No primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923)

 

O fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923) iniciou suas experiências com fotografia colorida, em 1912, utilizando as placas autocromos Lumière, primeiro processo industrializado para esse fim, lançado comercialmente pela fábrica francesa, em 1907. Dedicou-se à fotografia estereoscópica em cores e as primeiras imagens coloridas realizadas nesse período são diferentes das fotografias panorâmicas e de grandes obras públicas, produzidas por ele no século XIX e na primeira década do século XX. São imagens do interior de sua casa e de sua intimidade familiar, onde aparecem sua mulher Marie (c. 1849 – 1914), seu filho Julio (1881 – 1946), sua nora Claire (1888 – 1980) e seus dois netos, Gilberto (1908 – 2000) e Eduardo. Nesse momento, Ferrez também refez, em cores, algumas das fotografias de paisagens, edificações e monumentos que se tornaram clássicas em preto e branco, como a Pedra de Itapuca, vistas do Jardim Botânico, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro , o Palácio Monroe e a Pedra da Gávea, dentre outras.

 

 

Pouco menos de um ano após a morte de sua esposa Marie, em 28 de junho de 1914, Ferrez foi, em abril de 1915, para a Europa. Em Paris, estava, segundo sua correspondência com seus filhos, entusiasmado e distraindo-se com a realização de fotografias coloridas. Já em 1917, referindo-se ao prenúncio do inverno ainda em setembro, ele emitiu em uma carta a seus filhos um dos poucos comentários sobre sua atividade fotográfica na época: “adeus às fotografias coloridas”.

Acessando o link para as fotografias coloridas produzidas por Marc Ferrez disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Ferrez voltou ao Brasil, em fevereiro de 1920, e pouco depois de um ano, em maio de 1921, partiu do Rio de Janeiro, rumo à França, onde permaneceu até agosto de 1922. Em Paris, instalou-se no Hotel Brebant. Em correspondência com Malia Frucht Ferrez (1890 – 1953), casada com seu filho Luciano Ferrez (1884 – 1955), Marc contou que havia produzido belas fotografias de flores, em sua visita ao roseiral do Parque de La Bagatelle, no Bois de Boulogne, local que frequentava enquanto Luciano e Malia estavam com ele em Paris, em 1919.

 

 

São alguns desses registros em cores produzidos no Rio de Janeiro e na Europa, que a Brasiliana Fotográfica destaca para celebrar com as cores de Ferrez a chegada da primavera, que se inicia hoje às 17h02 e termina em 21 de dezembro de 2017, às 13h28.

 

 

 Pequeno perfil de Marc Ferrez

 

 

Marc Ferrez  foi um brilhante cronista visual das paisagens e dos costumes cariocas da segunda metade do século XIX e do início do século XX. Sua vasta e abrangente obra iconográfica se equipara a dos maiores nomes da fotografia do mundo. Estabeleceu-se como fotógrafo com a firma Marc Ferrez & Cia, em 1867, na rua São José, nº 96, e logo se tornou o mais importante profissional da área no Rio de Janeiro. Cerca de metade da produção fotográfica de Ferrez foi realizada na cidade e em seus arredores, onde registrou, além do patrimônio construído, a exuberância das paisagens naturais.

Ferrez nasceu em 7 de dezembro de 1843, no Rio de Janeiro, cidade onde também faleceu, em 12 de janeiro de 1923. Foi o sexto e último filho de Zépherin (Zeferino) Ferrez (31/07/1797 – 22/07/1851) e Alexandrine Caroline Chevalier (18? – 1851). Seu pai, o escultor e gravador francês Zeferino, e seu tio Marc (Marcos) Ferrez (14/09/1788 – 31/03/1850), também escultor, chegaram ao Rio de Janeiro, via Nova York, conforme informado nos livros da polícia de Registros Estrangeiros guardados no Arquivo Nacional. Eram formados pela Escola de Belas Artes de Paris e passaram a integrar a Missão Francesa, um dos marcos do desenvolvimento das artes no Brasil, que havia se instalado na cidade em 1816, chefiada por Joachim Le Breton (1760 – 1819).

