Série “1922 – Hoje, há 100 anos” VI e série “Feministas, graças a Deus!” XI – A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino

O assunto do sexto artigo da Série 1922 – Hoje há 100 anos e do décimo primeiro artigo da série Feministas, graças a Deus, é a fundação, em 9 de agosto de 1922, da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), iniciativa vinculada ao movimento sufragista internacional, principal objetivo do feminismo no início do século XX. As outras reivindicações feministas eram, em resumo, a igualdade entre os sexos e a independência da mulher. A existência da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino foi fundamental para o processo de emancipação das mulheres no Brasil.

 

 

Ainda em 1922, em dezembro, a FBPF promoveu o I Congresso Internacional Feminista no Rio de Janeiro e recebeu a medalha de ouro na Exposição Internacional do Centenário da Independência (Revista da Semana, 2 de julho de 1932). Bertha Lutz  (1894 – 1976)Carmen Portinho (1903 – 2001), Jeronyma Mesquita (1880 – 1972) e Stella de Carvalho Guerra Duval (1879 – 1971) foram algumas das fundadoras da entidade, que sucedeu a Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher e a Liga pelo Progresso Feminino. Eram mulheres com excelente escolaridade e conheciam as direções dos movimentos feministas tanto na Europa como nos Estados Unidos.

 

Acessando o link para as fotografias  relacionadas ao feminismo no Brasil disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Bertha Lutz, cuja biografia confunde-se com a história da FBPF, e Stella de Carvalho Guerra Duval foram designadas presidente e vice-presidente, respectivamente; a secretaria geral coube a Valentina Biosca (? -?) e a segunda secretaria a Esther Salgado Monteiro (?-?). A tesouraria ficou a cargo de Corina Barreiros (? -?) e a escritora Júlia Lopes de Almeida (1862 – 1934) foi eleita presidente de honra da federação.

 

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Em seu início, as reuniões da FBPF ocorriam nas residências das sócias, já que a entidade não tinha sede própria. Sua primeira sede ficava na avenida Rio Branco, 117 (Revista da Semana, 2 de julho de 1932).

 

 

No fim dos anos 20, a FBPF reunia várias associações profissionais de mulheres e possuía núcleos em vários estados, com destaque para os de Alagoas, sob a direção de Lili Lages (1907 – 2003), primeira mulher eleita deputada da Assembleia Legislativa de Alagoas, em 1934; da Bahia, dirigido por Maria Luísa Dória Bittencourt (1910 – 2001), primeira deputada estadual da Bahia, em 1935; de Minas Gerais, pela advogada Elvira Kommel (1906 – 1932); e de Pernambuco, por Nícia Sá Pereira.

Houve, durante os cerca de 15 anos da entidade, uma cisão, em 1930, devido a divergências entre Bertha Lutz e a advogada gaúcha Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993) em relação a questões de engajamento partidário. Natércia saiu da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e fundou a Aliança Nacional de Mulheres, no Rio de Janeiro, em 30 de janeiro de 1931. A entidade era mobilizada pelo tema do trabalho e foi registrada em 7 de março do mesmo ano.

 

 

A FBPF liderou conquistas como a criação da União Universitária Feminina, em 13 de janeiro de 1929, sob a presidência de Carmen Portinho (1903 – 2001); as leis de proteção à mulher e à criança; o ingresso de meninas no Colégio Pedro II, a equiparação da Escola Normal aos cursos secundários oficiais e o voto feminino.

 

A Noite, 14 de janeiro de 1929A Noite, 14 de janeiro de 1929

 

Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932 instituiu o Código Eleitoral Provisório e reconheceu o direito de voto às mulheres.

 

 

Com a instauração do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937, Bertha Lutz foi se afastando da FBPF e a entidade perdeu sua força. Em 1940, a escritora e declamadora Maria Sabina de Albuquerque (1898 – 1991) passou a presidi-la.

 

 

 

Pequeno perfil de algumas das fundadoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino

 

Bertha Lutz (1894 – 1976) foi um dos principais nomes do feminismo no Brasil. Em 1932,  foi uma das duas mulheres nomeadas para integrar a comissão para elaborar o ante-projeto da nova Constituição – a outra foi a advogada Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993).

 

 

Em 1936, Bertha, bióloga por formação, assumiu o mandato de deputada na Câmara Federal. Sempre ocupou importantes cargos públicos, dentre eles a chefia do setor de Botânica do Museu Nacional, cargo no qual se aposentou em 1964. Em agosto de 1965, recebeu o título de professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sua vida sempre esteve ligada à ciência e à luta pela emancipação da mulher. Nasceu em São Paulo, em 2 de agosto de 1894, filha da enfermeira inglesa Amy Marie Gertrude Fowler (1869 – 1922 ) e do cientista e pioneiro da Medicina Tropical, Adolpho Lutz (1855 – 1940). Faleceu no Rio de Janeiro, em 16 de setembro de 1976.

 

Carmen Velasco Portinho (1903 – 2001) nasceu em Corumbá, no Mato Grosso, em 26 de janeiro de 1903, e foi uma militante das causas feministas como o sufrágio feminino, além de ativista pela educação das mulheres e pela valorização do trabalho feminino fora da esfera doméstica, tendo sido uma das primeiras mullheres a se formar em Engenheira Civil (1925) e a primeira a obter o título de urbanista (1939) no Brasil.

 

 

Sempre na vanguarda, foi uma mulher graciosa, cheia de energia, culta, inteligente, dinâmica, tenaz, considerada simpática e afável. E, segundo a própria, apesar de ter tido uma vida de muito trabalho, sempre se divertiu. Viveu quase todo o século XX, tendo falecido em 25 de julho de 2001.

 

A enfermeira Jerônima Mesquita (1880 – 1972) e Stella de Carvalho Guerra Duval (1879 – 1971) eram muito amigas e participaram juntas de diversos projetos além da FBPF.

Jerônima era mineira de Leopoldina. Trabalhou como voluntária da Cruz Vermelha na França e na Suíça durante a Primeira Guerra Mundial. Durante a Gripe Espanhola, já de volta ao Brasil, como associada da entidade Damas da Cruz Verde, ao lado de sua mãe, a baronesa do Bonfim, e de sua amiga Stella de Carvalho Guerra Duval, coordenou a assistência às vítimas da pandemia, no Rio de Janeiro, improvisando enfermarias de emergências dentro dos hospitais cariocas. Cerca de 14 senhoras da sociedade carioca faziam parte do grupo Damas da Cruz Verde.

Foi a partir dessa experiência que surgiu o projeto de criação da Pró-Matre, cuja fundação aconteceu na casa da família Duval, em 1º de abril de 1918, com a presença de Jerônima, da promotora cultural e feminista Laurinda Santos Lobo (1878 – 1946) e da escritora e também feminista Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963), dentre outras mulheres, além do ginecologista e obstetra Fernando Magalhães (1871-1944) e do marido de Stella, o fotógrafo amador, barítono e poeta Fernando Guerra Duval (18? – 1959), com que havia se casado em 1º de dezembro de 1908. Formavam um casal muito popular e frequentavam os salões mais requintados e intelectualizados do Rio de Janeiro, além de terem sido festejados anfitriões de muitas festas e reuniões em seu palacete na rua Barão de Itambi, em Botafogo (O Imparcial, 31 de julho de 1935, terceira colunaIllustração Brasileira, janeiro de 1939).

 

 

Voltando à Pró-Matre. A primeira maternidade foi inaugurada em 9 de fevereiro de 1919, em um casarão na avenida Venezuela, cedido por Venceslau Brás (1868 – 1966), presidente da República. Stella foi tesoureira da entidade por quase vinte anos e sua presidente perpétua (O Paiz, 4 de dezembro de 1908, segunda colunaO Jornal, 5 de dezembro de 1951, segunda colunaO Cruzeiro, 12 de novembro de 1955).

 

 

Em 1919, Jerônima e Stella com Bertha Lutz, a escritora Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça (1886 – 1963), a educadora Maria Lacerda de Moura (1887 – 1945), Isabel Imbassahy Chermont, a escritora Júlia Lopes de Almeida (1862 – 1934), Valentina Biosca, Esther Salgado Monteiro e Corina Barreiros criaram a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher. Em 1922, foi substituída pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino.

 

 

Jerônima fundou, em 1920, a Federação das Bandeirantes do Brasil e foi sua primeira presidente, tendo, devido à sua dedicação, sido homenageada com o título de Chefe Fundadora do Movimento Bandeirante brasileiro. Participou também da fundação da Associação Brasileira de Educação (1924) e da criação do Conselho Nacional das Mulheres (1947). Foi uma das pioneiras na luta pelo direito ao voto feminino, participando ativamente do movimento sufragista de 1932.

Em 1926, quando Madame Curie e sua filha, Irène Joliot-Curie (1897 – 1956) visitaram o Brasil, tanto Jerônima como Stella as receberam. Na ocasião, Jerônima presidia o Conselho Nacional de Mulheres (O Paiz, 31 de janeiro de 1926, quarta coluna). A cientista compareceu a uma reunião das senhoras da comissão de recepção organizada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, na casa da tesoureira da instituição, Stella de Carvalho Guerra Duval (1879 – 1971)(O Paiz, 11 de agosto de 1926, quarta coluna). Houve também uma recepção oferecida pela baronesa de Bonfim (1862-1953) e por Jerônima. Entre os presentes, os ministros Félix Pacheco (1879 – 1935), Miguel Calmon (1879 – 1935) e Edmundo da Veiga (1869 – 1946), o prefeito do Rio de Janeiro, Alaor Prata (1882 – 1964), além de embaixadores, diplomatas, acadêmicos, enfim personalidades importantes de diversos setores da sociedade ( O Paiz, 7 de agosto de 1926, quarta coluna e Revista da Semana, 7 de agosto de 1927). Lembramos que Carmen Portinho e Bertha Lutz eram integrantes da comissão de senhoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino responsável pela programação da cientista e de sua filha, no Rio de Janeiro.

Em homenagem a Jerônima, o dia 30 de abril, data de seu nascimento, em 1880, é o Dia Nacional da Mulher, instituído pela Lei nº 6.791, de 9 de junho de 1980. Faleceu, em 10 de dezembro de 1972, no Rio de Janeiro (Jornal do Brasil, 11 de dezembro de 1971).

Stella de Carvalho Guerra Duval nasceu em 1º de dezembro de 1879 e faleceu em 2 de fevereiro de 1971, no Rio de Janeiro (Jornal do Brasil, 3 de fevereiro de 1971, última coluna).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BARRETO, Maria Renilda Nery. Pro Matre: arquivo e fontes para a história da maternidade no Rio de Janeiro, 2011.

DEL PRIORE, Mary (Org.). História das mulheres no Brasil. Coordenação de textos de Carla Bassanesi. São Paulo: Contexto, 1997

DEL PRIORI, Mary. História e conversas de mulher. São Paulo: Planeta Brasil, 2014

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

HEYNEMANN, Claudia; RAINHO, Maria do Carmo. Memória das lutas feministas in Brasiliana Fotográfica, 8 de agosto de 2017.

PINTO, Celi Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo (coleção história do povo brasileiro) 2003.

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital (organizadores). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2000.

Site Mulher 500 anos atrás dos panos

 

Acesse aqui os outros artigos da Série “Feministas, graças a Deus!

Série “Feministas, graças a Deus!” I – Elvira Komel, a feminista mineira que passou como um meteoro, publicado em 25 de julho de 2020, de autoria da historiadora Maria Silvia Pereira Lavieri Gomes, do Instituto Moreira Salles, em parceria com Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” II  – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta, publicado em 20 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” III  – Bertha Lutz e a campanha pelo voto feminino: Rio Grande do Norte, 1928, publicado em 29 de setembro de 2020, de autoria de Maria do Carmo Rainha, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” IV  – Uma sufragista na metrópole: Maria Prestia (? – 1988), publicado em 29 de outubro de 2020, de autoria de Claudia Heynemann, doutora em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), publicado em 26 de novembro de 2020, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, mestre em História e pesquisadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931), publicado em 9 de dezembro de 2020, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil, publicado em 26 de fevereiro de 2021, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” VIII – A engenheira e urbanista Carmen Portinho (1903 – 2001), publicado em 6 de abril de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim”, publicado em 15 de junho de 2021, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a eloquente primeira deputada da Bahia, publicado em 25 de março de 2022, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XII e série “1922 – Hoje, há 100 anos” XI – A 1ª Conferência para o Progresso Feminino, publicado em 19 de dezembro de 2022, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, historiadora do Arquivo Nacional

Série “Feministas, graças a Deus!” XIII – E as mulheres conquistam o direito do voto no Brasil!, publicado em 24 de fevereiro de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XIV – No Dia Internacional da Mulher, Alzira Soriano, a primeira prefeita do Brasil e da América Latina, publicado em 8 de março de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XV – No Dia dos Povos Índígenas, Leolinda Daltro,”a precursora do feminismo indígena” e a “nossa Pankhurst, publicado em 19 de abril de 2023, de autoria de Andrea C T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica

Série “Feministas, graças a Deus!” XVI – O I Salão Feminino de Arte, em 1931, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, pesquisadora e editora do portal Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2023

Série “Feministas, graças a Deus!” XVII – Anna Amélia Carneiro de Mendonça e o Zeppelin, equipe de Documentação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC, em parceira com Andrea C.T. Wanderley, publicado em 5 de janeiro de 2024

Links para os artigos já publicados da Série 1922 – Hoje, há 100 anos

Série 1922 – Hoje, há 100 anos I – Os Batutas embarcam para Paris, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 29 de janeiro de 2022

Série 1922 – Hoje, há 100 anos II- A Semana de Arte Moderna, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 13 de fevereiro de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos III – A eleição de Artur Bernardes e a derrota de Nilo Peçanha, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, publicado em 1º de março de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IV – A primeira travessia aérea do Atlântico Sul, realizada pelos aeronautas portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicada em 17 de junho de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos V – A Revolta do Forte de Copacabana, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicada em 5 de julho de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VII – A morte de Gastão de Orleáns, o conde d´Eu (Neuilly-sur-Seine, 28/04/1842 – Oceano Atlântico 28/08/1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 28 de agosto de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 7 de setembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos IX – O centenário do Museu Histórico Nacional, de autoria de Maria Isabel Lenzi, historiadora do Musseu Histórico Nacional, publicado em 12 de outubro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos X –  A morte do escritor Lima Barreto (1881 – 1922), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 1º denovembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica

Série 1922 – Hoje, há 100 anos XI – 1ª Conferência pelo Progresso Feminino e o “bom” feminismo, de autoria de Maria Elizabeth Brêa Monteiro, antropóloga do Arquivo Nacional, publicado em 19 de dezembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Fotografias da Gripe Espanhola do fundo Moncorvo Filho, da Casa de Oswaldo Cruz

Hoje, data que marca os dois anos da caracterização da Covid-19 como uma pandemia, pela Organização Mundial da Saúde, a Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores fotografias da pandemia de Gripe Espanhola, em 1918, descobertas, em meados de março de 2020, no arquivo do médico Moncorvo Filho. Os autores do artigo Fotografias da Gripe Espanhola são Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço, pesquisadores Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, uma das instituições parceiras do portal.

Fotografias da Gripe Espanhola 

Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço*

 

“Grande vozerio, gritos e gemidos de repente ouvi que partiam do saguão da entrada e contiguo à minha sala. Corro a ver o que era. Uma onda humana invadia o prédio de nossa sede: eram homens, mulheres e crianças, em sua maioria andrajosos, comprimindo-se para entrar e agasalhar-se em todas as salas do nosso estabelecimento. Havia gente de todas as classes sociais, indivíduos brancos e de cor, velhos, moços e crianças, carregados uns pelos outros, alguns que entravam a cambalear, esquálidos, ardendo em febre, outros a vomitar e finalmente alguns encontrados já a expirar na via pública…” (Moncorvo Filho, 1924:49)

 

Em meados de março de 2020, durante o início da quarentena imposta pela epidemia de Covid-19, encontramos imagens inéditas da Gripe Espanhola no arquivo do médico Moncorvo Filho. Sabíamos da importância deste acervo, entretanto, não possuíamos a real dimensão do inestimável patrimônio que estava em nossas mãos. Apresentamos algumas das imagens neste breve trabalho.

 

Acessando o link para as fotografias inéditas da Gripe Espanhola no arquivo do médico Moncorvo Filho disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Em setembro de 1918, no Rio de Janeiro, os habitantes começaram a apresentar febre alta. Era a Gripe Espanhola, doença que vinha da Europa pelos navios que ancoravam nos portos brasileiros. Numa cidade com um milhão de habitantes, morreram, segundo os registros oficiais, quase 15 mil pessoas. Os médicos receitavam canja e limão. Não que o Brasil não estivesse avisado. A gripe estava dizimando na Europa e mataria, de acordo com as estimativas mais cautelosas, trinta milhões de pessoas em todo o mundo.

