Aspectos de Poços de Caldas impressos no papel fotográfico fabricado pelo pioneiro Conrado Wessel (1891 – 1993)

A Brasiliana Fotográfica destaca imagens de aspectos da cidade mineira de Poços de Caldas, impressas no papel fotográfico produzido pelo fotógrafo, inventor e empreendedor Conrado Wessel (1891 – 1993), pioneiro da indústria fotográfica no Brasil. Filho do fotógrafo argentino Guilherme Wessel (1862 – 1940), sua vida é um exemplo de desenvolvimento científico e inovação realizados no Brasil. As imagens pertencem ao acervo da Fundação Biblioteca Nacional, uma das fundadoras do portal, e, atrás de todas elas, produzidas em 1929, está escrita a marca do fabricante do papel no verso: “Wessel“. Também foram publicadas na seção “Cronologia de Fotógrafos”, as cronologias de Conrado e Guilherme, a 51ª e 52ª produzidas pelo portal.

 

Acessando o link para as fotografias de Poços de Caldas impressas no papel fotográfico produzido por Conrado Wessel disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

 

 

As trajetórias de Guilherme (1862 – 1940) e Conrado Wessel (1891 – 1993)

 

 

“Contribuiu decisivamente para a implantação da indústria fotográfica no país, pois fundou a primeira indústria de papel fotográfico no Brasil. Utilizou fórmulas e processos segundo sua concepção e auxiliou Valério Vieira na sensibilizaçaodo famoso painel “Panorama da Cidade de São Paulo. Introduziu o papel fotográfico tamanho postal, que se tornou conhecido por “Postaes Wessel Jardim” e que foram largamente consumido pelos lambe-lambe”. Sua indústria foi posteriormente adquirida pela Kodak e durante algum tempo lia-se nas casixas de papel fotográfico a sigla Kodak-Wessel”

Boris Kossoy sobre Conrado Wessel, 1975

 

O nome de batismo de  Conrado Wessel era Ubald Konrad August Wessel e ele nasceu em Buenos Aires, na Argentina, em 16 de fevereiro de 1891, filho do fotógrafo Guilherme Wessel (1862-1940), que havia nascido em Concepcion do Uruguai; e de Nicolina Krieger Wessel (1863 – 1956). Eles se casaram em 3 de março de 1887. A família Wessel, tradicional fabricante de chapéus em Hamburgo, na Alemanha, havia imigrado para a Argentina em meados do século XIX, provavelmente nos primeiros anos da década de 1860. Guilherme foi para Hamburgo onde formou-se em Física, e retornou à Argentina.

Em 1892, Guilherme foi com a família – mulher e dois filhos, Georg Walter (1888 – 1908) e Conrado – para Sorocaba e, depois, para São Paulo, convidado para lecionar na Escola Politécnica, que viria a ser uma das unidades fundadoras da Universidade de São Paulo, em 1934.

Ele abriu em sociedade com Carlos Norder, em 1900, um estabelecimento de artigos de fotografia e de laboratórios químicos, na rua São Bento, 41 A, no centro da capital, Aos Photograhos e Amadores da photographia. Oferecia gratuitamente aos amadores lições práticas e disponibilizavm para todos os fregueses um quarto escuro. Na mesma época, Guilherme Gaensly (1843 – 1928) tinha um ateliê fotográfico, na rua 15 de Novembro, 28 (O Estado de São Paulo, 3 de janeiro de 1900, página 2, sexta coluna; Correio Paulistano, 5 de janeiro de 1900Almanak Laemmert, segunda coluna, 1901)

 

 

 

O Estado de São Paulo, 3 de janeiro de 1900

O Estado de São Paulo, 3 de janeiro de 1900

 

Anunciava em dezembro de 1900 ter recebido grande sortimento de produtos: chapas Lumière, câmaras fotográficas e objetos para fotografia e distribuiu a seus fregueses, em dezembro do ano seguinte, uma carteira com espelho (O Commercio de São Paulo, 21 de dezembro de 1900; O Estado de São Paulo, 1º de janeiro de 1902, página 2, quarta coluna).

 

 

Em 1901, Guilherme já prestava serviços fotográficos para as secretarias da Fazenda, do Interior e da Justiça de São Paulo (O Estado de São Paulo, 6 de março de 1901, página 1, penúltima coluna; Correio Paulistano, 7 e março, quinta coluna; 4 de setembro, segunda coluna, de 1903; Correio Paulistano, 22 de setembro de 1904, última coluna; Correio Paulistano, 6 de janeiro de 1905, sétima coluna). Também tinha uma Casa Importadora de Artigos para Photografia e Aparelhos de Eletricidade, na rua Direita, nº 20 (Almanak Laemmert, primeira coluna, 1903).

 

Illustração Brasileira, 1905

Illustração Brasileira, 1905

 

Em 1904, Guilherme foi um dos doadores para a quermesse em prol do Instituto Pasteur de São Paulo e do Conservatório Dramático Municipal (Correio Paulistano, 11 de março de 1904, primeira coluna). Neste mesmo ano promoveu uma exposição de fotografias no intuito de estimular os amadores (O Commercio de São Paulo, 9 de julho de 1904, primeira coluna).

 

 

Em 1907, Guilherme tinha uma loja de artigos fotográficos na rua Líbero Badaró, 48. Nessa mesma época, Valério Vieira (1862 – 1941)Vincenzo Pastore (1865 – 1918) também possuiam estabelecimentos fotográficos em São Paulo.

 

 

O italiano Pastore, importante cronista visual de São Paulo da segunda metade do século XIX e do início do século XX, e Guilherme foram, provavelmente, amigos, já que Guilherme estava presente a seu enterro, em janeiro em 1918 (Almanak Laemmert, 1907primeira coluna; Almanak Henault, 1909Correio Paulistano, 19 de janeiro de 1918, terceira coluna).

 

 

Guilherme foi contratado pelo Jockey Club de São Paulo para inaugurar o serviço de fotografia de chegadas dos páreos (O Paiz, 23 de fevereiro de 1907, quarta colunaRevista da Semana, 3 de março de 1907).

 

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Trabalhava com seu filho mais velho Georg Walter, que faleceu de tifo, em 26 de dezembro de 1908, e foi enterrado no Cemitério dos Protestantes (Correio Paulistano, 2 de novembro de 1914, primeira coluna). Nesse mesmo ano, por cerca de seis meses, Conrado foi assistente de um cinegrafista da Gaumont, que havia vindo ao Brasil para filmar fazendas de café para a propaganda do produto na Europa, tornando-se um dos primeiros cinegrafistas do Brasil. Estava na folha de pagamentos da Secretaria da Fazenda de São Paulo (Correio Paulistano, 4 de novembro de 1908, sexta coluna).

“O primeiro documento expedido no Brasil atestando a capacidade para o exercício da função de cinegrafista foi fornecido ao químico Conrado Wessel, em 1908, pela Gaumont Films, uma das produtoras mais antigas da França. Wessel (1891-1993) conta em sua carta autobiográfica que recebeu o atestado das mãos de um cinegrafista da Gaumont, Colliot, que veio ao país contratado pela Secretaria de Agricultura de São Paulo.
Por mais de seis meses, ele foi intérprete e ajudante do cinegrafista francês e ambos filmaram várias fazendas de café, colhendo cenas para a propaganda do produto na Europa” (Ana Maria Guariglia, Folha de São Paulo, 2 de março de 1995).

Guilherme fechou a loja e, em 1909, continuou a trabalhar fornecendo fotografias para a Secretaria da Agricultura. Em 1911, recebeu pagamento da secretaria por ter fornecido 20 fotografias ao poeta Olavo Bilac (1865 – 1918). Em 1920, forneceu à Diretoria de Indústria e Comércio uma fita cinematográfica e ampliações fotográficas para a Feira de Lyon (Correio Paulistano, 12 de outubro de 1909, última coluna; Correio Paulistano, 7 de junho de 1911, terceira coluna; Correio Paulistano, 20 de março de 1912, terceira coluna; O Paiz, 21 de agosto de 1912, quinta coluna; O Combate, 3 de dezembro de 1920, última coluna).

 

 

Conrado, que havia feito seus primeiros estudos na Escola Alemã daVila Mariana, participou de um concurso de fotografia, apresentando 25 fotografias em um pavilhão especialmente preparado para a exposição, no Posto Zootécnico de São Paulo (Correio Paulistano, 21 de outubro de 1906, quinta coluna). Já havia conquistado dois prêmios como fotógrafo quando, em 1911, foi para Viena, na Áustria.

 

 

Além de estudar fotoquímica no K.K. Graphischen Lehr und Versuchsanstalt, entre julho de 1911 e dezembro de 1912 ,estagiou na Casa Beissner & Gottlieb, especializada na área gráfica e fotográfica, entre de 10 de julho de 1912 e 8 de fevereiro de 1913. Especializou-se em clichês para jornais e revistas.

 

 

Abaixo, a reprodução do certificado da Casa Beissner & Gottlieb, de Viena, de 8 de fevereiro de 1913, documentando o estágio profissional obrigatório realizado por Conrado Wessel, na conclusão de seus estudos no Instituto K.K. Graphischen Lehr und Versuchsanstalt.

 

 

Tradução: Atestado: Viena, 8 de fevereiro de 1913. O sr. Conrado Wessel, após ter terminado os estudos gráficos da K.K. Graphischen Lehr & Versuchsanstalt, esteve em nosso instituto em atividades práticas desde 10 de julho de 1912 até hoje. Trabalhou em diferentes departamentos e obteve sucesso e muitos bons resultados. Nós atestamos portanto com satisfação que estamos contentes pelo seu desempenho em cada índice, com extremado respeito por suas realizações, e desejamos a ele o maior progresso no futuro”.

Voltou para São Paulo, em 1913, com maquinário para a montagem de uma clicheria com o pai. Guilherme seguia trabalhando para a Secretaria da Fazenda e, em 1914, fez uma proposta para prorrogar por mais um ano o contrato que tinha de fornecimento de fotografias para a entidade (Correio Paulistano, 3 de fevereiro de 1914, quarta colunaCorreio Paulistano, 29 de julho de 1916, quarta coluna; Correio Paulistano, 13 de dezembro de 1917, terceira coluna; Correio Paulistano, 10 de janeiro de 1918, última coluna).

Em 1914, Conrado fotografou o Salto do Paranapanema durante uma visita realizada pelo então secretário da Agricultura de São Paulo, Paulo de Moraes Barros, ao local, quando inaugurou o primeiro trecho do prolongamento da ferrovia Sorocabana Railway na direção do Porto Tibiriçá (Correio Paulistano, 16 de fevereiro de 1914, sexta coluna).

Entre 1915 e 1919, foi aluno ouvinte na Escola Politécnica e também trabalhou como auxiliar no laboratório do professor de bioquímica, físico-química e eletroquímica Roberto Hottinger, no curso de Engenharia Química. Conrado queria criar um papel fotográfico de qualidade equivalente a dos importados – os usados eram da Kodak, da Agfa e da Gevaert – porém com um preço mais baixo.

Segundo o próprio:

“Durante quatro anos fiz de tudo ali. Desde a preparação do nitrato de prata até os estudos das diferentes qualidades de gelatinas. Da ação dos halogênios como o bromo, o cloro, e o iodo sobre o nitrato de prata ao brommeto de potássio. Cheguei à conclusão que a mistura de uma pequena dose de iodo ao bromo dava muito melhor resultado, assim como a adição do iodo ao cloro”.

O entusiasmo de um inventor (2006)

 

Em 1916, Guilherme seguia trabalhando para a Secretaria de Agricultura (A Gazeta (SP), 18 de janeiro de 1916, quarta coluna) e Conrado já estava desenvolvendo uma fórmula para banhar o papel que batizou de Postal Jardim, para atrair os lambe-lambes do Jardim da Luz. Em fevereiro, foi à inauguração da exposição de Levino Fanzeres (1884 – 1956), na rua Líbero Badaró, 66 (O Estado de São Paulo, 28 de fevereiro, página 2, última coluna).

Em 10 de novembro de 1916, Guilherme consultou a empresa International Patent Agency, de Moura & Wilson, que eram agentes de privilégios sediados no Rio de Janeiro, com o objetivo de se informar quanto aos procedimentos de requerimento de uma patente. A empresa respondeu três dias depois, dispondo-se a providenciar a patente mediante ao fornecimento dos documentos necessários e ao pagamento de Rs 220$000.

Em 1917, Guilherme Wessel possuia uma Oficina de Gravura, na Travessa Guaianazes, 155, na Barra Funda. em 1921, o Almanak Laemmert identificava no endereço um estabelecimento fotográfico (Almanak Laemmert, 1917 e 1921, última coluna). Em 1921, um dos funcionários da oficina sofreu um pequeno acidente (O Combate, 12 de maio de 1921, penútima coluna).

 

 

Em 1919, Conrado comprou uma casa na rua K , em Casa Verde (Correio Paulistano, 5 de fevereiro de 1919, quinta coluna).

A fórmula de Conrado, patenteada no início em 1921, em documento assinado pelo presidente da República, Epitácio Pessoa (1865 – 1942), foi descrita como um “novo processo para fabricação de material photographico, sensível à luz, para o processo positivo e negativo, à base de emulsões de saes de prata ou gelatina, albumina ou collodio, servindo de supportes para estas emulsões papel, vidro, celluloide ou qualquer outro supporte que seja appropriado”.

 

 

 

Em 1921, Conrado comprou do professor de Filosofia da Escola Normal, dr. Picarollo, e de seu filho o maquinário necessário, importou papel da Alemanha e começou a trabalhar em um pequeno prédio de seu pai, na Barra Funda. Enquanto aguardava a chegada do papel, um acaso o ajudou a criar uma forma de pendurar o papel emulsionado para a secagem, uma vez que dispunha de pouco espaço. Realizava um trabalho de propaganda para a Tapeçaria Schultz e observou o sistema de cortinas movimentadas por cordas. Achou que um processo semelhante poderia ser usado para secar metros e metros de papel. Mas a experiência foi um desastre. Nem 10 centímetros foram aproveitados dos 10 metros de papel emulsionados. Teria que encontrar outra solução.

 

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Surgia assim, em março de 1921, a primeira fábrica de papel fotográfico da América Latina, a Fábrica Privilegiada de Papéis Fotográficos Wessel, sediada na rua Lopes de Oliveira, em São Paulo.

 

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Apesar da qualidade do papel fotográfico e de ter melhor preço, os consumidores resistiam a utilizar um produto nacional e continuava a utilizar o postal da Ridax e da Gevaert. Foi nessa época que Wessel forjou o lema que o acompanharia por toda a vida: “Insista, não desista”.

Em 1922, foi inaugurada a exposição provisória do Panorama de São Paulo, na rua São Bento, nº 24, do fotógrafo Valério Vieira (1862 – 1941), anunciada como a maior fotografia já realizada no mundo, com 16 metros (Correio Paulistano, 6 de setembro de 1922, na segunda coluna e 7 de setembro, na quarta coluna). O trabalho foi apresentado na Exposição do Centenário da Independência, no Rio de Janeiro, realizada entre 7 de setembro de 1922 e 24 de julho de 1923. Foi Conrado que possibilitou a impressão da foto em uma solução de brometo de sais de prata (O Estado de São Paulo, 13 de agosto de 1998).

 

 

Dois anos depois, um acontecimento histórico ajudou os negócios de Conrado: entre 5 e 28 de julho de 1924, São Paulo ficou sitiada devido à eclosão da Revolução dos Tenentes ou Revolta Paulista, liderada por Isidoro Dias Lopes (1865 – 1949) e motivada pelo descontentamento dos militares com a crise econômica e a concentração de poder nas mãos de políticos de Minas Gerais e de São Paulo. Devido ao violento conflito urbano, faltou papel importado para os fotógrafos que atuavam, principalmente, no Jardim da Luz, e eles passaram a comprar de Wessel. Quando a rebelião terminou, o fornecimento de papel importado foi restabelecido, mas Wessel já havia conquistado uma clientela fiel. Sua empresa começou a prosperar.

Durante a década de 30, Conrado adquiriu vários imóveis e terrenos, dentre eles um terreno e um prédio na alameda Eduardo Prado, nº 18; o prédio da rua Santo Antônio, nº 89; o prédio da rua Anna Cintra, 34; um prédio na rua Lopes de Oliveira; e um prédio na Conselheiro Belisário, 96 (O Estado de São Paulo,12 de outubro de 1931, página 3, segunda coluna; 24 de junho de 1932, página 3, segunda coluna; 15 de agosto de 1934, página 3, quarta coluna; 5 de novembro de 1935, página 7; e 6 de maio de 1936, página 10, penúltima coluna; Correio Paulistano, 29 de setembro de 1934, sexta coluna; 6 de outubro, primeira coluna, de 1934; 23 de fevereiro de 1935, quinta coluna).

Na revista O Malho, de 2 de janeiro de 1932, publicação de uma fotografia de autoria de Conrado Wessel.

 

 

No mesmo ano, o ministro interino do Trabalho declarou caduca a patente de Wessel (Jornal do Commercio, 18 de março de 1932, segunda coluna). Pelo o que se seguiu, tudo indica que essa decisão foi revogada.

 

 

A residência e a fábrica de Conrado ficavam na rua Lopes de Oliveira, 18. Foi roubado um pacote de papel de sua fabricação mas ele conseguiu encontrar o autor do furto (Correio de São Paulo, 30 de novembro de 1933, terceira coluna).

Ainda na década de 30, foram as bobinas de papel produzidas pela firma de Conrado que alimentaram o sistema Photo Rotativo usado pelo fotógrafo Theodor Preising (1883 – 1962). Tratava-se de um mecanismo que produzia fotografias no formato postal e 18 x 24cm para álbuns a partir de até dois negativos.

 

 

Falecimento de Guilherme Wessel, em 25 de janeiro de 1940 (O Estado de São Paulo, 26 de janeiro de 1940, página 4, quinta coluna).

 

O Estado de São Paulo, 28 de janeiro de 1940

O Estado de São Paulo, 28 de janeiro de 1940

 

Em setembro de 1954, conforme acordado, em 1949, tanto a fábrica, construída em Santo Amaro pela Kodak, quanto a patente de Conrado passou a pertencer à empresa norte-americana, na época líder do mercado fotográfico, denominand0-se Kodak – Wessel. Àquela altura, após décadas dirigindo seu negócio, Conrado já havia consolidado seu patrimônio.

 

 

Sua mãe, Nicolina Krieger Wessel, faleceu, em 7 de novembro de 1956, aos 93 anos, em São Paulo (O Estado de São Paulo, 8 de novembro de 1956, página 7, terceira coluna).

 

O Estado de São Paulo, 8 de novembro de 1956

O Estado de São Paulo, 8 de novembro de 1956

 

No Suplemento Literário do O Estado de São Paulo, de 24 de novembro de 1974, foi publicado o artigo O fotógrafo ambulante – a história da fotografia nas praças de São Paulo, do professor Boris Kossoy (1941-), e a importância de Conrado foi destacada.

Conrado Wessel  faleceu, em 23 de maio de 1993, sem herdeiros e em seu testamento, datado de 11 de maio de 1988, foi determinado que seus bens fossem destinados à criação da Fundação Conrado Wessel, fundada, em 20 de maio de 1994, para a difusão da arte, da ciência e da cultura. O primeiro diretor-presidente da fundação foi Antônio Valério Lorenzini, que havia, assim como seu pai, trabalhado anos com Conrado (O Estado de São Paulo, 29 de janeiro de 1999). Em 2003, A Fundação Conrado Wessel passou a distribuir, anualmente, prêmios nas categorias de Arte, Ciência, Cultura e Medicina.

 Link para a Cronologia de Guilherme (1862 – 1940) e Conrado Wessel (1891 – 1993)

 

Poços de Caldas

 

 

Poços de Caldas, em Minas Gerais, foi fundada em 6 de novembro de 1872 e suas águas raras e com poderes de cura foram responsáveis pela prosperidade da cidade. Seu nome tem origem na cidade de Caldas da Rainha, importante terma em Portugal. Como as fontes eram poços usados por animais, o nome da cidade mineira ficou Poços de Caldas.

Em 1886, funcionava em Poços um balneário voltado ao tratamento de doenças de pele, que utilizava as águas sulfurosas que eram captadas pela Fonte Pedro Botelho (O Paiz, 29 de setembro de 1886, quarta coluna).

 

 

Neste ano, foi visitado, em outubro, por Pedro II (1825 – 1891) e por dona Teresa Cristina (1822 – 1889), que ficaram em um chalé feito especialmente para receber o casal, no Hotel da Empreza – Empresa Balneária, que funcionou como concessionária das termas nos anos 1880-, pelo engenheiro alemão Carlos Alberto Maywald e pelo arquiteto italiano Giovanni Battista Pansini. O casal imperial estava na região devido à inauguração do ramal de Caldas da Estrada de Ferro Mogiana, em 22 de outubro de 1886 (O Paiz, 25 de outubro de 1886, sétima coluna).

 

 

O balneário foi demolido nos anos 20 e substituído pelo conjunto arquitetônico de Eduardo Pederneiras, composto pelo Palace Hotel, de 1923 e reinaugurado em 1929; pelas Thermas Antônio Carlos e pelo Palace Cassino, inaugurados em 29 de março e 31 de março de 1931, respectivamente.

 

 

 

As Thermas Antônio Carlos foi o primeiro estabelecimento termal do Brasil a oferecer uma série de serviços e tratamentos de saúde a partir do uso da água termal. Sua gestão é feita pelo governo de Minas Gerais desde 2018.

O Palace Cassino fez muito sucesso e era frequentado pela aristocracia brasileira e lá aconteciam shows com artistas como Carmen Miranda, Sylvio Caldas e Orlando Silva. Com a assinatura do decreto-lei 9 215, de 30 de abril de 1946, pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, determinando a proibição do jogo no país, o cassino fechou suas portas. Muitos anos depois foi restaurado tornando-se patrimônio histórico e arquitetônico da cidade que até hoje é um importante destino turístico.

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Enciclopédia Itaú Cultural

Especial Prêmio Conrado Wessel – Pesquisa Fapesp, 2004

Folha de São Paulo, 6 de junho de 2004

Fundação Conrado Wessel

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

LEMOS, Eric Danze. Fotografia profissional, arquivo e circulação: a produção de Theodor Preising em São Paulo (1920 – 1940).  Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em História Social do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2016

MEGALE. Nilza Botelho. Memórias Históricas de Poços de Caldas. Minas Gerais : Gráfica Dom Bosco, 1990.

MOURÃO, Mário. Poços de Caldas – Synthese Historica e Cronologica, 1933.

Revista Pesquisa Fapesp – O entusiasmo de um inventor

Revista Pesquisa Fapesp – Rumos de um inventor

Revista Pesquisa Fapesp – Trajetória de um inventor

Site Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais

Site Memórias de Poços

Site Palace Cassino

Site Poços.com

Cronologia de Guilherme (1862 – 1940) e Conrado Wessel (1891 – 1993), pai e filho

Cronologia de Guilherme (1862 – 1940) e Conrado Wessel (1891 – 1993)

 

 

“Contribuiu decisivamente para a implantação da indústria fotográfica no país, pois fundou a primeira indústria de papel fotográfico no Brasil. Utilizou fórmulas e processos segundo sua concepção e auxiliou Valério Vieira na sensibilizaçaodo famoso painel “Panorama da Cidade de São Paulo. Introduziu o papel fotográfico tamanho postal, que se tornou conhecido por “Postaes Wessel Jardim” e que foram largamente consumido pelos lambe-lambe”. Sua indústria foi posteriormente adquirida pela Kodak e durante algum tempo lia-se nas casixas de papel fotográfico a sigla Kodak-Wessel”

Boris Kossoy sobre Conrado Wessel, 1975

 

c. 1860 – A família Wessel, tradicional fabricante de chapéus em Hamburgo, na Alemanha, imigrou para a Argentina

1862 – Nascimento do fotógrafo Guilherme Wessel (1862 – 1940), em Concepcion do Uruguai, na Argentina.

1870 – 1880 – Provavelmente, entre fins da década de 1870 e a década de 1880, Guilherme foi para Hamburgo, na Alemanha, onde formou-se em Física.

1887 – Casamento de Guilherme Wessel com Nicolina Krieger Wessel (1863 – 1956).

1888 – Em 10 de abril, nascimento do primeiro filho do casal, Georg Walter (1888 – 1908).

1891 - Em 16 de fevereiro de 1891, em Buenos Aires, nascimento de Conrado Wessel cujo nome de batismo era Ubald Konrad August Wessel, segundo filho de Guilherme Wessel e de Nicolina Krieger Wessel (1863 – 1956).

1892 – Guilherme foi com sua mulher e dois filhos para Sorocaba e, depois, para São Paulo, convidado para lecionar na Escola Politécnica, que viria a ser uma das unidades fundadoras da Universidade de São Paulo, em 1934.

1900 – Guilherme abriu em sociedade com Carlos Norder um estabelecimento de artigos de fotografia e de laboratórios químicos, na rua São Bento, 41 A, no centro da capital, Aos Photograhos e Amadores da photographia. Oferecia gratuitamente aos amadores lições práticas e disponibilizavm para todos os fregueses um quarto escuro. Na mesma época, Guilherme Gaensly (1843 – 1928) tinha um ateliê fotográfico, na rua 15 de Novembro, 28 (O Estado de São Paulo, 3 de janeiro de 1900, página 2, sexta coluna; Correio Paulistano, 5 de janeiro de 1900Almanak Laemmert, segunda coluna, 1901)

 

 

 

O Estado de São Paulo, 3 de janeiro de 1900

O Estado de São Paulo, 3 de janeiro de 1900

 

Anunciava em dezembro de 1900 ter recebido grande sortimento de produtos: chapas Lumière, câmaras fotográficas e objetos para fotografia e distribuiu a seus fregueses, em dezembro do ano seguinte, uma carteira com espelho (O Commercio de São Paulo, 21 de dezembro de 1900O Estado de São Paulo, 1º de janeiro de 1902, página 2, quarta coluna).

 

 

1901 – Guilherme já prestava serviços fotográficos para as secretarias da Fazenda, do Interior e da Justiça de São Paulo (O Estado de São Paulo, 6 de março de 1901, página 1, penúltima coluna; Correio Paulistano, 7 e março, quinta coluna4 de setembro, segunda coluna, de 1903; Correio Paulistano, 22 de setembro de 1904, última colunaCorreio Paulistano, 6 de janeiro de 1905, sétima coluna). Também tinha uma Casa Importadora de Artigos para Photografia e Aparelhos de Eletricidade, na rua Direita, nº 20 (Almanak Laemmert, primeira coluna, 1903).

1903 - Guilherme Wessel possuia uma Casa Importadora de todos os artigos para fotografia e aparelhos para eletricidade na rua Direira, nº 29 (Almanak Laemmert, 1903, primeira coluna). Conforme o Almanak Laemmert, seu estabelecimento de artigos de fotografia e de laboratórios químicos, na rua São Bento, 41 A, continuava a existir (Almanak Laemmert, 1903, última coluna).

 

Illustração Brasileira, 1905

Illustração Brasileira, 1905

 

1904 - Guilherme foi um dos doadores para a quermesse em prol do Instituto Pasteur de São Paulo e do Conservatório Dramático Municipal (Correio Paulistano, 11 de março de 1904, primeira coluna).

Promoveu uma exposição de fotografias no intuito de estimular os amadores (O Commercio de São Paulo, 9 de julho de 1904, primeira coluna).

 

 

1906 – Conrado, que havia feito seus primeiros estudos na Escola Alemã daVila Mariana, participou de um concurso de fotografia, apresentando 25 fotografias em um pavilhão especialmente preparado para a exposição, no Posto Zootécnico de São Paulo (Correio Paulistano, 21 de outubro de 1906, quinta coluna).

Pela última vez foi anunciada no Almanak Laemmert a loja de Guilherme na rua Direita, nº 20 (Almanak Laemmert, 1906, última coluna).