 

Acessando o link para as fotografias de Marc Ferrez disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Colaboraram nessa pesquisa Ileana Pradilla Ceron e Mariana Newlands, ambas da equipe do Instituto Moreira Salles.

Acesse aqui “Ferrez em cores”, com texto de Mariana Newlands, edição de Laura Liuzzi e narração de Guilherme Freitas, publicado pelo Instituto Moreira Salles, em 24 de maio de 2020.*

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

*Esse link foi inserido nessa publicação em 27 de maio de 2020.

 

Publicações da Brasiliana Fotográfica em torno da obra do fotógrafo Marc Ferrez 

 

O Rio de Janeiro de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 30 de junho de 2015

Obras para o abastecimento no Rio de Janeiro por Marc Ferrez , de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 25 de janeiro de 2016

O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2016

Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de autoria de Sérgio Burgi, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de dezembro de 2016

Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica,  publicada em 29 de junho de 2018

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlop, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 20 de julho de 2018

Uma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2018 

Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de abril de 2019

Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de agosto de 2019

Celebrando o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 4 de dezembro de 2019

Uma homenagem da Casa Granado ao imperial sob as lentes de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de fevereiro de 2020

Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado 6 de março de 2020

Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 16 de março de 2020

Bambus, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2020

O Baile da Ilha Fiscal: registro raro realizado por Marc Ferrez e retrato de Aurélio de Figueiredo diante de sua obra, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 9 de novembro de 2020

O Palácio de Cristal fotografado por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 2 de fevereiro de 2021

A Estrada de Ferro do Paraná, de Paranaguá a Curitiba, pelos fotógrafos Arthur Wischral (1894 – 1982) e Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 22 de março de 2021

Dia dos Pais – Julio e Luciano, os filhos do fotógrafo Marc Ferrez, e outras famílias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 6 de agosto de 2021

No Dia da Árvore, mangueiras fotografadas por Ferrez e Leuzinger, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 21 de setembro de 2021

Retratos de Pauline Caroline Lefebvre, sogra do fotógrafo Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 28 de abril de 2022

A Serra dos Órgãos: uma foto aérea e imagens realizadas pelos mestres Ferrez, Leuzinger e Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2022

O centenário da morte do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de janeiro de 2023

O Observatório Nacional pelas lentes de Marc Ferrez, amigo de vários cientistas, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de maio de 2023

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a potente imagem da Cachoeira de Paulo Afonso, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2023

A Fonte Adriano Ramos Pinto por Guilherme Santos e Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 18 de julho de 2023

Os 180 anos de nascimento do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 7 de dezembro de 2023

 

 

Notícia da viagem do fotógrafo Albert Frisch (31/05/1840 – 30/05/1918) à Amazônia

 

Christoph Albert Frisch (1840 – 1918) foi o fotógrafo responsável pela impressionante e pioneira série de 98 fotografias realizadas em 1867 na Amazônia: foram os primeiros registros que chegaram até nós de índios brasileiros da região, além de aspectos de fauna e flora e de barqueiros de origem boliviana que atuavam como comerciantes itinerantes nos rios amazônicos. Ele seguiu, comissionado pelo editor e fotógrafo Georges Leuzinger (1813 – 1892), considerado um dos mais importantes fotógrafos e difusores para o mundo da fotografia sobre o Brasil no século XIX, além de pioneiro das artes gráficas no país, para quem trabalhava, com os engenheiros alemães Joseph e Franz Keller (1835 – 1890), pai e filho, respectivamente. Este último casou-se, em 1867, com Sabine (1842 -1915), filha de Leuzinger ( 1813 – 1892). Partiram em 15 de novembro de 1867, a bordo do paquete Paraná. Frisch levou um escravizado, e a esposa de Franz e a filha de Joseph também estavam no navio (Diário do Povo, de 15 de novembro de 1867, primeira coluna).

