou cerca de 12.500 retratos.

1868 – Militão, que trabalhava na Photographia Academica de Carneiro & Gaspar, desde 1866 como sócio gerente (Diário de São Paulo, 19 de agosto de 1866, primeira coluna), foi para o Rio de Janeiro estudar novos processos fotográficos, dentre eles o de fotografia sobre porcelana, ainda não conhecido no Brasil senão em duas casas do Rio de (O Ypiranga, de 19 de fevereiro de 1868).

 

 

1870 – Nascimento de seu primeiro filho, Francisco de Paula Azevedo, com sua nova companheira Maria Affonso das Dores.

Participou de uma reunião promovida para instalar-se uma associação dramática particular. Foi escolhido para ser seu ensaiador e também para elaborar seu regulamento interno (Correio Paulistano, 27 de março de 1870, primeira coluna).

1871 - Nascimento de seu segundo filho com Maria Affonso das Dores, Francisco Militão Affonso de Azevedo.

1872 – Militão ficou viúvo e sua mãe, Lauriana Augusta de Azevedo, passou a se encarregar da criação de seus filhos.

1875 – Participou da IV Exposição Nacional com uma coleção de vistas de São Paulo.

Com a morte do português Gaspar Antonio da Silva Guimarães (18? – 1875) e com a venda da parte de Joaquim Feliciano Alves Carneiro (18? – 188?), Militão, que era sócio-gerente da Photographia Academica, tornou-se seu proprietário (Correio Paulistano, 28 de novembro de 1875, segunda coluna).

 

 

Rebatizou o estúdio com o nome de Photographia Americana. Uma curiosidade: no período de transição, nas cartes de visite do estabelecimento, o fotógrafo improvisou, apagando o antigo nome e o endereço no Rio de Janeiro e carimbando a nova denominação.

1878 – Viajou para a Europa no paquete francês Hoogly para estudar os aperfeiçoamentos da arte fotográfica (O Cruzeiro, 1º de maio de 1878, última coluna). A fotografia de Militão que ilustra esta cronologia foi tirada durante essa viagem por Alphonse J. Liébert (1827 – 1913), no estúdio Photographie Americaine, em Paris, e enviada de presente a sua mãe. Retroenou em setembo, no paquete francês Congo (O Cruzeiro, 15 de setembro de 1878, penúltima coluna).

A Photographia Americana ficou sob a responsabilidade do fotógrafo e pintor retratista Caetano Ligi, que trabalhava no estúdio.

1879 – Foi eleito diretor do mês do Club Euterpe Comercial (Jornal da Tarde, 11 de março de 1879, segunda coluna).

1881 Enviou para o Correio Paulistano uma vista fotográfica, cópia da do edifício da exposição brasileira-alemã em Porto Alegre (Correio Paulistano, 18 de setembro de 1881, quarta coluna).

1883 – Ele, Alberto Henschel e Carlos Hoenen estavam na lista de fotógrafos da Província de São Paulo (Almanak Administrativo, Mercantil e Comercial do Rio de Janeiro, 1883).

1885 – Em 7 de agosto, falecimento de sua mãe, Lauriana Augusta de Azevedo (Correio Paulistano, 8 de agosto de 1885, quarta coluna).

Enviou ao Correio Paulistano uma fotografia tirada de um curioso trabalho litográfico representando o retrato do poeta francês Victor Hugo (1802 – 1885) executado pelo belga M.Gaillard (Correio Paulistano, 20 de dezembro de 1885, última coluna).

 

 

 

Em 31 de dezembro, Militão encaminhou um ofício às autoridades municipais informando sobre o fim da Photographia Americana.

1886 – Militão tentou passar adiante a Photographia Americana, mas não conseguiu. Reformou e alugou a casa e vendeu aos poucos o equipamento fotográfico. Sobre isso, escreveu a seu amigo, o ator Jacinto Heller, em 5 de abril: Como deve saber estou hoje vagabundo. Liquidei mal e porcamente a fotografia, fazendo leilão no qual só vendi os trastes (vendi é um modo de dizer porque quase os dei) ficando com tudo de fotografia porque os colegas estão como eu.

1887 –  Teve a a ideia de montar um álbum de vistas de São Paulo de 1862 e 1887. Retornou então aos mesmos lugares das fotos que havia tirado em 1862 e produziu uma nova série de fotografias.