1907 - Pela última vez foi anunciada no Almanak Laemmert a loja de Guilherme na rua São Bento 41 – A (Almanak Laemmert, 1907, última coluna).

Guilherme tinha uma loja de artigos fotográficos na rua Líbero Badaró, 48. Nessa mesma época, Valério Vieira (1862 – 1941) e Vincenzo Pastore (1865 – 1918) também possuiam estabelecimentos fotográficos em São Paulo.

 

 

O italiano Pastore, importante cronista visual de São Paulo da segunda metade do século XIX e do início do século XX, e Guilherme foram, provavelmente, amigos, já que Guilherme estava presente a seu enterro, em janeiro em 1918 (Almanak Laemmert, 1907primeira coluna; Almanak Henault, 1909Correio Paulistano, 19 de janeiro de 1918, terceira coluna).

 

 

Guilherme foi contratado pelo Jockey Club de São Paulo para inaugurar o serviço de fotografia de chegadas dos páreos (O Paiz, 23 de fevereiro de 1907, quarta colunaRevista da Semana, 3 de março de 1907).

 

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1908 – Por cerca de seis meses, Conrado foi assistente de um cinegrafista da Gaumont, que havia vindo ao Brasil para filmar fazendas de café para a propaganda do produto na Europa, tornando-se um dos primeiros cinegrafistas do Brasil. Estava na folha de pagamentos da Secretaria da Fazenda de São Paulo (Correio Paulistano, 4 de novembro de 1908, sexta coluna).

“O primeiro documento expedido no Brasil atestando a capacidade para o exercício da função de cinegrafista foi fornecido ao químico Conrado Wessel, em 1908, pela Gaumont Films, uma das produtoras mais antigas da França. Wessel (1891-1993) conta em sua carta autobiográfica que recebeu o atestado das mãos de um cinegrafista da Gaumont, Colliot, que veio ao país contratado pela Secretaria de Agricultura de São Paulo.
Por mais de seis meses, ele foi intérprete e ajudante do cinegrafista francês e ambos filmaram várias fazendas de café, colhendo cenas para a propaganda do produto na Europa” (Ana Maria Guariglia, Folha de São Paulo, 2 de março de 1995).

Trabalhava com seu filho mais velho Georg Walter, que faleceu de tifo, em 26 de dezembro de 1908, e foi enterrado no Cemitério dos Protestantes (Correio Paulistano, 2 de novembro de 1914, primeira coluna).

1909 – Guilherme continuou a trabalhar fornecendo fotografias para a Secretaria da Agricultura (Correio Paulistano, 12 de outubro de 1909, última coluna). A loja da Líbero Badaró foi anunciada pela última vez no Almanak Laemmert (Almanak Laemmert, 1909, última coluna).

1911 / 1913 – Guilherme recebeu pagamento da Secretaria da Agricultura por ter fornecido 20 fotografias ao poeta Olavo Bilac (1865 – 1918) (Correio Paulistano, 7 de junho de 1911, terceira coluna).

 Conrado já havia conquistado dois prêmios como fotógrafo quando, em 1911, foi para Viena, na Áustria.

 

 

Além de estudar fotoquímica no K.K. Graphischen Lehr und Versuchsanstalt, entre julho de 1911 e dezembro de 1912 ,estagiou na Casa Beissner & Gottlieb, especializada na área gráfica e fotográfica, entre de 10 de julho de 1912 e 8 de fevereiro de 1913. Especializou-se em clichês para jornais e revistas.

 

 

 

Guilherme viajou com o secretário da Agricultura com destino à ponta dos trilhos da Noroeste do Brazil (O Paiz, 21 de agosto de 1912).

 

 

Abaixo, a reprodução do certificado da Casa Beissner & Gottlieb, de Viena, de 8 de fevereiro de 1913, documentando o estágio profissional obrigatório realizado por Conrado Wessel, na conclusão de seus estudos no Instituto K.K. Graphischen Lehr und Versuchsanstalt.

 

 

Tradução: Atestado: Viena, 8 de fevereiro de 1913. O sr. Conrado Wessel, após ter terminado os estudos gráficos da K.K. Graphischen Lehr & Versuchsanstalt, esteve em nosso instituto em atividades práticas desde 10 de julho de 1912 até hoje. Trabalhou em diferentes departamentos e obteve sucesso e muitos bons resultados. Nós atestamos portanto com satisfação que estamos contentes pelo seu desempenho em cada índice, com extremado respeito por suas realizações, e desejamos a ele o maior progresso no futuro”.

Voltou para São Paulo, em 1913, com maquinário para a montagem de uma clicheria com o pai.

1914 – Guilherme seguia trabalhando para a Secretaria da Fazenda e, em 1914, fez uma proposta para prorrogar por mais um ano o contrato que tinha de fornecimento de fotografias para a entidade (Correio Paulistano, 3 de fevereiro de 1914, quarta colunaCorreio Paulistano, 29 de julho de 1916, quarta coluna; Correio Paulistano, 13 de dezembro de 1917, terceira coluna; Correio Paulistano, 10 de janeiro de 1918, última coluna).

Conrado fotografou o Salto do Paranapanema durante uma visita realizada pelo então secretário da Agricultura de São Paulo, Paulo de Moraes Barros, ao local, quando inaugurou o primeiro trecho do prolongamento da ferrovia Sorocabana Railway na direção do Porto Tibiriçá (Correio Paulistano, 16 de fevereiro de 1914, sexta coluna).

1915 – Entre esse ano e 1919, Conrado foi aluno ouvinte na Escola Politécnica e também trabalhou como auxiliar no laboratório do professor de bioquímica, físico-química e eletroquímica Roberto Hottinger, no curso de Engenharia Química. Conrado queria criar um papel fotográfico de qualidade equivalente a dos importados – os usados eram da Kodak, da Agfa e da Gevaert – porém com um preço mais baixo.

Segundo o próprio:

“Durante quatro anos fiz de tudo ali. Desde a preparação do nitrato de prata até os estudos das diferentes qualidades de gelatinas. Da ação dos halogênios como o bromo, o cloro, e o iodo sobre o nitrato de prata ao brommeto de potássio. Cheguei à conclusão que a mistura de uma pequena dose de iodo ao bromo dava muito melhor resultado, assim como a adição do iodo ao cloro”.

O entusiasmo de um inventor (2006)

 

1916 - Guilherme seguia trabalhando para a Secretaria de Agricultura (A Gazeta (SP), 18 de janeiro de 1916, quarta coluna) e Conrado já estava desenvolvendo uma fórmula para banhar o papel que batizou de Postal Jardim, para atrair os lambe-lambes do Jardim da Luz.

Em fevereiro, Conrado foi à inauguração da exposição de Levino Fanzeres (1884 – 1956), na rua Líbero Badaró, 66 (O Estado de São Paulo, 28 de fevereiro, página 2, última coluna).

Em 10 de novembro de 1916, Guilherme consultou a empresa International Patent Agency, de Moura & Wilson, que eram agentes de privilégios sediados no Rio de Janeiro, com o objetivo de se informar quanto aos procedimentos de requerimento de uma patente. A empresa respondeu três dias depois, dispondo-se a providenciar a patente mediante ao fornecimento dos documentos necessários e ao pagamento de Rs 220$000.

1917 – Guilherme Wessel possuia uma Oficina de Gravura, na Travessa Guayanazes, 155, na Barra Funda.

 

 

1918 – Guilherme foi ao enterro do fotógrafo italiano Vincenzo Pastore (1865 – 1918) Correio Paulistano, 19 de janeiro de 1918, terceira coluna).

1919 - Conrado comprou uma casa na rua K , em Casa Verde (Correio Paulistano, 5 de fevereiro de 1919, quinta coluna).

1920 - Guilherme forneceu à Diretoria de Indústria e Comércio uma fita cinematográfica e ampliações fotográficas para a Feira de Lyon (O Combate, 3 de dezembro de 1920, última coluna).

1921 - Em 1921, o Almanak Laemmert identificava no endereço da oficina de gravuras de Guilherme Wessel também um estabelecimento fotográfico (Almanak Laemmert, 1921, última coluna).

A fórmula de Conrado foi patenteada, no início em 1921, em documento assinado pelo presidente da República, Epitácio Pessoa (1865 – 1942). Foi descrita como um “novo processo para fabricação de material photographico, sensível à luz, para o processo positivo e negativo, à base de emulsões de saes de prata ou gelatina, albumina ou collodio, servindo de supportes para estas emulsões papel, vidro, celluloide ou qualquer outro supporte que seja appropriado”.

 

 

 

Conrado comprou do professor de Filosofia da Escola Normal, dr. Picarollo, e de seu filho o maquinário necessário, importou papel da Alemanha e começou a trabalhar em um pequeno prédio de seu pai, na Barra Funda. Enquanto aguardava a chegada do papel, um acaso o ajudou a criar uma forma de pendurar o papel emulsionado para a secagem, uma vez que dispunha de pouco espaço. Realizava um trabalho de propaganda para a Tapeçaria Schultz e observou o sistema de cortinas movimentadas por cordas. Achou que um processo semelhante poderia ser usado para secar metros e metros de papel. Mas a experiência foi um desastre. Nem 10 centímetros foram aproveitados dos 10 metros de papel emulsionados. Teria que encontrar outra solução.

 

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Surgia assim, em março de 1921, a primeira fábrica de papel fotográfico da América Latina, a Fábrica Privilegiada de Papéis Fotográficos Wessel.

 

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Apesar da qualidade do papel fotográfico e de ter melhor preço, os consumidores resistiam a utilizar um produto nacional e continuava a utilizar o postal da Ridax e da Gevaert. Foi nessa época que Wessel forjou o lema que o acompanharia por toda a vida: “Insista, não desista”.

Um dos funcionários do estabelecimento de Guilherme sofreu um pequeno acidente (O Combate, 12 de maio de 1921, penútima coluna).

1922 – Pela última fez o estabelecimento de Guilherme foi identificado pelo Almanak Laemmert como uma oficina de gravuras e quadros (Almanak Laemmert, 1922, primeira coluna). Depois, até 1927, foi sempre identificado como uma estabelecimento fotográfico (Almanak Laemmert, 1927, primeira coluna).

Inauguração da exposição provisória do Panorama de São Paulo, na rua São Bento, nº 24, do fotógrafo Valério Vieira (1862 – 1941), anunciada como a maior fotografia já realizada no mundo, com 16 metros (Correio Paulistano, 6 de setembro de 1922, na segunda coluna e 7 de setembro, na quarta coluna). O trabalho foi apresentado na Exposição do Centenário da Independência, no Rio de Janeiro, realizada entre 7 de setembro de 1922 e 24 de julho de 1923. Foi Conrado que possibilitou a impressão da foto em uma solução de brometo de sais de prata (O Estado de São Paulo, 13 de agosto de 1998).

1924 – Um acontecimento histórico ajudou os negócios de Conrado: entre 5 e 28 de julho de 1924, São Paulo ficou sitiada devido à eclosão da Revolução dos Tenentes, liderada por Isidoro Dias Lopes (1865 – 1949) e motivada pelo descontentamento dos militares com a crise econômica e a concentração de poder nas mãos de políticos de Minas Gerais e de São Paulo. Devido ao violento conflito urbano, faltou papel importado para os fotógrafos que atuavam, principalmente, no Jardim da Luz, e eles passaram a comprar de Wessel. Quando a rebelião terminou, o fornecimento de papel importado foi restabelecido, mas Wessel já havia conquistado uma clientela fiel. Sua empresa começou a prosperar.

1927 - O estabelecimento fotográfico de Guilherme Wessel, na rua Guayanazes, 155, foi anunciado pela última vez (Almanak Laemmert, 1927, primeira coluna).

Década de 30 – Nesse período, Conrado adquiriu vários imóveis e terrenos, dentre eles um terreno e um prédio na alameda Eduardo Prado, nº 18; o prédio da rua Santo Antônio, nº 89; o prédio da rua Anna Cintra, 34; um prédio na rua Lopes de Oliveira; e um prédio na Conselheiro Belisário, 96 (O Estado de São Paulo,12 de outubro de 1931, página 3, segunda coluna; 24 de junho de 1932, página 3, segunda coluna; 15 de agosto de 1934, página 3, quarta coluna; 5 de novembro de 1935, página 7; e 6 de maio de 1936, página 10, penúltima coluna; Correio Paulistano, 29 de setembro de 1934, sexta coluna6 de outubro, primeira coluna, de 1934; 23 de fevereiro de 1935, quinta coluna).

Pela última vez o Almanak Laemmert anunciou o estabelecimento de Guilherme Wessel, na rua Guayanazes, nº 155 (Almanak Laemmert, 1931, última coluna).

Na revista O Malho, de 2 de janeiro de 1932, publicação de uma fotografia de autoria de Conrado Wessel.

 

 

Em 1932, o ministro interino do Trabalho declarou caduca a patente de Wessel (Jornal do Commercio, 18 de março de 1932, segunda coluna). Pelo o que se seguiu, tudo indica que essa decisão foi revogada.

 

 

A residência e a fábrica de Conrado ficavam na rua Lopes de Oliveira, 18. Foi roubado um pacote de papel de sua fabricação mas ele conseguiu encontrar o autor do furto (Almanak Laemmert, 1931, primeira colunaCorreio de São Paulo, 30 de novembro de 1933, terceira coluna).

Ainda na década de 30, foram as bobinas de papel produzidas pela firma de Conrado que alimentaram o sistema Photo Rotativo usado pelo fotógrafo Theodor Preising (1883 – 1962). Tratava-se de um mecanismo que produzia fotografias no formato postal e 18 x 24cm para álbuns a partir de até dois negativos.

 

 

1940 – Falecimento de Guilherme Wessel, em 25 de janeiro de 1940 (O Estado de São Paulo, 26 de janeiro de 1940, página 4, quinta coluna).

 

O Estado de São Paulo, 28 de janeiro de 1940

O Estado de São Paulo, 28 de janeiro de 1940

 

1949 – 1954 – Em setembro de 1954, conforme acordado, em 1949, tanto a fábrica, construída em Santo Amaro pela Kodak, quanto a patente de Conrado passaram a pertencer à empresa norte-americana, na época líder do mercado fotográfico, denominand0-se Kodak – Wessel. Àquela altura, após décadas dirigindo seu negócio, Conrado já havia consolidado seu patrimônio.

 

 

1956 - Sua mãe, Nicolina Krieger Wessel, faleceu, em 7 de novembro de 1956, aos 93 anos, em São Paulo (O Estado de São Paulo, 8 de novembro de 1956, página 7, terceira coluna).

 

O Estado de São Paulo, 8 de novembro de 1956

O Estado de São Paulo, 8 de novembro de 1956

 

1974 - No Suplemento Literário do O Estado de São Paulo, de 24 de novembro de 1974, foi publicado o artigo O fotógrafo ambulante – a história da fotografia nas praças de São Paulo, do professor Boris Kossoy (1941-), e a importância de Conrado foi destacada.

1988 – Conrado fez um testamento, datado de 11 de maio de 1988, determinando que seus bens fossem destinados à criação da Fundação Conrado Wessel.

1993 – Conrado Wessel faleceu em 23 de maio de 1993, sem herdeiros.

1994 – Criação da Fundação Conrado Wessel, fundada, em 20 de maio de 1994, para a difusão da arte, da ciência e da cultura; e também para a doação de recursos para entidades beneficiadas. O primeiro diretor-presidente da fundação foi Antônio Valério Lorenzini, que trabalhou anos com Conrado Wessel. Antes, seu pai já havia trabalhado com Wessel (O Estado de São Paulo, 29 de janeiro de 1999).

2003 – A Fundação Conrado Wessel passou a distribuir, anualmente, prêmios nas categorias de Arte, Ciência, Cultura e Medicina.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a primeira deputada da Bahia

 

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia

“Quando a fina silhueta de Maria Luiza Doria Bittencourt assomou à tribuna para os dez minuros da prova de eloquência, todo o auditório sentiu que se achava ali diante de um especimen novo de individualidade feminina, o expoente de uma nova concepção de Eva moderna: a mulher valor-intelectual”.

Maria Eugênia Celso Caneiro de Mendonça

sobre Maria Luiza Dória Bittencourt

Jornal do Brasil, 16 de outubro de 1929

 

A imagem abaixo pertence ao acervo fotográfico do Arquivo Nacional, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica.

 

 

A advogada e feminista Maria Luiza Dória Bittencourt nasceu em Paripe, subúrbio de Salvador, em 1910, filha de Luiz de Lima Bittencourt e Isaura Dória Bittencourt. Estudou no Rio de Janeiro, para onde se mudou com sua família e residia em um palacete na Praia Vermelha. Na década de 20, já era filiada à Federação Brasileira para o Progresso Feminino e à União Universitária Feminina, presididas por Bertha Lutz (1894 – 1976) e Carmen Portinho (1903 – 2001), respectivamente.

Em 1929, venceu a etapa do Rio de Janeiro de um concurso de oratória promovido pelo Instituto dos Advogados, cujo tema foi a Constituição Federal. Foi a única mulher entre os seis finalistas da etapa nacional, e ficou em segundo lugar no concurso, cujo vencedor foi o acadêmico mineiro Jovert de Souza Lima.

Foi uma das fundadoras, com a feminista e poetisa Anna Amélia Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), presidente da associação, e o teatrólogo Paschoal Carlos Magno  (1906 – 1980), dentre outros, da Casa do Estudante do Brasil, em 13 de agosto de 1929.

Participou do Congresso Penal Penitenciário Brasileiro, realizado, no Rio de Janeiro, entre 15 e 22 de junho de 1930, quando apresentou a tese Reformatório de Mulheres Criminosas. A mesma tese foi apresentada no 10º Congresso Penitenciário e Penal Internacional, em Praga, em agosto do mesmo ano.

Formou-se, em 1931, na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, onde havia ingressado, em 1927, e foi, anos depois, em 1942, a primeira colocada no concurso para a livre-docência em Legislação do Trabalho e Direito Industrial da instituição, tornando-se a primeira mulher docente da história da referida faculdade.

Apoiada pelo grupo do então interventor da Bahia, Juracy Magalhães (1905 – 2001), concorreu a uma vaga de deputada estadual, em 14 de outubro de 1934. Pouco antes, em agosto, havia sido realizada, em Salvador, a Segunda Convenção Feminista, promovida pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Durante o evento foi recomendado aos partidos nomes de mulheres a candidatas às constituintes estaduais e dado apoio a candidatos comprometidos com os interesses femininos.

 

 

Elegeu-se como primeira suplente de Humberto Pacheco Miranda, que havia sido prefeito de Cachoeira, município baiano. Em 6 maio de 1935, assumiu o mandato, tornando-se a primeira deputada estadual baiana e uma das primeiras do Brasil, após o Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, que instituiu o Código Eleitoral Provisório e reconheceu o direito de voto às mulheres. Outras pioneiras foram Carlota Pereira de Queiróz (1892 – 1992), em São Paulo; Bertha Lutz (1894 – 1976), no Rio de Janeiro; Lili Lages (1907 – 2003), em Alagoas; Quintina Diniz de Oliveira (1878 – 1942), em Sergipe; e Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), no Amazonas. Todas as citadas foram eleitas em 1934, exceto Carlota Pereira de Queiróz, eleita em 1933.

Em janeiro de 1936, Maria Luiza seguiu para os Estados Unidos por ter ganho o prêmio Fellowship da Universidade Radcliffe. Retornou ao Brasil em julho do mesmo ano e, em dezembro, integrou a delegação brasileira que foi à Conferência Interamericana de Consolidação da Paz, em Buenos Aires. Durante o evento, proferiu um discurso e sua participação foi muito festejada e elogiada pela imprensa.

Durante seu mandato como deputada estadual da Bahia, Maria Luiza integrou o grupo responsável pela elaboração do texto constitucional e foi a relatora dos capítulos da Educação e Ordem Econômica e Social. Em 1937, apoiou a candidatura de José Américo de Almeida (1887 – 1980) à Presidência da República, tendo participado da Convenção dos delegados apoiadores do governo, no Palácio Monroe. Recepcionou o candidato em sua viagem à Bahia.

Segundo o Dicionário Mulheres do Brasil, foi de Maria Luiza a última voz que se manifestou na Assembléia Legislativa do Estado da Bahia em um discurso na defesa da democracia, antes do fechamento do legislativo determinado pela instauração do Estado Novo, pelo presidente Getulio Vargas (1882 – 1954), em 10 de novembro de 1937.

Em 1938, tinha um escritório de advocacia, na rua da Quitanda, no centro do Rio de Janeiro, com a feminista sergipana Maria Rita Soares Andrade (1904 – 1998), que se tornaria, em 1967, a primeira juíza federal do Brasil. Continuava ligada às atividades da Federação Brasileira pelo Progresso da Mulher, da União Universitária Feminina e da Casa do Estudante do Brasil.

Provavelmente, casou-se em torno de 1943, pois em uma reportagem de janeiro de 1944 foi identificada como Maria Luiza Dória Bittencourt Mello Neto.

Em 1945, com Natércia da Cunha Silveira (1903 – 1993)Carmen Portinho  e Maria Rita Soares de Andrade, foi uma das organizadoras de uma coligação democrática para apoiar a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes (1896 – 1981) à presidência da República, tendo sido uma das fundadoras da UDN – União Democrática Nacional.

Em 19 de janeiro de 1947, concorreu a uma vaga de vereadora do Distrito Federal pela Esquerda Democrática, mas não se elegeu. No ano seguinte, foi noticiado que o Curso de Geografia Econômica, ministrado gratuitamente por ela, na sede do Partido Socialista Brasileiro, na rua Buenos Aires, 57, seria reiniciado.

Em 1954, morava em São Paulo e foi identificada em uma matéria do Jornal do Brasil como advogada, esposa e mãe exemplar. Em fins da década de 60, como integrante do Conselho Patrimonial da Casa do Estudante do Brasil, foi uma das oradoras na comemoração dos 40 anos da entidade, marcada pela reinauguração da Biblioteca Artur Ramos e pela realização de um Almoço de Confraternização Universitária.

Em 1979, no auditório do MEC, Maria Luiza e o engenheiro L.A. Falcão Bauer fizeram palestras sobre o entrosamento profissional entre homens e mulheres dentro da programação da Segunda Reunião Latino-Americana de Mulheres Universitárias. Nove anos depois, em 1988, recebeu, na Associação Brasileira de Mulheres Universitárias, o diploma do Mérito Ruy Barbosa por ter sido a primeira mulher constituinte da Bahia.

Faleceu em 2001.

 

Cronologia de Maria Luiza Dória Bittencourt

 

 

1910 – Nascimento de Maria Luiza Dória Bittencourt, em Paripe, subúrbio de Salvador, capital da Bahia. Era filha de Isaura Dória Bittencourt e Luiz de Lima Bittencourt.  

1923 - Estudava na Escola Leitão da Cunha, no Rio de Janeiro, e participou do concurso Esther Pereira de Mello, promovido pela Escola Deodoro para a escolha, dentre as alunas que se destacaram em seus exames finais, da mais inteligente (Jornal do Commercio, 16 de dezembro de 1923, segunda coluna; e A Noite, 24 de dezembro de 1923, terceira coluna).

No final do ano, foi chamada para prestar exames de preparatório no Colégio Pedro II (Jornal do Brasil, 6 de dezembro de 1923, terceira coluna; e 24 de dezembro,primeira coluna de 1923).

1925 - Foi reprovada no exame de preparatória de Aritmética, no Colégio Pedro II (Jornal do Brasil, 19 de março de 1925, quinta coluna).

1926 – Na Bahia, falecimento de seu avô paterno, Valentim Antônio da Rocha Bittencourt (Jornal do Brasil, 9 de fevereiro de 1926, terceira coluna).

1927 – Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 30 de novembro de 1927, quarta coluna).

Na Seção Acadêmica da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, Maria Luiza proferiu uma palestra sobre assuntos jurídicos (Jornal do Brasil, 23 de setembro de 1927, quarta coluna).

A escritora Rosalina Coelho Lisboa (1900 – 1975) foi coroada como Rainha dos Estudantes, no Teatro João Caetano. Maria Luiza foi uma das oradoras do evento, onde se encontrava todo o escol social do Rio de Janeiro, dentre eles o escritor Coelho Neto (1864 – 1934), considerado o Príncipe dos Prosadores Brasileiros, numa votação realizada no ano seguinte pela revista O Malho; e o teatrólogo, ator e poeta Paschoal Carlos Magno (1906 – 1980)(O Paiz, 24 de setembro de 1927, segunda coluna).

 

 

1928 - Foi um dos acadêmicos de Direito que assinaram uma mensagem enviada ao Congresso da Mocidade Católica de São Paulo (A Cruz, 26 de setembro de 1928, quinta coluna).

1929 - Ainda como estudante, foi secretária da União Universitária Feminina, fundada por Carmen Portinho (1903 – 2001), no Rio de Janeiro, em 13 de janeiro de 1929 (O Paiz, 14 de janeiro de 1929, terceira colunaO Imparcial, 15 de janeiro de 1929, primeira colunaGazeta de Notícias, 15 de janeiro de 1929, quarta colunaO Jornal, 3 de outubro de 1929, quinta coluna).

Era filiada à Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), fundada por Bertha Lutz (1894 – 1976), em 1922.

Com a tese As liberdades e as garantias constitucionais venceu o concurso de oratória realizado entre os alunos da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Concorreu com os acadêmicos Alvim Horcades Filho e Deocleciano Martins de Oliveira (Jornal do Brasil, 1º de setembro de 1929, quinta coluna; O Paiz, 31 de agosto de 1929, quarta coluna).

Integrando a celebração da Independência do Brasil promovida pela FBPF e pela a União Universitária Feminina, Maria Luiza proferiu o discurso Independência política, independência moral, na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, representando a União Universitária Feminina. Pela FBPF, proferiram discursos as duas vencedoras norte-americanas de um concurso de oratória realizado nos Estados Unidos. Participou do chá de despedida oferecido pela FBPF, no Pão de Açúcar, a essas estudantes (O Paiz, 7 de setembro, sexta coluna; 14 de setembro de 1929, penúltima coluna, de 1929).

Na casa de seu pai, dr. Lima Bittencourt, descrito como um palacete na Praia Vermelha, também ofereceu um chá ao grupo (Revista da Semana, 21 de setembro de 1929).

 

 

Por seu intermédio, o Instituto Histórico e Geográfico enviou vários livros para a Feira dos Livros. Foi fotografada participando do evento, em benefício da Casa do Estudante do Brasil, criada em 13 de agosto de 1929, da qual foi uma das fundadoras, assim como a importante poetisa e feminista Anna Amélia Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), presidente da associação, e o ator, poeta e teatrólogo Paschoal Carlos Magno  (1906 – 1980), dentre outros (Correio da Manhã, 24 de setembro de 1929, sétima coluna; Revista da Semana, 28 de setembro de 1929; Diário de Notícias, 2 de junho de 1940, quarta coluna; Annuario Brasileiro de Literatura, 1943; Tribuna da Imprensa, 9 de março de 1956Correio da Manhã, 14 de agosto de 1969, quarta coluna).

 

 

Uma curiosidade: Anna Amélia de Queiroz Carneiro de Mendonça foi casada com Marcos Carneiro de Mendonça (1894 – 1988), goleiro do Fluminense e o primeiro goleiro da seleção brasileira. O casal teve quatro filhos e um deles foi Bárbara Heliodora (1923 – 2015), crítica teatral e uma das maiores especialistas em Shakespeare do Brasil.

 

 

Maria Luiza participou da Festa dos Balões, em prol da construção da Casa do Estudante do Brasil (Revista da Semana, 5 de outubro de 1929).

 

 

Maria Luiza foi uma das promotoras e discursou durante a programação da Festa da Primavera, organizada pela mocidade feminina carioca, realizada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. O presidente Washington Luis (1869 – 1957) foi homenageado (O Paiz, 28 de setembro de 1929, terceira coluna; A Manhã, 28 de setembro de 1928, primeira coluna).