Médicos e autoridades não sabiam como proceder e que atitudes tomar diante da pandemia. As instituições governamentais de saúde concentraram sua atuação no atendimento aos doentes. O que melhorou um pouco a trágica situação foram as ações isoladas. Hospitais e enfermarias provisórias foram montadas. Toda ajuda era bem-vinda, mas era pouca. Alguns círculos operários também contribuíram fornecendo auxílio.

 

“Morrer na cama era um privilégio abusivo e aristocrático. O sujeito morria nos lugares mais impróprios, insuspeitados: – na varanda, na janela, na calçada, na esquina, no botequim… Muitos caíam, rente ao meio-fio, com a cara enfiada no ralo. E ficavam, lá, estendidos, não como mortos, mas como bêbados. Ninguém os chorava, ninguém. Nem um vira-latas vinha lambê-los. Era como se o cadáver não tivesse nem mãe, nem pai, nem amigo, nem vizinho e, nem ao menos, inimigo.” (, 1967:72)

 

Os cariocas morriam em casa, na rua, no trabalho, sendo recolhidos pelos funcionários da Prefeitura. Estes jogavam os corpos nas carroças da companhia de limpeza pública. Conta-se que quando descobriam alguém dado como morto e ainda vivo, acabavam de matá-lo com as pás. Nos cemitérios, coveiros abriram valas, onde eram despejadas dezenas de mortos. E, quanto mais corpos acumulados, mais a situação piorava.

Frente ao desconhecimento ou ineficácia das medidas que pudessem impedir o contágio ou cuidar dos doentes, as autoridades públicas inicialmente restringiram-se a orientar a população a evitar aglomeração. A cidade transformou-se num caos, faltavam alimentos e ocorriam saques aos armazéns. Para completar este quadro tenebroso ainda havia o problema dos cadáveres insepultos. Não havendo pessoal suficiente para enterrar os mortos, foram utilizados os presidiários. O cenário de corpos amontoados pelos cemitérios ou abandonados pelas ruas era desolador.

 

 

Com o desenrolar dos fatos, aumentava o temor coletivo. No período mais crítico, a população ficou desesperada. A divulgação pela imprensa do número de óbitos, da ausência de assistência médica e das atrocidades cometidas intensificava o clima de medo. A todo esse cenário podemos acrescentar o ar fétido, emanado das covas, casas e ruas, onde os corpos permaneciam à espera de sepultamento. Outro aspecto que deve ser considerado diz respeito às atitudes desencadeadas a partir do terror instalado com a gripe. Narrativas terríveis falam de atos insensatos cometidos por pessoas transtornadas com a situação.

A interrupção das atividades econômicas e outras adversidades inerentes aos fenômenos epidêmicos não foram evitadas e tampouco houve planejamento para aplacar os efeitos da espanhola. A doença inicialmente apresentou-se aos habitantes do país como um mal distante. Tanto órgãos da imprensa quanto os responsáveis pelos serviços de saúde pública colocavam em dúvida a existência da espanhola no Brasil. Os casos observados poderiam ser moléstias ainda não identificadas. Para além da discussão científica, um fator deve ser observado: a aceitação de que a epidemia havia invadido o país evidenciaria a fragilidade das políticas públicas de saúde.

A gripe é transmitida por contágio direto, tendo como sintomas principais febre, prostração e dores musculares. Embora não seja incorreta a ideia do caráter “democrático” das doenças contagiosas, que atacam de forma indiferenciada as classes sociais, as observações mostram que enfermidades epidêmicas podem ser fulminantes em organismos debilitados por condições de sobrevivência precárias.

Embora os políticos e administradores do Rio de Janeiro não acreditassem, ou não quisessem aceitar, a epidemia foi dominando a cidade. Em outubro, a imprensa noticiou a existência de doentes em quartéis, fábricas e escolas. Por volta da segunda semana era enorme a quantidade de casos. Nesse momento, o número de pessoas atingidas havia crescido, deixando a população apavorada. A violência da gripe transformava a cidade, paralisando vários setores das atividades urbanas.

“Nas habitações coletivas, em estado grave caiam quase fulminados pelo terrível morbo inúmeros de seus moradores. A população estava muito justamente alarmadíssima e todos os serviços públicos já se mostravam em 10 de outubro sensivelmente desfalcados do seu pessoal, por doença afastado de seus misteres, sendo em número assaz elevado as guias extraídas pelas Delegacias de Polícia para o internamento de gripantes no Hospital da Misericórdia. Os miseráveis e mendigos, como sempre sucede, eram os que primeiro caiam vítimas do devastador morbo e nos quais a doença de maior gravidade era desde logo emprestada.” (Moncorvo Filho, 1924:52)

 

 

Nos primeiros dias de novembro, a situação era alarmante. A epidemia forçara o fechamento do comércio e indústrias, bem como a interrupção dos serviços públicos. A cidade estava paralisada. O governo passou a distribuir quinino. Sem esclarecer o valor terapêutico dessa substância no combate à gripe ou o perigo da sua ingestão sem controle. Surgiam na imprensa receitas peculiares, que prometiam curar a doença. Além disso, os produtos – galinhas, ovos e limão – supostamente eficazes no combate ao mal, sofreram intensa especulação comercial.

A desorganização das atividades comerciais provocou uma grave crise de abastecimento. Se nas áreas próximas do centro urbano havia dificuldade em conseguir alimentos, nas áreas suburbanas eles eram extremamente escassos. Para amenizar a situação, o governo passou a distribuir leite, sopa e pão para a população. Entretanto, noticiadas pela imprensa, as reclamações de moradores dos subúrbios deixam evidente que essa medida foi inoperante.

 

“Era apavorante a rapidez com que ela ia da invasão ao apogeu, em poucas horas, levando a vítima às sufocações, às diarréias, às dores lancinantes, ao letargo, ao coma, à uremia, à síncope e à morte em algumas horas ou poucos dias. Aterravam a velocidade do contágio e o número de pessoas que estavam sendo acometidas. Nenhuma de nossas calamidades chegara aos pés da moléstia reinante: o terrível não era o número de casualidades, mas não haver quem fabricasse caixões, quem os levasse ao cemitério, quem abrisse covas e enterrasse os mortos. O espantoso já não era a quantidade de doentes, mas o fato de estarem quase todos doentes, a impossibilidade de ajudar, tratar, transportar comida, vender gêneros, aviar receitas, exercer, em suma, os misteres indispensáveis à vida coletiva.” (Pedro Nava, 1976:201)

 

 

Acreditava-se que um corpo bem alimentado resistiria melhor à doença. Até galinhas foram distribuídas à população. Para auxiliar o atendimento dos cariocas acometidos pela gripe, associações filantrópicas tomaram providências para tratar os doentes. Uma das instituições que participaram dessa mobilização foi o Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro (IPAI). Em suas dependências, funcionou um dos postos de socorros criados.

 

 

 

O instituto fora criado pelo médico Arthur Moncorvo Filho (1871-1944), em 1899. Dedicava-se ao auxílio de crianças, mas, durante a epidemia, transformou-se num local de assistência emergencial, onde as pessoas atingidas pela espanhola, recebiam atendimento médico. Suas dependências ficaram lotadas e formaram-se filas para a distribuição de produtos alimentícios. Além disto, grupos de médicos e enfermeiras eram enviados aos bairros mais populares. Chamadas de Caravanas do Bem, saíam do IPAI em direção ao Morro do Salgueiro, Morro do Andaraí, Morro do Telégrafo (Mangueira), Engenho de Dentro, Cascadura e Ramos.

As imagens que retratam o cotidiano do IPAI durante a pandemia de Gripe de 1918 podem ser encontradas no acervo da Casa de Oswaldo Cruz. São registros originais que documentam o período da Gripe Espanhola no Rio de Janeiro. Elas pertencem ao Arquivo Arthur Moncorvo Filho. Além destas imagens documentando a pandemia, este arquivo reúne mais de mil itens, entre fotografias, cartas, relatórios, publicações e recortes de jornais acumulados pelo médico, gestor e membro de associações científicas, tanto no Brasil quanto no exterior.

Nascido em 13 de setembro de 1871, na cidade do Rio de Janeiro, Arthur Moncorvo Filho viveu na Europa, onde Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo (1846-1901) estagiava em Paris com os professores Eugène Bouchut (1818-1891) e Henri-Louis Roger (1809-1891). Retornando ao Brasil, seu pai o convenceu a estudar medicina. Terminou o curso em 1897 na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, diplomando-se com a tese Das linfangites na infância e suas consequências. Durante o curso, trabalhou na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, instituição fundada por Carlos Arthur Moncorvo em 1881. Com seu falecimento, em 1901, o filho ocuparia seu lugar no serviço de moléstias de crianças da policlínica.

 

  

Criado em 1899, o IPAI funcionava na casa da família, localizada na rua da Lapa. Neste mesmo local, seu pai criara, em 1881, a Policlínica Geral. Dois anos depois, o instituto foi instalado em prédio alugado, à rua Visconde do Rio Branco. Em 1914, o presidente da República, Hermes da Fonseca, doou o terreno onde foi construída a sede do instituto, na rua do Areal, atual rua Moncorvo Filho. Hoje, funciona no local o Hospital Moncorvo Filho, nomeado em sua homenagem.

Moncorvo Filho foi membro de várias sociedades médicas. Em 1919 foi eleito membro honorário da Academia Nacional de Medicina. Em 1921 tornou-se sócio da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. Em 1933 veio a ser presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicou obras de referência para a história da pediatria no Brasil: Hygiene infantil (1917), Formulário de doenças das creanças (1923) e Histórico da protecção à infância no Brasil (1926).

As muitas atividades associativas contribuíram para a influência de Moncorvo Filho. Reconhecido como um pioneiro pelos membros do campo da pediatria, participou de encontros científicos nacionais e internacionais em cargos de coordenação. Por exemplo, foi encarregado da organização do 1º Congresso Americano da Criança, realizado em julho de 1916 na cidade de Buenos Aires. No 1º Congresso Brasileiro de Proteção à Infância, em 1922, ocupou o cargo de presidente. Nesses eventos defendia ideias de proteção à saúde das crianças, como a proibição da fabricação de chupetas, até ações de saneamento das cidades. Desde o início de sua carreira, Moncorvo Filho fazia críticas às instituições de amparo à infância. Para ele, a saúde das crianças dependia de condições de higiene, da exposição a luz solar, além de boa alimentação. Seus pronunciamentos nos congressos médicos eram publicados na imprensa, alimentando o debate político do período.

 

 

 

* Ricardo Augusto dos Santos, Felipe Almeida Vieira e Francisco dos Santos Lourenço são pesquisadores do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.

 

Fontes:

MONCORVO FILHO, Arthur. O Pandemônio de 1918: subsídio ao histórico da epidemia de grippe que em 1918 assolou o território do Brasil. Rio de Janeiro: Departamento da Criança no Brasil, 1924.

NAVA, Pedro. Chão de ferro. Memórias/3. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976.

RODRIGUES, Nelson. Memórias. Rio de Janeiro: Ed. Correio da Manhã, 1967.

SANTOS, Ricardo Augusto dos. O Carnaval, a Peste e a Espanhola.  História, Ciências, Saúde-Manguinhos. vol.13, no.1. Rio de Janeiro, 2006.https://www.scielo.br/j/hcsm/a/Z9Lr5HqtjXzFsTD5FFvGFBQ/?lang=pt

FREIRE, Maria Martha de Luna; LEONY, Vinícius da Silva. A caridade científica: Moncorvo Filho e o Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro (1899-1930). História, Ciências, Saúde-Manguinhos. vol.18, supl. 1. Rio de Janeiro, 2011.https://www.scielo.br/j/hcsm/a/pMzXR6Xv9xBJgG9gyc4ZrZv/?lang=pt

VENANCIO JUNIOR, André Luiz & MIGNOT, Ana Chrystina. O Pandemônio de 1918: Testemunho de um médico para a posteridade. Revista Educação em Questão, Natal, v. 58 n. 58, out./dez. 2020. https://periodicos.ufrn.br/educacaoemquestao/article/view/21540/13358

 

Link para o artigo E o ex e futuro presidente do Brasil morreu de gripe…a Gripe Espanhola de 1918, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 23 de março de 2020, na Brasiliana Fotográfica.

 

 

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VII – A Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro

Cenário de um dos maiores e mais belos réveillons do mundo que, devido à pandemia do cononavírus não será realizado como nos anos anteriores quando chegava a reunir cerca de dois milhões de pessoas, e de diversos eventos esportivos, culturais, politicos e de lazer, a Avenida Atlântica, via litorânea da praia de Copacabana, é uma das paisagens mais bonitas e famosas do Rio de Janeiro, uma das que justificam a celebrada fotogenia da cidade. Foi também o local de diversos palacetes, onde a vida social do Rio de Janeiro acontecia,  da realização de footings, quando a cidade passeava na avenida, de eventos esportivos e culturais. Ela é o tema do último artigo da Brasiliana Fotográfica de 2020 e o sétimo da série “Avenidas e ruas do Brasil”. Estão destacadas fotografias das primeiras décadas do século XX produzidas por anônimos, por Augusto Malta (1864 – 1957), fotógrafo oficial da prefeitura do Rio de Janeiro entre 1903 e 1936; e por Jorge Kfuri (1893 – 1965), autor das primeiras fotografias aéreas da cidade. Pertecem aos acervos do Instituto Moreira Salles, uma das instituições fundadoras do portal, e às instituições parceiras Acervo Geral da Cidade do Rio de Janeiro e Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha. Feliz Ano Novo e muito obrigada pela audiência!

 

Acessando o link para as fotografias da avenida Atlântica disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

A Avenida Atlântica tem atualmente, cerca de quatro quilômetros de orla marítima, começa na Praça Almirante Júlio de Noronha e termina na Praça Coronel Eugênio Franco, no Posto 6. Algumas de suas construções mais famosas são o Hotel Copacabana Palace (1923), os edifícios Chopin, Machado de Assis, Regina Feigl, Sayonara, Tancredo  Neves e o neoclássico Edifício Lellis, mais antigo prédio residencial que ainda está na avenida, inaugurado em 1931, na esquina da rua Barão de Ipanema. Segundo o historiador Milton Teixeira, a primeira edificação da orla foi a Clínica Conde Figueiredo Magalhães, de hidroterapia, de 1872, muitos anos antes da construção da Avenida Atlântica. Alguns dos moradores mais famosos da avenida foram o arquiteto Oscar Niemeyer (1907 – 2012), o jornalista Assis Chateaubriand (1892 – 1968), os artistas e irmãos Bernardelli, dona Guilhermina Guinle (1852 – 1925) e a cantora Elza Soares (1930 – ).

 

 

Durante a gestão de Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), como prefeito do Rio de Janeiro entre 30 de dezembro de 1902 a a 16 de novembro de 1906 foi realizada uma significativa reforma urbana na cidade. Para saneá-la e modernizá-la, ele realizou diversas demolições, conhecidas popularmente como a política do “bota-abaixo”, que contribuiu fortemente para o surgimento do Rio de Janeiro da Belle Époque. Foi em consonância com essa política que Avenida Atlântica foi concebida, pelo Decreto Municipal nº 561, de 04 de novembro de 1905.

 

 

Poucos meses antes, Pereira Passos expôs seus planos ao presidente Rodrigues Alves (1848 – 1919) durante uma visita à Exposição Geral de Belas-Artes de 1905, diante de um quadro de um trecho da praia Copacabana ao nascer do sol, de autoria de João Baptista da Costa (1865 – 1926) (O Paiz, 28 de setembro de 1905, terceira colunaCorreio da Manhã, 2 de outubro de 1905, quinta colunaJornal do Brasil, 5 de novembro de 1905, quinta colunaA Notícia, 3 de agosto de 1906, primeira coluna; A Notícia, 19 de setembro de 1906 coluna). Em 4 de março de 1906, foi inaugurado o Restaurante Avenida Atlântica, do sr. Gomes da Silva, e a companhia Jardim Botânico inaugurou sua nova linha elétrica pelo Túnel do Leme, indo o ramal até o ponto terminal da praça do Vigia, onde foi construída a estação de bonds  (O Paiz, 4 de março de 1906, quarta colunaA Notícia, 6 e 7 de março de 1906, quinta coluna).