Acessando o link para as fotografias de Christoph Albert Frisch disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Albert Frisch acompanhou os engenheiros somente até Manaus … percorreu 400 léguas pelo rio Amazonas e seus afluentes durante 5 meses…, num barco acompanhado por dois remadores, desde Tabatinga até Manaus. Produziu, na ocasião, uma pioneira série de 98 fotografias com os primeiros registros que chegaram até nós de índios brasileiros da região, além de aspectos de fauna e flora e de barqueiros de origem boliviana, que atuavam como comerciantes itinerantes nos rios amazônicos.

Seu retorno ao sul do Brasil, a bordo do vapor Cruzeiro do Sul, está registrado no Jornal Pedro II, de 24 de novembro de 1868, quarta coluna.

As imagens produzidas por Frisch durante a viagem à Amzônia, copiadas em papel albuminado, foram comercializadas com sucesso pela Casa Leuzinger a partir do catálogo Resultat d’une expédition phographique sur le Solimões ou Alto Amazonas et Rio Negro.

 

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Foi Frisch o autor das primeiras fotografias dos tipos indígenas brasileiros em seu próprio habitat conhecidas até hoje e, em sua produção fotográfica, reforçava a ideia de uma Amazônia selvagem e exótica. Ele anexava às imagens informações tais como relações de parentesco e status social dos líderes indígenas fotografados. Na época, esses registros eram muito valorizados por estudiosos de etnografia europeus e por viajantes estrangeiros em geral.

Segundo Pedro Karp Vasquez (1954 – ), Frisch tinha uma grande habilidade técnica, que usou para contornar problemas impossíveis de serem solucionados com o equipamento de que dispunha na época: obter exposição e focos simultaneamente perfeitos tanto do retratado no primeiro plano quanto da paisagem ribeirinha ao fundo. Segundo Karp, empregando “… um astucioso estratagema para realizar os retratos de índios na região do Alto Solimões…”,  Frisch fotografava seus modelos diante de um fundo neutro e produzia separadamente algumas vistas para compor o segundo plano. Para produzir as cópias fotográficas, combinava os dois negativos, alcançando assim o resultado desejado.

 

 

Como mencionado anteriormente, até hoje as fotografias dos índios da região norte do Brasil produzidas por Frisch são consideradas as primeiras que se conhece, apesar de antes dele, em 1843,  o fotógrafo norte-americano Charles DeForest Fredricks (1823 – 1894) ter viajado pelos rios Orenoco e Amazonas. Nessa expedição, alguns daguerreótipos teriam sido produzidos, porém perdidos. Segundo Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, “… houve ainda o trabalho de fotografia antropométrica, em sua maioria de mestiços da região amazônica, realizado em 1865 – 1866 por Walter Hunnewell em Manaus, a pedido de Louis Agassiz, da Expedição Thayer, hoje arquivados num museu da Universidade de Harvard. O casal Agassiz publicou sua obra A Journey in Brazil em 1868 e dela constam reproduções xilográficas de algumas fotografias de Leuzinger, duas fotos de índios feitas pelo ‘Dr. Gustavo, of Manaos’, mas nenhuma de Frisch”.

Até o final do século XX, o alemão Albert Frisch, que nasceu em Augsburgo, em 31 de maio de 1840, e faleceu em Berlim, em 30 de maio de 1918, era um personagem misterioso na história da fotografia. Segundo o site do Instituto Moreira Salles, “…o estudo dos documentos reunidos pela família Leuzinger, doados ao IMS em 2000, e a posterior localização de Klaus Frisch, neto do fotógrafo, pelo pesquisador Frank Stephan Kohl, permitiram reconstituir a trajetória de Frisch”. Antes de vir para o Rio de Janeiro, em torno de 1864, havia estado em Buenos Aires, na Argentina, e em Asunção, no Paraguai. Voltou definitivamente para a Alemanha, após passagens pela França e pelos Estados Unidos, em 1872.

 

Cronologia de Christoph Albert Frisch (1840 – 1918)

 

1840Christoph Albert Frisch nasceu em Augsburgo, na Baviera, na região sul da Alemanha, em 31 de maio, filho de Johanes Nepomuk Frisch e Auguste Korber. Seu pai possuia uma tecelagem e vários imóveis e era sócio de Eberhard Rugendas, possivelmente parente do desenhista Moritz Rugendas (1802 – 1858), também nascido em Augsburgo, que esteve no Brasil e produziu uma importante obra iconográfica do país.