Publicação de um artigo da escritora e feminista Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963), filha do historiador, político e poeta conde de Afonso Celso (1860 – 1938),  elogiando as qualidades intelectuais e pessoais de Maria Luiza (Jornal do Brasil, 16 de outubro de 1929, primeira coluna).

 

 

Na reunião mensal da União Universitária Feminina, presidida por Carmen Portinho (1903 – 2001), solicitou que a associação apoiasse a construção da Casa do Estudante do Brasil, ajudando na venda de entradas para a peça Orpheu, no estádio do Fluminense. Na mesma ocasião, foi nomeada com Luiza Sapienza e Esther Corrêa Ramalho, uma das primeiras engenheiras brasileiras, para integrar a comissão do desenvolvimento da biblioteca da União Universitária Feminina (O Jornal, 3 de outubro de 1929, quinta coluna; e O Paiz, 20 de outubro de 1929, última coluna).

Foi uma das finalistas, a única mulher, representando o Rio de Janeiro, no concurso nacional de oratória promovido pela Instituto dos Advogados entre estudantes de Direito do Brasil, cujo tema foi a Constituição Federal. Realizado no Salão da Associação dos Empregados do Comércio, foi vencido pelo acadêmico mineiro Jovert de Souza Lima. Maria Luiza conquistou o segundo lugar, seguida por Hermes Barroso, representante do Ceará (O Jornal 11 de outubro, quarta coluna13 de outubro e 18 de outubro de 1929; A Gazeta (SP), 16 de outubro de 1929, quarta coluna; Revista da Semana, 19 de outubro de 1929; Fon-Fon, 19 de outubro de 1929Excelsior, novembro de 1929).

 

 

 

Sob os auspícios da Federação Brasileira para o Progresso Feminino, na Rádio Club do Brasil, apresentação de Maria Luiza, oradora e acadêmica de Direito, falando sobre Os direitos políticos femininos em face das leis do Brasil (Jornal do Brasil, 8 de novembro de 1929, quinta coluna).

Foi citada, elogiosamente, no artigo Oratória Feminina, do conde de Afonso Celso (1860 – 1938) (Jornal Pequeno, 16 de dezembro de 1929, segunda coluna).

“Na senhorita Maria Luiza Dória Bittencourt fulge, porém, deveras, um dos mais auspiciosos talentos verbais da presente geração acadêmica”. 

1930 – Participou do Congresso Penal Penitenciário Brasileiro, realizado, no Rio de Janeiro, entre 15 e 22 de junho. Apresentou a tese Reformatório de Mulheres Criminosas. A mesma tese foi apresentada no 10º Congresso Penitenciário e Penal Internacional, em Praga, em agosto (O Jornal, 30 de março, sexta coluna; 11 de abril, quinta coluna; e 2 de setembro, sexta coluna, de 1930;  Jornal do Commercio, 24 de maio, primeira coluna; 16 e 17 de junho, quinta coluna, de 1930; Correio da Manhã, 5 de julho de 1931, terceira coluna).

 

 

Participou de um almoço em homenagem à advogada sergipana Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998), que se tornaria, em 1967, a primeira juíza federal do Brasil. Na foto abaixo, além de Maria Luiza e Maria Rita, a bibliotecária Luiza Sapienza, a escritora Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963), a bióloga Bertha Lutz (1894 – 1976), Mary Corbett, Marianna Gurjão, a advogada Maria Alexandrina Ferreira Chaves, a maestrina Joanidia Sodré (1903 – 1975) e Anna Guttrie (Vida Doméstica, agosto de 1930).

 

 

Na Aliança Internacional pelo Sufrágio Feminino, que reunia associações femininas de 44 países, representou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino no assunto de Igualdade de Condições de Trabalho do Homem e da Mulher (Correio da Manhã, 15 de agosto de 1930, última coluna).

Integrava a comissão formada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino para recepcionar a escritora portuguesa Maria Amélia Teixeira, diretora da revista Portugal Feminino (A Gazeta (SP), 27 de agosto de 1930, quarta coluna).

Participou, no Hotel Glória, da Festa da Primavera promovida por Anna Amélia Carneiro de Mendonça (1896 – 1971), fundadora da Casa do Estudante do Brasil, com a presença da Miss Universo, Yolanda Pereira (1910 – 2001) (Revista da Semana, 20 de setembro de 1930Correio da Manhã, 23 de setembro de 1930, sétima coluna).

 

 

Fazia parte da comissão de recepção da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino nas homenagens ao cardeal Sebastião Leme (1882 – 1942) (Correio da Manhã, 19 de outubro de 1930, penúltima coluna).

No Teatro João Caetano, a Casa do Estudante do Brasil promoveu uma homenagem aos estudantes soldados da revolução hospedados no Rio de Janeiro. Maria Luiza, Olegário Mariano (1889 – 1958), Paschoal Carlos Magno (1906 – 1980) e Eugênia Alvaro Moreyra (1898 – 1948), dentre outros, faziam parte da programação da noite (Correio da Manhã, 14 de novembro de 1930, sétima coluna).

1931 – Criação da Federação Baiana pelo Progresso Feminino (A Noite, 9 de abril de 1932, quinta coluna).

Publicação do artigo O feminismo na Bahia, de sua autoria, em que apresenta a Federação Baiana pelo Progresso Feminino e a União Universitária Feminina (Diário de Notícias (BA), 26 de março de 1931).

Após uma temporada na Bahia, retornou ao Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 12 de abril de 1931, primeira coluna).

Ela, Bertha Lutz e a advogada e jornalista Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971) foram as autoras da mensagem da FBPF à subcomissão de direitos eleitorais, encarregada pela redação do ante-projeto da Legislação Eleitoral (Correio da Manhã, 24 de maio de 1931, primeira coluna).

 

 

 

Participou do Segundo Congresso Feminista Internacional, realizado entre 20 e 30 de junho, no Automóvel Club, no Rio de Janeiro, apresentando uma tese sobre o regime de família no Direito Civil Brasileiro. Foi a relatora da Comissão de Polícia Feminina. Na ocasião declarou que a mulher aceita a participação na vida pública, não como um direito a fruir, mas como um dever a desempenhar conscienciosamente. Fez um eloquente discurso sobre as futuras diretrizes do movimento feminista. Em um documento elaborado pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino pleiteando a criação de uma Polícia Feminina, seu nome foi sugerido para integrar a Comissão de Polícia Feminina, que seria presidida por Eunice Weavers (1902 – 1969 (Jornal do Brasil, 20 de junho de 1931, primeira colunaCorreio da Manhã, 20 de junho de 1931A Batalha, 24 de junho de 1931, penúltima coluna; Jornal das Moças, 25 de junho de 1931Para Todos, 27 de junho de 1931;Correio da Manhã, 1º de julho de 1931, sexta coluna; A Noite, 1º de julho de 1931Correio da Manhã, 11 de julho de 1931, última colunaVida Doméstica, agosto de 1931).

 

 

 

 

 

A sessão de Educação e Instrução ficou sob a responsabilidade da União Universitária Feminina, composta por Carmen Portinho, Orminda Ribeiro Bastos, Luiza Sapienza, Maria Luiza Doria Bittencourt e Maria Werneck de Castro. Entre as conclusões da comissão: promoção junto aos poderes competentes a propaganda das ideias modernas sobre a organização do ensino normal, considerando que da sua eficiência depende o progresso da educação popular no Brasil e apelar para a Associação de Educação para que organizem campanha tenaz, persistente e eminentemente patriótica, com determinação precisa de objetivos e métodos em torno da educação moral e cívica da criança e do adolescente.

Participou de um almoço de adesões em homenagem ao advogado e escritor Gilberto Amado (1887 – 1969)(Correio da Manhã, 28 de junho de 1931, quarta coluna).

Em nome da União Universitária Feminina, discursou durante uma homenagem a Assis Brasil (1857 – 1938), realizada no Cassino Beira-Mar (Correio da Manhã, 2 de agosto de 1931, quarta coluna; Fon-Fon, 8 de agosto de 1931).

 

 

Integrava com Carmen Portinho (1903 – 2001), Ignez Mathiessen e Carmen de Carvalho a comissão da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino que foi ao Ministério da Viação e Obras solicitar ao ministro José Américo de Almeida (1887 – 1980) a readmissão das mulheres nas repartições dos Correios (Diário Nacional, 15 de agosto de 1931, primeira coluna; Correio da Manhã, 15 de agosto de 1931, última coluna).

 

 

Foi roubada no ateliê fotográfico Annunciato, que ficava no Edifício Guinle, e aonde havia ido com sua amiga, a engenheira civil Nidia Moura, buscar algumas fotografias que ahvai encomendado (A Noite, 25 de agosto de 1931, quarta coluna).

Formou-se na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro. Era a única bacharelanda (Correio da Manhã, 10 de setembro de 1931, terceira coluna; Revista da Semana, 12 de setembro de 1931).

 

 

Foi homenageada na reunião mensal da União Universitária Feminina, da qual era secretária-geral, e também em uma reunião da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (Correio da Manhã, 4 de setembro de 1931, penúltima coluna; Correio da Manhã, 10 de setembro de 1931, terceira coluna; Correio da Manhã, 24 de setembro de 1931, quinta coluna; Para Todos, 19 de setembro de 1931).

 

 

Durante o curso de Direito, tentou ingressar no Centro de Estudos Jurídicos e Socias, o CAJU, do qual faziam parte, entre outros, Américo Lacombe (1909 – 1974), Antonio Galloti (1908 – 1986), Gilson Amado (1908 – 1979), Otávio de Faria (1908 – 1980), Plínio Doyle (1906 – 2000), San Tiago Dantas (1911 – 1964) e Vinícius de Morais (1913 – 1980). Para ser membro desse grupo era necessário defender uma tese. Ela apresentou um trabalho sobre extradição. Sua tese foi discutida em várias sessões, mas ela não foi aceita. Conforme depoimento de Vicente Chermont de Miranda (1909 – 2000), também aluno e membro do CAJU, foi discriminada por ser mulher.

Apresentou-se na Rádio Educadora dentro da programação em homenagem à inauguração do Cristo Redentor (Correio da Manhã, 6 de outubro de 1931, segunda coluna).

Compareceu ao enterro de Francisca Praguer Fróes (1872 – 1931), presidente da diretoria da União Universitária Feminina da Bahia (Correio da Manhã, 24 de novembro de 1931, terceira coluna).

 

 

1932 – Na conferência que realizou na reunião da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, Adelaide da Silva Cortes, primeira titular da comissão de imprensa da FBPF, mencionou a palestra Conceitos Feministas, proferida por Maria Luiza, na qual ela atacou os anti-feministas classificando-os de materialistas (Correio da Manhã, 3 de janeiro de 1932, última coluna).

Fazia parte da diretoria da União Universitária Feminina (Correio da Manhã, 13 de janeiro de 1932, terceira coluna; A Noite, 14 de janeiro de 1932, quarta coluna).

Em 24 de fevereiro de 1932, foi sancionado o Código Eleitoral pelo Decreto nº 21.076, que garantiu oficialmente às mulheres acima de 21 anos os direitos de votar e serem votadas no Brasil.

Em Salvador, Maria Luiza realizou uma palestra durante a comemoração de um ano da criação da Federação Baiana pelo Progresso Feminino (A Noite, 9 de abril de 1932, quinta coluna).

Na Rádio Sociedade, proferiu uma palestra em prol da Sociedade de Assistência aos Lázaros (Correio da Manhã, 6 de junho de 1932, sexta coluna).

Foi convidada para votar no concurso Qual o maior poeta moço do Brasil? Na ocasião era segunda vice-presidente da União Universitária Feminina (Brasil Feminino, julho de 1932; Revista da Semana, 9 de julho de 1932).

Bertha Lutz (1894 – 1976) havia viajado para os Estados Unidos para usufruir o prêmio de viagem que lhe concedeu a Carnegie Endowment for International Peace, por intermédio da União Pan Americana e da Associação Americana de Museus, para estudar o papel educativo dos museus americanos. Em dois meses e meio, ela percorreu vinte cidades e visitou 58 museus, saindo de Nova York em direção a St. Louis e dali para Chicago, gradualmente retornando a Nova York. Após três meses de viagem, voltou para o Brasil, em julho, e foi saudada por Maria Luisa (Correio da Manhã, 22 de julho, penúltima coluna, e 31 de julho de 1932).

Participou da II Conferência Nacional de Educação, quando expôs um trabalho sobre o ensino primário com a proposta de regulamentação da divisão de competência entre União e os estados.

Já como bacharel, fez uma prova de Direito Internacional Privado, na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro (Correio da Manhã, 10 de agosto de 1932, segunda coluna).

Ela, Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971) e Maria de Lourdes Pinto Ribeiro integravam o escritório jurídico da União Universitária Feminina (Jornal do Commercio, 18 de setembro de 1932, segunda coluna).

Participou da Quinzena de Estudos Práticos da Constituição Futura, evento que comemorou os 10 anos de existência da Federação Brasileira para o Progresso Feminino (Correio da Manhã, 18 de outubro de 1932).

Presidiu a conferência de encerramento do primeiro curso de educação política promovido pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. O conde de Afonso Celso (1860 – 1938) proferiu a palestra Vida internacional, arbitramento internacional e interno, A Guerra fora da lei, Autorização para firmar convênios e tratados internacionais, Direitos do estrangeiro naturalizado e do estrangeiro no Brasil (Correio da Manhã, 1º de novembro de 1932, segunda coluna).

Foi uma das secretárias da primeira reunião realizada na sede da FBPF, presidida por Bertha Lutz, para receber sugestões da mulher brasileira para a nova Constituição. Apesar de ser a favor do divórcio, esclareceu que esta não seria uma matéria constitucional e sim pertinente ao Direito Civil (Correio da Manhã, 25 de novembro de 1932, sexta coluna).

1933 - Esteve em São Paulo trabalhando em prol de uma cruzada de educação política (A Cigarra, janeiro de 1933).

 

 

Estava presente à instalação do posto eleitoral da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (A Noite, 13 de fevereiro de 1933, quarta coluna).

Seguiu participando de reuniões pertinentes a sugestões à nova Constituição. Ela, Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963) e a educadora Alba Canizares do Nascimento (1893 – 1944) propuseram o nome de Bertha Lutz como candidata mulher única à Assembléia Nacional Constituinte, nas eleições de 3 de maio (Diário de Notícias, 23 de abril de 1933, penúltima colunaCorreio da Manhã, 4 de abril de 1933, primeira coluna; Diário Carioca, 26 de abril de 1933, última coluna).

 

 

 

Maria Luiza foi eleita primeira vice-presidente da União Universitária Feminina (Correio da Manhã, 26 de abril de 1933, terceira coluna).

Além de Bertha, foram candidatas para deputadas constituintes pelo Rio de Janeiro a advogada Natércia Cunha Silveira (1905 – 1993), a escritora Anna César Vieira, a escritora socialista Ilka Labarthe e Georgina de Azevedo Lima de quem, segundo a reportagem publicada na Revista da Semana, não se sabia de trabalhos feministas. Na matéria da Revista da Semana, a professora baiana Leolinda Daltro (1859 – 1935), também candidata e uma das precursoras do feminismo no Brasil, declarou-se satisfeita por testemunhar a candidatura de mulheres a cargos políticos no país (Brasil Feminino, abril de 1933; O Malho, 15 de abril de 1933Correio da Manhã, 26 de abril de 1933, terceira colunaRevista da Semana, 20 de maio de 1933). Nenhuma delas foi eleita. Bertha obteve 15.756 votos, Natércia obteve 3.22o votos, Georgina Azevedo Lima, 14.093; e Ilka Labarthe, 3.869. Neste pleito, a médica paulista Carlota Pereira de Queiroz (1892 – 1982) foi eleita a primeira mulher constituinte.

 

 

Era uma das professoras do Curso de Educação Feminina, inaugurado na Universidade Livre da Capital Federal (Correio da Manhã, 26 de maio de 1933, quarta coluna).

Colaborou com a consultora jurídica da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, Orminda Ribeiro Bastos (1899 – 1971), na redação do programa da FBPF de reivindicações femininas da nova Constituição (Correio da Manhã, 22 de julho de 1933, sexta coluna).

 

 

Defendeu, no Tribunal Superior de Justiça Eleitoral, a causa de Bertha Lutz que pleiteava a suplência geral, pelo critério majoritário, por ter ficado em 11º lugar, e não apenas a diplomação como suplente do Partido Autonomista. Bertha assumiu o mandato em julho de 1936 (A Noite, 5 de setembro de 1933, última coluna).

 

 

Foi uma das signatárias de um manifesto de autoria de Bertha Lutz (1894 – 1976),  apresentado à seção de Legislação da Conferência Nacional de Proteção à Infância. Além dela, assinaram o manifesto a advogada Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), a engenheira e urbanista  Carmen Portinho (1903 – 2001) e a tradutora Lina Hirsh (Jornal do Brasil, 23 de setembro de 1933, penúltima colunaCorreio da Manhã, 23 de setembro de 1933, quinta coluna).

Foi eleita consultora jurídica da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (A Noite, 18 de outubro de 1933, quinta coluna).

1934 – Presidia a Liga Eleitoral Independente da Bahia.

A presidente da Federação Alagoana para o Progresso Feminino, Hilda Calheiros, enviou uma carta ao então presidente da República, Getulio Vargas, pedindo a nomeação de Maria Luiza Doria Bittencourt como representante feminina do Instituto de Amparo Social.

Foi uma das organizadoras da comemoração do Dia Pan-Americano, no restaurante da Casa do Estudante do Brasil, na rua da Carioca 11, 1º andar (A Noite, 10 de abril de 1934, terceira coluna).

No Automóvel Clube do Brasil, a Federação Brasileira para o Progresso Feminino promoveu a Festa da Vitória, celebrando a s conquistas femininas na nova Constituição Brasileira. Representando a União Universitária Feminina, Maria Luiza fez um discurso (Correio da Manhã, 9 de junho de 1934, terceira coluna; Correio da Manhã, 27 de junho de 1934, sétima colunaAs Walkyrias, agosto de 1934; Correio da Manhã, 26 de setembro de 1936, quarta coluna).

 

 

 

discurso

discurso1

 

Participava da Cruzada Nacional de Educação, sob a presidência de Gustavo Ambrust (1879 – 1953) (Correio da Manhã, 17 de junho de 1934, quarta coluna).

Foi eleita primeira secretária do diretório do Partido Autonomista da Paróquia de São José, filiado ao Partido Autonomista do Distrito Federal (Jornal do Brasil, 24 de junho de 1934, quinta coluna).

Criação do Conselho de Previdência e Cultura do Distrito Federal, pleiteado por Bertha Lutz e por Maria Luiza à Assembléia Nacional Constituinte. Em setembro, Maria Luiza foi eleita secretária do Conselho, presidido por Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (A Noite, 12 de julho de 1934, quinta colunaCorreio da Manhã, 18 de setembro de 1934, penúltima coluna; Jornal do Brasil, 23 de setembro de 1934, segunda coluna).

 

 

Representando várias associações femininas,  participou da posse do novo ministro das Relações Exteriores, José Carlos de Macedo Soares (1883 – 1968) (A Noite, 27 de julho de 1934).

Era uma das feministas empenhadas na campanha para interessar a mocidade feminina para o voto (Correio da Manhã, 16 de agosto de 1934, segunda coluna).

Em Salvador, foi promovida, pela Fundação Brasileira pelo Progresso Feminino, a Segunda Convenção Feminista, entre 27 de agosto e 1º de setembro. Na época, Edith Mendes da Gama e Abreu (1903 – 1982) era a presidente da filial baiana da FBPF.

 

 

 

 

Maria Luiza participou elaborando a programação do evento, cujo objetivo foi organizar o programa post-constitucional de reivindicações de pautas do interesse das mulheres e articular as federações femininas existentes no sentido de apontar as candidatas para as eleições de outubro. Foi decidido que a federação promoveria a organização de filiais nos estados, que qualquer cerimônia da federação seria precedida pela execução de um hino cuja letra foi composta por Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963) e a música, pela maestrina Joanídia Sodré (1903 – 1975). Foi também formulado o Decálogo Feminista com 10 princípios básicos (Correio da Manhã, 15 de agosto de 1934, última colunaJornal do Brasil, 19 de agosto de 1934, sexta colunaA Nação, 1º de setembro de 1934, penúltima coluna; Correio da Manhã, 1º de setembro de 1934, sexta colunaCorreio da Manhã, 4 de setembro de 1934, sexta coluna; Jornal do Brasil, 8 de setembro de 1934, quarta coluna).

 

decalogo

 

Seu nome foi incluído na chapa à Constituinte Estadual do Partido Social Democrático da Bahia, ligado ao interventor do estado Juracy Magalhães (1905 – 2001). Aloisio de Castro afirmou que seu nome foi substituido pelo de Maria Luiza devido a uma recomendação do presidente Getulio Vargas, fato negado por Juracy (O Jornal, 10 de maio de 1946, quarta coluna). Outras mulheres foram candidatas em outros estados do Brasil (Correio da Manhã, 8 de setembro de 1934, penúltima colunaGazeta de Notícias, 3 de outubro de 1934, segunda coluna).

Maria Luiza embarcou para Salvador em um hidroavião da Panair (Correio da Manhã, 8 de setembro de 1934, oitava coluna; e 25 de setembro e 1934, sexta coluna, de 1934; A Noite, 10 de setembro de 1934, quinta coluna).

 

 

Foi duramente criticada no artigo Feminismo ou burla?, do poeta e advogado Heitor Lima (1887 – 1945), que a chamou de prodigioso papagaio de quitanda, capaz de falar cinco horas a fio sem dizer nada que se aproveite (Correio da Manhã, 29 de setembro de 1934, primeira coluna).

Fez campanha pelo interior da Bahia acompanhada por Juracy Magalhães e, nas eleições de 14 de outubro, Maria Luiza elegeu-se como primeira suplente do deputado estadual e engenheiro Humberto Pacheco Miranda (Correio da Manhã, 4 de outubro de 1934, terceira coluna; Jornal do Commercio, 3 de outubro, terceira coluna; e 8 e 9 de outubro, quarta coluna, de 1934; Correio da Manhã, 22 de novembro de 1934, sétima coluna; Jornal do Commércio, 11 e 12 de fevereiro, terceira coluna, de 1935).

 

 

Foi a advogada de acusação no ruidoso processo de cassação do mandato do deputado Ernesto Pereira Carneiro (1877 – 1954) (A Noite, 9 de novembro de 1934, penúltima coluna).

Na Casa do Estudante do Brasil, instalação dos conselhos patrimoniais e consultivos. Na ocasião, Maria Luiza, membro do conselho consultivo, leu os nomes dos empossados nos conselhos (Correio da Manhã, 29 de dezembro de 1934).

 

 

1935 - Foi uma das assinantes de um manifesto em defesa de Bertha Lutz, acusada de fraude nas eleições de outubro de 1934. Foi cassado o mandato do deputado Ernesto Pereira Carneiro (1877 – 1954) e ordenada a posse de Bertha Lutz, como suplente do Partido Autonomista (Gazeta de Notícias, 29 de dezembro de 1934, primeira coluna; A Noite, 11 de janeiro de 1935, terceira coluna; A Noite, 19 de janeiro de 1935).

 

 

Em maio, com o afastamento de Humberto Pacheco Miranda, nomeado superintendente da Viação Bahiana de São Francisco, Maria Luiza Bittencourt tomou posse como deputada estadual (Correio da Manhã, 9 de maio de 1935, última coluna).

Integrou a Assembleia Constituinte da Bahia e foi uma das responsáveis pela elaboração de seu texto, tendo sido a relatora dos capítulos sobre ordem econômica e social, e também sobre educação (Gazeta de Notícias, 17 de maio de 1935, quarta coluna; Gazeta de Notícias, 14 de agosto de 1935, quinta coluna).

Na Assembleia Legislativa da Bahia, foi uma das nomeadas para integrar a comissão para dar o parecer sobre o orçamento do estado (Gazeta de Notícias, 3 de setembro de 1935, terceira coluna).

O Tribunal Superior de Justiça Eleitoral julgou os últimos recursos e o relatório final sobre o pleito baiano com as alterações decorrentes das eleições suplementares. Os deputados estaduais Waldomiro Lins de Albuquerque  e João Mendes da Costa Filho foram substituidos por Maria Luiza e Gilberto Valente (A Noite, 20 de setembro de 1935, terceira coluna).

Conquistou o prêmio Fellowship da Universidade de Radcliffe, nos Estados Unidos, onde cursou uma especialização em economia social , finanças e racionalização (Diário de Notícias, 10 de setembro de 1935, terceira colunaCorreio da Manhã, 12 de setembro de 1935, primeira coluna).

 

 

Foi homenageada na Casa do Estudante do Brasil (Diário de Notícias, 12 de setembro de 1935).

 

 

1936 - Foi recebida no Itamaraty pelo ministro das Relações Exteriores,  José Carlos de Macedo Soares (1883 – 1968), e embarcou para os Estados Unidos para a Universidade de Radcliffe (Correio da Manhã, 16 de janeiro de 1936, terceira coluna; A Noite, 16 de janeiro de 1935, penúltima coluna).

 

 

Foi elogiada em uma reportagem do New York Sun (Gazeta de Notícias, 6 de fevereiro de 1936, última coluna; Gazeta de Notícias, 18 de fevereiro de 1936, terceira coluna).

 

 

Regressou ao Brasil, em julho (A Noite, 3 de julho de 1936, quarta coluna).

Integrou uma comissão da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino que visitou o presidente da República, Getulio Vargas (1882 – 1954), no Palácio do Catete. Na pauta, o III Congresso Nacional Feminista, que se realizaria, no Rio de Janeiro, em outubro (Correio da Manhã, 18 de agosto de 1936, terceira coluna).

Por sua indicação, Nair Guimarães Lacerda foi nomeada pelo governador Juracy Magalhães para o cargo de prefeita do município baiano Urandi.

Foi uma das mulheres cujo nome foi cogitado para ingressar na Academia Brasileira de Letras. A primeira mulher imortal foi Rachel de Queiroz (1910 – 2003), eleita 41 anos depois, em 1977 (Fon-Fon, 12 de setembro de 1936).

No Rio de Janeiro, participou do III Congresso Nacional Feminista, realizado entre 20 de setembro e 9 de outubro e, como membro da FBPF, defendeu a proposta de reformulação do estatuto jurídico da mulher brasileira que havia redigido. O documento, que ficou conhecido como o Estatuto da Mulher, foi a base para o projeto de lei apresentado, no ano seguinte, por Bertha Lutz no Legislativo Federal. Foi também decidido, por ideia de Alba Canizares do Nascimento (1893 – 1944), delegada do Distrito Federal, que a FBPF organizaria o movimento panamericano pelo progresso feminino (Correio da Manhã, 4 de outubro, última coluna; 6 de outubro, terceira coluna; 8 de outubro, sétima coluna;  9 de outubro, sexta coluna11 de outubro, sexta coluna, 15 de outubro, quarta coluna, de 1936; A Noite, 9 de outubro de 1936, segunda coluna; Gazeta de Notícias, 15 de setembro de 1936, primeira colunaGazeta de Notícias, 11 de outubro de 1936, sexta coluna).

Integrou a delegação brasileira que foi à Conferência Interamericana de Consolidação da Paz, em Buenos Aires, realizada em dezembro. Antes de partir, foi homenageada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Durante a conferência, após o discurso do embaixador Oswaldo Aranha, Maria Luiza falou, em nome das Associações Feministas Americanas Pró-Paz. Sua atuação foi elogiada pela imprensa e por seus companheiros de trabalho. Regressou ao Brasil, em 29 de dezembro (A Noite, 9 de novembro de 1936, terceira colunaCorreio da Manhã, 21 de novembro de 1936, terceira coluna; e 27 de novembro, quarta coluna, 6 de dezembro, quarta coluna, 30 de dezembro, sétima coluna, de 1936; A Noite, 19 de dezembro de 1936, primeira colunaA Noite, 24 de dezembro de 1936, segunda coluna; Jornal do Brasil, 16 de dezembro, quinta coluna; Jornal do Brasil, 1º de janeiro de 1937, penúltima coluna).