 

 

A construção da Avenida Atlântica começou em 31 de janeiro de 1906 – as obras tiveram início no lugar denominado Murungu para a rua do Barroso (Jornal do Brasil, 1º de fevereiro de 1906, sexta coluna) –  e, os trabalhos de aterro, em 5 de abril de 1906. Sua construção foi incluida na Carta Cadastral como um dos grandes melhoramentos urbanos realizados na cidade (O Paiz, 5 de abril de 1906, quarta coluna; O Paiz, 8 de maio de 1906, quarta coluna; O Paiz, 14 de setembro de 1906, quinta coluna). O autor do projeto e responsável pela construção da Avenida Atlântica foi o engenheiro Augusto Américo de Souza Rangel (1865 – 1924), que trabalhava na comissão da Carta Cadastral tendo, inclusive, sido seu chefe durante um período *.

 

 

Seu calçadão foi feito com pedras pretas de basalto e pedras brancas de calcita, trazidas de Portugal, o que lhes rendeu o apelido de pedras portuguesas. O padrão de ondas é do século XIX e foi criado para a Praça do Rossio, em Lisboa – uma homenagem ao encontro das águas do rio Tejo com o Oceano Atlântico.

As obras foram suspensas em 15 de dezembro de 1906, um mês após o início do mandato do novo prefeito da cidade,  Francisco Marcelino de Souza Aguiar (1855 – 1935). A avenida tinha 485 metros de meios fios em ambos os lados e estava pronto o aterro em toda a extensão entre a praça Malvino Reis, atual praça Serzedelo Correia, e a rua padre Antonio Vieira.

 

 

Em 1907,  terrenos na avenida foram anunciados para venda (O Copacabana, 1º de agosto de 1907). O prefeito Souza Aguiar era acusado pelo abandono lamentável da avenida Atlântica e perguntado sobre o porquê de não mandar continuar as obras da avenida Atlântica (O Copacabana, 1º de novembro de 1907, primeira colunaO Copacabana, 1º de janeiro de 1908, segunda coluna).

 

 

Ainda neste ano, 1907, na esquina da rua da Igrejinha, atual Francisco Otaviano, com a Avenida Atlântica, na recém inaugurada casa da francesa Mme. Louise Chabas, que se tornou um dos cabarés mais famosos do Brasil, o Mère Louise, houve uma festa para comemorar o 14 de julho, data nacional da França. “Tem pois agora o Rio um cabaré à maneira do de Montmartre, em Paris, onde quem saiba fazer algo sobe ao palco e… faz o que sabe!”  (Jornal do Brasil, 23 de abril de 1907, segunda colunaJornal do Brasil, 15 de julho de 1907, oitava coluna). Mme. Chabas vendeu o estabelecimento à Cervejaria em 1910. Posteriormente, tornou-se um hotel que foi fechado, em 1931, pela polícia do 30º Distrito Policial.

Durante a década de 1910, 0 aumento da quantidade de automóveis e a crescente popularização da prática do banho de mar tornou a avenida pequena. Além disso, as chuvas de março de 1911 causaram vários danos na Avenida Atlântica e providências eram cobradas ao prefeito Bento Ribeiro (1856 – 1921) (O Copacabana, 16 de julho de 1911, primeira colunaO Copacabana, 13 de agosto de 1911, primeira coluna). Ocorriam vários na avenida (O Copacabana, 10 de dezembro de 1911, última colunaO Copacabana, 14 de janeiro de 1912, primeira coluna).

Na gestão de Amaro Cavalcanti (1849 – 1922) foram realizadas na Avenida Atlântica obras para proteção contra a fúria atlântica da esplêndida avenida beira-mar e também seu alargamento. O diretor de Obras Públicas era Cupertino Durão (1861 – 1929) (A Rua, 13 de março de 1918, primeira coluna; A Rua, de 18 de maio de 1918, quarta coluna). Ainda em 1918, uma ressaca deixou a avenida esburacada e o então prefeito do Rio de Janeiro, o engenheiro Paulo de Frontin (1860 -1933), a percorreu para inspecionar seu estado e a incluiu em seu projeto de melhoramentos da cidade (A Rua, 5 de novembro de 1918, quarta coluna; A Rua, 4 de fevereiro de 1919, quinta coluna; A Rua, 24 de março de 1919; A Rua, 3 de abril de 1919, penúltima coluna). Vale lembrar que 1918 foi o ano da pandemia da Gripe Espanhola, uma tragédia mundial que deixou milhares de mortos no Rio de Janeiro – cerca de 300 mil pessoas no Brasil -, tendo sido o presidente eleito, Rodrigues Alves (1848 – 1919), sua mais notória vítima no Brasil.

 

 

Construiu a nova e soberba avenida Atlântica com 17 metros de largura total em substituição à antiga rua marginal (Arquitetura no Brasil, janeiro de 1922). A nova Avenida Atlântica foi inaugurada em 22 de julho de 1919 com pista dupla e iluminação no canteiro central(A Época, 23 de julho de 1919).

 

 

O anúncio da reparação do calçamento da avenida foi feito, em 1920, durante a gestão de Carlos Sampaio (1861 – 1930) (A Rua, 12 de agosto de 1920, quinta coluna). O rei Alberto da Bélgica (1875 – 1934) e sua mulher, a rainha Elizabeth (1876 – 1965), visitaram o Brasil entre setembro e outubro de 1920, e na ocasião foram várias vezes tomar banho de mar no posto 5 da Avenida Atlântica.

Em 1921, uma nova ressaca atingiu a avenida cuja resistência da muralha, honra à engenharia do sr. Frontin, resistia valentemente a todos os embates (A Rua, 14 de julho de 1921, terceira coluna). Mas a violência da ressaca acabou destruindo a muralha (Revista da Semana, 23 de julho de 1921, primeira coluna). O prefeito Sampaio decidiu então realizar obras de consolidação dos cais e das muralhas da Guanabara em defesa da avenida Beira-Mar e da avenida Atlântica. Foram contratados para o projeto, cuja quantia prevista causou polêmica, os engenheiros Adhemar de Melo Franco, Edgar Raja Gabaglia (1896 – 1953) e Azevedo Amaral (A Rua, 23 de julho de 1921A Rua, 29 de outubro de 1921A Rua, 31 de outubro de 1921Arquitetura no Brasil, novembro de 1921). Sobre a obra de reconstrução os engenheiros civis J. Le Cocq de Oliveira e Alfredo Lisboa publicaram artigos na revista Arquitetura no Brasilde dezembro de 1921 e de janeiro de 1922.

 

 

Em 1922, ano do centenário da independência no Brasil, os postos de salvamento, que eram de madeira, estavam em péssimas condições. Então o prefeito Carlos Sampaio os renovou e transferiu o posto de socorros para um novo prédio no Lido. O serviço de salvamento, agora subordinado à Assistência Municipal, passou a oferecer serviço médico à população do bairro e também o arrendamento de cabines para banhistas que quisessem trocar de roupa (A Noite, 8 de março de 1922, terceira coluna; A Noite, 24 de março de 1922, terceira coluna; Beira-Mar, 22 de abril de 1928, primeira coluna). Ainda nesse ano, a Avenida Atlântica foi o cenário da marcha realizada pelos militares da Revolta dos 18 do Forte (O Paiz, 7 de julho de 1922; Beira-Mar, 3 de julho de 1927). Na edição da Beira-Mar, de 29 de junho de 1940, foi publicado um interessante relato de um repórter que presenciou o acontecimento.

 

 

O proprietário da Empresa Balneária, que explorava as barracas para banho na praia de Copacabana, Luiz Dante Torre, teve a ideia de colocar bancos de 10 em 10 metros ao longo de toda a Avenida Atlântica, mas em 1926 a falta de bancos era cobrada à Prefeitura, já sob a gestão de Antônio da Silva Prado Junior (1880 – 1955) (Beira-Mar,  21 de janeiro de 1923, terceira coluna; Beira-Mar, 7 de fevereiro de 1926, quarta coluna; Beira-Mar, 5 de dezembro de 1926, última coluna). Começava também a construção de um prédio na esquina da avenida com a então denominada rua do Barroso, atual Siqueira Campos, projeto do engenheiro Eduardo Pederneiras e de propriedade dos srs. Rocha Miranda Filhos & Companhia Limitada (Beira-Mar, 28 de outubro de 1923). Mas o mais marcante fato de 1923 na avenida foi a inauguração do Hotel Copacabana Palace, ícone da arquitetura do Rio de Janeiro, que se tornaria um símbolo do glamour carioca. Na época de sua inauguração,era o maior hotel da América Latina e representava a modernidade da cidade.

Em 1924, a praia tinha seis postos de salvamentos com guarda-vidas no topo de postes de concreto. Na ocasião, o prefeito do Rio era Alaor Prata (1882 – 1964) (Fon Fon, 19 de janeiro de 1924). Nesta época, a alegria e a graça de Copacabana já faziam parte da nossa “urbs” estupenda (Revista da Semana, 12 de janeiro de 1924). Um corso de automóveis aconteceu na avenida e em frente ao Copacabana Palace foi tirada uma fita cinematográfica do movimento extraordinário da praia… (Beira-Mar, 20 de janeiro de 1924). Também houve, em março, uma Batalha de Confetes, que se repetiu em outros anos, assim como banhos de mar e outros festejos durante o carnaval (Beira-Mar, 2 de março de 1924, terceira coluna; Beira-Mar, 6 de março de 1927, segunda coluna; Beira-Mar, 19 de fevereiro de 1928; Beira-Mar, 16 de fevereiro de 1930; Beira-Mar, 23 de janeiro de 1937; Beira-Mar, 19 de fevereiro de 1938; Beira-Mar, 11 de fevereiro de 1939). Em 7 de março de 1924, foi inaugurado o Bar e Restaurante Lido-Antarctica, na esquina da rua Belfort Roxo, com um rinque de patinação e um dancing room (Beira-Mar, 22 de junho de 1924, última coluna). Porém, em outubro, mais uma vez a fúria do mar destruiu o trabalho de engenharia realizado na Avenida Atlântica (Revista da Semana, 18 de outubro de 1924). As obras de reconstrução foram realizadas sob a chefia e fiscalização de Ângelo Barata, chefe da 1ª circunscrição da viação municipal (Beira-Mar, 16 de novembro de 1924, segunda coluna; Beira-Mar, 7 de junho de 1925, primeira coluna).

 

 

As obras de reconstrução ainda não estavam concluidas quando, em 1925, de novo, a avenida foi atingida por nova ressaca, ficando bastante esburacada. A muralha foi reconstruída ainda durante a gestão de Alaor Prata (Revista da Semana, 18 de julho de 1925; Beira-Mar, 19 de julho de 1925; Beira-Mar, 6 de setembro de 1925; Beira-Mar, 8 de novembro de 1925; Beira-Mar, 6 de dezembro de 1925Revista da Semana, 2 de outubro de 1926). Dias antes da ressaca, havia sido realizada na Avenida Atlântica, a festa dos pescadores em homenagem a São Pedro (Beira-Mar, 19 de julho de 1925, segunda coluna).

 

 

 

Na edição do períódico Beira-Mar, de 7 de junho de 1926, na quarta coluna, foi feito um balanço dos danos causados nas últimas ressacas e também uma análise das obras em andamento e na edição de 4 de julho de 1926 uma retrospectiva das obras de calçamento e reconstrução da avenida desde 1923. As escadinhas que davam aceso à praia também havia sido destruídas e àquela altura, não foram recolocadas (Beira-Mar, 18 de julho de 1926, segunda coluna). As obras foram concluídas em agosto de 1926. De sua fundação até 1926, a Avenida Atlântica havia sofrido as consequências de cinco ressacas (Beira-Mar, 8 de agosto de 1926).

 

 

 

O hábito do footing, quando a sociedade carioca passeava na avenida, era frequente tanto nos anos 20 como nos anos 30 e 40 (Beira-Mar, 26 de dezembro de 1926, primeira coluna; Beira-Mar, 23 de janeiro de 1927, quarta coluna; Beira-Mar, 28 de outubro de 1939; Beira-Mar, 9 de novembro de 1940; Beira-Mar, 29 de agosto de 1942, primeira coluna; Beira-Mar, fevereiro de 1945). Ainda em 1927, reclamava-se da ausência de bancos e escadinhas na avenida (Beira-Mar, 3 de julho de 1927).

 

 

 

Em 1927, uma nova ressaca deixava suas marcas na Avenida Atlântica… (Beira-Mar, 7 de agosto de 1927).

 

 

Foi inaugurado em 1928, a sede do Praia-Club – fundado em 25 de setembro de 1927 por um grupo de moradores de Copacabana -, na altura do Posto 4 da avenida, que promovia eventos que integravam a programação do Rio chic, além de disputas esportivas (Beira-Mar, 5 de maio de 1928, última coluna; Beira-Mar, 22 de julho de 1929, segunda coluna; Beira-Mar, 8 de dezembro de 1929).

 

 

 

Também havia o Hotel Londres, prédio no melhor ponto de banhos da encantadora Avenida Atlântica. Lá eram realizados elegantes eventos sociais (Beira-Mar, 21 de outubro de 1928, última coluna; Beira-Mar, 21 de abril de 1929, primeira coluna).

 

 

O periódico Beira-Mar de 12 de maio de 1929, chamava atenção para a falta de arborização da Avenida Atlântica. Na década de 30, palacetes como o da família Duvivier e onde ficava a sede do Atlântico Club povoavam a avenida (Beira-Mar, 15 de junho de 1930).

 

 

 

Em 1930, foi pela primeira promovida a Tarde das Flores, na Avenida Atlântica, para celebrar a chegada do inverno Cada posto escolheu flores para simbolizá-los: Posto 1 – amor-perfeito, Posto 2 – magnólia, Poto 3 – violeta, Posto 4 – hortênsia, Posto 5 – dália e Posto 6 – margarida (Beira-Mar, 13 de abril de 1930, quarta coluna).

Novamente a Avenida Atlântica foi castigada por uma ressaca, diversas casas foram inundadas, a água foi até a porta principal do Hotel Copacabana Palace mas suas muralhas de proteção não foram destruídas (Beira-Mar, 20 de julho de 1930, primeira coluna; Beira-Mar, 27 de julho de 1930, primeira coluna). Em dezembro, foram inaugurados pavilhões praianos ao longo da avenida (Beira-Mar, 7 de dezembro de 1930, penúltima coluna).

 

 

Em 1931, foi inaugurado, na Avenida Atlântica com a rua Haritoff, atual rua Ronald de Carvalho, com pistas originalíssimas, o  Natural Pi Wi Golf (Beira-Mar, 3 de maio de 1931, terceira coluna). Foi inaugurado, logo no início de 1932, um rinque de patinação entre os postos 3 e 4, no nº 628 (Beira-Mar, 9 de janeiro de 1932, segunda coluna). O carnaval deste ano contou com uma Batalha de Flores e de um corso na Avenida Atlântica (Beira-Mar, 6 de fevereiro de 1932) e, em 7 de março, foi inaugurada uma filial do Colégio Anglo-Americano, no número 458, na avenida (Beira-Mar, 20 de fevereiro de 1932). Havia ainda na Avenida Atlântica, nº 952, o Instituto Anglo-Francês (Beira-Mar, 2 de julho de 1932, terceira coluna).

 

 

O Bar Alpino era um dos points da Avenida Atlântica, ficava no nº 142, no Leme, e em uma propaganda se identificava como o maior e mais confortável bar da América do Sul (Beira-Mar, 27 de outubro de 1934). Apesar da beleza da avenida, seus bancos continuava a ser espatifados. 

 

 

Em 1934, parte do morro do Inhangá, que ainda chegava à Avenida Atlântica foi cortado para a construção da piscina do Copacabana Palace. Então a linha imaginária entre as praias de Copacabana e do Leme passou a ser a atual Avenida Princesa Isabel. Em 1951, o que havia restado dessa pedra junto ao hotel foi retirado para a construção do grupo de edifícios Chopin, Balada e Prelúdio

 

 

 

Foi inaugurado, em 20 de março de 1935, na Avenida Atlântica, na altura do Posto 6, onde antes havia a já mencionada casa da francesa Mère Louise, o Cassino Balneário Atlântico (Beira-Mar, 16 de fevereiro de 1935; Beira-Mar, 30 de março de 1935).

 

 

Logo no início de 1935, foi anunciada pela Diretoria Geral de Turismo a reposição de 48 dos bancos espatifados (Beira-Mar, 22 de dezembro de 1934Beira-Mar, 12 de janeiro de 1935, primeira coluna). Em setembro, foram de novo depredados (Beira-Mar, 28 de setembro de 1935, penúltima colunaBeira-Mar, 26 de outubro de 1935).

Neste mesmo ano, o Cine-Varieté, no Cassino Balneário Atlântico, passou a receber o público, tornando-se um dos mais chiques e elegantes locais da Avenida Atlântica. Apresentava produções internacionais e nacionais e realizava matinés infantis. Aos domingos eram distribuídos brinquedos para as crianças. (Beira-Mar, 9 de novembro de 1935).