No jornal A Província de São Paulo, do dia 11 de agosto, foi anunciada a obra-prima de Militão: o Álbum Comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887 acompanhado do artigo A Velha e a Nova Cidade de São Paulo. Com sessenta fotografias, 18 pares comparativos e 24 vistas isoladas, foram postos à venda a 50 mil réis por exemplar – até o dia 31 de agosto: depois custariam 70 mil réis.

1888 - Abandonou definitivamente a fotografia.

1889 - Viajou à Europa. Entre este ano e 1905, voltou a viver no Rio de Janeiro, mas em algum momento retornou a São Paulo, possivelmente em 1902, onde viveu com seu filho Luiz Gonzaga, um bem sucedido advogado.

1892 – Viajou aos Estados Unidos.

1900 – Viajou à Europa.

1905 – Falecimento de Militão de Augusto de Azevedo, em São Paulo, no dia 24 de maio (Correio Paulistano, 30 de maio de 1905, penúltima coluna).

 

 

A Brasiliana Fotográfica destaca instituições detentoras de importantes acervos da obra de Militão Augusto de Azevedo: a Biblioteca Mário de Andrade, a Casa da Imagem, o Museu Paulista e o Instituto Moreira Salles.

 

Contribuiu para esta pesquisa Virginia Albertini (IMS).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Leia também A cidade de Santos de Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905), publicada na Brasiliana Fotográfica em 26 de janeiro de 2018.

 

Fontes:

CALDATTTO BARBOSA, Gino; MEDEIROS, de CARVALHO FONTENELLE de, Marjorie; FERRAZ de LIMA, Solange; CARNEIRO de CARVALHO, Vania. Santos e seus arrabaldes: Álbum de Militão Augusto de Azevedo; organização de Gino Caldatto Barbosa, Marjorie de Carvalho Fontenelle de Medeiros, Solange Ferraz de Lima, Vânia Carneiro de Carvalho. São Paulo: Magma Cultural e Editora, 2004. 167 p., il. ISBN 85-98230-02-2.

DEAECTO, Marisa Midori. Anatole Louis Garraux e o comércio de livros franceses em São Paulo (1860-1890). Revista Brasileira de História, vol. 28, núm. 55, janeiro-junho, 2008, pp. 85-106 Associação Nacional de História São Paulo, Brasil.

FERNANDES JUNIOR, Rubens; BARBUY, Heloisa; FREHSE, Fraya. Militão Augusto de Azevedo. São Paulo: Cosac Naify, 2012. 220pp.,ils ISBN 978-85-405-0235-2

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil(1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. ISBN 85-86707-07-4

KOSSOY, Boris. Militão Augusto de Azevedo e a documentação fotográfica de São Paulo (1862-1887): a recuperação da cena paulistana através da fotografia. Direção de Antonio Rubbo Müller. São Paulo: [s.n.], 1978. 121 p., il.

LAGO, Pedro Correa do. Militão Augusto de Azevedo: São Paulo nos anos 1860. Dedicatória de Rubens Fernandes Junior. Rio de Janeiro: Capivara, 2001. v. 2. 263 p., il. (Coleção Visões do Brasil; v. 2). ISBN 8586011479.

LAURITO, Ilka Brunhilde; LEMOS, Carlos A.C.; RODRIGUES, Eduardo de Jesus; MACHADO, Lucio Gomes. São Paulo em Três Tempos – Álbum Comparativo da cidade de São Paulo(1862-1887-1914). Casa Civil / Imprensa Oficial do Estado S.A./ Secretaria da Cultura / Arquivo do Estado. São Paulo, 1982.

MAGOSSI, Eduardo; LUQUET, Mara. São Paulo relembrada: Militão, um novo álbum comparativo: 1862-1887 e 2003. São Paulo: JCN, 2003. 147 p., il. ISBN 8585985143.

TOLEDO, Benedito Lima de; KOSSOY, Boris; LEMOS, Carlos. Álbum comparativo da cidade de São Paulo – 1862-1887: Militão Augusto de Azevedo. São Paulo: Secretaria de Cultura, 1981. 53 p.

Site do Instituto Moreira Salles

Site da Enciclopédia Itaú Cultural

 

Missa Campal de 17 de maio de 1888

 

A pesquisadora e editora-assistente da Brasiliana Fotográfica, Andrea Wanderley*, identificou a presença de Machado de Assis na fotografia da Missa Campal de Ação de Graças pela Abolição da Escravatura realizada no dia 17 de maio de 1888, no Campo de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. O autor da foto foi Antonio Luiz Ferreira.