 

 

1937 - Fez uma palestra sobre A Conferência de Buenos Aires, no Studio Nicolas, promovida pelo Club Universitário do Rio de Janeiro (A Noite, 8 de janeiro de 1937, terceira coluna).

Como um dos membros fundadores, fazia parte do conselho consultivo da Casa do Estudante do Brasil (A Noite, 27 de janeiro de 1937, penúltima coluna).

 

 

Apoiou a candidatura de José Américo de Almeida (1887 – 1980) à Presidência da República, tendo participado da Convenção dos delegados apoiadores do governo, no Palácio Monroe. Recepcionou o candidato em sua viagem à Bahia, durante a qual, no interior do estado, ela e outros integrantes do grupo que o acompanhava tiveram suas carteiras roubadas (A Noite, 25 de maio de 1937, primeira coluna; A Noite, 26 de maio de 1937Correio da Manhã, 26 de maio de 1937, segunda coluna; 25 de agosto, quinta coluna, de 1937; Jornal do Brasil, 29 de agosto de 1937, sexta colunaA Noite, 30 de agosto de 1937, primeira coluna).

 

 

Segundo o Dicionário Mulheres do Brasil, foi dela o último discurso proferido na Assembleia Legislativa da Bahia, cujo tema era a defesa da democracia, antes da instauração do Estado Novo, em 10 de novembro, pelo presidente Getulio Vargas (1882- 1954), fato que interrompeu sua carreira parlamentar (Correio da Manhã, 11 de novembro de 1937).

Em uma reportagem da Revista da Semana, 11 de janeiro de 1947, foi noticiado que após o golpe do Estado Novo, ela teria sido presa por suas tendências socialistas.

 

 

1938 - Lançamento do livro Trabalho Feminino, de sua autoria.

Participou de um ciclo de palestras no departamento intelectual da União Universária Feminina (Correio da Manhã, 6 de maio de 1938, primeira coluna).

Em um escritório na rua da Quitanda, no centro do Rio de Janeiro, trabalhava como advogada com a feminista sergipana Maria Rita Soares Andrade (1904 – 1998) (Correio da Manhã, 6 de agosto de 1938, sexta coluna).

 

 

Ela e Mrs Stevens, Diretora da União Inter-Americana de Mulheres foram as entrevistadas da reportagem Privilégios para a mulher ou a mulher igual ao homem? (A Noite, 13 de outubro de 1938).

1939 - Foi entrevistada sobre o imposto sobre os solteiros. Na ocasião, estava estudando para dois concursos: ao de livre docência da cadeira de Legislação do Trabalho da Faculdade Nacional de Direito e à cátedra da mesma matéria na Faculdade da Bahia (A Noite, 2 de janeiro de 1939).

 

 

Participou do ciclo de palestras O Brasil visto pelas brasileiras, promovido pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, realizando uma conferência sobre Riqueza e Trabalho, no Palace Hotel (Correio da Manhã, 28 de novembro de 1939, segunda coluna).

 

 

1940 - Presidiu uma sessão do Conselho Consultivo da Casa do Estudante do Brasil (Diário de Notícias, 2 de junho de 1940, quarta coluna).

Durante a festa do Grêmio Literário do Colégio Batista Brasileiro, Maria Luiza, paraninfa do grupo, foi homenageada (A Noite, 13 de setembro de 1940, terceira coluna).

1941 - Foi uma das entrevistadas, a única mulher, sobre a possibilidade de uma paralisação completa das atividades forenses, proposta classificada como necessária por advogados mineiros. Na opinião de Maria Luiza, as férias coletivas seriam contraproducentes: “que cada advogado escolha, todo ano, a época que lhe parecer mais propícia para um repouso” (Diário de Notícias, 22 de julho de 1941, quinta coluna).

Presidiu a comissão julgadora do Concurso de Literatura de 1940, do Colégio Universitário, propriedade de Lelio Gomes. Compunham a comissão o poeta Murilo Araújo (1894 – 1980) e a escritora Maria Sabina de Albuquerque (1898 – 1991). Os prêmios foram ofertados pela Editora José Olympio (Diário de Notícias, 14 de setembro de 1941, terceira coluna).

1942 - Por ocasião da realização da Conferência Continental, no Rio de Janeiro, a União Universitária Feminina, da qual Maria Luiza fazia parte, entregou à delegação americana uma moção de apoio aos princípios que orientavam a solidariedade continental (Jornal do Brasil, 20 de janeiro de 1942, quinta coluna).

Foi a única mulher na lista dos candidatos a professor no concurso que seria realizado na Escola de Comércio do Rio de Janeiro (Diário de Notícias, 10 de julho de 1942, sexta coluna).

Foi uma das oradoras da sessão realizada no Gabinete Português de Leitura. Em pauta, o envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial (Jornal do Brasil, 28 de agosto de 1942).

Foi a primeira colocada no concurso para a livre-docência em Legislação do Trabalho e Direito Industrial na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, tornando-se a primeira mulher docente da história da referida faculdade. Pela conquista foi homenageada, no Cineac Trianon, com Maria Luisa Castelo Branco e Leda de Albuquerque, que haviam vencido o primeiro prêmio de Peças Teatrais, promovido pelo Ministério do Trabalho (Jornal do Brasil, 25 de novembro de 1942, quinta colunaO Jornal, 28 de novembro de 1942, primeira coluna; Correio da Manhã, 11 de dezembro de 1942; A Noite, 12 de dezembro de 1942, terceira coluna).

 

 

“Porque é principalmente através do Direito que podemos preparar os homens para fazer justiça àqueles que até hoje não têm sido senão párias sociais e só atravé do Direito bem compreendido e bem aplicado se poderá evitar a revolta e a explosão de sentimento de consequências lastimais para a sociedade”

Correio da Manhã de 11 de dezembro de 1942

1943 – Na sede da União Universitária Feminina, foi uma das sócias que recepcionaram Mary Cannon, da Divisão Feminina do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos (A Manhã, 8 de janeiro de 1943, penúltima coluna).

Maria Luiza posicionou-se a favor do ensino misto (O Radical, 20 de março de 1943, primeira coluna).

 

 

Na Escola Nacional de Música, participou da Festa Pan-americana, comemorativa do Dia do Juramento Feminino de Lealdade Americana, promovida pela representação brasileira da Confederação Feminina dre Paz Americana, presidida pela escritora Iveta Ribeiro (1886 – 1962) (Correio da Manhã, 21 de abril de 1943, primeira coluna).

Provavelmente, casou-se neste ano, pois em uma reportagem de janeiro de 1944 foi identificada como Maria Luiza Dória Bittencourt Mello Neto (Gazeta de Notícias, 28 de janeiro de 1944, quarta coluna).

1944 - Participou da homenagem póstuma a Rachel Prado (1891 – 1943), pseudônimo da feminista curitibana Virgília Stella da Silva Cruz, fundadora do Clube das Mulheres Jornalistas, realizada no Conservatório de Música (Gazeta de Notícias, 28 de janeiro de 1944, quarta coluna).

 

Rachel Prado (1891 - 1943) / Brasil Feminino, 1933

Rachel Prado (1891 – 1943) / Brasil Feminino, 1933

 

1945 – Foi uma das professoras homenageadas durante a colação de grau dos bacharelandos da Faculdade de Economia e Finanças, realizada no Palácio Tiradentes (Correio da Manhã, 16 de janeiro de 1945, quinta coluna).

Com Natércia da Cunha Silveira (1903 – 1993), Carmen Portinho (1903 – 2001) e Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998, foi uma das organizadoras de uma coligação democrática para apoiar a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes (1896 – 1981) à presidência da República (Diário de Notícias, 24 de fevereiro de 1945, quinta coluna).

Seu nome estava na lista dos fundadores da UDN – União Democrática Nacional  (O Jornal, 8 de abril de 1945, última coluna; Diário de Pernambuco, 10 de abril de 1945, primeira coluna).

Foi uma das signatárias de um manifesto de apoio de advogados à candidatura de Eduardo Gomes (Diário Carioca, 28 de junho de 1945, última coluna).

Foi uma das oradoras do comício do candidato Eduardo Gomes, em Salvador, na Bahia (Correio da Manhã, 24 de agosto de 1945, quarta coluna; 25 de agosto, primeira coluna; 28 de agosto, terceira coluna; de 1945; Diário de Notícias, 28 de agosto de 1945, quarta coluna).

1946 - Fazia parte da Comissão Pró-Constituição Democrática assim como Evandro Lins e Silva (1912 – 2002), Orígenes Lessa (1903 – 1986) e Oscar Niemeyer (1907 – 2012), dentre outros(Correio da Manhã, 29 de março de 1946, terceira coluna).

Foi uma das mulheres que entregou ao Comitê Parlamentar da Sociedade de Amigos da Democracia Portuguesa uma mensagem endereçada ao presidente de Portugal, Oscar Carmona (1869 – 1951), no sentido de libertar mulheres portuguesas detidas por motivos políticos (Diário Carioca, 11 de maio de 1946, primeira coluna).

Foi escolhida para integrar, como secretária, a comissão executiva da II Convenção Nacional da União Democrátia Nacional, UDN (Correio da Manhã, 15 de maio de 1946, penúltima coluna; O Jornal, 15 de maio de 1946, primeira coluna).

Participou de um comício da Esquerda Democrática no Campo de São Cristóvão e no Largo do Humaitá, em Botafogo; e foi, pelo partido, candidata a vereadora no Distrito Federal. Era, na época, livre docente da Faculdade Nacional de Direito e professora da Faculdade de Administração e Finanças (Diário de Notícias, 20 de novembro, quinta coluna; e 29 de dezembro, penúltima coluna, de 1946; Diário Carioca, 13 de dezembro de 1946, quinta coluna).

 

 

1947 - Participou, com outros candidatos da Esquerda Democrática, de um comício, no Jardim de Marechal Hermes. As eleições gerais foram realizadas em 19 de janeiro, mas Maria Luiza não foi eleita, tendo recebido 55 votos (Revista da Semana, 11 de janeiro de 1947Diário de Notícias, 14 de janeiro de 1947, última coluna; Correio da Manhã, 6 de fevereiro de 1947, quarta coluna).

Participou com várias outras feministas de uma reunião realizada na Casa do Estudante do Brasil. Em pauta, a realização do Congreso Internacional de Mulheres, entre setembro e outubro, em Paris. Foi uma das integrantes do Comitê Brasileiro do Congresso (Diário de Notícias, 18 de julho, quinta coluna; 17 de agosto, terceira coluna, de 1947).

Foi uma das oradoras da comemoração dos 18 anos da Casa do Estudante do Brasil (Diário de Notícias, 9 de agosto de 1947, segunda coluna; Tribuna Popular, 12 de agosto de 1947, sexta coluna; Revista da Semana, 23 de agosto de 1947).

1948 – O escritor pernambucano Mario Sette (1886 – 1950) realizou na Casa do Estudante do Brasil a palestra Velhas estampas que contam as histórias de uma cidade. A sessão foi presidida pelo acadêmico Mucio Leão (1898 – 1969), que foi saudado por Maria Luiza, então diretora da entidade (Diário de Pernambuco, 21 de março de 1948, segunda coluna).

O Curso de Geografia Econômica, ministrado gratuitamente por Maria Luiza, na sede do Partido Socialista Brasileiro, na rua Buenos Aires, 57, seria reiniciado (Correio da Manhã, 15 de maio de 1948, sétima coluna).

1950 – Foi noticiado que Maria Luiza seria uma das candidatas do Partido Socialista Brasileiro para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro (Revista da Semana, 11 de março de 1950, segunda coluna).

1951 – Como presidente em exercício da Casa do Estudante do Brasil assinou uma saudação à Embaixada Universitária de Coimbra e ofereceu uma feijoada aos estudantes portugueses (Tribuna da Imprensa, 28 de agosto de 1951, primeira colunaDiário Carioca, 28 de agosto de 1951, sexta colunaA Manhã, 1º de setembro de 1951, antepenúltima coluna).

1952 – Foi noticiado na coluna de Gilberto Trompovski que Maria Luiza havia sido uma das convidadas de uma recepção oferecida por Anna Amélia e Marcos Carneiro de Mendonça (O Jornal, 13 de abril de 1952, segunda coluna).

1954 – Morava em São Paulo e foi identificada em uma matéria do Jornal do Brasil como advogada, esposa e mãe exemplar (Jornal do Brasil, 29 de outubro de 1954, sexta coluna).

1956 – Em uma entrevista, a advogada Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998), perguntada sobre a possibilidade da mulher exercer uma profissão e ser uma boa mãe de família, declarou: “Não conheço esposa e mãe mais abnegada e heróica do que Maria Luiza Bittencourt, advogada e ex-deputada estadual na Bahia” (Jornal do Brasil, 4 de novembro de 1956).

1961 - Foi a tradutora Introdução à Eloquência, do professor Charles Brown (Jornal do Brasil, 18 de maio de 1961, quinta coluna).

Diretoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino disseram ao professor Orlando Gomes, encarregado da reforma do Código Civil que era “uma pena que o presidente da República não tenha constituido um Grupo de Trabalho de advogados mulheres como Maria Luiza Bittencourt e Esther Figueiredo Ferraz para redigir o direito de família” (Tribuna da Imprensa, 9 de agosto de 1961, última coluna).

1964 – Foi noticiado que ela e Maria Rita Soares de Andrade (1904 – 1998) haviam sido as inventariantes de Cecilia Meireles (1901 – 1964) após a morte do primeiro marido da escritora, o artista plástico Fernando Correia Dias (1892 – 1935) (Jornal do Brasil, 11 de novembro de 1964, quarta coluna).

1969 - Integrante do Conselho Patrimonial da Casa do Estudante do Brasil, foi uma das oradoras na comemoração dos 40 anos da entidade, marcada pela reinauguração da Biblioteca Artur Ramos e pela realização de um Almoço de Confraternização Universitária (Correio da Manhã, 14 de agosto de 1969, quarta coluna; O Jornal, 14 de agosto de 1969, segunda coluna; O Jornal, 17 de agosto de 1969, penúltima coluna).

1970 – Escreveu um artigo para a revista Rumo, cuja edição foi dedicada à Casa do Estudante do Brasil (O Jornal, 24 de maio de 1970, quarta coluna).

1979 - No auditório do MEC, Maria Luiza e o engenheiro L.A. Falcão Bauer fizeram palestras sobre o entrosamento profissional entre homens e mulheres dentro da programação da Segunda Reunião Latino-Americana de Mulheres Universitárias (Jornal do Brasil, 11 de dezembro de 1979, quinta coluna).

1981 – Foi entrevistada quando estava, na véspera do Dia de Finados, visitando o Cemitério São João Batista (Jornal do Brasil, 2 de novembro de 1981, terceira coluna).

1983 – Foi citada como uma personalidade importante na conquista dos direitos femininos no Brasil em duas colunas de Alfio Ponzi (1914 – 1985) (Jornal do Commercio, 29 de março, última coluna; e 11 e 12 de setembro, segunda coluna, de 1983).

1988 – Recebeu, na Associação Brasileira de Mulheres Universitárias, o diploma do Mérito Ruy Barbosa da diretoria da Casa da Bahia por ter sido a primeira mulher constituinte da Bahia (Jornal do Brasil, 29 de abril de 1988, segunda coluna).

2001 – Falecimento de Maria Luiza.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ALVES, Branca Moreira, Ideologia e feminismo: a luta das mulheres pelo voto no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1980.

Arquivo Nacional. Série Mulheres e o Arquivo: Maria Luiza Bittencourt, 28 de outubro de 2020.

BONATO, Nailda Marinho da Costa; COELHO, Ligia Martha Coimbra da Costa. CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO INTEGRAL NA DÉCADA DE 30: AS TESES DO II CONGRESSO INTERNACIONAL FEMINISTA SECOND CONGRESS FEMINIST INTERNATIONAL – 1931 

COSTA, Ana Alice Alcântara. As donas do poder. Mulher e política na Bahia. Salvador: NEIM/UFBa – Assembléia Legislativa da Bahia. 1998 – (Coleção Bahianas; 02)

Faculdade Nacional de Direito – UFRJ

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KARAWEJCZYK, Monica. As filhas de Eva querem votar: uma história da conquista do sufrágio feminino no Brasil. Tese (Doutorado em História), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013.

LIMA, Thais de Souza. Federação Alagoana pelo Progresso Feminino: a luta pela ampliação da democracia e pelo direito ao voto feminino (1927-1932). 

MARQUES, Teresa Cristina de Novaes. Bertha Lutz – Perfil parlamentar. Brasília : Editora da Câmara

Mulher: 500 anos atrás dos pano

Portal Academia Brasileira de Letras

REGIS, Caren Victorino. A Casa do Estudante do Brasil – O Pavilhão Feminino: uma reivindicação de 1931. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, dezembro de 2008.

REGIS, Caren Victorino. Relatório científico do subprojeto O ensino superior para as mulheres: concepções da União Universitária Feminina. Rio de Janeiro : UNIRIO, 2008.

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital (organizadores). Dicionário Mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2000.

Site do Senado Federal

VANIN, Iole Macedo. A produção intelectual das médicas formadas na Bahia: o feminismo na tese de Ítala Oliveira. Diásporas, Diversidades, Deslocamentos, 23 a 26 de agosto de 2010.

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XI e série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicado em 9 de agosto de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XVII – Igreja São Pedro dos Clérigos

No 17º artigo da Série O Rio de Janeiro desaparecido o tema é a Igreja São Pedro dos Clérigos. As fotografias são de Marc Ferrez (1843 – 1923), o mais importante cronista visual das paisagens e dos costumes cariocas da segunda metade do século XIX e do início do século XX; e do alagoano Augusto Malta (1864 – 1957), que foi o fotógrafo oficial da prefeitura do Rio de Janeiro de 1903 a 1936. O cargo foi criado para ele pelo prefeito Francisco Pereira Passos (1836 – 1913).

Foi em 1733 que a Igreja São Pedro dos Clérigos começou a ser construída na região central do Rio de Janeiro, na esquina das ruas São Pedro, que na época chamava-se rua dos Carneiro, e dos Ourives, atual rua Miguel Couto. Utilizando a ferramenta zoom, o leitor poderá magnificar a imagem abaixo e ver claramente as placas indicando a rua do Ourives e a Drogaria Araújo Freitas & Cia, além do calçamento e dos detalhes arquitetônicos da igreja. Há ainda pedestres na rua e uma charrete.

 

 

O terreno onde foi construída a Igreja São Pedro dos Clérigos ou Igreja do Príncipe dos Apóstolos foi doado pelo irmão Franciso Barreto de Menezes, em 9 de outubro de 1732. Foi edificada pelo bispo dom Antonio Guadalupe, que também realizou uma doação particular. Ficou pronta em 1738 e era considerada uma jóia do barroco. Seu interior era decorado por um rico trabalho do mineiro Mestre Valentim (1745 – 1813), um dos principais artistas do Brasil colonial. Era propriedade da Venerável Irmandade do Príncipe dos Apóstolos de São Pedro.

 

 

 

A autoria de seu projeto é controversa. Segundo a tese de doutorado de Luís Alberto Ribeiro Freire, A Talha Neoclássica na Bahia, Universidade do Porto, 2001:

O livro de tombo não nos informa, assim como nenhum outro documento encontrado nos arquivos da irmandade, da autoria do projeto da igreja. No entanto, Moreira de Azevedo cita o engenheiro militar Tenente-Coronel José Cardoso Ramalho como o autor do risco, baseando-se, para tanto, na tradição oral e numa informação que teria recebido diretamente de descendentes do referido militar, que teriam afirmado ser dele a autoria da igreja de São Pedro, assim como também a de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. Souza Viterbo contestou esta autoria comprovando que o Tenente-Coronel somente teria se instalado na capitania do Rio de janeiro em 1738, portanto ao final já da construção. Apesar disso, constatou-se posteriormente que o tenente-coronel poderia, ainda assim, ter sido o autor do risco, pois durante dez anos antes de ter tomado posse de seu posto no Rio de Janeiro, a serviço do rei, escoltava constantemente as frotas que da metrópole vinham ao Brasil.”  

A igreja tinha uma planta elíptica, hoje só encontrada na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Ouro Preto, Minas Gerais. É também uma das igrejas brasileiras que se enquadram na tipologia curvilínea barroca, assim como a da Lapa dos Mercadores, no Rio de Janeiro, e outras igrejas em Minas Gerais, dentre elas a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Ouro Preto; e a de São Pedro dos Clérigos, em Mariana.

 

 

 

 

 

O mineiro Manoel Vieira dos Santos tornou-se o benfeitor da igreja quando doou, em 1764, 42,000 cruzados para o estabelecimento de um coro de seis sacerdotes na igreja. No mesmo ano, o bispo Antonio do Desterro (1694 – 1773) concedeu a licença, declarando que a irmandade jamais poderia dispor do patrimônio e do rendimento para despesas estranhas àquela instituição.

Foi uma das primeiras igrejas tombadas pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN -, criado em  em 13 de janeiro de 1937. O SPHAN é o atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. O tombamento deveria ser a garantia para sua conservação e permanência, porém a Igreja São Pedro dos Clérigos foi demolida, em 1944, durante o Estado Novo, devido à construção da avenida Presidente Vargas, um projeto de modernidade do governo de Getulio Vargas (1882 – 1954) que promulgou, em 29 de novembro de 1941, o Decreto-Lei 3866 de destombamento de bens do patrimônio histórico. Havia, na época, um pensamento segundo o qual resolver os problemas da cidade era solucionar seus problemas de tráfego.

 

 

DECRETO-LEI Nº 3.866, DE 29 DE NOVEMBRO DE 1941

Dispõe sobre o tombamento de bens no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional      

O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição,

       DECRETA:

       Artigo único. O Presidente da República, atendendo a motivos de interesse público, poderá determinar, de ofício ou em grau de recurso, interposto pôr qualquer legítimo interessado, seja cancelado o tombamento de bens pertencentes à União, aos Estados, aos municípios ou a pessoas naturais ou jurídicas de direito privado, feito no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, de acordo com o decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937.

       Rio de Janeiro, 29 de novembro de 1941, 120º da Independência e 53º da República.

Getulio Vargas
Gustavo Capanema

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 31.12.1941

Foi publicada a reportagem Vestígios da arte grega nos templos cariocas, com uma breve história e uma descrição da Igreja de São Pedro dos Clérigos e de suas raridades artísticas (Diário da Noite, 23 de julho de 1943).

 

 

Rodrigo de Melo Franco Andrade (1898–1969), diretor do SPHAN, tentou evitar a demolição. Houve uma grande polêmica, protestos de fiéis, de engenheiros, de historiadores e de arquitetos. O então prefeito do Rio de Janeiro, Henrique Dodsworth (1895 – 1975), pensou na possibilidade de deslocar o prédio da igreja para a lateral da avenida Presidente Vargas, utilizando-se, para este fim, rolos de concreto de 60 cm de diâmetro (Illustração Brasileira, agosto de 1943A Noite, 21 de setembro de 1943).

 

 

 

“O projeto consistia em substituir a parte inferior das paredes da igreja por concreto. Sob o concreto seriam colocados rolos que serviriam para deslocar a igreja até o outro lado da avenida. A Franki, uma empresa de fundações e infra-estrutural tinha tido sucesso na Europa no transporte de construções sobre rolos de aço. Mas aqui no Brasil surgiu a idéia de usar rolos de concreto, cujos estudos foram realizados pelo Prof. Fernando Lobo Carneiro”. 

Coisas da Arquitetura

 

 

 

 

Foi publicada uma matéria sobre as demolições já concluídas e as que ainda seriam realizadas para a abertura da avenida Presidente Vargas, dentre elas a da Igreja de São Pedro dos Clérigos (A Noite, 5 de novembro de 1943, primeira página, penúltima coluna página 3, sexta coluna). Instalou-se uma polêmica em torno da remoção (Diário da Noite, 1º de dezembro de 1943).

 

 

Dodsworth (1895 – 1975), começou a ser ridicularizado devido a esse projeto de deslocamento da igreja. Consultou a Franki, empresa de fundações e infra-estruturas, que tinha tido sucesso na Europa no transporte de construções sobre rolos de aço, sobre a garantia do transporte do prédio da igreja e o diretor da empresa disse que não poderia dar essa garantia devido à  heterogeneidade das paredes. Havia a possibilidade de um acidente que poderia causar o desmoronamento do igreja. Diante disso, Dodsworth optou pela demolição (Diário da Noite, 11 de fevereiro de 1944).

 

 

 

O nascimento da avenida condenou ao desaparecimento de outras três igrejas que estavam em seu caminho: a de São Domingos, de 1791, que ficava no largo de mesmo nome, na altura da Avenida Passos; a de Bom Jesus do Calvário, de 1719, na esquina da Rua Bom Jesus do Calvário com a da Vala, onde hoje é a Rua Uruguaiana; e a de de Nossa Senhora da Conceição, de 1757, na altura da atual Rua da Conceição. Uma curiosidade: o grande músico brasileiro, padre José Maurício Nunes Garcia (1767 – 1830), considerado o mais importante compositor brasileiro do fim do século XVIII e início do XIX; e o poeta Manuel Ignácio Silva Alvarenga (1749 – 1814) foram sepultados na Igreja São Pedro dos Clérigos.

“Antes da demolição, foram retirados todo o mobiliário, o altar e as talhas de Mestre Valentim, além de portas, janelas e partes da construção que poderiam ser usadas numa futura recomposição do templo, o que nunca aconteceu. Por esse motivo, pedaços da bela São Pedro dos Clérigos foram distribuídos por museus, fundações e outras paróquias. A imagem do altar-mor e a portada principal foram reutilizadas na nova Igreja de São Pedro, na Avenida Paulo de Frontin, no Rio Comprido. Duas cabeças de anjos e uma parte do retábulo estão no Museu de Arte Sacra da Arquidiocese do Rio de Janeiro. E uma das portas foi parar no Palácio Assunção, no Sumaré”.

O GLOBO, 7 de setembro de 2014

 

 

O desmonte da igreja e a dispersão das suas peças por acervos públicos e coleções particulares alimentou durante anos o mercado de artes. A imagem venerada no altar-mor de São Pedro, representado em trajes pontificiais e assentado em sua cátedra; e a portada principal da capela se encontram na Igreja de São Pedro, construída no Rio Comprido.

A rua de São Pedro, onde ficava a igreja e que havia sido aberta antes de 1620, também desapareceu para dar passagem à avenida Presidente Vargas. Havia se chamado rua Antônio Vaz Viçoso e rua do Carneiro, mas durante a construção da igreja passou a ser conhecida como rua de São Pedro. Em 1817, passou a ser, oficialmente denominada rua Desembargador Antonio Cardoso, mas permaneceu sendo designada São Pedro.

Todas as peças históricas da Igreja de São Pedro dos Clérigos foram fotografadas pelo SPHAN, atual IPHAN, para facilitar os trabalhos de uma futura reconstrução, que nunca aconteceu. Foram divulgadas no livro Réquiem pela Igreja de São Pedro: um patrimônio perdido e exibidas durante a exposição homônima, comemorativa do cinquentenário da SPHAN, em 1987, realizada pelo SPHAN e pela Casa de Rui Barbosa. Algumas estão publicadas no Ensaio de Compressão Diametral Prof. Fernando Lobo Carneiro, com notas de aula de Eduardo C.S Thomas, entre as páginas 73 e 91.

 

 

Igreja de São Pedro dos Clérigos (1733 – demolida em 1944) *

Cássio Loredano

Com que dor escreveria Sandra Alvim a palavra demolida – tantas dezenas de vezes em sua monumental Arquitetura religiosa colonial no Rio de Janeiro -, toda vez que trata da igreja de São Pedro dos Clérigos. “Traçado primoroso”, diz ela, formado pela interseção de arcos de circunferência, resultado de “elevado grau de elaboração formal”; inestimável documento da incipiente independência e formação da identidade do mestre-de-obras brasileiro em relação à Metrópole, superando as “rígidas limitações estéticas lusas”; primeira igreja da colônia a ter cobertura em cúpula coroada por zimbório com lanternim. Demolida em 1944. Ficava na velha rua de São Pedro, igualmente atropelada pela abertura da avenida Presidente Vargas.