 

 

Em 1936, foram inauguradas as primeiras torres dos postos de salvamento, nos Postos  2 e 6, com a presença de Pedro Ernesto Baptista (1884 – 1942), primeiro prefeito eleito do Distrito Federal (Beira-Mar, 28 de março de 1936, primeira página e página 10). Nesta época, os focos do mundanismo no Posto 2, então o mais concorrido da Avenida Atlântica, eram a Confeitaria Alvear, esquina com a República do Peru, o restaurante Lido e o Bar e Restaurante OK, esquina com a então rua Haritoff, atual Ronald de Carvalho (Beira-Mar, 2 de maio de 1936).

 

 

Em maio de 1936, uma nova ressaca atingiu a Avenida Atlântica, cujo tráfego ficou impedido porque a água e a areia invadiram a rua (Beira-Mar, 29 de agosto de 1936, primeira coluna). Seu calçamento foi parcialmente consertado e em 1937 as reclamações em relação ao estado da avenida continuava (Beira-Mar, 10 de outubro de 1936, primeira coluna; Beira-Mar, 4 de setembro de 1937, quarta coluna). No ano seguinte, foi publicado um artigo afirmando que a avenida havia sido mal projetada, tendo sido traçada muito próxima ao mar (Correio da Manhã, 30 de março de 1937, quinta colunaBeira-Mar, 10 de abril de 1937).

 

 

No final do ano, foi inaugurado mais um point no Posto 2, o Citro Bar Expresso (Beira-Mar, de 7 de novembro de 1936).

 

 

O Clube dos Marimbás, fundado em 5 de abril de 1932 por 36 rapazes, dentre eles o proprietário das Organizações Globo, Roberto Marinho (1904 – 2003), e inicialmente sediado ao lado do Edifício Olinda, já se localizava no final da praia de Copacabana, junto ao Forte de Copacabana. Seu anteprojeto, inspirado em um navio ancorado, é dos renomados arquitetos Lucio Costa (1902 – 1998) e do russo Gregori Warchavchik (1896 – 1972), expoentes da arquitetura modernista no Brasil. O projeto, no entanto, foi concluído pelo arquiteto Paulo Antunes Ribeiro (1905 – 1973), um dos sócio fundadores do clube, da onde descortina-se uma das mais belas vistas da Avenida Atlântica (Beira-Mar, 7 de novembro de 1936).

 

 

O moderníssimo Luxor Hotel foi inaugurado na avenida, no Posto 4, (Beira-Mar, 12 de junho de 1937, primeira coluna) e no Posto 2, inauguração do Wonder Bar, novo ponto de reunião para a elegância copacabanense (Beira Mar, 9 de outubro de 1937). Ainda nesse ano, foi inaugurada a Casa Arthur Hermanny, o estabelecimento mais distinto a serviço do bairro mais elegante, especializada em artigos de luxo, na esquina com a rua Bolivar (Beira-Mar, 4 de dezembro de 1937; Beira-Mar, 1º de julho de 1939). Na década de 30, outro hotel de destaque na avenida eram o Hotel Atlântico, no número 654. Também ficava na avenida o Lar da Creança, orfanato para meninas, no número 842 (Beira-Mar, 25 de maio de 1935).

 

 

De acordo com um artigo publicado na Beira-Mar, de 29 de janeiro de 1938, o tráfego intenso na Atlântica, artéria principal de Copacabana, colocava em perigo a vida das pessoas que praticavam o footing na avenida. Em entrevista, o prefeito Henrique Dodsworth (1895 – 1975) informou que a avenida seria alargada (Diário da Noite, 7 de março de 1938Beira-Mar, 12 de março de 1938, primeira coluna).

No carnaval de 1938, as escolas de samba desfilaram na avenida Atlântica e as vencedoras foram a Portela e a Unidos da Tijuca (Beira-Mar, 26 de fevereiro de 1938). Meses depois, a iluminação da avenida começou a ser trocada e foi inaugurado o Internacional Bridge Club, no primeiro andar do Edifício Continental (Beira-Mar, 2 de abril de 1938, página 5 e página 7). O restaurante Carlton ficava no Posto 3 (Beira-Mar, 23 de abril de 1938, segunda coluna) e a casa de modas Longchamps, no número 822 (Beira-Mar, 4 de junho de 1938, primeira coluna). Havia também o Hotel Cosmópolis (Beira-Mar, 2 de julho de 1938, primeira coluna) e o Hotel Rivera. Mas a ocupação da avenida por apartamentos “cabeças de porco” já era uma preocupação (Beira-Mar, 24 de setembro de 1938).

Já no início de 1939, foi inaugurada uma nova iluminação na avenida, iniciativa do prefeito Henrique Dodsworth (1895 – 1975) (Beira-Mar, 4 de fevereiro de 1939, quarta coluna; Beira-Mar, 4 de março de 1939; Beira-Mar, 18 de março de 1939; Beira-Mar, 20 de maio de 1939; Beira-Mar, 9 de novembro de 1940).

 

 

O alargamento da avenida e a construção de groynes para afastar o mar foi anunciada (Beira-Mar, 4 de março de 1939, primeira coluna). Mas na ressaca de junho, os groynes do sr Maurício Joppert foram por…água abaixo (Gazeta de Notícias, 13 de junho de 1939, terceira colunaBeira-Mar, 17 de junho de 1939, primeira coluna; Beira-Mar, 15 de julho de 1939). Os problemas de trânsito persistiam e acidentes com mortes aconteciam (Beira-Mar, 1º de abril de 1939, primeira colunaBeira-Mar, 15 de abril de 1939). Também 17 bancos da avenida foram destruídos por vândalos (Beira-Mar, 15 de abril de 1939). Existia na avenida um solarium da Seção de Convalescentes da Secretaria de Saúde e Assistência Social (Beira-Mar, 13 de maio de 1939). Ainda nesse ano, foi publicada a matéria Os praianos reclamam sobre os ratos que infestavam a praia e o número de prisão de mulheres que faziam “troittoir” na Avenida Atlântica (Beira-Mar, 8 de julho de 1939).

 

 

Foi na década de 40, que Copacabana se firmou como bairro chique e sua vida noturna era dividida entre seus os cassinos do Hotel Copacabana Palace e o Cassino Atlântico, que ficava na avenida esquina com Francisco Otaviano.

Ao lado do Hotel Londres, no início dos ano 40, era ministrado o Curso de Ginástica da Sociedade Brasileira de Cultura Física e Eugenia, sob a orientação do drs. David Madeira e Paulo Rolim (Beira-Mar, 3 de fevereiro de 1940). Já o Colégio Paula Freitas ficava no número 762 da avenida (Beira-Mar, 27 de abril de 1940).

 

 

 

O trânsito e a velocidade com que os carros trafegavam na avenida, além da falta de sinalização e o barulho das buzinas, continuavam a ser um problema (Beira-Mar, 8 de junho de 1940, terceira coluna; Beira-Mar, 12 de outubro de 1940; Beira-Mar, 8 de março de 1941; Beira-Mar, 21 de junho de 1941; Beira-Mar, 2 de agosto de 1941). Também havia reclamações em relação ao calcamento da avenida (Beira-Mar, 16 de agosto de 1941).

Na fotografia destacada abaixo, vê-se a grande diferença do mesmo trecho da Avenida Atlântica fotografada em 1912 e em 1940. Em 1930, a nossa avenida Atlântica não tinha um único arranha-céu; hoje é quase toda cheia de imensos palácios que são um orgulho de nosso progresso (Beira-Mar, 14 de março de 1942).

 

 

Uma grande parada de elegância e automobilística foi patrocinada pela Rádio Ipanema. Houve um desfile de carros pela Avenida Atlântica que culminou com uma festa no Luxor Hotel (Beira-Mar, 1º de fevereiro de 1941). O Ginásio Brasileiro funcionava no número 996 da avenida (Beira-Mar, 8 de março de 1941).

Foi publicada uma crônica sobre o popular cachorro Faísca que era muito popular em Copacabana e acabou morrendo, atropelado na Avenida Atlântica: Faísca, filho do prazer, Nascido no Mère Louise e criado no OK, de Nelson Nascimento (Beira-Mar, 22 de março de 1941; Beira-Mar, 5 de abril de 1941).

No artigo Copacabana, a cidade mais moça e mais bela do Brasil era mencionado que “Em 1930, a nossa Avenida Atlântica não possuia um único arranha-céu; hoje é quase toda cheia de imensos palácios que são um orgulho de nosso progresso” (Beira-Mar, 14 de março de 1942, última coluna). Na mesma edição do periódico, havia uma propaganda da loja Dr.Scholl, inaugurada na avenida Atlantica, número 766, esquina com a rua Bolívar (Beira-Mar, 28 de março de 1942).

Charretes e bicicletas passaram a ser usadas no Rio de Janeiro devido ao racionamento de gasolina e consequente suspensão da circulação de automóveis na cidade. Aos domingos, essa substituição dava um novo movimento à nossa Avenida Atlântica. É o divertimento do dia (Beira-Mar, 15 de agosto de 1942). A sede provisória da Associação Atlética de Copacabana ficava na Avenida Atlântica número (Beira-Mar, 15 de agosto de 1942, segunda coluna).

Houve três dias de black-out em Copacabana, Ipanema, Leme e Leblon que alterou o “footing” colorido de outras noites na Avenida Atlântica (Beira-Mar, 19 de setembro de 1942).

Foi anunciada a inauguração do Cinema Rian, na Avenida Atlântica (Beira-Mar, 10 de outubro de 1942). Em sua abertura foi exibido o filme Aconteceu Em Havana, com Carmen Miranda e o Bando da Lua, Alice Faye, John Payne e Cesar Romero. O cinema funcionou no prédio de mesmo nome construído Nair de Teffé, caricaturista e viúva do ex-presidente Hermes da Fonseca, com a herança deixada por seu pai, o Barão de Teffé, morto em 1931. Rian é o seu nome escrito de trás para frente. Em 1940, o edifício foi vendido, mas manteve seu nome como uma homenagem a ela.

 

 

O Repousário do Hospital Jesus, na Avenida Atlântica, que havia passado por vários melhoramentos foi, em 27 de novembro, visitado pelo prefeito Henrique Dodsworth. Na mesma data, o prefeito inaugurou, com a presença de Assis Chateaubriand, os novos postos de salvamento da Praia de Copacabana (Beira-Mar, 1º de janeiro de 1943, primeira coluna).

E os novos estúdios da Rádio Ipanema ficavam na Avenida Atlântica, número 24, no Leme (Beira-Mar, 19 de dezembro de 1942, primeira coluna).

Foi realizada a primeira procissão de Nossa Senhora de Copacabana com um cortejo pela Avenida Atlântica (Beira-Mar, 9 de outubro de 1943, primeira coluna). Ainda em outubro, foi reaberto o Wonder Bar, primeiro estabelecimento do Rio adaptado ao “black-out” (Beira-Mar, 30 de outubro de 1943).

 

 

Mais uma vez, os bancos da Avenida Atlântica foram depredados (Beira-Mar, 29 de abril de 1944, quarta coluna). Em outubro do mesmo ano, foi publicada uma propaganda da Confeitaria Alvear, que ficava no número 444 na avenida, esquina com República do Peru (Beira-Mar, 28 de outubro de 1944).

Em 27 de junho 1945, foi inaugurado no número 546 da Avenida Atlântica, esquina com Siqueira Campos, o Bar e  Restaurante Albatros (Beira-Mar, julho de 1945). Também havia na avenida, no número 730-A, a Bombonière Rian (Beira-Mar, setembro de 1945).

As festas de carnaval na Boate Bolero, na Avenida Atlântica, 434, eram um sucesso, e o melhor chopp do Rio era servido na Taberna Atlântica, no número 186 (Beira-Mar, março de 1946). No mesmo ano, no número 980, foi inaugrada a Casa 980, de acessórios de automóveis (Beira-Mar, abril de 1946).

Na década de 50, de muito movimento social na Avenida Atlântica e no bairro como um todo (Correio da Manhã, 28 de julho de 1957), a sede da Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), no Posto Seis, no edifício da avenida esquina com a Rua Francisco Otaviano continuava mantendo a tradição de baluarte da alegria carnavalesca. Há duas semanas vêm realizando em sua boate os movimentados bailes “Sassaricadas” (das 14h às 20h), os quais terão prosseguimento, todos os sábados, até o carnaval (O Globo, 29 de janeiro de 1954).

Na mesma década, foi na Confeitaria Alvear, na Avenida Atlântica,  que um grupo de rapazes, bem nascidos e bem sucedidos, se encontrava para beber e conversar. Formaram o Grupo dos Cafajestes, que na época de Carnaval dali partiam para os bailes de Copacabana. Seu fundador foi o comandante da Panair do Brasil, Edu, Eduardo Henrique Martins de Oliveira, botafoguense fanático. Outros integrantes do grupo foram o jogador de futebol Heleno de Freitas, Baby Pignatari, Carlos Niemeyer, Carlos Peixoto, Celmar Padilha, Ermelindo Matarazzo, Fernando Aguinaga, Ibrahim Sued, Jorginho Guinle, Mário Saladini, Mariozinho de Oliveira, Sérgio Pettezzoni, Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), dentre vários outros.

Em março de 1954, no Bife de Ouro, restaurante do Copacabana Palace, ocorreu uma briga entre o jornalista Carlos Lacerda (1914 – 1977) e Euclides Aranha, filho do então ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha (1894 – 1960), noticiada no jornal O Globo:

Lacerda e filho de Aranha trocam socos

Principiando por uma altercação seguida de luta corporal entre o Sr. Euclides Aranha e o jornalista Carlos Lacerda, um incidente que se prolongaria até a meia-noite, resultando, inclusive, em congestionamento do tráfego da Avenida Atlântica e interdição do local por autoridades policiais, perturbou na noite de ontem o jantar no Bife de Ouro, o restaurante do Copacabana palace Hotel. Achavam-se reunidos na mesma mesa o ministro João Cleophas, o deputado Edilberto Ribeiro, o Sr. Manuel Ferreira e Carlos Lacerda, diretor da “Tribuna da Imprensa”, num jantar promovido pelo deputado. De outra mesa, o Sr. Euclides Aranha, filho do ministro Oswaldo Aranha, jantava com a esposa, levantou-se, fisionomia transtornada, dirigiu-se à mesa onde se encontrava o referido grupo, deteve-se junto à cadeira do jornalista e interpelou-o sobre ataques dirigidos a seu pai na “Tribuna da Imprensa”. À interpelação seguiu-se áspera troca de palavras, tendo o jornalista se levantado, entrando em luta com o filho do ministro da Fazenda. Segundo as testemunhas, os dois trocaram socos por algum tempo, até que amigos comuns se interpuseram e os separaram. Às 23h, o próprio ministro Oswaldo Aranha compareceu ao restaurante para ver o que ocorrera. Pouco depois, simultâneamente, por portas diferentes, os Srs. Euclides Aranha e Carlos Lacerda abandonaram o Bife de Ouro (O Globo, 24 de março de 1954).

E foi também na década de 50, que a Bossa Nova nasceu: na casa dos pais da cantora Nara Leão (1942 – 1989), na avenida Atlântica, no Posto 4, que jovens como Roberto Menescal (1937 – ), Ronaldo Boscoli (1928 – 1994), Carlinhos Lyra (1933 – ) e outros se reuniam para cantar e compor. Mas o fato que marcou o aparecimento do movimento musical foi o disco gravado por Elizete Cardoso (1920 – 1990), em 1958, Canção do amor demais, cujo acompanhamento era feito pelo violonista João Gilberto (1931 – 2019). Outro gênero musical sacudiu a Avenida Atlântica: o rock and roll. Em 1957, estreou o filme Ao balanço das horas, com Bill Haley e seus cometas, no Cinema Rian, e suas sessões foram muitas vezes tumutuadas pelos jovens que dançavam durante o filme (O Jornal, 15 de janeiro de 1957, última coluna).

 

Já em fins da década de 60, sob a gestão do governador Francisco Negrão de Lima (1901 – 1981) e por sugestão do arquiteto Lúcio Costa (1902 – 1998), entre 1969 e 1971, uma grande obra, projeto do engenheiro gaúcho Raimundo de Paula Soares (1926 – 1992), foi realizada na Avenida Atlântica. Com bombeamento de areia, a distância entre a fachada dos prédios e a praia passou de 21 para 73 metros e a área ganhou estacionamentos, seis pistas de automóveis, calçadões e um interceptor oceânico para captar o esgoto do bairro.