Nos anos 1840, as empresas de seu pai foram à falência.

1849 – Devido à morte de sua mãe, foi criado, assim como seus irmãos homens, em um orfanato na Francônia. As irmãs foram entregues pelo pai a uma tia materna.

Final da década de 1850 – Foi trabalhar como confeiteiro.

Frisch partiu para Munique, capital da Bavária, onde começou a trabalhar no comércio de arte, na loja de Friedrich Gypen.

1861 – Com o apoio de seu empregador, trabalhou como aprendiz na litografia do impressor e editor Adolphe Goupil (1803 – 1893), em Paris.

Partiu para Buenos Aires, capital da Argentina, onde chegou por volta de 13 de dezembro. Tentou, sem sucesso, se estabelecer como comerciante de estampas de imagens religiosas, inspirado pela grande quantidade de imagens religiosas que goupil exportava para a América do Sul.

 

 

Trabalhou, então, na região dos Pampas, como professor particular e gerente de um criador de gado alsaciano.

1862 – Frisch retornou a Buenos Aires onde, aos 23 anos, começou sua carreira de fotógrafo, quando o alemão W. Raabe, que ele havia conhecido em uma taverna, o recomendou para seu empregador, o norte-americano Arthur Therry, dono de um renomado estúdio fotográfico, na calle Florida, 70,onde a alta sociedade argentina era retratada. As fotografias produzidas por Frisch nesse período não são conhecidas, mas segundo ele, teria retratado as sobrinhas do ditador argentino Juan Manuel Rozas (1793 – 1877).

1863 – Poucos meses depois, Frisch foi para o Paraguai abrir um estúdio fotográfico, em Assunção, a pedido do próprio presidente do país, Solano Lopez (1827- 1870), que havia estado em Buenos Aires, no ano anterior, com sua esposa, a irlandesa Elisa Lynch (1833 – 1866), e seus dois filhos. Na ocasião, havia visitado o estúdio de Terry, onde conheceu Frisch.

c. 1864 – Provavelmente, devido à Guerra do Paraguai, Frisch foi para o Rio de Janeiro.

1865 - Começou a trabalhar no recém-inaugurado setor de fotografia da Casa Leuzinger, no Rio de Janeiro, cujo proprietário era o editor e fotógrafo suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892), considerado um dos mais importantes fotógrafos e difusores para o mundo da fotografia sobre o Brasil no século XIX, além de pioneiro das artes gráficas no país.

1866 - Encontrava-se na Europa.

1867 – Viajou ao Pará, comissionado por Leuzinger para acompanhar uma expedição liderada pelo engenheiro alemão Joseph Keller e por seu filho, o fotógrafo, desenhista e pintor Franz Keller (1835 – 1890) (Diário do Povo, 15 de novembro de 1867, na primeira coluna).  Este último era casado com Sabine Christine (1842 – 1915), filha de Georges Leuzinger ( 1813 – 1892). Transitaram pela região dos rios Madeira e Mamoré, onde o governo imperial pretendia construir uma estrada de ferro.

 

 

Albert Frisch acompanhou os engenheiros somente até Manaus … percorreu 400 léguas pelo rio Amazonas e seus afluentes durante 5 meses…, num barco acompanhado por dois remadores, desde Tabatinga até Manaus. Produziu, na ocasião, uma pioneira série de 98 fotografias com os primeiros registros que chegaram até nós de índios brasileiros da região, além de aspectos de fauna e flora e de barqueiros de origem boliviana, que atuavam como comerciantes itinerantes nos rios amazônicos. Segundo o livro de Ernesto Senna, O velho commercio do Rio de Janeiro, a expedição fotográfica de Frisch à Amazônia foi fruto de uma solicitação feita pelo suíço Louis Agassiz (1807 – 1873) a Leuzinger.