Dois anos antes, já tinham sido postas abaixo a pequenina ermida de São Domingos (1706, reconstruída em 1791) e a igreja do Bom Jesus do Calvário, de 1796, todas no caminho da violência poluente, inclemente, que vai da Candelária à Praça da Bandeira. “Demolidas em 1942″, escreve a professora Sandra. Demolidas. As fotos são de cortar o coração.

*Esse texto, acompanhado de fotografias do acervo dos Diários Associados do Rio de Janeiro, adquirido pelo Instituto Moreira Salles, foi publicado em 13 de setembro de 2018 na seção Por dentro dos acervos, do site do IMS

 

 

 

Link para o samba Bom dia Avenida!, sobre a avenida Presidente Vargas, composição de Herivelto Martns e Grande Otelo, interpretada pelo Trio de Ouro, formado por Dalva de Oliveira, Herivelto Martins e Nilo Chagas.

 

“Lá vem a nova avenida 

Remodelando a cidade

Rompendo prédios e ruas

Os nossos patrimônios de saudade

É o progresso!

E o progresso é natural

Lá vem a nova avenida

Dizer à sua rival

Bom dia Avenida Central!

A União das Escolas de Samba

Respeitosamente fez o seu apelo

Três e duzentos de selo!

Requereu e quer saber

Se quem viu Praça Onze acabar

Tem direito à Avenida

Em primeiro lugar

Nem que seja depois de inaugurar!

Nem que seja depois de inaugurar!”

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ALVIM, Sandra. Arquitetura Religiosa Colonial no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ; IPHAN, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. 1999.

AZEVEDO, Moreira de. A Igreja de São Pedro  in O Rio de Janeiro: Sua História, Monumentos, Homens Notáveis, Usos e Curiosidades. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1877. 2 v.

BARATA, Cau. Rio Antigo - Igreja de São Pedro dos Clérigos. Youtube, 2010.

Blog Rio Curioso

BURY, John. Arquitetura e Arte no Brasil Colonial. IPHAN/Monumenta. Brasília, 2006.

Coisas da Arquitetura

FREIRE, Luiz Alberto Ribeiro. A Talha Neoclássica na Bahia. Rio de Janeiro : Versal Editores, 2006.

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

HOLLANDA, Daniela Maria Cunha de. A barbárie legitimada: A demolição da Igreja de São Pedro dos Clérigos do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro : EDUERJ, 2014.

Música Brasilis

OLIVEIRA, Myriam A. R.; JUSTINIANO, Fátima. Barroco e Rococó nas Igrejas do Rio de Janeiro. Roteiros do Patrimônio, IPHAN/Monumenta. Brasília,2006.

PEREIRA, André Luiz T. Notas Sobre o Patrimônio Artístico das Irmandades de São Pedro dos Clérigos. I Encontro de História da Arte, São Paulo, 2005.

O Globo, 7 de setembro de 2014

Rio de Antigamente

Rio Memórias

Secretária das Culturas/ Arquivo da Cidade. Memória da Destruição: Rio – Uma história que se perdeu. Prefeitura do Rio de Janeiro, 2002.

Site José Maurício Nuno Garcia

THOMAS, Eduardo C.S. Ensaio de Compressão Diametral Prof. Fernando Lobo Carneiro

 

Links para os outros artigos da Série O Rio de Janeiro desaparecido

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de fevereiro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, historiadora do Museu da República, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 5 de abril de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido III – O Palácio Monroe, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 9 de novembro de 2016.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IV - A via elevada da Perimetral, de autoria da historiadora Beatriz Kushnir, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2017.

Série O Rio de Janeiro desaparecido V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlopde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de julho de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VI – O primeiro Palácio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeirode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de setembro de 2018.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VII – O Morro de Santo Antônio na Casa de Oswaldo Cruzde autoria de historiador Ricardo Augusto dos Santos da Casa de Oswaldo Cruzpublicado na Brasiliana Fotográfica em 5 de fevereiro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido VIII – A demolição do Morro do Castelode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portalpublicado na Brasiliana Fotográfica em 30 de abril de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido IX – Estrada de Ferro Central do Brasil: estação e trilhosde autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de novembro de 2019.

Série O Rio de Janeiro desaparecido X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogode autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de junho de 2020.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XI – A Estrada de Ferro do Corcovado e o mirante Chapéu de Sol, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 22 de julho de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XII – o Teatro Lírico (Theatro Lyrico), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 15 de setembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIII – O Convento da Ajuda, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 12 de outubro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIV – O Conselho Municipal, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de novembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XV – A Praia de Santa Luzia no primeiro dia do verão, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 21 de dezembro de 2021.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVI – O prédio da Academia Imperial de Belas Artes, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado na Brasiliana Fotográfica em 13 de janeiro de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XVIII – A Praça Onze, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 20 de abril de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XIX – A Igrejinha de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 23 de junho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XX – O Pavilhão dos Estados, futuro prédio do Ministério da Agricultura, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 26 de julho de 2022.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXI – O Chafariz do Largo da Carioca, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 19 de setembro de 2022. 

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXII – A Cadeia Velha que deu lugar ao Palácio Tiradentes, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado na Brasiliana Fotográfica em 11 de abril de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIII e Avenidas e ruas do Brasil XVII - A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 5 de setembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVI – Conclusão do arrasamento do Morro do Castelo por Augusto Malta, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 14 de dezembro de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXVII e Série Os arquitetos do Rio de Janeiro V – O Jockey Club e o Derby Club, na Avenida Rio Branco e o arquiteto Heitor de Mello (1875 – 1920), de autoria de Andrea c. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, em 15 de janeiro de 2024

 

 

 

 

Fotografias da Gripe Espanhola do fundo Moncorvo Filho, da Casa de Oswaldo Cruz

Hoje, data que marca os dois anos da caracterização da Covid-19 como uma pandemia, pela Organização Mundial da Saúde, a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores fotografias da pandemia de Gripe Espanhola, em 1918, descobertas, em meados de março de 2020, no arquivo do médico Moncorvo Filho. Os autores do artigo Fotografias da Gripe Espanhola são Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço, pesquisadores Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, uma das instituições parceiras do portal.

Fotografias da Gripe Espanhola 

Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço*

 

“Grande vozerio, gritos e gemidos de repente ouvi que partiam do saguão da entrada e contiguo à minha sala. Corro a ver o que era. Uma onda humana invadia o prédio de nossa sede: eram homens, mulheres e crianças, em sua maioria andrajosos, comprimindo-se para entrar e agasalhar-se em todas as salas do nosso estabelecimento. Havia gente de todas as classes sociais, indivíduos brancos e de cor, velhos, moços e crianças, carregados uns pelos outros, alguns que entravam a cambalear, esquálidos, ardendo em febre, outros a vomitar e finalmente alguns encontrados já a expirar na via pública…” (Moncorvo Filho, 1924:49)

 

Em meados de março de 2020, durante o início da quarentena imposta pela epidemia de Covid-19, encontramos imagens inéditas da Gripe Espanhola no arquivo do médico Moncorvo Filho. Sabíamos da importância deste acervo, entretanto, não possuíamos a real dimensão do inestimável patrimônio que estava em nossas mãos. Apresentamos algumas das imagens neste breve trabalho.

 

Acessando o link para as fotografias inéditas da Gripe Espanhola no arquivo do médico Moncorvo Filho disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Em setembro de 1918, no Rio de Janeiro, os habitantes começaram a apresentar febre alta. Era a Gripe Espanhola, doença que vinha da Europa pelos navios que ancoravam nos portos brasileiros. Numa cidade com um milhão de habitantes, morreram, segundo os registros oficiais, quase 15 mil pessoas. Os médicos receitavam canja e limão. Não que o Brasil não estivesse avisado. A gripe estava dizimando na Europa e mataria, de acordo com as estimativas mais cautelosas, trinta milhões de pessoas em todo o mundo.

Médicos e autoridades não sabiam como proceder e que atitudes tomar diante da pandemia. As instituições governamentais de saúde concentraram sua atuação no atendimento aos doentes. O que melhorou um pouco a trágica situação foram as ações isoladas. Hospitais e enfermarias provisórias foram montadas. Toda ajuda era bem-vinda, mas era pouca. Alguns círculos operários também contribuíram fornecendo auxílio.

 

“Morrer na cama era um privilégio abusivo e aristocrático. O sujeito morria nos lugares mais impróprios, insuspeitados: – na varanda, na janela, na calçada, na esquina, no botequim… Muitos caíam, rente ao meio-fio, com a cara enfiada no ralo. E ficavam, lá, estendidos, não como mortos, mas como bêbados. Ninguém os chorava, ninguém. Nem um vira-latas vinha lambê-los. Era como se o cadáver não tivesse nem mãe, nem pai, nem amigo, nem vizinho e, nem ao menos, inimigo.” (, 1967:72)

 

Os cariocas morriam em casa, na rua, no trabalho, sendo recolhidos pelos funcionários da Prefeitura. Estes jogavam os corpos nas carroças da companhia de limpeza pública. Conta-se que quando descobriam alguém dado como morto e ainda vivo, acabavam de matá-lo com as pás. Nos cemitérios, coveiros abriram valas, onde eram despejadas dezenas de mortos. E, quanto mais corpos acumulados, mais a situação piorava.

Frente ao desconhecimento ou ineficácia das medidas que pudessem impedir o contágio ou cuidar dos doentes, as autoridades públicas inicialmente restringiram-se a orientar a população a evitar aglomeração. A cidade transformou-se num caos, faltavam alimentos e ocorriam saques aos armazéns. Para completar este quadro tenebroso ainda havia o problema dos cadáveres insepultos. Não havendo pessoal suficiente para enterrar os mortos, foram utilizados os presidiários. O cenário de corpos amontoados pelos cemitérios ou abandonados pelas ruas era desolador.

 

 

Com o desenrolar dos fatos, aumentava o temor coletivo. No período mais crítico, a população ficou desesperada. A divulgação pela imprensa do número de óbitos, da ausência de assistência médica e das atrocidades cometidas intensificava o clima de medo. A todo esse cenário podemos acrescentar o ar fétido, emanado das covas, casas e ruas, onde os corpos permaneciam à espera de sepultamento. Outro aspecto que deve ser considerado diz respeito às atitudes desencadeadas a partir do terror instalado com a gripe. Narrativas terríveis falam de atos insensatos cometidos por pessoas transtornadas com a situação.

A interrupção das atividades econômicas e outras adversidades inerentes aos fenômenos epidêmicos não foram evitadas e tampouco houve planejamento para aplacar os efeitos da espanhola. A doença inicialmente apresentou-se aos habitantes do país como um mal distante. Tanto órgãos da imprensa quanto os responsáveis pelos serviços de saúde pública colocavam em dúvida a existência da espanhola no Brasil. Os casos observados poderiam ser moléstias ainda não identificadas. Para além da discussão científica, um fator deve ser observado: a aceitação de que a epidemia havia invadido o país evidenciaria a fragilidade das políticas públicas de saúde.

A gripe é transmitida por contágio direto, tendo como sintomas principais febre, prostração e dores musculares. Embora não seja incorreta a ideia do caráter “democrático” das doenças contagiosas, que atacam de forma indiferenciada as classes sociais, as observações mostram que enfermidades epidêmicas podem ser fulminantes em organismos debilitados por condições de sobrevivência precárias.

Embora os políticos e administradores do Rio de Janeiro não acreditassem, ou não quisessem aceitar, a epidemia foi dominando a cidade. Em outubro, a imprensa noticiou a existência de doentes em quartéis, fábricas e escolas. Por volta da segunda semana era enorme a quantidade de casos. Nesse momento, o número de pessoas atingidas havia crescido, deixando a população apavorada. A violência da gripe transformava a cidade, paralisando vários setores das atividades urbanas.

“Nas habitações coletivas, em estado grave caiam quase fulminados pelo terrível morbo inúmeros de seus moradores. A população estava muito justamente alarmadíssima e todos os serviços públicos já se mostravam em 10 de outubro sensivelmente desfalcados do seu pessoal, por doença afastado de seus misteres, sendo em número assaz elevado as guias extraídas pelas Delegacias de Polícia para o internamento de gripantes no Hospital da Misericórdia. Os miseráveis e mendigos, como sempre sucede, eram os que primeiro caiam vítimas do devastador morbo e nos quais a doença de maior gravidade era desde logo emprestada.” (Moncorvo Filho, 1924:52)

 

 

Nos primeiros dias de novembro, a situação era alarmante. A epidemia forçara o fechamento do comércio e indústrias, bem como a interrupção dos serviços públicos. A cidade estava paralisada. O governo passou a distribuir quinino. Sem esclarecer o valor terapêutico dessa substância no combate à gripe ou o perigo da sua ingestão sem controle. Surgiam na imprensa receitas peculiares, que prometiam curar a doença. Além disso, os produtos – galinhas, ovos e limão – supostamente eficazes no combate ao mal, sofreram intensa especulação comercial.

A desorganização das atividades comerciais provocou uma grave crise de abastecimento. Se nas áreas próximas do centro urbano havia dificuldade em conseguir alimentos, nas áreas suburbanas eles eram extremamente escassos. Para amenizar a situação, o governo passou a distribuir leite, sopa e pão para a população. Entretanto, noticiadas pela imprensa, as reclamações de moradores dos subúrbios deixam evidente que essa medida foi inoperante.

 

“Era apavorante a rapidez com que ela ia da invasão ao apogeu, em poucas horas, levando a vítima às sufocações, às diarréias, às dores lancinantes, ao letargo, ao coma, à uremia, à síncope e à morte em algumas horas ou poucos dias. Aterravam a velocidade do contágio e o número de pessoas que estavam sendo acometidas. Nenhuma de nossas calamidades chegara aos pés da moléstia reinante: o terrível não era o número de casualidades, mas não haver quem fabricasse caixões, quem os levasse ao cemitério, quem abrisse covas e enterrasse os mortos. O espantoso já não era a quantidade de doentes, mas o fato de estarem quase todos doentes, a impossibilidade de ajudar, tratar, transportar comida, vender gêneros, aviar receitas, exercer, em suma, os misteres indispensáveis à vida coletiva.” (Pedro Nava, 1976:201)

 

 

Acreditava-se que um corpo bem alimentado resistiria melhor à doença. Até galinhas foram distribuídas à população. Para auxiliar o atendimento dos cariocas acometidos pela gripe, associações filantrópicas tomaram providências para tratar os doentes. Uma das instituições que participaram dessa mobilização foi o Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro (IPAI). Em suas dependências, funcionou um dos postos de socorros criados.

 

 

 

O instituto fora criado pelo médico Arthur Moncorvo Filho (1871-1944), em 1899. Dedicava-se ao auxílio de crianças, mas, durante a epidemia, transformou-se num local de assistência emergencial, onde as pessoas atingidas pela espanhola, recebiam atendimento médico. Suas dependências ficaram lotadas e formaram-se filas para a distribuição de produtos alimentícios. Além disto, grupos de médicos e enfermeiras eram enviados aos bairros mais populares. Chamadas de Caravanas do Bem, saíam do IPAI em direção ao Morro do Salgueiro, Morro do Andaraí, Morro do Telégrafo (Mangueira), Engenho de Dentro, Cascadura e Ramos.

As imagens que retratam o cotidiano do IPAI durante a pandemia de Gripe de 1918 podem ser encontradas no acervo da Casa de Oswaldo Cruz. São registros originais que documentam o período da Gripe Espanhola no Rio de Janeiro. Elas pertencem ao Arquivo Arthur Moncorvo Filho. Além destas imagens documentando a pandemia, este arquivo reúne mais de mil itens, entre fotografias, cartas, relatórios, publicações e recortes de jornais acumulados pelo médico, gestor e membro de associações científicas, tanto no Brasil quanto no exterior.

Nascido em 13 de setembro de 1871, na cidade do Rio de Janeiro, Arthur Moncorvo Filho viveu na Europa, onde Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo (1846-1901) estagiava em Paris com os professores Eugène Bouchut (1818-1891) e Henri-Louis Roger (1809-1891). Retornando ao Brasil, seu pai o convenceu a estudar medicina. Terminou o curso em 1897 na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, diplomando-se com a tese Das linfangites na infância e suas consequências. Durante o curso, trabalhou na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, instituição fundada por Carlos Arthur Moncorvo em 1881. Com seu falecimento, em 1901, o filho ocuparia seu lugar no serviço de moléstias de crianças da policlínica.

 

  

Criado em 1899, o IPAI funcionava na casa da família, localizada na rua da Lapa. Neste mesmo local, seu pai criara, em 1881, a Policlínica Geral. Dois anos depois, o instituto foi instalado em prédio alugado, à rua Visconde do Rio Branco. Em 1914, o presidente da República, Hermes da Fonseca, doou o terreno onde foi construída a sede do instituto, na rua do Areal, atual rua Moncorvo Filho. Hoje, funciona no local o Hospital Moncorvo Filho, nomeado em sua homenagem.

Moncorvo Filho foi membro de várias sociedades médicas. Em 1919 foi eleito membro honorário da Academia Nacional de Medicina. Em 1921 tornou-se sócio da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. Em 1933 veio a ser presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicou obras de referência para a história da pediatria no Brasil: Hygiene infantil (1917), Formulário de doenças das creanças (1923) e Histórico da protecção à infância no Brasil (1926).

As muitas atividades associativas contribuíram para a influência de Moncorvo Filho. Reconhecido como um pioneiro pelos membros do campo da pediatria, participou de encontros científicos nacionais e internacionais em cargos de coordenação. Por exemplo, foi encarregado da organização do 1º Congresso Americano da Criança, realizado em julho de 1916 na cidade de Buenos Aires. No 1º Congresso Brasileiro de Proteção à Infância, em 1922, ocupou o cargo de presidente. Nesses eventos defendia ideias de proteção à saúde das crianças, como a proibição da fabricação de chupetas, até ações de saneamento das cidades. Desde o início de sua carreira, Moncorvo Filho fazia críticas às instituições de amparo à infância. Para ele, a saúde das crianças dependia de condições de higiene, da exposição a luz solar, além de boa alimentação. Seus pronunciamentos nos congressos médicos eram publicados na imprensa, alimentando o debate político do período.

 

 

 

* Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço são pesquisadores do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.

 

Fontes:

MONCORVO FILHO, Arthur. O Pandemônio de 1918: subsídio ao histórico da epidemia de grippe que em 1918 assolou o território do Brasil. Rio de Janeiro: Departamento da Criança no Brasil, 1924.

NAVA, Pedro. Chão de ferro. Memórias/3. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976.

RODRIGUES, Nelson. Memórias. Rio de Janeiro: Ed. Correio da Manhã, 1967.

SANTOS, Ricardo Augusto dos. O Carnaval, a Peste e a Espanhola.  História, Ciências, Saúde-Manguinhos. vol.13, no.1. Rio de Janeiro, 2006.https://www.scielo.br/j/hcsm/a/Z9Lr5HqtjXzFsTD5FFvGFBQ/?lang=pt

FREIRE, Maria Martha de Luna; LEONY, Vinícius da Silva. A caridade científica: Moncorvo Filho e o Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro (1899-1930). História, Ciências, Saúde-Manguinhos. vol.18, supl. 1. Rio de Janeiro, 2011.https://www.scielo.br/j/hcsm/a/pMzXR6Xv9xBJgG9gyc4ZrZv/?lang=pt

VENANCIO JUNIOR, André Luiz & MIGNOT, Ana Chrystina. O Pandemônio de 1918: Testemunho de um médico para a posteridade. Revista Educação em Questão, Natal, v. 58 n. 58, out./dez. 2020. https://periodicos.ufrn.br/educacaoemquestao/article/view/21540/13358

 

Link para o artigo E o ex e futuro presidente do Brasil morreu de gripe…a Gripe Espanhola de 1918, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 23 de março de 2020, na Brasiliana Fotográfica.

 

 

O Dia Internacional das Mulheres

A Brasiliana Fotográfica celebra o Dia Internacional das Mulheres, 8 de março, data instituida, em 1975, pela Nações Unidas, elencando os artigos da Série Feministas, Graças a Deus, publicados no portal, sobre mulheres que se destacaram na luta pela emancipação feminina com a conquista do direito ao voto, de maiores oportunidades de trabalho e de maior acesso à educação. São elas: Almerinda Farias Gama, Bertha Lutz, Carmen Portinho, Elvira Komel, Júlia Augusta de Medeiros, Maria de Miranda Leão, Maria Prestia, Mariana Coelho e Natércia da Cunha Silveira.

As fotografias são do acervo do Arquivo Nacional, uma das instituições parceiras do portal e seus autores foram J. Bonfioti, a Photo Skarke, a Fotografia Alemã, Louis Piereck (1880 – 1931), o Serviço Photographico de Vida Doméstica, além de fotógrafos ainda não identificados.

Os artigos foram escritos pelas historiadoras e pesquisadoras do Arquivo Nacional Claudia Heynemann, Maria do Carmo Rainho e Maria Elizabeth Brêa Monteiro; e também por Maria Silvia Lavieri Gomes, historiadora do Instituto Moreira Salles, e por Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica. No final deste mês, será publicado o décimo artigo da série, sobre Maria Luisa Dória Bittencourt, a primeira deputada baiana.

 

Série “Feministas, graças a Deus!”

 

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

 

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

 

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

 

 

 

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

 

 

 

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

 

 

 

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

 

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

 

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

 

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Série “1922 – Hoje, há 100 anos” III – A eleição de Artur Bernardes e a derrota de Nilo Peçanha

No 3º artigo da Série 1922 – Hoje, há 100 anos, A eleição de Artur Bernardes e a derrota de Nilo Peçanha, a Brasiliana Fotográfica traz três fotografias de Artur Bernardes (1875 – 1955), da Coleção Presidentes da República, e oito de Nilo Peçanha (1867 – 1924), todas do acervo do Museu da República, uma das instituições parceiras do portal. Uma das imagens de Bernardes foi produzida pela Annunciato Photo e as outras duas são de autoria de fotógrafos ainda não identificados. Um dos registros de Nilo Peçanha, o candidato derrotado, é de autoria de Juan Gutierrez (c. 1860 -1897). Há também a imagem do verso de um estojo de madeira que protege o álbum fotográfico da Escola de Aprendizes e Artífices do Estado de Alagoas, que já foi tema de um artigo do portal, onde Nilo aparece desenhado entre as bandeiras do Brasil e de Alagoas.

 

O candidato vitorioso, Artur Bernardes (1875 – 1955)

 

 

Acessando o link para as fotografias de Artur Bernardes disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Mineiro de Viçosa, Artur Bernardes foi eleito pelo Partido Republicano Mineiro, em 1º de março de 1922, quando derrotou Nilo Peçanha, candidato do Movimento Reação Republicana, tornando-se o 12º presidente do Brasil (O Jornal, 2 de março de 1922).

No mesmo mês de março, foi fundado o Partido Comunista do Brasil, por iniciativa do Grupo Comunista de Porto Alegre, que realizou, no Rio e em Niterói, nos dias 25, 26 e 27 de março, um congresso. Abílio de Nequete (1888 – 1960) foi eleito secretário geral.

 

 De pé, da esquerda para a direita: Manuel Cendon, Joaquim Barbosa, Astrogildo Pereira, João da Costa Pimenta, Luís Peres e José Elias da Silva; sentados, da esquerda para a direita: Hermogênio Silva, Abílio de Nequete e Cristiano Cordeiro / Nosso Século

De pé, da esquerda para a direita: Manuel Cendon, Joaquim Barbosa, Astrogildo Pereira, João da Costa Pimenta, Luís Peres e José Elias da Silva; sentados, da esquerda para a direita: Hermogênio Silva, Abílio de Nequete e Cristiano Cordeiro / Nosso Século

 

Voltando às eleições: foram 466.877 votos contra 317.714 e o pleito dividiu o país: Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul deram apoio a Nilo Peçanha enquanto Minas Gerais e São Paulo apoiaram a candidatura de Bernardes, que tomou posse em 15 de novembro de 1922 e ficou no cargo até 15 de novembro de 1926. Governou grande parte de seu mandato sob estado de sítio, decretado por ele.

 

 

Formado em Direito, Bernardes foi vereador, deputado, secretário das Finanças e governador de Minas Gerais antes de chegar à presidência da República. Sua eleição para o governo de Minas representou a ascensão de uma nova geração de políticos no estado e durante seu mandato fez grande oposição às atividades do proprietário da Itabira Iron Ore Company, o empresário norte-americano Percival Farquhar (1865–1953).

Era o representante da política que ficou conhecida como Café com Leite, que alternava candidatos das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais. Durante a campanha presidencial houve o episódio das cartas falsas: ele foi acusado de ter escrito cartas ao senador Raul Soares (1877 – 1924), publicadas no jornal Correio da Manhã, atacando seu opositor, Nilo Peçanha, chamado de moleque, e o marechal Hermes da Fonseca (1855 – 1923) referido como um sargentão sem compostura, o que acirrou os ânimos dos militares contra sua candidatura. Bernardes chegou ao Rio de Janeiro, em 15 de outubro de 1921, para apresentar sua plataforma de governo e foi recebido por uma multidão raivosa na avenida Rio Branco. Houve um quebra-quebra na cidade e seus retratos foram arrancados das vitrines das lojas e queimados (Correio da Manhã, 9 de outubro, última coluna13 de outubro16 de outubro de 1921).

 

 

Os reponsáveis pelas cartas foram Jacinto Cardoso de Oliveira Guimarães, Oldemar Lacerda e Pedro Burlamaqui e, ainda durante a campanha, foi provado que haviam sido forjadas, mas a contestação a Bernardes nos meios militares já era irreversível. Apesar da importante crise política, Artur Bernardes se elegeu, mas, durante seu governo, enfrentou o movimento tenentista, que deu início a um processo de ruptura política que teria como consequência a Revolução de 1930. Seu governo foi fortemente marcado pela dura repressão a seus oposiocionistas e pela censura à imprensa.

 

 

Curiosidades: Freire Júnior (1881 – 1956) e Luiz Nunes Sampaio (1886 – 1953) compuseram a marcha carnavalesca conhecida como “Ai, Seu Mé”, em 1922. Seu Mé era um apelido dado pela oposição a Bernardes. Versos como O queijo de Minas está bichado, seu Zé Não seu porquê é, não sei porquê é Aí, seu Mé! Aí Mé, Mé Lá no Palácio das Águias, Olé Não hás de pôr o pé ironizavam o candidato. Apesar de nas gravações da música não aparecer o nome dis compositores e sim o nome do conjunto A Canalha das Ruas, com a eleição de Bernardes, eles foram presos. Ouça aqui a músicas.

O compositor José Barbosa da Silva, conhecido pelo pseudônimo Sinhô (1888 – 1930), também compôs uma música alfinetando Artur Bernardes. Foi a marcha carnavalesca Fala baixo, cujo título denunciava a censura policial da época. Nos versos, as invocações de uma “rolinha”, que era o apelido injurioso dado a Artur Bernardes pelos jornais do Rio, complicaram a vida do artista que foi perseguido e teve que sumir por uns tempos.

 

 Fala baixo (1919-1921)
Quero te ouvir cantar 
Vem cá, rolinha, vem cá 
Vem para nos salvar 
Vem cá, rolinha, vem cá 
Não é assim 
Não é assim 
Não é assim 
Que se maltrata uma mulher 
És a minha paixão 
Vem cá, rolinha, vem cá 
És o meu coração 
Vem cá, rolinha, vem cá 
Não é assim…

 

Um pouco sobre o candidato derrotado, Nilo Peçanha (1867 – 1924) 

 

 

O candidato derrotado nas eleições presidenciais de 1922, Nilo Peçanha, era fluminense, de Campos de Goytacazes. Sua candidatura iniciou o movimento chamado de Reação Republicana que protestava contra as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais. Inaugurava-se, então, o nilismo – uma nova forma de fazer política.