“Sobre a areia foram construídas duas pistas de rolamento com um calçadão central sob o qual instalou-se o Interceptor Oceânico da Zona Sul, a maior obra de esgotamento sanitário até então feita na cidade. Todo o espaço até então usado pela antiga avenida e suas duas calçadas transformou-se em largo calçadão junto aos prédios; o atual estacionamento fica sobre o que era a areia da praia. Esta teve sua largura ampliada, com areia retirada do fundo do mar por dragas. Os mosaicos dos calçadões foram desenhados por Roberto Burle Marx (1909 – 1994), utilizando pedras de três cores, representando os povos que formaram a população brasileira. O calçadão junto à areia manteve o antigo desenho, oriundo de Portugal, uniformizando a orientação e ampliando o tamanho das ondas, fazendo-as condizentes com a largura da nova calçada. Em 1975, foram construídos novos postos de salvamento, projetados pelo arquiteto Sérgio Bernardes (1919 – 2002) (IBGE).

Foi em meados da década de 70, que o Hotel Méridien, então localizado na avenida Atlântica esquina com avenida Princesa Isabel, no Leme, promoveu uma queima de fogos espetacular do alto de seu prédio (Jornal do Brasil, 2 de janeiro de 1978, última coluna). A partir daí, a queima de fogos foi crescendo na Praia de Copacabana e passou a integrar o calendário do Rio de Janeiro.

 

 

Na administração do Prefeito Saturnino Braga (1986-1988) foram plantados grupos de coqueiros na areia e, na de Marcelo Alencar (1983-1986), construídos quiosques fixos e uma ciclovia” (IBGE).

Em 1984, por designação do Comitê Olímpico Brasileiro, foi realizada a Maratona do Rio como prova seletiva dos Jogos Olímpicos de Los Angeles. A Avenida Atlântica fazia parte do percurso do evento esportivo.

 

 

Na década de 90, começaram a ser promovidos pela prefeitura da cidade, durante a gestão de César Maia, shows nas areias da Praia de Copacabana com diversos artistas durante a passagem do fim do ano. A estreia, no réveillon de 1993 / 1994, foi com Jorge Benjor (Jornal do Brasil, 2 de janeiro de 1994). No ano seguinte, a atração foi o roqueiro inglês Rod Stewart (Jornal do Brasil, 1º de janeiro de 1995). O réveillon na Avenida Atlântica ficava cada vez mais animado e concorrido!

Em 18 de fevereiro de 2006, 1 milhão e meio de pessoas assistiram das areias de Copacabana e da Avenida Atlântica ao show da lendária banda britânicca The Rolling Stones.

Para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016, foi  montada na Praia de Copacabana uma arena para a disputa de vôlei de praia com capacidade para 12 mil lugares, 21 metros de altura no ponto mais alto – equivalente a um prédio de sete andares – e 62 mil metros quadrados. Mais uma vez, a Avenida Atlântica aparecia para o mundo todo!

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Acervo O Globo

Biblioteca do IBGE

CASTRO, Ruy. A noite do meu bem. São Paulo : Companhia das Letras, 2015.

CASTRO, Ruy. A onda que se ergueu no mar. Novíssimo mergulhos na Bossa Nova. São Paulo : Companhia das Letras, 2017.

CASTRO, Ruy. Chega de saudade. São Paulo : Companhia das Letras, 2016.

CASTRO, Ruy. Metrópole à beira-mar: O Rio moderno dos anos 20. São Paulo : Companhia das Letras, 2019.

Diário do Rio

Dicionário de verbetes do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro

GARSON, Marcelo. Roquianos, suburbanos e dançarinos: rock and roll carioca (55-60). Música Popular em Revista. Campinas, ano 1, vol 2, jan-junho 2013.

GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2013.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Jornal O Globo

Site Câmara Municipal do Rio de Janeiro

Site Copacabana.com

Site Copacabana em foco

Site Clube dos Marimbás

Site Curiosidades cariocas

Site Editora Posto 6

Site Escritório de Arte

Site Rio que passou

*Inicialmente, estava escrito José Américo de Souza Rangel,, nome que consta em várias fontes de pesquisa. Porém, uma bisneta de Augusto Américo de Souza Rangel entrou em contato com a Brasiliana Fotográfica e, de fato, quem trabalhava na época na Comissão da Carta Cadastral e era, inclusive, muitíssimo amigo de Pereira Passos era o engenheiro Augusto Américo. Ele assumiu diversos cargos na comissão da Carta Cadastral, tendo sido seu chefe entre 1901 e 1903. O órgão teve grande relevância para o plano de reforma urbana realizado durante a gestão do prefeito Pereira Passos. Uma curiosidade: Souza Rangel e Pereira Passos eram muito próximos e as cartas trocadas entre eles, quando, após o término de sua gestão, Passos viajou para a Europa e para o Oriente Médio, ficaram famosas e foram compiladas no livro Notas de viagens, cartas a um amigo, publicado em 1913. a correção foi realizada em 5 de janeiro de 2020.

 

 

Links para as outras publicações da série “Avenidas e ruas do Brasil”

 Série “Avenidas e ruas do Brasil” I – Avenida Central, atual Rio Branco, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 7 de setembro de 2016

Série “Avenidas e ruas do Brasil” II – A Rua do Imperador em Petrópolis por Klumb, Leuzinger e Stahl, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 26 de junho de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” III – A Rua do Bom Jesus, no Recife, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 6 de agosto de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IV – A Rua 25 de Março, em São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 1º de setembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” V – A Rua Direita, a Rua das Mercês e a Rua Macau do Meio, em Diamantina, Minas Gerais, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 22 de outubro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil” VI  – Rua Augusto Ribas e outras, em Ponta Grossa, no Paraná, pelo fotógrafo Luiz Bianchi, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 16 de novembro de 2020

Série “Avenidas e ruas do Brasil VIII – A Rua da Carioca por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 20 de janeiro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” IX – Ruas e panoramas do bairro do Catete, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de julho de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” X – A Rua da Ajuda, no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 9 de novembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XI – A Rua da Esperança, em São Paulo, por Vincenzo Pastore, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 14 de dezembro de 2021

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XII – A Avenida Paulista, o coração pulsante da metrópole, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 21 de janeiro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIII – A Rua Buenos Aires no Centro do Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal,  publicada em 19 de julho de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XIV – A Avenida Presidente Vargas,, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 31 de agosto de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XV – Misericórdia: rua, largo e ladeira, no Rio de Janeiro, por Cássio Loredano, de autoria de Cássio Loredano, publicada em 8 de dezembro de 2022

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVI – “Alguma coisa acontece no meu coração”, a Avenida São João nos 469 anos de São Paulo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 25 de janeiro de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVII  e série “O Rio de Janeiro desaparecido” XXIII – A Praia e a Rua do Russel, na Glória, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 15 de maio de 2023

Série “Avenidas e ruas do Brasil” XVIII – Avenida Beira-Mar, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 22 de janeiro de 2024

 

O centenário da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Com registros de Marc Ferrez (1843 – 1923) e de Revert Henrique Klumb (c. 1826 – c. 1886), a Brasiliana Fotográfica celebra o centenário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a maior universidde federal do Brasil. Por coincidência, a comemoração de seus 100 anos acontece, como na época de sua criação, sob os impactos de uma pandemia. Em 1920, era a gripe espanhola, cujo auge aconteceu em 1918, e, atualmente, o coronavírus. É reconhecida como um dos maiores centros de produção acadêmica e científica do Brasil.

A imagem de Ferrez é do atual Palácio Universitário, antigo Hospital dos Alienados ou Hospício Pedro II, inaugurado em 18 de julho de 1841. O prédio, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1971, localiza-se na Urca e foi doado à universidade na década de 40 (Correio da Manhã, 9 de dezembro de de 1944, primeira coluna; e Correio da Manhã, 14 de novembro de 1944). É ocupado  pelo Fórum de Ciência e Cultura, pela Escola de Comunicação, pela Faculdade de Educação, pelo Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas, pela Faculdade de Administração e Ciências Contábeis e pelo Instituto de Economia e Sistema de Bibliotecas e Informação da UFRJ.

 

 

As outras imagens, de autoria de Klumb, são da Escola Militar, desde 1969 local onde funciona o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), no Largo de São Francisco no Centro da cidade. O prédio foi construído originalmente para ser a Sé do Rio de Janeiro. A partir de 1812 abrigou a Academia Real Militar, futura Escola Militar que, em 1858, foi denominada Escola Central. Em 1874, passou a chamar-se Escola Politécnica. Em 1937, teve seu nome mais uma vez mudado, dessa vez para  Escola Nacional de Engenharia e, em meados da década de 60, já na Cidade Universitária, passou a se chamar Escola de Engenharia. Voltou a se intitular Escola Politécnica, em 2003, por ter sido esse o nome em que ela atingiu o apogeu de sua fama e prestígio, em que se tornou reconhecida no âmbito nacional e internacional. O edifício no Largo de São Francisco é a sede do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais desde 1969.

 

 

A UFRJ  foi a primeira universidade federal do Brasil e seu primeiro reitor foi Ramiz Galvão (1846 – 1938). A atual reitora é a biofísica Denise Pires de Carvalho, primeira mulher a assumir esse cargo, em 2 de julho de 2019. A UFRJ é um centro de excelência tanto em ensino como em pesquisa no país e na América Latina e, nos últimos anos, tornou-se mais diversa, democrática e inclusiva: a entrada de estudantes negrou dobrou na última década e em 2016 passaram a ser mais da metade dos ingressantes. Além disto, o ingresso de estudantes originários da rede pública aumentou 64%.

A UFRJ tem 176 cursos de graduação e 232 de pós-graduação, cerca de 65 mil estudantes e quatro mil docentes, três mil servidores em hospitais e cinco mil técnicos administrativos, nove hospitais e 1.456 laboratóriso, 13 museus, 14 prédios tombados e 45 bibliotecas, 1.863 projetos de extensão e um parque tecnológico de 350 mil metros quadrados.

 

 

Acessando o link para as fotografias de prédios integrantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Foi criada no governo do presidente Epitácio Pessoa (1865 – 1942), com a denominação de Universidade do Rio de Janeiro, em 7 de setembro de 1920 pelo Decreto 14 343, que reuniu a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, originária da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, fundada em 1792da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro criada por dom João VI, em 2 de abril de 1808 como Academia de Medicina e Cirurgia; e a Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, fusão da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais com a Faculdade Livre de Direito, ambas reconhecidas pelo Decreto 639, de 31 de outubro de 1891 (O Paiz, 7 de setembro de 1920, terceira coluna). Uma curiosidade: pouco depois da fundação da Universidade do Rio de Janeiro, a congregação da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro decidiu dar o título de doutor honoris causa para o rei Alberto da Bélgica, em visita ao Brasil (O Paiz, 2 de outubro de 1920).

 

simbolo

O ministro da Educação, Gustavo Capanema (1900 – 1985), promoveu, em 1937, durante o governo de Getulio Vargas (1882 – 1954), uma grande reestruturação na Universidade do Rio de Janeiro que passou a ser chamada de Universidade do Brasil, cujo primeiro reitor foi Raul Leitão da Cunha (1881 – 1947) (O Jornal, 26 de janeiro de 1937, sexta coluna; O Jornal, 6 de julho de 1937). Em 1946, incorporou o Museu Nacional (Decreto-lei de 16 de janeiro de 1946) e teve seu estatuto aprovado pelo Decreto nº 21.321, de 18 de junho de 1946. Era então contituída pelas Faculdade Nacional de Medicina, Faculdade Nacional de Direito, Faculdade Nacional de Odontologia, Faculdade Nacional de Filosofia, Faculdade Nacional de Arquitetura, Faculdade Nacional de Ciências Econômicas, Faculdade Nacional de Farmácia, Escola Nacional de Engenharia, Escola Nacional de Belas Artes, Escola Nacional de Músicas, Escola Nacional de Minas e Metalurgia, Escola Nacional de Educação Física e Desportos e pela Escola Ana Néri, além do já mencionado Museu Nacional.

Sob o governo do general Humberto de Alencar Castelo Branco (1897 – 1967), com a sanção da Lei nº 4831, de 5 de novembro de 1965, a universidade ganhou seu nome atual, Universidade Federal do Rio de Janeiro. A Ilha do Fundão havia sido escolhida para sediar a Cidade Universitária, onde se concentra uma boa parte de seus cursos, departamentos e unidades (Revista Shell, abril/maio/junho de 1954). Foi oficialmente inaugurada em 7 de setembro de 1972.

Atualmente, a Universidade Federal do Rio de Janeiro possui quatro campi: a Cidade Universitária, na Ilha do Fundão; Praia Vermelha, na Urca; Macaé, o mais novo campus, na cidade de Macaé; e o Complexo Avançado de Xerém, em Duque Caxias. Existem faculdades, institutos e unidades da UFRJ fora dos campi mencionados, dentre eles o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, o Instituto de História, a Faculdade Nacional de Direito e a Escola de Música, localizados no centro do Rio de Janeiro; o Museu Nacional e o Observatório do Valongo, situados no bairro de São Cristóvão; e o Colégio de Aplicação da UFRJ, na Lagoa Rodrigo de Freitas.

 

Link para a galeria de reitores da UFRJ

Link para edificações que fazem parte da UFRJ e foram tombadas

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Agência Brasil

CUNHA, Luiz Antônio. A Universidade Temporã: o ensino superior da Colônia à Era Vargas. São Paulo: UNESP, 2007.

Dicionários de verbetes AGCRJ

Documentário Centenária: a universidade do Brasil entre duas pandemias

FÁVERO, Maria de Lourdes. Universidade do Brasil: das origens à construção. Rio de Janeiro: UFRJ, 2010.

Folha de São Paulo, 6 de setembro de 2020

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Portal da Câmara dos Deputados

Site 100 anos UFRJ

Site Escola Politécnica

Site IFCS

Site Museu Nacional

Site SiBI – Memória Institucional da UFRJ

Site UFRJ

 

 

Debate pelos cinco anos da Brasiliana Fotográfica – link de acesso e para fotografias mostradas durante o encontro

 

O debate que a Brasiliana Fotográfica promoveu para celebrar o seu aniversário de cinco anos, dentro do contexto da atual pandemia do coronavírus, foi muito bem sucedido, tendo sido assistido por centenas de pessoas numa live transmitida no dia 17 de abril de 2020, às 17h30m. Pode ser acessado no link https://www.facebook.com/institutomoreirasalles/videos/547559385897022/ . Os debatedores foram o historiador Jaime Benchimol, a pneumologista Margareth Dalcolmo e o urbanista e arquiteto Guilherme Wisnik.

O portal mais uma vez agradece a seus leitores pela audiência e entusiasmo! Também destacamos nessa publicação todas as fotografias mostradas durante o encontro, além de outras que se relacionam com os temas abordados.

 

 

Grupos de imagens: 

 

1 - Avenida Central

2 – Gripe Espanhola, links do arquivo do dr. Moncorvo Filho, do arquivo da Fiocruz

Doutor Maurity Santos examinando paciente com pneumonia durate a epidemia de gripe espanhola de 1918

Dr. Maurity e enfermeiras atendendo enfermo no Morro do Salgueiro

Doutores Moncorvo Filho e Orlando de Goes atendendo pacientes no surto de gripe espanhola de 1918

Moncorvo Filho consultando criança durante a epidemia de gripe espanhola de 1918

Moncorvo Filho consultando um bebê

Moncorvo Filho e auxiliares no Posto de Assistência à Infância durante o surto de gripe espanhola

Prédio que serviu para socorrer vítimas da gripe espanhola em 1918

Socorro a um homem enfermo no Morro da Mangueira

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Os cinco anos da Brasiliana Fotográfica

A Brasiliana Fotográfica, fundada pela Biblioteca Nacional e pelo Instituto Moreira Salles, em 17 de abril de 2015, completa cinco anos de existência buscando contribuir para uma escrita da história do Brasil onde as fotografias deixam de ser mera ilustração. A data seria comemorada com a realização do Seminário Brasiliana Fotográfica 5 anos – A imagem e a escrita da história, no auditório da Biblioteca Nacional que, devido à situação pela qual atravessa o Brasil e o mundo, foi adiado.

Decidimos então promover no contexto atual da pandemia de coronavírus um debate relacionando urbanismo, saúde pública e a história da cidade do Rio de Janeiro e das grandes metrópoles brasileiras, temas frequentes dos artigos semanais publicados no portal, dando visibilidade aos arquivos de imagem das instituições parceiras, ora disponibilizados na Brasiliana Fotográfica e também às pesquisas existentes sobre estes temas – elementos de reflexão sobre o momento presente. O encontro virtual será disponibilizado on-line ao vivo para o público, gratuitamente, no canal de facebook do Instituto Moreira Salles -  https://www.facebook.com/pg/institutomoreirasalles, no dia 17 de abril de 2020, às 17h30m.