Satisfazendo ao pedido de Agassiz, fez Leuzinger tirar vistas até Tabatinga, na fronteira do Amazonas com a República do Peru, vistas que serviram não só para os trabalhos científicos daqule sábio, como também para ilustrações europeias. Quando o engenheiro Keller foi em comissão explorar os rios Madeira e Mamoré, Georges Leuzinger mandou um fotógrafo da casa acompanhar a expedição, que trouxe depois daquelas incomparáveis regiões graande cópia de clichês, da flora, da fauna, de paisagens, e fotograafias de silvícolas e de suas tabas, aldeamentos, instruentos, armas, etc. Estas coleções, de graande valor para estudos etnográficos, eram muito interessantes sob qualquer ponto de vista e muito procuradas por viajantes estrangeiros”.

Agassiz havia, entre 1865 e 1866, comandado a Comissão Thayer no Brasil, que percorreu boa parte do território brasileiro entre o Rio de Janeiro e a Amazônia, viagem que deu origem ao livro A journey in Brazil, editado em Boston, em 1868. A comissão foi financiada pelo empresário e filantropo norte-americano Nathaniel Thayer, Jr. (1808-1883), ex-aluno de Agassiz no Museu de Zoologia Comparada, em Harvard.

Vale lembrar que Charles Frederick Hartt (1840 – 1878), o futuro chefe da Comissão Geológica do Império (1875 – 1878), integrada pelo fotógrafo Marc Ferrez (1843-1923), participou da Comissão ou Expedição Thayer – foi a primeira vez que esteve no Brasil.

1868 – Frisch retornou ao sul do Brasil, a bordo do vapor Cruzeiro do Sul (Jornal Pedro II, de 24 de novembro de 1868, na quarta coluna).

1869 – As imagens produzidas por Frisch durante a expedição pela Amazônia começaram a ser comercializadas a partir de um catálogo publicado pela Casa Leuzinger, Resultat d’une expédition phographique sur le Solimões ou Alto Amazonas et Rio Negro.

 

 

c. 1870 – Foi para Montevidéu e depois para Paris, onde trabalhou na litografia de Lemercier & Cie. Foi expulso do país, devido à guerra entra França e Alemanha (1870-1871), e perdeu tudo.

Retornou à Alemanha e passou a trabalhar com o fotógrafo alemão Joseph Albert (1825 – 1886), que aperfeiçoou a técnica da colotipia, e com quem aprendeu as mais novas tecnologias de impressão fotomecânica da época. Verveer Den Haag, fotógrafo da corte da Holanda, e o mestre da litogravura, o francês Lemercier (1803 – 1887), também eram aprendizes de Joseph Albert.

 

 

1871 - Chegou, em 14 de março, a Nova York, onde instalou o processo de colotipia na empresa Bierstadt & Co. Trabalhando foi envenenado por cromo, tendo que ficar um tempo afastado da colotipia para cuidar da saúde.

1872 – Voltou para a Alemanha, e foi funcionário numa fábrica de água mineral em Bad Homburg vor der Hohe.

1873 – Em Bad Homburg vor der Hohe, abriu a empresa Frisch & Co, que trabalhava com albertotipia, colotipia e fotografia.

1874 – Durante esse ano, Frisch trabalhou por um curto período com o fotógrafo Johannes Nöhring (1834 – 1913), de Lübeck, na empresa Nöhring & Frisch.

1875 – Frisch mudou-se para Berlim e abriu o Kunstanstalt Albert Frisch, especializado na produção de reproduções fotomecânicas de alta qualidade. Depois de sua morte, seu filho, também Albert, continuou o negócio.

1918 – Faleceu em Berlim, em 30 de maio.

1925 – Lançamento de um livro em comemoração dos 50 anos da Casa Frisch, em Berlim, com textos escritos pelo filho do fotógrafo, Albert Frisch Junior.

1930 - Edição de um álbum raríssimo com 109 reproduções de fotografias, sendo 106 imagens de Albert Frisch Senior.