A identificação de Machado de Assis foi confirmada por Eduardo Assis Duarte, doutor em Teoria da Literatura e Literatura Comparada (USP) e professor da Faculdade de Letras da UFMG , que considerou a fotografia um documento histórico da maior importância. Segundo ele, Machado de Assis teve uma “atitude mais ou menos esquiva na hora da foto, em que praticamente só o rosto aparece, dando a impressão de que procurou se esconder, mas sem conseguir realizar sua intenção totalmente. Atitude esta plenamente coerente com o jeito encolhido e de caramujo que sempre adotou em público, uma vez que dependia do emprego público para viver e eram muitas as perseguições políticas aos que defendiam abertamente o fim da escravidão.”

Eduardo Assis Duarte, que organizou “Machado de Assis afrodescendente” (2007) e a coleção “Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica” (2011, 4 vol.), e é coordenador do Literafro – Portal da Literatura Afro-brasileira, justificou a proximidade de Machado da princesa Isabel. Segundo ele, “Machado foi abolicionista em toda a sua vida e, a seu modo, criticou a escravidão desde seus primeiros escritos. Nunca defendeu o regime servil nem os escravocratas. Além disso, era amigo próximo de José do Patrocínio, o grande líder da campanha abolicionista e, junto com ele, foi à missa campal do dia 17, de lá saindo para com ele almoçar… Como Patrocínio sempre esteve próximo da princesa em todos esses momentos decisivos, é plenamente factível que levasse consigo o amigo para o palanque onde estava a regente imperial. A propósito, podemos ler no volume 3 da biografia escrita por Raimundo Magalhães Júnior :

‘Na manhã de 17 de maio, foi promovida uma grande missa campal, comemorativa da Abolição, em homenagem à Princesa Isabel, que compareceu, e houve em seguida um almoço festivo no Internato do Colégio Pedro II. Terminada a missa, José do Patrocínio foi para sua casa, à rua do Riachuelo, com dois amigos que convidara para almoçar em sua companhia: um deles era Ferreira Viana, ministro da Justiça do Gabinete de João Alfredo. E o outro era Machado de Assis, a quem, aliás, o grande tribuno abolicionista oferecera a carta autógrafa que recebera, em 1884, em Paris, de Victor Hugo.’ (MAGALHÃES JÚNIOR, Vida e obra de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira / INL-MEC, 1981, vol. 3, Maturidade, p. 125).”

O biógrafo, continua Eduardo Assis Duarte, “não diz onde estava Machado durante a missa, mas pode-se concluir perfeitamente que ele compareceu e que estava junto a José do Patrocínio. Daí minha conclusão: se a imagem que aparece na foto não for de Machado, é de alguém muito parecido.”

Segundo Ubiratan Machado, jornalista, escritor, bibliófilo e autor do “Dicionário de Machado de Assis”, lançado pela Academia Brasileira de Letras, a identificação de Machado de Assis na foto foi uma dupla descoberta: “Não há dúvida que se trata do Machado, atrás de um senhor de barbas brancas e mil condecorações no peito. O fato do seu rosto estar um pouco escondido não atrapalha em nada a identificação. É o velho mestre, perto de completar 50 anos. Igualzinho aos dos retratos que conhecemos desta fase de sua vida.  A segunda revelação é a de Machado ter ido à missa de ação de graças, fato até hoje desconhecido pelos biógrafos. A foto tem ainda outra importância: mostrar que ele se preocupava com a libertação dos escravos, acabando de vez com a idiotice de alguns que afirmam ser ele indiferente ao destino da raça negra no Brasil. É a prova visual da alegria embriagadora que ele sentiu com a abolição, como narra em seu conhecido depoimento (Gazeta de Notícias, edição de 14 de maio de 1893, sob o título “A Semana”).

Machado de Assis participou também, no dia 20 de maio de 1888, do préstito organizado pela Comissão de Imprensa para celebrar a Abolição. Na ocasião, ele desfilou no carro do fundador da Gazeta de Notícias, o Sr. Ferreira de Araújo (1848 – 1900) (Gazeta de Notícias, edição de 21 e 22 de maio de 1888, na última coluna) .  Antes dessas festividades, Machado havia sido agraciado com a Imperial Ordem da Rosa, que premiava civis e militares que houvessem se destacado por serviços prestados ao Estado ou por fidelidade ao imperador.