 

 

Convidamos para este encontro e debate o historiador Jaime Benchimol, a pneumologista Margareth Dalcolmo – ambos pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, instituição integrante do portal Brasiliana Fotográfica – e o arquiteto e urbanista Guilherme Wisnik, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. O debate será mediado pelos dois curadores da Brasiliana Fotográfica – Sérgio Burgi, Coordenador de Fotografia do Instituto Moreira Salles, e Joaquim Marçal, Coordenador da BN Digital -, e pela historiadora Aline Lopes de Lacerda, pesquisadora do Departamento de Arquivo da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.

 

logo

 

Queremos também celebrar o aniversário do portal agracedendo a você, nosso leitor, que percorre nosso acervo fotográfico que, até o momento, possui 6.709 imagens de 11 instituições, e também lê nossas publicações semanais: já são 249! Ao longo desses cinco anos já tivemos 38.437.165 acessos!

Com uma rigorosa seleção e indexação das imagens que integram nosso acervo fotográfico, com o uso de uma linguagem simples e com a realização de uma pesquisa minuciosa, um dos objetivos da Brasiliana Fotográfica é atrair o interesse do maior número de leitores possível, de todas as faixas etárias e níveis de formação acadêmica, para assuntos relativos à história da fotografia, do Brasil e do mundo. Os artigos, semanais, são escritos por profissionais ligados às instituições integrantes do portal,  por curadores convidados como Cassio LoredanoElvia BezerraEucanaã FerrazLilia Moritz SchwarczMaria Isabela Mendonça dos SantosMillard SchislerPedro Karp Vasquez e Rubens Ribeiro Gonçalves da Silva e também pelos curadores do portal Sérgio Burgi (IMS) e Joaquim Marçal (FBN).

 

Acessando o link para as 6.709 fotografias publicadas ao longo desses cinco anos na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

A escolha dos temas é variado: pode ser baseada tanto em uma efeméride como em uma reflexão mais teórica, na beleza ou na importância histórica de uma imagem ou de um grupo delas ou pode, também, se relacionar com algum fato da atualidade como foi, por exemplo, a publicação do artigo E o ex e futuro presidente do Brasil morreu de gripe…a Gripe Espanhola de 1918, em 20 de março de 2020, quando o mundo e o Brasil enfrentavam (ainda enfrentam) a pandemia do coronavírus. O presidente em questão foi Rodrigues Alves (1848 – 1919), uma das milhões de vítimas da gripe espanhola.

 

 

A elaboração de perfis de fotógrafos acompanhados por galerias de suas fotografias disponíveis no acervo do portal e por cronologias é uma das marcas da Brasiliana Fotográfica. E uma das estrelas das pesquisas realizadas para esses artigos é, além da bibliografia disponível sobre os temas, a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, com os links para as notícias da época em que os fatos ocorreram. De abril de 2015 a março de 2020, foram publicados 44 perfis, o primeiro, Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) e sua obra-prima, o “Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887″, em 24 de maio de 2015; e o último, As Camélias Japonesas no carnaval de Alagoas pelas lentes do fotógrafo amador Luiz Lavenère Wanderley (1868 – 1966), em 21 de fevereiro de 2020.

 

 

Lista de todos os perfis de fotógrafos publicados na Brasiliana Fotográfica de abril de 2015 a março de 2020 

2015

 1 – Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) e sua obra-prima, o “Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887″

2 – O alemão Alberto Henschel (1827 – 1882), o empresário da fotografia

3 O alagoano Augusto Malta, fotógrafo oficial do Rio de Janeiro entre 1903 e 1936

4Vincenzo Pastore (Casamassima, Itália 5 de agosto de 1865 – São Paulo, Brasil 15 de janeiro de 1918)

5 - Alagoas, Bahia, Minas Gerais e Sergipe por Augusto Riedel (1836 -?)

6 – Guerra de Canudos pelo fotógrafo Flavio de Barros

7 – O editor e fotógrafo suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892)

8 – Imagens do Espírito Santo por Albert Richard Dietze (Alemanha, 1838 – Brasil, 1906)

2016

9 – O fotógrafo francês Jean Victor Frond (1821 – 1881) e o “Brasil Pitoresco”

10 – O suicídio do fotógrafo Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903)

11 – Ipanema, que completa 122 anos, pelas lentes de José Baptista Barreira Vianna (1860 – 1925)

12 - Notícia da viagem do fotógrafo Albert Frisch (31/05/1840 – 30/05/1918) à Amazônia

13 - O fotógrafo Juan Gutierrez de Padilla (c.1860 – 28/6/1897)

14 – O fotógrafo paisagista Camillo Vedani (18?, Itália – c. 1888, Brasil)

15 - O fotógrafo amador Guilherme Santos (1871 – 1966)

16 – Revert Henrique Klumb, o fotógrafo da família real do Brasil

17 – O retratista português Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 14 de outubro de 1912)

18 – O fotógrafo Augusto Stahl (Itália 23/05/1828 – França, 30/10/1877)

19 – O brilhante cronista visual Marc Ferrez (RJ, 07/12/1843 – RJ, 12/01/1923)

2017

20- São Paulo sob as lentes do fotógrafo Guilherme Gaensly (1843 – 1928)

21 – Os trinta Valérios, uma fotografia bem-humorada de Valério Vieira (1862 – 1941) 

22- Os índios sob as lentes de Walter Garbe, em 1909 

23 - Abram-Louis Buvelot (Suíça, 03/03/1814 – Austrália, 30/05/1888) 

24 – Um fotógrafo inglês na Bahia: Benjamin Robert Mulock (18/06/1829 – 17/06/1863) 

25 - “Sete de Setembro: uma ponte entre dois maurícios”, por Pedro Vasquez

26 – Lampião e outros cangaceiros sob as lentes de Benjamin Abrahão 

27 – O cronista visual de Diamantina: Chichico Alkmim, fotógrafo (1886 – 1978)

28 - O fotógrafo austríaco Otto Rudolf Quaas e o construtor Ramos de Azevedo

29 –  O fotógrafo português Francisco du Bocage (14/04/1860 – 22/10/1919)

30- O fotógrafo Joaquim Pinto da Silva, o J. Pinto (1884-1951) e a Fundação Oswaldo Cruz

31 – O fotógrafo português José Ferreira Guimarães (1841 – 30/01/1924)

 2018

 32 – A construção Madeira-Mamoré, a ferrovia da Morte”, pelas lentes de Dana B. Merrill (c. 1887 – 19?)

33- O fotógrafo, botânico e naturalista alemão George Huebner (1862 – 1935)

34 - O francês Hercule Florence (1804 – 1877), inventor de um dos primeiros métodos de fotografia do mundo

35 - Lunara (1864 – 1937), um fotógrafo amador e fotoclubista de Porto Alegre

36 - O fotógrafo açoriano Christiano Junior (1832 – 1902) e sua importante atuação no Brasil e na Argentina

37 - A prisão do fotógrafo e aviador britânico S.H. Holland (1883 – 1936) no Rio de Janeiro, em 1930

2019

38 - Carlos Bippus e as paisagens cariocas

39 - Nudez na Galeria Ducasble causa polêmica no Recife do século XIX

40 - João Ferreira Villela, um dos primeiros fotógrafos pernambucanos

41 - Imagens de Blumenau: por Bernardo Scheidemantel e em álbum do início do século XX

42 - A Colônia Dona Francisca, Joinville, por Louis Niemeyer

43 – Jorge Kfuri (1893 – 1965), autor das primeiras fotografias aéreas do Rio de Janeiro

2020

44 - As Camélias Japonesas no carnaval de Alagoas pelas lentes do fotógrafo amador Luiz Lavenère Wanderley (1868 – 1966)

 

 

Dentre esses perfis está o do fotógrafo Marc Ferrez, O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), publicada em 7 de dezembro de 2016.

 

 

Sobre a obra de Ferrez, que é por muitos considerado o mais importante fotógrafo que atuou no Brasil no século XIX, foram escritos mais 13 artigos na Brasiliana Fotográfica: O Rio de Janeiro de Marc Ferrez, Obras para o abastecimento no Rio de Janeiro por Marc Ferrez , Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de Sérgio BurgiNo primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923)Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882)O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles DunlopUma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923)Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, Uma homenagem da Casa Granado ao imperial sob as lentes de Marc Ferrez, Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913 e Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb.

Outro objetivo do portal é divulgar mais questões ligadas à preservação digital, um assunto que toca não apenas às instituições de memória, mas a todos aqueles que produzem imagens digitais em seu dia a dia sem, no entanto, cuidar de sua preservação. Nesse sentido, já publicamos alguns artigos mas ainda temos muito a percorrer. Também desejamos ampliar a abrangência do portal com a adesão de instituições de todos os estados do Brasil.

Ainda em seu primeiro ano, no blog do portal, tivemos uma publicação de relevância histórica: a presença de Machado de Assis (1839 – 1908) na fotografia da Missa Campal pela comemoração da abolição da escravatura (de autoria de Antonio Luiz Ferreira), realizada em 17 de maio de 1888, no Campo de São Cristóvão, com a presença da princesa Isabel. A descoberta, realizada pela editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, Andrea Wanderley, foi saudada em outra publicação do blog pelo historiador José Murilo de Carvalho.

 

 

Os registros mais acessados pelos leitores nesses cinco anos foram as fotografias Missa campal celebrada em ação de graças pela Abolição da escravatura no Brasil, de Antonio Luiz Ferreira; Índios Botocudos, de Walter Garbe; Escola pública em Curytiba, de Marcos A. de Mello; A Família Imperial reunida, de Alberto Henschel; e Índios da Tribo Carajás, de autoria desconhecida.

 

 

Além das instituições fundadoras do portal, FBN e IMS, integram a Brasiliana Fotográfica o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, o Arquivo Nacional, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, a Fiocruz, a Fundação Joaquim Nabuco, o Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, o Museu Aeroespacial, o Museu da República e o Museu Histórico Nacional. A gestão do portal é realizada por Roberta Zanatta (IMS) e por Vinicius Martins (FBN).

 

Mais uma vez, muito obrigada e vamos em frente!

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

As doenças do Rio de Janeiro no início do século XX e a Revolta da Vacina em 1904

No início do século XX, no Rio de Janeiro, providências em torno do combate de diversas doenças já provocavam grandes polêmicas. A campanha de combate à varíola resultou, em novembro de 1904, em uma revolta popular e militar, a Revolta da Vacina ou Quebra-Lampiões – um protesto contra a lei que tornava obrigatória a vacinação em massa contra a doença, instituída pelo prefeito Pereira Passos e colocada em prática pelo então Diretor Geral de Saúde Pública, Oswaldo Cruz, contratado para o cargo para combater a varíola, assim como a peste bubônica e a febre amarela, que grassavam na cidade. Vamos contar um pouco dessa história.

 

 

Em 30 de dezembro de 1902, por decreto, Francisco Pereira Passos (1836 – 1913) foi nomeado prefeito do então Distrito Federal, o Rio de Janeiro, pelo presidente Rodrigues Alves (1848 – 1919), que prometia marcar seu governo pela modernização e pelo saneamento. Assumiu no mesmo dia (Gazeta de Notícias, 31 de dezembro de 1902, na sexta coluna), sucedendo Carlos Leite Ribeiro (1858 – 1945). Ocupou o cargo até 16 de novembro de 1906, quando foi sucedido por Francisco Marcelino de Sousa Aguiar (1855 – 1935) (O Paiz, 17 de novembro de 1906, na sexta coluna). Durante seu mandato, o prefeito Pereira Passos realizou uma significativa reforma urbana na cidade.

Para saneá-la e modernizá-la realizou diversas demolições, conhecidas popularmente como a política do “bota-abaixo”, que contribuiu fortemente para o surgimento do Rio de Janeiro da Belle Époque, sendo a abertura da Avenida Central dos seus maiores símbolos, festejada em uma crônica de Olavo Bilac (1865 – 1918) (Kosmos, março de 1904) . Essas transformações foram definidas por Alberto Figueiredo Pimentel (1869-1914), autor da seção “Binóculo”, da Gazeta de Notícias, com a máxima “O Rio civiliza-se”, que se tornou o slogan da reforma urbana carioca. Foi também Pereira Passos que contratou, em 1903, o primeiro fotógrafo oficial da prefeitura, Augusto Malta (1864 – 1957), justamente para documentar todas essas inúmeras e radicais mudanças na cidade.

 

 

Mas as reformas urbanas não eram o bastante para mudar o perfil do Rio de Janeiro, na época uma cidade bastante insalubre, assolada por doenças e sem saneamento básico, certamente obstáculos para o estabelecimento de uma sociedade moderna e cosmopolita nos moldes das capitais europeias. Lembramos do caso do cruzador italiano Lombardia que aportou na cidade, em novembro de 1895, e teve grande parte de sua tripulação infectada pela febre amarela. O capitão-de-fragata e comandante do navio, Olivari, e outros tripulantes, faleceram da doença (O Paiz, 28 de novembro de 1895, quinta coluna; O Paiz, 15 de fevereiro de 1896, quarta coluna; O Paiz, 17 de fevereiro de 1896, quinta coluna; O Paiz, 25 de fevereiro, sexta coluna; O Paiz, 29 de fevereiro de 1896, sexta colunaO Paiz, 1º de março de 1896, penúltima coluna; O Paiz, 9 de março de 1896, quarta colunaO Paiz, 10 de abril de 1896, penúltima coluna).

O Rio de Janeiro era inclusive conhecido internacionalmente como “túmulo dos estrangeiros”, possivelmente devido a versos sobre o verão carioca atribuídos ao escritor suíço Ludwig Ferdinand Schmid (1823-1888), que havia sido cônsul no Rio de Janeiro na década de 1860:

Oh! sombra, sobre a imagem encantada / Cores escuras pousam sobre os campos e florestas / O mal da natureza paira, poderoso / Sobre a florida superfície tropical /O poder supremo/ Deste Império não é de nenhum Herodes / No entanto é a terra da morte diária / Túmulo insaciável do estrangeiro”.

Pereira Passos assumiu a prefeitura de uma cidade que no fim do Império tinha uma população de cerca de 500 mil habitantes e que atingira cerca de 700 mil pessoas em 1904. Ele aliou a reforma urbanística e arquitetônica da cidade – que incluiria a construção de um novo porto, de novas avenidas, o aterramento de praias, o desmonte de morros, a derrubada de casas e cortiços e o embelezamento de praças e jardins, que não deixou de ter seu lado excludente e criticado, deslocando parte da população do centro para o subúrbio e também contribuindo para o surgimento das favelas – a uma nova política higienista. Para implementar medidas sanitárias arrojadas foi nomeado pelo presidente Rodrigues Alves para a direção geral de Saúde Pública o jovem médico Oswaldo Cruz (1872 – 1917), que tomou posse em 23 de março de 1903. Ficou no cargo até 1909.

 

Oswaldo Cruz havia estudado microbiologia, soroterapia e imunologia no Instituto Pasteur, e medicina legal no Instituto de Toxicologia, na França, entre 1897 e 1898. Quando voltou ao Brasil, tomou posse, em 24 de agosto de 1899, na Academia Nacional de Medicina, e, em 1900, assumiu a direção técnica do Instituto Soroterápico Federal, o qual passou a dirigir em 1902.

 

 

Os principais problemas que Oswaldo Cruz teve que enfrentar como Diretor Geral de Saúde Pública foram a febre amarela, a peste bubônica e a varíola. Um de seus colaboradores foi o sanitarista Belisário Penna (1868 – 1939).

 

 

A febre amarela

 

 

Em 1902, a febre amarela havia sido responsável pela morte de cerca de mil pessoas no Rio de Janeiro. Oswaldo Cruz era adepto da teoria do médico cubano Carlos Finlay (1833 – 1915) sobre a transmissão da febre amarela pelos mosquitos Stegomyia fasciata. Para exterminá-los, em abril de 1903, iniciou a campanha de combate à doença. Em 15 de abril, foi criado o Serviço de Profilaxia Específica da Febre Amarela (O Paiz, 18 de abril de 1903, sexta coluna; 22 de abril de 1903, quarta coluna; 25 de abril, quinta coluna; e 29 de abril, quarta coluna).

 

 

 

A execução dessa profilaxia foi regulamentada pelas “Instruções para o Serviço de Profilaxia Específica de Febre-Amarela” nos primeiros dias de maio de 1903, do ministro da Justiça e Negócios Interiores, J.J. Seabra (1855 – 1942) (O Paiz, 7 de maio de 1903, penúltima coluna).

 

 

Foram criadas as brigadas sanitárias, que “eram constituídas por 1 inspetor do serviço, responsável por toda a execução das atividades e nomeado por decreto; 10 médicos que o auxiliam, destacados dentre os inspetores sanitários pelo diretor geral de saúde pública, mediante indicação do inspetor do serviço; 70 auxiliares acadêmicos e 9 chefes de turma, nomeados pelo diretor geral de saúde pública; 1 administrador do serviço, 1 almoxarife e 1 escrituario-arquivista, nomeados por portaria do Ministro; 200 capatazes, 18 guardas de saúde de primeira classe e 18 de segunda classe, 18 carpinteiros e pedreiros, bombeiros, cocheiros, nomeados pelo inspetor do serviço; e quantos mais trabalhadores fossem necessários” (BRASIL, 1905).