 

 

 

Acessando o link para as fotografias de Nilo Peçanha disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Já havia sido presidente, o primeiro com um perfil popular, entre junho de 1909 e novembro de 1910, quando Afonso Pena (1847 – 1909) faleceu no exercício do cargo (Gazeta de Notícias, 15 de junho de 1909, sétima coluna). Quando assumiu a presidência, Peçanha declarou que as bases de seu governo seriam a paz e o amorEra formado em Direito e antes de chegar à presidência participou das campanhas abolicionista e republicana e havia sido deputado, governador do Rio de Janeiro e vice-presidente da República. Depois foi ministro das Relações Exteriores e senador. Era um excelente orador, fazia frequentemente discursos em praças do Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Gostava de andar pelas ruas da cidade, parando em bares e lojas para conversar.

Foi, muitas vezes, vítima de racismo. Segundo o diplomata e membro da Academia Brasileira de Letras, Alberto Costa e Silva:

“Nilo Peçanha era mulato escuro, assim como diversos outros presidentes da república, a começar por Rodrigues Alves, que era mulato, e também Washington Luís. A questão é que nenhum desses políticos brasileiros era considerado mulato ou negro. Eles eram tidos como brancos, por terem uma posição social elevada. Faziam parte do “mundo dos brancos”, e não de uma minoria. A população dita “branca” no Brasil na realidade era composta por muitos mestiços”.

Revista Época, 22 de novembro de 2008

 

 

Conforme já abordado pelo artigo publicado na Brasiliana Fotográfica, em 26 de março de 2020, Escola de Aprendizes e Artífices de Alagoas, 1910, de Paulo Celso Corrêa, cientista político do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República, as Escolas de Aprendizes e Artífices foram criadas durante o governo do presidente Nilo Peçanha, em 1909. Sob a responsabilidade do recém-criado Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, elas ofereciam ensino primário e profissional para menores de idade pobres, com a finalidade de formá-los em operários e contramestres para a indústria. Com o texto, estão disponibilizadas as 14 fotos de um álbum da Coleção Nilo Peçanha referentes ao tema. São cenas dos cinco primeiros meses de funcionamento da escola, com as crianças tendo aulas e participando de oficinas de marcenaria, funilaria, sapataria, entre outras. Em 1937, as Escolas de Aprendizes e Artífices foram transformadas em Liceus de Artes e Ofícios. Estas instituições de ensino técnico e profissionalizante deram origem às posteriores Escolas Técnicas, Centros Federais de Educação Tecnológica e Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.

 

 

Também criou o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), precursor da Funai, em 1910. O primeiro diretor do órgão foi o marechal Cândido Rondon (1865 – 1958).

 

 

Andrea C.T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Atlas Histórico do Brasil

BARTZ, Frederico Duarte. Abílio de Nequete (1888-1960): os múltiplos caminhs de uma militância operária. Dossiês Mundo do Trabalho, 14 de janeiro de 2011 in História Social, uma publicação semestral dos alunos do Programa de Pós-Graduação em História da Unicamp.

Blog do Luis Nassif

Casa do Choro

CPDOC – Artur BernardesNilo Peçanha, PCB e Raul Soares

FRANZINI, Fábio. No campo das ideias – Gilberto Freyre e a invenção da brasilidade futebolística. Departamento de História da Unesp

Folha de São Paulo, 18 de outubro de 2019

GGN – O jornal de todos os Brasis

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional 

Nosso Século

 

Links para os artigos já publicados da Série 1922 – Hoje, há 100 anos

Série 1922 – Hoje, há 100 anos I – Os Batutas embarcam para Paris, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 29 de janeiro de 2022

Série 1922 – Hoje, há 100 anos II- A Semana de Arte Moderna, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 13 de fevereiro de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IV – A primeira travessia aérea do Atlântico Sul, realizada pelos aeronautas portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicada em 17 de junho de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos V – A Revolta do Forte de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicada em 5 de julho de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VI e série Feministas, graças a Deus XI – A fundação da Federação Brasileira para o Progresso Feminino, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 9 de agosto de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VII – A morte de Gastão de Orleáns, o conde d´Eu (Neuilly-sur-Seine, 28/04/1842 – Oceano Atlântico 28/08/1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 28 de agosto de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 7 de setembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IX – O centenário do Museu Histórico Nacional, de autoria de Maria Isabel Lenzi, historiadora do Musseu Histórico Nacional, publicado em 12 de outubro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos X –  A morte do escritor Lima Barreto (1881 – 1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 1º denovembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos XI e série Feministas, graças a Deus XII 1ª Conferência pelo Progresso Feminino e o “bom” feminismo, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, antropóloga do Arquivo Nacional, publicado em 19 de dezembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Baile de Carnaval em Santa Teresa – Di Cavalcanti, Klixto e Helios Seelinger, na casa de Raul Pederneiras

Às vésperas do Carnaval de 2022, cancelado em quase todo o Brasil devido à pandemia do novo coronavírus, causador da Covid-19, a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores o registro de um baile de carnaval realizado há cerca de 100 anos, em torno de 1921, na casa do pintor, desenhista e caricaturista Raul Pederneiras (1874-1953), um dos gênios do humor gráfico brasileiro, no Largo das Neves, em Santa Teresa, bairro boêmio do Rio de Janeiro. Durante sua vida, Raul trabalhou em O Mercúrio, onde estreou como caricaturista/chargista em 1898, O Malho, Fon-Fon, Correio da Manhã, O Paiz, Jornal do Brasil e O GLOBO, entre outros.

Na cena da folia, foi registrada a presença do dono da casa, bem no centro da fotografia ladeado por duas deusas, e dos também importantes pintores, desenhistas e caricaturistas Di Cavalcanti (1897 – 1976), Calisto Cordeiro, o Klixto (1877-1957), – o segundo e o terceiro da esquerda para a direita – e Helios Seelinger (1878 – 1975) – o último à direita-, dentre outros, com um grupo de músicos e algumas mulheres, uma delas identificada como Wanda, mulher de Pederneiras. O carnaval foi um tema recorrente na obra desses artistas.

 

 

A imagem destacada neste artigo, que com a utilização da ferramenta zoom fica ainda mais interessante, possibilitando a investigação e observação de cada um de seus detalhes, pertence ao Arquivo Brício de Abreu, da Fundação Biblioteca Nacional, uma das fundadoras do portal e, em seu verso, está escrito:

Anotação manuscrito no verso da foto “63”: “baile de carnaval em casa de Raul no Largo dos Neves em Sta Tereza. Da esquerda: sentados (3) primeira fila: Di Cavalcanti, Amaro e Claudio Manuel da Costa – sentados (2ª fila) Luis Peixoto, Mario, Kalixto, Raul, o ator Brandão o popularíssimo, e Helios Seelinger. Em pé atraz: [sic] miranda, 3 deusas, Marques Pinheiro e outra deusa 1923″. – “mulher do Raul Pederneiras (Wanda)”

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

VALLE, Arthur. Baile à fantasia, de Rodolpho Chambelland: A figuração do frenesi

 

Links para artigos sobre carnaval já publicados na Brasiliana Fotográfica

 

Imagem relacionada

O carnaval nas primeiras décadas do século XX, publicado em 5 de fevereiro de 2016

 

 

O carnaval do Cordão da Bola Preta, publicado em 9 de fevereiro de 2018

 

 

As Camélias Japonesas no carnaval de Alagoas pelas lentes do fotógrafo amador Luiz Lavenère Wanderley (1868 – 1966, publicado em 21 de fevereiro de 2020

 

 

Cenas da folia em Manaus em 1913, publicado em 28 de fevereiro de 2020

 

 

 

 O Rei Momo por Jean Manzon e por outros fotógrafos dos Diários Associados, publicado em 3 de fevereiro de 2023

 

 

Foliões do Carnaval de Diamantina por Chichico Alkmim, publicado em 17 de fevereiro de 2023

 

 

Crianças no carnaval carioca de 1933 por Guilherme Santos, publicado em 8 de fevereiro de 2024

 

 

Acessando o link para as fotografias de Carnaval disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas

 

Acesse aqui o artigo A amizade de Di Cavalcanti, de autoria de Guilherme Tauil, publicado no portal Crônica Brasileira, em 2 de março de 2023. Abaixo um trecho:

dicavalcanti

 Maria é o jornalista, compositor e cronista Antônio Maria (1921 – 1964), um dos grandes boêmios do Brasil.

O Cemitério de Pistoia e a memória dos combatentes da FEB

A Brasiliana Fotográfica publica o artigo O Cemitério de Pistoia e a memória dos combatentes da FEB com imagens da Coleção Lafayette Brasiliano, do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República, uma das instituições parceiras do portal. Essa coleção é formada por 41 fotografias produzidas, em sua maioria, pelo fotógrafo Horácio Coelho. Além de imagens do cemitério e de cerimônias de sepultamento, há imagens de militares da FEB, entre eles seu comandante, marechal Mascarenhas de Morais, e os proprietários do terreno cedido para a construção do cemitério, Dr. Landini e sua esposa. A autora do artigo é a historiadora Maria de Fátima Morado, que inicia seu texto com uma bela e comovente poesia de Cecilia Meirelles.

 

 

O Cemitério de Pistoia e a memória dos combatentes da FEB

Maria de Fátima Morado*

 

Eles vieram felizes, como para grande jogos atléticos:

com um largo sorriso no rosto, com forte esperança no peito,

- porque eram jovens e eram belos.

 

Marte, porém, soprava fogo por estes campos e estes ares.

E agora estão na calma terra,sob estas cruzes e estas flores,

cercados por montanhas suaves.

 

São como um grupo de meninos num dormitório sossegado,

com lençóis de nuvens imensas, e um longo sono sem suspiros,

de profundíssimo cansaço

 

Cecília Meireles(1901 – 1964)

 

 

O Cemitério Militar Brasileiro foi instalado na cidade italiana de Pistoia, em 02 de dezembro de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial. Nele foram sepultados os corpos dos integrantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB), onde permaneceram até 05 de outubro de 1960, quando seus restos mortais foram transladados para o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, localizado no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Em junho de 1965, em substituição ao cemitério, foi erguido no local o Monumento Votivo Militar Brasileiro (MVMB) como homenagem aos expedicionários brasileiros que morreram durante a guerra.

 

 

A construção do cemitério foi pensada para agilizar os procedimentos necessários para o transporte, identificação, liberação e ritos fúnebres dos corpos dos soldados brasileiros. Até então, os sepultamentos eram realizados no cemitério de Traquinia e no cemitério militar dos Estados Unidos, em Vada. O deslocamento dos corpos dos postos de coleta para esses cemitérios mudavam de acordo com os novos locais de frentes de batalha. Dessa forma, as distâncias poderiam variar entre 200 km a 360 km o que acarretava o aumento do tempo para a mobilização de soldados dedicados à essa missão. Além disso, a burocracia realizada pela administração do cemitério americano causava atrasos para a liberação da documentação e notificação aos familiares.

 

 

Acessando o link para as fotografias do Cemitério de Pistóia do acervo do Museu da República disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Todo o trâmite para o resgate dos corpos, identificação, sepultamento e homenagem era realizado pelo Pelotão de Sepultamento da FEB, criado em 04 de julho de 1944, pouco após a ida do 1º Escalão da Força Expedicionária Brasileira para a Europa, em 2 de julho de 1944. Em agosto, o Pelotão partiu do Rio de Janeiro, capital federal nessa época, sob o comando do primeiro-tenente Lafayette Brasiliano, que mais tarde foi responsável pela organização do Cemitério de Pistoia.

 

 

Lafayette Vargas Moreira Brasiliano nasceu em 25 de junho de 1913, filho do general do Exército João Moreira de Oliveira Braziliano e de Alcinda Vargas Moreira Braziliano. Lafayette Brasiliano concluiu o Colégio Militar em 1931 e integrou a Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. Após o final da Guerra, já no posto de capitão, foi nomeado instrutor de ensino militar, em 1946, participando da organização do curso de Intendência. Foi ajudante-de-ordens do presidente Getulio Vargas entre 1951 e 1954, passando para a reserva em 1957. Faleceu em 8 de novembro de 1976, na cidade do Rio de Janeiro.

A Coleção Lafayette Brasiliano, do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República, foi doada em 1999. Essa coleção é formada por 41 fotografias produzidas, em sua maioria, pelo fotógrafo Horácio Coelho. As imagens apresentam a estrutura do cemitério, detalhes das sepulturas e registram cerimônias de sepultamento. Nas fotos da coleção também estão presentes os militares da FEB, entre eles seu comandante, marechal Mascarenhas de Morais, e os proprietários do terreno cedido para a construção do cemitério, Dr. Landini e sua esposa.

 

 

 

 

*Maria de Fátima Morado é Historiadora do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República

 

Fontes:

ADITÂNCIA DO EXÉRCITO JUNTO À EMBAIXADA DO BRASIL NA ITÁLIA. Monumento Votivo Militar Brasileiro (MVMB) “Honra e Glória”. Brasília.

FARIA. Durland Puppin de. O Pelotão de Sepultamento da FEB. Revista Agulhas Negras, Resende, ano 3, n. 3, jan./dez. 2019.

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS. Força Expedicionária Brasileira (FEB). Rio de Janeiro, 2020.

MEIRELES, Cecilia. Pistoia – Cemitério Militar Brasileiro. Rio de Janeiro: Global, 1955.

PIOVEZAN, Adriane. Os mortos na memória dos vivos: o Cemitério Militar Brasileiro de Pistóia (1945-1960). In: Anais do XVII Encontro Estadual de História da ANPUH-SC. Joinville, 2018.

Série “1922 – Hoje, há 100 anos” II – A Semana de Arte Moderna

A Brasiliana Fotográfica publica o 2º artigo da Série 1922 – Hoje, há 100 anos, A Semana de Arte Moderna, com fotografias de Mário de Andrade (1893 – 1945) e Oswald de Andrade (1890 – 1954), cujas participações foram fundamentais no evento, realizado no Teatro Municipal de São Paulo, em fevereiro de 1922.  Hoje, o primeiro dos três Grandes Festivais realizados durante o evento completa 100 anos.

Mário e Oswald se conheceram, na década de 1910. Na história do Modernismo brasileiro a versão dominante é que eles se encontraram pela primeira vez, em 1917, no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, mas há indícios de que eles haviam se conhecido anos antes. Foram amigos até 1929 (1).

“Enquanto Oswald de Andrade era o devasso, o piadista, Mário era o “scholar”, o erudito, o monumento moral, imagem que incomodava o próprio escritor: “Me vejo convertido a erudito respeitável e, o que é pior, respeitado. Isso me queima de vergonha”, escreveu em 1942 ao jornalista e crítico Moacir Werneck de Castro”.

José Geraldo Couto e Mario Cesar Carvalho

Folha de São Paulo, 26/09/1993

 

O leitor poderá ler, além de um pouco sobre a densa história da Semana, que na comemoração de seu centenário tem suscitado reinterpretações, brevíssimos perfis dos escritores Mário de Andrade e Oswald de Andrade e dos fotógrafos autores das imagens de ambos publicadas neste artigo: Benedito Junqueira Duarte (1910 – 1995), Jorge de Castro (19? -?) e Kasys Vosylius (1895 – 19?). As fotos pertencem à Fundação Biblioteca Nacional, uma das instituições fundadoras da Brasiliana Fotográfica.

 

 

Acessando o link para as fotografias de Mário de Andrade e de Oswald de Andrade disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

A Semana de Arte Moderna de 1922, que contou com uma exposição de arquitetura, escultura e pintura, além de três festivais lítero-musicais (2), é considerado um marco no lançamento do Modernismo no Brasil. O escritor Graça Aranha (1868 – 1931) fez a conferência inaugural do evento, intitulada A emoção estética na arte moderna. 

 

 

Figuras de destaque da Semana foram os artistas plásticos Anita Malfatti (1889 – 1964), Di Cavalcanti (1897 – 1976), Vicente do Rego Monteiro (1899 – 1970) e Zina Aita (1900 – 1967); os poetas Guilherme de Almeida (1890 – 1969), Menotti del Picchia (1892 – 1988) e Ronald de Carvalho (1893 – 1935); os escultores Victor Brecheret (1894 – 1955) e Wilhelm Haarberg (1891 – 1986); os arquitetos Antonio Moya (1891 – 1949) e Georg Przirembel (1885 – 1956); a dançarina Yvonne Daumerie (19? -1977) e os músicos Ernani Braga (1888 – 1948), Guiomar Novaes (1895 – 1979), Lucilia Villa-Lobos (1886 – 1966), Paulina d´Ambrosio (1892 – 1976) e Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959), dentre outros (Correio Paulistano, 29 de janeiro, quinta coluna; 2 de fevereiro, penúltima coluna; 7 de fevereiro, sexta coluna; 9 de fevereiro, quinta coluna, resposta à crítica de José Maria Bello; 11 de fevereiro, penúltima coluna; 13 de fevereiro, última coluna; 15 de fevereiro, quinta coluna, comentário de Guiomar Novaes sobre a apresentação musical do dia 13; 15 de fevereiro, quinta coluna16 de fevereiro, sexta coluna; 18 de fevereiro, quarta coluna; de 1922; A Gazeta (SP), 3 de fevereiro, quinta coluna; A Vida Moderna (SP), 23 de fevereiro de 1922; America Brasileira: Resenha da Activida Nacional, março de 1922; Careta, 1º de abril de 1922).

 

 

 

 

“Com o triunfo de ontem, terminou a gloriosa Semana de Arte Moderna. Que ficou dela? De pé – germinando – a grande ideia. Dos vencidos, alguns latidos de cães e cacarejos de galinhas…”

Helios, pseudônimo de Menotti del Picchia

Correio Paulistano, 18 de fevereiro de 1922

Abaixo, um registro do Teatro Municipal de São Paulo, palco da Semana de 22, realizado pelo fotógrafo suíço Guilherme Gaensly (1843 – 1928).

 

 

Dias após o término da Semana, em 17 de fevereiro, foi publicada uma carta de Menotti del Picchia ao crítico Oscar Guanabarino (1851 – 1937) que, no Jornal do Commercio do dia anterior, havia feito comentários negativos sobre a Semana (Jornal do Commercio, 22 de fevereiro de 1922 – praticamente ilegívelCorreio Paulistano, 23 de fevereiro de 1922). O mesmo Guanabarino publicou, no periódico Vida Moderna, de 3 de março de 1922, uma Chronica…carnavalesca, citando vários participantes da Semana.

Cerca de cinco anos antes, uma outra crítica, intitulada A propósito da exposição Malfatti (3), escrita por Monteiro Lobato (1882 – 1948) e veiculada pelo O Estado de São Paulo, em 20 de dezembro de 1917, causou divergências e foi uma espécie de estopim da Semana de Arte Moderna de 1922. Ele elogiava o talento da pintora e lamentava sua opção pela arte moderna. A partir da crítica de Lobato, pintores como Tarsila do Amaral (1886 – 1973) e Pedro Alexandrino Borges (1856 – 1942) e o escritor Oswald de Andrade, dentre outros, se aproximaram de Malfatti e se juntaram a críticos, como Mário de Andrade, e alavancaram o movimento modernista em Sâo Paulo.

A icônica Exposição de Pintura Moderna, de Anita Malfatti, aconteceu na rua Líbero Badaró, 111 (atual número 338), em um salão térreo cedido pelo conde Antônio de Toledo Lara, em São Paulo, e foi inaugurada em 12 de dezembro de 1917 e encerrada em 11 de janeiro de 1918, dia em que foi publicada uma crítica de Oswald de Andrade, no Jornal do Commercio, elogiando a mostra. Foram exibidas obras que se tornaram importantes na história da arte moderna brasileira como A Estudante Russa, O Japonês, Tropical e O Homem Amarelo. Este último foi comprado posteriormente por Mário de Andrade. Em uma de suas visitas à exposição, que foi um sucesso de público e visitada por diversos artistas e personalidades importantes da vida paulistana, Mário presenteou Anita com um soneto sobre o quadro. Além de 53 obras de Mafaltti, foram apresentados trabalhos de artistas internacionais  como Floyd O’Neale, Sara Friedman e Abraham S. Baylinson (1882−1950) (O Estado de São Paulo, 23 e 25 de dezembro de 1917; 27 de janeiro de 2019).

 

 

Curiosamente, não foi encontrada, até hoje, nenhuma fotografia da Semana de Arte Moderna. Até pouco tempo, acreditava-se que o registro fotográfico abaixo fosse o único do evento, mas descobriu-se que, na verdade, foi produzido durante um almoço em homenagem o exportador de café Paulo da Silva Prado (1869 – 1943) nos salões do Hotel Terminus, que ficava à rua Brigadeiro Tobias, esquina com Washington Luís, em São Paulo, ocorrido possivelmente em 12 ou 19 de março de 1924 (Folha de São Paulo, 13 de outubro de 2019).

 

fotosemana

 

 

Brevíssimos perfis de Mário de Andrade, de Oswald de Andrade e dos fotógrafos autores de suas imagens disponíveis neste artigo

 

Mário de Andrade (1893 – 1945)

…Mário, o aluvião de ouro rolando pela barranca.

Rachel de Queiroz, em O Jornal, 1º de março de 1970

 

“Estamos célebres! Enfim! Nossos livros serão comprados ! Ganharemos dinheiro! Seremos lidíssimos! Insultadíssimos! Celebérrimos! Teremos nossos nomes eternizados nos jornais e na História da Arte Brasileira.”

Trecho de uma carta de Mário de Andrade para Helios, pseudônimo de Menotti del Picchia (1892 – 1988),

Coluna “Chronica Social” do Correio Paulistano, 23 de fevereiro de 1922

 

 

O poeta, ficcionista, ensaísta e musicista paulistano Mário Raul de Morais Andrade nasceu em 9 de outubro de 1893. Caracterizou-se pelo inconformismo e inquietação intelectual, pelo brilhantismo, pela autenticidade e ecletismo, tendo sido uma figura decisiva no cenário cultural brasileiro. Segundo Tristão de Athayde (1893 – 1983), ele haveria de marcar uma curva na história de nossas letras. E marcou (Excelsior, abril de 1928).

Foi também fotógrafo e era um grande apreciador da arte fotográfica:

“Ora, a fotografia é antes de mais nada um fato de luz; e apanha, a bem dizer, campos ilimitados. Se é certo que também pelo processo fotográfico podemos inventar livremente, provocando manifestações de luz de nossa arbitrária invenção, creio que ninguém negará ser destino essencial da fotografia, ser a sua fecundidade, ser a sua mensagem infatigável, registrar a realidade enquanto luz”.

Crônica O homem que se achou,

primeira quinzena de 1940

 

Em 1923, passou a fotar com a sua “Codaque” autographic. 

“Seu interesse pela fotografia foi se consolidando a partir de leituras de revistas alemãs e da observação da obra de Moholy-Nagy. O foto-olho do poeta se concentrou na composição – valori plastici (valores plásticos) – e no aproveitamento dos parcos recursos técnicos disponíveis numa câmera para amadores. Ao “fotar” preocupava-se em anotar indicações técnicas – “diaf. 3 – sol 1 das 12 e 30”. O diafragma corresponde à intensidade da luz exterior. Na viagem ao Norte/Nordeste, de maio a agosto de 1927, experimentou com sucesso seu novo perfil de fotógrafo do Turista aprendiz. Nas legendas das belas fotos que produziu, convocava o poeta: “Roupas freudianas”, “Veneza em Santarém”, “A Venus do milho””.

Casa Mário de Andrade

 

Na literatura, estreou, em 1917, com o livro Há uma gota de sangue em cada poema, que assinou com o pseudômino de Mario Sobral (Revista Americana, outubro de 1917).  Nessa época, conheceu o escritor Oswald de Andrade. Trabalhou na revista paulista Papel e Tinta, fundada por Menotti del Picchia e Oswald, em 1920. Um ano depois, escreveu para o Jornal do Commercio a série Mestres do Passado, criticando o parnasianismo, publicadas em 2, 12, 15, 16, 20, 23 de agosto e 1º de setembro de 1921.

Ele e Oswald foram importantes participantes da Semana de Arte Moderna de 1922, mesmo ano em que Mário publicou Paulicéia Desvairada (1922), que introduziu, na poesia brasileira, temas e técnicas modernistas. Formou com as artistas plásticas Anita Malfatti  e Tarsila do Amaral e com os escritores Menotti del Picchia e Oswald de Andrade, o Grupo dos Cinco. Lecionava História da Música e Estética no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Colaborou com a revista Klaxondivulgadora do Modernismo no Brasil, que foi publicada entre 15 de maio de 1922 e janeiro de 1923.

Ao longo da década de 20, fez várias viagens pelo país estudando e fotografando a cultura e o folclore. Na Semana Santa de 1924, integrou com Olívia Guedes Penteado (1872 – 1934), Tarsila do Amaral, René Thiollier (1882 – 1968), o filho de Oswald, Nonê (1914 – 1972); e o próprio Oswald a comitiva que acompanhou o poeta francês Blaise Cendrars (1887 – 1961) a Minas Gerais. A partir de 1928, começou a publicar no Diário Nacional, um diário de viagem, O turista aprendiz (Diário Nacional, 22 de janeiro de 1928).

Foi o primeiro diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, criado, em 1935, na gestão do prefeito Fábio da Silva Prado (1887 – 1963), idealizado por ele e por Paulo Junqueira Duarte (1889 – 1984), irmão de Benedito Junqueira Duarte (1910 – 1995), autor da fotografia abaixo.

 

 

Criou os primeiros parques infantis e concebeu a discoteca pública de São Paulo, atual Discoteca Oneyda Alvarenga.

Em março de 1936, foi o autor do Anteprojeto para a criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional (Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Mário de Andrade, 2002, página 272), que enviou para o então ministro da Educação, Gustavo Capanema (1900 – 1985). Mário reconhecia ali a importância da fotografia na sugestão do tombamento de um bem, propondo a criação de uma repartição que seria responsável por todo o serviço nacional de fotografia, fonografia e filmagem do patrimônio artístico nacional sob as orientações da Chefia do Tombamento.

 

 

Em abril de 1936, Mário instituiu o Curso de Etnografia patrocinado pelo Departamento de Cultura, com a finalidade de iniciar folcloristas nos trabalhos de campo. Durou seis meses e foi ministrado pela etnóloga francesa Dinah Dreyfuss Lévi-Strauss (1911 – 1999), então casada com o antropólogo francês Claude Levi-Strauss (1908 – 2009), que estava lecionando na Faculdade de Letras, Ciências e Artes da Universidade de São Paulo. Em 5 de setembro de 1936, Mário tomou posse como membro da Academia Paulista de Letras, na cadeira nº 3.

Em 1937, criou a Sociedade de Etnografia e Folclore, extinta em 1939, tornando-se seu primeiro presidente. Dinah Dreyfuss Lévi-Strauss ocupou o cargo de 1ª secretária. Poucos meses depois, Mário promoveu no Teatro Municipal de São Paulo, entre 7 e 14 de julho de 1937, o Congresso da Língua Nacional Cantada, conferência sobre folclore e música folclórica, com representantes de diversos estados brasileiros (Correio de S. Paulo, 30 de junho de 1937).

 

“Foi o primeiro congresso musical num país em que a música já alcançou esplêndida qualidade e tem numerosíssimos cultores. Desconfio mesmo que foi o primeiro da América do Sul”.

Mário de Andrade na crônica Congresso de Língua Nacional Cantada, de setembro de 1937

 

Em 1938, após seu afastamento da função de diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, Mário foi para o Rio de Janeiro, onde morou iniciamente na rua Santo Amaro, nº 5, na Glória e, depois, em Santa Teresa. Dirigiu o Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal (UDF) e ocupou a cátedra de Filosofia da Arte e História. Em sua aula inaugural, proferiu a palestra O Artista e o Artesão, publicada em Baile das Quatro Artes, em 1943. A UDF, idealizada e criada, em 1935, por Anísio Teixeira (1900 – 1971), então secretário de Educação do Rio de Janeiro, foi fechada em 1939 por não atender os propósitos do governo federal, e incorporada à Universidade do Brasil. Tinha uma proposta inovadora: não possuia as tradicionais faculdades de Direito, Engenharia e Medicina e possuia uma Faculdade de Magistério, que pioneiramente dotou o magistério de formação específica de nível superior.