Além disso, em 16 de maio, dia anterior à realização da missa campal, Machado de Assis havia participado de uma homenagem prestada pelos empregados da secretaria de Agricultura e repartições anexas ao conselheiro Rodrigo Silva (1833 – 1889), autor e co-assinante da Lei Áurea, ministro dos Negócios da Agricultura e interino dos Negócios Estrangeiros, integrante do Gabinete de 10 de março de 1888, proferindo as seguintes palavras:

“Todos os vossos empregados que eram vossos amigos agradecidos pela elevação do trato e confiança com que são acolhidos, são hoje vossos admiradores pelo imorredouro padrão de glória a que ligastes vosso nome, referendando a lei que declarou para sempre extinta a escravidão no Brasil” (Gazeta de Notícias, 17 de maio de 1888, na terceira coluna). O conselheiro Rodrigo Silva estava presente à missa campal.

Machado também foi apontado como um dos funcionários da secretaria de Agricultura que muito fizeram em prol da causa da abolição e que “no silêncio do gabinete …dedicaram-se durante anos a velar com solicitude na defesa dos direitos dos escravos, a tirar das leis de liberdade todos os seus naturais corolários, a organizar e tornar efetiva a emancipação gradual pela ação do Estado, a marcar por laboriosas estatísticas o andamento do problema, a estabelecer hermenêutica sã como reguladora dos casos controversos, a saturar a atmosfera, enfim, de princípios fecundos na sua aplicação prática, firmando o corpo de doutrina e, na realidade, sustentando verdadeira propaganda eficacíssima para a aspiração da liberdade”(Gazeta de Notícias, 18 de maio de 1888, na quarta coluna).

MISSA 2

Detalhe da foto

 

 

A Brasiliana Fotográfica convida os leitores a participar do desafio de identificar outras personalidades presentes na foto da solenidade. Abaixo, destacamos na foto e em sua silhueta o grupo em torno da princesa Isabel (1) e do conde D’Eu (2). Machado de Assis é o número 5. Possivelmente o número 7 é José do Patrocínio, atrás de um estandarte e segurando a mão de seu filho, então com três anos. Quem serão os outros?

 

MISSA 2

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Numeramos alguns dos presentes, mas a identificação de qualquer pessoa que esteja na fotografia é bem-vinda.

Um pouco da história da foto

A Missa Campal em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em 17 de maio de 1888, foi uma celebração de Ação de Graças pela libertação dos escravos no Brasil, decretada quatro dias antes, com a assinatura da Lei Áurea. A festividade contou com a presença da princesa Isabel, regente imperial do Brasil, e de seu marido, o conde D´Eu, príncipe consorte, que, na foto, está ao lado da princesa, além de autoridades e políticos. De acordo com os jornais da época, foi um “espetáculo imponente, majestoso e deslumbrante”, ocorrido em um “dia pardacento” que contrastava com a alegria da cidade.

Cerca de 30 mil pessoas estavam no Campo de São Cristóvão. Dentre elas, o fotógrafo Antonio Luiz Ferreira que há muito vinha documentando os eventos da campanha abolicionista brasileira desde suas votações e debates até as manifestações de rua e a aprovação da Lei Áurea. Não se conhece um evento de relevância nacional que tenha sido tão bem fotografado anteriormente no Brasil. No registro da missa campal é interessante observar a participação efetiva da multidão na foto, atraída pela presença da câmara fotográfica, o que proporciona um autêntico e abrangente retrato de grupo. Outra curiosidade é a cena de uma mãe passeando com seu filho atrás do palanque, talvez alheia à multidão, fazendo um contraponto de quietude à agitação da festa.

Antonio Luiz Ferreira presenteou a princesa Isabel com 13 fotos de acontecimentos em torno da Abolição. A maior parte dessas fotos faz parte da Coleção Princesa Isabel que se encontra em Portugal, conservada por seus descendentes. Ferreira produziu duas fotos das duas missas realizadas em ação de graças pela Abolição. Uma delas, a principal,  intitulada “Missa campal celebrada em ação de graças pela Abolição da escravatura no Brasil”, é a que está aqui destacada e faz parte da Coleção Dom João de Orleans e Bragança. A outra missa foi celebrada pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos. Outros três registros foram feitos por Ferreira no dia 22 de agosto de 1888 e documentaram o retorno do imperador Pedro II ao Brasil. A prova da fotografia da missa campal, que ficou em exposição na papelaria Guimarães & Ferdinando, foi entregue à princesa em junho de 1888 (Diário de Notícias, 9 de junho de 1888, na segunda coluna).