 

 

Guardas “mata-mosquitos” visitavam casas nas diversas regiões da cidade, muitas vezes acompanhados por soldados da polícia. A cidade foi dividida em distritos sanitários, sob jurisdição das delegacias de Saúde, que recebiam notificações dos enfermos, aplicavam multas e intimavam os donos de imóveis considerados insalubres a reformá-los ou até mesmo a demoli-los. Providenciava-se a remoção de pessoas infectadas para hospitais, o isolamento domiciliar dos enfermos assim como a desinfecção dos ambientes. Ao mesmo tempo, Oswaldo Cruz fazia circular na imprensa os folhetos Conselhos ao Povo, de divulgação das medidas adotadas.

 

 

A doença foi perdendo a força e, em 1907, Oswaldo Cruz escreveu ao presidente Afonso Pena (1847 – 1909): “graças à firmeza e vontade do governo, a febre amarela já não mais devasta sob a forma epidêmica a capital da República”. Nesse mesmo ano, a delegação brasileira de cientistas de Maguinhos, liderada por Oswaldo Cruz, recebeu a medalha de ouro no XIV Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim.

 

 

Acessando o link para as fotografias relativas à febre amarela disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Aline Lopes de Lacerda, historiadora e chefe do Departamento de Arquivo e Documentação da COC/Fiocruz,  escreveu o artigo Febre amarela: imagens da produção da vacina no início do século XX, publicado na Brasiliana Fotográfica, em 25 de março de 2018. Cristiane d’Avila, jornalista do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz, escreveu Vacinação no Brasil, uma história centenária, publicado em 17 de agosto de 2018. Ricardo Augusto dos Santos, pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz, escreveu o artigo O sanitarista Belisário Penna (1868-1939), um dos protagonistas da história da saúde pública no Brasil, também publicado no portal, em 28 de setembro de 2018. A Fiocruz é uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica.

 

A peste bubônica

 

 

A peste bubônica, doença transmitida pela picada de pulgas infectadas por ratos contaminados pela bactéria Yersinia pestis, o bacilo descoberto pelo suíço Alexandre Yersin (1863 – 1943) e pelo japonês Shibasaburo Sato (1852 – 1931), em 1894, chegou ao Brasil, pelo porto de Santos, em 1900. Foi combatida por Oswaldo Cruz e as medidas contra a peste bubônica não encontraram resistência da população. Foi intensificada a limpeza urbana e a notificação dos doentes era compulsória, o que ajudava no isolamento e no tratamento dos mesmos com o soro fabricado no Instituto Soroterápico Federal. Foi também promovida a vacinação de pessoas residentes nas áreas mais atingidas e uma abrangente campanha de desratização foi realizada: os funcionários destacados para a função tinham que recolher 150 ratos por mês, pelos quais recebiam 60 mil-réis.

A Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP) passou a comprar ratos: para cada animal morto apresentado, pagava-se a quantia de duzentos réis, o que ocasionou o surgimento da profissão de “ratoeiro” – compravam ratos a baixo preço ou até mesmo os criavam em casa e os revendiam para a DGSP. A “guerra aos ratos” virou motivo de piada, de críticas (Revista da Semana, 21 de agosto de 1904Kosmos, outubro 1904) e até uma música sobre o tema, a polca Rato, rato, composta por Casemiro da Rocha (1880 – 1912), integrante da banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, com letra de Claudino Costa, foi um grande sucesso no carnaval de 1904. Foi gravada na Casa Edison.

 

 

O fato é que as mortes por peste bubônica que, em 1903, atingiram o índice de 48,74 mortes para cada 100 mil habitantes, caíram vertiginosamente e quando Oswaldo Cruz deixou a Diretoria Geral de Saúde Pública, em 1909, esse índice chegou ao seu mais baixo patamar: 1,73.

 

A varíola e a Guerra da Vacina

 

 

Até meados de 1904, as internações causadas pela varíola já chegavam a 1800 no Hospital São Sebastião. Oswaldo Cruz pretendeu controlar a doença com a vacinação em massa da população. Pediu que fosse enviado ao Congresso Nacional um projeto de lei para resgatar a obrigatoriedade da vacinação e revacinação antivariólica. A vacinação já estava contemplada em uma lei em vigor desde 1837, mas que nunca havia sido cumprida.

 

 

 

A medida enfrentou a oposição liderada pelo senador paraense Lauro Sodré (1858 – 1944), líder do Partido Republicano Federal, e pelos deputados pernambucano Barbosa Lima (1862 – 1931) e gaúcho Alfredo Varela (1864 – 1943), todos contra o governo do presidente Rodrigues Alves, do Partido Conservador. O Apostolado Positivista do Brasil, liderado por Raimundo Teixeira Mendes (1855 – 1927), também se opôs à lei.

 

 

 

 

Jornais e políticos lançaram uma campanha contra a medida, incitando a desobediência à lei, que eles classificavam como despótica e ameaçadora, já que estranhos tocariam nas pessoas no caso da vacinação, além de entrarem nas casas para desinfecção. Além disso, a vacina, que consistia no líquido de pústulas de vacas doentes, era rejeitada pelas camadas populares – havia um boato de que os vacinados adquiriam feições bovinas…

 

 

 

Finalmente, foi promulgada, em 31 de outubro de 1904, uma lei que tornou a vacinação e a revacinação contra a varíola obrigatória.

 

Lei n° 1.261, de 31 de outubro de 1904

 

Torna obrigatorias, em toda a Republica, a vaccinação e a revaccinação contra a variola.

O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brazil:
Faço saber que o Congresso Nacional decretou e eu sancciono a lei seguinte:

     Art. 1º A vaccinação e revaccinação contra a variola são obrigatorias em toda a Republica.

     Art. 2º Fica o Governo autorizado a regulamental-a sob as seguintes bases:

     a) A vaccinação será praticada até o sexto mez de idade, excepto nos casos provados de molestia, em que poderá ser feita mais tarde;

     b) A revaccinação terá logar sete annos após a vaccinação e será repetida por septennios;

     c) As pessoas que tiverem mais de seis mezes de idade serão vaccinadas, excepto si provarem de modo cabal terem soffrido esta operação com proveito dentro dos ultimos seis annos;

     d) Todos os officiaes e soldados das classes armadas da Republica deverão ser vaccinados e revaccinados, ficando os commandantes responsaveis pelo cumprimento desta;

     e) O Governo lançara mão, afim de que sejam fielmente cumpridas as disposições desta lei, da medida estabelecida na primeira parte da lettra f do § 3º do art. 1º do decreto n. 1151, de 5 de janeiro de 1904;

     f) Todos os serviços que se relacionem com a presente lei serão postos em pratica no Districto Federal e fiscalizados pelo Ministerio da Justiça e Negocios Interiores, por intermedio da Directoria Geral de Saude Publica.

     Art. 3º Revogam-se as disposições em contrario.

Rio de Janeiro, 31 de outubro de 1904, 16º da Republica.

FRANCISCO DE PAULA RODRIGUES ALVES.
J. J. Seabra.

 

 

 

 

Em um encontro presidido pelo senador Lauro Sodré, no Centro das Classes Operárias, em 5 de novembro de 1904, foi fundada a Liga Contra a Vacina Obrigatória (O Paiz, 6 de novembro de 1904, penúltima coluna). O descontentamento popular se agravou quando, no dia 9 de novembro de 1904, o governo divulgou seu plano de regulamentação da aplicação da vacina obrigatória contra a varíola (Gazeta de Notícias, 10 de novembro de 1904, quinta coluna). Nos dias 10 e 11, no Largo de São Francisco, estudantes contrários à lei se reuniram e, no dia 13 de novembro, acirrou-se a rebelião popular, que ficou conhecida como Revolta da Vacina, marcada por diversos distúrbios urbanos em várias regiões da cidade, embates com a polícia e prisões. Mais de 20 bondes da Companhia Carris Urbanos e muitos lampiões da iluminação pública foram destruídos, daí o apelido Quebra Lampiões atribuído ao movimento (Gazeta de Notícias, 14 de novembro de 1904; e Jornal do Brasil, 14 de novembro de 1904).

 

 

 

Paralelamente à revolta popular, aconteceu um movimento militar orquestrado pelos generais Silvestre Travassos (? – 1904) e Olímpio da Silveira (1887 – 1935), Lauro Sodré, Barbosa Lima, o major Gomes de Castro e o capitão Augusto Mendes de Moraes, que se reuniram no dia 14 de novembro de 1904, no Clube Militar. Tinham por objetivo derrubar o governo de Rodrigues Alves, que foi aconselhado a ir para um navio de guerra, onde teria mais segurança – ele recusou.

Houve no mesmo dia uma tentativa fracassada de levante na Escola de Tática do Realengo, sufocada pelo então diretor da instituição, general Hermes da Fonseca (1855 – 1923), futuro presidente do Brasil. O comandante da Escola Militar de Realengo, o general Alípio Costallat (c. 1853 – 1933), foi deposto pelo general Travassos que liderou, durante a noite, a marcha dos alunos em direção ao Palácio do Catete. Os revoltosos trocaram tiros com uma brigada de ataque enviada pelo governo, na rua da Passagem, em Botafogo. O tiroteio, de cerca de meia hora, matou um aluno da Escola Militar, Silvestre Cavalcanti, e um sargento da tropa legalista, chamado Camargo. O general Travassos ficou gravemente ferido e faleceu oito dias depois. A Escola Militar, bombardeada durante a noite por navios de guerra posicionados na baía de Guanabara, foi ocupada pelo ministro da Guerra, o marechal Francisco de Paula Argollo (1847 – 1930) e pelo ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas, Lauro Müller (1863 – 1926). Seus alunos foram presos, expulsos da Escola e levados para portos na região Sul do país. Obviamente, o desfile comemorativo dos 15 anos da Proclamação da República foi cancelado (Gazeta de Notícias, 15 de novembro de 1904Jornal do Brasil, 15 de novembro de 1904; Gazeta de Notícias, 16 de novembro de 1904; Jornal do Brasil, 16 de novembro de 1904).

No dia 16 de novembro, foi decretado o estado de sítio e revogada a obrigatoriedade da vacinação. Com isso, o movimento popular arrefeceu, os serviços voltaram a funcionar e a cidade se apazigou. Saldo do movimento: 945 prisões, 461 deportações, 110 feridos e 30 mortos (Gazeta de Notícias, 17 de novembro de 1904 e 18 de novembro de 1904).

 

 

Segundo o historiador Jaime Larry Benchimol: Todos saíram perdendo. Os revoltosos foram castigados pelo governo e pela varíola. A vacinação vinha crescendo e despencou, depois da tentativa de torná-la obrigatória. A ação do governo foi desastrada e desastrosa, porque interrompeu um movimento ascendente de adesão à vacina”.

Apenas nove pessoas morreram por varíola em 1906 no Rio de Janeiro. Porém, dois anos depois, em 1908, uma violenta epidemia da doença ocorreu na cidade, causando mais de 6.500 casos.

 

 

Link para músicas sobre Oswaldo Cruz e também sobre as campanhas de combate à febre amarela, à peste bubônica e à vacinação obrigatória contra a varíola, publicadas na Biblioteca Virtual Oswaldo Cruz

 

Retrospectiva das pandemias do século XX e XXI

 

O mundo, ao longo dos séculos XX e XXI, enfrentou cinco pandemias: a Gripe Espanhola, em 1918, tema de uma recente publicação da Brasiliana Fotográfica, E o ex e futuro presidente do Brasil morreu de gripe…a Gripe Espanhola de 1918; a Gripe Asiática, em 1957; a Gripe de Hong Kong, em 1968, a identificação de um novo vírus da influenza do tipo A pandêmico que desencadeou a Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2009; e cerca de 11 anos depois, em 11 de abril de 2020, a OMS declarou uma pandemia do novo coronavírus, chamado de Sars-Cov-2, causador da Covid-19, surgido na cidade de Wuhan, na China, em fins de 2019.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

 

BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos: um Haussmann Tropical. A renovação urbana na cidade do Rio de Janeiro no início do século XX. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural, 1992.

BENCHIMOL, Jaime Larry. Reforma urbana e Revolta da Vacina na cidade do Rio de Janeiro. In: Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado (org.) O Brasil Republicano. O tempo do liberalismo excludente. Da proclamação da República à Revolução de 1930. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

BIBEL, David J.; CHEN, T.H. Diagnosis of Plague: an Analysis of the Yersin-Kitasato Controversy. American Society for Microbiology, 1976.

Biblioteca Virtual Oswaldo Cruz

BRASIL. Ministério da Justiça. Relatório 1904 – 1905. Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1905.

CARVALHO, José Murilo de: Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo : Companhia das Letras, 1987.

COSTA, Zouraide; ELKHOURY, Ana; FLANNERY, Brendan; ROMANO, Alessandro. Evolução histórica da vigilância epidemiológica e do controle da febre amarela no Brasil, 2011.

CURY, Bruno da Silva Mussa. Combatendo ratos, mosquitos e pessoas: Oswaldo Cruz e a saúde pública na reforma da capital do Brasil (1902-1904). / Bruno da Silva Mussa Curry. – 2012. 160 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Pós-graduação em História, Rio de Janeiro, 2012.

Dicionário Cravo Alvim

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Ministério da Saúde

MOURELLE, Thiago. A revolta da vacina. Arquivo Nacional: Que República é essa?, 21 de janeiro de 2020.

Nosso Século. São Paulo : Abril Cultural, 1980.

Portal Fiocruz – A trajetória do médico dedicado à ciência

Portal Fiocruz  – A Revolta da Vacina

Projeto Memória – Fundação Banco do Brasil

ROCHA, Oswaldo; CARVALHO, Lia de Aquino. A era das demolições Habitações Populares. Rio de Janeiro : Biblioteca Carioca, 1986

SEVCENKO, Nicolau. A Revolta da Vacina: mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo: Cosac Naify, 2010.

Site CPDOC

Site Multirio

E o ex e futuro presidente do Brasil morreu de gripe…a Gripe Espanhola de 1918

 

 

E o ex e futuro presidente do Brasil, Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848 – 1919), faleceu de Gripe Espanhola! Logo ele que em seu mandato como o quinto presidente da República do Brasil, exercido entre 1902 e 1906 (Gazeta de Notícias, 16 de novembro de 1902, sexta colunaGazeta de Notícias, 16 de novembro de 1906, segunda coluna), designou o médico e sanitarista Oswaldo Cruz (1872 – 1917) para a chefia do Departamento Nacional de Saúde Pública, justamente para melhorar as condições sanitárias do Rio de Janeiro deflagrando a reforma sanitária da capital, combatendo primordialmente a febre amarela, a peste bubônica e a varíola.

Além de Oswaldo Cruz, os engenheiros Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), nomeado por Alves prefeito do Rio de Janeiro, em dezembro de 1902 (Gazeta de Notícias, 31 de dezembro de 1902, na sexta coluna), e Paulo de Frontin  (1860 – 1933) foram fundamentais durante o governo de Rodrigues Alves: Passos foi o prefeito do “bota-abaixo” e Frontin, presidente do Clube de Engenharia, o engenheiro-chefe da construção da Avenida Central.

 

Acessando o link para as fotografias de Rodrigues Alves disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Rodrigues Alves foi eleito presidente do Brasil, pela segunda vez, em 1º de março de 1918. Acometido pela doença, não pode tomar posse no dia 15 de novembro de 1918, tendo seu vice, Delfim Moreira (1868 – 1920), assumido o cargo em seu lugar. Rodrigues Alves faleceu meses depois, em janeiro de 1919, confinado em sua casa na rua Senador Vergueiro, no Flamengo, bairro do Rio de Janeiro (Gazeta de Notícias, 16 de janeiro de 1919Gazeta de Notícias, 17 de janeiro de 1919O Malho , 25 de janeiro de 1919). Foi enterrado em Guaratinguetá, cidade paulista onde nasceu (O Paiz, 18 de janeiro de 1919).

 

“Depois da morte do Barão do Rio Branco, nenhuma outra poderia, sob o ponto de vista nacional, representar prejuízo maior para o Brasil do que a do conselheiro Rodrigues Alves”.

 

 

Ele foi a mais notória vítima brasileira da Gripe Espanhola, que matou cerca de 300 mil pessoas no país. Novas eleições foram convocadas para 13 de abril de 1919 e o paraibano Epitácio Pessoa (1865 – 1942) foi eleito.