Mário voltou para São Paulo, em 1941, e, pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), futuro Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), viajou por todo o estado. No ano seguinte, junto a outros intelectuais contrários ao regime ditatorial do Estado Novo, fundou a Sociedade de Escritores Brasileiros, que passou a chamar-se, em 1943, Associação Brasileira de Escritores (Gazeta de Notícias, 8 de março de 1942, terceira colunaCorreio Paulistano, 28 de fevereiro de 1943, penúltima coluna).

No vigésimo aniversário da Semana de Arte Moderna, por solicitação do escritor Edgard Cavalheiro (1911 – 1958), escreveu um texto que originou a célebre conferência, O Movimento Modernista, proferida no auditório da Biblioteca do Itamaraty, em 30 de abril de 1942 (O Jornal, 24 de abril de 1942, terceira coluna).

“Embora se integrassem nele figuras e grupos preocupados de construir, o espírito modernista que avassalou o Brasil, que deu o sentido histórico da Inteligência nacional desse período, foi destruidor. Mas essa destruição não apenas continha todos os germes da atualidade, como era uma convulsão profundíssima da realidade brasileira. O que caracteriza esta realidade que o movimento modernista impôs é, a meu ver a fusão de três princípios fundamentais: o direito permanente à pesquisa estética; a atualização da inteligência artística brasileira; e a estabilização de uma consciência criadora nacional. Nada disso representa exatamente uma inovação e de tudo encontramos exemplos na história artística do país. A novidade fundamental, imposta pelo movimento, foi a conjugação dessas três normas num todo orgânico da consciência coletiva”.

Trecho do discurso O Movimento Modernista

 

 

Algumas de suas obras de destaque foram A escrava que não é Isaura (1925), O Losângo Cáqui (1926), Amar, verbo intransitivo (1927), Ensaio sobra a música brasileira (1928), Macunaíma (1928), Compêndio de História da Música (1929), Música, doce música (1934), Contos de Belazarte (1934) e Lira Paulistana (1945), seu último livro de poemas, e Contos Novos (1947).

Foi crítico de arte em vários jornais e revistas. Faleceu em 25 de fevereiro de 1945, em São Paulo (Correio Paulistano, 27 de maio de 1945).

 

 

Uma curiosidade: Pixinguinha (1897 – 1973), personagem do primeiro artigo da Série 1922: Há 100 anos, hoje, sobre a turnê dos Batutas a Paris, encontrou-se com Mário de Andrade, durante a temporada da peça Tudo preto, em São Paulo, entre outubro e novembro de 1926, encenada pela Companhia Negra de Revistas. Mário estava pesquisando para o livro Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, publicado em 1928, e foi apresentado por Lamartine Babo (1904 – 1963) a Pixinguinha, que colaborou contando a ele sobre o ambiente da casa de Tia Ciata (1854 – 1924), na Pequena África, no Rio de Janeiro, onde havia festas com candomblé e música variada que integravam o repertório de seus frequentadores, dentre eles o próprio Pixinguinha, João da Baiana (1887 – 1974), Donga (1890 – 1974) e Sinhô (188 – 1930). As informações foram usadas por Mário em um dos capítulos do livro, o de número 7, intitulado Macumba, de Macunaíma. O personagem Olelê Rui Barbosa  foi inspirado em Pixinguinha:

“Então a macumba principiou de deveras se fazendo um sairê para saudar os santos. E era assim: Na ponta vinha o Ogã tocador de atabaque que, um negrão filho de Ogum, bexiguento e fadista de profissão, se chamando Olelê Rui Barbosa”. 

 

 

Nos 25 anos de morte de Mário, foi publicada a crônica Lembrança e saudade de Mário, da escritora Rachel de Queiroz (1910 – 2003), em O Jornal de 1º de março de 1970.

 

 

Benedito Junqueira Duarte (1910 – 1995) e Kasys Vosylius (1895 – 19?) são os autores das imagens de Mário de Andrade destacadas nesta publicação da Brasiliana Fotográfica.

 

Pequeno perfil do fotógrafo Benedito Junqueira Duarte (1910 – 1995), pseudônimo Vamp

 

 

“…não fosse o Mario eu não teria conseguido fotografar o que fotografei; não fosse a dedicação e o amor com que realizei meu trabalho, alguns aspectos da cidade não teriam se conservado”.

Junqueira Duarte sobre Mário de Andrade, em depoimento de 1981 para o MIS-SP

 

Junqueira Duarte, conhecido como B. J. Duarte, um dos principais fotógrafos da história paulistana, foi iniciado na fotografia, aos 10 anos, em Paris, por um dos maiores fotógrafos que atuou no Brasil, seu tio-avô, o português José Ferreira Guimarães (1841 – 1924) que, em 1886,  havia inaugurado um verdadeiro palácio da fotografia, a maior casa fotográfica brasileira do século XIX, na rua Gonçalves Dias, nº 2, esquina com a rua da Assembleia.

B. J. Duarte estudou em Paris no Estúdio Reutlinger, um dos mais conceituados de toda a Europa, graças a seu parentesco com Guimarães. Eram os Anos Loucos, do pós-guerra, e a cena cultural parisiense era trepidante. Como disse o escritor norte-americano Ernest Hemingway (1899 – 1961), Paris é uma festa. No Reutlinger, circulavam personalidades como as atrizes Sarah Bernhardt (1844 – 1923) e Gabrielle Réjane (1856 – 1920), que estiveram no Brasil e se apresentaram no Teatro Lírico; cineastas como Jean Renoir (1894 – 1979) e Alberto Cavalcanti (1897 – 1982) e fotógrafos como Paul Nadar (1856 – 1939) e Man Ray (1890 – 1976). Foi nesse ambiente interessante e eclético que B.J. Duarte se formou.

Entre 1929 e 1933, já de volta a São Paulo, trabalhou como fotojornalista do órgão oficial do Partido Democrático, o jornal Diário Nacional, cujo redator-chefe era seu irmão, Paulo Duarte (1889 – 1984). Voltou a atuar como retratista e, devido a seu acesso à intelectualidade, fotografou, além de Mário de Andrade, os artistas plásticos Di Cavalcanti (1897 – 1976), Lasar Segall (1889 – 1957) e Tarsila do Amaral (1883 – 1973); a incentivadora do Modernismo, Olivia Guedes Penteado (1872 – 1934); e o jornalista Barão de Itararé (1895 – 1971), dentre outros. Em entrevista ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo, realizada em 14 de maio de 1981, comentou a respeito dessa produção:

“… tinha um arquivo com aproximadamente dez mil negativos, acondicionados em um caixa em minha casa no Jabaquara. Quando faleceu minha primeira esposa, por ocasião de uma viagem a Madri, minhas irmãs se ocuparam da mudança. Quando voltei perguntei sobre a caixa e como nada sabiam, voltei até a antiga casa e nada encontrei”.

Em 1935, ele e Theodor Preising (1883 – 1962) eram os fotógrafos da Revista S. Paulo, publicação mensal cujo projeto gráfico articulava imagem e texto de modo inovador. Entre seus redatores, Cassiano Ricardo (1895 – 1974) e Menotti Del Picchia (1892 – 1988) e, na direção de arte, Livio Abramo (1903 – 1992), responsável pelas fotomontagens a partir das imagens produzidas pelos fotógrafos.

Foi, também nesse ano, convidado por Mário de Andrade para trabalhar como chefe da Seção de Iconografia no recém criado Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, dirigido pelo escritor. Lá permaneceu até 1965, quando se aposentou. Realizou filmes sobre a cidade de São Paulo e organizou o arquivo fotográfico das obras realizadas na metrópole, tendo produzido mais de quatro mil fotografias. Realizou diversos filmes científicos, tendo documentado, em 26 de maio de 1968, o primeiro transplante de coração realizado na América Latina, pela equipe chefiada pelo dr. Zerbini (1912 – 1993), no Hospital das Clínicas de São Paulo. Foi um dos fundadores do Foto-cine Clube Bandeirante, em 28 de abril de 1939, tendo sido seu primeiro vice-presidente; e da Cinemateca Brasileira, instituição com maior acervo audiovisual/cinematográfico da América Latina. Foi um dos organizadores das primeiras edições do Salão Paulista de Fotografia e  foi também crítico de cinema.

Segundo o crítico e curador de fotografia Rubens Fernandes Junior (1939-):

Suas imagens da cidade de São Paulo em plena transformação, entre as décadas de 1930 e 1950, bem como seus retratos, são essenciais para a compreensão da fotografia moderna brasileira”.

 

Pequeno perfil do fotógrafo Kasys Vosylius (1895 – 19?)

 

 

“K. Vosylius, o artista que sabe por a alma nas visões que a sua máquina fotográfica fixa… é um artista que vive viajando pelo Brasil, enamorado de nossa natureza e descobrindo o que ela tem de mais bonito e imponente. É uma sensibilidade requintada e um técnico da fotografia de real merecimento”

Revista da Semana, 9 março de 1940

 

 

 

O fotógrafo lituano Kasys Vosylius, um dos fotógrafos presentes no arquivo do Instituto de Estudo Brasileiros da Universidade de São Paulo, nasceu na aldeia Old Sausbaliai, na região de Pilviškiai, em 1895. Mudou-se para Vilnius, onde trabalhou como gráfico e formou-se na Escola de Comércio. Em 1919, depois que os bolcheviques ocuparam a cidade, fugiu para Kaunas e se juntou ao exército lituano como voluntário. Em 1920, foi eleito para a Assembleia Constituinte e, seis anos depois, recebeu uma bolsa de estudos e ingressou na Escola de Fotografia de Berlim, graduando-se em 1929. Veio para o Brasil nos anos 30.

Ao longo das décadas de 30 e 40, foi, ao lado de profissionais como Edgar Cardoso Antunes, o alemão Erich Hess (1911 – 1995), Hans Peter Lange, Herman Kruse, os franceses Marcel Gautherot (1910 – 1996) e Pierre Verger (1902 – 1996), e Silvanísio Pinheiro, fotógrafo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), criado em 1937, futuro Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), cujo arquivo fotográfico foi coordenado por Rodrigo Melo Franco (1898–1969). Esses fotógrafos tiveram um papel fundamental nos trabalhos de inventariamento do patrimônio e na constituição do acervo da instituição, atividade mais importante do SPHAN em seus primeiros anos. No período em que trabalhou para o SPHAN, Vosylius participou do trabalho de tombamento de bens na Bahia, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, tendo também atuado em Alagoas, no Amapá, no Pará, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte. Lembramos aqui que, em 1937, Mário de Andrade era o responsável, em São Paulo, pelo SPHAN.

A museóloga Lygia Martins Costa, em entrevista concedida, em 15 de outubro de 2013, a Eduardo Augusto Costa, autor de Uma trajetória do Arquivo Fotográfico do Iphan: mudanças discursivas entre os anos 1970 e 1980, elogiou bastante o trabalho de Vosylius:

“Como fotografia de estudo, não há ninguém que tenha feito como ele. Ele era o melhor! Absolutamente nítido! A gente via tudo! É, de longe, o melhor fotógrafo!

Após uma temporada na Bahia fotografando para o SPHAN, quando voltava ao Rio de Janeiro, foi roubado a bordo do navio Santarém, entre Vitória e Rio de Janeiro (Diário da Noite, 21 de dezembro de 1939, última coluna).

 

 

Especializado na arte de fotografar pinturas e esculturas, registrou dezenas de quadros no ateliê de Cândido Portinari (1903 – 1962), de quem se tornou amigo, deixando uma coleção de negativos fotográficos, composta de 719 chapas de vidro, descobertas na casa da viúva do pintor, a uruguaia Maria Victória Martinelli Portinari (1912 – 2006), em meados de 1989 (Jornal do Brasil, 26 de outubro de 1989).

Em novembro de 1939, registrou a visita do presidente Getulio Vargas (1882 – 1954) à exposição de Cândido Portinari (1903 – 1962), no Museu Nacional de Belas Artes e, em 1942, fotografou o pintor com seus irmãos.

 

 

Também, em 1942, Vosylius ganhou o segundo prêmio no 1º Salão Paulista de Arte Fotográfica, inaugurado em 3 de outubro, na Galeria Prestes Maia, em São Paulo, uma iniciativa do Foto-cine Clube Bandeirante, cujo um dos fundadores, que também integrava a comissão julgadora do concurso, foi, como já mencionado, Benedito Junqueira Duarte. Sua foto chamava-se Tempos idos. O primeiro prêmio foi conquistado por Hejos (Henrique Joseph), o 3º prêmio por Raul dos Santos Carvalho, do Rio de Janeiro; e o 4º e o 5º por Jorge Bittar e a Herman Binder, ambos de São Paulo, respectivamente (Correio Paulistano, 4 de outubro de 1942, quinta coluna). Anos depois, a capa do Boletim do Foto-cine Clube Bandeirante, junho de 1947, trazia uma fotografia de sua autoria.

 

 

Em 1943, na Associaçao Cristã dos Moços, no Rio de Janeiro, Vosylius expôs as fotografias Visão Nordestina e Ismailovitch, no 3º Salão Brasileiro de Fotografia, uma iniciativa do Foto Club Brasileiro (A Noite, 18 de janeiro de 1943, terceira coluna).

Segundo o American Annual of Photography, de 1944, era um dos quatro fotógrafos do Brasil que participavam de exposições em salões internacionais. Os outros eram Moacir Alves, Pedro Josué e Paulo Muniz. Esse fato foi mencionado pelo fotógrafo José Oiticica Filho (1906 – 1964), pai do artista plástico Hélio Oiticica (1937 – 1980), na inauguração da exposição de fotógrafos da Iugoslávia, na Associação Brasileira de Arte Fotográfica, em 14 de junho de 1952 (A Manhã, 29 de junho de 1952, terceira coluna).

No hall do Cassino Icaraí, Vosylius participou do Salão da Sociedade Fluminense de Fotografia (Beira-mar, janeiro de 1945).

 

 

Entre maio de 1946 e junho de 1947, era, ao lado de João Farkas (1924 – 2011), José Medeiros (1921 – 1990), Peter Scheier (1908 – 1979), dentre outros, responsável pelas fotografias da revista mensal Rio, dirigida por Roberto Marinho (1904 – 2003). No quadro de desenhistas da revista estavam Athos Bulcão (1918 – 2008), Di Cavalcanti (1897 – 1976), Enrico Bianco (1918 – 2013) e Fayga Ostrower (1920 – 2001); e, no de colaboradores, Adalgisa Nery (1905 – 1990), Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987), Guilherme de Almeida (1890 – 1969), Manuel Bandeira (1886 – 1968), Sérgio Milliet (1898 – 1966) e Vinícius de Morais (1913 – 1980). Henrique Pongetti (1898 – 1979) era seu redator-chefe (Rio, maio, agosto, novembro e dezembro de 1946; fevereiro, março, abril , maio e junho de 1947).

Em 1947, Rodrigo Melo Franco (1898–1969) solicitou que Vosylius pesquisasse e buscasse no Arquivo Militar, para o historiador da arte Robert Chester Smith (1912 – 1975), que estava no Brasil, o panorama/prospecto da cidade do Rio de Janeiro, encomendado pelo Conde de Bobadela, no século XVIII.

Ministrou um curso de fotografia na sede social do Foto cine Clube de Campinas (Diário da Noite (SP), 2 de maio de 1951, quinta coluna). Talvez em torno dessa época tenha ido morar na cidade. Emprestou reproduções fotógraficas de sua autoria de obras sobre a vida de Tiradentes expostas na Biblioteca Pública Municipal de São Paulo. Uma delas, do mural Tiradentes, de autoria de Portinari (O Estado de São Paulo, 24 de abril de 1954).

No Centro de Ciências, em Campinas, realização da Exposição Semana Mário de Andrade, de 6 a 13 de junho de 1960, com a exibição de fotos inéditas do escritor, de autoria e que estavam em poder de Vosylius, referido como amigo de Mário. Pela reportagem, ele ainda moraria em Campinas (Hífen, julho de 1960, segunda coluna). Não se sabe se ele saiu do Brasil ou se permaneceu no país até sua morte, ocorrida na década de 1960 ou depois.

Foi um dos fotógrafos cujos registros foram exibidos na exposição Tesouros do Patrimônio, no Paço Imperial, sob a supervisão geral de Lúcia Meira Lima (Tribuna da Imprensa, 13 de dezembro de 1994). No livro São João del-Rei, de Maria da Graça Soto Queiroz, do Programa Monumenta do IPHAN, lançado em 2010, há imagens produzidas por ele da Igreja de Nossa Senhora do Carmo.

Ao longo de seus anos no Brasil, fotografias de sua autoria foram publicadas em diversos periódicos:

1 – A Noite, 20 de junho de 1941 – foto de uma piaçaveira em uma reportagem sobre o Instituto Central de Fomento econômico na Bahia.

2 – Bahia, tradicional e moderna, de julho de 1939 – fotos do Museu do Estado da Bahia, de um quadro de Alberto Valença e da cidade de Nazaré.

3- O Campo – agostooutubronovembro de 1939; janeiro e março de 1940 -fotos de côcos, de um coqueiral, da indústria de cera, de uma broca de coqueiro e dos produtos dos coqueiros.

4 – Chácaras e Quintais –  15 de abril e 15 de agosto de 1939; 15 de outubro de 1940; e 15 de setembro de 1942 – fotos de vegetação baiana

5 – Gazeta Esportiva, 11 de setembro de 1956; e  de 1º de dezembro de 1958 – fotos do esportista Dolor Barbosa e da comemoração do Dia da Pátria, em Campinas.

6 –  Illustração Brasileira, março de 1940 e  novembro de 1943 – foto de coqueiral na capa e do quadro Paisagem pernambucana, respectivamente.

7 – Revista da Semana13 de janeiro9 de março e 13 de abril de 1940 – fotos de capa.

8 – Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, janeiro de 1945 e 1997 – fotos de uma areal em Pernambuco e diversas outras na ediçao de 1997.

 

 

 

Oswald de Andrade (1890 – 1954)

Ele era uma força da natureza.

Antônio Cândido, crítico literário

 

“Só a ANTROPOFAGIA nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupy or not tupy, that is the question”.

Início do Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade

 

 

Um dos maiores representantes do Modernismo no Brasil, o poeta, romancista, teatrólogo, ensaísta e jornalista paulistano José Oswald de Souza Andrade nasceu, em 11 de janeiro de 1890. Espírito inquieto e rebelde, foi amigo do poeta Guilherme de Almeida (1890 – 1969), do artista plástico Di Cavalcanti (1897 – 1976) e do escritor Mário de Andrade (1893 – 1945) – amizade rompida em 1929-, alguns de seus companheiros na Semana de Arte Moderna em 1922, evento no qual teve  papel destacado. Além de ter sido um de seus organizadores, leu trechos de seu romance Os Condenados, sob as vaias do público. Os Condenados foi o primeiro volume da Trilogia do Exílio, o segundo e o terceiro foram A Estrela de Absinto (1927) e A Escada Vermelha (1934). Em 1975, foi adaptado para o cinema por Zelito Viana (1938-).

Oswald lançou mais tarde seus programas estéticos no Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924) e no Manifesto Antropófago (1928). Deixou obras marcantes como O Perfeito Cozinheiro das Almas deste Mundo (1918), diário coletivo composto por ele e por amigos que frequentaram a garçonnière do escritor na rua Líbero Badaró, entre 1917 e 1918; Memórias Sentimentais de João Miramar (1924), Serafim Ponte Grande (1933), Marco Zero, a Revolução Melancólica (1943) e Chão (1945), além de peças como O Homem e o Cavalo (1934) e O Rei da Vela e A Morta, ambas de 1937. Trabalhou em vários jornais, dentre eles o Correio Paulistano, o Diário Popular e o Jornal do Commercio, tendo fundado o semanário O Pirralho, em 1911. Em 1920, com o poeta Menotti del Picchia (1892 – 1988), fundou o periódico Papel e Tinta; e, com Patricia Galvão, a Pagu (1910 – 1962), com quem era casado na época, o semanário O Homem do Povo, em 1931. 

 

 

Foi um dos colaboradores da revista Klaxon, divulgadora do Modernismo no Brasil, que foi publicada entre 15 de maio de 1922 e janeiro de 1923; e da Revista da Antropofagia, que circulou entre maio de 1928 e agosto de 1929.

 

klaxon2

 

Viveu com a francesa Henriette Denise Boufflers (c. 1895 -19?), que havia conhecido em uma viagem à Europa, em 1912. Durante esse viagem, conheceu as ideias artísticas sugeridas pelo Manifesto Futurista do poeta italiano Marinetti (1876 – 1944). Com Henriette, que apelidou de Kamiá, teve, já no Brasil, seu primeiro filho, o futuro artista José Oswald Antônio de Andrade (1914 – 1972), conhecido como Nonê de Andrade. Separou-se de Kamiá em 1916. Em 1922, começou a namorar a artista plástica Tarsila do Amaral (1886 – 1973), com quem se casou em 30 de outubro de 1926, tendo como padrinhos o exportador de café Paulo da Silva Prado (1869 – 1943) e Olivia Guedes Penteado (1872 – 1934), grandes incentivadores do Modernismo no Brasil; Washington Luis (1869 – 1957), que tomou posse como presidente da República, cerca de 15 dias depois; e Carlota Inglez de Souza (Correio Paulistano, 31 de outubro de 1926, quinta coluna). Com Tarsila, Anita Malfatti (1889 – 1964), Mário de Andrade (1893 – 1945) e Menotti del Picchia (1892 – 1988), Oswald formou o Grupo dos Cinco, que agitou culturalmente São Paulo com reuniões, festas e conferências. Em 1928, Tarsila deu de presente a Oswald um quadro que tornou-se icônico: o Abaporu, que significa homem que come carne humana, o antropófago. Oswald, então, escreveu o Manifesto Antropófago e inaugurou o Movimento Antropofágico. O casal se separou em 1929.

 

 

Em 1930, Oswald passou a viver com a revolucionária escritora Patrícia Galvão (1910 – 1962), conhecida como Pagu. A união foi consolidada no Cemitério da Consolação, em São Paulo, diante do jazigo da família do escritor, em 5 de janeiro de 1930. Tiveram um filho, o futuro cineasta e escritor Rudá de Andrade (1930 – 2009), e viveram juntos até 1935. Oswald se casou pela última vez, em 1944, com Maria Antonieta D’Alkmin (? – 1969), com quem teve sua única filha, a pesquisadora e artista Antonieta Marília (1945-); e Paulo Marcos (1948 – 1968). Outras mulheres marcantes em sua vida foram as dançarinas Landa Kosbach, que mais tarde adotou o nome artístico Carmen Lydia (c. 1900 – 1992); e Isadora Duncan (1877 – 1927); Maria de Lourdes Castro (c. 1900 – 1919), chamada Deisi, a Miss Cyclone, com quem se casou in extremis dias antes da morte dela; e a poetisa e pintora Júlia Bárbara (1908 – 2005).

Publicou o primeiro volume das suas memórias, Um Homem sem Profissão: sob as ordens da mamãe, pouco antes de falecer, em 22 de outubro de 1954, em São Paulo (Revista da Semana23 de outubro e 13 de novembro de 1954). …no bocadinho que lhe coube de papel jornal, dois dias depois, ali estava Di Cavalcanti bradando na beira do túmulo do escritor, no cemitério da Consolação, que o “natural anarquismo” de Oswald ainda daria uma grande banana para os que o deixaram de lado (Folha de São Paulo, 22 de outubro de 2004).

Definia-se como um vira-latas do modernismo (Manchete, 19 de julho de 1975). Talvez por seu temperamento radical e seu gosto por zombarias – perdia um amigo mas não perdia a piada, dentre eles Mário de Andrade -, alguns de seus livros ficaram anos sem uma segunda edição: Memórias Sentimentais de João Miramar, de 1924, só foi reeditado em 1964; e Serafim Ponte Grande, de 1933, apenas em 1971. Sua peça O Rei da Vela, de 1937, só foi encenada em 1967.

É de autoria de Jorge de Castro a fotografia de Oswald publicada neste artigo.

 

Pequeno perfil do fotógrafo Jorge de Castro (19? – ?)

 

“Fundamentalmente realista, amando as visões da vida, ele as interpreta, porém, captando o momento e o ângulo rico ou compondo o ambiente em que a realidade capitula diante da luz e se converte numa expressão sugestiva e bela”.

Mário de Andrade sobre Jorge de Castro na crônica O homem que se achou,

primeira quinzena de 1940

 

 

A imagem de Oswald de Andrade (1890 – 1954) exibida neste artigo foi produzida pelo fotógrafo Jorge de Castro, na década de 40. Muito bem relacionado e inserido na cena cultural e social carioca, no mesmo período, retratou diversas outras personalidades importantes como o político e escritor Afonso Arinos de Mello Franco (1905 – 1990), o escultor Bruno Giorgi (1905 – 1993), o dramaturgo Guilherme Figueiredo (1915 – 1997), os poetas Augusto Frederico Schmidt (1906 – 1965), Manuel Bandeira (1886 – 1968), Murilo Mendes (1901 – 1975), Olegário Mariano (1889 – 1958) e Raul Bopp (1898 – 1984); o paisagista e artista plástico Roberto Burle Marx (1909 – 1994), o músico Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959) e os arquitetos e irmãos Marcelo (1908 – 1964), Milton (1914 – 1953) e Maurício Roberto (1921 – 1996).

Jorge de Castro estudou pintura na Europa e, na Inglaterra, andou metido em teatro e cinema. Ao retornar ao Brasil juntou-se ao grupo do pintor Cândido Portinari (1903 – 1962) e frequentou a Faculdade de Direito, que abandonou no terceiro ano, passando a se dedicar unicamente à fotografia. Registrou paisagens do interior e das capitais do Brasil, além de, como já mencionado, ter fotografado pessoas importantes da sociedade e do cenário cultural nacional.

Foi, durante o Estado Novo (1937 – 1946) –  regime politico instaurado pelo presidente Getulio Vargas (1882 – 1954) -, um dos fotógrafos do Departamento de Imprensa e Propaganda, ao lado de profissionais como o engenheiro Epaminondas Vieira de Macedo, que também fotografou para o SPHAN; e do francês Jean Manzon (1915 – 1990), contratado pelo O Cruzeiro, em 1943, e responsável por um novo modelo de linguagem fotográfica na revista.

Em 1938, foi um dos fundadores do grupo teatral Os Independentes, que passou a dirigir, em 1940, ao lado da atriz Luisa Barros Leite, do ator Brutus Pedreira, do crítico e escritor Gustavo Dória (1910- 1979) e do artista plástico paraibano Tomás Santa Rosa (1909 – 1956). A companhia foi rebatizada de Os Comediantes e passou, em 1943, a ser dirigida pelo escritor Aníbal Machado (1894 – 1964), cunhado de Jorge de Castro (Sombra, outubro de 1946).

 

“Procurando na aparência dos objetos e dos seres o seu momento de transfiguração poética, o artista vai registrando, ora um ramo que o vento verga, ora a superfície rugada de um velho muro, ou a dura face de um homem”.

Tomás Santa Rosa sobre Jorge de Castro

 

Em 1939, Castro fez uma exposição de seus trabalhos no Palace Hotel do Rio de Janeiro. Na década de 40, trabalhou como fotógrafo e cinegrafista da Marinha.

 

 

Mário de Andrade (1893 – 1945) fez na crônica O Homem que se achou, que era Jorge de Castro, escrita na primeira quinzena de janeiro de 1940, considerações acerca de fotografia, que apreciava muito, e, sobretudo, sobre a mencionada exposição de Castro, em que figuravam uma série de retratos de intelectuais brasileiros, paisagens de fotografia “de gênero”, para me utilizar da terminologia da pintura.