Ao todo, Antonio Luiz Ferreira fotografou 18 cenas ligadas às celebrações de 1888 e com isso, apesar de ter tido uma carreira discreta, tornou-se um importante fotógrafo do século XIX. As imagens captadas por ele nessas datas tão marcantes da história do Brasil caracterizam-se pela expressividade dos rostos retratados, decorrência da relevância do fato e da fascinação causada pela câmara fotográfica. Também foi responsável por um Álbum de vistas da Biblioteca Nacional, em 1902.

Ampliando-se a fotografia abaixo clicando em cima dela, vê-se, no alto à esquerda, um anúncio da Photographia Central de Antonio Luiz Ferreira no Largo da Carioca onde está anunciado que trabalhava-se mesmo com mau tempo**:

 

 

 

Acessando o link para a fotografia Missa campal celebrada em ação de graças pela Abolição da Escravatura no Brasil produzida  Antonio Luiz Ferreira,  disponível na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar a imagem e verificar todos os dados referentes a ela.

 

Contribuíram para esta pesquisa Elvia Bezerra (IMS) e Luciana Muniz (BN).

 

*O texto desta publicação foi revisto em 15 de maio de 2018.

**Essa informação foi inserida no artigo em 9 de setembro de 2019.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Dia da Abolição da Escravatura

  Dia da Abolição da Escravatura*

 

“A escravidão foi o processo mais violento, mais cruel, mas mais eficiente de obter, conservar, preservar e explorar o trabalho alheio. Ele não via em quem ele escravizava um semelhante, mas via um adversário e um ser inferior a ele.”

Alberto da Costa e Silva, diplomata, escritor e africanólogo

A escravidão no Brasil foi amplamente documentada pelos fotógrafos do século XIX. Contribuíram para isto o fato de ter a fotografia chegado cedo ao país, em 1840, sendo o imperador Pedro II um grande entusiasta do invento, além de ter sido o último país das Américas a abolir a escravatura, em 1888. Por cerca de 350 anos, o Brasil – destino de cerca de 4,5 milhões de escravizados africanos – foi o maior território escravagista do Ocidente, mantendo este sistema tanto no campo como na cidade. O lugar de trabalho era o lugar do escravizado.

 

 

Muitas vezes o objetivo das fotografias não era a denúncia e sim o estético ou, ainda, o registro do exótico. A Galeria do Dia da Abolição da Escravatura exibe fotos de escravizados em situações de trabalho, em momentos de descanso ou mesmo em poses obtidas em estúdios. São imagens apaziguadoras da escravidão e das várias funções dos escravizados. Dentre seus autores estão Alberto Henschel, Augusto Riedel, Augusto Stahl, Georges Leuzinger, João Goston, Marc Ferrez, Revert Henrique Klumb, além de alguns anônimos.

 

Acessando o link para as fotografias de escravizados disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

As fotos revelam uma representação naturalizada da escravidão, deixando a impressão de que seria normal a posse de homens por outros homens, o que fica evidenciado pela venda dessas imagens para o exterior como um produto exótico de um país tropical distante. Porém, percebe-se em não poucas dessas fotografias, segundo a antropóloga Lilia Schwarcz, que mais do que propriedades ou figurantes com papéis prévia e exteriormente demarcados, os escravizados negociam efetivamente nos registros fotográficos, nos pequenos sinais que deixaram no tempo e na imagem, seu lugar e condição.

 

 

A Abolição da Escravatura foi o acontecimento histórico mais importante do Brasil após a Proclamação da Independência, em 1822. No dia 13 de maio de 1888, após seis dias de votações e debates no Congresso, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que decretava a libertação dos escravizados no país (O Paiz, 14 de maio de 1888 e A Gazeta de Notícias, 14 de maio de 1888).

 

 

Sobre este dia, Machado de Assis escreveu na coluna “A Semana”, no jornal carioca Gazeta de Notícias de 14 de maio de 1893: Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto.

Até hoje se manifestam na sociedade brasileira as consequências sociais e culturais da longevidade e do alcance da escravatura no país.

 

 

Link para a série Entre cantos e chibatas – conversa com Lilia Schwarcz, produzida pelo Instituto Moreira Salles em 2011.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

*Esse artigo foi atualizado em maio de 2020