As 106 fotografias reunidas neste álbum são reproduções dos originais, feitos por Albert Frisch sênio (nascido em 13 de maiode 1840 em Augsburg) no Brasil nos anos 60. Elas restaram de um número muito maior de fotografias que foram tiradas por Albert Frisch sênior depois que ingressou na empresa Keller & Leuzinger, Rio de Janeiro. Elas foram feias durante muitos anos em diversas excursões na região do rio Amazonas e em outras regiões do Brasil.”

1942 - Impressão de uma história da família Frisch escrita por Eberhard, filho de Frisch. Nele há um esboço de uma autobiografia redigida pelo próprio Frisch, que revela que ele havia escrito uma autobiografia completa, destuída por ele mesmo no início da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918).

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), o acervo da Casa Frisch, em Berlim, foi totalmente destruído.

2019 – Em outubro de 2019, o Instituto Moreira Salles, que já abrigava em seu acervo aproximadamente 40 imagens de Frisch, algumas delas pertencentes à série da Amazônia, arrematou, num leilão da Sotheby’s, em Nova York, um conjunto completo das 98 imagens, tal como editadas e comercializadas por Geroges Leuzinger*.

 

*Esse parágrafo foi acrescentado em dezembro de 2019.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Link para o artigo Os Miranhas e as fotografias de Albert Frish, de Maria Luísa Lucas, publicado no site do Instituto Moreira Salles, em 17 de dezembro de 2019

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. As primeiras fotografias da Amazônia. BN Digital, 2013.

FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J.. Pioneer Photographers of Brazil, 1840-1920. New York: Center for Inter-American Relations, 1976.

FRANCESCHI, Antonio Fernando de. Um jovem mestre da fotografia na Casa Leuzinger. Christoph Albert Frisch e sua expedição pela Amazônia in Cadernos de Fotografia: Georges Leuzinger: um pioneiro do século XIX(1813-1892). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2006.

GÂMBERA, José Leonardo Homem de Mello. Fotografia na Amazônia Brasileira: considerações sobre o pioneirismo de Christoph Albert Frisch (1840-1918). Revista de Programa da Pós-Graduação em Arquitetur ae Urbanismo da FAUUSP,dez de 2013

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional 

KOHL, Frank Stephan. Albert Frisch and the first images of the Amazon to go around the world  in Explorers and Entrepreneurs behind the Camera The Stories behind the pictures and photographs from the image archive of the Ibero-American Institute. Berlim: Ibero-American Instituto, 2015.

KOHL, Frank Stephan. Um jovem mestre da fotografia na Casa Leuzinger: Christoph Albert Frisch e sua expedição pela Amazônia. In: Cadernos de fotografia brasileira, 3. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2006.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002

MARCOLIN, Neldson. Retratos na Selva, Revista Pesquisa Fapesp, setembro de 2014.

MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de. Estou aqui. Sempre estive. Sempre estarei. Indígenas do Brasil. Suas imagens (1505/1955). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012.

SENNA, Ernesto. O Velho Comércio do Rio de Janeiro. 2ª edição. Rio de Janeiro: G Ermakoff, 2006.

Site da Enciclopédia Itaú Cultural

Site do Instituto Moreira Salles

Site O Índio na Fotografia Brasileira

TACCA, Fernando de. O índio na fotografia brasileira: incursões sobre a imagem e o meio. História, ciências, saúde – Manguinhos – Vol. 18, nº 1, p.191-223. Rio de Janeiro., 2011

TURAZZI, Maria Inez. Poses e Trejeitos: a fotografia na era do espetáculo (1839 – 1889). Rio de Janeiro: Funarte/Rocco, 1995.

VASQUEZ, Pedro Karp. A. Frisch, ladrão de almas na Amazônia Imperial. Piracema – arte e cultura. Rio de Janeiro, nº1, ano 1, p.90-95, 1993

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

VASQUEZ, Pedro Karp. Fotógrafos alemães no Brasil do século XIX / Deutsche Fotografen des 19. Jahrhunderts in Brasilien. São Paulo: Metalivros, 2000

VASQUEZ, Pedro Karp. O Brasil na fotografia oitocentista. São Paulo: Metalivros, 2003