 

 

Mas depois da tragédia veio a esbórnia! O que seguiu no Rio de Janeiro, em março, foi um carnaval animadíssimo, como uma vingança contra a terrível doença que havia atingido intensamente a cidade. Foi publicado no Correio da Manhã de 20 de janeiro de 1919:

 

 

 

No 12º capítulo das “Memórias de Nelson Rodrigues” foi publicado, em 10 de março de 1967, no Correio da Manhã: 

“Estou aqui reunindo as minhas lembranças. Aquele Carnaval foi, também, e sobretudo, uma vingança dos mortos mal vestidos, mal chorados e, por fim, mal enterrados. Ora, um defunto que não teve o seu bom terno, a sua boa camisa, a sua boa gravata é mais cruel e mais ressentido do que um Nero ultrajado. E o Zé de S. Januário está me dizendo que enterrou sujeitos em ceroulas, e outros nus como santos. A morte vingou-se, repito, no Carnaval… E tudo explodiu no sábado de Carnaval. Vejam bem: até sexta-feira, isto aqui era o Rio de Machado de Assis; e, na manhã seguinte, virou o Rio de Benjamim Costallat […] Desde as primeiras horas de sábado, houve uma obscenidade súbita, nunca vista, e que contaminou toda a cidade. Eram os mortos da espanhola e tão humilhados e tão ofendidos que cavalgavam os telhados, os muros, as famílias… Nada mais arcaico do que o pudor da véspera. Mocinhas, rapazes, senhoras, velhos cantavam uma modinha tremenda. Eis alguns versos: ‘Na minha casa não se racha lenha,/ Na minha racha, na minha racha./ Na minha casa não há falta d’água,/ Na minha abunda, na minha abunda’”.

 

 

Anos depois, Carlos Heitor Cony (1926 – 2018) escreveu, na Folha de São Paulo de 19 de fevereiro de 1996, um artigo sobre a Gripe Espanhola e o carnaval de 1919:

“No Rio, o sujeito ia atravessar a rua, botava o pé no meio-fio com plena saúde e chegava morto ao meio-fio do outro lado. Era fulminante a gripe, os parentes deixavam os mortos nos bondes, pagavam a passagem deles, como se passageiros fossem. Não havia tempo nem lugar para o enterro. Natural que, depois da fase mortuária, viesse a fase libertária, ou libertina, basta dizer que as delegacias da cidade registraram a queixa de 4.315 defloramentos e outros tantos casos de abandono do lar, adultério e até incesto.”

 

 

Um pouco sobre a Gripe Espanhola, a primeira e mais letal pandemia do século XX 

 

 

A Gripe Espanhola aconteceu, entre 1918 e 1920, em três ondas . Aparentemente, a primeira ocorreu entre março e abril de 1918 ainda durante a Primeira Guerra Mundial. Sua origem é até hoje uma dúvida: teria surgido na Ásia ou em campos militares no interior dos Estados Unidos? O nome Gripe Espanhola é atribuído ao fato de que a Espanha, neutra durante a Primeira Guerra Mundial, ter reconhecido a gripe como problema e ter permitido a divulgação de informações epidemiológicas sobre a doença.

O fato é que a gripe rapidamente se espalhou pela Europa Ocidental e, em julho, já havia chegado à Polônia. Durante o verão do mesmo ano, durante o mês de agosto, em sua segunda onda, uma forma mais letal da doença surgiu – causava pneumonia e, usualmente, dois dias depois do primeiro sintoma, o paciente falecia. A terceira onda ocorreu no inverno de 1919. A pandemia acometeu cerca de 50 % da população mundial e a Organização Mundial de Saúde estima que tenha causando entre 20 e 40 milhões de mortes.

Inicialmente, a repercussão no Brasil da disseminação da doença na Europa foi de despreocupação por parte das autoridades de saúde do país. Imaginaram que a distância entre os continentes, com um oceano os separando, não permitiria a chegada da epidemia em nosso país. Uma nota sem destaque no jornal O Paiz, de 1º de agosto de 1918, referia-se a doença como intensa porém sem gravidade. Em outra nota, também publicada em O País, cinco dias depois, noticiava-se, de novo sem nenhum destaque, a relação entre a gripe infecciosa e o preço do limões.

 

 

Supõe-se que a Gripe Espanhola tenha chegado no Brasil em 9 de setembro de 1918, no navio inglês SS Demerara, que partiu de Liverpool, na Inglaterra e fez escalas em Lisboa, no Recife, em Salvador e no Rio de Janeiro (Jornal do Recife, 10 de setembro de 1918, primeira colunaGazeta de Notícias, 16 de setembro de 1918).

 

 

“A seu bordo, durante a travessia, grassou com caráter epidêmico a tal “hespanhola” ou “dançarina”, influenza há pouco aparecida na Espanha e que tem grassado em uutras cidades da Europa”

Nesse mesmo mês foi noticiado que marinheiros brasileiros que prestavam serviço militar em Dakar, no Senegal, e oficiais da missão médica militar que havia partido no navio Plata tinham contraido a Gripe Espanhola (Jornal do Brasil, 22 de setembro de 1918, A Noite, 23 de setebmro de 1918Jornal do Brasil, 24 de setembro de 1918Revista da Semana, 28 de setembro de 1918Gazeta de Notícias, 5 de outubro de 1918, segunda coluna; e Folha de São Paulo, 1º de abril de 2012).

 

 

Entre os meses de setembro e novembro de 1918, a epidemia assolou o Brasil.  Em outubro, foram diagnosticados casos em Niterói e as primeiras mortes no Estado do Rio foram reportadas em 14 de outubro, quando o número de pacientes chegava já a 20 mil.

 

 

 

O quinino, a canja de galinha, preparados a base de limão, cachaça e outros eram usados contra a doença. A Bayer oferecia a aspirina Fenacetina (O Paiz, 30 de outubro de 1918, quarta coluna) e um laboratório produziu o remédio homeopático Grippina, fórmula do médico Alberto Seabra (A Noite, 10 de outubro de 1918). Balas peitoraes também e gargarejos com Diogexen eram oferecidos como cura para a doença (Careta, 26 de outubro de 1918; e Fon-Fon, 2 de novembro de 1918).

 

 

A essa altura o pânico já tomava conta do Rio de Janeiro, na época capital do Brasil. São Paulo começava também a registrar seus primeiros casos (Correio Paulistano, 17 de outubro de 1918). Outras cidades do Brasil foram atingidas mas nenhuma como o Rio.

 

 

 

O então Diretor Geral de Saúde Pública, Carlos Seidl (1867 – 1929), renunciou.

 

 

Foi substituído por Theóphilo Torres (1863 – 1928) (Gazeta de Notícia, 19 de outubro de 1918, penúltima coluna), que convidou o pesquisador Carlos Chagas (1879 – 1934), que havia assumido a direção do Instituto Oswaldo Cruz em 1917, para atuar no controle da epidemia. Chagas liderou a campanha de combate à doença, implementando cinco hospitais emergenciais e 27 postos de atendimento à população em diferentes pontos do Rio de Janeiro (Gazeta de Notícias, 22 de outubro de 1918). Chagas e sua família adoeceram, mas todos sobreviveram.

 

 

Mas mesmo no auge da tragédia, o humor esteve presente na imprensa carioca.

 

 

Houve um aumento no preço dos alimentos, alguns escassearam e muitos estabelecimentos, dentre eles fábricas, teatros, escolas, restaurantes e bares fecharam suas portas. Atividades básicas foram praticamente suspensas e saques começaram a ocorrer pela cidade. A polícia passou então a garantir que em cada bairro houvesse uma farmácia e uma padaria aberta.

 

 

Em 19 de outubro foi decretado um feriado de três dias e o governo tomou providências como a abertura de novos postos de assistência e de pavilhões com leitos para receber doentes, a divisão da cidade em zonas com médicos autorizados a ordenar tudo quanto o doente precisar. Também determinou a publicação de “conselhos ao povo” e um apelo foi feito para que médicos, farmacêuticos e estudantes colaborassem com a Saúde Pública (Jornal do Brasil, 20 de outubro de 1918 e O Paiz, 20 de outubro de 1918).

 

 

Da cartilha Previna-se contra a gripe, distribuída pelas campanhas do Serviço Nacional de Educação Sanitária:

 

“Perdigotos – Que perigo!
Se estás resfriado amigo,
Não chegues perto de mim.
Sou fraco, digo o que penso.
Quando tossir use o lenço
E, também se der atchim.
Corrimãos, trincos, dinheiro
São de germes um viveiro
E o da gripe mais freqüente.
Não pegá-los, impossível.
Mas há remédio infalível,
Lave as mãos constantemente.
Se da gripe quer livrar-se
Arranje um jeito e disfarce,
Evite o aperto de mão.
Mas se vexado consente,
Lave as mãos freqüentemente.
Com bastante água e sabão.
Da gripe já está curado?
Bem, mas não queira, apressado,
Voltar à vida normal.
Consolide bem a cura,
Senão você, criatura,
Recai e propaga o mal”.

 

“O número de casos declinou drasticamente no final de outubro, retornando a cidade pouco a pouco às suas rotinas diárias, ficando no ar por muitos meses a pergunta se haveria uma volta da epidemia, o que afinal não ocorreu.” (1)

 

 

Estima-se que cerca de 65% da população brasileira tenha sido infectada pela Gripe Espanhola e por volta de 35.240 pessoas tenham morrido em São Paulo e no Rio de Janeiro e 300 mil em todo o Brasil. Esses números variam e diversas fontes os consideram abaixo das estatísticas reais.

 

 

Famílias inteiras foram dizimadas, principalmente as que viviam em condições mais vulneráveis. Os corpos acabavam sendo deixados na rua, onde permaneciam alguns dias até serem recolhidos, ampliando o cenário de devastação. Houve falta de serviço de transporte, alta dos preços e escassez de alimentos. Por volta de 19 de outubro, a doença já havia atingido metade da população do Rio, estimada em 700 mil pessoas, deixando a cidade vazia e silenciosa … este cenário crítico perdurou até o final do mês, quando houve um declínio drástico no número de casos e a cidade começou a retornar às suas rotinas diárias. Estima-se a epidemia tenha causado a morte de cerca de 15 mil pessoas no Rio.(2)

Além de Rodrigues Alves, outros brasileiros famosos foram vítimas da gripe, dentre eles a educadora Anália Franco (1853 – 1919), provavelmente, o poeta de literatura de cordel Leandro Gomes de Barros (1865 – 1918).

O empresário e jornalista tcheco Frederico (Fred) Figner (1866 – 1947), dono da Casa Edison e primeiro produtor fonográfico do Brasil, contraiu e sobreviveu à gripe espanhola e utilizou sua casa, hoje conhecida como Mansão Figner, na rua Marquês de Abrantes, no Flamengo, no Rio de Janeiro, para acolher doentes.

Personalidades internacionais como os pintores austríacos Egon Schiele (1890 – 1918) e Gustav Klimt (1862 – 1918), os escritores franceses Edmond Rostand (1868 – 1918) e Guillaume Appolinaire (1880 – 1918), as crianças portuguesas Francisco (1908 – 1919) e Jacinta (1910 – 1920) do famoso Milagre de Fátima, os irmãos John (1864 – 1920) e Horace Dodge (1868 – 1920), empresários da indústria automobilística; o pianista Henry Hagas (1891 – 1919), da Original  Dixieland Jazz Band, o sociólogo alemão Max Weber (1864 – 1920) e Sophie (1893- 1920),  filha de Sigmund Freud, também foram vitimados pela doença.

Outros que foram infectados mas sobreviveram à gripe foram o pintor Edvard Munch (1863 – 1944), o então futuro presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt (1882 – 1945);  o escritor Franz Kafka (1883 – 1924), a pintora Georgia O’Keeffe (1887 – 1986),  a escritora Katherine Anne Porter (1890 – 1980), as estrelas do cinema mudo Mary Pickford (1892 – 1979) e Lillian Gish (1893 – 1993); o cineasta Walt Disney (1901 – 1966), e além do então presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson (1856 – 1924).

Link para fotografias de aspectos da Gripe Espanhola no site Getty Images

A escritora inglesa Virginia Woolf (1882 – 1941), testemunha do impacto da Gripe Espanhola, registrou em seu diário em outubro de 1918: “Estamos … no meio de uma praga só comparável à Peste Negra“. Em seu ensaio “Doença: uma mina inexplorada“, de 1926, escreveu:

Se considerarmos o quão comum é a doença, quão terrível é a mudança espiritual que ela acarreta, quão medonhos, quando as luzes da saúde se apagam, são os países virgens que se descerram, as ruínas e desertos d’alma que um leve ataque da influenza traz à tona, os precipícios e relvas regadas de resplandecentes flores que um pequeno aumento de temperatura revela, os carvalhos antigos e obdurados que se nos desenraizam no ato da doença, como adentro o abismo da morte descemos e sentimos as águas da aniquilação bem acima de nossas cabeças e despertamos jurando nos encontrar na presença de anjos e querubins quando temos um dente extraído e, voltando à superfície da cadeira do dentista, confundimos o seu “Abra a boca – abra a boca” com as boas-vindas da Divindade a se inclinar do chão do Céu para nos acolher – quando pensamos nisto e numa infinidade mais, como tão frequentemente somos forçados a pensá-lo, parece deveras estranho que a doença não tenha, junto com o amor, a batalha, a inveja, tomado seu posto entre os temas primordiais da literatura. Romances, pensar-se-ia, teriam sido dedicados à Influenza; poemas épicos à Tifóide; odes à Pneumonia, Apendicites e Câncer; cânticos à Dor de Dente. Mas não: com algumas poucas exceções – de Quincey arriscou algo do tipo em Confissões de um comedor de ópio; deve haver um volume ou dois sobre doença espalhados pelas páginas de Proust – a literatura se esforça ao máximo para sustentar que sua preocupação é com o espírito; que o corpo é uma camada de vidro límpido através da qual a alma enxerga clara e distintamente e que, salvo uma ou duas paixões tais como o desejo e a cobiça, ele é nulo, insignificante e inexistente“.

Aqui no Brasil, o futuro escritor e médico Pedro Nava (1903 – 1984), então com 15 anos, testemunha da Gripe Espanhola no Rio de Janeiro, escreveu muitas décadas depois:

“Era apavorante a rapidez com que ela ia da invasão ao apogeu, em poucas horas, levando a vítima às sufocações, às diarréias, às dores lancinantes, ao letargo, ao coma, à uremia, à síncope e à morte em algumas horas ou poucos dias. Aterravam a velocidade do contágio e o número de pessoas que estavam sendo acometidas. Nenhuma de nossas calamidades chegara aos pés da moléstia reinante: o terrível não era o número de casualidades mas não haver quem fabricasse caixões, quem os levasse ao cemitério, quem abrisse covas e enterrasse os mortos. O espantoso já não era a quantidade de doentes, mas o fato de estarem quase todos doentes, a impossibilidade de ajudar, tratar, transportar comida, vender gêneros, aviar receitas, exercer, em suma, os misteres indispensáveis à vida coletiva…”.

Última curiosidade envolvendo literatura e doença: o escritor e poeta florentino Giovanni Boccaccio (1313 – 1375) foi pessoalmente afetado pela pandemia que ficou conhecida como peste negra, que atingiu Florença em 1348. Seu pai e madrasta morreram e ele fugiu da cidade indo para a zona rural da Toscana. Foi durante esse período que escreveu  O Decamerão, 100 contos narrados por personagens que fugiam justamente da peste negra. Já no início do século XVII, em Londres, surtos de peste bubônica ocasionavam muitas mortes e quarentenas eram ordenadas pelas autoridades. O grande poeta e dramaturgo William Shakespeare (1564 – 1616) escreveu nesse período, entre 1605 e 1606, Rei Lear, Macbeth e Antônio e Cleópatra. Segundo James Shapiro, professor da Universidade Columbia e autor de O ano de Lear: Shakespeare em 1606, depois de 1603, Shakespeare não produziu mais comédias românticas e, sim, peças mais sombrias, que expressavam o desespero que tomava a população naqueles dias.

Voltando ao século XX: o mundo ainda sofreu com mais duas pandemias, a Gripe Asiática, em 1957; e a Gripe de Hong Kong, em 1968. No século XXI, foi identificado um novo vírus da influenza do tipo A pandêmico que desencadeou a Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, decretada pela Organização Mundial da Saúde(OMS), em 2009. Cerca de 11 anos depois, em 11 de abril de 2020, a OMS declarou uma pandemia do novo coronavírus, chamado de Sars-Cov-2, causador da Covid-19, surgido na cidade de Wuhan, na China, em fins de 2019.

 

(1) A virologia no Estado do Rio de Janeiro: uma visão global.

(2) Pandemias de influenza e a estrutura sanitária brasileira: breve histórico e caracterização dos cenários. 

 

 

brasiliana fotográfica rodrigues alves

Foto oficial de Rodrigues Alves, presidente do Brasil entre 1902 e 1906.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

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