Foi uma fotografia de Cândido Portinari (1903 – 1962) de autoria de Castro que ilustrou a capa do boletim do Museu de Arte Moderna de Nova York, em outubro de 1940, ocasião em que foi realizada um exposição do pintor no MoMa.

 

 

Quando a revista Sombra, dirigida por Walter Quadros (?-1962), foi lançada, em dezembro de 1940, Jorge de Castro era o secretário e o fotógrafo da publicação. No primeiro número, foi o responsável pelas imagens de diversas matérias, dentre  elas Ventalma, onde os versos de Mário de Andrade (1893 – 1945) foram interpretados pela bailarina Nini Theilade (1915 – 2018), do Balé Russo de Montecarlo. Na mesma edição suas fotos foram publicadas nas matérias The honorable Jefferson CafferySnra. Lourival Fontes, a poetisa que se assigna Adalgisa Nery, e De Tom Mix a Vivien Leigh.

Passou muito tempo com Lincoln Kirstein (1907 – 1956), importante figura da cena cultural novaiorquina e co-fundador do New York City Ballet, quando este visitou o Brasil, em 1942, como consultor de arte latino-americana, enviado para adquirir obras para o Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMa . Foi Castro que apresentou Kirstein aos pintores Guignard (1896 – 1962), Edith Behring (1916 – 1996), José Bernardo Cardoso Júnior (1861 – 1947) e Tomas Santa Rosa.

Kirstein deu a ele dinheiro para que concluísse um filme sobre a Academia Naval e escreveu ao empresário norte-americano Nelson Rockfeller (1908 – 1979), em 24 de junho de 1942:

“Jorge de Castro: você pode contatá-lo sem embaraço. Um bom amigo de Carlos Lacerda. É considerado uma piada. Ele se parece com um cogumelo. É de excelente família, é conhecido como fotógrafo. Na verdade é um excelente operador cinematográfico, e conhece detalhes a respeito do Brasil que ninguém sabe. Ele é corajoso e foi o primeiro a ajudar Portinari, o que P. agora tende a esquecer. Eu sugiro que você peça a ele para lhe mostrar filmes da Academia Navale e você talvez possa ir lá. Ele é sensacional. Jorge é um pequeno inseto anônimo – mas é o máximo. Ele tirou fotos da Conferência do Rio. Amigo de Queiroz Lima, do secretariado pessoal de Aranha”.

Em 1943, uma comissão de cineastas norte-americanos de Hollywood incorporados ao Office Stratic Service da Marinha de Guerra dos Estados Unidos, a convite do governo brasileiro, visitou São Paulo, para fazer um levantamento das possibilidades do Brasil  no esforço de guerrra das Nações Unidas. Castro era o representante do Ministério da Marinha do Brasil. No ano seguinte, como cinematografista do Ministério da Marinha seguiu para Belém, da onde iria para os Estados Unidos trabalhar em um filme sobre o nosso esforço de guerra, que fará parte de um filme de longa-metragem sobre a luta das Nações Unidas, que está sendo dirigido pelo Sr. John Ford (O Estado de São Paulo, 10 de junho de 1943 e  1º de julho de 1944).

Em 1945, acompanhou o cinegrafista Gregg Tolland (1904 – 1948), em visita ao Brasil. Ele foi o fotógrafo de diversos filmes de sucesso, dentre eles Os Miseráveis (1935), O Morro dos Ventos Uivantes (1939), pelo qual ganhou o Oscar; As Vinhas da Ira (1940), Cidadão Kane (1941) e Os Melhores Anos de Nossas Vidas (1946), dentre outros.

Foi também o fotógrafo do semanário ilustrado Política e Letras, lançado em 24 de julho de 1948, no Rio de Janeiro. O diretor responsável pela publicação era Odylo Costa Filho (1914 – 1979) e dentre seus colaboradores estavam Alceu Amoroso Lima (1893 – 1983), Carlos Drumond de Andrade (1902 – 1987) e Érico Veríssimo (1905 – 1975). Foi o fotógrafo das reportagem Uma Luz nas Trevas – O Farol da Ilha Rasa, assinada por Antônio Rangel Bandeira; e de Um veleiro faz-se ao mar, com Franklin de Oliveira (O Cruzeiro, 26 de março de 1949; 23 de abril de 1949).

Era filho de Vital de Castro e de Maria da Glória Moura de Castro e irmão da pianista Maria Antônia de Castro Massé, de Ari de Castro, de Mário de Castro, de Vital de Castro Filho e de Luisa de Castro Machado, casada com Anibal Machado (1894 – 1964) (O Estado de São Paulo, 4 de dezembro de 1946). Era casado com Maria do Carmo de Castro, com quem teve os filhos Maria Cristina e Vital.

 

 

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(1) Carta de Mário de Andrade a Tarsila do Amaral, na época casada com Oswald de Andrade, marcando a ruptura entre os escritores. Oswald tentou várias vezes uma reconciliação, sem sucesso.

“São Paulo, 4 de julho de 1929

Tarsila, espero que esta carta seja lida confidencialmente apenas por você e Oswaldo pois que só a você é dirigida.

Acabo de receber por Anita o convite que você me faz e que, feito com o desprendimeno e o coração maravilhoso de você, inda mais me entristece. Mas eu não o posso aceitar. Por isso mesmo que a elevação de amizade sempre existida entre você, Osvaldo, Dulce e eu foi das mais nobres e tenho a certeza que das mais limpas, tudo ficou embaçado pra nunca mais. É coisa que não se endireita, desgraçadamente para mim.

Mas devo confessar a você que sob o ponto-de-vista de amizade, único que me pode interessar como indivíduo, nada, absolutamente nada se acabou em mim. Se deu apenas uma como que transposição de planos, e aqueles que faziam parte da minha objetividade cotidiana, continuaram amigos nessa espécie de ambiente de anjo em que o espírito da gente descansa mais, povoado de retratos bons. E então eu, que não fui feito para esquecer, não será possível jamais que eu me esqueça de ninguém nem de nada. Nenhum sentimento desagradável permanece em mim e se acaso alguém confiar a você alguma queixa ou acusação feita por mim contra quem quer que seja de sua família, eu garanto que mente. Pedi aos meus companheiros de vida e até a amigos que nem Couto de Barros, que não me falassem em certos assuntos.

Apenas, Tarsila: esses assuntos existem. E como os podemos esquecer, vocês e eu, que todos conservamos nosso passado comum? E quanto a mim, Tarsila, esses assuntos, criados por quem quer que seja (essas pessoas não me interessam), como será possível imaginar que não me terão ferido crudelíssimamente? Asseguro a vocês – tenho todo o meu passado como prova e vocês me conhecem espero que bem – que as acusações, insultos, caçoadas feitos a mim não podem me interessar. Já os sofri todos mais vezes e sempre passando bem. E nem uma existência como a que eu levo pode se libertar deles. Desque resolvi publicar Paulicéia, de que um só poema exposto provocara o maior enxurro de estupidez e presumidos insultos de que se enaltece a história literária brasileira, desde então me revesti dessa contemplatividade cínica que nos permite, sem inquietar a sinceridade com que caminhamos pra realização de nós mesmos, passarmos incólumes no meio de certos heróis. Não me atingem e, de resto, não os leio. 

Mas não posso ignorar que tudo foi feito na assistência dum amigo meu. Isso é que me quebra cruelmente, Tarsila, e apesar de meu orgulho enorme, não tenho força no momento que me evite de confessar que ando arrasado de experiência.

Eu sei que fomos todos vítimas de um ventarrão que passou. Passou. Porém a árvore caiu no chão e no lugar duma árvore tamanha não nasce mais. É impossível.

Eu peço a vocês licença pra cumprimentá-los quando nos encontrarmos. Assim como desta carta e do que a motiva ninguém saberá por mim, tenho certeza que corações nobres como os de vocês hão-de sentir esse pudor de não dar azo a que os outros façam de nós e dum passado tão lindo nosso, o assunto deles.

Peço mais que me recomende respeitosamente aos de sua família e enumero uma carícia toda especial a Dulce que no meu mundo faz parte do Sol.

E paro porque afinal tudo isso é muito triste e pouco digno dos seus olhos e coração que só podem merecer felicidade.

Respeitosamente

Mário de Andrade”

 

 

(2)                                          Programação da Semana de Arte Moderna em 1922

 

 Catálogo com as atrações da exposição de arte realizada no saguão do Teatro Municipal de São Paulo

ARCHITECTURA

ANTONIO MOYA

1- Entrada do Templo.

2 – Templo.

3 –      “

4 – Monumento.

5 – Pantheon.

6 – Templo.

7 – Casa do poeta.

8 – Residência (planta e fachada).

9 –         ”                 ”        ”     “

10 –       ”                 ”        ”     “

11 –        ”                 ”        ”     “

12-        ”                 ”        ”     “

13 – Volume architectonico.

14 – Entrada.

15 – Cariathyde.

16 – Fonte.

17 – Tumulo.

18 – Tumulo.

GEORG PRSIREMBEL

19 – Taperinha na praia grande (Maquette e planta).

ESCULPTURA

VICTORIO BRECHERET

1 – Genio.

2 – Angelus.

3 – Soror dolorosa.

4 – Idolo.

5- O regresso.

6 – Pietá.

7 – Cabeça de mulher.

8 – Cabeça de Christo.

9 – Sapho.

10 – Torso.

11 – Baixo relevo.

12 – Victoria.

W. HAARBERG

13 – Nossa Senhora (madeira).

14 – Mãe e filho (madeira).

15 –    ”     ”     ”             “

16 – Grupo (madeira).

17 – Pequenas esculpturas decorativas.

PINTURA

Anitta Malfatti

1- Estudante russa.

2 – O Homem amarello.

3 – O Fauno.

4 – O japonez.

5 – A mulher de cabellos verdes.

6 – A onda.

7 – A ventania.

8 – Rochedos.

9 – Casa de chá.

10 – Pedras preciosas.

11 – Penhascos.

12 – Flores amarellas.

13 – Impressão dividionista.

14 – O Homem das sete cores.

15 – Arvores japonezas

16 – Bahianas.

17 – Capa de livro.

18 – Christo.

19 – S. Sebastião.

20 – Moêmas.

DI CAVALCANTI

21 – Ao pé da cruz – painel para capella.

22 – O Homem do Mar – 1920.

23 – Café turco – 1917.

24 –     ”       ”      – 1921.

25 – Retrato.

26 – A Duvida.

27 – Intimidade.

28 –        ”

29 – Illustrações para um livro.

30 – Coqueteria.

31 – Bohemios.

32 – A piedade da inerte.

J. GRAZ

33 – Missa no tumulo.

34 – S. Francisco fallando aos passaros.

35 – Retrato do Ministro G.

36 – Natureza morta.

37 –          ”             ”

38 – Paysagem Suissa.

39 – Paysagem de Espanha.

40 –           ”         ”        ”

MARTINS RIBEIRO

41 – Tedio.

42 –    ”

43 – Desenho.

44 –       ”

ZINA AITA

45 – A sombra.

46 – Estudo de cabeça.

47 – Paysagem decorativa.

48 – Mascaras Sianezas.

49 – Aquarium.

50 – Figura.

51 – Painel decorativo.

52 – 25 impressões.

J.F. DE ALMEIDA PRADO

53 – Dois desenhos.

FERRIGNAC

54 – Natureza dadaista.

VICENTE REGO MONTEIRO

55 – Retrato de Ronald de Carvalho.

56 – Retrato.

57 – Retrato.

58 – Cabeças de Negras.

59 – Cabeça Verde.

60 – Baile no Assyrio.

61 – Lenda Brasileira.

62 – Lenda Brasileira.

63 – Cubismo.

64 – Cubismo.

 

Grandes Festivais

Primeiro Festival – 2ª feira, 13 de fevereiro

1ª parte

CONFERÊNCIA DE GRAÇA ARANHA

“A emoção estética na arte moderna”, ilustrada com música executada por Ernani Braga e poesia por Guilherme de Almeida e Ronald de Carvalho.

Música de câmara Villa-Lobos

1. “Sonata II” de violoncelo e piano / 1916

a. Allegro moderato

b. Andante

c. Scherzo

d. Allegro Vivace sostenuto e finale

Alfredo Gomes e Lucilia Villa-Lobos

2. “Trio Segundo”: violino, violoncelo e piano / 1916

a. Aleggro moderato

b. Andantino calmo (Berceuse-Barcarola)

c. Scherzo-spiritoso

d. Molto allegro e finale

Paulina d´Ambrosio, Alfredo Gomes e Frutuoso de Lima Vianna

2ª parte

CONFERÊNCIA DE RONALD DE CARVALHO

“A pintura e a escultura moderna no Brasil”

3. Solos de piano: Ernani Braga

a. 1917 / “Valsa mística” (da Simples coletânea)

b. 1919 / “Rodante” (da Simples coletânea)

4. Otteto: Três danças africanas

a. “Farrapós” / (“Dança dos moços”) / 1914

b. “Kankukus” / (“Dança dos velhos”) / 1915

c. “Kankikis” (“Dança dos meninos”) / 1916

Violinos Paulina d´Ambrosio, George Marinuzzi

Alto Orlando Frederico

Violoncelos Alfredo Gomes

Basso Alfredo Carazza

Flauta Pedro Vieira

Clarino Antão Soares

Piano Frutuoso de Lima Vianna

 

Segundo Festival – 4ª feira, 15 de fevereiro

1ª parte

1. PALESTRA DE MENOTTI DEL PICCHIA

Ilustrada com poesias e trechos de prosa por Oswald de Andrade, Luís Aranha, Sérgio Milliet, Tácito de Almeida, Ribeiro Couto, Mário de Andrade, Plínio Salgado, Agenor Barbosa e dança pela senhorinha Yvonne Daumerie.

2. SOLOS DE PIANO: GUIOMAR NOVAES

a. E.R. Blanchet: “Au jardin du vieux sérail” (Andrinople)

b. H. Villa-Lobos: “O Ginete do Pierrozinho”

c. C. Debussy: “La soirée dans Grenade”

d. C. Debussy: “Minstrels”

2ª parte

1 – RENATO ALMEIDA

Perennis Poesia

2. CANTO E PIANO

Frederico Nascimento Filho e Lucília Villa-Lobos

a. 1919 / “Festim Pagão

b. 1920 / “Solidão”

c. 1917 / “Cascavel

3. QUARTETO TERCEIRO (CORDAS – 1916)

a. Allegro giusto

b. Scherzo satirico (pipocas e patocas)

c. Adagio

d. Allegro con fuoco e finale

Violinos Paulina d´Ambrosio – George Marinuzzi

Alto Orlando Frederico

Violoncelos Alfredo Gomes

Terceiro Festival – 6ª feira, 17 de fevereiro

1ª parte

1. VILLA-LOBOS

1. “Trio Terceiro” / violino, violoncelos e piano / 1918

a. Allegro con moto

b. Moderato

c. Allegretto spiritoso

d. Allegro animato

Paulina d´Ambrosio, Alfredo Gomes e Lucília Villa-Lobos

2. CANTO E PIANO:

MÁRIO EMMA E LUCÍLIA VILLA-LOBOS

“Historietas” de Ronald de Carvalho / 1920

a. “Lune d´octobre”

b. ‘Voilà la vie”

c. “Jouis sans retard, car vite s´ecoule la vie”

3. “SONATA SEGUNDA / VIOLINO E PIANO / 1914

a. Allegro non troppo

b. Largo

c. Allegro rondó / Prestíssimo finale

Paulina d´Ambrosio e Frutuoso Vianna

2ª parte

VILLA-LOBOS:

4 – SOLOS DE PIANO: ERNANI BRAGA

a. “Camponesa Cantadeira” / (da Suite floral) / 1916

b. “Num berço encantado” / (da Simples coletânea) / 1919

c. “Dança Infernal” / 1920

5. “QUARTETO SIMBÓLICO” / (IMPRESSÕES DA VIDA MUNDANA)

flauta, saxofônico, celesta ou piano

com vozes femininas em coro oculto / (1921)

a. Allegro non troppo

b. Andantino

c. Allegro, finale

Pedro Vieira, Antão Soares, Ernani Braga e Frutuoso de Lima Vianna

 

 (3)                                                               “A Propósito da Exposição Malfatti”

(O Estado de São Paulo, 20 de dezembro de 1917)

“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêem normalmente as coisas e em consequência disso fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. Quem trilha por esta senda, se tem gênio, é Praxíteles na Grécia, é Raphael na Itália, é Rembrandt na Holanda, é Rubens na Flandres, é Reynolds na Inglaterra, é Leubach na Alemanha, é Iorn na Suécia, é Rodin na França, é Zuloaga na Espanha. Se tem apenas talento vai engrossar a plêiade de satélites que gravitam em torno daqueles sóis imorredoiros. A outra espécie é formada pelos que vêem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência; são frutos de fins de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz de escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento. Embora eles se dêem como novos precursores duma arte a vir, nada é mais velho de que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranóia e com a mistificação. De há muito já que a estudam os psiquiatras em seus tratados, documentando-se nos inumerosos desenhos que ornam as paredes internas dos manicômios. A única diferença reside em que nos manicômios esta arte é sincera, produto ilógico de cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses; e fora deles, nas exposições públicas, zabumbadas pela imprensa e absorvidas por americanos malucos, não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma lógica, sendo mistificação pura.

Todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não dependem do tempo nem da latitude. As medidas de proporção e equilíbrio, na forma ou na cor, decorrem do que chamamos sentir. Quando as sensações do mundo externo transformam-se em impressões cerebrais, nós “sentimos”; para que sintamos de maneira diversa, cúbica ou futurista, é forçoso ou que a harmonia do universo sofra completa alteração, ou que o nosso cérebro esteja em “pane” por virtude de alguma grave lesão. Enquanto a percepção sensorial se fizer normalmente no homem, através da porta comum dos cinco sentidos, um artista diante de um gato não poderá “sentir” senão um gato, e é falsa a “interpretação” que o bichano fizer um “totó”, um escaravelho ou um amontoado de cubos transparentes.

Estas considerações são provocadas pela exposição da sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia. Essa artista possui um talento vigoroso, fora do comum. Poucas vezes, através de uma obra torcida para má direção, se notam tantas e tão preciosas qualidades latentes. Percebe-se de qualquer daqueles quadrinhos como a sua autora é independente, como é original, como é inventiva, em que alto grau possui um sem número de qualidades inatas e adquiridas das mais fecundas para construir uma sólida individualidade artística. Entretanto, seduzida pelas teorias do que ela chama arte moderna, penetrou nos domínios dum impressionismo discutibilíssimo, e põe todo o seu talento a serviço duma nova espécie de caricatura.

Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, impressionismo e “tutti quanti” não passam de outros tantos ramos da arte caricatural. É a extensão da caricatura a regiões onde não havia até agora penetrado. Caricatura da cor, caricatura da forma — caricatura que não visa, como a primitiva, ressaltar uma ideia cômica, mas sim desnortear, aparvalhar o espectador. A fisionomia de que sai de uma destas exposições é das mais sugestivas. Nenhuma impressão de prazer, ou de beleza denuncia as caras; em todas, porém, se lê o desapontamento de quem está incerto, duvidoso de si próprio e dos outros, incapaz de raciocinar, e muito desconfiado de que o mistificam habilmente. Outros, certos críticos sobretudo, aproveitam a vasa para “épater les bourgeois”. Teorisam aquilo com grande dispêndio de palavrório técnico, descobrem nas telas intenções e subintenções inacessíveis ao vulgo, justificam-nas com a independência de interpretação do artista e concluem que o público é uma cavalgadura e eles, os entendidos, um pugilo genial de iniciados da Estética Oculta. No fundo, riem-se uns dos outros, o artista do crítico, o crítico do pintor e o público de ambos.

Arte moderna, eis o escudo, a suprema justificação. Na poesia também surgem, às vezes, furúnculos desta ordem, provenientes da cegueira nata de certos poetas elegantes, apesar de gordos, e a justificativa é sempre a mesma: arte moderna. Como se não fossem moderníssimos esse Rodin que acaba de falecer deixando após si uma esteira luminosa de mármores divinos; esse André Zorn, maravilhoso “virtuose” do desenho e da pintura; esse Brangwyn, gênio rembrandtesco da babilônia industrial que é Londres; esse Paul Chabas, mimoso poeta das manhãs, das águas mansas, e dos corpos femininos em botão. Como se não fosse moderna, moderníssima, toda a legião atual de incomparáveis artistas do pincel, da pena, da água forte, da “dry point” que fazem da nossa época uma das mais fecundas em obras-prima de quantas deixaram marcos de luz na história da humanidade.

Na exposição Malfatti figura ainda como justificativa da sua escola o trabalho de um mestre americano, o cubista Bolynson. É um carvão representando (sabe-se disso porque uma nota explicativa o diz) uma figura em movimento. Está ali entre os trabalhos da sra. Malfatti em atitude de quem diz: eu sou o ideal, sou a obra prima, julgue o público do resto tomando-me a mim como ponto de referência.

Tenhamos coragem de não ser pedantes: aqueles gatafunhos não são uma figura em movimento; foram, isto sim, um pedaço de carvão em movimento. O sr. Bolynson tomou-o entre os dedos das mãos ou dos pés, fechou os olhos, e fê-lo passar na tela às pontas, da direita para a esquerda, de alto a baixo. E se não o fez assim, se perdeu uma hora da sua vida puxando riscos de um lado para o outro, revelou-se tolo e perdeu o tempo, visto como o resultado foi absolutamente o mesmo. Já em Paris se fez uma curiosa experiência: ataram uma brocha na cauda de um burro e puseram-n’o trazeiro voltado para uma tela. Com os movimentos da cauda do animal a broxa ia borrando a tela. A coisa fantasmagórica resultante foi exposta como um supremo arrojo da escola cubista, e proclama pelos mistificadores como verdadeira obra prima que só um ou outro raríssimo espírito de eleição poderia compreender. Resultado: o público afluiu, embasbacou, os iniciados rejubilaram e já havia pretendentes à tela quando o truque foi desmascarado. A pintura da sra. Malfatti não é cubista, de modo que estas palavras não se lhe endereçam em linha reta; mas como agregou à sua exposição uma cubice, leva-nos a crer que tende para ela como para um ideal supremo. Que nos perdoe a talentosa artista, mas deixamos cá um dilema: ou é um gênio o sr. Bolynson e ficam riscados desta classificação, como insignes cavalgaduras, a corte inteira dos mestres imortais, de Leonardo a Stevens, de Velasquez a Sorolla, de Rembrandt a Whistler, ou… vice-versa. Porque é de todo impossível dar o nome da obra de arte a duas coisas diametralmente opostas como, por exemplo, a Manhã de Setembro, de Chabas, e o carvão cubista do sr. Bolynson.

Não fosse a profunda sympatia que nos inspira o formoso talento da sra. Malfatti, e não viríamos aqui com esta série de considerações desagradáveis.

Há de ter essa artista ouvido numerosos elogios à sua nova atitude estética.

Há de irritar-lhe os ouvidos, como descortez impertinência, esta voz sincera que vem quebrar a harmonia de um coro de lisonjas. Entretanto, se refletir um bocado, verá que a lisonja mata e a sinceridade salva. O verdadeiro amigo de um artista não é aquele que o entontece de louvores, e sim o que lhe dá uma opinião sincera, embora dura, e lhe traduz châmente, sem reservas, o que todos pensam dele por detrás. Os homens têm o vezo de não tomar a sério as mulheres. Essa é a razão de lhes darem sempre amabilidades quando elas pedem opinião. Tal cavalheirismo é falso, e sobre falso, nocivo. Quantos talentos de primeira água se não transviaram arrastados por maus caminhos pelo elogio incondicional e mentiroso? E víssemos na sra. Malfatti apenas uma “moça que pinta”, como há centenas por aí, sem denunciar centelhas de talento, calar-nos-iamos, ou talvez lhe déssemos meia dúzia desses adjetivos “bombons” que a crítica açucarada tem sempre à mão em se tratando de moças. Julgamo-la, porém, merecedora da alta homenagem que é tomar a sério o seu talento dando a respeito da sua arte uma opinião sinceríssima, e valiosa pelo fato de ser o reflexo da opinião do público sensato, dos críticos, dos amadores, dos artistas seus colegas e… dos seus apologistas.

Dos seus apologistas sim, porque também eles pensam deste modo… por trás”.

M. L.

A crítica de Lobato foi mais tarde transformado em Paranóia ou Mistificação? e publicada no livro Ideias de Jeca Tatu, em 1919. 

 

 

Mulheres que participaram da programação da Semana de Arte Moderna

 

 

 

 

 

 

Pode ser que a pintora e decoradora Regina Gomide Graz (1897 – 1973), casada com o suíço John Graz, tenha participado do evento, mas o nome dela não consta no catálogo da exposição.

 

A Brasiliana Fotográfica agradece a colaboração de André Luis Câmara, poeta, jornalista e Doutor em Literatura pela PUC-RJ.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Acesse os 10 encontros do ciclo 1922: MODERNISMOS EM DEBATE, organizados por Ana Gonçalves Magalhães, Fernanda Pitta, Heloisa Espada, Horrana de Kássia Santoz, Helouise Costa e Valéria Piccoli – Instituto Moreira Salles, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e Pinacoteca -, realizados entre 29 de março e 13 de dezembro de 2021, com a participação de 41 convidados.

Acesse a crônica Mário presente, de Carlos Drummond de Andrade, publicada em 4 de junho de 1970, no Jornal do Brasil.

Acesse o artigo publicado, em 21 de novembro de 2022, na seção POR DENTRO DOS ACERVOS, do Instituto Moreira Salles, Mário de Andrade nos Arquivos IMS, de autoria de Elvia Bezerra.

 

Fontes:

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ANDRADE, Mário de. Macunaíma. São Paulo : Editora Martins, 1970.

ANDRADE, Mário de. Será o Benedito? São Paulo : Educ, 1992

AMARAL, Aracy (org). Correspondência entre Mário de Andrade e Tarsila do Amaral. São Paulo : Edusp, 2001.

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Catálogo da Sociedade de Etnografia e Folclore

CHIARELLI, Tadeu. Um jeca nos vernissages. São Paulo : Edusp, 1995.

COELHO, Fred. A Semana de Cem Anos. Texto  apresentado no ciclo de encontros “1922: Modernismos em debate”, promovido pelo Instituto Moreira Salles (IMS), em São Paulo, no dia 29 de março de 2021.

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Site Academia de Letras de São Paulo

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Site Casa Mário de Andrade

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TÉRCIO, Jason. Em busca da alma brasileira – Biografia de Mário de Andrade. Rio de Janeiro : Estação Brasil, 2019.

 

Links para os artigos já publicados da Série 1922 – Hoje, há 100 anos

Série 1922 – Hoje, há 100 anos I – Os Batutas embarcam para Paris, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 29 de janeiro de 2022

Série 1922 – Hoje, há 100 anos III – A eleição de Artur Bernardes e a derrota de Nilo Peçanha, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 1º de março de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IV – A primeira travessia aérea do Atlântico Sul, realizada pelos aeronautas portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicada em 17 de junho de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos V – A Revolta do Forte de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicada em 5 de julho de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VI e série Feministas, graças a Deus XI- A fundação da Federação Brasileira para o Progresso Feminino, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 9 de agosto de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VII – A morte de Gastão de Orleáns, o conde d´Eu (Neuilly-sur-Seine, 28/04/1842 – Oceano Atlântico 28/08/1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 28 de agosto de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 7 de setembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IX – O centenário do Museu Histórico Nacional, de autoria de Maria Isabel Lenzi, historiadora do Musseu Histórico Nacional, publicado em 12 de outubro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos X –  A morte do escritor Lima Barreto (1881 – 1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 1º denovembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos XI e série Feministas, graças a Deus XII 1ª Conferência pelo Progresso Feminino e o “bom” feminismo, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, antropóloga do Arquivo Nacional, publicado em 19 de dezembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.